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Uma boa viagem começa muito antes da hora da partida. Uma viagem de moto começa muito antes das outras viagens. A minha começou em Janeiro de 2024, quando eu conheci o Olair, que tinha chegado de moto no Marco Zero da BR-101, em Touros-RN. Olair chegou com o celular sem bateria e eu brinquei com ele dizendo que só tiraria foto com o meu celular se ele fosse motoqueiro. Ficamos de papo ali com o Canidé, vendendor de coco, por horas, dali passamos o dia e ele me contou que foi para o Deserto do Atacama com uma Yamaha Fazer 150. Pronto, aquilo me atiçou e eu, que estava fazendo minha primeira grande Expedição, passando pelas 9 capitais do Nordeste, pensei, quem faz 6 mil km numa Honda CB300F Twister, faz 12 mil km.

 

O tempo foi passando, eu fui amadurecendo a viagem na cabeça e conversei com o próprio Olair e com outro amigo, o João, que tem uma BMW G310 GS. Comecei a estudar o roteiro, li relatos de outras pessoas, submeti minhas ideias ao crivo de mochileiros, motomochileiros, motorhomeiros e motoqueiros de toda espécie. Minha vida tinha passado por uma mudança trágica, o fim do meu relacionamento de 7 anos… Então, eu comecei a fazer pequenas percursos que estavam sendo uma mudança de foco e alívio daquela bagunça sentimental toda, ao mesmo tempo que ainda me restava um resquício de esperança de retomar a relação.

 

Em 2024, eu fui para a região serrana de Minas Gerais, para a Chapada Diamantina ver minha amiga Julieta, para a Chapada dos Veadeiros, passando por Brasília, para ver minha amiga Joelma e Brazlândia para ver o meu amigo Olair e por Goiânia para ver o amigo João. Voltei dessa última expedição decidido que seria totalmente responsável pela minha felicidade.

 

Foquei em planejar a viagem, inicialmente, Olair e João realmente estavam estimulados a irem, porém, eu planejava em 3 opções: 1) Sozinho; 2) Com eles e; 3) Nesse meio tempo, surge meu filho dizendo que iria comigo. Alguns meses depois, Olair desiste e meu filho bate o martelo dizendo que iríamos juntos. Então, o planejamento agora era eu e ele, porque eu imaginei que João não iria.

 

Comecei a comprar as coisas para a viagem… Roupa de calor, roupa de frio, barraca, suportes para a moto etc. E, pasmem, final de Outubro de 2024, comprei uma outra moto, uma Honda CB500X 2016, e comecei a equipá-la para a viagem. Porém, a moto tinha um problema que dois mecânicos não conseguiram resolver. Gastei uma grana com isso e não resolvi. O tempo ia passando e eu ia ficando com a dúvida se iria com 500 ou com a 300, até que no dia 16 de dezembro, no último teste da CB500X, eu decidi, vou ter que ir com a CB300F.

 

Meu filho chegou dia 17 de dezembro em Teixeira de Freitas e, no dia 18, eu coloquei a moto pra fazer a revisão. Ajeitamos a moto, bagagem e partimos no dia 19 de Dezembro de 2024.

 

SEXTA-FEIRA: 20/12/2024

Saímos por volta das 6 horas da manhã, sentido Sul da BR-101, entramos na BR-419 em Posto da Mata e seguimos, fazendo a primeira parada para abastecer em Teófilo Otoni-MG. Por volta do meio dia, chegamos em Governador Valadares, almoçamos e seguimos para encontrar uma amiga que não via fazia 5 anos, a Luana.

 

Conversamos e seguimos para Belo Horizonte, deixei o celular no suporte e ele caiu sem que víssemos, perdi o celular. Eu tinha criado um grupo de Whatsapp com alguns amigos e meus irmãos e mãe, a ideia era fazer com que essas pessoas soubessem notícias minhas e eles tentaram me ajudar a encontrar o celular pela localização que eu tinha enviado, mas por um erro meu, os dois celulares estavam com a mesma localização, fazendo com que fosse praticamente impossível localizar o outro. Enfim, perdi o celular.

 

Na estrada, houvera dois acidentes graves, um deles passou em rede nacional, mas nós testemunhamos, o segundo foi chegando em Belo Horizonte, esse travou a estrada por bastante tempo. Um pouco antes disso, meu filho e eu entramos numa discussão besta, fruto da minha impaciência e estresse do cansaço. Acho que nosso estresse foi aliviado quando passamos por esse acidente e percebemos que a vida é maior que qualquer coisa.

 

Ao chegarmos nas mediações de Belo Horizonte, pensei em fazer camping num posto de gasolina, mas estávamos muito cansados e pensei que merecíamos uma caminha quentinha e banho. Em Belo Horizonte estava chovendo bastante e achar um hotel deu trabalho, mas encontramos e dormimos no centro socialmente caótico daquela cidade. Por erro cometido depois de Ipatinga-MG, acabamos rodando mais de 800 km nesse dia e estávamos exaustos.

 

SÁBADO: 21/12/2024

Acordamos, comemos e fomos resolver o problema do chip do celular. Fomos ao shopping, depois de andar bastante pela cidade, mas o estabelecimento estava fechado e só abriria mais tarde, então ficamos batendo papo na porta esperando abrir e do nada eu desmaiei. Creio que fora uma queda de pressão causada por uma levantada rápida depois de ficar 10 minutos em agachamento profundo. Ao abrir o shopping, comprei um chip, mas não comprei outro celular porque os preços não estavam agradáveis ao meu bolso, decidi que só pagaria 700 reais num celular. A moça da vivo, que também era motociclista, ela tem uma CB300R, disse que fazia viagens menos homéricas que as minhas. Ficamos de papo, comprei o chip e eu segui para o hotel para pegar a moto, a bagagem e seguir com destino a Borborema, 660 km distante dali.

