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Tunísia - 7° e último dia


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  • Membros de Honra

Olá amigos! Apesar de ser português resolvi pôr aqui no forum um relato da viagem que fiz à Tunísia. Aqui em Portugal não há foruns destes para falarmos de viagens. Espero que não se importem. Afinal somos povos irmãos! [:)]

Hoje vou pôr aqui o primeiro e segundo dia. E depois vou acrescentando, como fez o "thiagodesa".

Aqui vai então;

 

TUNÍSIA - Dia 1

 

Chegámos a Monastir por volta das 22:00 e fomos recebidos por um ar abafado que fez questão de nos lembrar que estávamos em África. À falta de uma espera digna de um Chefe de Estado, foi o melhor que se pôde arranjar!!!

Daqui dirigimo-nos para Tunis, a capital, 165 km a noroeste. Pelo caminho observámos uma tempestade que "atacava" algures no centro do país e a ideia que nos assolou o espírito foi de que íamos ter uma semana de chuva, o que não é agradável, principalmente num país conhecido pelo seu calor.

Secretamente fizemos "figas" para que tal não acontecesse e resolvemos mudar o nosso pensamento experimentando as telecomunicações do país.

A primeira imagem que tivemos da capital, Tunis, foi de que as alterações climáticas fruto da poluição tinham atingido mais cedo a Tunísia e a capital estava transformada numa Veneza africana! Havia água por todo o lado, e onde não havia, a enorme quantidade de lama lembrava que a mesma havia passado por ali há pouco.

Da cidade propriamente dita, a única coisa que vislumbrámos foi uma rotunda com um relógio estilo "Big Ben" no centro. Mais foi impossível, pois o motorista após troca de palavras acaloradas com vários condutores, acelerava de uma maneira, que começámos a fazer apostas para saber quanto tempo demorávamos até chocar com algo. ou alguém.!

 

*

 

De manhã acordei sobressaltado com o telefone; atendi e do outro lado respondeu-me uma voz em francês; feito pacóvio, qual debutante nestas andanças, agradeci e ia continuar a falar quando me apercebi que se tratava de uma gravação!

As vistas do quarto de hotel davam para o edifício da televisão pública, com um guarda armado em cada esquina, lembrando-me que não estava num país propriamente democrático.

Os restantes edifícios demonstravam a pobreza da população com fachadas brancas a precisar de uma nova pintura e quase todas em adiantado estado de degradação.

Ao nível do solo a imagem foi um pouco atenuada; as avenidas eram arborizadas, tentando dar alguma frescura ás horas de maior calor e o res-do-chão da maioria dos edifícios era ocupada por lojas, umas com um aspecto mais ocidentalizado, outras cujos proprietários as mantinham fiéis ao aspecto inicial, com portadas de madeira e inscrições árabes nas paredes interiores e por cima da porta principal.

A água tinha desaparecido mas tinha deixado lembranças, como a lama seca que se encontrava por todo o lado e o pó que a mesma originava, sujando passeios, montras e veículos.

 

A primeira visita do dia foi à localidade de Dougga, a sudoeste da capital; Dougga fica a 550 mts acima do nível do mar e era um local estratégico para os Romanos; o reino de Numídia era um aliado de Roma e uma vez que Dougga ficava perto do epicentro Cartaginês, com o desaparecimento das guerras entre o reino de Numidia e Cartago, a cidade transformou-se num centro administrativo, prestando preciosa ajuda aos Romanos que pretendiam tomar o reino de Cartago.

Aqui entrámos no mundo antigo dos Romanos. Primeiro o anfiteatro, depois o Capitólio e de seguida o resto da cidade, com destaque para os banhos e o ginásio, mostram a grandeza e extrema organização deste povo.

O anfiteatro, relativamente bem conservado, ainda hoje acolhe as festas da cidade e dá-nos uma ideia de como era a vida social antigamente. Aqui assistia-se a peças de teatro, declamações, com os senhores mais importantes a ocuparem os primeiros lugares e o povo a ficar na parte superior das bancadas. Embora muitos digam que isto era uma forma de discriminação, a minha teoria, após estar sentado na bancada do povo, é que o objectivo seria evitar que, quando o programa não estava a agradar, alguns objectos estranhos ao espectáculo chegassem ao palco! Mas para isto tinha de partir do princípio que os senhores eram pessoas educadas. só que me esqueci que o exemplo nem sempre vem de cima.

