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De Paranaguá até Superagui, Praia Deserta até Ilha do Cardoso, travessia para Ariri/SP e de Ariri, pra Guarqueçaba 

Essa expedição me veio como presente, a convite de uma amiga incrível, sabe aquelas pessoas que "não existe"! Ela topa tudo e é de um astral contagiante: Lucy Tsuruko é essa pessoa. Juntas já fizemos algumas outras aventuras como andar 245 km no vale europeu e descer a Serra da graciosa, entre outras pequenas grandes coisas. Sendo dela o convite, já fica por si só tentador. Somado a isso, Guarqueçaba é aquele lugar que eu sempre sonhei conhecer, eu costumo manter uma lista de sonhos a realizar escrita no papel  e conhecer o Parque Nacional de Superagui está nessa lista. Foi assim que mesmo com o financeiro no vermelho, escala de trabalho bombando e outros problemas domésticos e de logística, eu, diante dessa equação Guarqueçaba + caminho + Luci... Aceitei o desafio.
A programação feita pela empresa vivaguaraoutdoor representados por Andréia e newtonadrianoweber conhecido como Caratuva previa saída de barco de Paranaguá até Superagui, 28 km de caminhada pela Praia Deserta, travessia de barco da ilha do Cardoso até Ariri SP e pernoite em pousada, 2° dia de Ariri até comunidade do Batuva já em Guarqueçaba, sendo 40 km incluindo a trilha do telegrafo, pernoite em pousada, e 3° dia 30 km em Guarqueçaba! Passando de 100 km em três dias! 
Luci dividiria a viajem com uma amiga, Luciana, e nós - eu e meu marido Adriano (o único não caminhante da parada). 
Adriano não tem hábitos caminheiros, mas tem um preparo físico melhor que o meu, trabalha num serviço  braçal e não há nenhum esforço físico que eu conheça que ele não faça com muita facilidade, ele topou o desafio por três motivos: também ama a natureza, também queria muito conhecer Guarqueçaba, e porque queria me acompanhar - cabe aqui um suspiro apaixonado! 
Todos os trechos do caminho são percursos que não oferecem apoio, paradas são muito raras, fomos informados disso, a mochila deveria conter suprimentos pro dia e o mínimo de roupas.
Organizei uma mochila que incluía reservatório de água com 2 litros, pensando mais em Adriano do que em mim, e uma garrafinha avulsa com água, mas sabia que seria pouco. Apostei que a água poderia acabar nos últimos 10 km e assim sendo, chegaríamos vivos kkkk! 

1° dia: 16/06/22 - Travessia de Paranaguá até Superagui, de barco. Caminhada 28 km pela Praia Deserta até Ilha do Cardoso, travessia de barco até Ariri SP.

