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Prado a Porto Seguro


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01 de janeiro de 1996.

 

Acordamos e fomos para a praia. Aproveitei até para dar uma corridinha, aproveitando para paquerar as meninas que passavam.

 

A Fabi falou que ia dar um pulo na barraca e já voltava. Eu e o Piloto ficamos lagarteando lá na praia.

 

Eu quase dormindo quando, de repente, ouço uns berros: "Cuidado, que o jegue vai passar em cima do homi!" Abro os olhos e o homi era eu! O jegue passou e quase pisou em mim, bandido! Pois é, acabei dormindo mesmo. E só acordei quase três da tarde. Imagine só, eu, branquinho, branquinho, deitado ao sol da Bahia, das dez da manhã às três da tarde... Quase tive uma insolação.

 

À noite, jantamos na padaria. Caraívas, coitada, estava em colapso. Não tinha mais água mineral, a padaria só tinha um tipo de lanche (não lembro se era o de queijo ou de presunto), os mercadinhos não tinham mais frutas. A situação só ia melhorar lá para o dia quatro ou cinco de janeiro, quando chegassem os mantimentos de Porto Seguro.

 

Fomos depois até a casa da Cissa para nos despedirmos dela, pois iríamos embora no dia seguinte. A Cissa ficaria ali mais um tempo, esperando pela lua cheia. Ela tem umas dessas coisas de rituais com a lua.

 

Cinco da matina, já estávamos em pé. A Fabi aloprou. Não agüentava mais ficar andando e carregando mochila e deciciu ir de ônibus para Porto Seguro.

 

Fomos com ela até o outro lado do rio, onde parava o ônibus. Esse outro lado do rio é uma balbúrdia, porque a estrada termina ali. Todo mundo que vai de carro até Caraívas, deixa ele ali. São quilômetros de fila nas laterais da estrada. Uma bagunça quando alguém resolve sair ou fazer uma manobra.

 

A Fabi embarcou no ônibus e eu e o Piloto voltamos para desmontar a barraca e partir.

 

Sem a Fabi, aí virou programa de índio de vez. Só, nós dois andando feito dois condenados, ninguém querendo falar que estava cansado.

 

Além do rio Caraívas, tivemos que passar por dois outros. Como eram maiorzinhos, tivemos que apelar para a molecada da canoa. Claro que não pagamos em dinheiro; eles aceitaram alguns chocolates e M&M, que a essa altura do campeonato, depois de mais de uma semana no sol da Bahia, não estavam lá muito convidativos.

 

De Caraívas para frente, o relevo era marcado por falésias de uns trinta metros de altura, bem próximas da praia.

 

A primeira praia depois de Caraívas é a do Espelho. Tinha umas poucas pessoas lá e duas mansões. Ficamos lá um tempinho e seguimos em frente.

 

Chegou uma hora que a falésia fechou a praia. Tivemos que pegar uma trilha de uns quarenta minutos para sairmos do outro lado.

 

Ali começava a Praia de Curuípe. Era bem grande e no fim havia um barzinho bem legal, com um pessoal animado. Não era para menos; tinha umas meninas lindas, lindas, de top less, na praia.

 

William-Adolphe_Bouguereau_1825-190.jpg

As sílfides tentando nos demover de nossos propósitos mais elevados

 

Como bons janízaros, ficamos ali só um tempinho e seguimos em frente.

 

Aí começou a furada. Logo depois de Curuípe, havia um hotel. E com uma cerca. Terminou o hotel e começou uma fazenda, também com cerca. O problema é que essa cerca já ficava na areia. Assim não ficava uma única árvore para nós sentarmos debaixo e descansar um pouco à sombra. Certa estava a Fabi em ter ido de ônibus.