O Capitólio, construído em honra de Júpiter, Juno e Minerva, impressiona pela grandiosidade e pelos minuciosos relevos que apresenta na sua parte superior.

Abaixo do Capitólio temos o antigo mercado de escravos, local onde eram expostos os mesmos e onde ainda vemos as argolas que os mantinham presos ao chão. Mesmo a muitos anos de distância, ainda podemos sentir um certo ambiente pesado que parece ter ficado no local para a eternidade.

Continuando à descoberta destas ruínas, chegámos à zona dos banhos que ainda conserva alguns mosaicos com cenas da vida quotidiana e o ginásio, agora deserto, pôs-me a pensar que tipo de ginástica faria quem vivesse naquele tempo. Sem "passadeira", sem "pesos", sem estrado para abdominais. que diabo! Como se punham em forma sem estes imprescindíveis objectos???

A visita a Dougga ficou por aqui mas antes de me dirigir para a camioneta, olhei para o que me rodeava; campos agrícolas, mostram que o clima é aqui mais complacente do que no sul; no entanto e apesar de ser ainda de manhã, estavam já envolvidos por uma bruma de calor que transformava os mais distantes em pouco mais que miragens. As montanhas nuas e a pedir água, engoliram quase por completo os vestígios arqueológicos construídos no seu topo. Pareciam querer esconder o seu passado, guardá-lo só para elas.

 

A viagem prosseguiu, de regresso à costa em direcção a Sidi Bou Said. Localizada no alto de uma encosta esta pequena aldeia é um encanto. Todas as casas são de um estilo rústico, muito bem conservadas com o tradicional branco a combinar bem com o azul claro. É pena que não seja azul escuro, pois este azul com o branco produz um efeito especial.! Em 2003/2004 estas cores deram muito que falar (a nível de futebol). de maneira que anotámos a ideia do zaul escuro como uma sugestão para apresentar na câmara municipal da zona por forma a tornar o ambiente ainda mais agradável.

O movimento de turistas é considerável, com os vendedores à porta das suas lojas a tentarem chamar a atenção para os seus produtos, havendo alguns que literalmente nos "assaltam" no meio da rua e tentam levar-nos para o seu estabelecimento. Confesso que não sou um grande apreciador de compras mas todo este cenário, com as ruas livres de trânsito, as casa antigas e as lojas com produtos até à soleira da porta e cujos vendedores envergam os seus trajes tradicionais, criam um ambiente fantástico e dá-nos a sensação de estarmos noutro tempo; não fosse neste preciso momento passar por mim uma mulher com um grande decote e calções bastante curtos.

Provar o conhecido chá com pinhões ou beber o tradicional café, são duas coisas que aconselho a fazer, apesar de ter pedido chá e o ter deixado ficar quase intacto comprovando aquilo de que desconfiava desde os tempos de miúdo, em que a minha aproveitava qualquer "mau-estar" meu para tentar impingir-me o dito cujo; não sou homem de "chás"! De facto a minha barriga, apesar de pequena, é uma prova disso mesmo!

Gostei particularmente do café que fica no cimo da rua principal; tem uma balaustrada no primeiro andar de onde podemos ter um visão perfeita de todo o cenário que se desenrola na rua. Ali podemos deixar as horas escorrer e ver o sol desaparecer por entre as casas.

Quem não quiser ficar ali sentado, pois como dizem alguns "parar é morrer", pode vaguear pelas ruelas estreitas onde se pode admirar as portadas de madeira tipicamente árabes, podendo até espreitar, num gesto de cuscuvilhice, para dentro de uma porta aberta, tentando apanhar alguma cena do quotidiano.

Subindo a rua principal e indo pela sua direita, passámos por um café encavalitado numa encosta, que nos dá uma perspectiva espectacular daquela zona costeira, onde se vislumbra uma praia ao fundo, assim como um marina repleta de barcos de recreio.

No entanto não é preciso entrar neste café para se ter esta vista; mais à frente existe um pequeno descampado onde podemos ter a mesma visão. O local é um bocado inclinado e é preciso ter cuidado pois não há grades protectoras. Cuidado também com o vento que, pelo menos enquanto ali estive, tentou por todas as formas e feitios levar-me o chapéu e, não satisfeito com isso, tentou cegar-me com pó! Há ventos assim!

