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Varginha - Aparecida-SP - 260km em 6 dias


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Esse é meu primeiro relato no site. Quero contar um pouco sobre minha experiência numa caminhada de fé que realizei. Me perdoem qualquer erro ou equívoco, e também pela inexperiência ao relatar, tentarei ser o mais fiel possível sem deixar a leitura maçante. Apesar de ter sido uma caminhada religiosa, o lado aventureiro esteve presente a todo momento. Bem, vamos lá;

 

Sou de Varginha (terra do et), Sul de Minas (300km de BH), e existe aqui a Associação da Romaria do Seu Zuca, que é uma romaria de Varginha até o Santuário de Nossa Senhora Aparecida, em Aparecida-SP. Ela acontece sempre na semana que antecede a Semana Santa. Esse ano foi no final de março.

 

Caso alguém tenha interesse vou deixar aqui um link que conta a história da romaria:

http://www.catolicismo.com.br/materia/materia.cfm?IDmat=13BB857E-ADDA-A197-F9CA8436679D18AC&mes=Dezembro1999

 

Em 2008 um repórter da globo acompanhou a viagem, caso alguém interesse:

1ª Parte:

2ª Parte:

 

Nesse ano de 2012 houve uma pequena reportagem sobre a viagem:

http://globotv.globo.com/eptv-sp/jornal-da-eptv-sul-de-minas/v/fieis-de-varginha-participam-de-romaria-ate-aparecida-do-norte-ha-60-anos/1881801/

 

Existe toda uma estrutura para participar, é precisa fazer uma inscrição, pagar uma taxa, taxa essa que varia a cada ano. Esse ano foi R$ 60,00. Nesse valor está incluso toda a estrutura, como alimentação, apoio médico, pouso para dormir e camisetas. É um valor pequeno, mas a intenção é justamente essa, pois muitas coisas são doadas à associação.

 

Nesse caso não precisamos carregar todas as coisas conosco, pois há um caminhão que leva as mochilas, colchões, barracas, para cada cidade onde pousamos. A alimentação é feita pela própria organização, onde há a equipe da cozinha que carrega todos os utensílios necessários.

 

Conosco carregamos apenas o essencial pra aquele dia de caminhada. Comigo levava uma caneca pra beber água, um agasalho, gorro, meu bastão de caminhada que eu mesmo fiz, capa de chuva, lanterna, maquina digital, lanche – barrinha de cereal, repositor energético, castanhas e polenguinho – e também um kit de primeiro socorros.

 

Para dormir ficamos em ginásios, escolas, e até mesmo nas casas de moradores que abrem suas portas para nós romeiros.

 

São quase 270km em 6 dias de caminhada. Ao todo foram quase 500 romeiros. A organização é feita por umas 100 pessoas, distribuídas entre equipes de cozinha, limpeza, apoio, etc.

 

Saímos de Varginha, passamos por Cambuquira, Cristina, Piquete, Guaratinguetá e Aparecida.

 

Durante toda a caminhada temos alguns carros com água parados em pontos estratégicos, e há também uma ambulância de prontidão caso seja preciso. Além desses carros há também um caminhão menor que serve também de apoio, chamado de “CTI”, caso algum romeiro não consiga continuar na caminhada pode pegar uma carona no caminhão.

 

Apesar de muitas pessoas, não caminhamos todos juntos, saímos juntos, mas no decorrer da caminhada uns vão mais rápidos, outros mais lentos, a diferença entre o primeiro e o último chega a 7 horas de diferença.

 

Era minha primeira vez, e chamei meu cunhado Luciano para participar também.

 

Duas semanas antes foi feita uma reunião onde foram explicados alguns detalhes, mas mesmo assim restaram algumas dúvidas que seriam sanadas no decorrer da romaria. A maioria das pessoas já são experiente na romaria, e conversar com elas é a melhor maneira de aprender como funciona.

 

Arrumamos as coisas, mala, colchonete, barraca (eles pedem pra quem tiver levar). Até fiz um bastão de caminhada. Tudo pronto, vamos à viagem:

DIA 29/03/2012 - 1º DIA – VARGINHA A CAMBUQUIRA:

 

Às 21 hs houve uma missa na Igreja Matriz do Divino Espírito Santo, que fica no centro de Varginha. Após a missa saímos de caminhada até o alto do bairro Sion.