 

Enfim, um coqueiro deu mole para fora das cercas. O Piloto trepou nele para conseguir a nossa salvação e descobriu que não basta querer, tem que saber. Tirar côcos do pé exige uma técnica apurada, que não constava no nosso rol de habilidades. Ao custo de muito suor, o Piloto ficou pendurado quase de cabeça para baixo, dando violentas facadas nos pobres côcos. Eu não sabia de quem eu devia ter pena: se dos côcos que estavam sendo brutalmente assassinados ou do inumano esforço que o Piloto estava fazendo.

 

Mas não é só isso; depois de derrubados, vinha a segunda parte da epopéia: abrir os côcos com uma faquinha de meio palmo de lâmina. No fim, gastamos toda a energia que íamos recuperar com a água dos côcos.

 

E a fazenda era grande. Grande mesmo. Mas, como nenhum sofrimento é eterno, uma hora ela acabou. E começou outra! Pelo menos, essa não tinha cerca de arame. Tinha uma cerca viva. Nessa praia, tinham duas menininhas brincando, que fugiram correndo quando viram a gente. Acho que estávamos meio com cara de tarados...

 

Nessa hora, bateu o arrependimento de não termos parado lá em Curuípe mesmo. O barzinho, as sílfides de top less e a gente andando há duas horas, sem ter nenhuma sombra para parar. Quase que voltamos, mas já estava muito longe.

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Andamos mais ainda e chegamos ao Rio do Frade. Passamos o rio de canoa - o cara nos levou de graça, por que lá não era um local de turistas - e chegamos num lugar muito, muito lindo. Parecia propaganda do Prestígio: o mar, a areia e os coqueiros. Quilômetros (literalmente) de coqueiros e mais coqueiros.

 

Havia apenas uma casa nessa praia, a do Seu Olegário, que nos deixou acampar próximos da casa dele. Além dele e da esposa, estava também na praia um casal. O homem era alemão e a mulher, brasileira e tinham vindo de Trancoso de bicicleta. Disseram que ficava a quinze quilômetros dali. Isso significava que tínhamos andado vinte quilômetros desde Caraívas e onze desde Curuípe.

 

Tomamos banho no rio (água doce!) e fomos montar a barraca. Deviam ser umas cinco da tarde. Raciocinamos um pouco e montamos a barraca do avesso. Dessa maneira, a parte prateada, que tinha a finalidade de não deixar o calor escapar, ficou para fora. Ficou parecendo a Priscila, a rainha do deserto, mas não esquentou tanto.

 

Passamos um tempão ouvindo as lorotas do Seu Olegário. Acho que ele nos deixou acampar lá para ter com quem conversar. Disse até que já ofereceram para ele não sei quantos milhões de dólares para construírem um condomínio ali na Praia do Frade, mas ele não quis, para não destruírem a paisagem.

 

Depois dessa, tivemos que ir jantar. E foi o melhor até então. Teve até marshmallow assado na fogueira de sobremesa! Comemos no mato, mas não perdemos a classe, como diria a Fabi.

 

Na manhã seguinte, antes de partimos, pegamos, com ajuda do Seu Olegário (que conhece a técnica e tem as ferramentas), um monte de côcos. Tanto que enchemos meu cantil de cinco litros só com a água deles.

 

E partimos da praia mais bonita da nossa viagem.

 

Depois da Barra do Rio do Frade, ficam as praias de Itaquena, os points de nudismo da galera.

 

Andamos uns cinco quilômetros até topar com a primeira pelada. E estava de moto ainda. Pensei até que fosse a Godiva do Irajá. Mas, logo atrás vinha o maridão e o filhinho, todos devidamente sem roupa e de moto. Descansamos um pouquinho e seguimos em frente.

 

Já próximo de Trancoso, virou uma festa; todo mundo pelado. Pelado e feio, diga-se de passagem. Nenhuma lolitinha...

 

Paramos por ali, decentemente trajados, e ficamos fingindo que estávamos mergulhando (deu até para ver uns corais) até umas duas da tarde. Como a maré estava subindo e ia ficar cada vez mais difícil andar na praia (e depois de me convencer que definitivamente não ia passar nenhuma ninfetinha pelada), fomos para Trancoso.

