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Do Brasil a Machu Picchu de carro - #SAGAPERU


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Decidi começar o relato das viagens pelo final, a última e fascinante experiência que tive, saga Machu Picchu. Saga, quase epopéia pois a muito tempo eu, meu pai e minha irmã falamos em fazer essa viagem, de carro, de casa até um dos maiores cartões postais do mundo, Macchu Picchu.

Não creio que nossa viagem caiba na categoria "mochilão", estávamos de carro e de mala, mas mesmo assim, as experiências digirindo pelo interior da Bolívia, do Peru e do Brasil creio eu são válidas para todo mundo. Quanto as fotos, não sei se estão funcionando direito, tentei tentei mas não estavam dando. Qualquer coisa as fotos e o relato estão todos em perfeitas condições no meu blog www.ladobela.com

 

Destino: Chegar a cidade perdida dos Inkas, Machu Picchu, de carro.

Acompanhantes: Papito "O muito prático e O motorista" e sister "Anda só mais um pouquinho que já estamos chegando"

Meio de transporte: Hyundai Ix35 e GPS

Tempo de viagem: 14 dias

Trechos: Bonito-Corumbá-Santa Cruz de La Sierra-Cochabamba-La Paz-Cuzco-Puerto Maldonado-Rio Branco-Porto Velho-Cuiabá-Campo Grande

 

Saindo do Brasil - começando devagar

A viagem começou mesmo em Corumbá ao atravessarmos a fronteira Brasil-Bolivia. Acordamos as 6h e fomos para a fila da imigração dar saída no Brasil, primeira surpresa aos desavisados: a Polícia Federal não começa a trabalhar antes das 9h. Após uma boa espera, devidamente "expatriados", fomos cruzar a fronteira para carimbar passaportes na Bolivia, mal sabíamos..

 

(Para quem sonha em se mudar para a Bolivia, ter filhos aqui, criar galinhas e votar no Evo Morales, pare de ler esse post agora, as impressões não vão ser das melhores e eu não quero acabar com seus sonhos)

.. mal sabíamos nós mas a fila na Polícia de Imigração do lado boliviano já estava sendo feita desde as 6h da manhã, ou seja, final da fila e mais umas 2horas de espera. Não sei se pela dificuldade de registar os turistas, se pela corrupção ativa de pessoas vendendo lugar na fila ou policias que conversavam com o turistas e entravam no escritório pela porta dos fundos saindo minutos depois com passaportes carimbados, mas a desordem daquele país já se apresentava crônica.

 

Hora vai, hora vem, passaporte carimbado e logo em seguida uma rápida vistoria de olho no carro ficamos sabendo (um brasileiro camarada) que ainda era preciso obter uma autorização da polícia local para trafegar no país, papel esse que seria apresentado em cada uma das blitz policiais. Tudo resolvido demos a entrada do carro e estávamos finalmente prontos para seguir viagem. Próximo destino: 658km até Santa Cruz de La Sierra.

 

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Puerto Soarez, primeira cidade Boliviana

 

(Para dar entrada com o carro na Bolívia e conseguir essa autorização da polícia apenas foram solicitados o documento do carro em nome do motorista, carteira de motorista brasileira do condutor, ficha de entrada da imigração e 50 bolivianos, o posto para pegar a permissão do carro fica na fronteira, mas a de permissão para trafegar na cidade mais próxima).

 

Espanto tivemos ao chegar no primeiro posto de abastecimento, carros estrangeiros pagavam mais caro, sim, só pelo fato da placa ser de fora os frentistas nos postos de gasolina no país todo cobravam mais que o dobro do valor local, de $R1,50 para digamos $R4 o litro, isso quando abasteciam seu carro, em alguns lugares os locais se diziam proibidos de abastecer carros estrangeiros. A principio pensamos que a gasolina poderia ser diferente, para carros nacionais de baixa qualidade por exemplo, contudo, em postos camarada conseguíamos abastecer a preços nacionais e o carro funcionava perfeitamente, levando nossa teoria ao descrédito. Mais para frente eu conto a façanha para driblar essa condição imposta pelo nosso amigo Evo.