 

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Após uma rápida benção, às 23hs, seguimos em direção à Flora (Distrito de Três Corações-MG), caminhando pela zona rural, por estrada de terra, larga e bem batida. Até a Flora são 18km.

 

O tempo estava bom, o céu bem estrelado, se tivesse lua cheia, nem de lanterna precisaríamos.

 

Em torno das 2:30 da manhã chegamos na Flora, a nossa espera tinha um pão com queijo e café. Eu e o Luciano estávamos andando bem, sem pressa, tranquilos, conversamos com alguns romeiros durante o percurso, tudo estava indo bem.

 

Na Flora comemos e descansamos uns minutos. Tirei a bota pra descansar o pé, mas não sentia dores, ainda.

 

Pra sair da Flora é preciso pegar uma balsa para atravessar o Rio Verde, atravessamos e seguimos andando pela rodovia BR-491, sentido Três Corações. Atravessamos a Fernão dias (BR-381) e seguimos pela rodovia BR-167, sentido Cambuquira.

 

[picturethis=http://www.mochileiros.com/upload/galeria/fotos/20120619220529.JPG 500 375] [b:7nnd2aht]travessia da balça.[/b][/picturethis]

 

Após uns 10km andando pelo asfalto, pegamos à direita e entramos noutra estrada de terra, ainda no município de Três Corações.

 

Durante o percurso do aslfalto comecei a sentir um pouco de dor na parte de cima do pé. Mas estava suportável. Antes de continuar comemos uma barra de cereal, bebemos água e seguimos viagem.

 

A temperatura estava agradável, como estávamos andando não precisava de agasalho.

 

Às 6hs chegamos na Comunidade Rural São Bentinho (município de Três Corações), onde havia outro ponto de alimentação, pão com carne moída e café com leite. O sol estava nascendo, haviam algumas nuvens mas o tempo era bom.

 

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Descansamos uns minutos e seguimos viagem. Nesse momento percebemos que estávamos num ritmo um pouco lento, tinha muita gente na nossa frente.

 

Continuamos andando, sempre seguindo a estrada principal, a partir desse momento era um pouco mais estreita, só passava um carro, e com muitos pedregulhos. Chegamos numa encruzilhada, e ficamos com dúvida sobre o caminho, tinham algumas folhas caídas em determinada direção, mas ainda sim estávamos em dúvida por qual ir. Após uns 5 minutos ali parado avistamos outros romeiros chegando, com mais experiência que nós resolvemos acompanhá-los.

 

Nos juntamos ao Nilton, o Nickson, o Panamá e mais uns 3 que não me recordo o nome. Eles disseram que fizemos bem em esperar, pois era fácil se perder por ali.

 

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A dor no meu pé já incomodava mais. Sentia a parte de cima doendo...mas ainda faltava muito chão.

 

Continuamos mais um pouco por uma estrada mais larga, até que em determinado momento saímos da estrada e seguimos numa plantação de café.

 

Passamos no meio do cafezal mesmo, algumas partes com grama, outras com terra mesmo, quando andava na grama a dor no pé diminuía um pouco, mas na terra estava constante.

 

Numa das paradas que fizemos pra beber água, percebi o erro que tinha cometido. A bota estava muito apertada. Os cadarços estavam pressionando demais a parte de cima do pé, e para poder fazer seu movimento, tinha que forçar muito. Resolvi soltar um pouco os cadarços pra aliviar. Não adiantou nada.

 

Seguimos andando mas meu ritmo estava bem devagar, estava sentindo bastante dor. Meu cunhado Luciano e os novos companheiros às vezes paravam para me esperar mas sempre dando forças.

 

Às 8:30 saímos do cafezal e continuamos numa estradinha de terra batida, cruzamos a divisa entre Três Corações e Cambuquira, meu bastão de caminhada estava mais para muleta do que para bastão.

 

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Depois de uns 30 minutos andando a passos bem lentos voltamos à BR-167, e o negócio ia ficar pior. Era em torno de 9hs, o sol já estava forte, o cansaço de horas de caminhada e a dor no pé não melhorava.

 

Faltavam uns 3km pra chegar na cidade.

