Membros carv.debora Postado Agosto 11, 2016 Membros Postado Agosto 11, 2016 Viagem realizada entre os dias 4 e 8 de Agosto de 2016 Saída de Curitiba/PR "Deus, tu caprichou na arquitetura, hein?!" foi a primeira coisa que pensei quando eu e minha amiga desembarcamos no Rio de Janeiro e demos de cara com o Pão de Açúcar. Mal sabia eu que, dois dias mais tarde, estaria dizendo a mesma frase só que com outro tom, mais para: "Por que, Deus????", enquanto subia a interminável Isabeloca. Mas vamos do começo e contabilizando gastos. O Parque Nacional da Serra dos Órgãos foi criado em 1939 para proteger os 20.024 hectares de fauna e flora, nos municípios de Teresópolis, Petrópolis, Magé e Guapimirim. O Parque abriga mais de 2.800 espécies de plantas catalogadas pela ciência, 462 espécies de aves, 105 de mamíferos, 103 de anfíbios e 83 de répteis, incluindo 130 animais ameaçados de extinção e muitas espécies endêmicas (que só ocorrem neste local). Os ingressos são vendidos online, não é permitido pernoitar em qualquer outra área, exceto nos abrigos. Você tem a opção de levar sua própria barraca, alugar uma lá, fazer bivaque ou dormir nos beliches, dentro do abrigo. IMG_9471 by debora carvalho, no Flickr Já havia meses que estava planejando esta viagem com a Marina, amiga de trilhas e montanhas. Quando Julho foi chegando ao fim, percebemos que mais um pouco e o inverno chegaria ao fim, diminuindo as chances de pegar um bom tempo na travessia. Então, no fim do mês, achamos passagens baratas pela Decolar, totalizando, ida e volta, para duas pessoas, R$574 reais. Tivemos que comprar principalmente porque iríamos bem no início das Olimpíadas. Foi muito barato. Esse foi nosso primeiro "deslize", pois não paramos para nos tocar de que todo montanhista aproveita a época para fazer trilha, logo, quando tentamos comprar ingressos para o parque, só conseguimos pernoite no abrigo do Sino, de domingo para segunda (7 e 8 de Agosto). Assim, a princípio realizaríamos a travessia em 2 dias. Chegamos no Rio no dia 4 e ficamos na Lapa, no Books Hostel. A pernoite, com café da manhã incluso saiu por apenas R$35. O hostel é ótimo, mas nossa primeira surpresa foi que ele é voltado para estrangeiros. Todo mundo só falava inglês. Eu nem sabia, pois havia agendado pelo Booking. Mas foi ótimo, falamos com pessoas de todo o mundo e ainda ficamos pertinho dos arcos da Lapa e da Escadaria Selaron. Como só partiríamos para Petrópolis no fim da tarde do dia seguinte, aproveitamos para turistar. Antes mesmo de viajarmos, a Marina havia conseguido uma carona para nós. Foi pelo site BlaBlaCar, e é sensacional. Normalmente as passagens do Rio de Janeiro para Petrópolis custam R$29,60, mas conseguimos uma carona por 30, o que saiu 15 de cada. E o Gabriel, nosso motorista, ainda nos levou por um mini tour no Rio, passando por Copacabana, etc. Deu até pra ver a tocha olímpica passando! IMG_9467 by debora carvalho, no Flickr Quando chegamos no Parnaso, às 18h do dia 5, uma sexta, a decepção. Ninguém havia desistido de subir e acampar no Açu, logo, ainda estávamos sem vaga e com ingresso apenas de domingo para segunda. Acampamos então no El Dourado, um camping fora do parque (não há camping na sede Petrópolis, apenas em Teresópolis). Choramos um desconto para os donos de lá, que queriam cobrar R$30 por pessoa. Por sorte conseguimos 30 para nós duas!!! Na manhã seguinte fomos ao parque continuar a choradeira e implorar uma vaguinha no Açu. Sem chance. O Parque é bem rígido com as regras, permitindo apenas 100 pessoas pernoitando em cada abrigo. O que é muito bom, pois o impacto é bem menor na natureza, fora que a trilha é limpíssima! Então, sem ingresso e já nos conformando em realizar a travessia em dois dias, compramos ingressos para entrar no parque somente e fazer um bate-volta no Açu. (R$24 cada uma). Logo de início a trilha só sobe. Sobe meeesmo. Como estávamos com tempo, fomos até a cachoeira Véu da Noiva. Depois, atingimos a Pedra do Queijo. Pouco antes do Ajax (último ponto de água antes da tal Isabeloca), encontramos um grupo subindo lentamente de cargueira. Batemos um papo rápido e explicamos nossa triste situação. Qual não foi nossa surpresa quando o Luiz, "guia" do grupo, nos disse que 3 amigos haviam desistido da travessia. Ficamos em choque na hora, pois haveriam vagas para pernoitarmos no Açu e realizar a travessia em 3 dias! Ele ainda nos cedeu a papelada de