 

O dia estava a terminar quando chegámos às ruínas de Cartago. Logo à entrada existe um jardim magnífico que convida a um passeio mais prolongado, onde podemos ver alguns vestígios deixados pelos cartagineses. Mas o principal está para vir. Apesar de bastante degradadas, em virtude de desleixo humano mas também do efeito degradante do sal que o mar liberta, para os apreciadores de arqueologia são um local onde se pode perder, à vontade, uma hora pelo seu meio. Deambular por ali, explorando cada caminho, tentando adivinhar o que vem a seguir, imaginando como teria sido a vida ali, olhando para cada pedra, faz-nos vestir por momentos a pele de um arqueólogo tentando vislumbrar alguma característica particular que escape aos outros. Como disse, está tudo bastante degradado mas quem realmente se interessar por História e não considerar as ruínas como meras aglomerações de pedras, consegue admirar a beleza do local, com o mar a meia dúzia de metros dali.

 

Regressando a Tunis tivemos ainda tempo para poder visitar a sua Medina. A entrada é monumental, com um arco a lembrar o Arco do Triunfo francês. As fachadas são tipicamente árabes e escolhendo o caminho, extremamente apertado diga-se de passagem, entrámos num outro mundo. É um conjunto de cores e cheiros exóticos, que acabei por sair dali um pouco tonto. Há roupas que pendem do tecto, tapetes presos nas paredes, expositórios que ocupam o caminho, vozes que se cruzam no ar com melodias ao mais puro estilo árabe, vendedores sentados à soleira da porta a fumar despreocupadamente o seu tabaco, enquanto outros, não querendo esperar que a sorte lhes bata à porta, interpelam o turista para que compre algo. O caminho torna-se extremamente exíguo para passarmos, ainda por cima quando também circulam pessoas em sentido contrário; Senti-me abafado por todo aquele ambiente e nunca caminhei com tanto cuidado como naquele momento tal era o medo de ao passar deitar algum objecto ao chão. Para completar o quadro, é impossível andar dois metros sem que sejamos interpelados por alguém a tentar vender alguma coisa; um tapete, um casaco ou um lenço, tudo serve para fazer parar o turista. O caminho é practicamente em linha recta e leva-nos até à mesquita. Caminho esse que se faz, em circunstâncias normais, em 5 ou 7 minutos, fizémos em cerca de 30!!!

Finalmente o ar torna-se mais fresco e demos por nós numa praça pequena que apesar de mais ampla que o caminho por onde tinhamos vindo, parece encolher face ao tamanho da mesquita que se encontrava mesmo à nossa frente. Não podendo visitar a mesquita, face ao adiantado da hora, restava-nos dar meia volta e ir embora; só que mais uma vez fomos abordados por um vendedor que deambulava na zona da entrada da mesquita, para levar clientes à sua loja que ficava um pouco deslocada, numa das inúmeras ruelas estreitas que seguem sabe-se lá para onde, desaparecendo na escuridão. Valeu pelo facto de o homem perceber de futebol e termos passado o tempo a falar do meu F. C. Porto e da sua campanha a nível europeu.

 

Saindo da medina voltámos a entrar num mundo mais ocidental, trânsito, hotéis, cafés, esplanadas e gente vestida como na Europa, incluindo mulheres. A Tunísia é um dos países muçulmanos mais aberto à chamada "ocidentalização".

Depois de um dia que atravessou toda a História, começando no tempo dos romanos e acabando na era da globalização, regressámos ao hotel para recuperar forças para o dia seguinte.

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TUNÍSIA - DIA 2

 

O dia amanheceu cheio de sol, dando logo a entender que íamos ter pela frente um calor enorme. Ainda por cima íamos para o interior sul, onde as temperaturas são mais elevadas que à beira-mar.

Saindo de Tunis seguimos caminho rumo a Kairouan.

Kairouan é a cidade muçulmana mais importante do Norte de África e aqui sobressai a grande mesquita, com o seu imponente minarete, que mantém um aspecto digno, como se tivesse sido construída há poucos meses atrás. No entanto foi construída por Uqba bin Nafi l-Fihri em 670 e como importante centro de cultura e aprendizagem, foi aqui constituída uma universidade, que influenciou o próprio mundo islâmico.

Mal se entra na mesquita sentimos de imediato a enorme religiosidade do local, apesar dos vários grupos de turistas que por ali andam, que trazem atrás de si, qual pragas, os vendedores ambulantes. A mesquita é rectangular, com o minarete num dos seus lados um enorme bloco beije que sobressai pelo seu característico contraste entre opulência e simplicidade. A mesquita conta ainda com inúmeros arcos suportados por colunas trazidas de templos romanos e bizantinos, o que demonstra desde logo a sua beleza e riqueza. Mas o que mais me impressionou foi a sala de oração; apesar de interdita a quem não for muçulmano, tem as portadas abertas que permitem ter um vislumbre do seu interior. O que salta logo à vista são as várias colunas que se assemelham a uma floresta de árvores, separadas entre si por tapetes para os fiéis se ajoelharem durante a oração. Toda a beleza da arte islâmica está aqui demonstrada com trabalhos em madeira, pedra, mármore e no entanto o local consegue ser bastante simples em contraste com as tradicionais igrejas cristãs.

