Sul-africanos completam travessia do Oceano Atlântico

Foram 92 dias. Mais de dois milhões de remadas e aproximadamente 8.200 quilômetros percorridos pelo Oceano Atlântico, desde a saída na Cidade do Cabo, em 7 de fevereiro, à chegada em Cabo Frio, ontem de manhã. Enquanto remava os últimos metros, já se aproximando do Iate Clube Rio de Janeiro e escoltado por algumas canoas havaianas, o sul-africano Braam Malherbe já deixava claro qual era seu desejo mais imediato.

– Onde está minha cerveja gelada?

Braam e o compatriota Wayne Robertson fizeram a travessia atlântica em um barco de menos de sete metros de comprimento e menos de dois metros de largura, sem nenhuma assistência, feito semelhante ao alcançado pelo brasileiro Amyr Klink, em 1984. A ‘casa’ dos dois era como um ‘pontinho’ no vasto Oceano Atlântico.

– O momento mais bonito de toda a jornada era mergulhar no azul inacreditável do oceano. A visibilidade era incrível. Era a maior piscina do mundo. Debaixo d’água, eu olhava para cima e nosso barco era apenas um pontinho, uma mancha na imensidão do mar. Era uma experiência que me deixava muito humilde – recorda Braam.

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Remadores sul-africanos chegam em Cabo Frio – Foto: Guito Moreto

As dimensões mínimas do barco da dupla também foram responsáveis por alguns dos momentos mais tensos e perigosos de toda a travessia. Durante a jornada, os sul-africanos quase foram abalroados por nada menos que 25 imensos navios cargueiros. Era necessário atenção total, 24h por dia.

– Éramos apenas um pequeno barco, e não podíamos nos mover com rapidez. Muitas vezes contátavamos os barcos pelo rádio para avisar que estávamos na rota deles e as pessoas não falavam inglês, não nos entendiam. Alguns barcos passaram muito próximos, algo como 15, 20 metros de distância. Eles poderiam ter nos atropelado e destruído e seguir caminho sem sequer se darem conta do acidente – relata Wayne.
Em meio a tempestades, com ondas de mais de cinco metros, que viraram o barco em quatro oportunidades, e ‘uma crise atrás da outra’, como definiu Braam, o momento mais difícil para a dupla foi a pequena quantidade de sono. Eles alternavam jornadas de duas horas remando por duas horas descansando, quando se alimentavam e dormiam um pouco.

– Dormir pouco foi o pior de toda a viagem. Cheguei a ter alucinações. Vi anjos flutuando enquanto remava. A mente lhe prega truques se você não descansa – conta Braam.

Orgulhosos por não terem tido uma única discussão durante os mais de três meses no mar (‘e eu dividi minha escova de dentes com ele! Isso é uma grande coisa’ brincou Braam), os sul-africanos gritaram ‘terra!’ juntos ao desembarcarem ontem em Cabo Frio. Abraçados a bandeiras do Brasil e da África do Sul, receberam as merecidas e requisitadas cervejas geladas e brincaram pelo fato de pisarem em algo que não balançava.

– O que mais quero fazer é tomar um banho quente, fazer a barba, comer uma refeição verdadeiramente boa e deitar em uma bela e limpa cama, que não cheire mal como nossa cabine! – anunciou Braam.

Após conversar com jornalistas e funcionários do Iate Clube, Braam sentou calmamente e devorou uma porção de batatas fritas como se fosse um manjar dos deuses.

Fonte: http://blogs.oglobo.globo.com/radicais/post/remadores-sul-africanos-completam-travessia-do-oceano-atlantico.html

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