 

Antes de continuar no asfalto tirei a bota, fiz um pouco de massagem pra tentar aliviar, coloquei um esparadrapo mas não resolveu muita coisa.

 

Começamos a andar mas eu estava muito lento, disse aos companheiros pra seguirem no ritmo deles que eu seguiria no meu. Não queria segurar ninguém. Eles aumentaram o ritmo e fui caminhando bem devagar.

 

Eu caminhava pelo aslfato, as vezes pelo acostamento de terra, mas não adiantava, a dor era muito grande, a bota já estava toda desamarrada, mas ainda sim não diminuía.

 

Me vi sozinho ali naquela rodovia, vendo os carros passarem, caminhões, estava sem água, tinha algumas coisas pra comer mas não adiantaria muito.

 

Andando ali sozinho, sentindo muita dor, naquele sol comecei a pensar no motivo de estar ali, afinal minha motivação não era somente pela aventura, mas pela fé em Nossa Senhora. Pensei na família, no apoio que recebi quando resolvi ir nessa caminhada e então passei a rezar. Pedia forças pra poder continuar, não queria desistir, sabia que o caminhão de apoio passaria ali, mas não queria ter que subir.

 

Continuei rezando (ainda me lembro como se fosse ontem, apesar de já ter se passado quase 3 meses), não sentia mais a dor...eu que já me arrastava e me apoiava no bastão caseiro que tinha feito agora estava quase correndo...comecei a chorar...e rezava mais alto. acho que corri durante uns 10 minutos, e numa subida. Era a última subida até a cidade.

 

Quando cheguei no alto, há uma curva pra esquerda e começa a descer. Continuei num ritmo forte, ainda não acreditava como aquilo estava acontecendo. Continuei rezando mais um pouco.

 

Quando entrei na cidade, e vi que realmente ia conseguir, a dor voltou, sentia o pé latejando.

 

Por sorte, o ginásio onde ficaríamos fica bem próximo da entrada da cidade, atrás da rodoviária. Haviam alguns romeiros numa pracinha que me mostraram o caminho. Demorei cerca de 1h pra percorrer esses 3 km.

 

Cheguei no ginásio às 10:15. O Luciano que seguiu na frente chegou poucos minutos antes de mim, a corrida que dei de fato fez diferença. Mas ainda tínhamos que achar um lugar pra descansar, já que muita gente havia chegado na nossa frente.

 

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Por sorte achamos um cantinho, montei minha barraca e desmontei dentro dela. O Luciano montou seu colchão ao lado.

 

Ao meio dia ele me acordou para almoçarmos. Dormi por 1h, mas consegui descansar um pouco. Me levantei, tomei banho e almocei. O cardápio do almoço foi arroz, macarrão, salada, inhame e bacalhoada.

 

Depois do almoço voltei pra barraca pra dormir mais, afinal ainda era o primeiro dia.

 

Deitado na barraca, comecei a pensar no que tinha acontecido. Nesse momento, mais do que nunca tinha certeza da razão de estar ali. E sabia o motivo de ter conseguido chegar. E acima de tudo, foi preciso ter passado por essa provação, seria importante pra chegar até o objetivo: Basílica de Nossa Senhora Aparecida.

 

No total foram 11hs de caminhada, 53km percorridos.

 

Precisava dormir mais e dormi! Encerro o 1º dia aqui.

 

30/03/2012 - 2º DIA – CAMBUQUIRA A CRISTINA.

 

Acordei era em torno das 19hs. A janta estava marcada pra 20:30. Partiríamos às 22hs.

 

Me levantei, a dor tinha passado quase que totalmente, já estava bem melhor, havia tomado um relaxante muscular, passei um gel nos pés, mas outra coisa começava a preocupar, uma pequena bolha aparecera embaixo do dedinho do pé direito, mas como estava muito pequena, não podia fazer nada.

 

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Levantei, comecei a desmontar a barraca e arrumar as coisas. Às 20hs foi servido a janta: macarrão, carne moída, feijão, salada.

 

Após comer voltei a arrumar as coisas. Nesse dia não usaria a bota, ia de tênis, vi que a bota não teve muita utilidade.