Em Paranaguá conhecemos o casal Andreia e Newton Adriano, o Caratuva, nossos guias, Assis, amigo deles, e Catarina, uma cachorrinha simpática que pertencia ao casal e logo ganhou meu coração, a expedição estava completa! 
Estava programado para sairmos às 5, mas a forte neblina atrasou a chegada do barco até nós, tivemos que esperar até 7 hs para enfim embarcar, e mesmo assim a neblina continuava, obrigando o barco a percorrer bem lentamente o trecho! 
O barco passou entre a Ilha do Mel e Ilha das Peças, Caratuva falou maravilhas da ilha das Peças, fiquei com vontade de conhecer, vai pra lista dos sonhos!
No caminho é possível avistar os botos saltando em duplas em todas as direções! Que espetáculo! 
Desembarcamos, iniciamos o caminho pelas trilhas da simpática Superagui, um lugar pitoresco, impossível não se imaginar morando ali e se desconectar do ritmo impiedoso de cidade grande! A vegetação chama atenção: um tapete verdinho claro e fofinho nas margens da trilha, muitas bromélias e uma espécie de botão cor de rosa pra vermelho, típico da mata atlântica que eu não sei dizer o nome... Os primeiros a gente para, admira, contempla... Mas são tantos que se for parar em todos, não sai do lugar! Flores de cores exuberantes, verdes exuberantes, passarinhos exuberantes... Em cerca de meia hora vamos atravessando esse cenário de trilhas e casinhas do lado, logo saímos na Praia Deserta, não é a toa que leva esse nome: ela é mesmo deserta!!! Em toda sua extensão só cruzamos com dois nativos, e de bicicleta! Um paraíso intocável! 
Seguimos numa prosa a princípio de contemplação do lugar e tal, e naturalmente, de conhecimento uns dos outros, pois nem todos se conheciam. Digo que para mim um dos grandes ganhos dessa vivência foi conhecer novos amigos, ouvir suas histórias, ser ouvida, é assim que eu cresço... Só posso ser grata!
A paisagem quase não muda, não há grandes pontos de referências, e cerca de uma hora depois de iniciada a caminhada, fazemos nossa primeira parada! Sentamos na areia, tiramos as blusas de frio - começamos agasalhados com tempo ainda sob neblina - agora o tempo já abriu e são pouco mais que 10 hs da manhã, olho pro marcador e vejo que só vencemos pouco mais de 6 km. Seguimos ainda sem nenhum incomodo nos pés, e logo o grupo começa a dispersar e ganhar distâncias, avistamos ao longe uma estrutura e Adriano dispara na frente... Não sei o que é aquilo, uma grande boia... Mas projeta uma sombra e é lá que Adriano nos espera, vira piada porque não está nem no meio do caminho... E foi a única sombra que encontramos em todo o trajeto! 
Compondo um grupo está Assis: em pouco tempo deixa claro que seu olhar é apurado e que aprecia a poesia do caminho, na maior parte do tempo segue sozinho a fotografar e em alguns momentos, faz tomadas de cima usando um drone! O equipamento endoida a Catarina, nossa integrante canina, ela late desesperada, pula, como que pra nos avisar que um pássaro muito esquisito nos segue, é preciso acalma lá e pega lá no colo!
Fico imaginando que queria ter os olhos daquele drone! Só não cobiço mais que o vôo dos pássaros! Eles passam rasante com a ponta da asa quase riscando o mar e ganham altitude... Sempre que vejo essa cena, imagino eu ser um passarinho a voar no céu! Quem nunca quis ser um pássaro? Quem nunca desejou a liberdade de voar para onde quiser, sem rumo? É. Não tenho asas, mas tenho meus pés que me levam... Firmes aqui na terra - ou melhor, na areia - sigo em frente consciente do presente que é esse momento! Do agora! Estou fazendo o que mais gosto, caminhar, num lugar paradisíaco, do lado de quem amo, com amigos e pessoas incríveis! Uma sensação de vida abundante e de gratidão por pertencer a esse lugar me invade, de olhar o infinito dentro da minha perspectiva em terra e me sentir parte dele, me sentir pequena, só uma gota de água nesse imenso oceano, só um grão de areia diante da imponência da natureza... Essa sensação para mim tem algo de sagrado, sentir se insignificante diante do infinito, e mesmo assim, pertencer a ele... Porque tudo que é grandioso se faz da junção de pequenas coisas! 
Seguimos com paradas regulares de mais ou menos 1 em 1 hora, e quando paramos, sentamos na areia, contemplamos o mar, tiramos os sapatos e molhamos os pés... 
Juro que não vou catar conchinhas, mas encontro uma mais linda que a outra, sob a desculpa de  presentear Luci com uma conchinha pra que ela leve algo simbólico que me represente para Santiago de Compostela, eu não resisto e recolho só as mais bonitas (Luci fará o caminho da Santiago de Compostela em setembro, e quero que ela leve uma pedra pra colocar na cruz das pedras simbolizando meu desejo de um dia ir até lá). Logo meu bolso está cheio de conchinhas das mais variadas cores e tamanhos, logo Caratuva começa a contribuir pra minha coleção de conchas... 
E de vez em quando, Caratuva encontra pequenos troféus trazidos pelo mar... Garrafas de vidro coloridas ou com formatos interessantes vindas de outras partes do mundo... Ele conta que faz lustres, corta o vidro e faz um nicho de madeira sob medida, ao fim da expedição eu tive o prazer de conhecer os tais lustres em sua casa em Guarqueçaba, são lindos, é o lixo que vira luxo.