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Trancoso é o lugar mais cool de todo o sul da Bahia. Vira e mexe, tem um monte de gente famosa por lá. O legal de Trancoso, além das praias, é a praça central da cidade, chamada de Quadrado. Lá ficam os bares, restaurantes, pousadas, a galera que vende artesanato, os hippies, o povo que joga vôlei, os que jogam futebol, a galera cabeça que pinta e escreve poesias e os que não fazem nada disso e vão lá ver os outros fazerem (que era o nosso caso).

 

Entrando no Quadrado, perguntamos para um bicho-grilo que vendia uns artesanatos de arame se ele conhecia uma pousada boa. Claro que ele conhecia. Era a melhor do Quadrado, com preços baixos, comida boa, quartos confortáveis. E, ainda por cima, a dona da pousada era a mãe dele.

 

Andamos mais um pouco até que o Piloto achou a pousada mais descolada da face da Terra. Era a "Sol da Manhã". Os donos da pousada eram um holandês e uma brasileira, que tinham três filhos, que atendiam pelos singelos nomes de Sol, Manhã e Estrela. Desse povo todo, só estava lá a Estrela, uma menininha linda de uns dez aninhos. Quem cuidava da pousada era a Adelise e uma índia pataxó de uns trezentos anos, que eu não me lembro do nome.

 

Os quartos nem cama tinham, eram só os colchões com mosquiteiros em cima. Deixamos lá nossas coisas e fomos almoçar no Quadrado. Bolachas com patê e Tang.

 

Demos um rolê pela vila e encontramos o segundo telefone da viagem. Dessa vez, encarei a fila e consegui ligar para casa. Minha mãe já estava tensa; há oito dias que não tinha notícias minhas. Aproveitamos também para comprar as nossas passagens de volta para Sampa. Claro que o ônibus não sairia dali, mas de Porto Seguro.

 

Sentamos de novo no Quadrado e ficamos observando as figuras raras que desfilavam por lá, com toda a sua languidez baiana. Bem ao nosso lado, tinham dois hippies, um com uma flauta e o outro com um violão, discutindo teorias musicais: "Aí, você vai entrar, mas não tão forte, é mais ou menos como um bolero sincopado"...

 

O jantar foi na Pousada. Miojo, óbvio.

 

Conhecemos o restante do pessoal que estava hospedado lá: os dois Rodrigos que estavam no mesmo quarto que a gente, e mais três meninas do Rio, a Marina, a Cláudia e a Giana. A Marina é filha do Sérgio Ricardo. Ele falou isso como se todo mundo soubesse quem era o tal, mas ficou um silêncio meio constrangedor porque ninguém sabia. Depois que contaram a história dele, eu até lembrei. O Sérgio Ricardo é aquele cantor que aloprou no meio de um daqueles festivais da Record em mil novecentos e bolinha e jogou o violão em cima da galera. Depois de um mico desses, não sei se ficava contando para todo mundo que ele era meu pai.

 

Vexames à parte, ela ficou contando suas aventuras com o Chico Buarque e outras figuras da MPB.

 

Subi para o quarto para fazer não sei o que e topei com o inseto, se é que era inseto, mais bizarro que eu já vi. Depois de porradas, facadas, tênis, panelas, travesseiros e tudo o mais que pudesse ser jogado voar por cima dele, ele morreu. A Marina disse que devia ser um caranguejo-barata. Eu acho que estava mais para caranguejo do que para barata, se bem que caranguejo não voa.

 

Mais à noite, saímos com as meninas e com os Rodrigos.

 

No dia seguinte, depois do café, fomos para praia. As meninas foram com a gente, mas voltaram cedo, porque já estavam de partida. Da praia, demos um pulo no tal do Rio Verde, que falaram que era legal, mas que eu não gostei muito.