 

Comecei a arrumar as coisas que usaria naquele dia. Resolvi trocar as pilhas da lanterna, já que tinha usado a noite toda, já estavam fracas. Coloquei as pilhas novas, passaram uns minutos, fui pegar a lanterna e estava quente, retirei as pilhas e vi que tinham vazado. Tentei usar outras pilhas mas não adiantou. Por sorte tinha uma lanterna reserva, apesar de ser bem fraquinha, não tinha como caminhar sem uma luz. Ela me salvou.

 

Tudo arrumado, rezamos um terço antes de sair e às 21:30 começamos a andar.

 

Agora de tênis estava tudo bem, logo, eu e o Luciano encontramos com os companheiros do “dia anterior” e seguimos caminhando com eles.

 

Fomos andando pela cidade de Cambuquira e logo saímos das ruas calçadas para uma estrada de terra: escuridão total, só se viam as lanternas.

 

Começaram uns relâmpagos. Um vento forte também soprava. Começou uns pingos grossos, não muitos, mas colocamos a capa de chuva, passaram uns 10 minutos parou de chuviscar, as nuvens sumiram e um céu estrelado apareceu. Guardamos a capa de chuva, alguns estavam com aquelas descartáveis, impossível de reduzi-las ao tamanho normal ::lol3:: .

 

Seguimos andando pela estrada de terra, algumas subidas, descidas, e por isso muitos pedregulhos. Infelizmente não teve como tirar fotos.

 

Após algumas horas chegamos no asfalto, passamos a andar pela rodovia, passamos pela BR-267 e seguimos pela MG-456, sentido Lambari-MG.

 

Durante o asfalto estava num ritmo bom e passei a caminhar sozinho. A pista tinha um bom acostamento, então dava pra caminhar mais tranquilo, havia pouco movimento de veículos, mas foi legal ver o respeito da maioria dos motoristas ao verem nós romeiros andando pela estrada, reduziam a velocidade e buzinavam.

 

Andamos uns 10 km no asfalto e na rodovia MG-456 entramos à esquerda e voltamos pra terra. Nessa entrada havia um ponto de apoio, bebi bastante água e comi uma barrinha de cereal. A cada 2:30h comia alguma coisa pra manter uma boa disposição. Aproveitei que estava um pouco na frente dos meus companheiros e fiz um descanso maior para esperá-los. Assim que chegaram continuamos a caminhada.

 

Essa estrada de terra nos levaria até a cidade de Jesuânia-MG, chegamos lá por volta 3:30, estava muito frio, havia muita neblina. Paramos pra descansar um pouco e comer mais alguma coisa, havia uma lanchonete aberta ainda, fica na parte de baixo da praça da igreja, comi um pão e tomei um café com leite bem quente pra esquentar. Aproveitei a parada para trocar os esparadrapos que tinha nos pés para proteger das bolhas.

 

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Depois de uns 20 minutos voltamos a andar, seguimos pela cidade até entrar noutra estrada de terra, agora estávamos sentido Olímpio Noronha-MG.

 

Andamos uns 15km por essa estrada de terra até chegar na BR-460, daí seguimos pelo asfalto.

 

Ainda havia um nevoreiro, infelizmente não conseguimos ver o nascer do sol. Essa parte do caminho que andamos foi um dos mais difíceis. A fadiga estava muito grande, as dores também, minha sola do pé doía muito.

 

O Luciano também estava bem cansado, sua canela doía bastante. Chegamos a falar inclusive em desistir ali, pegar carona com o caminhão, pois não agüentávamos mais.

 

Chegamos em Olímpio Noronha por volta das 7hs da manhã. Fazia bastante frio, minha barba estava até com orvalho eheheheh.

 

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Lá havia outro ponto de apoio, tinha uma sopa de fubá bem quente pra esquentar. Estava sentindo um pouco de dor nos pés, mas nada fora do normal, afinal de contas já eram mais de 8hs andando. Descansamos uns 20 minutos, o próximo trecho talvez era o pior de todos, o morro chamado tira-gosto.

 

Quando voltamos a andar, conversei com o Luciano que já éramos vitoriosos por chegar até ali, que se a dor continuasse íamos pegar carona com o caminhão.

 

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Seguimos pela zona rural. Lá pelas 9hs avistamos a montanha que subiríamos. Sua subida seria feita por dentro de um cafezal, já que a região dessas montanhas são ótimas para esse plantio.

