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De Santo André a Santos


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  • 1 mês depois...
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Santo André/SP

Domingo, 24 de janeiro de 1993

 

Na sexta-feira, o Piloto me ligou e disse que ele e mais dois amigos iriam tentar descer a Serra do Mar de bicicleta pela Estrada Velha. Vou junto!

 

Arrumei minha mochila recém comprada com algumas poucas coisas e fui dar uma ajeitada na bicicleta, que também tinha passado por um upgrade recentemente.

 

Fui para a casa do Piloto e saímos os quatro pouco depois das nove horas. Paramos em um posto para calibrar os pneus. O Mogli e o Paulo tinham vindo de São Paulo durante a madrugada.

 

Não deu nem cinco minutos e quase ocorreu a tragédia: o Piloto pedalando e olhando para um lado, um motorista num Corcel dirigindo e olhando para o outro. Quando se viram, já era tarde demais. O Piloto teve que chutar o carro para não bater na bike. Os dois se xingaram um pouco e ficou por isso mesmo. Ainda bem que o motorista não viu que o Piloto arrancou um pedaço do pára-choque dele.

 

Continuamos pedalando na direção de São Bernardo. Eu era o único com uma Mountain Bike. Os outros três estavam com bicicletas do tipo Speedy. A do Paulo era muito legal, novinha, com quase todos os componentes (inclusive o cara que pedalava) japoneses. Aliás, o Mogli e o Paulo treinavam ciclismo com seriedade e tinham todos os equipamentos que um ciclista sério deve ter: capacetes, luvas, bermudas, óculos, etc. Na época, eu tinha apenas meu capacete e já achava muito bom.

 

Chegamos à Via Anchieta. O motorista de um Gol disse para passarmos rápido em frente à fábrica da Volkswagem, pois estavam roubando bicicletas por lá. A subida da Anchieta me pareceu bem maior do que quando passava por lá de carro.

 

Dez quilômetros depois chegamos à estrada do Riacho Grande. Foi a parte mais difícil. Além do meu preparo físico não colaborar muito, a minha bike era a mais pesada. Vira-e-mexe, os outros tinham que parar para me esperar.

 

Passados esses sofridos quatorze quilômetros, finalmente chegamos à Casa Velha (ou Casa de Pedra ou outro nome qualquer). É onde começa a descida da serra. Como já era esperado, a cancela estava fechada e o guarda não nos deixou descer.

 

Resolvemos dar uma relaxada (ainda bem!). Prendemos as bikes e descemos pela trilha que vai da Casa de Pedra até o fundo do vale, uns duzentos metros abaixo.

 

Lá, descansamos um pouco, comemos alguns chocolates e bolachas que havíamos levado e subimos de volta.

 

Na Casa, um cara gordo nos disse que tinha visto uma meia dúzia de ciclistas descendo a estrada. Eles haviam contornado a cancela pelo meio do mato e saído já bem embaixo. Falamos com mais gente, procurando alguém que soubesse mais a respeito desse caminho que contornava a Casa de Pedra.

 

Quando já íamos voltando, tristes e cabisbaixos - eu, bem lá no fundo, agradecendo por ter que pedalar só mais uns trinta e cinco quilômetros até chegar em casa -, um dos guardas chamou o Paulo num canto.

 

Cinco minutos depois, o Paulo voltou com um bosquejo, desenhado num pedaço de papelão marrom. Esse mapinha dava as indicações sobre como chegar à trilha. O guarda não podia nos deixar passar pela cancela. Mas se descêssemos sem passar pela cancela...

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O tempo estava fechando.

 

Voltamos, procurando por um galpão em construção. Chegamos até a represa Billings. Concluímos, coerentemente, que a trilha não pode ser grande a ponto de contornar a represa.

 

Nesse meio tempo, eu estava com o bike do Mogli e ele com a minha. A dele era indecentemente mais leve.

 

Voltamos um pouco e descobrimos o tal galpão. Não o havíamos visto por culpa da neblina. Analisamos bem o croqui e não descobrimos nada. Demos algumas voltas e topamos com dois motociclistas. Eles nos explicaram mais ou menos por onde era.