Encontramos uma lâmpada grande, espelhada! O objeto chama atenção, é bonito e estranho de ver aquilo tão brilhante, tão industrializado ali no meio daquele lugar tão natural... Assis não perde a oportunidade e faz fotos registrando todo o grupo refletido no espelho dentro da lâmpada! Fazemos brincadeiras de pensar em desejos caso haja um gênio preso ali! E quando o grupo se prepara pra seguir em frente, pergunto se a lâmpada foi pra mochila junto com as garrafas que ele, Caratuva, tinha recolhido, ele me responde que não, não vai levar! Volto um pouco até encontra lá jogada na areia e digo que vou levar, será meu troféu! Assim carrego na mão, mas é incômodo carregar na mão um objeto grande e sem poder bater em nada, frágil... até uns 5 km pra frente quando Caratuva se oferece pra guardar na mochila dele porque na minha não é lugar seguro, certamente quebraria. Esse gesto vai render motivos pra que ele me zoasse até o fim dessa jornada, sempre que alguém perguntava do peso de sua mochila ou se estava tudo bem, a resposta era: "tá tudo bem, só essa lâmpada que tá muito pesada, se não fosse isso tava tranquilo"! Tão marcado ficou que a lâmpada fez juz quanto a ser um objeto que represente muito bem essa expedição. 
Há um trecho da praia em que a esquerda passa uma especie de riozinho corrente, uma água que embora de cor marron, é  limpida e cristalina, o riozinho nos acompanha longe e num certo momento, atravessamos por ele de pés descalços, sentindo a areia do fundo envolver nossos pés como se fosse areia movediça, a temperatura da água é boa, e a água é tão cristalina que se pode ver os desenhos feitos pela corrente na areia do fundo! Atravessando esse pequeno riozinho, nas encostas do lado esquerdo vê se muito lixo: garrafas pet, garrafas de vidro, embalagens de tudo quanto é espécie, televisor, computadores, nos dá a entender que a maré sobe até ali, e ali deposita o lixo do mundo todo, pois os rótulos das embalagens diversas são em vários idiomas, é tanto lixo que muito dele percebe se estar enterrado na areia!  Como pode o ser humano se desvencilhar de seu lixo da porta pra fora e não perceber que seu quintal é o mundo? 
Uma praia deserta, um paraíso, sem sinal de visitantes, sem ninguém pra aproveitar o feriado, sem turista... A natureza em sua plenitude, a vegetação intocada, mas o rastro da modernidade tão evidente, em meio a tantos descartes.  Vê se monitores de computador, televisores de tubo, eletrônicos obsoletos e que parecem ter viajado de longe pelas correntes das marés e ali repousam, atravessam o mar e o tempo fazendo um paradoxo curioso: nenhum indício da presença humana e todos os indícios da presença humana denunciando sua estupidez.
Já ultrapassando a espectativa de 28 km, encontramos uma placa que marca a divisa ilha de Superagui com ilha do Cardoso! É mais ou menos por aqui que a natureza estabeleceu uma grande mudança na geografia, redesenhou os contornos... Acessando o Google maps, nos encontramos fazendo uma travessia a nado, é que  nenhum satélite informou ainda o Google que ali agora é praia! Pescadores tiveram que abandonar suas casas, a vida deles mudou, um povoado fantasma visto ao longe como testemunha...  Incrível essa força da natureza que atua sobre nós o tempo todo, redesenhando, trazendo algo que é de longe como todo aquele lixo... A natureza nos rege, isso é milagre da vida: estarmos aqui dia após dia e estar condicionado a essa energia divina... isso é se sentir se pequeno diante da força incontestável da mãe natureza!
Andamos um pouco mais e já passa de 30 km, pelo Google maps, só falta nadar mais um pouquinho e atingir a margem da ilha do Cardoso... Chegando lá, a faixa de areia se estende pra esquerda e aquele riozinho agora mais distante é um riozão onde nos espera um barquinho, e um barqueiro impaciente com nossa demora, mais de uma hora de atraso. A areia úmida, fofa e macia mostra tantas pegadas que parece ter havido uma festa por ali. O barqueiro nos diz que já caminhou tanto que deve ter feito mais quilometragem que nós kkkkk! Difícil, pois meu Strava já bate 32 km! Fim do trajeto de hoje, chegamos no meio do nada! Um nada cheio de tudo! Agora sim, o céu se pinta de laranja! Que cenário!!! Eu por mim ficaria ali a contemplar até cair a noite!!! Mas confesso que a travessia de barco a noite me assusta um pouco! Já passa das 18hs!
Embarcados, do outro lado da praia, os mangues... Infelizmente, nada de Guará, o pássaro vermelho que dá nome à cidade de Guarqueçaba, e que é vermelho pela sua alimentação no mangue. Mas o visual é lindo! O laranja do enternecer atrás do mangue forma um quadro majestoso! 
No trajeto, o barquinho segue tranquilo e meu medo não tinha fundamento nenhum, não é mar aberto, o vento é bom, e a paisagem!!
Passamos em frente à ilha onde fica o povoado de Ararapira, conhecido como vila fantasma! Caratuva nos diz que se ainda tivesse luz do dia, poderíamos ter parado! Lamento muito! Mas avistamos a velha igrejinha... Fico hipnotizada! Por mim pararia mesmo a noite! 
A travessia finaliza em Ariri, em SP, é divisa com PR. A pousada que ficaremos é bem onde o barco aporta. É aconchegante e confortável. Nos dividimos em quartos e partiu banho. Para o jantar é preciso ir até uma lanchonete que fica a uns 500 M dali, um delicioso jantar com vista para a água, da outra margem podemos ver a vegetação e o mangue... É PR! Do lado de cá, SP. Como se a linha divisória ficasse nas águas!
Assim jantamos, proseando e logo voltamos a pousada curtindo o caminho do povoado... Em todas as garagens a um barquinho... 
É deitada que vou conferir as fotos que tirei e mandar notícias, mas o cansaço bate fácil, amanhã tem mais! 