 

Logo seríamos dissuadidos da ideia de dormir em Borborema, porque saímos muito tarde de Belo Horizonte, então, não conseguiríamos chegar lá. Passamos por vários pedágios, por paisagens belíssimas, passamos pela entrada da cidade São Roque de Minas – e eu já pensei noutra viagem ali, mas isso será outra história – por Capitólio, pelo lago de Furnas e anoiteceu. Vimos duas raposas na beira e atravessando a estrada, eu vi que não daria muito certo ficarmos rodando e resolvemos dormir em Batatais. Antes disso, pegamos uma chuva pesadíssima, que me fez pensar em fazer outro wild camping num posto de gasolina, mas seguimos.

Chegamos Batatais por volta das 19 horas, alugamos uma pousadinha e fomos comer uma pizza e dormir.

 

DOMINGO: 22/12/2024

Tomamos café na pousada, arrumamos as coisas na moto e seguimos com destino Maringá. Estávamos 200 km mais longe do planejado, rodamos 600 km até Maringá. Nesse caminho não teve muita coisa a ser comentada, exceto os pedágios que também foram muitos.

Chegamos em Maringá por volta das 18 h e fomos para a casa da Nina Jackie, minha querida amiga que conheci pelo orkut em 2005 e nutrimos uma amizade dessas que ninguém explica. Tomamos um banho e fomos para um bar, lá encontramos a minha outra amiga,a Dani Futata. Meu filho estava muito cansado e nosso quarto dia que seria na estrada, foi na casa da Nina. Saímos no dia seguinte pra almoçar, comprar um celular e ficamos pela rua a tarde e início da noite.

 

TERÇA-FEIRA: 24/12/2024

Seguimos para Barracão e Dionísio Cerqueira-SC. Nesse dia, estávamos dispostos a passar pelo nosso quinto estado e assim fomos. Na estrada, logo depois de Campo Mourão, ultrapassei um carro em faixa contínua e tinha uma blitz da polícia rodoviária estadual, mas até hoje essa multa não chegou, então, acho que não deu tempo de registrar a minha placa. Fiquei apreensivo com isso por algumas horas e uns dois dias depois ainda, depois esqueci.

Chegamos em Dionísio Cerqueira por volta das 18 horas e fomos tomar sorvete na fronteira. Depois fomos procurar hotel, nesta cidade estava muito caro, então, voltamos para uma pousadinha em Barracão que foi muito barata. Em seguida fomos lavar roupas na lavanderia rápida e compramos mantimentos para comer a noite e no café da manhã. A noite, fomos na rua, já que era véspera de Natal, achamos que teria algo a ser visto. Atravessamos para Bernardo Yrigoen, Missiones, ARG, participamos de uma missa (de minha parte, eu só fiquei esperando a hora que mandasse abrazar los hermanos, de mi parte, hermanas).

 

QUARTA-FEIRA: 25/12/2024

A maior loucura foi ter entrado na Argentina neste dia. Como eu tinha planejado passar só um dia em Maringá, a ideia era entrar na Argentina num dia útil, o dia 24, mas não me dei conta de que as coisas se complicariam na Navidad. Fizemos a aduana em Bernardo Yrigoen, logo em seguida troquei 400 reais por pesos argentinos e seguimos viagem. Como meu celular não funcionava a internet, porque eu ainda não tinha comprado o chip (coisas ruins de entrar por Yrigoen, não tem muito apoio, porque a cidade é muito pequena e ainda mais na Navidad). Então, treinei meu castelhano no primeiro posto de combustível ao perguntar sobre o roteiro. No segundo posto, encontrei um senhor que estava indo para o Peru de caminhonete, conversamos sobre motos, porque ele é motoqueiro e também sobre câmbio e outras coisas de viagem. Neste posto Shell, um funcionário me deu um chip virgem da claro, que não consegui colocar para funcionar com facilidade, só descobri o problema é que ele pedia o CPF e eu achei que era o RG.

Passamos por uma estradinha muito bacana, perto de Aristóbolo del Vale, cheia de curvas e muito tranquila. Logo após isso, começou nossa angústia por achar o que comer, visto que tudo estava fechado. Chegamos em Posadas por volta do meio dia e tinha um mercadinho aberto. Lá tinha um homem que eu achei que era um indígena, mas não era. Tentei falar com ele em espanhol, mas ele não me respondia, achei que ele era surdo e quando chegou a mulher perguntei: Hablé con él y no me respondió. Es él sordo? Ao qual a mulher responde: Él no habla el idioma… Perguntei de onde eles eram e ela me disse que era da China. Perguntei porque eles estavam abertos se todos os outros lugares estavam fechados e falei que era Natal, era feriado em quase todo o mundo. Ela me diz que “no sé que és Navidad… China no es día festivo. Por eso los empleados no vinieron a trabajar…”. Comprei um suco de garrafa e uns biscoitos, quando atravessei a pista, a mulher fecha o mercadinho. Pensei, se uma outra pessoa tivesse tido o mesmo diálogo com a moça do mercado, eu teria ficado sem comer naquele dia.

Mais adiante, entramos na Província de Corrientes e logo veio o sono. Paramos para dormir um pouco embaixo de uma árvore e o que era pra ser 15 minutos foram mais de 1 hora. Estava muito quente o dia, então, a pressão arterial estava caindo fácil.

Seguimos até la ciudad de Corrientes e fiquei atento ao fato de que não se pode passar de moto pela avenida que corta a cidade. Ao passar pelo desvio, um motero de lá me perguntou sobre a moto e estava indo para Resistência, então, o segui.