 

E entramos na lama. Eu já estava com a minha bike de novo e vi que o upgrade que eu havia feito valeu a pena. O caminho era horrível, só eu que pude ir pedalando; até que chegou a hora em que a roda afundou até o eixo. A partir daí, fui carregando a bike, como os outros.

 

Seguindo as indicações do croqui - ou o que achávamos que ele dizia -, saímos na represa. Começou a chover e a visibilidade era de poucos metros.

 

Pedimos informações para uns pescadores, mas eles não ajudaram em nada. Voltamos até a última bifurcação e seguimos para o outro lado.

 

Chegamos a um trecho calçado. Devia ser a Calçada de Lorena. Essa calçada, toda em pedra, foi construída em meados do século XIX (e restaurada alguns meses antes da nossa aventura), para que as tropas de mulas levassem o café das fazendas de São Paulo até o porto de Santos. E o melhor de tudo: ela chegava até a Estrada Velha! Na verdade, ela serpenteava, chegando até a base da serra, mas não tinha sido restaurada em toda a sua extensão. A Estrada Velha, construída bem depois, a cortava em vários pontos.

 

Na calçada era difícil ficar em cima da bicicleta. Além de irregular, o piso estava escorregadio devido a chuva. Solidário com os outros, fui empurrando a bike.

 

A calçada foi subindo até um mirante de onde, com tempo bom, daria para ver Cubatão e Santos. Bebemos um pouco de água. Ali começava a descida. Encontramos com um grupo que vinha subindo. Disseram que a estrada estava a quarenta minutos. Chegamos em vinte e cinco.

 

Finalmente, a estrada, só para nós.

 

Paramos um pouco para descansar, limpar os pneus e ajustar os freios. Aquele cara gordo com quem havíamos conversado estava passando por ali e veio ter conosco, feliz em ver que tínhamos achado o caminho. Disse que a Polícia Rodoviária tinha acabado de subir. Resolvemos descer logo, antes que ela voltasse.

 

A descida é mais íngreme do que eu imaginava. Em menos de cem metros eu já estava na marcha mais pesada e numa velocidade que nunca tinha atingido na bike (eu não tinha velocímetro na bicicleta, o Mogli disse que, em alguns trechos, descemos entre 70 e 75 km/h).

 

Pela primeira vez, tive que me preocupar com o controle da bicicleta. Frear na hora certa, buscar o ponto de tangência nas curvas, cuidar da inclinação para não derrapar. Havia curvas com mais de noventa graus. Usávamos toda a pista, passando a centímetros do barranco ou da proteção lateral da pista.

 

Conforme fomos descendo, a chuva parou e a neblina se dissipou. Demos uma parada para ver a paisagem - e não tínhamos máquina fotográfica!

 

Não sei quanto tempo levou, nem quantos quilômetros tinha a descida; foi muito rápido. Chegamos ao pé da serra, o Mogli e o Paulo uns trezentos metros à minha frente e o Piloto, uns duzentos metros atrás. O final da estrada era uma reta plana, com uns quinhentos metros de extensão e uma cancela no final.

 

Tentamos passar bem rápido para o guarda não nos ver. Claro que não funcionou. Ele nos parou e perguntou o que estávamos fazendo ali.

 

"Andando de bicicleta."

 

"Mas não podem descer por aqui!"

 

"Não? Não sabíamos." - que cara de pau!

 

"Como passaram pela cancela lá em cima?"

 

"Que cancela? Descemos pela Calçada de Lorena..."

 

"Tá bom. Vão embora, vão!"

 

"O senhor tem um pouco de água aí?"

 

Logo em frente, ficava a refinaria. O pai do Piloto, que trabalhou a vida inteira em refinarias, disse que os caminhões que sobem a serra sempre dão carona. Mas não havia nenhum subindo.

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Chegamos ao perímetro urbano de Cubatão por volta das duas e meia da tarde. Paramos em um posto para telefonar; só o Paulo conseguiu. Demos um jato de água nas bikes para tirar a lama.

