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Relato de Viagem - 25 dias na África do Sul e Swazilandia


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Relato de Viagem, África do Sul – Parte 1: A beleza do Cabo esconde a vergonha do Apartheid.

 

Se algum desavisado fosse tele-transportado para a Cidade do Cabo e, por obra do acaso, se materializasse na renovada região portuária conhecida como Victoria and Alfred Waterfront, acreditaria estar caminhando no litoral Mediterrâneo ou em alguma cidade costeira européia. E não estaria tão enganado assim.

 

Cidade do Cabo é uma cidade belíssima, e a sua semelhança natural com o Rio de Janeiro resiste até meio a um olhar mais atento. O contraste do mar azul com a montanha rochosa que cerca a cidade encanta qualquer visitante. O platô magnífico da Table Mountain é espetacular, e a visão do seu topo, encantadora. E o clima agradável na maior parte do ano completa um cenário único.

 

Além da beleza natural da cidade, a região em seu entorno possui atrações suficientes para ocupar o turista por pelo menos uma semana. Pedalar pelas estradas vazias do Parque Nacional do Cabo da Boa Esperança, sentindo o forte sol e o vento ainda mais forte, e tendo por testemunhas apenas alguns avestruzes ou babuínos solitários é uma experiência inesquecível. Após deixar de lado as bicicletas, caminhar por trilhas demarcadas que levam ao ponto mais ao sul do continente. A placa fincada que resistia ao constante vendaval, informava a distância que nos separava de casa: 6.055Km.

 

Na manhã seguinte, uma van contratada pelo nosso bed & breakfast nos aguardava. Em um pequeno grupo – não mais do que seis ou sete pessoas - partimos rumo à região vinícola do Cabo, para experimentar dezenas de variedades e os mais distintos sabores. Além dos vinhos brancos, tintos e espumantes, o dia incluía também queijos e chocolates. Alguém tinha que sussurrar nos meus ouvidos e me lembrar que estava na África.

 

Cidade do Cabo é também famosa por seus restaurantes. Nos cinco dias que passei na cidade, pude experimentar as mais saborosas carnes de caça, incluindo os exóticos antílopes conhecidos como Kudu, Eland e Waterbuck. Pude, também, aproveitar o melhor da culinária africana em restaurantes bonitos e luxuosos, feito especialmente para atrair os turistas europeus e norte-americanos que se apaixonam pela cidade.

 

Mas antes de partir, uma última atração serviu para nos trazer de volta a realidade: a visita à Ilha de Robben, localizada a dez quilômetros da costa, e o local onde Nelson Mandela e milhares de outros prisioneiros permaneceram por décadas. Muitos deles perderam suas vidas ou então carregam seqüelas permanentes, vítimas do repugnante regime segregacionista conhecido como Apartheid. Caminhar pelos corredores da antiga prisão, olhando assustado e curioso para dentro das celas – bem mais limpas e arrumadas do que no seu período ativo – é uma experiência marcante. Os guias do local são antigos prisioneiros, eles mesmos marcados por anos de tortura e maus-tratos. Descreviam as péssimas condições e as humilhações com resignação, em um tom calmo e pausado. A emoção em suas vozes é nítida, mesmo após tanto tempo de liberdade. Mas o que realmente perturba o visitante atento é a maneira humilde e submissa com que ele se dirigia aos turistas, quase todos europeus caucasianos.

 

Mas o Apartheid não está restrito à famosa Ilha, ou ao pequeno museu junto ao cais de onde saem os barcos que nos levam até lá. Despercebida e escondida nesta linda cidade de ruas limpas e organizadas, a segregação permanece viva. Durante o período colonial, a cidade foi considerada uma zona proibida para negros, que podiam apenas trabalhar no local, mas não fixar residência. Zonas inteiras foram destruídas e seus habitantes (negros e mestiços) realocados para outras cidades da região. O emocionante Museu do District Six conta essa história de evacuação forçada e é uma atração imperdível.

 

Apenas com o fim do regime racista sul-africano, os negros voltaram permanentemente à cidade. Mas caminhando pelo luxuoso litoral não se vê a propagada miscigenação. Nas praias, o luxo dos carros conversíveis e restaurantes à beira-mar surpreendente quem não conhecia a cidade e estava convencido pelo estereótipo africano. Os habitantes negros estão escondidos nas cozinhas ou entradas de serviço. É uma lembrança viva do período de segregação, que permanece vivo e latente apesar dos anos passados.

 

Um taxi nos levou ao moderno aeroporto, reformado para a Copa do Mundo, que ocorreria em menos de seis meses. A visão do lindo estádio de futebol no retrovisor já deixava saudades. Um breve vôo nos levaria à Durban, segunda parada do meu roteiro.