 

Por mais surpreendente que pareça, a rodovia até Santa Cruz estava em ótimas condições, mostrando um padrão que veríamos nas estradas do país todo, a vegetação quase um pantanal, muito água, lavouras, não se viam cidades, pessoas, buracos, polícia, nada.

 

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Primeiro posto de abastecimento

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Preço Internacional da Gasolina e Diesel

 

Já era noite em Santa Cruz quando chegamos, já devidamente instalados, sairmos para dar voltas na cidade, jantamos e fomos dormir.

 

Para cima e avante

A viagem toda era destino Machu Picchu então não perdemos tempo e logo pela manhã caímos na estrada com destino a La Paz, seria nossa maior distância percorrida em 1 dia, 850km, entretanto, mais um vez a viagem nos pegou de surpresa. A cidade de Santa Cruz está a aproximadamente 450m de altitude, a cidade de La Paz ocupa nada mais nada menos que o título de uma das cidades mais altas do mundo, com o aeroporto sendo realmente o mais alto do mundo a 4060m. E como chegar então caro leitor, a 3640m de altitude em apenas 861km de estada? Subindo.

 

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Parados em obras morro a cima

 

A paisagem muda drasticamente, logo na saída em direção a La Paz as subidas começaram, era muita floresta, floresta mesmo, já havíamos deixado o estado de Santa Cruz e estávamos no estado de Cochabamba. O número de caminhões, ônibus e carros morro a cima era absurda, a altimetria subia, as árvores iam desaparecendo, os primeiros 100km fizemos em 2horas e meia, naquelas alturas já sabíamos que, de forma alguma, chegaríamos em La Paz em 1dia, não deu outra.

 

O trecho até Cochabamba nos trouxe a primeira experiência com a polícia local, ao ver a placa do carro brasileiro era automática a reação de "la polizia" em nos mandar encostar, pediam documentos, entregamos tudo mais a autorização da polícia para estar ali, minutos depois, o policial nos entrega os documentos e pede "una contribucion para la polizia local". Como manda quem pode obedece quem tem juízo, 20 bolivianos entregues e seguimos viagem sem maiores problemas.

Mais uma surpresa não tão agradável foi a quantidade de lixo na estrada, claro que no Brasil temos um severo problema com depósito de lixo, mas na Bolívia a situação é calamitosa. Os lixões são a céu aberto, na maioria das vezes junto a estrada, com o aumento da altitude aumentava-se também os ventos, o que fazia com que o lixo se espalha-se por km e km de estrada a dentro.

 

476km percorridos e chegamos a cidade de Cochabamba, por sua vez uma surpresa agradabilíssima, cidade grande, universitária, a 2570m de altitude, de avenidas largas, bares e restaurantes para todo lado. A altitude tão comentada pelos viajantes que vem para esses lados foi sentida pela primeira vez, ao subir as escadas, se trocar, tudo parece mais pesado e ao fazer qualquer esforço já estávamos ofegantes (dito isso não tivemos fortes dores de cabeça, náuseas, nada mais grave). Chegamos, passeamos, comemos, dormimos, para o próximo dia que seria o top3 da viagem.

 

Encontros inesperados - "É ele mesmo?"

 

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Rodovia, pista dupla no MS não tem.

 

Os 383km de Cochabamba a La Paz foram feitos em quase 8horas, dessa vez por motivos mais que especiais, a medida que deixávamos o estado de Cochabamba entravamos nos altiplanos do estado de La Paz, sempre subindo chegamos a alcançar os quase 5000m de altitude pelo caminho, nos presenteando vistas deslumbrantes. Uma grande dificuldade para quem viaja para esses lados é encontrar pontos de apoio durante a viagem, como banheiros, restaurantes, postos de gasolina e hotéis, com exceção das grandes capitais do país, as cidades bolivianas são em sua grande maioria vilarejos agrícolas uns próximos aos outros sem nenhuma estrutura, a cada 5 ou 6 distritos havia um município maior, este as vezes nem possuindo restaurantes ou hotéis. A infra estrutura turística deixa a desejar visto o potencial do país.

