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Tudo começou com a missão de ajudar dois amigos na tarefa de construir sua primeira casa juntos, como um casal.

Embarquei em Campinas com destino ao Rio de Janeiro sem ter a mínima idéia do que me esperava na cidade maravilhosa.

Durante a viagem, um sono leve e cheio de expectativas. Acordei algumas vezes, olhei pela janela e nada era familiar na paisagem, a não ser a lua minguante que me acompanhava durante o percurso.

Depois de descer a serra dividida entre o encantamento da paisagem com o sol nascente e o sono ainda persistente, na capital fluminense -  caótica e barulhenta - com muita informação para um cérebro recém acordado. Cores, letras, outdoors, trânsito, favela e sujeira fazem parte da primeira impressão de quem chega na cidade maravilhosa.

Chegando na rodoviária, estrategicamente localizada próxima ao Centro e às principais vias de entrada e saída do Rio de Janeiro (Ponte Rio-Niterói, Avenida Brasil e Linha Vermelha), pego um ônibus até a Barra da Tijuca, onde ficaria hospedada pelos próximos 4 dias. O sorriso no rosto e o frio na barriga - presentes desde o acerto da viagem - não me abandonam nem por um segundo.

Durante o percurso do ônibus, observo atenta a tudo ao meu redor, acompanho o trajeto pelo GPS do celular e me encanto com a paisagem confusa: uma mistura de natureza, riqueza, e pobreza, tudo ao mesmo tempo. Mais tarde descobri que essas três forças atuam de forma constante na cidade, criando paradoxos e beleza inexplicáveis.

Barra da Tijuca, meu ponto de desembarque é nada menos que ao pé da Cidade das Artes, edificação que inundou meus olhos em 2014.

Ufa! O encontro com o casal trouxe a grata surpresa de ser bem recebida. Durante o percurso até o apartamento, e entre um trago e outro, ele me fala sobre o Rio de Janeiro. São tantas perguntas e respostas que me sinto confusa.

Depois de conhecer meu novo lar pelos próximos dias, é hora de colocar biquíni e partir para a praia. Seguimos pela Av. Lúcio Costa, uma linda avenida que se estende pela orla oeste carioca, passando pela praia da Reserva e tem seu fim na Pedra do Pontal. A paisagem é tão exuberante que até esqueço que existe o outro lado da via. Continuamos nosso caminho até a Prainha, parada rápida para entrar na suntuosa mata atlântica e seguimos até a praia de Grumari.

A primeira impressão que tive ao entrar na Área de Proteção Ambiental da Pedra Branca, uma das maiores florestas urbanas do mundo com 12.500 hectares, foi a de estar de volta no tempo junto aos dinossauros, com árvores imensas sobre rochas tão grandes quanto elas. Muitas das plantas ali não me eram familiares como na Mata Atlântica paulista, o que me deixou com mais vontade ainda de saber quem são. O Rio de Janeiro está completamente inserido na Mata Atlântica, com ecossistemas como restingas, manguezais, campos de altitude e um grande conjunto de formações florestais; é um dos biomas mais ricos do mundo em biodiversidade.

Depois de uma ou duas cervejas na praia, hora de partir para o trabalho!

Seguimos para o bairro de Jacarepagua, um bairro de classe média na zona oeste da cidade. É atualmente o sexto maior bairro da cidade e passa por um intenso processo de gentrificação. Nos lugares por onde passamos, e comparando com São Paulo, me pareceu uma centralidade bem característica, com comércios e residências. Chegamos ao destino! Uma rua estreita cheia de casas, um portão de ferro que dá para outra rua ainda mais estreita e mais cheia de casinhas. Entramos em uma das muitas portas e, já achando graça, vi mais casinhas.  

O dono do terreno construiu ali uma outra vila, com 8 ou 9 casas coladas umas nas outras. O casal decidiu alugar 2 conjuntos, então teríamos 70 m² para trabalhar sala, cozinha, lavanderia, dormitório, banheiro e lavabo.

Fim do dia: cerveja, comida e descanso!

Acordo. Sexta-feira, Rio de Janeiro, calor. José está ao pé da minha cama falando que teríamos um dia cheio: visitar os móveis para a casa nova deles que estavam distribuídos entre a casa da mãe e do tio - me empolguei! Depois eles teriam que voltar para Barra para tratar assuntos particulares, e eu poderia ficar sozinha pelo Rio de Janeiro. Senti um arrepio misto de medo e excitação. Parque Lage e Jardim Botânico, aí vou eu!