 

Voltamos para a Via Anchieta. Eu sempre havia passado por ali de carro ou ônibus. Tinha a idéia de que Cubatão e Santos fossem colados um no outro - formando uma conurbação, como um amigo meu gosta de dizer. Mas não são. Tem uns bons quilômetros entre as duas cidades e nada é perto depois de se ter pedalado por seis horas seguidas.

 

Passamos na rodoviária para comprar as passagens de volta. Encontramos apenas uma empresa (a Ultra) que não implicava nem cobrava para trazer as bicicletas.

 

Saímos em busca de um lugar para comer. Enquanto procurávamos, finalmente consegui ligar para casa. Eram vinte para as quatro. Pedalamos, pedalamos e paramos em um pé-sujo que fazia um PF por vinte e cinco mil cruzeiros (não tenho nem idéia de quanto isso valeria hoje, com certeza não era caro). Arroz, legumes, feijão, farofa, salada e dois bifes. E uma porção gigantesca de batata frita para os quatro. Era a primeira vez que parávamos de verdade desde às nove da manhã.

 

Depois do almoço nababesco, Coca-cola, cervejas, sorvete, chocolates e chicletes, nos pusemos a pedalar de novo. Muito saudável! O Paulo já foi dali para a rodoviária. Ele tinha uma festa para ir em São Paulo e não queria perdê-la.

 

Agora em três, resolvemos ir até a praia. Descer a serra e não ver o mar é a mesma coisa que ficar dando voltas perto de casa. Foi quando o Piloto se lembrou que a mãe dele tinha uma amiga em Santos. Ele só não se lembrava exatamente onde.

 

Até que não demoramos para achar o endereço da cidadã. Aparecemos na casa dela na maior cara-de-pau e pedimos para tomar banho. Não só tomamos banho como também comemos mais ainda.

 

Voltamos para a rodoviária; o ônibus já estava de saída. Pensei que as aventuras do dia já haviam terminado. Mera ilusão.

 

O trânsito estava ruim e chegamos ao Terminal do Jabaquara quase nove horas da noite.

 

A partir daí, nossa cara-de-pau não ajudou mais. Não conseguimos sensibilizar nem o pessoal do metrô, nem do tróleibus. Telefonamos para várias pessoas. Ninguém poderia nos salvar. O Mogli seguiu sozinho para a sua casa.

 

Eram nove e quinze. Hora de encarar quase trinta quilômetros do Jabaquara até Santo André. Minhas pernas não acreditaram que eu iria fazer isso com elas, mas não teve jeito...

 

Viemos pedalando pela linha do Tróleibus, sem parar um só segundo. Atravessar Diadema inteira àquela hora da noite não é muito seguro.

 

Às dez e meia, depois de cento e trinta quilômetros pedalados, com as pernas tremendo, meio metro de língua para fora e a bike e a mochila já fazendo parte do meu corpo, lar, doce, lar.

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Resucitando o tópico em questão, falecido a anos....rs

 

li o relato do colega acima...ri muito principalmente na parte final ond o metro nao permitia entrada de bikes....hAuHuAh

 

Pura nostalgia.

 

 

Entao.... La nao pode entrar de bike para ir por conta propria. Entao sei que existe uma agencia que leva os bikeiros para um passeio de fim de semana para descer de bike e subir de carona na van. O passeio é bem gostoso pois nao cansa é so descida. Agora subir pedalando nemm pensar, pois é so ladeira. O importante é ter os freios em ordem. Qdo desci no meio do caminho tinha furado o pneu de um dos colegas e no final do passeio faltando apenas 50metros escutamos uma explosao, que seria o estouro de outro pneu, pois devido ao pneu de bike speed fininho ele nao aguentou o calor gerado pelos freios.

No alto da serra estava um tempo mais ou menos com um pouco de sol, descendo a serra o clima ficou ameno e la embaixo perto dos tanques da petrobras em cubatao estava muito mormaço e qdo chegamos em sampa(sto andre) de novo estava um tempo frio e todo fechado, mas qdo fui com omeu carro ate o centro de sao bernardo estava aquele solaço de novo. Coisa de loko so.

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