 

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Altiplano Boliviano

 

Certa vez li que existe uma grande diferença entre O viajante e O turista, creio que dependendo do destino e principalmente da companhia esses dois substantivos tomam forma e caracterizam sua viajem. No nosso caso, viajando com meu pai, viajante nato, não poderíamos deixar de ter uma das experiências mais fantásticas. A certa altura da rodovia reparamos que as casas nos distritos pequenos estavam sempre fechadas, muito vento para deixar as portas abertas? Muita poeira naquele deserto alto? Estavámos prestes a descobrir.

 

Ao se aproximar do município de Ayo Ayo a 78km de La Paz, podíamos ver um grande número de ônibus, vans, taxis e carros, meu pai com seus instinto viajante já se pronunciou "-Vamos Parar! Está tendo festa, feira, alguma coisa", e não deu outra. Paramos o carro na rodovia, seguimos o fluxo de pessoas cidade a dentro e a cada passo podíamos perceber que ali naquela pequena cidade algo solene ou significativo estava acontecendo, as pessoas estavam caracterizadas, com adereços singulares, as mulheres vestiam coloridas saias e mantas, maquiadas de maneira distinta a tantas outras que já havíamos visto e não chamavam mais a atenção, quanto mais andávamos mais um batuque forte, música, comidas e o frenesi só aumentava.

 

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Entrada da cidade

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Peixinho frito com batatas, servidos?

 

Alcançamos a praça central, o volume de pessoas já era tanto que quando vimos estávamos em fila andando em meio a multidão, uma grande quantidade de ambulâncias novas estavam a vista, como se estivessem sendo entregues aos distritos da região. O mais singular, o povo, suas fantasias e ornamentos eram fascinantes, fazia muito sol porém estava frio, afinal estavam a mais de 4000m de altitude, todos estavam bebendo, dançando e como num passe de mágica nos deparados em uma condição peculiar, o diferente naquela pequena cidade de nem 7000 hab no interior da Bolivia éramos nós, todos olhavam, nos ofereciam suas bebidas, música, coreografias e sorrisos tímidos.

 

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Quando achei que aquilo tudo não poderia ficar melhor eis que chegamos a frente do burburinho, avistamos um palco com figuras que pareciam oficias, já não escutávamos o batuque dos tambores ou cantorias, agora todos estavam voltados ao palco, lá em cima com uma voz forte e com o dom da palavra, o senhor Presidente da Bolívia, Juan Evo Morales Ayma.

"- Eim? Mentira! Pai é Evo mesmo? Não pode. É muita coincidência!" E era. Depois de ouvir parte do discurso, nos esbaldarmos, comermos de tudo que ofereciam, folha de coca, sorvete, salgado, já havíamos ficado horas naquela pequena cidade e tinhamos que seguir viagem, estávamos próximos de La Paz e cada vez mais perto do nosso objetivo final, encontrar os Incas na cidade perdida.

 

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Palco com tio Evo presente

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Nos despedindo desse lugar fantástivo

 

 

 

Continua..

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Muito show ::otemo:: , estou acompanhando o relato. Em dez/jan vou a machu Picchu de carro. Pode me passar o nome dos hotéis que vcs ficaram até la paz? Tinham estacionamento? As fotos não estão abrindo :(

 

 

Oi Hlirajunior :P que bom que o post será útil para você. Já vou postar as outras duas partes da viagem! Nosso hotel em La Paz foi o Hostel República, bem localizado, simples e foi tudo o que precisávamos, o estacionamento eu não lembro o nome mas a recepcionista do hotel quem nos indicou e foi perfeito pois ficava a 50m do hostel.

Quanto as fotos não consegui colocar aqui, se quiser entra no meu blog http://www.ladobela.com, lá tem o relato com as fotos sem erro. Obrigada e boa viagem!

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Continuando..

