Ir para conteúdo

Piracicabanos escalam a montanha mais alta da Europa


LEO_THC

Posts Recomendados

  • Membros de Honra
Postado

:arrow: FONTE: Gazeta de Piracicaba

http://www.gazetadepiracicaba.com.br/conteudo/mostra_noticia.asp?noticia=1653314&area=26050&authent=742734047653730566031065223232

 

Dois piracicabanos venceram o desafio de escalar o Mont Blanc, a montanha mais alta da Europa Ocidental, com 4.808 metros, no dia 30 de agosto. Murilo Gimenes Lessa, 28 e Walker Gomes Figueiroa, 27, escolheram o lado francês para iniciar a aventura de quatro dias, enfrentando temperaturas baixas, nevasca, ar rarefeito e os perigos do caminho.

 

O monte fica nos alpes entre a França e a Itália. A partir da cidade francesa de Chamonix, eles começaram a escalada de quatro dias, entre a subida e o retorno seguro. Carregaram cerca de 20 quilos de equipamentos, dormiram nos pontos de apoio na montanha e registraram em belas fotos, a conquista dessa aventura. Por e-mail, Murilo, que mora em Londres, contou como foi chegar ao cume dessa montanha. Walker relatou essa aventura na Gazeta. Confira.

 

Gazeta - Quando vocês planejaram essa aventura?

 

Murilo - No começo de junho, o Walker veio trabalhar como guia de canyoning na Europa e me escreveu perguntando se eu estaria interessado em formar uma dupla pra tentarmos a subida. Ele entrou em contato novamente, no dia 19, perguntando se eu poderia encontrá-lo já na segunda-feira (24) para começarmos os preparativos. Saí de Londres na segunda-feira (24) e, na terça-feira (25) estava em Chamonix.

 

Walker - Tiramos uma semana de férias para fazer essa escalada. Eu estava trabalhando como treinador e guia de canyoning na Suíça.

 

Quanto tempo demorou para subir a montanha?

 

Murilo - Chegamos no cume no domingo, 30 de agosto, por volta das 11 horas da manhã. Levamos quatro dias entre a subida e o retorno seguro para a cidade de Chamonix. Ascendemos pela chamada Rota Normal, que não é tecnicamente difícil, mas é fisicamente extenuante e requer aclimatação por causa da altitude.

 

O Mont Blanc tem ao longo de sua extensão dois pontos de apoio que eles chamam de huts. São grandes construções de madeira e metal fincadas na montanha. Esses locais oferecem quartos compartilhados - repletos de beliches - e um restaurante, simples, mas que oferece algumas comodidades, como café da manhã (servido às 2 horas da madrugada, porque todo mundo sai bem cedo para o ataque ao cume) e jantar.

 

Como planejamos tentar o cume em dois dias, passamos direto pelo primeiro hut, chamado Nid D'Aigle, a 2.372 metros, até o segundo abrigo, Aiguille Du Goûter, a 3.817m. Já no primeiro hut percebe-se leves sintomas de altitude, como dificuldade de fala. Ficamos bem cansados e nossa aclimatação foi mais lenta.

 

Walker - Precisamos de 24 horas para a aclimatação. Como subimos muito forte, machuquei os dedões dos pés na ponta da bota. As unhas ainda estão pretas.

 

Quantos quilos de bagagem vocês carregaram?

 

Murilo - Como decidimos ficar nos huts, não tivemos que levar barraca, apenas fogareiro, roupas, equipamentos e comida. As nossas mochilas deviam estar pesando por volta de 20 quilos. Nada super pesado, mas são mais de 10 horas de esforços subindo e descendo pedras. A altitude torna tudo bem complicado.

 

Walker - Para comer levamos um alimento que chamamos de ração para montanhistas. É um suplemento que a gente prepara esquentando a neve. É bem ruim. Para beber água, também derretemos a neve, mas como ela é uma água destilada, acrescentamos um preparado de isotônico. Também pode acrescentar água e sal.

 

Como estavam as condições do clima?

 

Murilo - No primeiro dia, quando chegamos em Aiguille Du Goûter, o tempo começou bom e na parte final da escalada pegamos uma nevasca, que tornou as pedras bem lisas e escorregadias. Nos outros três dias tivemos ótimo tempo, com sol forte, mas sempre frio.