 

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Eu e o Luciano resolvemos acompanhar um amigo na subida. Já era a 8ª vez que ele participava da romaria, então estávamos tranquilos com o caminho. Mas como o cara já é experiente subiu num ritmo mais forte, mas conseguimos acompanhá-lo, foi até bom, pois subimos de forma rápida, gastamos algo em torno de 1h na subida. A subida é feita por uma estradinha bem estreita num cafezal, com muitas valas, ali só de jipe ou trator.

 

Chegamos no alto e ficamos muito felizes de estar ali, pois quase tínhamos desistido, fizemos uma oração e continuamos, agora era só descida.

 

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No final da descida paramos num ponto de apoio, bebemos água, eu comi uma barrinha de cereal, 2 castanhas e um repositor energético.

 

A essa altura o sol já estava forte, o frio que sentimos na madrugada agora era contrário ao calor que sentira a partir daquele momento.

 

Andamos mais uns 20km por terra, entre subidas íngremes, descidas, mas com lindas paisagens.

 

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Por volta das 14hs chegamos no asfalto, MG-347. faltavam apenas 5 km até a cidade de Cristina-MG. Mas o sol estava muito quente, o calor que subia do asfalto também era insuportável. Decidimos ir pela linha do trem que passa por ali, mas a distância aumentava algo em torno de 1km, por ser pequena a diferença e por andar na terra, seria melhor. Realmente foi melhor, estradinha larga, com árvores.

 

Esse último percurso sentia bastante dor nos pés, mas dessa vez na sola do pé, nada fora do normal.

 

Chegamos em Cristina por volta das 15:15hs. Como em Cambuquira, o espaço no ginásio já era pequeno, então fiz como outras pessoas fizeram, montei minha barraca na pracinha em frente, num gramado.

 

O cansaço era grande, a fadiga, praticamente 2 noites sem dormir, já que dormimos durante o dia em Cambuquira. Conversando com o pessoal disseram que muita gente precisou pegar carona com o caminhão de apoio, por causa do sono, teve gente que parou pra dormir na rodovia mesmo.

 

Pra mim, ter chegado até ali era uma vitória, principalmente por não ter precisado subir no caminhão. Graças a Deus tinha dado tudo certo, mais um dia de caminhada se foi.

 

Depois de montar a barraca almocei, tomei um banho na casa de uma senhora, sobrava R$5,00 o banho.

 

Mas como nem tudo são flores, mais 2 bolhas apareceram: uma na parte superior do dedinho do pé direito e outra no calcanhar do pé direito também. Fui até o médico pra furar as bolhas. Com uma agulha e linha ele furou, jogou um antisséptico e disse pra não deixar a linha parada, para as vezes movimentá-la para não acumular água. Doeu um pouco heheheheh, mas estava ali, era isso que importava. Tomei outro relaxante muscular, passei um gel nos pés e nas pernas, foi sentia um pouco de dor.

 

Dormi um pouco, às 20hs teve uma missa, em seguida o jantar e dormimos, estava bem frio, mas tranquilo.

 

Ao todo foram 18 horas andando, 70km no total.

 

01/04/2012 - 3º DIA – CRISTINA A RIO CLARO (DISTRITO DE DELFIM MOREIRA-MG)

 

A partida estava marcada para às 5hs. Levantei 3:30 para desmontar a barraca, arrumas as coisas e tomar café. Foi a única desvantagem da barraca, pois tinha que levantar um pouco mais cedo para desmontá-la, mas compensava pelo conforto.

 

Tomamos café: pão com manteiga e café com leite.

 

Já no início da caminhada começamos a subir, Morro da Paciência, não é tão íngreme quanto o morro do tira gosto do dia anterior, mas deve ter o dobro de distância. Mas a paisagem vale a pena, subimos devagar, acho que por isso o nome, pois é preciso paciência para subir. Chegamos no alto por volta das 7hs, havia outro café a nossa espera.

 

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Fizemos uma oração e continuamos.

 

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Conforme o pessoal mais experiente havia dito, esse seria o melhor dia de caminhada, pois é um percurso menor e mais tranquilo.

 

Lá pelas 11hs de caminhada paramos numa venda, já no município de Maria da Fé, uma comunidade rural chamada Comunidade Paciência. Comemos um pão com queijo, descansamos um pouco e continuamos.