2° dia - de Ariri até Povoado Batuva incluindo a trilha do telégrafo com a promessa de bater 40 km!

Acordamos cedo, café da manhã farto e delicioso, enquanto os pescadores se preparam pra sair e pescar, nós nos preparamos pra encarar os tais prometidos 40 km! 
Saímos por volta das 8 com a neblina se dissipando, deixamos o vilarejo por uma estrada de terra branca que muitas vezes lembrava o vale europeu. A estrada é ornamentada pela Mata Atlântica, no horizonte muitas montanhas, nas matas, passarinhos coloridos, vejo teias de aranha nos galhos e folhagens as margens da estrada... Fico encantada! Pela delicadeza, sutileza, pela simetria e ritmo das linhas finas e dos pontos de orvalho que se acumularam nas teias! Muitas vezes a luz do sol ilumina as teias e... Que espetáculo,  indescritível o milagre da vida representado ali, no mais singelo, no botão de bromélia, no verde da mata, no canto dos pássaros, nos elementos da natureza! 
Chegamos em uma placa que escrito a mão diz: Avenida Paulista n° 400! Tiro uma foto e saio falando: eu na Avenida Paulista! Daqui a pouco chegaremos ao MASP! Seguimos pela Avenida Paulista e só encontramos riachos, córregos cristalinos, e o preciso palmito Jussara.
25 km e Ariri fica pra trás, estamos a caminho de Batuva, num trecho da estrada é visível uma fila de formiguinhas num vai e vem frenética cruzando a estrada de uma margem a outra. Essa cena sempre me chama atenção: fico pensando que só aquela distância de atravessar a estrada já seria muito pra elas, imagina o tamanho de sua jornada, de onde vem, pra onde vão? Sem descanso, com peso nas costas... A jornada dos animais sempre me chama atenção, todos temos nossas jornadas a cumprir..
Já batendo 30 km e bem cansados chegamos a um barzinho estilo venda, ali fazemos uma boa pausa: pernas pra cima, pés descalços pra respirar, cerveja gelada... Tem até wi fi! A senhora oferece uma porção de palmito com tomate! Fico tentada, mas não sei qual a intenção do grupo, se querem sair logo e tal ... Peço só água mesmo! Pra fazer o pagamento, pergunto se aceita pix, sim aceita. A senhora traz um caderninho com as folhas já surradas, nele está escrito com uma calegrafia caprichada o número do Pix CPF, tento, não consigo, dígito pausadamente, não consigo... Ela sai, demora um pouco, volta com o documento bem desgastado na mão, e ao conferir... Descobrimos que está errado no caderno! Pelo jeito ninguém não paga com pix por ali ha muito tempo. Fazemos as correções e pronto, podemos seguir. Refeitos ou não, calçamos nossos tênis de novo e o grupo volta ao caminho. Eu, Adriano, Luci e Luciana que não conhecemos o percurso seguimos felizes por faltar menos de 10 km, mal sabia nós o que seriam esses 10 km! Caratuva nos anima dizendo: vai piorar um pouco, a gente ouve com bom humor e seguimos animados agora deixando a estrada e entrando em uma trilha margeada por mata atlântica! 
Um vilarejo no meio do caminho com roupas coloridas estendidas na cerca, crianças brincando, cachorros... Tudo muito simples e rico, cercado de verde. 
Fico muito empolgada com a mudança de paisagem, com a mata ao redor da trilha, com os passarinhos coloridos que vejo... Uma ponte pencil no meio da mata deve levar a algum sítio, ela atravessa o córrego que está a nossa esquerda, eu não resisto... Fico pra trás pra atravessar a ponte... Amo pontes! Pontes significam travessias, soluções criadas para ligar um ponto a outro! Na vida estamos sempre criando pontes para contornar obstáculos, para conseguir chegar onde não é possível. Atravesso feito criança! Com o coração aos pulos pelo balançar da ponte, com um sorriso rasgado de orelha a orelha, medo de chamar atenção de possíveis cachorros dessa propriedade que eu praticamente invadia... Quando chego na outra margem o grupo já vai longe e eu, sozinha, faço a travessia de volta, fotógrafo a ponte e sigo correndo pra alcançar o grupo!!! Pareço criança que escorregou no escorregador do parquinho!
Escuto Andreia e Caratuva conservarem se já é hora de usar o cajado, fico imaginando que a trilha de agora em diante será de subidas e descidas... Se fosse só isso tava fácil!! 
Não demora muito e chegamos a uma antiga escola abandonada, quase em ruínas, mas ainda conserva o balanço e o que sobrou do parquinho, não resisto... Enquanto o grupo se ajeita com suas mochilas... Eu vou no balanço pra brincar um pouquinho! 
O grupo pronto, já mais de 17 hs, é nesse momento que é anunciado: chegamos a tão esperada trilha do telégrafo: é uma trilha centenária da época de D. Pedro I, aberta cerca de 1870, liga o estado de SP ao PR, na entrada, postes de metal centenários que na época eram postes telegráficos, daí o nome Trilha do telegrafo. Contam que por aqui deveria passar a BR 101, mas trata se de uma trilha com um terreno pantanoso, argiloso e lamacento... Desafiador!