Já se passava das 20 horas e sol estava a pino, o que nos causou uma sensação interessante. Entretanto, eu entendi que não deveria ter ido até Resistência, porque é uma cidade que oferece menos opções de lazer e hotelaria do que Corrientes, e foi lá em Resistência que passei nosso segundo perrengue na Argentina. Como não tinha nada aberto, não consegui pegar o dinheiro que enviei via Western Union e o dinheiro que peguei com o cambista estava quase no fim. Fiquei de papo na entrada da cidade e depois seguimos para procurar hotel, um moto-taxi nos indicou um que achei que seria muito caro. Não foi caro, porém, eu não tinha dinheiro suficiente para pagar. Algo que nunca aconteceria no Brasil, a recepcionista não tinha nenhuma outra opção para que nos hospedássemos ali, no acepta tarjeta de credito... Então fomos para outro hotel, indicado por um casal na rua, era mais caro, mas aceitava cartão e não tinha desayuno.

 

QUINTA-FEIRA: 26/12/2024

De manhã, fomos pegar a grana na Western Union, vacilo porque eu não sabia que a remessa era sacada toda de uma vez. A moça me disse “Es esta tu primera vez retirando dinero de Western Union? En una outra vuelta, haz varias remesas y luego retira parte del dinero”. Dali fomos comer, com o bolso cheio de dinheiro, e na lanchonete, o nosso deyauno foi muito caro, quase 70 reais. Compramos um Chip, com ajuda do irmão da moça da lanchonete que tinha “the crazy eyes” e seguimos com destino à Santiago Del Estero. Pegamos a temida Ruta 16 e sua reta interminável e plana de 700 km, mas só aguentamos 73, entramos para passar por Quimili. Estava um calor absurdo, paramos pra cochilar e seguimos. No entrocamento da Ruta 34 com a Ruta 89, encontramos um paraguaio que estava viajando numa Twister 250, falamos com ele e seguimos viagem.

Na cidade de Santiago del Estero, eu passei da entrada e rodamos uns 20 km a mais para corrigir. Entrei na cidade e fomos procurar um hotel. Na praça central da cidade, eu fiz uma contramão e quando vi um guarda, fui corrigir, mas ele veio em nossa direção. Apesar do susto, ele só queria conversar conosco, ali eu comecei a conhecer um argentino que nunca tinha ouvido falar. Aquela região, os argentinos foram todos muitos solícitos, esse guarda nos indicou hotéis baratos e caros, mas foi tentando achar uma das indicações dele que vi que o santiagueño é muito gentil. Paramos um cara na rua e ele ligou para vários airbnb para nós, mas nenhum tinha vaga. Após isso, ele me indicou um hotel que foi muito bom e baratinho, segundo meu filho, o cara ficou olhando pra ver se a gente tinha realmente achado o hotel.

Nos ajeitamos nele e saímos para comer numa pizzaria, lá mais uma imersão no castelhano con la chica que estava atendendo. Ficamos conversando sobre o suco de “polmelo”, sacamos la conta e fomos rodar pela cidade, em seguida fomos dormir. Chegando na pousada, o recepcionista da noite tinha tirado nossa moto de lugar para ficar numa posição em que ele pudesse prestar atenção durante a noite. Agradeci e ficamos conversando. Ele achou o máximo “dos moteros padre y hijo que venian de Brasil” e até tirou fotos conosco. Fomos dormir.

 

SEXTA: 27/12/2024

Este dia seria para chegar até San Miguel de Tucuman para visitar minha amiga Yvis. Saímos e pegamos a chatíssima Ruta 9, reta, plana, quente e quieta. Paramos em frente a uma fazenda perto do meio dia para cochilar um pouco. Tinha tanta mosca que quem chegasse e nos pegasse dormindo, acharia que nós estávamos mortos. Seguimos e encontramos outros motociclistas na estrada que estavam indo ou vindo. Paramos em Termas do Rio Hondo e fomos ver o museu do automobilismo e o autódromo onde ocorre as corridas do Mundial de MotoGP. Fiquei maravilhado com o General Lee, o Dodge Charger cor de abóbora do seriado dos anos 1980 "Os Gatões" (Dukes of Hazzard, em inglês) que me fez lembrar de meu pai, porque ele adorava esse seriado e eu assistia com ele aos sábados. Lá também, vimos o capacete de Ayrton Senna e um carro anterior ao carro que Schumacher dentre tantas motos de várias épocas.

Depois fomos à barragem e pensamos em tomar banho, mas fomos dissuadidos por dois pescadores que disseram que ali era muito perigoso. Seguimos para a praça da cidade, fiquei de papo com a vendedora de empanadas e comemos algumas. Ela já estava quase fechando o comércio porque estava muito quente, mais de 40 graus, e só voltaria as 16 horas. Seguimos para a cidade de Yvis e chegamos lá por volta das 16 horas. “En una estacion de servicio” um homem falou conosco, era filho de brasileiro, trocamos algumas ideias bem rápido e abasteci. Em seguida, ficamos sentado esperando Yvis retornar nossa ligação e indicar o endereço. Aí aconteceu algo pitoresco, chegou uma criança e começou a conversar comigo, meu filho vem e diz: “Agora eu quero ver se você entende mesmo, diz aí o que ele tá falando”. Eu não conseguia entender nada do que o menino estava falando, havia dois motivos para tal: Era uma criança falando e uma criança de rua e com muita probalidade de ser indígena, visto ali é a regição dos Povos Tradicionais Diaguitas, Tonocotés e Lules. Levou bastante tempo para que eu entendesse o que ele queria, que era saber de onde eu vinha com aquela moto.