O caminho que fizemos até a zona sul foi uma das coisas mais lindas que eu vivi. Saindo da praia da Barra, passamos pelo Elevado das Bandeiras, um elevado de concreto em cima do mar, inaugurado no início da década de 1970 para ligar a zona oeste a zona sul. Em seguida pegamos a  AutoEstrada Lagoa-Barra, a estrada, que passa pela favela da Rocinha cortando o bairro de São Conrado, dá um tapa na cara da gente de desigualdade social. De um lado, o Fashion Mall, um dos shoppings mais caros do mundo para se fazer compras. Do outro, a maior favela do país, com cerca de 70 MIL habitantes. Passado o choque, pegamos a Av. Niemeyer, uma importante via inaugurada em 1916 pelo Eng. Conrado Niemeyer. Logo é possível ver a entrada da Favela do Vidigal, uma viela cheia de casas, umas em cima das outras. Mais uma vez o mar atrai meu olhar e esqueço tudo ao meu redor. Aquele azul infinito, horizonte distante, cabeça lá longe. Chegamos ao Leblon, onde fizemos uma rápida parada para admirar aquela maravilhosidade toda.  

Avançamos o caminho até Botafogo passando pela Lagoa Rodrigo de Freitas, inicialmente habitada pelos índios Tamoios, hoje poluída, parte aterrada e utilizada para prática de esportes aquáticos, como remo e canoagem.

Já na casa da Dona Ruth, é possível avistar da janela o Cristo Redentor, ou pelo menos o suvaco de cristo. Escolhidos os móveis, seguimos viagem até a casa do tio. Trabalho feito, hora de visita técnica!

Uma ou duas tragadas, desembarco do carro no Parque Lage para minha aventura sozinha pelo Rio! O Parque Lage foi uma deliciosa surpresa. Ele é tombado pelo Iphan desde 1951 como patrimônio histórico e cultural da cidade do Rio de Janeiro. De lá também é possível ver o Cristo Redentor, além da mata exuberante e diversas atrações, como o palácio, a gruta e a torre. O jardim do Palácio, construído nos moldes europeus, simetria e fonte no meio estava só com grama, o que me deixou confusa: do lado da mata, natureza exuberante; do lado construído, grama, sol e ambiente hostil na vista mais linda do parque. Todos se escondendo do sol nas árvores adjacentes.

Próxima parada: Jardim Botânico. Vou caminhando pela Rua Jardim Botânico e me sinto camuflada no meio daquelas pessoas andando pelas ruas. Eu poderia ser qualquer uma delas, desfrutando o caminho até meu destino pela cidade maravilhosa.

Jardim Botânico, R$ 15,00 para entrar, meia entrada por favor! Eu não sabia o que esperar do Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Foram tantas as histórias, tantas as pessoas que ouvi falando daquele lugar, que me senti perdida diante de tanta informação, sem saber filtrar e absorver. Muitas árvores, muitos caminhos, muita caminhada e surpresa em cada trajeto escolhido. Senti falta de pessoas nesse momento. Pessoas para comentar, discutir, conversar, dividir todo aquele conhecimento arquitetônico/botânico.

O Jardim Botânico do Rio de Janeiro foi fundado em 13 de junho de 1808 e surgiu de uma decisão do então príncipe regente português D. João de instalar um jardim para aclimatação de espécies vegetais originárias de outras partes do mundo. Hoje o Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro é um órgão federal vinculado ao Ministério do Meio Ambiente e é como um dos mais importantes centros de pesquisa mundiais nas áreas de botânica e conservação da biodiversidade.
Hora de voltar para a Barra da Tijuca. Vou atrás do ponto de ônibus esperar pelo 309. Foi rápido. Estava cheio, tudo bem. Sigo atenta no caminho e consigo identificar algumas vistas, como a Rocinha e o Elevado. Praia da Barra, trânsito. Desço do ônibus e aguardo por eles na praia, mais uma tragada observando o mar e o pôr do sol que está para acontecer. Fim de mais um lindo dia na cidade maravilhosa.

Sábado amanhece nublado, ar fresco, o sol nos deu um descanso, pelo menos por enquanto. Nos aprontamos para mais um dia desbravando o Rio. Primeira parada: Vista Chinesa. O trajeto até o mirante dentro da Floresta da Tijuca - maior floresta plantada pelo homem do mundo - é sinuoso e cheio de ciclistas se arriscando naquelas curvas fechadas em meio a mata. Do mirante consigo identificar o Pedregulho, ou Conjunto Residencial Prefeito Mendes de Moraes, projetado pelo arquiteto Affonso Reidy a partir de 1946 e concluído em 1952. A edificação é um marco na carreira do arquiteto e na cidade do Rio de Janeiro. Baseado nos princípios defendidos por Le Curbusier, tem suas preocupações funcionais estreitamente ligadas às soluções formais  de usos, circulação, controle da luz e ventilação.