Os primeiros passos foram tão desafiadores para mim que causaram uma descarga de adrenalina capaz de fazer o coração bater na boca! Não era possível passar pela estrada principal que mais parecia um rio de lama! Iniciamos pelas laterais em meio ao mato alto e pantanoso, os pés afundavam até a altura das canelas... Só não sai correndo pra trás porque sabia que não tinha volta kkkkk, muito medo de cobra, medo daquela situação desconhecida, de que fossem os 7 km restantes assim... Todo aquele cansaço de 33 km no lombo sumiu e só ficou a sensação de desespero, eu entrei no modo sobrevivência! Pode parecer exagero, mas sim, nesse momento eu tive muito medo... Do desconhecido principalmente! 
A medida que avançamos lentamente, eu pensava que seria impossível voltar a estrada principal, pois mesmo conseguindo ver que o rio de lama já tinha acabado, não tinha como sair das margens, entre a margem e a estrada havia um buraco de lama... Fomos testando com os cajados onde era mais raso... Até que acabou a margem aí não teve jeito, fomos passando um a um pra estrada, seria preciso uma passada muito larga pra não pisar no buraco, impossível... O jeito era passar rápido pra afundar menos! Ufa! Consegui! Sei que Luci, Adriano e Luciana também se surpreenderam, mas pra mim foi superação! 
Estando agora na estrada, apesar de atolar o pé na argila até as canelas, eu vou me acalmando e o desespero passa. Eu não estou sozinha não tem porque! Relaxo e aproveito a trilha, ora atolando, pra derrapando... Não demora muito e o dia começar a ir embora, vai escurecendo e fica evidente: não sairemos daqui com luz do dia! Logo é preciso ligar as lanternas dos celulares! 
Luci cai um pequeno tombo, não é nada, só uma escoriação na perna... Luci é uma fortaleza! 
Em um trecho mais plano, desligamos todas as lanternas pra poder ver a escuridão, fazemos silêncio pra ouvir a escuridão... Mágico! Os vagalumes... não consigo me lembrar nem do som de grilo, acho que foi a experiência mais próxima que tive de silêncio mesmo! Só se ouvia o barulho do outro, da respiração do parceiro do lado ou do pouco que o outro se mexia... Durou pouco, logo o silêncio é quebrado com algo do tipo vamos, mais uma vez digo que por mim, aquele momento teria durado mais! 
Naquele local onde paramos pra essa experiência de ver e ouvir o escuro, ali há uma casinha... Não dava pra ver se havia mais casinhas, mas há famílias morando nesse trajeto... Vivem sem luz elétrica, água não deve faltar, mas com certeza um estilo de vida muito primitivo. 
Mais adiante passamos por uma família!!! Por incrível que pareça! Não me lembro quantos adultos, uma criança já grande, logo adiante uma moto que não pegava... Não sou capaz de dizer qual problema mecânico tinha a moto, mas o fato é que ninguém parecia aflito ou com medo, todo mundo de boa! Um dedo de prosa com todos e seguimos... Logo o barro argiloso diminui e já é possível ir escolhendo caminhos entre as pedras, o avanço é lento mas chegamos agora em trechos de subida íngremes e em córregos cristalinos... 
Como já não adianta mais se preocupar com os tênis, passamos molhando os pés e sentindo a temperatura geladinha da água! Nem vi, mas devo ter pisado na linha que divide SP com o PR!
Quase 20 hs da noite, três horas para cruzar a trilha do telégrafo e enfim... Chegamos ao povoado do Batuva! Agora sim, na marca de 41 km, lembrei que tava cansada! 
A pousada da dona Nica é um bar na entrada, e nos fundos, uma grande varanda com fogão a lenha e uma mesa cumprida onde vamos jantar uma deliciosa comida caseira! Arroz, feijão, carne de panela... E palmito! 
A casa tem uma gata e três gatinhos filhotes, amo gatos! Catarina se relaciona bem com eles! 
Lavo nossos tênis e calças que estão com a barra puro barro! Estendo, mas sei que não vão secar até amanhã, até porque começa uma chuva fina! Fico pensando: e se essa chuva vem mais cedo!!!! 
O pouso de hoje vamos dividir o quarto com Luci e Luciana, o quarto tem duas beliches e uma caminha de solteiro. Para não precisar dormir no degrau de cima eu prefiro colocar um colchão no chão ao lado da cama do Adriano, Catarina quando me viu arrumar a cama, mau eu tinha terminado e ela já estava esparramada no meio do colchão!!! Tive que colocar ela mais pra beiradinha pra que me coubesse! Mas... Andreia não quis deixar ela dormir comigo! Eu teria adorado! 
Depois do ritual de passar gel de arnica nos tornozelos do Adriano e no meu, massagens nos pés... Quando fecho os olhos penso na previsão de chuva pra amanhã! Qual será a surpresa de amanhã? Se no primeiro dia o desafio foi cruzar a inóspita praia deserta, segundo dia vencer a argilosa trilha do telégrafo, talvez amanhã o desafio seja a chuva com 70 km acumulados no lombo... Os pensamentos logo somem e já não lembro de mais nada! 