O tempo passou e minha amiga não respondeu, então, decidimos seguir viagem com destino a Cafayate, porém sabendo que não chegaríamos até lá. Então, só estávamos indo naquela direção procurando a primeira cidade antes do sol se por. Ao chegar na cidade de Monteiro, começou a subida para Taffi del Vale, passamos pelo Monumento ao Ìndio, tiramos foto e seguimos curtindo aquelas curvas e o frio absurdo da região, mas também a lindeza magnífica daquela rodovia e da paisagem. Pertinho da cidade, passamos pelo El Molar, um lago que fica a mais de 2 mil metros de altura e ao seu fundo as montanhas congeladas.

Achamos uma pousada em Taffi del Vale, nos hospedamos e saímos para procurar comida e tentar conhecer um pouco da cidade, meu filho precisava colar um sapato e eu não lembrava de jeito nenhum como chamava cola na língua local. Falei o nome de uma marca conhecida e a mulher não entendeu, até que mostramos o sapato e o que queríamos fazer e ela entendeu que queríamos um “pegamento para calzados”, nos mostrou uma cola tipo instantânea, mas o marido dela disse que não colaria, indicou um mercadinho que teria uma cola específica. Compramos a cola e fomos caminhar pela cidade, depois fomos jantar numa pizzaria, exercitei meu castelhano com garçonete, conversando sobre a temporada fria e o gelo nas montanhas.

 

SÁBADO: 28/12/2024

Saímos de manhã e eu comentei com meu filho que ali estava frio, mas iria esfriar ainda mais, porque subiríamos mais a Cordilheira dos Andes, nosso destino nesse dia era a cidade de Salta. Seguimos pela Ruta 307 e logo vimos um mirante onde paramos e ficamos admirando as llamas criadas por pessoas que moravam ali naquele ponto. Neste lugar, eles pedem uma contribuição se você quiser tirar uma foto com eles e com as llamitas. Não tínhamos interesse, só ficamos conversando e brincando com as llamas, até que chegou um grupo de brasileiros numa caminhonete e completamente desavisados, foram surpreendidos pelo frio de fora do carro – estava muito frio mesmo, 8 graus. Chegaram dois motociclistas em intervalos diferentes, um deles era argentino, conversei com ele um pouco e em seguida partimos hasta el pueblo Amaicha del Valle, antes de pararmos para abastecer, passamos por um cortejo fúnebre que esperamos passar. Paramos num posto de combustíveis e o frentista deu uma quantidade de ciruela fresas para nosotros: “Quieres? Es de aquí del pueblo…”. Perguntei pra me certificar o nome e ele disse que era mesmo “ciruelas”. Eu estava entendendo seriguelas, mas é assim que eles chamam as ameixas. “Muchas gracias, mi amigo de la estacion de servício Refinor de Amaicha del Valle.”.

Seguimos então pela Ruta 307 e depois pegamos a Ruta 40, uma lindeza de rutas. Passamos pela formações geológicas chamadas Anfiteatro e Garganta do Diabo e paramos na cidade de Cafayate para almoçar. Fomos interpelados por um garçom que nos ofereceu um Lomo al plato con arroz e fui comer, mas achei muito caro, do tanto que me deixou chateado por pagar aquele tanto de dinheiro para uma quantidade ínfima de comida.

Chegamos em Salta no final da tarde e aí nossa experiência com o norte argentino melhorou ainda mais. Paramos num posto de gasolina e estacionamos num local privativo, o frentista veio e falou com tanta educação conosco que nem me senti desconfortável, por ter cometido aquele erro. Em seguida, ele arranjou um lugar para gente ficar e pediu desculpas por ali não poder estacionar quem não era funcionário do posto. Olhei no celular um local para ficar e achamos um apartamento próximo ao centro. Pedi informações a um transeunte que me explicou e eu, feito um otário, em vez de seguir a explicação dele, fui pelo GPS que acabou me levando para uma rua sem saída longe do lugar para onde eu queria ir.

Chegamos no apartamento somente porque um mototaxista nos guiou pela cidade. Lá, fui atendido por uma senhora de uns 80 anos que me deu um número telefone e bateu a porta na minha cara (a cena parece ríspida, mas foi muito engraçada, porque ela pareceu fazer algo muito natural, não parecia que tinha a ver conosco em si). Falei com o dono da locação e ele disse que alguém iria abrir a porta pra mim. Foi o Christian, um tatuador muito gente boa que estava lá como locatário, mas que ajudava nessas questões. Christian é de mais ao norte da Argentina, próximo a Tilcara, e nos ajudou com compra da janta e do café da manhã. A hospedagem foi tão bacana, barata, aconchegante e uma experiência imersiva, um bate-papo sobre várias coisas, principalmente sobre as duas culturas.

Fui ao supermercado fazer compras e no caminho conheci dos chicas e un muchacho, ficamos “charleando” . “Charlamos de varias cosas, entre ella de quien era mejor, Pelé o Maradona”. Resolvemos tudo na rua e voltamos para o apartamento e ficamos charleando de nuevo com Christian.

 

DOMINGO: 29/12/2024

Seguimos para Tilcara pela estreita e cheia de curvas Ruta 9, este dia foi nosso menor trajeto em toda expedição, pouco mais de 200 km. Encontramos duas moças viajando de bicicleta, ouvi elas gritando uma com a outra e percebi que falavam espanhol supus que eram argentinas ou chilenas. Em Tilcara, encontramos um casal de brasileiros que viajava de motorhome, ficamos conversando com eles e eles me ajudaram a encontrar local para dormir. Eu já estava quase dormindo na barraca na rua, mas continuei procurando. Conheci Agustina, uma moça que me chamou bastante a atenção, ela trabalhava num hotel e trocamos números de telefone sob o azo de ela conseguir baixar o preço da pousada que ela trabalhava. Infelizmente, ficou nisso, não evoluímos a relação (gargalhadas). Fiquei num hostel chamado Mística, um local que achei a cara da minha amiga Julieta. Fomos ao museu, na praça, no cemitério indígena e no comércio de artesanatos.