 

Todas as vans do mundo

A cidade de La Paz que, por incrível que pareça, não é a capital da Bolívia (Capital Sucre) mas sim sua capital financeira está situada na baixada de uma montanha, a parte de cima onde o aeroporto se encontra é a cidade de El Alto, do meio da encosta para baixo as duas se cruzam sem aviso. Com ruas laterais estreitas e poucas avenidas maiores, a cidade está cravada na montanha como se sempre pertencesse a ela, as calçadas são dotadas de escadas que parecem intermináveis. A primeira grande surpresa ao chegarmos em La Paz é o trafego na cidade, caótico, feiras ao ar livre, milhares de pessoas dividindo espaço com carros, cachorros e vans, muitas mais muitas vans, a cidade não possui transporte público, creio eu que qualquer uma possa comprar uma van e começar a fazer serviços oferecendo linhas e frete. Da entrada da cidade de El Alto até nosso Hostel no centro de La Paz foram quase 2h de trânsito.

 

Assim que começamos a desbravar a cidade e marcar alguns passeios descobrimos que o dia seguinte era um dia mais que especial para La Paz, meio independência, meio aniversário da cidade, tínhamos dado sorte e poderíamos ver, além dos ponto turísticos de praxe, o desfile do exército e toda a comemoração.

No dia seguinte, com um guia, fizemos o Vale de La Luna, os museus da cidade, alguns mirantes fantásticos em El Alto e o mercado das bruxas. A noite saímos em meio a mais de um milhão de pessoas, mais um vez provando os sabores locais e nada mais que gratos pela oportunidade de estarmos ali na semana certa e no dia certo.

 

Cusco, melhor lugar do mundo

Um novo dia, nós de volta na estrada muito bem instruídos e com GPS em mãos, partimos para a fronteira Bolívia-Peru na cidade de Desaguaderos, a 116km de La Paz, ali uma pequena ponte nas margem do lago Titicaca dividia os dois países. A experiência em cruzar fronteiras nós já havíamos aprendido, ou seja, horas na burocracia boliviana ou suborno policial, uma surpresa contudo no lado peruano, os oficiais simpáticos, 5 ou 6 alinhados no escritório de imigração, não deixavam a espera chegar a 10min. (Para dar entrada no Peru, além dos passaportes, imigração de praxe e os documentos do carro, foi necessário que tivéssemos um seguro peruano para o carro, não valia o seguro brasileiro, este seguro contratamos na hora, no banco local por 100peruanos, válido por 1 mês.)

Nossa viagem até Cusco seria de 534km, descendo o altiplano boliviano e peruano, o trajeto até Cusco foi fantástico, as paisagens que vimos faziam cada minuto na estrada valer a pena, não necessariamente tínhamos pressa, as paradas para descobrirmos feiras locais se tornaram parte da viagem. Nos asfaltos peruanas, impecáveis como os bolivianas, já se viam porém uma certa organização, limpeza e até simpatia, este por parte tanto da polícia local como das pessoas.

 

Já próximos ao nosso destino tão esperado, chegamos em Cusco e já era noite, aqui nossa experiência de viajantes nos deixou na mão, para a viagem toda não reservamos hotel com antecedência, porém a cidade de Cusco não era como Santa Cruz ou Cochabamba, Cusco é um dos destinos mais visitados no mundo inteiro. Chegamos já cansados e começamos uma peregrinação na busca de um hotel que tivesse vaga, após alguma horas e diversas decepções encontramos dois quartos disponíveis para uma noite, em frente a praça central na cidade, coincidência ou não, aquele acidente havia se mostrado compensatório.

 

A cidade de Cusco, ou melhor dizendo, o centro histórico da cidade de Cusco, onde ficam todos os restaurantes, hotéis e museus, é um show a parte, eu sou suspeita para dizer, amo aquele lugar, são pessoas do mundo inteiro cruzando a praça central e sorrindo nos cafés e lojas, famílias que competem na estranheza de suas línguas mães e que buscam nas próprias paredes da cidade ângulos e fotos perfeitas. A cidade de Cusco atende a todos os públicos, são restaurantes renomados, fastfood, hostels e hotéis 5 estrelas, o que torna a pluralidade das pessoas ali presente ainda mais rica.