 

Começamos a subir o Morro do Cachorrinho (não sei o motivo do nome), um morro não muito grande, mas bem íngreme, o sol já estava bem quente, e o calor insuportável. Levamos uns 20 minutos pra subir, mas a vista lá do alto era linda, estávamos na Serra da Mantiqueira, podia se ver muita coisa lá de cima.

 

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Tiramos umas fotos, recuperamos o fôlego e continuamos, agora só descendo.

 

Cortamos caminho pelo pasto, passamos por uma trilha e atravessamos um riacho por um tronco. Ganhamos uns 30 minutos assim.

 

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Por volta das 14hs chegamos na Comunidade da Barra, uma comunidade na Zona Rural de Delfim Moreira, falta somente 5km até Rio Claro. Como já é tradição dos romeiros paramos ali para comer alguma coisa e até tomamos uma cerveja, afinal tínhamos motivo de sobra pra comemorar nossa caminhada.

 

Ficamos lá até umas 17hs, conseguimos relaxar bastante, depois do dia anterior, esse dia realmente é bem mais tranquilo, não só por ser um caminho melhor, mas por ter passado tanta dificuldade nos 2 primeiros dias, o 3º foi um pouco mais fácil.

 

Para chegarmos, gastamos menos de 1hs até Rio Claro. Rio Claro é distrito de Delfim Moreira, trata-se de uma rua com algumas dezenas de casas. Como os romeiros mais experientes tinham explicado, lá em Rio Claro não há ginásio, existe uma quadra, onde usam uma parte para cobrir com lona de caminhão. A igreja é usada também como pouso, e os moradores deixam as pessoas dormirem em suas casas também, nas varandas, nos quintais.

 

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Assim que chegamos já estava tudo cheio, peguei minhas coisas e fui andando pela rua olhando as casas. Achei uma casa que tinha um grande gramado, ficava do lado de um curral com uns 2 burrinhos. Chamei a dona e pedi permissão pra dormir ali, disse que tinha mais uns amigos, ela disse que poderíamos ficar na varanda da casa. Chamei o restante do pessoal. A dona da cãs ainda ofereceu o banheiro para tomarmos banho, perguntamos quanto ela cobraria e não quis aceitar dinheiro.

 

Fiquei bastante feliz com tudo, vi que aquela pequena comunidade gostava de receber os romeiros. as 2 vendas que tinham ali vendiam bastante, as pessoas ficavam nas ruas, era uma festa mesmo.

 

Tomamos banho e fomos na missa que seria celebrada na rua mesmo, como era domingo de ramos, tinha bastante gente da região ali.

 

Achei engraçado que durante a missa um ônibus que tem sua linha passando pela comunidade parou e ficou esperando a missa acabar para seguir viagem.

 

Após a missa teve o jantar, o pessoal da comunidade pode participar com a gente.

 

Por volta das 21hs fomos dormir. A noite fez bastante frio, perto de onde estávamos tinha uma cachoeira, dava pra ouvir o barulho, mas dentro da barraca consegui ficar bem aquecido. Os donos da casa disseram que no inverno a temperatura chega a ficar negativo.

 

O dia tinha sido tranquilo, o pé doía mas não muito, as bolhas não estavam secas mas já doíam menos também.

 

Foram 9hs de caminhada até a Comunidade da Barra. Um total de 40km.

 

02/04/2012 - 4º DIA – RIO CLARO A PIQUETE

 

Acordei às 4hs pra arrumar as coisas. Tomamos café e às 5hs começamos a caminhada do dia.

 

Já no início da caminhada subimos o Trio do Burro, uma montanha no qual seguimos por uma trilha bem estreita, alguns pequenos riachos desciam fazendo um pouco de lama em algumas partes. Acho que o nome se dá pela utilização do burro ali, pois um cavalo não aguentaria a labuta diária dali.

 

1:30h de subida. Paramos no alto pra tirar umas fotos e recuperar o fôlego. O clima estava bom, apesar de ventar um pouco.

