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Backpacker Tourism ou Turismo Mochileiro: Um mercado a ser descoberto


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  • Admin

[t1]Backpacker Tourism ou Turismo Mochileiro: Um mercado a ser descoberto[/t1]

 

O primeiro estudioso a identificar o fenômeno mochileiro como um nicho do mercado de turismo foi o professor australiano Philip L. Pearce , da James Cook University em seu estudo “The backpacker phenomenon: preliminary answers to basic questions” de 1990. A Austrália é referência no assunto e foi um dos primeiros países a reconhecer que esses turistas geravam tanto ou mais divisas que os que chegavam ao país pelas operadoras de turismo e que, além disso, espalham seus gastos por localidades onde os turistas convencionais não costumavam chegar. Só em 1997, 240 mil mochileiros gastaram o montante de 1.2 bilhões de dólares naquele país, com uma média de 5 mil dólares por visitante, conforme relata o estudo “The Development of Backpacker Tourism in Western Australia” de Jim Macbeth e Klaus Westerhausen. O estudo diz também que os mochileiros visitaram em média 10.6 localidades contra 2.7 dos turistas convencionais.

A professora Regina Scheyvens, da Massey University na Nova Zelândia é autora do estudo “Backpacker tourism and Third World development” de 2001, que conclui que países de “Terceiro Mundo” ignoram o Backpacker Tourism e priorizam apenas o Turismo de luxo o que, na prática é uma grande contradição, pois a infra-estrutura necessária para receber mochileiros é muito mais simples e mais fácil de ser concebida. Os benefícios econômicos são quase os mesmos, enquanto os impactos negativos são muito menores ou quase nulos. Na Nova Zelândia o Backpacker Tourism também é bastante desenvolvido. Em 2002 entrevistamos Willian Wattie, então representante de turismo neozelandês no Brasil e que hoje é o cônsul geral da Nova Zelândia no país. Nesta entrevista ele falava um pouco sobre essa experiência com o Backpacker Tourism em seu país: http://www2.uol.com.br/mochilabrasil/Ewattie01.shtml

 

Por aqui, o conceito de Backpacker Tourism passou despercebido até 1999 e ainda é pouco conhecido. Na prática, a figura do mochileiro quando não é tratada de forma preconceituosa é confundida com a do ecoturista ou com a do turista de aventura, o que é o um grande erro, pois são coisas totalmente diferentes. O Ecoturismo e o Turismo de Aventura são mercados fomentados por operadoras de turismo, enquanto o Backpacker Tourism é um fenômeno que ocorre de forma independente. Basicamente, mochileiros são viajantes independentes que utilizam a infra-estrutura de turismo receptivo ou estrutura própria e direcionada e chegam por conta própria em seus destinos. No Brasil a estrutura direcionada para este público se resume na acomodação e foi a única que melhorou nos últimos 10 anos. A quantidade de hostels/albergues do Brasil aumentou consideravelmente. Um bom exemplo desse “boom” foi a cidade do Rio de Janeiro que em 1999 possuía apenas 2 albergues e hoje conta com mais de 100 unidades! É um grande avanço, mas nem só de hospedagem é feito o mercado mochileiro.

Muitos destinos interessantíssimos, grandes distâncias e uma infra-estrutura de transporte deficiente fazem do Brasil um país difícil de “ser viajado”. Isso torna cara a viagem do mochileiro, comparando-se às feitas em países geograficamente menores ou que possuem uma rede transporte eficiente, como por exemplo as ferrovias na Europa.

 

As companhias aéreas brasileiras operam com assentos vazios (cada vez menos, isso é fato) mas ainda não possuem produtos direcionados para esse público - até porque o ignoram. Fomos testemunhas de um projeto muito interessante e viajamos durante 3 meses pela Bahia a bordo dos ônibus da “South America Experience”, um projeto que tinha como objetivo criar um passe rodoviário direcionado para esse público e que chegou a funcionar durante um tempo no país. Isso foi em 2002 (leia em: http://www2.uol.com.br/mochilabrasil/southamerica.shtml ). Infelizmente o projeto não deu certo. Uma oportunidade jogada fora pela falta de conhecimento sobre o assunto no Brasil. Depois dessa experiência, até hoje ainda não há na área de transporte nenhum produto direcionado para este público. Passes aéreos e rodoviários poderiam e deveriam ser criados, mas como criar algo para um público que não se conhece?