 

Na manha seguinte visitamos o Museu Inka, exploramos a cidade e fizemos nossos arranjos para os tours que faríamos no Vale Sagrado e a tão comentada Machu Picchu que nos esperava. Visitamos também naquele dia o mercado São Pedro, visita ímpar na cidade para comer barato, comer simples e comer bem, uma sopa de galinha feita por uma senhora peruana nascida e criada na cidade sai por 5Soles ou 5Reais.

(Importante salientar que a cidade de cusco possui mais de 600mil habitantes, não sendo assim uma cidade pequena como pode-se imaginar, o centro histório de cusco se trata da parte turística da cidade, saindo dele se vê que os jardins e ruas limpas são elementos turísticos muito bem instalados no centro)

 

Nosso segundo dia em Cusco foi cheio, fizemos o passeio do Vale Sagrado, conhecendo cidades Inkas, um centro de reabilitação de animais da região e ainda fizemos city tour pelas redondezas, isso tudo com um guia local. Essa era minha segunda vez na cidade de Cusco (alguns anos antes eu estive ali em um mochilão com uma amiga, passamos inclusive alguns dias em La Paz, história essa que eu conto em um próximo relato já já) e foi tudo uma experiência totalmente diferente. Como dessa vez eu estava com meu pai e minha irmã foi uma viajem muito mais cultural, em vista a quantidade de shots e festas da minha primeira viagem; e para quem gosta da parte cultural (AMO!) Cusco é muito rica, passeios bem guiados se tornam essenciais.

Toda a dinastia Inka, a história da invasão espanhola e os turistas sempre presentes e imigrando cada vez mais para a cidade formam uma sociedade distinta, é possível enxergar traços das diferentes heranças em diversos aspectos dos passeios, das pessoas e da cidade. Tenho muito respeito por aquele povo, toda ciência, conhecimento e vida que já haviam construído, isso tudo antes mesmo do Brasil ser se quer descoberto.

E no dia seguinte, depois de toda essa história e informação acumulada chegaríamos ao ponto alto da nossa viagem, a saga Machu Picchu finalmente chegaria a Machu Picchu.

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Continuando..

Em busca da terra do nunca

A cidade perdida dos Incas faz parte da lista dos Parques Nacionais do Peru estando a 130km de Cusco, próxima a entrada do parque está o povoado de Aguas Calientes, onde a grande maioria dos visitantes se hospeda antes ou depois do passeio. Vista a distância de Cusco até o vilarejo de Aguas Calientes existem algumas maneiras de se chegar ao parque de Machu Picchu, aqui tudo depende do seu espirito aventureiro e condicionamento físico.

 

A Trilha Inca e a Salkantay são as mais famosas trilhas a pé para a chegada no Parque, aventureiros do mundo todo vem enfrentar este mesmo caminho que os povos andinos faziam a mais de 500 anos. São de 4 a 5 noites, respectivamente, saindo de Cusco, andando em média 8h por dia. (Ressaltando que a Trilha Inca é oficial e regulada pelo governo, para conseguir vaga deve ser feito a compra do passeio com até 5 meses de antecedência, em detrimento a Salkantai que é mais longa porém é factível com dois dias de antecedência). O apelo aqui está no desprender da zona de conforto (MESMO!), andar por todo tipo de vegetação, dormindo em tendas, muitas vezes se encontrando sozinho pela trilha por horas e carregando equipamento ao longo do percurso todo. Não posso falar muito mais da experiência pois nunca as fiz, mas conheço alguém que já percorreu este itinerário e consigo um post todo especial falando de cada dia nessa experiência em breve.

 

A forma descomplicada de se chegar em Machu Picchu é bem confortável e foi a nossa escolhida. Da cidade de Cusco saímos pela manha de carro para a vilarejo de Ollantaytambo, onde o trem para Aguas Calientes sai (duas companhias fazem o trajeto: Inca Rail ou Peru Rail e é possível adquirir tickets de primeira classe ou econômica). No trem demos sorte, estávamos de classe econômica que já é bem confortável e ainda pegamos um vagão quase vazio, a viagem dura em torno de uma hora e meia com algumas paradas de pessoas que descem do trem (já explico mais a frente), somos servidos ainda com chá de coca, refrescos, café, bolinhos e salgado, bem esquema serviço de bordo em aeronaves mesmo. O trem ainda permite avistar os guerreiros da Trilha Inca e Salkantai vagando pela mata com semblantes cansados.