comprovante de inscrição, então descemos feito raio para a portaria. Não deu outra: às 13h35 estávamos reiniciando a subida, agora munidas de cargueiras pesadas. Aí o sofrimento começou. Apesar de ser inverno, o lugar é MUITO quente, ar seco mesmo, cada passada nossa levantava poeira e o sol ardia. Perto das 17h já estávamos concluindo a Isabeloca, podendo então pegar o pôr-do-sol no platô. Por falar em Isabeloca, soubemos pelo guarda do abrigo a história oficial, e não tem nada a ver com princesa Isabel subindo de mula. Um padre da região tinha várias escravas, sendo que uma delas, Isabeloca, ficava fugindo para a região - o Açu era conhecido por ser rota de fuga de escravos no século XIX, pois fica na antiga fazenda do Padre Antônio Tomás de Aquino da Silva Goulão, o Padre Correia, no tempo da colonização. GOPR6105 by debora carvalho, no Flickr Chegar no abrigo foi maravilhoso (chegamos por volta das 18h30), pois encontramos Luiz e seu grupo, que depois descobrimos ser seus dois filhos (o Gabriel, mais velho, e a Clara, de apenas 12 anos!!!) e um amigo de longa data, o Anderson. Jantamos todos juntos e eles nem quiseram saber de pagarmos os ingressos. Assim, eu e a Marina compramos na hora um banho (R$20 por 5 minutinhos...). Dormimos nos beliches, o que foi maravilhoso e não estava nos nossos planos, pois pretendíamos acampanhar. O abrigo é todo equipado com panelas, fogão, gás, talheres e o que precisar pra cozinhar. Bem bacana. No domingo, 7/08, fomos aos Portais dos Hércules, trilha paralela à travessia. Saímotracklog no wikiloc ou conversar com alguém que conheça. Apesar de haver marcações com totens de pedra e setas riscadas no chão, nada traz mais segurança do que ir acompanhado de quem conheça. Este foi nosso caso, fomos com um grupo que já conhecia o local. Como é uma descida até lá, optamos por esconder as cargueiras em uns arbustos e prosseguir mais leves, o que ajudou na volta. O local é lindo e não pode faltar na sua travessia! IMG_9568 by debora carvalho, no Flickr Nos despedimos do pessoal (que estava voltando para a sede de Petrópolis) e seguimos nosso caminho. O segundo dia foi basicamente subir e descer morros. Descemos até o vale das antas, depois subimos novamente e tivemos a primeira visão do garrafão. Ali paramos para almoçar. IMG_0679 by debora carvalho, no Flickr Seguimos descendo na rocha e acompanhando os totens, passando pelo trecho chamado de Mergulho. Foi sem problemas, apesar do alto grau de inclinação. Iniciamos outra vez uma subida, desta vez no famoso elevador. É um paredão com pelo menos uns 50 grampos pra subir. Haja força pra ir com cargueira acima! IMG_9603 by debora carvalho, no Flickr Andamos mais um tempo, as vezes vendo o garrafão, as vezes só mato, até chegarmos em uma abertura que dava pra ver o cavalinho, subidinha tensa colada junto ao paredão do Morro do Sino. O gelo bateu ali, pois éramos nós duas, já não alcançamos ninguém e não tinha outro jeito. Iniciamos uma subida breve e então deixei as cargueiras com a Marina e escalei a primeira parte. Nos paredões existem ganchos para amarrar cordas, levem! Nós não nos nos prendemos em nenhum lugar ( o que não recomendo a ninguém sem experiência), mas eu subi primeiro e, com uma corda pequena que havíamos trazido, içamos as mochilas. Depois, a Marina subiu e ficamos recuperando o fôlego. A pedra que é preciso "pular" é larga, você literalmente monta nela, por isso o apelido Cavalinho. Aí, depois do perrengue, tinha uma escada de metal... GOPR6201 by debora carvalho, no Flickr Subimos e logo estávamos andando em linha reta, até encontrar uma placa que indicava a subida para o sino e outra para o abrigo. Claro que decidimos ir para o abrigo. Chegamos lá às 16h30, um tempo bom. das placas até o abrigo dá mais ou menos 30 minutos de descida em zigue-zague, o abrigo fica escondidinho na encosta do Sino. GOPR6207 by debora carvalho, no Flickr Como previamente havíamos comprado ingressos para esta pernoite e o banho, recebemos com tristeza a notícia que faltava água por lá, devido à estiagem do inverno. Havia água para cozinhar. Sem pensar muito, enchi alguns canecos, fervi, e tomei um banho de gato mesmo. Novamente, dormimos nos beliches - cortesia e generosidade do Luiz, o qual já estava lá com sua família e dividiu seu jantar. Eu estava exausta demais para qualquer coisa, mas a Marina decidiu ir dar uma volta, combinamos de subir o Sino