Partimos para o centro. A estrada nos leva até o Jardim Botânico, atravessamos Botafogo e Aterro do Flamengo. Com projeto de Roberto Burle Marx,  o parque tem como solução paisagística escolhida a ênfase não só na renovação da arquitetura paisagística, como também do elemento botânico a ser aplicado. Na época de sua inauguração, em 1965, o imenso jardim contava com 17 mil árvores, entre nativas e exóticas, de mais de 350 espécies diferentes. Em 1977, o local passou por uma grande revitalização e hoje carece novamente de cuidados. A espécie que mais me chamou atenção foi uma árvore grande, com frutos grandes e redondos, parecidos com uma Jaca, mas que agora descobri que se trata da Couroupita guianensis, ou Castanheira de Macaco, árvore amazônica de terrenos alagados.

Chegamos no centro e senti certa familiaridade com a paisagem. Estive ali em 2014, percorrendo ruas e observado os edifícios históricos. Paramos em uma rua próxima ao Museu do Amanhã para então dar de cara com a Praça Mauá, revitalizada, receptiva e cheia de luz do sol recém saído de trás das nuvens. O Museu, de estrutura metálica projetado pelo espanhol Santiago Calatrava, é uma instituição de arte e ciências recém inaugurado com a proposta de questionar o amanhã. Como poderemos viver e moldar os próximos 50 anos? De onde viemos? Quem somos? Onde estamos? Para onde vamos? Como queremos ir? Quais os futuros possíveis?

Entrar, impossível. A fila estava enorme e não havia tempo. Uma volta ao redor revelou obras por finalizar e placas solares em toda a extensão da construção, acompanhadas de espelhos dágua que se encontram com o mar no horizonte, tendo como destaque a ponte Rio-Niterói de fundo.

Caminhamos sentido o Boulevard Olímpico, um calçadão de 3,5km  de extensão totalmente revitalizado e cheio de vida com muita arte, feiras, pedestres e o VLT - onde antes era a Perimetral, uma via elevada que cortava a região portuária e causou grande degradação da área por anos. O Aquário Marinho do Rio de Janeiro, ou  AquaRio completa o circuito. Lá dentro, mais de 8 mil animais de 350 espécies diferentes.

Domingo, último dia! Acordo cedo e ansiosa. Bate uma certa saudades de casa, mas não o suficiente para desejar voltar. O Rio de Janeiro me cativou. Cinco minutos depois de despertar veio o convite: quer dirigir pelo Rio? - SIM!

Pegamos o carro, vou guiando pela Avenida das Américas, depois Avenida Lúcio Costa, estrada do Pontal e paramos na vista da Prainha, nossa primeira parada turística dias atrás. Padaria, cafézinho e estamos de volta no apartamento para logo seguir rumo a Copacabana. Durante todos os dias que estive na cidade circulando de carro ou a pé tive a certeza que aquela cidade não é para pessoas, e sim para carros. Avenidas com altas velocidades, não há faixa de pedestres e para atravessar a rua você precisa de uma reza e muita espera.

Já em Copacabana me deparo com um prédio lindo, de tirar meu fôlego e ter vontade de nunca mais sair de lá. Hotel Emiliano. Tudo explicado. Estava com sua calçada cheia de fãs por conta de algum artista hospedado ali para o Rock in Rio.

Pé na água de Copacabana rapidinho, só para não perder a viagem e trazer sorte! Paramos no Forte de Copacabana, construção do final do século XIX e erguida para defender a cidade do Rio de Janeiro e impedir a aproximação de navios inimigos na entrada da Baía de Guanabara.

Logo que cheguei ao Rio combinamos que encerrariamos nosso tour na mureta Urca, observando o pôr do sol de um dos cartões postais mais bonitos da cidade. Então era hora de seguir até a atração final. No caminho deparamos com um paredão de pedras enorme, os Morros do Pão de Açúcar. Aquele paredão de pedras ali, no meio urbano, e depois de ver tantos outros pela cidade me fez refletir como somos pequenos diante de tanta grandeza e que, por mais que ocupemos todos os espaços, aquela pedra impõe limite: aqui não!

Mureta da Urca, cerveja e pastel de camarão. Assim encerramos a primeira parte da minha missão. Agora me resta trabalho a fazer, fotos e boas lembranças de uma viagem inesquecível.

Praia da barra  Cidade das Artes  Av Lucio Costa

Leblon

 Cristo Parque Lage  Jardim Botânico RJ

Vista Chinesa Pedregulho 

MAR 

Museu do Amanhã

Museu do Amanhã 

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Vista Prainha Vista Prainha   Pão de Açúcar 

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