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CRÔNICAS DE UM MOCHILEIRO I - " O TERCEIRO DOMINGO DO MÊS DE FEVEREIRO (EM BARCELONA)".


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E de repente, soou o alarme. Eram SEIS horas da manhã do dia 20... Uma segunda-feira pós "TERCEIRO DOMINGO DO MÊS DE FEVEREIRO". Minha quinta semana de intercâmbio na Universidade do Porto acabara de começar e eu estava em Barcelona.

Enquanto me trocava, em silêncio e no escuro, para não acordar nenhum dos cinco companheiros que dividiram um quarto do Hostel Fabrizzios Terrace comigo, eu era assaltado por toda sorte de lembranças e sensações dos meus três dias mochilando pela cidade, sobretudo pela belíssima visão do Park Güell (imagem da foto que ilustra a crônica deste post) e das obras de Gaudí, que me atraíram como um ímã até Barcelona, desde Dressrosa, anos atrás.

Tomei meu desayuno sin prisa (pero sin pausa), pois queria saborear meus últimos momentos na capital catalã. Vesti minha jaqueta. Coloquei minha bombeta. Lancei a rodada mochila nas costas. Saí. Não sem antes olhar para trás, para dar uma última espiadela no querido amigo Rafael Hughes, perdido em sua tradicional meditação na varanda.

Parti rumo à Plaza de la Catalunya, muy cerca del hostel, donde eu pegaria um autobús até o aeroporto: eu continuava absorto em pensamentos, dessa vez, sobre a aventura da noite anterior, no Camp Nou, onde Messi marcara dois gols numa mirrada vitória contra Léganes.

Eu ainda conseguia ouvir a torcida gritando GOL e entoando canções,mas, de repente, tudo ficou mudo: pensei ter vislumbrado um número oito no lugar das horas da passagem do ticket de ônibus que eu acabara de comprar, porém, aquilo não fazia o menor sentido, afinal, eu acordara as SEIS e em hipótese alguma teria gastado duas horas para desayunar e chegar na Plaza.

Pois bem, segundos depois o autobús encostou. Subi. Sentei. Deletei da minha cabeça o lance das horas. Ignorei o fato de que podia estar ficando louco. Voltei a minha viagem interior revivendo um sonho psicodélico com as luzes das obras de Gaudí, La Sagrada Familia, Casa Batlò... Mas... tudo ficou mudo... De novo... E... Escuro:

ERAM 8:20 DA MANHÃ...

- PORRA?!?! MEU VÔO SAI AS 9:10!!!! VOU PERDER O AVIÃO! COMO EU VOU VOLTAR PRO PORTO?! E MEU ESTÁGIO NO LABORATÓRIO?!! COMO EU CONSEGUI PERDER A HORA?!

Nada mais fazia sentido em minha cabeça: eu planejara acordar as seis, tomar café e já ir ao aeroporto, pois o trajeto demoraria cerca de 45 minutos...

Mas... por algum motivo indeterminado, eu havia perdido a hora e, com sorte, chegaria 5 minutos antes de o avião sair... PORRA O QUE ACONTECEU?!?!! CALMA, FERNANDO, calma... ainda pode dar certo. "Só não desiste quem... O pior covarde é aquele... A pior... " Como era o ditado mesmo?! ... FODA-SE! VOU PERDER O VOOOOOO...

- CALMA! O VOO! CALMA! VOU PERDER! CALMA!

Eis que tive a brilhante ideia: "fodido por fodido vou tentar alcançar a MIERDA da sala de embarque em cinco minutos vou adiantar tudo que dá pra adiantar pra não ser pego no detector de metais vou tirar o cinto vou tirar a jaqueta vou afrouxar a bota vou desligar o celular e colocar na mochila vou correr até a puta que pariu que nem um louco e espero não ser confundido com um terrorista igual esse bando de filho da puta no Brasil gosta de comentar por conta da porra da minha barba pensando que está fazendo uma piada original". UFA!

E lá fui eu, colocar o plano em ação! Mas... deu tudo errado!!! : sem o cinto, minha calça logo começou a cair. Na mesma hora, não pude deixar de lembrar do saudoso Seu Madruga do Chaves. Sendo assim, tive de correr segurando as calças, com a bunda meio de fora em alguns momentos. Para piorar, minhas companheiras botas de mochileiro, pau-para-toda-obra, pesam meio quilo cada e estavam mais frouxas, então, corria feito um pato, que ainda tinha de segurar as calças, parecendo um pato-que-cagou-nas-calças.

Sem ar e quase vomitando, fiz um tempo digno de Usain Bolt até a inspeção de bagagem. A Lei de Murphy me brindou com a fila mais longa. Pedi para passar à frente mas a policial disse que não havia necessidade.

Depois de toda aquela história de sempre, peguei tudo e corri pra sala de embarque, no exato instante em que a aeromoça pedia que formassem a fila para embarcar. Eram 9:15.

Já sem dignidade alguma, vesti adequadamente minhas calças, arrumei minha Roupa. Jaqueta. Bota. Chapéu.
Entrei na fila.
Embarquei.
Sentei em minha poltrona.
A ficha caiu.

- meu iPod, que eu usava como despertador na época, ainda estava com o fuso horário do Brasil. Tudo que eu fizera quando chegara "nas europas", por preguiça, fora aumentar 4 horas e um abraço! Afinal, que diferença faria?! Contudo, o que seu caro amigo Fernando Barba não esperava é que isto quase lhe custaria muito caro, haja vista que:

- DECRETO Nº 6.558, DE 8 DE SETEMBRO DE 2008.
"Art. 1º Fica instituída a hora de verão, a partir de zero hora do primeiro domingo do mês de novembro de cada ano, até zero hora do terceiro domingo do mês de fevereiro do ano subsequente, em parte do território nacional, adiantada em sessenta minutos em relação à hora legal."

Moral da história: cuidado para seu despertador, ainda com fuso horário do Brasil, não atrasar uma hora quando você estiver fora do país, no terceiro domingo do mês de fevereiro, na véspera de um vôo matutino...

FERNANDO PAIOTTI

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