Uma mulher, 8 meses, 4 países, de carona, vivendo intensamente

A minha história são recortes do que projetei ser, até simplesmente Ser. Sem planos, sem projeções. Eu apenas me tornei o que a minha essência pediu para ser: Uma aventureira, uma viajante.

Eu poderia lhes contar sobre meus sonhos, mas essa história trata de realidade.

Eu vivia uma vida tradicional, me falaram que eu deveria estudar, entrar na universidade, de preferencia pública, trabalhar, ter uma carreira de renome, poder aquisitivo para andar na moda, tirar férias em dezembro, pensar em família, me casar com quem fosse conveniente, ter uma boa casa, um carro, condições para ter filhos… Não foi a minha família que me falou isso, foi a cultura. Mas oras, eu não queria isso. Confesso, tentei: anos de cursinho, uma graduação pública em uma carreira de concorrência, eu confesso, gosto de Arquitetura, principalmente de Urbanismo, mas não gosto de instituição, não gosto de organização linear.

Um dia eu disse basta, em fevereiro de 2017, e fugi com uns Jovens Franceses Malucos, eu realmente eu sentia em um conto de Fadas do Peter Pan, indo para Terra do Nunca, logo eu, já com 20 anos embarcando em uma insanidade. Fugir é complexo, eu fugi de viver uma vida linear que eu não me identificava. Fui com os Franceses até a Fronteira Brasil – Argentina, toda essa história durou por um mês … E na fronteira fiquei sozinha, creio que por objetivos diferentes.

O dia em que fugi de casa com Peter Pan e os meninos perdidos, destino Terra do Nunca, a liberdade.
Foto: Mirella Arruda

E de lá, entre muitos de: Como você vai sozinha pro exterior? Você nem fala o idioma! Você nem tem dinheiro! Você é uma mulher, é muito perigoso pra uma mulher. Pegar carona sozinha? Tá pedindo pra ser estuprada. Sua louca, quer morrer. Uma resposta: Eu posso.

Na verdade, o ato de rebeldia de viver a vida dos meus sonhos foi a melhor coisa que eu podia fazer por mim. Eu sim, fui e peguei inúmeras caronas sozinhas, porque eu tenho fé que o mundo melhor só começa quando eu não me conformo com as coisas como estão. Eu quero poder fazer o que quero, e farei.

Cruzei a fronteira, e logo de cara, um conselho para as mulheres: Só peguem carona sozinhas quando realmente estiverem confiantes para fazer isso, seguras de si. Eu comecei a fazer isso depois de mais de 2 meses viajando sozinha, depois de pegar carona com outras pessoas, um dia eu me sentia forte para pegar caronas sozinha, fiz isso na Argentina, por todo o Peru, e muitos estados Brasileiros.

Delegação Clandestina em Salar de Uyuni - BO
Foto: Mirella Arruda

Viajei sozinha, viajei com Brasileiras, fiquei em casa de Argentinos, conheci a minha família de Estrada, minha amada Delegação Clandestina, um Grupo de Argentinos, Franceses, depois Belgas, e eu, A Brasileira bruxa louca. Claro, é raro uma Brasileira que pega carona sozinha, faz tarot, acredita em Sagrado Feminino e fala de Espiritualidade, mas essa sou eu. Viajei por quase 3 meses na Argentina, com a Delegação como 2 semanas na Argentina, depois 1 mês pela Bolívia, e mais 2 meses no Peru.

Vendi comida na rua, vai me dizer que só viaja quem tem dinheiro? Ah meu bem, eu trabalhei, não tanto porque realmente eu contava com a minha família quando queria conforto, já que luxo pra mim não era necessário, eu não me importo de dormir em beira de estrada, acho divertido! Eu não me importo de dormir em hospedagem mequetrefe. Eu não me importo de cozinhar a minha própria comida, aliás, até prefiro. Não me importo de não ir a lugares turísticos caros, aliás, para mim, isso retira a essência. Mas sim, eu me importo em viver intensamente e provar para eu mesma que é possível. E assim, eu descobri que é possível viver viajando, você só tem que encontrar a sua forma de fazer isso, seja vender comida, seja tocar em bares, trabalhar de garçonete…

Em um barco em um povoado Nativo na Amazônia Peruana.
Foto: Mirella Arruda

Viajei por 8 meses, 3 com a Delegação, 1 com Brasileiras, os outros foram divididos entre morar um mês na Amazônia, um em povoado alternativo na Argentina, algumas viagens com outros amigos, muitas sozinha.

Retornei ao Brasil para rever familiares, amigos, encerrar ciclos e me jogar na estrada sem retorno, porque aliás o que já fui não existe mais, e o que sou, em breve também não mais. Quem sabe, farei visitas, recordarei histórias, mas a minha, essa pertence a Estrada!

Blog pessoal: www.mimimiafuera.com 

Fotos Insta @mirellarruda

Colunista no Blog: www.brasileirapelomundo.com

Gratidão, a vida é uma viagem, aproveite o caminho.