 

(Essa é a primeira parte do relato da minha viagem à Africa do Sul, em fevereiro e março de 2010. Foram 25 dias no país, conhecendo Cidade do Cabo, Durban, Sta Lucia, Suazilândia, Krugger, Graskop e Johannesburg. Fique atento às atualizações nos novos posts!)

 

(Leia também o relato de minha viagem ao Marrocos! Acesse aqui mesmo neste fórum ou faça o download da versão completa - disponível na seção de Literatura do Mochileiros.com ou no meu site)

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Relato de Viagem, África do Sul – Parte 2: Durban, o símbolo cosmopolita da África

 

O sol brilhava forte e um belo dia se anunciava naquela manhã, quando parti de Durban dirigindo rumo ao norte. Eram passados poucos minutos das nove horas e um longo dia na estrada se anunciava, até a cidade de Santa Lucia, na costa do Oceano Índico. Foram dois dias conhecendo a cidade costeira de Durban, onde aluguei o carro que me acompanharia pelos próximos quinze dias, até o final de minha viagem, em Johanesburgo.

 

Durban é um exemplo característico da natureza cosmopolita da África do Sul. Foi em Durban que Mahatma Gandhi despertou seu lado político, e onde o então jovem advogado indiano iniciou sua luta pela igualdade e contra a discriminação racial na África do Sul, da qual não apenas os negros, mas também os hindus eram vítimas. Até hoje é ainda considerada a maior cidade indiana fora da Índia, e esta influência é facilmente notada nos inúmeros restaurantes e lojas espalhadas pelos diversos bairros da cidade, que abriga atualmente quatro milhões de pessoas em sua região metropolitana.

 

Fundada pelos portugueses em 1497 e originalmente batizada “Natal”, foi também residência do poeta português Fernando Pessoa, que passou grande parte da sua juventude na cidade.

 

Atualmente Durban é uma cidade habitada majoritariamente por uma população negra, ao contrário da Cidade do Cabo. O Zulu é o idioma mais falado na região, inclusive nas transmissões televisivas. Durante minha permanência na cidade pude acompanhar uma partida de futebol da seleção nacional africana, em sua preparação para a Copa do Mundo que se aproximava. Além do medíocre futebol apresentado (que viria a se confirmar na competição mundial), o que chamou a atenção foi a narração local, que intercalava os idiomas zulu, xosa e o inglês, dedicando a cada um quinze minutos em cada tempo de jogo.

 

Essa mistura cultural torna a cidade interessante, e os dias passados em Durban foram relaxantes e agradáveis. Em termos de atrações turísticas, a orla é um pouco decepcionante e o gigantesco cassino à beira-mar parece não combinar muito com o ambiente da região. Mas uma visita ao grande aquário municipal repleto de tubarões e dos mais exóticos exemplares da fauna marinha preenche facilmente todo um dia.

 

A estrada N2 cruza a costa indiana da África do Sul até a fronteira com a Suazilândia. Contrariando minhas expectativas, a via se encontra em excelente estado, permitindo uma direção tranqüila e agradável. A paisagem rural do estado de KwaZulu-Natal é bastante bela, com seus morros arredondados cobertos por uma vegetação verde e rasteira. Enquanto me afastava da região metropolitana, mais freqüentemente as casas tradicionais eram substituídas por cabanas típicas zulus: pequenas e redondas, de um só cômodo, cobertas de palha seca e com uma pequena porta. Essas moradias tradicionais não possuem janelas ou chaminés, mas a fumaça das fogueiras atravessam a palha do teto, construído de forma engenhosa para permitir esse escapamento. As influências européias e africanas convivem lado a lado na região da zululândia, tornando esse cenário um local único.

 

Seguimos sem paradas pelos 250 quilômetros de estrada e no inicio da tarde chegamos à pequena cidade de Santa Lúcia, na entrada do parque nacional que possuía esse mesmo nome, mas que foi rebatizado em 2007 para iSimangaliso Wetland Park – palavra zulu para “um milagre”.

 

(Essa é a segunda parte do relato da minha viagem à Africa do Sul, em fevereiro e março de 2010. Foram 25 dias no país, conhecendo Cidade do Cabo, Durban, Sta Lucia, Suazilândia, Krugger, Graskop e Johannesburg. Leia as outras partes nos posts anteriores e fique atento aos novos posts!)

 

(Leia também o relato de minha viagem ao Marrocos! Acesse aqui mesmo neste fórum ou faça o download da versão completa - disponível na seção de Literatura do Mochileiros.com ou no meu site)

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