 

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No final da trilha pegamos uma estradinha de terra. Continuamos andando, lá por volta das 9hs passamos por uma casa, onde haviam alguns romeiros parados, paramos também, a dona da casa, Dona Madalena tinha feito café e bolo e servia para os romeiros. Fiquei sabendo depois que ela fazia isso como forma de agradecer uma graça alcançada, pois há uns anos atrás um grupo de romeiros parou para pedir água, e, conversando com ela, contou sobre seu filho que tinha saído de casa havia 5 anos e nunca mais tivera notícias; fizeram uma oração e foram embora, no ano seguinte ficaram sabendo, 2 dias depois da oração seu filho apareceu em casa.

 

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Tomams um cafezinho e seguimos viagem com destino a Delfim Moreira.

 

Chegamos em Delfim Moreira às 12hs. Atravessamos a cidade sem parar, nosso almoço seria mais a frente.

 

Chegamos na BR-459, em direção a piquete, uma rodovia perigosa, sem acostamento.

 

Por volta das 14hs passamos por uma venda, resolvemos comer algo ao invés do almoço que seria mais a frente, o calor estava grande, andar no asfalto durante o dia era sempre um problema, o calor aumentava muito.

 

Não resistimos e tomamos até uma cerveja e comemos algo. Tirei o tênis pra descansar os pés, troquei os esparadrapos que coloquei nas bolhas e em outros lugares para evitar. Mas a sola do pé doía um pouco, o impacto de andar no asfalto também complicava bem.

 

Continuamos andando, 1h depois cruzamos a divisa de MG e SP. Já no lado paulista, depois de mais 1h andando chegamos onde estava nosso almoço. Estava próxima da Fiscalização da Receita, no acostamento, montaram toda a estrutura da cozinha e fizeram ali mesmo. Ainda bem que tínhamos comido antes.

 

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Comemos só um pouco e seguimos viagem.

 

Às 17hs chegamos na Serra da Piquete, para descer pelo asfalto, a distância era muito grande, ale de toda dificuldade que era caminhar num chão muito duro, principalmente com a sola já doendo. Existe uma entrada à direita logo após a placa indicativa da cidade, entramos nessa entrada e resolvemos descer por dentro da serra mesmo.

 

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Fomos descendo por uma trilha bem estreita, as vezes mal cabia um pé do lado do outro. Um terreno escorregadia e úmido, muitos buracos. Mas era bom de descer. Alguns lugares quase era preciso descer sentado, de tão íngreme e escorregadio que era, mas graças a Deus ninguém do grupo escorregou.

 

Durante a descida pude ver a Serra Fina, havia lido alguns relatos aqui e sabia onde localizá-la, quem sabe um dia ainda a subo.

 

A descida durou quase 2hs. O joelho estava todo detonado.

 

Tínhamos de atravessar toda a cidade até nosso pouso, que seria numa escola, mas não tinha pressa, pois só liberariam a escola depois das 19hs, pois havia aula.

 

Mas quando chegamos lá a aula da noite ainda não tinha acabado, os lugares disponíveis para dormir já estavam lotado. Do lado de fora da escola tinham alguns lugares pra montar a barraca, mas o tempo não estava muito bom, relampeava um pouco e não queria arriscar minha barraca de R$60 na chuva. Foi quando vi a prefeitura da cidade, tinha uma varanda grande e algumas pessoas da organização estavam lá, chegamos de quietinho e nos alojamos ali mesmo, nem precisei da barraca. Alguns minutos depois caiu uma tempestade.

 

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Parou a chuva e fui tomar banho, algumas famílias vizinhas ofereciam pra quem quisesse, cobravam R$3,00 o banho.

 

Banho tomado, fui num posto comer um lanche, não queria jantar pesado naquele dia. Às 22hs fui dormir. A sola do pé doía um pouco, o joelho também. Depois que o corpo esfriava a dor aumentava um pouco, tomei um analgésico e passei gel nos pé e nas pernas pra aliviar.

 

No pé esquedo apareceu uma bolha na sola também, mas ainda estava pequena.

 

Andamos 14hs nesse dia, num total de 60km.

 

A cada dia uma vitória.

 

02/04/2012 - 5º DIA – PIQUETE A GUARATINGUETÁ

 

Saímos de piquete às 5hs. O percurso até Guará seria todo por asfalto agora. Apesar das distâncias serem menores, caminhar no asfalto é muito mais desgastante.

 

Acordei com o pé doendo um pouco, fiz um alongamento e seguimos viagem. Depois de uns 20 minutos a dor diminuiu um pouco.