3° dia - povoado do Batuva até Guarqueçaba 

No café da manhã bolinhos de banana e mandioca deliciosos! 
As roupas molhadas são ensacadas e o tênis, vai molhado mesmo! Minha calça secou! Visto a mesma! Fazemos a reposição de água, tudo pronto!
E a previsão de chuva... Céu nublado mas com a mesma cara de todas as manhãs! Nada de chuva! 
A galera se põe a caminho contando que ontem a noite rolou um pancadão até perto da uma da manhã! Diz que o som era tão alto que podia sentir as paredes do quarto tremer! Queixam se de que não conseguiram descansar a contento. Eu... Não ouvi nadinha!! Dormi feito uma pedra! Adriano conta que acordou sentindo o tremor das paredes e o tum tum tum... Eu... Nem isso percebi!
O terceiro dia de caminhada é aquele em que a gente tá muído! Seguimos adiante pela estrada não muito diferente de ontem: margeada por mata atlântica, palmito Jussara, vez em quando uma casinha, no horizonte... Imponentes montanhas... Nascentes e córregos de água limpinha, e até um rio! Adriano dispara na frente e como que se tivesse  combinado, para num rio rasinho e cristalino em baixo de uma ponte! Quando chegamos nessa ponte lá está ele sentado com os pés descalços na água gelada e um sorriso no rosto!
É um lugar de parada obrigatória! Sob a sombras  das árvores há um banco e mesa de madeira, e o rio! Raso, límpido, geladinho mas nem tanto!! Entro desacalça, de roupa e tudo sento me na água, não sei nadar e sempre tive medo de água, mas devagar a medida que vou percebendo o ambiente, adoro banho de rio, acredito que essas águas lavam e purificam a alma!!! É preciso sentir, é preciso recarregar as energias com a natureza, se conectar! Meus pés envoltos pela areia do fundo agradece! Meu corpo cansado agradece o banho!!! Fico ali por um bom tempo, talvez uns 10 a 15 minutos, suficientes pra tratar as dores e cansaço. Assis se afasta do grupo pra mergulhar! Lamento não saber nadar! Gostaria de me deixar imergir por essas águas! 
Saindo da água o desafio é novamente calçar os tênis com os pés molhados, meias molhadas... E o frio pelas roupas molhadas, mas está sol e os tecidos são leves, logo vão secar! Fazemos um rápido lanchinho, divido meu lanche com um cachorrinho da redondeza magrinho que tem as costelas a mostra, para ele fomos uma visita e tanto: ganhou ração da Catarina e um pouco de lanche! Mas sinal de vida... Nenhum! Se ali mora alguém (pois tem uma casinha) não estava em casa! 
Seguimos, o sol é ameno mas serve pra secar as roupas no corpo, realmente a previsão de chuva não se confirmou! Chegamos a um ponto de ônibus, o caminho segue reto, mas a direita tem um vilarejo, um bar conhecido do pessoal... Desviamos o caminho. A lanchonete é uma simpatia: com bancos e mesas de madeira rústica, sentamos e fazemos uma pausa maior. Pedimos salgado, pastel, caldo de cana, cerveja e a típica bebida Cataia que parece ser a grande atração local! Mas essa não vou poder contar o gosto, não bebo nada! 
Andreia e Caratuva conhecem os moradores, alguém oferece para levar a mochila do Caratuva de carro pra Guarqueçaba, ele topa mas não perde a oportunidade: mais uma vez me diz: o duro é o peso da lâmpada, se eu não tivesse que carregar essa lâmpada! A mochila dele deve pesar perto de 20 kg!
Do lado esquerdo da lanchonete fica uma ponte sobre o rio Guarqueçaba. Não resisto! Lá vou eu de novo atravessar a ponte! Mas essa ponte é de concreto, só mesmo o gosto de atravessar ida e volta rapidinho porque a galera já tá saindo! 
De volta ao caminho, passamos por um trecho onde há mais um córrego e tanto! Me adentro no mato pra usar o banheiro e descubro que o acesso ao córrego é mais simples que parece, tem uma trilha que vai não sei onde , é só descer! É uma trilha de dar água na boca! Estreita em meio a mata!! Andreia e Caratuva dizem ser possível fazer... Quem sabe na próxima.
Esse é o dia mais rico em córregos e nascentes. Uma plaquinha no meio do mato diz: Saltinho! Parei, esperei Andreia que vinha atrás e perguntei a quantos km ficava, ela me responde que é só entrar... Ah com certeza! Entramos eu, Luciana e Luci, Andreia de guia. Cerca de 200 m de trilha chega se a uma pequena cachoeira! É só o tempo de contemplar e fotografar, pois os meninos Adriano, Assis já vão longe, e Caratuva ficou esperando na beira da trilha. 
A distância que os meninos ganham é tanta que não os avistamos mais, só alguns quilômetros pra frente é que em um ponto de ônibus eles nos esperam sentados, a estrada bifurca, imagino que Adriano só senta e espera porque não sabe qual estrada seguir, pois seu pé deve estar doendo tanto que ele só quer chegar! E era isso mesmo, embora ele esteja na companhia de Assis, Assis não sabe por qual caminho Caratuva e Andreia planejavam chegar, mas que os dois caminhos culminam em Guarqueçaba. O caminho escolhido é pra direita, sorte nossa, segundo contam: 3 a 4 km mais curto! 
Logo estamos nas ruas calçadas com pedra intertravada em forma de hexágono, casinhas muito próximas das ruas, calçadas quase não existe, barcos e canoas nas garagens e encostas inclusive as famosas canoas citadas por Amyr klink como uma obra de arte, só fabricadas aqui de forma artesanal, um patrimônio cultural passado de pai pra filho por meio de relatos e ensinamentos, das quais atrai universidades de fora do Brasil pra ver e estudar qual a técnica usada. As canoas são feitas de madeira maciça, sem imendas a partir de uma só tora de madeira. 
As pessoas nas janelas nos olham curiosas, muitos cachorros pelas ruelas, é preciso pegar Catarina no colo! 
Na direita... O mar, os pescadores a lidar com seus barquinhos, o céu nublado e lá no fundo, toda cadeia de montanhas da Serra do Mar em três planos sendo o terceiro encoberto pela neblina, dizem que é possível avistar o gigante Pico Paraná quando não está nublado. Botos saltam em duplas e é audível o som da conversa entre eles, impossível explicar com palavras! 
Na esquerda, as casinhas todas com escadas de degraus acentuados, apertados, todas com dois ou três andares, vão acompanhando o desenho das pedras que faz fundo com os quintais, se é que tem quintais, as casas parecem encostadas nas rochas, ninguém tem vizinho de fundo! 
Sabemos que chegamos, mas parece não chegar nunca! Andamos nessa vila a passos bem lento: por cansaço, por curiosidade com todas as coisas, pra que nenhum detalhe nos escape... E é um caminho aromático: tem cheiro de roupa lavada, cheiro de peixe, cheiro de janta, de café passado na hora, de maresia... Embora muito cansados, estamos muito gratos por estar ali, eu já estava torcendo pra que a linha de chegada estivesse mesmo bem longe e aquela caminhada pelas ruas esteiras em meio aquelas casinhas e seus barquinhos fosse longa... Chegamos! Chegamos na praça central da cidade! As palavras 
Eu ❤️ GUARAQUEÇABA num jardim, coqueiros atrás do letreiro, um extenso parapeito que sobe a medida que sobe a rua com as muretas azuis e colunas barrocas brancas... Ali a pressa acabou, a aventura proposta pela viva Guará encerra se de forma vitoriosa! Desafio cumprido! Sentamos, deitamos com pés descalços pra cima, contemplados os botos e a vista da baía, mas ainda falta chegar ao hotel! 
O corpo esfria, o tempo esfria, a tarde cai e é preciso tirar as blusas da mochila! A pousada fica a menos de 1 km dali, é a pousada da Rutinha! Ali Caratuva e Andreia se desprendem da gente, eles moram por perto, mas combinamos de jantar juntos... Um banho é todo o luxo que precisamos! 
Adriano prefere ficar na pousada, está cansado demais pra ir jantar fora dali! 
Há três quadras é a lanchonete, no cardápio, comida simples mas tem especiarias locais que eu não topo nem experimentar: ostras, camarões e ela de novo, a Cataia! Confesso que estou preocupada com Adriano, sei que pra ele a caminhada foi grande demais! Já é evidente uma tendinite! Mas ele não é o único cansado, o grupo também está exausto e não demora muito estamos encerrando a conta. Levo uma marmita pra Adriano. Quando chego ele está dormindo, não reclama de acordar e devora quase toda marmita! 
Ao cuidar dos seus pés vejo que realmente as dores são bem características de tendinite, no caso dele, de Aquiles no pé direito! Fiz massagens, passei gel com cânfora e arnica, dei antiinflamatórios... Agora é tempo. Esses são os remédios pra agora, e o melhor deles: descanso!