Meio termo as trilhas já mencionadas são trilhas menores de 1 ou 2 dias, o turista pode pegar o trem com destino a Aguas Calientes mas descem antes, percorrendo parte do percurso a pé até a cidade.

 

Chegamos em Aguas Calientes em torno das 10h da manhã, nosso ingresso de entrada para Machu Picchu era para o mesmo dia, sem procrastinar muito deixamos as coisas em um hotel, passaríamos a noite ali, e fomos pegar o ônibus que leva os turistas, em cerca de 20minutos, até a entrada do parque. (Aqui se você ficou desapontado por não ter feito a trilha Inca pode fazer o caminho do ônibus a pé, mais ou menos 2h de caminhada ladeira a cima)

Preciso mencionar aqui o meu parecer sobre vilarejo de Aguas Calientes, já estive ali por duas vezes e tenho dificuldades em ver a magia naquele lugar, tanto meu pai como alguns amigos amam a ideia da cidade nos pés do parque, rodeada de montanhas, com um rio forte que divide as casas, eu entendo a emoção, estar ali é de tirar o fôlego, saber que a tão esperada cidade Inca está perto é indescritível, mas o lugar.. O "pueblo" foi alguma vez planejado, designando áreas para hotéis, restaurantes e lojinhas, todavia, o fluxo de turistas sobrecarregou a demanda da cidade, transformando o planejamento em fábula e a cidade, ao meu ver, em um muquifo, com hotéis apertados sob restaurantes, todos sempre abordando turistas. Mais uma vez salientando, conheço pessoas apaixonadas pelo lugar.

Machu Picchu e o bando de Incas loucos

A chegada ao parque é um tanto quanto eufórica, pessoas de todo o mundo, sozinhas, guiadas, em excursão, formam fila para apresentação dos bilhetes de entrada. Uma vez dentro do parque tudo é fascinante. Penso eu que conhecer pelo menos um pouco da história do povo Inca previamente é essencial para que se aprecie o recinto, caso contrário aquilo tudo não passa de pedra sob pedra.

 

De tudo o que a colonização espanhola dominou e destruiu na região, a cidade perdida é uma mostra remanescente de como aquele povo conseguia ser tão arcaico e ao mesmo tempo contemporâneo, mesmo sendo a Machu Picchu de hoje uma representação em parte restaurada do que um dia foi.

 

Gente agora parem e pensem, antes de 1500 a população andina construiu uma cidade a 2500m de altitude, puxando pedras que vieram da região toda, a cidade é constituída por zonas urbanas, agrícola e religiosa, abrange também as montanhas vizinhas. Todo o complexo projetado, mais de 120 canais para evitar erosão, degraus para cultivo onde a temperatura influenciaria no tipo de plantação que ali seria inserida, edificações que alinhadas as estrelas poderiam refletir luzes de formas diferentes dependendo da época do ano, água que abastece a cidade toda, pensem nisso e pensem que hoje, tomada as devidas proporções claro, nem tampar buraco de asfalto se faz direito. Os caras eram loucos, trabalhadores, sonhadores, e loucos.

 

As 3 principais trilhas da cidade: Montanha de Machu Picchu, Wayna Picchu e ponte Inca (apenas a última inclusa no ticket de entrada geral, as duas outras são a parte com valores especiais e quantidade controlada de pessoas e horário) exigem preparação física dos turistas em níveis diferentes, Wayna Picchu sendo a mais alta e árdua caminhada (conto em breve, fiz a subida na minha primeira visita a Machu Picchu). Passamos o dia redescobrindo a cidade perdida a nossa maneira, Machu Picchu não é como A Monalisa no Museu do Louvre, não se da uma olhadinha e vai embora, aqui você anda sob as próprias pedras e trilhas que foram usadas pelos moradores da cidade, cada curva, cada parede tem ali sua herança e prestigio.