 

SEGUNDA: 30/12/2024

Na manhã seguinte, no café da manhã, conhecemos os hóspedes, conversamos com uma moça suíça e outra que estava com sua mãe de Buenos Aires.

Precisávamos de dinheiro chileno e fui trocar num cambista que fez o pior câmbio de toda a viagem, trocou 100 pesos chileno por 1 real.

Seguimos para o Chile e encontramos as ciclistas no dia seguinte pertinho de Purmamarca. Continuamos a viagem e só paramos no Monolito Jujuy - 4170 metros acima do nível do mar, quando estávamos subindo a Cuesta de Lipan. Tinha uma senhora vendendo balas de coca e folhas pra mastigar, eu não senti necessidade, a altitude não me causou nenhuma sensação diferente, mas meu filho estava sentindo bastante. Ofereci e ele não quis, então, seguimos viagem até as Salinas Grandes. Lá conhecemos um casal (Marielen e eu não lembro o nome do marido) que nos ajudou com fotos, depois os encontramos no Pastos Chicos em Susques e foi uma festa quando os amigos deles chegaram que ficaram fascinados com o fato de nós, pai e filho, termos saído do interior da Bahia com uma moto 300 cc.

Na fronteira conhecemos um grupo de motociclistas da região de Córdoba que foram bastante amigáveis, eles estavam numa moto 300 cc também, só que trail e eles iam para a Bolívia depois do Chile. Um deles já havia morado em São Paulo, mas disse que já não lembrava mais como fala brasileño. Com ele aconteceu um fato chato, ele foi rechaçado pelo aduaneiro chileno e ficou muito constrangio. Já comigo, eu fui muito bem recebido e mesmo com uma situação estranha que aconteceu, o aduaneiro trocou meu papel de fiscalização pelo de um outro veículo e quando fui passar pelo exército a soldado indicou o erro. Eu voltei à aduana e o aduaneiro me disse como proceder, voltar lá e perguntar para a soldado se ela não tinha se equivocado com outro veículo e trocado o papel. Foi exatamente isso que aconteceu, passamos.

Na estrada, alguns quilômetros depois, estava fazendo um frio absurdo e eu tive que ficar na traseira de um caminhão por todo o caminho para evitar o vento frio. Chegamos em San Pedro de Atacama e eu não tive nenhuma vontade de ficar lá, então, Seguimos para Calama, uns 100 km depois. Lá, eu estava sem dinheiro chileno suficiente e sem saber onde iria dormir, mas depois de bater na porta de 3 hotéis que estavam cheios, encontramos o Residencial do Juan, foi uma estadia muito confortável.

Fomos jantar na rua e a moça não nos disse que a comida era muita, foi caro, mas veio muita comida, tanto que guardamos para o almoço do dia seguinte.

 

TERÇA: 31/12/2024

Saímos de Calama e seguimos para Antofagasta, não sabia que lá tinha festejos do réveillon, a cidade se preparava para a chegada o novo ano com fogos de artifícios e queima de bonecos em tamanho humano. Encontramos uma pousada no booking baratinha, muito perto da praia. Procuramos lugar para lavar roupas, não encontramos, tive que lavar na pousada, e fomos para o mar e depois fazer compras para o jantar e o café. Passei por um entrevero com a moça de um mercadinho que não entendia o que era jabón para lavar roupas, eu não lembrei que sabão em pó era detergente en polvo, no fim uma senhora entendeu e explicou para ela o que eu queria.

No final do dia, 20 horas, o sol se punha no mar e fomos avistar, na volta eu estava excessivamente cansado, comemos o que compramos e eu fui dormir, imaginando que acordaria no meio da noite, mas não acordei. Meu filho foi ver a queima dos bonecos e eu só acordei de manhã.

 

QUARTA: 01/01/2025

No primeiro dia de 2025, saímos com destino a uma de nossos objetivos da viagem, conhecer La Mano del Desierto. Depois de rodar 80 km, chegamos lá com o tempo cinza e frio. Não tem nada demais lá, é só uma escultura de pedra no meio do deserto, mas ela é simbólica para quem é do mundo da moto viagem. Caiu um cisco no meu olho quando avistei a mão, se é que vocês me entendem. De lá seguimos com intuito de andar pela Ruta 1 e pela Ruta Panamericana, para isso, tivemos que voltar 18 km para seguir sentido Paposo. Em Paposo, encontramos um paraguaio que não tinha ido na Mão do Deserto e que falava um português muito limpo, ficamos conversando e ele foi embora. Rickson ficou de bobeira nas pedras do pacífico e acabou caindo dentro da água gelada, se molhou sem querer com o mar do Chile.

Passávamos por vários lugares que eu pensava em acampar, mas muito receoso, meu filho não era muito firme nas opiniões e acabou que meu receio impedia de fazer isso, hoje, me arrependo de não ter acampado na cidade de Taltal.

Um fato curioso, eu estava sempre reconhecendo brasileiro pelos trejeitos e Rickson ficava impressionado como eu sabia que uma pessoa que não tinha falado nada conosco era brasileiro. E, pra piorar, enquanto estávamos na Ruta Panamericana, um carro passou pela gente e tinha 03 mulheres, eu olhei e disse “aquelas mulheres são brasileiras”, Rickson disse: “Aí, não, eu pensei que você tinha dito por causa da placa, mas a placa é do Chile…” Quando chegamos num posto de gasolina, acho que perto de Chañaral, as moças estavam e eu falei “Bom dia!” e uma delas: “Como você sabia que eu era brasileira?”. Rickson também se fez a mesma pergunta.