Foi essa falta de informação sobre o assunto o motivo da criação do portal Mochila Brasil em 1999. A idéia era desenvolver um jornalismo direcionado a estes público e mercado; trazer matérias sobre destinos mas também informações sobre o “Backpacker Tourism”. Uma tarefa árdua e lenta que completou 10 anos em 2009.

Ajudamos de certa forma a popularizar a palavra mochileiro que na época era usada apenas de maneira pejorativa. Hoje, o termo está até na Wikipédia e tem como fonte o Mochila Brasil. Mesmo com todas as dificuldades, entre elas a falta de anunciantes para manter o projeto, conseguimos a partir disso criar a maior comunidade de viajantes independentes de língua portuguesa, o Mochileiros.com (http://www.mochileiros.com ) e é neste espaço que tentaremos dar continuidade à disseminação do conceito de “Backpacker Tourism” ou “Turismo Mochileiro”. Recebemos mensalmente diversos pedidos de informação do que é ou, como se dá esse mercado e neste espaço iremos reunir o máximo de informações sobre esse assunto para servir de pesquisa não só para estudantes de turismo, mas também para pequenos investidores que estão pensando em criar negócios dirigidos a este público. Aqui passaremos a reunir estudos, textos e notícias sobre o assunto.

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  • 5 meses depois...
  • Membros de Honra

Eu e a Júlia escrevemos um artigo científico sobre os benefícos do turismo mochileiro e apresentaremos no SeminTUR da Universidade de Caxias do Sul-RS no dia 8 de julho de 2010.

 

O artigo é entitulado: "Mochileiros: um segmento a ser explorado no Brasil"

 

A investigação pretende fortalecer a escassa produção científica no Brasil a respeito deste segmento, esclarecer quem somos ::otemo:: , demonstrar a contribuição econômica, sociocultural e ambiental, e também pretende incentivar a investigação de novos temas relacionados a este segmento para aumentar o conhecimento sobre a realidade dos mochileiros no Brasil, notavelmente diferente da observada em outros países.

 

O artigo apresenta primeiramente a conceituação do segmento mochileiro, a diferenciação entre o mochileiro tradicional e o contemporâneo, assim como o perfil e motivação, seguido das origens históricas do fenômeno e termina com a contribuição do mochileiro tradicional para o turismo sustentável do ponto de vista social, econômico e ambiental. Espera-se dessa forma diminuir preconceitos e demonstrar um mercado potencial ao Brasil, tanto para a iniciativa pública quanto para a iniciativa privada.

 

Quem tiver interesse em assistir pode consultar o link do Seminário:

http://www.ucs.br/ucs/posgraduacao/strictosensu/turismo/semintur/apresentacao

 

Abraço!

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  • 1 mês depois...
  • Membros de Honra

Pessoal.

O Seminário em Caxias do Sul foi muito proveitoso.

Apresentamos o artigo Mochileiros - um segmento a ser explorado no Brasil - SeminTurJR - 2010.pdf e a reação das pessoas foi muito positiva. A troca de idéias foi muito boa.

Acredito que conseguimos semear um pouco sobre o nosso modo de viajar e os turismólogos que assistiram vão encarar de outra forma o turismo mochileiro.

 

O artigo não se esgota dessa forma. Estamos pesquisando e complementando. O fato positivo é que a cada parágrafo que encontramos nos livros e na net, outros possíveis assuntos surgem.

Nosso modo de viajar é fascinante também de estudar.

 

Com esse artigo, conseguimos um espaço no site da Brazilian Adenture Society para escrever colunas sobre o assunto.

Segue o link: http://www.bas.org.br/index.php?option=com_content&view=section&id=17&Itemid=90

 

Abraços!

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  • 3 semanas depois...
  • Membros de Honra

a ignorância generalizada sobre o assunto no dito terceiro mundo tem razão de ser.

 

o que motiva alguém a viajar independentemente?