somente na manhã seguinte para ver o nascer do sol. Ao ficar no abrigo, conversei com a equipe de lá e eles contaram que atrás do abrigo existe a "pedra do celular" apelido carinhoso a uma pedra na direção de Teresópolis e que era garantia de que o celular funcionasse. Fui rapidinho checar o local para dar notícias ao namorado e familiares, mas minha Tim não colaborou. O pessoal que estava com celular Vivo se saiu melhor Na manhã seguinte, segunda, subimos ao sino às 5h30 aguardar o nascer do sol. Foi espetacular, com vista para a serra da cidade de Friburgo. Ali mesmo já ensaiamos uma possível visita ao lugar! Depois de algumas fotos, descemos para buscar nossas coisas e iniciar a descida. Mais cabisbaixas e já com saudades, iniciamos a descida 7h30. IMG_9656 by debora carvalho, no Flickr Logo ao iniciarmos a caminhada, por um caminho bem mais tranquilo que todo o perrengue dos dias anteriores, dois rapazes montanhistas nos alcançaram. 5 minutos de conversa e eles nos disseram de um atalho que reduzia em 40 minutos de caminhada e ainda dava vista para os Portais dos Hércules. Claro que a curiosidade pegou, mas o bom senso de duas meninas andando sozinhas falou mais alto: recusamos o tal atalho, até porque em nenhum relato lemos algo a respeito. Pelo sim, pelo não, decidimos continuar a descida tradicional. Foram duas horas e meia de zigue-zague entre árvores, em uma trilha bem aberta. Mas chega uma hora que enjoa. Como não tinhamos carro ou carona esperando, ainda andamos até a portaria do parque, o que nos consumiu mais uma hora. Você termina a trilha em um local, mas ainda precisa de 3km caminhando até a saída mesmo. Lá, pegamos um ônibus de linha (3,80) até a rodoviária e embarcamos às 12h no ônibus Teresópolis, pagando então cada uma R$29,60 até o Rio de Janeiro. A viagem leva cerca de 1h30, mas como o rio estava uma confusão devido às Olimpíadas, chegamos 14h. Na rodoviária mesmo, compramos um banho (R$ e nos despedimos do suor. Tudo é muito limpo e organizado no banho, eles dão até toalha!! Renovadas, mas com tempo curto, tínhamos a opção de pegar um ônibus executivo no valor de R$12 rumo ao aeroporto. Mas, a novidade é que tem o VLT, um trem leeento, mas que pagamos apenas R$6 para chegar até o aeroporto Santos Dummont. Chegamos lá 15h30, despachamos as bagagens e embarcamos às 17h pra Curitiba. Bom, espero que o relato ajude de alguma forma, e fica sempre o alerta para pessoas inexperientes: realizar a trilha com guias. Apesar de ser bem marcada, para quem não tem muito senso de orientação, ela pode se tornar complicada, além dos trechos desafiantes. Fomos com tracklog e sempre muito alertas, não preocupadas com tempo, mas segurança. Tempo bom em todos os dias, mas o ruim da estiagem é que os pontos de água são mais escassos. Os ingressos variam de acordo de como você vai pernoitar. Podem ser conferidos valores aqui: http://www.parnaso.tur.br/ingressos e compre com antecedência!! Citar
Membros AugustoFilho1 Postado Agosto 11, 2016 Membros Postado Agosto 11, 2016 Excelente relato Já cai na asneira de fazer o "bate volta" na pedra do sino,mesmo estando bem preparado fisicamente não indico Reserve pelo menos 1 pernoite no abrigo do sino,e desça no dia seguinte! Quando fui,não comprei previamente as entradas e acabei comprando apenas o ingresso de entrada do parque. Citar
Membros FabisFabis Postado Agosto 20, 2016 Membros Postado Agosto 20, 2016 Caracaaa, adorei o seu relato! Eu iria nessa mesma data com minhas amigas, mas não encontramos vaga. Iremos em setembro, 09/09. Eu vi o seu vídeo no youtube e vim correndo ler o relato porque estamos pesquisando todas as dicas possíveis. Muito animador ler tudo isso, adorei! Parabéns pela aventura!! Fico feliz em saber que realmente o guia não é tão necessário assim. Citar
Membros carv.debora Postado Agosto 24, 2016 Autor Membros Postado Agosto 24, 2016 Fico muito feliz!! Vá mesmo, é uma super travessia, paisagens inacreditáveis. O único trecho complicado mesmo é quando você desce ao vale das antes - muita gente segue em frente, mas em uma clareira nos bambuzais tem um totem de pedra à direita indicando a continuação da trilha. E depois, tem o cavalinho, que é realmente perigoso se não houver força e equilíbrio hahahaha. levem corda para se amarrarem, dá mais confiança. Depois, DIVIRTA-SE!!! EU JÁ TO COM SAUDADE DE LÁ! Citar
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