4° dia - Salto Morato, volta pra casa

A saída de Guarapuava por barco estava marcada para as 15 hs, ficamos de aproveitar o domingo para conhecer a Reserva Salto Moratto. Luciana havia entrado em contato com um guia da região, ida e volta. O caminho de carro até lá são cerca de 20 km de estrada de terra do qual uma parte passamos ontem. No caminho o guia  nos contou que veio pra  conhecer e passar férias em Guaraqueçaba, está a 20 anos aqui! Morava em SP, quando vai pra lá visitar a família logo já quer  voltar. Trabalha como guia e também faz hamburguers artesanais e trabalha na lanchonete da Reserva. Ao chegar, ele estacionou o carro próximo a lanchonete e combinou conosco que em cerca de uma hora, ao estarmos de volta, teríamos lanche quentinho pra comer!
A Reserva Natural Salto Moratto é considerado patrimônio natural da humanidade pela UNESCO, é cuidado pelo O Boticário,  então, nem é preciso explicar que o verde é exuberante e que há uma estrutura muito bem cuidada.
As trilhas são autoguiadas e de fácil acesso. A reserva tem uma linda casa onde se vê muitos pôsteres explicativos de espécies animais e do tipo de vegetação encontrada ali. Vídeos didáticos sobre o trabalho que o Boticário faz naquela reserva, e todos os atrativos que o lugar oferece!  
Do lado da casinha, um parque de diversões com brinquedos muito bem bolados e de acordo com o cenário da mata e da natureza: uma ponte com tábuas penduradas por cabos que ao passar por cada tábua, haja um vai e vem do corpo. Um túnel feito com cordas, circular e suspenso, que só se passa de joelhos. Um emaranhado de cordas pra ir caminhando entre os espaços criados pelos vai e vem das cordas... Entre outros... 
Luciana que já havia estado lá há pouco tempo atrás resolve passar por ali só pra nos mostrar esse "parquinho", tipo: se um dia vocês vierem com crianças, olha só que legal! E lá estava eu atravessando a tal ponte que balança, aos gritos eu parecia que estava andando de montanha russa!! Um misto de felicidade, diversão e medo de atravessar a ponte que tanto balançava! Enquanto Luci, Luciana e Adriano iam na frente cortando caminho do parquinho, eu fiz questão de fazer todo o circuito! Subi na "teia de aranha" passei pelos emaranhados de barbante, passei de gatinho pelo túnel, desci no escorregador... Quando terminei, lá estavam todos do lado de lá da casinha e Adriano com olhar de pressa me dizendo: "não enrrola"
A trilha prometia ser tão curta e de boa que Adriano nem se quer trouxe tênis! Preferiu descansar os pés no chinelo de dedo! Porém a tal trilha tinha pouco mais de 10 km! Pouco sim, mas pra quem já andou 100 e está com tendinite nos calcanhares... Foi a gota d'água! 
A trilha segue realmente muito fácil, tão fácil que tem até uma rampa para acessibilidade de cadeirantes, a rampa segue até o aquário, um lugar onde se forma uma piscina de água límpida e cristalina onde é permitido banho! A partir daí, a rampa acaba e a trilha começa a subir em meio a mata Atlântica, por pedras e raízes, cada vez mais difícil. O percurso é lindo, e fácil se a pessoa estiver descansada. Passa por pontes pencil (adoro) por árvores lindas, uma delas com um cipó gigantesco chamado escadaria de macaco! Conforme foi crescendo ele foi enrrolando na árvore e formou se um círculo! Coisa mais linda!
A trilha finaliza numa imensa Figueira, um verdadeiro ecossistema! Ali há um deck de madeira, bancos, uma espécie de mirante onde por baixo passa um riozinho, mas não tem acesso para chegar até a figueira. Na volta pegamos a trilha pra chegar ao Salto Moratto. É uma trilha um pouco mais difícil, com muitas pedras e obstáculos simples pra quem está descansando e de tênis, não é o caso de Adriano que está um bagaço e de chinelo de dedo. Ele caminha devagar mas não reclama de nada a não ser a extensão da trilha que parece não chegar nunca. 
Na trilha da Figueira não encontramos ninguém, mas a caminho do salto cruzados por vários grupos Quando o salto já é visível... Que espetáculo ver aquela queda dágua emoldurada pelo Verde exuberante! No momento em que chegamos lá éramos os únicos a contemplar o Salto. Adriano deita na pedra, deitei ao seu lado e só curti aquele momento, sei que Adriano se irrita muito com o comportamento de tirar fotos a todo momento, e por ele estar ali com tantos percalços físicos, eu opto por curtir sua companhia comigo e curtir o lugar! Ficamos ali cerca de uns dez minutos, mas eu quero provas dessas águas! Desço até uma parte onde é possível entrar, tinha saído do pousada com biquíni por baixo já prevendo a oportunidade de entrar na água. Entrei na água gelada e me sentei nas pedras em meio a uma pequena piscina rasa formada das águas que descem do Salto. A água é límpida e cristalina, e como já disse antes, para mim água da natureza é sagrada, remédio pra alma... Foi assim que bebi daquela água intencionalmente: bebi o máximo que pude, como se aquela água fosse benta e milagrosa capaz de curar as dores de m'alma, como se pudesse me entregar a ela, me imergir nela (meu medo de água é tanto que não mergulho, nem se quer afundo a cabeça) se não¹ era possível uma imersão, então que dessa água eu bebesse... Bebi de olhos fechados, ouvindo o barulho do salto, em êxtase, um ato de comunhão com a natureza... Até que ouvi um: vamos! Estou descendo devagar e espero na lanchonete! Dizia Adriano! 
Pedi pra que as meninas tirassem algumas fotos do momento em que estive na água, me vesti e realmente renovada... Peguei a trilha de volta! Juro que pensei em seguir descansa com as roupas na mão, de biquíni até o aquário pra que lá tivesse mais fácil de entrar de novo. Mas considerando a pressa, e o fato de o aquário ser fundo (tem sempre uma beirinha rasa), me vesti e segui de volta!