 

1. o fator idade. no entorno dos 20 anos há uma urgência pela independência, aliada à pouca grana, que faz com que o viajante procure esse tipo de viagem. isso talvez faz com que a grande massa seja de gente realmente jovem.

 

2. o fator temperamento. há pessoas que, independentemente da idade, procuram não ficar presas a "esquemas" pré-delimitados, independentemente de faixa etária ou classe social. via de regra tb possuem uma sede grande de conhecimento (lêem livros, vagam pela net, e etc)

 

mas no terceiro mundo, as carências existenciais acabam por não permitir a sobra de dinheiro necessária para se realizar uma grande viagem (vide o sucesso dos pacotes parcelados) e há - e isso é mais importante - uma falta generalizada de informações acerca do mundo. há quem não viaje por não entender o que isso pode proporcionar. há quem seja de fora de são paulo que não consegue sequer curtir o centro velho pois não tem bagagem cultural o suficiente para entendê-lo.

 

aqui mesmo no fórum percebemos isso.

 

então, quem é o mochileiro brasileiro?

 

em parte é o dito verdadeiro mochileiro. conhecemos a figura. somos essa figura.

 

em parte é o jovem de classe média alta que está copiando um modelo observado no exterior, sem entendê-lo direito. é o jovem que precisa ir por intercâmbio estudantil para a europa para aprender a lavar pratos ou arrumar a própria cama. este parece um pouco perdido, e muito afoito para fugir das asas paternas...

 

em todo caso, esse público, seja dos ditos verdadeiros mochileiros, seja dos rich babies, não exige cara estrutura em suas viagens. muito antes pelo contrário, ele as repele. o dito verdadeiro mochileiro pq isso parece tirar-lhe a autenticidade da experiência. o rich baby tb repele pois isso repete as viagens familiares da infância, e ele quer o "fora de casa", não o que já tem.

 

há uma variante que é menos explorada ainda: o cicloturismo. o cicloturista, via de regra, pelo próprio tipo de veículo que escolheu pra viajar, pode ser enquadrado como o mochileiro sobre duas rodas.

 

ele consome dois tipos de passeios.

 

1. o passeio que consistem em viajar apenas de bicicleta, usando outro transporte apenas se muito necessário. exemplo: ir de avião até lisboa e de lá pedalar a europa inteira, tomando outro vôo apenas para retornar ao brasil (há casos mais extremos, de voltas ao mundo, demorando em média de 2 a 4 anos).

 

2. o uso de circuitos, como a rota do vale europeu, em santa catarina.

 

enquanto a europa, e a américa do norte tem investido pesado nesse setor (os alemães gastam por ano em cicloturismo mais do que o nordeste brasileiro arrecada anualmente em todas as formas de turismo), o terceiro mundo ainda não percebeu que pode ganhar muito dinheiro com esse tipo de turista, que muitas vezes também procura a precariedade: nada de viajar pelas grandes estradas, os recônditos, as trilhas, os caminhos, isso é que lhe interessa.

 

enquanto a alemanha tem ciclo-rotas de todos os tipos (das de terra e neve à pavimentada, sinalizada e muito bem estruturada berlin-copenhaguen), no brasil temos apenas o circuito do vale europeu e com muita luta e muita oposição do poder público está saindo do papel a ciclo-rota márcia prado, ligando são paulo a santos.

 

um exemplo de descaso, de não utilização de estrutura é o caso da estrada velha de santos, que, se tivesse aberta às bicicletas poderia gerar um bom tráfego cicloturístico, gerando postos de trabalho (de oficinas de conserto a lanchonetes) em todo percurso.

 

o cicloturismo gera tanta receita na europa que há uma miríade de fabricantes de bicicletas específicas para a área, e a trek, conhecida por sua inovação na área das bikes, mantém um certo modelo em produção desde 1983, com poucas mudanças no projeto - são 27 anos de produção ininterrupta: simplesmente vende, e muito, ano a ano.

 

o mercado europeu e norte-americano para esse setor é gigantesco, bastando dizer que há na europa mais fabricantes de alforges para bicicletas do que de mochilas cargueiras....

 

 

este setor está praticamente inexplorado no brasil. basta ver que os albergues e hotéis sequer sabem onde guardar as bicicletas dos viajantes....

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