 

Após o dia no parque voltamos a Aguas Calientes, passamos o final da tarde e a noite no vilarejo, bem cedo na manha seguinte pegamos nosso trem de volta a Ollantaytambo e posteriormente o carro até Cusco. Passamos nosso último dia na cidade sentados por horas na praça central, observando os locais e turistas, os maneirismos de uma cidade quase que internacional. Ao jantar aquela noite estávamos extasiados por todo o caminho que já havíamos percorrido para chegar até ali e tínhamos que nos preparar para todo o perrengue, sujeira boliviana, polícia corrupta que nos esperava no caminho para casa.

Só acaba quando termina, sempre com uma boa ideia!

Na manha seguinte acordamos cedo, descemos nossas malas e estávamos prontos para seguir viagem de volta. A princípio o caminho seria exatamente o mesmo, Cusco-La Paz-Cochabamba-Santa Cruz-Corumbá-Bonito, porém a conversa as 5:00am entre os três viajantes foi mais ou menos assim:

 

- Agora a volta. Enfrentar aquela loucura na Bolívia.

- Aquela fila de horas na fronteira e corrupção dos policiais sempre pedindo "contribuição"

- Deus me livre, até insulfim do carro fomos obrigados a tirar.

- Mas não existe caminho que evita a Bolívia? Existe?

- Olha, ter tem, mas são 1000km a mais de viagem. Pelo Brasil mesmo, fronteira Brasil/Peru, Acre, Rondônia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

- Sim sim, olha aqui no mapa, pela famosa rodovia interoceânica

- Eu não tenho pressa para chegar em casa, a distância a mais não é um problema.

- Eu não conheço o Acre!

- Nem eu!

- Nem eu!

 

E foi assim que as 6:00am mudamos todo o trajeto de volta e partimos para mais um aventura, dessa vez pelo Brasil.

 

Ao sairmos de Cusco fomos em direção a Puerto Maldonado e em seguida até a tríplice fronteira(Brasil, Bolívia e Peru) na cidade de Assis Brasil, no Acre. A rodovia interoceânica atravessa o Brasil da cidade de Porto Velho até Assis Brasil, percorrendo 777km e com intuito de aumentar o fluxo de turistas e comércio do atlântico para o pacifico. No lado peruano a rodovia é fantástica, difícil é descrever o quão bonito foi essa parte da viagem, o horizonte é primeiramente marcado por montes nevados, lhamas por todo o caminho, chegamos a mais de 5000m de altitude vendo gelo na beira da estrada, as curvas desafiavam os motoristas quase se encontrando e nenhuma vegetação, posteriormente, ao sairmos do altiplano peruano e chegarmos a 600m de altitude uma floresta densa com chuva torrencial foi surgindo, estávamos, nada mais nada menos, dirigindo pela floresta amazônica. Aqui pude ver em primeira mão o que é desmatamento, digo isso pois as árvores e toras que eram carregadas na estrada eram de tamanho surpreendente, gigantes, não simples toras grandes, custoso era fantasiar a realidade da floresta vista a beleza que a mesma nos proporcionava.

 

Já no lado Brasileiro a história é outra. A famosa Interoceânica vira BR e sabíamos que estávamos nos confins esquecidos do Brasil, rodovia abandonada, asfalto quase que de terra batida de tão destruído, nosso carro não podia alcançar velocidade constante, era tanta a quantidade de buracos na estrada, e foi assim até Rio Branco no Acre.

De Rio Branco até Campo Grande (Ms) 3 dias se foram, 2650km foram percorridos, muitos caminhões, churrascarias e postos de gasolina na beira da estrada que deixariam muitos shoppings center envergonhados, um Brasil de gado, soja, algodão e milho, até o famoso rio Madeira, um dos maiores afluentes do rio amazonas nós cruzamos de balsa. Sem mais palavras para descrever tamanha oportunidade

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