A viagem prosseguiu mais para sul, com o deserto cada vez mais perto. A paisagem foi mudando; o verde relativo de alguns campos e àrvores, foi desaparecendo dando lugar a uma vegetação cada vez mais rara e rasteira. A terra tornou-se avermelhada e começou a ser acompanhada de areia. Ao longe viam-se as montanhas do Alto Atlas, que vinham "morrer" na Tunísia. Despidas de qualquer vegetação, mesmo vistas de longe eram imponentes e com a luz do sol, as suas curvas faziam lembrar as famosas dunas da Namíbia. O pôr do sol deu uma tonalidade alaranjada ao ambiente, e no meio de tudo isto surgiram grupos de camelos selvagens que faziam desta terra o seu território. Corriam paralelos ao autocarro e depois mudavam de direcção, como que se desinteressando por aquele monstro que conseguia ser mais rápido do que eles.

Foi com este cenário que encostei a cabeça ao vidro e adormeci.

 

Acordei com uma pancada no meu banco. O passageiro de trás por qualquer motivo tinha-se mexido duma forma pouco comum. Resolvido a não "castigar" a minha cabeça, ainda não totalmente acordada, com o que aquilo podia significar, voltei a encostar-me ao vidro. Fechei os olhos mas um novo movimento atrás de mim seguido do ruído de uma máquina fotográfica a disparar, fez-me abri-los novamente. E não consegui perceber o que estava à minha frente. Não contava com aquela visão. Ali à minha frente, no meio de terra e areia, surgiam inúmeras palmeiras, um monte verde, enorme, que não condizia minimamente com a aspereza do local que as rodeavam. Era o oásis de Nefta. Aquilo que tinha ouvido e visto várias vezes na televisão como sendo miragens que muitos viajantes do deserto tinham, estava a poucos quilómetros de mim.

Nefta surge na paisagem como uma carpete verde, num local onde o rigor do tempo não deu lugar a grandes expansões da natureza. As inúmeras palmeiras que constituem este oásis, apanharam-me de surpresa pois além de não estar à espera de tantas, estou habituado a vê-las em praias paradisíacas; aqui ganham outra dimensão, deixando de nos surgir como uma diversão e passando a ser encaradas como um meio de sobrevivência.

 

Montámos "acampamento" nesta cidade, ponto de partida para uma visita a Tozeur e a algumas aldeias das montanhas mais próximas. Face ao calor que se fazia sentir, a noite foi aproveitada para tomar uns banhos de piscina, em virtude do hotel ter a piscina aberta 24 horas por dia, uma medida muito comum aqui na Tunísia. Confesso que foi uma experiência única; estar na piscina e ver o céu estrelado, olhar à minha volta e ver as palmeiras e os edifícios que tentam manter as características árabes da região, é algo que gostava de repetir pois provoca uma sensação de bem-estar que muitas vezes aqueles que vão para hotéis 5 estrelas não conseguem alcançar. E o facto de às 19:30 estar na piscina, já à luz das estrelas e o vento trazer até mim o som das últimas orações do dia, ditas no minarete da mesquita, foi um momento surreal, superior a qualquer luxo que me possam oferecer.

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  • Membros de Honra

TUNÍSIA - DIA 3

 

O dia seguinte começou com uma visita ao palmeiral de Tozeur, onde se estima que estejam cerca de 200 000 palmeiras! Fazer um passeio a pé por aqui é algo que não se deve perder. Há caminhos que se perdem pelo meio das palmeiras enormes e estas, junto com a vegetação que as rodeia, envolvem-nos num ambiente natural que pelo exotismo do local onde nos encontrámos - confirmado pelo passar de uma caleche puxada por um burro, com homem e mulher envergando trajes tipicamente muçulmanos - ainda se torna mais especial.