Conseguimos chegar em Copiapó naquele dia. Pensei mais uma vez em acampar num posto de gasolina, mas a preguiça não deixava. Fomos então procurar hotel no booking e rodando pela cidade. Chegando no hotel, perguntei se ele fazia o mesmo preço do booking sem precisar passar pelo booking e ele disse que não era possível, então fiz a reserva no booking e paguei na recepção. O hotel era muito aconchegante, só não tinha um bom café da manhã, aliás, isso foi o normal em toda a viagem, um café da manhã modesto.

 

QUINTA: 02/01/2025

A moto estava com 30 mil km rodados e eu precisava fazer a troca de óleo. Fui numa oficina e fiz troca e seguimos a viagem com destino só deus sabe onde.

Abastecemos em La Serena, a cidade parecia ser bem bacana, pensei que seria um bom lugar para ter ficado, mas eu já estava ficando meio entediado do Deserto. La Serena parece um Oasis no meio do deserto, é fria, o mar passa perto e é uma cidade turística gigantesca, fiquei de voltar lá num futuro próximo, entrando pelo Paso Aguas Negras (que só fiquei sabendo que existia no dia seguinte).

Seguimos procurando um lugar pra dormir, que poderia ser um wild camping ou uma pousada barata. Parei num posto e perguntei sobre pousadas e ele me indicaram a cidade de La Calera, mais adiante, parei numa “estación de peaje”, aliás, no Chile, em todos os pedágios as motos pagam, diferentemente da Argentina que as motos só pagam nas Rutas Provinciales.

Passamos por lugares muito bonitos na Ruta Panamericana, inclusive vi um camping comercial e pensei em ficar, mas o meu erro nessa viagem foi rodar demais e chegar no final da tarde muito cansado, o corpo cobrava uma cama macia e não o colchão inflável e a barraca.

La Calera foi um caso a parte na nossa Expedição, quando chegamos na cidade, começamos a procurar hotel e as pessoas foram muito solícitas em tentar ajudar. Andamos de um lado para o outro, passamos por dois hotéis que estavam cheios, até que encontramos o Mr. Jhonny no seu táxi preto que nos levou para Posta del Viajero en Moto. Lá fomos muito bem recebidos pelo Marcelo e sua equipe, nos chamou para tirar foto, e nos levou para nossas acomodações. Fomos comprar mantimentos para o jantar e para o café da manhã e fomos dormir.

 

SEXTA: 03/01/2025

Quando acordamos, vimos que a Moto Posada estava cheia, tomamos café da manhã na mesa grande com todos eles. Fiquei conversando com os outros dois Christian que conhecemos, estes eram de Córdoba, e com o Jesús, um fã “da Zezé de Camarga, filhas de Francisco”. Falamos sobre o que eu conhecia da cultura argentina, o cinema, mas eles não conheciam nenhum filme do país deles. Até que falamos sobre filmes brasileiros e o Christian, filho de Jesús, disse que o pai era muito fã de Zezé Di Camargo e eu cantei a música “No Dia em que eu Saí de Casa” e rimos mais um pouco.

Tiramos foto, fiz um discurso de agradecimento e despedida, fizeram um vídeo de nossa saída e me informaram como sair da cidade.

Chegamos aos pés da estrada que levava a Los Caracoles e parei pra tomar um refrigerante, vi umas pessoas e disse “ali são brasileiros”, eles vieram para onde nós estávamos e conversamos um pouco, eram brasileiros mesmo e ficaram elogiando nossa trajetória. Começamos a subir Los Caracoles e encontramos outro grupo de brasileiros, estes estavam de moto, tiramos fotos deles e seguimos para a Aduana. Estávamos com o resto da comida de La Calera e precisávamos comer senão perderíamos, já era perto de meio dia, então, aquilo virou almoço.

Fizemos todos os trâmites e no caminho antes de chegar a Uspallata, parei para banheiro e tirar fotos do rio e das formações rochosas. Pego o celular e tem uma mensagem de áudio de uma moça que conheci em La Calera, dizendo: “Holá, Claudio, como estás? Que tal? Mirá?! És para avisarte que no pagaste la motoposada en La Calera. Son diez mil pesos chilenos los dos. Y si volviera a pagar y si no cuando llegar a Mendoza puede pagar a Roque, mi marido…”

Eu fiquei muito constrangido por não ter pago, não por ter esquecido, mas por achar que não era pra pagar, e mais ainda porque estávamos falando de menos de 60 reais. Ninguém fez ficha, ninguém cobrou nada, fizeram a maior festa quando saímos, então, não fazia nenhum sentido pra mim. O mal entendido foi porque aqui no Brasil, quem oferece o apoio que eles oferecem são pessoas que não cobram, achei que era a mesma coisa. Enfim, quando chegássemos em Mendoza, tudo seria resolvido, porque eu daria o dinheiro a Roque e Vivi pagaria ao Marcelo em La Calera.

Passamos por Uspallata e eu fiquei sem vontade de ir no local das filmagens de uma produção argentina e brasileira “A Oeste do Fim do Mundo”. O constrangimento me deixou sem vontade de fazer nada. Chegamos em Mendoza e fomos para a Motoposada Sin GPS, do Roque e da Vivi. Quando anoiteceu, fomos comer uma pizza a pé, um pouco distante, até para esticar as pernas.

 

SÁBADO: 04/01/2025

Saímos no dia seguinte e só aí vimos que a cidade de Mendoza é enorme. Ao mesmo tempo tinha partes rurais bem próximo, tinha um grande centro urbano cheio de lojas. Seguimos viagem com destino a Villa Carlos Paz (580 km), mas acabamos ficando em Villa Dolores (420 km). Almoçamos numa povoado uns 70 km de Mendoza, a comida foi cara, mas veio tanta comida que ficamos empanzinados de tanta carne que comemos. A estrada estava muito quente, tanto que meu filho esqueceu a jaqueta no restaurante. Por sorte, estávamos na estrada errada e quando eu me dei conta disso, também nos demos conta de que ele tinha esquecido a jaqueta.