 

Seguimos em direção a Lorena, estava um pouco frio, mas depois que o sol nasceu esquentou.

 

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Chegamos em Lorena por volta das 9hs, paramos numa feirinha e comemos um pastel.

 

Passando dentro da cidade de Lorena paramos também na Igreja de Nossa Senhora da Piedade, fizemos nossas orações e seguimos viagem.

 

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O tempo estava bom, muito calor. De Lorena até Guaratinguetá andamos pela SP-062, rodovia com um acostamento bem pequeno e muito movimentada.

 

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Chegamos em Guaratinguetá por volta das 14hs. A distância não foi grande, mas as dores e o calor tornavam o percurso mais difícil um pouco.

 

Nosso pouso foi num galpão do Parque de Exposições, um lugar muito grande. Montei a barraca e dormi. O almoço daquele dia foi churrasco, acho que uma forma de recompensa por termos chegado até ali.

 

Às 19hs teve uma missa, que aliás foi bem diferente. Nunca havia visto uma missa celebrada daquela maneira, era uma formalidade diferente do comum, muito bonita.

 

Após a missa, teve o jantar, arroz, feijão tropeiro, arroz, abóbora e salada.

 

Confesso que demorei um pouco pra dormir, acho que pela ansiedade do dia seguinte, de chegar no Santuário. Passei o gel no pé e nas pernas pra melhorar a dor e dormi.

 

Esse dia andamos 30km, 9hs de caminhada.

 

03/04/2012 - 6º DIA – GUARATINGUETÁ A APARECIDA

 

Acordamos às 2hs. Arrumei tudo e às 3hs partimos. Apesar de faltarem apenas 10km, esperamos todos chegarem na entrada da cidade para juntos partir em procissão até a Basílica, por isso saímos cedo pra dar tempo de todos chegarem.

 

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Às 6hs, com todos já reunidos saímos em procissão pelas ruas da cidade. Assistiríamos a missa das 7hs.

 

A cada esquina que virávamos via-se um pedacinho da Basílica, emoção e ansiedade tomavam conta de todos, principalmente de nós, que estavam ali pela primeira vez.

 

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Quando entramos na basílica e vamos subindo, a emoção é grande. Todo o percurso passa pela cabeça. As dificuldades que passamos, as amizades que fizemos, valeu a pena cada momento. Todas as dores que sentia tinha passado. Lembrava da minha família, das pessoas que gosto. Após a missa tínhamos o dia livre para passear.

 

A volta era feita de ônibus, fretado pelos próprios romeiros. Saímos de Aparecida às 15hs, cansados, com sono, dores, mas também com muitas histórias, amizades e com a fé renovada.

 

Espero que gostem do meu relato, desculpem-me os erros. Quero daqui pra frente voltar com outros relatos de viagens e trips por aí.

 

Foi uma experiência única que passei. E ano que vem quero repetir. Como um amigo disse durante a caminhada, “por dinheiro nenhum eu faria isso”, pois de fato nosso corpo é muito maltratado nesses dias. Mas valeu muito a pena.

 

Ao todo foram 263 km divididos em 6 dias. 5kg a menos, e 3 unhas perdidas também. No total 4 bolhas.

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Parabéns, belo relato!

É uma caminhada diferente, cuja "fé move montanhas"! É emocionante, sem dúvida! Parabéns mesmo!

 

Entretanto, o problema comum dos caminhos que levam a Aparecida é o asfalto no final do percurso, juntamente com o movimento de veículos! A grande maioria dos caminhantes reclamam disso.

Será que há alguma alternativa pra quem segue pra Aparecida indo do Sul de Minas que evite esse problema?

Se alguém souber, quem sabe poderia ajudar ...

 

Abs, valeu, até mais!

 

Valeu Francisco!!! ::otemo::::otemo::::otemo::

 

Estava olhando o mapa se há algum caminho que daria pra evitar o asfalto, mas acho que não, na saída de Piquete ainda tem uma serra, que seria inviável atravessá-la e entre Piquete e Lorena há uma entrada que me parece ser de terra e vai até Guaratinguetá, mas acho que aumentaria muito o percurso. O pedaço mais difícil mesmo é depois de Lorena, que o movimento aumenta muito. Mas, sigams em frente!!

abraçãoo

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