Seguimos com um guia local para a parte antiga da cidade, um autêntico labirinto de casa antigas, com as portas abertas, sem receio de roubos, para onde se podia espreitar e ver pátios interiores ou uma divisão simples, com apenas um tapete e uma arca, onde possivelmente os habitantes guardam os seus bens mais preciosos. Além de todo este labirinto, onde confesso que sozinho me perderia mal virasse na primeira curva que aparecesse, uma das maiores curiosidades foi ver as portas com três batentes onde se via a tradicional distinção entre as pessoas, típicas das sociedades muçulmanas; o da esquerda era para os homens, o da direita para as mulheres e o que se situava mais abaixo era para as crianças. O som que cada batente produz, permite saber quem estava a bater à porta. Sendo assim, caso fosse um homem, a mulher que estava dentro de casa, tratava de se esconder para não ser vista por quem ia entrar. Num tom irónico, o guia disse-nos que estavam a avançar no tempo pois agora já não haviam destas distinções já que bastava carregar no "trrim"!

De tarde fizemos uma visita às montanhas em veículos 4x4. A terra da cidade de Nefta deu lugar à areia com alguma vegetação e esta por sua vez desapareceu sobrando apenas areia. Formava pequenas dunas que o jipe tratava de superar ao solavancos e quem ia no seu interior delirava com os saltos que dava. Havia momentos em que o condutor passava por uma duna mais alta para cortar caminho e aí o jipe parecia que voava fazendo-nos bater com a cabeça no tecto.

A certa altura a areia deu lugar a uma estrada que surgiu do nada e desaparecia na imensidão de terra e areia que se encontrava à nossa frente. Através desta chegámos à nossa primeira paragem, um miradouro no cimo de uma das montanhas de onde se tinha uma vista impressionante.

De um lado as montanhas iam perdendo altitude, apresentando já alguma vegetação, até darem lugar a enormes planícies. No meio das montanhas viam-se grupos de palmeiras, pequenos oásis que tornavam possível a vida naquele local inóspito. Eram uma mancha verde na imensidão da cor acastanhada.

Atravessando a estrada tínhamos logo ali o exemplo da outra face daquele local. Uma imensa escarpa rochosa, com alguns degraus, levava-nos a uma tenda onde se vendia de tudo um pouco e mais à frente podíamos admirar os grupos de montanhas que desapareciam no horizonte. Nuas, onduladas e pedregosas, algumas com picos afiados, formavam vários patamares como se estivessem a convidar os mais aventureiros a trepar por ali. Não se via uma única casa, uma única palmeira, mas sabíamos que existiam; só que as montanhas eram de tal forma compactas e curvilíneas que não conseguíamos ver nem o fundo dos vales, nem o que surgia após uma curva. Podemos dizer que tínhamos á nossa frente apenas pedra e terra, mas este ambiente "duro" tem os seus atractivos pois lembra-nos que a natureza não é só árvores junto de areia branca e águas transparentes; e isto é o que há de mais maravilhoso na natureza: a sua capacidade de criar contrastes.

Parámos novamente, desta vez em Chébika, onde pudemos tomar banho numa pequena cascata que ali existia. Descemos um caminho de terra e ficámos no fundo de um vale, ladeado por montanhas de pedra, quase a pique. Senti-me pequeno ali no meio mas ao mesmo tempo grande por poder ter o privilégio de ver uma maravilha da natureza. Pelo meio de uma parede rochosa brotava água formando uma pequena lagoa que terminava numa gruta. Amaldiçoei toda a gente, de uma forma mais violenta os que traziam fato de banho, pois não tinha vindo preparado para tomar banho! Irritado com esta minha falta, não me restou mais nada a não ser dizer mal daqueles que andavam na água. Ou porque eram gordos e deviam ter vergonha de não fazer ginástica, ou porque tinham um fato de banho feio e deviam ter mais cuidado para não ferir as vistas dos outros, enfim... dor de cotovelo a quanto obrigas!!!

No entanto, não pensem que desisti assim tão fácil; tirei o calçado, puxei os calções para cima e entrei dentro de água. Pelo menos já podia dizer que tinha entrado numa lagoa. E como não aceitava o facto de não poder andar livremente na água, fui mais um pouco para dentro acabando por molhar uma parte dos calções. Satisfeito por ser o único dos que não tinham fato de banho a ir tão longe, regressei a terra feliz da vida.

A vegetação era alta e muitos tinham-na transformado em autênticos balneários para mudarem de roupa.

Naquele local o desfiladeiro fazia uma curva e o pequeno curso de água desaparecia, acompanhado do verde da vegetação. Mais uma vez o contraste era magnífico. As rochas enormes, que absorviam por completo a água, e a imensa vegetação que se formava nas suas margens, em conjunto, transmitiam alguma tranquilidade a quem por ali passava em rotas comerciais.