Tamanha a quentura do tempo, eu não estava mais conseguindo nem pensar direito e parei na cidade de Lujan para abastecer e eu comprei água mineral gelada que nem me preocupei com o preço, foi barata (risadas). Pensei mais uma vez em acampar ali, tinha um posto com banheiro e um local bem sossegado que daria para acamparmos, mas eu hesitei o suficiente para desistir.

Logo depois, chegamos em Villa Dolores, já era mais de 19 horas, paramos em frente a um hotel e nem tínhamos nos dado conta. Mais uma vez, a recepcionista tinha aqueles “the crazy eyes” e todos os outros comportamentos. Estávamos tão enfastiado da comida de meio dia, que eu não tive vontade jantar comida de verdade, então, fui tomar um sorvete, Rickson não quis sair e eu trouxe um tanto pra ele.

 

DOMINGO: 05/01/2025

Acordamos e fomos ajeitar as coisas na moto e tomar café da manhã. Na saída, vi que a cidade tinha locais para acampar, tanto camping comerciais quanto selvagens. A estrada era muito bonita, eles chamam essa área de pré-cordilheira. Antes da primeira meia hora, encontramos um grupo de motociclistas de Buenos Aires, conversamos um pouco, tiramos fotos e seguimos. Um pouco mais adiante, encontramos um mirante e tiramos mais fotos. Mais adiante tinha outro mirante onde as pessoas ficavam olhando e fotografando os Urubutinga. Passamos por Villa Carlos Paz e seguimos para deixar a Província de Córdoba para pegar a Província de Santa Fé. Estrada continuava quente e paramos num posto de pedágio e bebemos água e seguimos por uma variante indicada pelo GPS que me deixou preocupado. Não estava errado, mas a estrada era muito deserta e retas intermináveis. Foi então que, perto da cidade de Reconquista, quando pensávamos em parar para banheiro na beira da estrada, avistamos um Puma, na verdade, uma. E foi um susto absurdo tamanhã a distância que ela ficou de nós. Ficamos impressionados por muito tempo. A admiração só diminuiu quando passamos por baixo do Rio Paraná pelo Túnel Subfluvial.

Chegamos na cidade de Paraná, paramos na beira do rio para procurar hotéis pelo celular. Estavam muito caros e conversei com uma senhora que me indicou um hotel ainda mais caro dizendo que era barato. Odiei Paraná a partir daí. Fomos para o centro da cidade atrás de hotéis mais baratos, mas não tinha vaga, a pessoa que nos atendeu nos indicou outro. Enquanto eu procurava, conhecemos o Quique, um senhor que já tinha morado no Brasil e tentava falar um português bem bagunçado, ele lutava Taekwendo e eu disse pra ele que já lutei boxe, jiu-jitsu e judô. Quique nos alertou para o pneu dianteiro da minha moto e eu comecei a ficar assustado. Também nos indicou um camping municipal que pagava 6 pesos para montar a barraca. Lá dentro do camping, o rio passava e eu lembrei que a noite a onça sai pra beber água, ri, mas pensei sério isso. Tinha uma pizzaria dentro do camping, comprei uma pizza com suco de polmelo pra jantar. Durante a noite, fez muito frio e eu levantei para pegar o saco de dormir que tava no baú da moto, adicionado a isso, o colchão esvaziou um tanto e tava desconfortável, mas deu tudo certo.

 

SEGUNDA: 06/01/2025

Saímos do camping e seguimos para tentar atravessar o Uruguai e dormir no Brasil. Paramos para almoçar na cidade Concórdia, na Argentina, onde Rickson ficou indignado porque tinha uma frase dizendo “No tenemos wi-fi, hablen entre ustedes”. Claro estava que o restaurante não queria pessoas mexendo no celular sem consumir porque eles vendiam carne, por sinal, muita carne, e precisava de rotatividade para não perder. Atravessamos para o Uruguai para a cidade de Salto e seguimos para Artigas por uma estradinha deserta, pouco mais de 200 km sem nada a ser visto, exceto um povoado chamado Colonia Itapebi, que me lembrou a cidade baiana de mesmo nome. Quando chegamos na cidade de Quaraí, no Rio Grande do Sul, procuramos um hotel, mas eu também pensei mais uma vez num camping selvagem. Numa lanchonete, alguém me indicou uma pousada, mas o cara estava com muita cerimônia, então, imaginei que, ou o hotel era muito ruim, ou era um motel disfarçado de pousada. Cheguei lá e vi que eram as duas coisas, então, fomos para outro lugar e vi que tinha um hotel ao lado de um posto de gasolina que era muito caro, então, resolvi adiantar o passo e ir dormir em Alegrete (630 km rodados neste dia). Achamos algumas opções de estadia na cidade, mas fomos para uma que tinha uma placa no início da cidade, tudo de bom, era exatamente o que eu estava precisando. Saímos a noite para procurar uma sorveteria, mas era tarde demais e não tinha nada aberto, andamos a toa, mas eu estava realmente precisando andar para soltar as pernas.