Quando chegamos na lanchonete Adriano já tinha comido seu lanche, tomado cerveja, tava de boa conversando com nosso guia. Nossos lanches já nos esperavam, foi só o tempo de comer, beber a tal Cataia, o guia fechou a lanchonete que não abre aquele horário (ele tinha aberto especialmente pra nós) e nos levar de volta pra Guaraqueçaba... Já eram mais de 13 hs!
Na chegada, foi só o tempo de arrumar as malas, fomos pra praça de Guarapuava de onde sairia nosso barquinho. Andreia embarcaria conosco, ela tinha de estar segunda feira em Curitiba. Ela embarca, e Caratuva vai ficar, mas ele vem junto com ela pra se despedir de nós. Pela janela do barquinho ele me entrega minha lâmpada! Poxa... Eu tinha esquecido! Que bom! O barco parti e vamos pela última vez assistindo os botos pularem... 
A chegada em Paranaguá é tranquila. Lá nos despedimos de Assis que segue viajem com Andreia pra Curitiba, ele mora lá.
Pegando o carro, vamos de volta pra Londrina. No trecho das praias um congestionamento de cerca de quase 2 hs devido a um acidente, depois disso a única parada é perto de ponta grossa pra abastecer e ir no banheiro. Luciana só vai parar esse carro agora em Londrina! 
No caminho eu vou vendo fotos, me entretendo no celular... E o estômago começa a revirar... Me afasto do celular, mas as náuseas e tonturas são cada vez mais evidente. Durmo pra que o tempo passe, e quando acordo, não estou bem, então durmo de novo... E assim até que o carro chega enfim em Londrina! São meia noite e tanto quanto Luciana para em frente a casa da minha mãe pra que eu pegue a chave da minha casa. A distância da minha mãe até minha casa são 3 km, mas é a maior quilometragem da viagem. Quando o carro chega no portão da minha casa são uma da manhã, está chovendo. Adriano retira as mochilas do carro e eu mal me despeço de Luciana e Luci, tive que me sentar na calçada e vomitar!! As meninas vêem do retrovisor e esboçam uma ré! Luciana está muito cansada eu sei, e o carro acaba indo embora. Que bom, não gostaria que elas voltassem. Estou em casa, aqui se precisar tenho meu carro. 
Adriano me chama pra entrar, mas eu não consigo parar de vomitar e me sustentar em pé de novo! Sentada na calçada do portão de casa, na chuva, eu vômito tudo o que tinha e que não tinha no estômago. Quando consigo entrar em casa e acho que vou descansar, a noite segue digna de uma rainha: eu não sai do trono! Diarréia e vômitos acabam com a gente, uma fraqueza que falta forças até pra se sustentar em pé. 
Quando o dia ainda escuro ameaça a amanhecer, eu me arrumei e fui de carro pra UPA onde hoje eu trabalharia 12 hs! Chego bem antes das 7 e abro ficha pra passar pelo médico. Depois da espera, atendimento e medição, atestado de 5 dias por intoxicação alimentar (só pode ter sido a água da cachoeira do salto Moratto), vou pra casa muito sonolenta dormindo em todos os sinaleiros e cogitando encostar o carro pra dormir, consigo chegar em casa e dormir de verdade até depois do almoço. 
Passei dois dias ruins, o vômito e a diarréia cessaram, mas uma fraqueza e dor abdominal que não tinha outro remédio a não ser o repouso. 
Adriano também sentiu os efeitos da longa expedição: o tendão de Aquiles doeu por 15 dias! Mesmo tomando antinflamorio, gel de arnica e cânfora, compressa gelada... 
Eu, que já tenho hábitos caminheiros, meus pés não sofreram nada de diferente do que as dores que já carrego, do que as dores de uma longa caminhada... Apenas uma unha a mais na minha coleção, ou seria uma unha a menos? 
Foi uma experiência e tanto. 
Andreia e Caratuva como guias foram maravilhosos, suas experiências muito contribuíram para meu aprendizado, para minha segurança...  Indico a Viva Guará outdoor para quem deseja fazer um passeio turístico e de aventura em Guarqueçaba e região, sensacional! 
Sidnei de Assis... Minha imensa gratidão por tão belas imagens!!! Sabe aquela imagem paradisíaca que você só vê na revista por em anúncio de publicidade? Me ver nessas imagens e saber que estive lá, nossa! 
Toda vez que fotografamos algo com celulares, por melhor que fique a foto, ela sempre fica aquém de transmitir a real beleza, mas o olhar poético de Assis e o tratamento estético que ele dá a imagens... Torna a gente orgulhosos de termos estado neste lugar, de ter pertencido a essa paisagem. Imensamente obrigada por registrar isso e muito mais! 
Meu muito obrigada a Luciana Nonino, com quem dividi a viajem. Em todos os momentos dessa expedição foram pontuadas por um sorriso de orelha a orelha! Valeu Lu!
A minha parceira Luci, Grande Luci, tanta determinação, força, leveza, alegria, bom humor... Luci tem tantos adjetivos, tem tantas histórias pra contar e nos ensinar com elas... Que não sei como cabe tudo isso! Luci é um exemplo pra todos nós! Toda minha admiração e respeito, e principalmente, gratidão por ela existir, por ser minha amiga. Quando eu crescer quero ser igual a ela. 
Mas minha maior gratidão vai para Adriano, que segue blindando a qualquer transformação que o ato de caminhar é capaz de fazer as pessoas. Mas que topou tal feito pra estar ao meu lado! Sua companhia pra mim representa tranquilidade e segurança! 
Porém duvido que ele queira me acompanhar na próxima! 
Essa expedição entra pra história de uma das caminhadas mais incríveis que já fiz. Desafiadora, surpreendente!
E mesmo acreditando que foi mesmo a água do salto que me causou o piriri gastrointestinal, não me arrependo de nada! São histórias que vou contar... 
Agradeço a quem teve a paciência e o interesse de ler esse relato, não sou sucinta! E acreditem, resumi bastante, tem muita coisa que a gente passa que guardamos em nós mesmo, mas enfim, é entre as conversas comigo mesma, a troca de experiências com o outro, a comunhão com a natureza, a vivência de meu caminhar... é que vou crescendo! Só gratidão!

Para ver mais fotos acesse lopesszcspanski 

Vivaguaraoutdoor

Sidneibarbosadeassis 

 

 

 

 

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