Fiquei tão maravilhado com o local que quando entrei no jipe, ia de tal forma imerso nas imagens que tinha captado, que me esqueci de dar um jeito nos calções e na paragem seguinte posei para a posteridade com os calções arregaçados, qual camponês na sua lide diária.

Seguimos para Mides, que fica encavalitada numa montanha, qual castelo medieval, sempre atenta a quem chega. A Mides actual é um punhado de casas, já que a antiga aldeia foi arrasada após 22 dias de chuva. Ainda se podem ver as ruínas da cidade, feita com pedras tiradas das montanhas. As casas parecem ser uma continuação destas e é impressionante ver como foram construídas mesmo no limite das mesmas. Quem tivesse uma janela e olhasse para baixo, ou não tinha vertigens ou estava em maus lençóis.

Daqui, a visão que temos é pura e simplesmente genial. Gargantas profundas e apertadas, cheias de curvas fruto da erosão do vento e da água estendem-se à nossa frente, e bem lá no fundo o rio serpenteia parecendo daqui de cima apenas um pequeno fio de água. É uma imagem que não fica nada atrás dos famosos canyons americanos. Com a vantagem da sua visita ter um preço mais em conta.

Para vermos como a natureza é curiosa, basta olharmos para a montanha à nossa frente. Separado de nós pela enorme garganta dos canyons, está um grande palmeiral. É engraçado como no cimo de um monte, árido e pedregoso, conseguem sobreviver estas espécies, dando ao lugar uma cor verde que em nada condiz com o que a rodeia. Quem agradece é a população que tira dali a maior parte do seu parco rendimento.

Acabámos esta nossa visita às montanhas, num local magnífico. Após caminharmos com a montanhas de um lado e as palmeiras do outro, chegámos à fonte de um oásis. A água vinha de dentro das rochas, as mesmas que formavam aquelas montanhas despidas de vegetação. Aqui havia umas escadas, com uma subida enorme, quase a pique. No cimo o cansaço foi compensado pelas vistas. Mesmo à nossa frente estava o pico de uma montanha. Ali tão perto, era ainda mais majestoso; um aglomerado de rochas apontadas ao céu, e estando nós a poucos metros das mesmas, sentiamos ainda mais a sua presença; cheguei a ter a sensação de que podia facilmente atingir o topo, mas de certeza que era maluquice minha.

Na descida pude ver a planície que se estendia à minha frente, com um pequeno fio de água a correr para longe das montanhas. Viam-se já algumas nuvens que prometiam tempestade e por forma a não sermos apanhados no caminho, resolvemos acelerar o passo enquanto íamos vendo os raios cair na planície.

O caminho de regresso foi feito ao som das músicas mais na moda, com uma particularidade: a música era a original, no entanto, o cantor e a letra eram tunisinos; talvez para não chocar o mais rigoroso dos muçulmanos.

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  • Membros de Honra

TUNÍSIA - DIA 4

 

De manhã viam-se os vestígios de uma noite violenta; havia poças de água e lama por todo o lado, dando a ideia que não havia sarjetas.

Visitámos um dos palmeirais de Nefta, que se situa no fundo de uma depressão. É um local curioso, conhecido como a "Corbeille" de Nefta - o cesto de Nefta - com as palmeiras no fundo, num local aparentemente fértil e a toda a sua volta o terreno eleva-se, feito de vários socalcos que os locais tentam cultivar; no cimo estão várias habitações construídas com pedra e terra, aquilo que mais abunda naquelas paragens, aparte a areia que começa a fazer-se notar.

Daqui seguimos para o Lago Chot El Djerid, um impressionante lago salgado. Não foi fácil distingui-lo pois o céu apresentava uma cor cinzento claro que se confundia com a cor do lago. Se puserem alguém num avião sem lhe dizer para onde vai e o deixarem no meio do lago, esse alguém vai julgar que está no meio da neve. É impressionante a quantidade de sal que se acumulou neste local; com as montanhas do Alto Atlas como pano de fundo, o local assemelha-se ao deserto do Atacama, o que até ao momento perfaz um dois em um: os canyons dos USA e o deserto do Chile num só país!

Chegamos a Douz a meio da tarde e aproveitámos para dar umas voltas montados num camelo. Douz é uma porta aberta para o deserta do Sahara e como tal os camelos levaram-nos até à entrada do mesmo, por forma a termos um cheirinho do que é esse imenso mar de areia.