 

TERÇA: 07/01/2025

No dia seguinte, comprei o pneu dianteiro e trocamos numa borracharia, inclusive, o pneu foi mais barato do que na internet. Perdemos algum tempo com isso, mas estávamos dispostos a encontrar meu outro amigo que o Orkut me deu, o Acylon, e segui viagem com essa intenção. Chegamos na cidade por volta das 18 horas, mas precisamos abrir um parêntese aqui (Acylon foi passar uns dias acampando na Lagoa dos Patos, perto de Porto Alegre e eu estava pensando em fazer a mesma coisa, passar pelo menos um dia lá com ele, porém, ele desistiu de ficar lá mais um dia e aí não teve com nos encontrarmos lá, então, marcamos de nos encontrar na cidade dele, Santa Cruz do Sul. O problema é que ele viria de ônibus, só que não conseguiu transportar a bicicleta no bagageiro, então, teve que pedalar mais de 100 km até Santa Cruz). Parei num posto para procurar hotel e verificar o filtro de ar, isso porque detectei que a moto estava consumindo muito e eu achei que era a cordilheira, mas mesmo depois de passar por ela, a moto continuava com o consumo muito alto. Quando ligamos para Acylon, ele me diz que já estava na cidade e que eu deveria ir para o apartamento dele, assim, fomos. Fazia 16 anos que a gente estava se devendo esse abraço, nos conhecemos no orkut, conversávamos pelo msn, depois fomos para o Facebook, Whatsapp e tudo quanto tipo de conexão que existia, só faltava o abraço. Aproveitei para lembrar um suporte de caramanhola de carbono que ele me vendeu e chegou quebrado, rimos disso e ficamos ali de papo. Conheci a filha dele, que hoje já é uma mulher, mas que quando a conheci era uma criança que estudava o fundamental e hoje é professora de inglês deles.

 

QUARTA: 08/01/2025

Fomos procurar o filtro de ar pela cidade inteira e não encontramos nas lojas, então, só nos restava a Honda, lá estava mais barato do que na internet. Fomos na catedral da cidade de depois fomos para casa para nos arrumarmos para seguir viagem.

Logo no primeiro abastecimento, percebi que valeu muito a pena ter trocado o filtro, a moto voltou a fazer os quase 30 km/l. Seguiríamos para dormir em Curitiba, mas a chuva estava muito complicada para aquela estrada e então eu desisti e acabamos dormindo na pequena cidade de Irani-SC. Achamos um hotel bem barato, com um café da manhã robusto como só o brasileiro sabe fazer.

 

QUINTA: 09/01/2025

Tomamos o café da manhã e seguimos para Capão Bonito. Tomei uma multa saindo do Paraná, essa chegou. A cidade de Capão Bonito é onde começam as rotas das serras, se eu tivesse ido para Curitiba, teria passado pelas serras, mas eu tinha ido por Ponta Grossa. Abasteci num posto e depois fui procurar hotel. Na internet não achava nenhuma, então, fomos procurar no boca a boca. Encontramos uma pousada boa e barata, que é de um motociclista que inclusive já viajou para os mesmo lugares de onde eu tinha vindo. Saímos a noite procurando uma pizzaria e acabamos encontrando uma que não servia mesas, mas eles nos indicaram outra que servia e fomos para esta. Era relativamente distante do hotel, então, tivemos que caminhar de volta e as pernas já se sentiam soltas novamente.

 

SEXTA: 10/01/2025

Tomamos um café da manhã bem bacana e seguimos sentido Belo Horizonte. Passamos por Itapetininga, Sorocaba, Jundiaí e Extrema-MG, onde almoçamos. A ideia era chegar em Belo Horizonte no final da tarde, mas o cansaço estava chamando e acabei parando para descansar na beira da estrada, onde dei uma cochilada e seguimos. A estrada estava com um tráfego muito alto de carretas e começou a chover em alguns pontos, mas passava logo, como estava calor, nem precisou colocar a capa de chuva, o calor e o vento quente secou a roupa.

Comecei a procurar um local para armar barraca, mas novamente sem aquela vontade genuína que me dissuadia. Fomos parar em Carmópolis de Minas e procuramos um hotel lá. Só encontramos um, mas era o melhor da cidade (de manhã ficamos sabendo que tinha outro mais barato, mas foi melhor onde ficamos).

A noite, fui tomar um açaí na rua e ver qual é (sic!) da cidade. Voltamos para dormir.

 

SÁBADO: 11/01/2025

Tomamos o café da manhã e seguimos para tentar dormir em Governador Valadares. Essa parte da viagem foi relativamente tranquila, único contratempo foi entrar em Belo Horizonte e pegar um engarrafamento, de resto, foi tudo tranquilo.

Passamos pela cidade do poeta Carlos Drumond de Andrade e chegamos em Valadares por volta das 18 horas. Nos hospedamos e depois combinei com a Luana para jantarmos. Ela disse para irmos direto para o restaurante e acabei entrando no restaurante errado e fiquei esperando lá, por sorte, era um local aberto e ela nos viu lá. O restaurante certo era ao lado daquele e fomos pra lá. Na volta, Rickson levou a moto até a casa da Luana e ela e eu ficamos caminhando e conversando no caminho. Matamos um pouquinho da saudade, mas só um pouquinho.

 

DOMINGO: 12/01/2025

Saímos de manhã para Teixeira de Freitas, e assim a Expedição retornaria para onde saiu. A viagem foi relativamente tranquila e sem contratempos. Chegamos naquela cidade por volta das 17 horas. Estávamos cansados e cheio de coisas para contar para as futuras gerações, mas também estávamos saciados e plenos de uma sensação de liberdade que só uma viagem de moto pode proporcionar.

 

SEGUNDA:13/01/2025

Pensa que acabou? No dia seguinte, peguei a CB500x e fomos dormir na casa de minha mãe, são quase 700 km. Ficamos por lá por 2 dias e depois fomos para Ribeira do Pombal, eu precisava levar a CB500x para Gil, o mecânico, verificar o problema e consertar. Chegamos lá no dia 15/01/2025 e enfim Rickson pode rever a mãe que fazia mais de 1 ano que ele não via. Agora, sim, a expedição acabou de verdade, inclusive, porque eu voltei para Teixeira de Freitas de carona de carro.

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