 

Walker - Quando teve início a nevasca, com ventos variando de 60 a 80 quilômetros por hora e temperatura abaixo de 15ºC, levamos cerca de 15 minutos para chegar no abrigo. Quem foi surpreendido pelo mau tempo mais distante, sofreu bastante. Teve gente que chegou com edema pulmonar, dor-de-cabeça. Essa é uma situação que não tem o que fazer. É chamar o helicóptero de resgate. A meteorologia é uma área que a gente estuda muito nesse esporte. Escolhemos o melhor período e no dia da nossa subida, foi o melhor de todo o mês na montanha.

 

Você sentiu medo em algum momento? Como foi?

 

Murilo - No primeiro dia, logo que estávamos começando a subida, há um trecho bem exposto onde o tempo todo passam pequenas e às vezes grandes avalanches de rochas. Não existe outra forma de atravessá-lo. Você tem basicamente que ficar olhando pra cima, esperando uma pausa das pedras e cruzar esse trecho correndo. Isso nos deixou um tanto apreensivos, porque se você estiver num dia de azar, pode se machucar feio já no início.

 

Como somos acostumados com altura, a exposição da escalada não chega a dar medo, mas é preciso estar o tempo todo focado em não errar um pé ou agarra, porque no caso de uma queda, não existe nada que vá te segurar até lá embaixo. A parte final é a mais exposta, uma crista chamada Bosses. Exige firmeza nas passadas e experiência de progressão com grampos. O abismo se torna pronunciado, a rota aérea, com uma inclinação que chega aos 40º. Neste ponto já se está superando os 4.500m e aumentam os efeitos do ar rarefeito. Nesse último trecho, andamos o tempo todo na crista da montanha, com profundos abismos dos dois lados.

 

Walker - Fiquei concentrado o tempo todo. Esses abismos têm de 2.000 a 3.000 metros. Se você cair, não há o que fazer. No trajeto, também há um campo de gretas, que são as fissuras no gelo, que podem ter mais de cem metros de profundidade. Passamos por isso, lendo a glassiologia. Algumas são cobertas por camadas de gelo mais espessas e em outras, é preciso dar a volta. Saímos ainda à noite para o cume, porque com a temperatura mais baixa, a densidade do gelo é maior. Com o sol forte que faz próximo dos 5.000 metros de altitude, a cobertura das gretas fica mais frágil.

 

Faz parte da segurança no montanhismo ficar encordado. A distância da corda entre mim e o Murilo era de 12 metros. Essa metragem é para se um cair, dar tempo para o outro conseguir se agarrar e segurar. Vi um grupo de quatro pessoas na montanha, que a distância da corda era de pouco mais de um metro entre cada um. Isso é um risco, porque se um cai, puxa todo mundo de uma vez, não dá tempo de fazer nada.

 

Quando você chegou lá em cima, o que sentiu?

 

Murilo - Eu sempre li que muita gente chora quando chegava ao cume. Não achei que fosse passar por algo assim. Foi curioso, porque nos metros finais, as lágrimas começaram a cair sem eu perceber, quando cheguei, notei que o Walker também estava chorando. Nos abraçamos e por vários minutos ficamos chorando como crianças. Até agora não consigo entender a razão. É uma explosão de adrenalina, de auto-realização, satisfação que não se experimenta de outra forma. Uma sensação de liberdade e comunhão com a natureza que não se pode explicar em palavras.

 

A vida contemporânea é tão louca, somos cercados de comodidades, facilidades, tecnologias. Deixamos de dar valor ao simples. A escalada propicia o auto conhecimento e a superação, a noção de ser auto-suficiente, de se bastar.

 

Walker - Em qualquer modalidade que eu faço, meu objetivo é voltar para casa. Mesmo sem chegar ao cume. Isso não é problema para mim. No Monte Earnslaw, na Nova Zelândia, não cheguei ao cume. As condições não estavam favoráveis e meu parceiro teve problemas. A maioria dos acidentes em montanhas acontece na descida, pelo desgaste físico. É preciso calcular a atividade com o retorno.porque aí vem a hiportermia e a pessoa morre.

 

Quais são os novos projetos?

 

Murilo - No começo do ano que vem, eu e um amigo iremos escalar uma famosa formação rochosa na Escócia, a Old Man of Hoy. É uma agulha de 137 metros existente na costa oeste da Ilha de Hoy. É um famoso ponto turístico.

 

Walker - Pretendo subir a Cordilheira Real, na Bolívia, que tem 6.000 metros, no ano que vem.

 

NÚMERO

 

4 dias eles levaram para completar a aventura.

Visitante
Este tópico está impedido de receber novos posts.
×
×
  • Criar Novo...