Quando ali chegámos, a confusão era enorme com inúmeros camelos à espera de trabalho e muitos turistas que acediam às ordens dos donos dos camelos, por forma a não darem um tombo.

Confesso que não me ajeitei muito em cima do camelo. Não consegui arranjar um posição confortável; os camelos movimentam-se de uma forma que se não tivermos cuidado, podemos ser projectados para o meio da areia. Não sei como será andar a cavalo mas se for assim, continuo a preferir o automóvel.

Fiquei extasiado com toda aquela areia à minha frente. É uma visão diferente, ver areia sem ver o mar. De um lado ainda se viam algumas palmeiras, solitárias resistências perante a aridez e escassez de água do deserto. Olhando para o outro só via areia, que formava inúmeras dunas até à linha do horizonte. Esta passava gradualmente do dourado para uma tonalidade mais acastanhada, à medida que o sol num tom alaranjado, desaparecia atrás das dunas, lançando sombras sobre todo aquele mar. É um espectáculo imperdível e acaba por ser o fim ideal para quem vira costas ao deserto e regressa à base para mais uma noite na piscina, à luz das estrelas.

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  • Membros de Honra

Obrigado pelo comentario odiliofap. Tento escrever o que vejo e sinto.

Quanto ao que me perguntaste, de facto nao conheço Campanhó, mas conheço Vila Real. Gosto bastante da zona central com casas e ruas antigas.

De qualquer das formas se queres saber como é a regiao nao podes ficar por aqui; Régua e Lamego também valem uma visita.

Ir de barco da cidade do Porto até à Régua, rio acima, é espectacular, pois passamos por paisagens que são Patrimonio Mundial.

Aqui ficam alguns links para ficares a conhecer melhor Vila Real e a toda aquela regiao;

 

http://www.terravista.pt/mussulo/1065/

 

http://www.novidades.com/vila_real/

 

http://www.cm-vilareal.pt/

 

http://www.rtsmarao.pt/indexport.htm - regiao de turismo da serra do marao que é onde fica Vila Real.

 

Espero ter ajudado e não hesites em conhecer os locais dos teus familiares! [:)]

 

Abraços.

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  • Membros de Honra

TUNÍSIA - DIA 5

 

Começámos o dia com uma passagem por uma montanhas perto de Matmata onde se distinguiam algumas árvores que davam um aspecto menos monótono à paisagem; dali viam-se montes que ondulavam até se perderem de vista, com um ou outro oásis pelo meio. Nesta região encontrámos habitações curiosas, tendo algumas sido usadas para o famoso filme "Star Wars". As habitações encontram-se escavadas na rocha e o acesso faz-se pelo meio de túneis através dos quais as várias divisões de uma casa comunicam entre si. As portas são meros buracos feitos nas rochas e as divisões apesar das paredes serem feitas de rocha pura, são bastante acolhedoras e nada frias. Numa das casas que visitámos, transformada em hotel, ainda podemos encontrar adereços do filme, esquecidos quer nas portas, quer no largo da casa; largo esse que é a céu aberto, podendo quem passa espreitar e ver o que acontece na casa. As habitações são uma camuflagem natural, passando despercebidas a quem passa, o que evita muitos dissabores. É preciso ter cuidado pois os largos a céu aberto, são armadilhas para quem anda no cimo do monte, já que tendo ali uma queda, a pessoa não fica muito bem tratada. No entanto, tendo os cuidados normais em qualquer passeio, estas casas tornam-se verdadeiras preciosidades, pois são algo completamente diferente ao que estamos habituados a ver e mostram a tenacidade de um povo que face à aridez do clima, não desiste de lutar pela sua sobrevivência.

A parte da tarde foi ocupada com uma curta visita à ilha de Djerba. Esta ilha vale bem uma visita, pois fica a poucos minutos de barco e apresenta águas de um verde esmeralda que faz inveja a muitos locais mais famosos. Foi muito agradável estar à beira-mar e deixar que alguns pingos de chuva nos refrescassem, para logo a seguir o sol dizer presente e voltar a pôr uma tonalidade verde esmeralda na água; água esta bastante morna que para mim que estou habituado às aguas frias do Norte de Portugal, foi uma novidade completa. Escusado será dizer que não saí da água o resto da tarde!

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  • Membros de Honra

TUNÍSIA - DIA 6

 

No penúltimo dia fomos caminhando para norte pois a hora do regresso estava a chegar. Passámos por Sfax onde existe uma medina um pouco diferente das outras onde estivemos. Apesar das características físicas serem idênticas às outras, aqui os preços são fixos e os vendedores não gostam muito de discuti-los!

Como não gosto muito de compras, resolvi dar umas voltas pela medina. Começámos pela zona da entrada da mesquita, a abarrotar de gente, tudo vendedores e compradores de telemóveis que se deliciavam com as maravilhas que estes pequenos companheiros podem fazer. Continuámos por zonas com menos gente até chegarmos a um local onde não se via ninguém. As ruas são autênticos labirintos e acredito que só quem ali mora consegue andar à vontade, sem se perder. Resolvemos ir para a entrada da medina, mas por um outro caminho sem ser aquele por onde tínhamos vindo. Só que após 10 minutos a andarmos pelas ruas que pareciam cópias umas das outras, sem darmos com uma que nos levasse à saída, tivemos de desistir do nosso propósito e voltar para trás. O que não foi nada fácil pois ninguém tinha fixado o caminho. Valeu-nos o minarete da mesquita que nos serviu de ponto de referência; mas ainda assim, apesar de nos parecer estarmos próximos da mesma, não foi fácil lá chegar; parecia que os caminhos se multiplicavam para impedir que lá chegássemos.

Felizes por termos andado perdidos e não termos sido raptados, retomámos caminho, desta vez para o coliseu romano de "El Jem". Este coliseu é uma obra-prima deixada pelos romanos, só comparável ao coliseu de Roma. Logo à entrada impressiona pela sua grandiosidade; e o facto de estar relativamente bem conservado, permite-nos ter uma ideia global de como seria nos seus tempos áureos. Perdemos cerca de uma hora e meia lá dentro pois quisemos conhecer todos os cantos à "casa". Sentamo-nos nas bancadas como os espectadores de antigamente, estivemos na arena como os antigos gladiadores e ainda fomos visitar as catacumbas. Ali dentro sentimo-nos uns verdadeiros "Indiana Jones"; passeámos pelos corredores de todos os pisos, metemos o nariz nos locais onde só havia pedras espalhadas pelo chão, creio que não nos escapou nada. Para quem gostar de antiguidades, recomendo este coliseu como algo imperdível. Ali, perdemos a noção do tempo; não fosse dar-mos de cara com uns japoneses, o que nos fez regressar ao mundo real, e tínhamos esquecido a camioneta que nos levaria mais para norte, desta vez para a cidade costeira de Sousse.

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  • 3 semanas depois...
  • Membros de Honra

Caros amigos,

Desculpem esta ausencia mas estive de férias! regressei na quarta feira do vosso espectacular país! Desta forma acabo agora aquilo que comecei.

O relato da minha viagem ao Brasil será relatada aqui, assim que organizar tudo no trabalho.

 

 

TUNÍSIA - 7º E ÚLTIMO DIA

 

O último dia foi de descanso; ainda demos uma volta pela parte antiga de Sousse, onde no porto se encontram várias embarcações de estilo antigo restauradas, que todos os dias levam para o alto mar, em passeio, vários turistas, ávidos de experimentarem algo diferente.

Perto do porto encontra-se uma fortaleza e a Medina, onde se podem fazer as últimas compras. No entanto, deixámo-nos ficar por ali, vendo a noite tomar conta do local.

Na dia seguinte, bem cedo, demos os últimos mergulhos nas águas mornas da Tunísia; aqui em Sousse, o mar não tem uma cor tão apelativa, fruto da "vegetação" marinha que abunda por aqui. Mas mesmo assim é impossível resistir ao chamamento da água. Para quem tem água a 14º no local onde vive, é difícil não dar uns mergulhos. Pensávamos que íamos ser os únicos àquela hora da manhã mas já se viam madrugadores que aproveitavam a calma do início do dia para fazerem um pouco de ginástica ou para passearem calmamente sem a turba de turistas e vendedores que por ali deambulam durante o dia.

O resto do tempo foi bastante agradável com várias turistas a fazerem uso do fio dental de maneira que nem parecia que estávamos num país muçulmano! Foi bom regressarmos ao ocidente!!!

No entanto à medida que o tempo ia passando, íamos ficando cada vez mais silenciosos, aproveitando os últimos momentos para relembrarmos na nossa mente os momentos vividos neste país com paisagens estonteantes.

Conclusão: gostei e voltarei um dia para conhecer o deserto e a ilha de Djerba mais em pormenor.

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