 

Não lembro o quê ou se almoçamos. À tarde, ficamos sem fazer nada no Quadrado.

 

Jantamos na pousada e saímos com o Rodrigo mineiro (o carioca já tinha partido também). Era a noite da lua cheia e ia rolar lá em Trancoso uma rave daquelas. Aliás, não era só lá. Toda o pessoal do sul da Bahia (a Cissa aí incluída) estava aguardando a lua cheia.

 

O Rodrigo nos incentivou a ir à festa. Disse que ele mesmo não ia porque já tinha ido numa outra e viu tanta coisa que chegou uma hora que ele já estava "desvendo". Que viagem! Agradecemos o convite, mas, como bons meninos, fomos dormir cedo.

 

No dia seguinte, acordamos, tomamos o café (Granola com iogurte caseiro, muito bom!), acertamos nossas contas com a Adelise (reza a lenda que a índia velha saca sua borduna e corre atrás de quem não paga) e partimos também.

 

Saindo de Trancoso, cruzamos dois rios, o Trancoso e o da Barra, ambos a pé e com a mochila na cabeça.

 

Duas horas e meia de caminhada e chegamos à primeira praia movimentada. Paramos à sombra de um quiosque da Kibon abandonado e aproveitamos um pouco a praia.

 

Mais quarenta minutos andando e chegamos a Arraial d'Ajuda.

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Arraial já é totalmente civilizada. Aliás, é civilizada até demais. A praia é cheia de barzinhos e toda suja.

 

Para chegar à cidade, a última provação: uma enorme ladeira. Subindo, o Piloto até encontrou um cara que estudava francês com ele.

 

Chegamos e começamos a procurar um lugar para ficar. O bom é que a cidade, além das pousadas, é cheias de campings; todo mundo que tem um quintal grande monta um.

 

Dessa vez o Piloto que saiu para procurar primeiro. Pôs a sua camiseta da sorte e eu fiquei na praça, cuidando das mochilas.

 

O Piloto foi em um que não gostou; disse que o santo não bateu. Agora o segundo que ele viu foi excelente: um lugar massa, com sombra, bon marché, dentro de um convento de freiras carmelitas. Segundo os experts, as carmelitas é que são as mais fogosas. Que idéia, montar um convento em Arraial d'Ajuda...

 

Melhor ainda, na barraca ao nosso lado estavam duas loiras criadas no Toddy. Eu, como profundo conhecedor do assunto, chutei que eram de Santa Catarina.

 

Almoçamos torradas com patê de salmão (estamos no mato, mas não perdemos a classe, como diria a Fabi) e fomos dar um rolê pela cidade. Compramos e escrevemos postais e fomos para a praia.

 

Na praia, sentamos num barzinho. Uma coroa de Belo Horizonte veio puxar papo conosco. O Piloto percebeu que ela estava nos usando sexualmente, para fazer ciúmes para o dono do bar, com quem ela estava conversando antes. Chegamos ao um consenso que, com a fome e a falta de dinheiro que estávamos, até venderíamos nossos corpos jovens por uma Coca-Cola. Só que não deu certo. A coroa queria ação e o dono do bar queria ficar olhando a lua.

 

Continuamos o papo com a coroa. Era daquelas que vêm de avião para Porto Seguro e de táxi para Arraial. E estava na pousada mais cara da cidade. Continuamos enrolando a dita-cuja, só que nem um jantar ela ofereceu.

 

Voltamos para o camping. O jantar se resumiu a capuccino com uns restos de torrada e o que sobrou do patê.

 

Fomos falar com as loiras. Eram a Rosita e a Daniela, as duas de Blumenau - acertei! Sou bom nisso. Ficamos um tempão falando com elas e, já bem tarde, saímos.

 

Demos umas voltas pela cidade, vimos um cara que também estava acampado lá no convento tocando em um bar e paramos na Broadway. Essa rua é o point de Arraial, para onde vai todo mundo que quer ver e ser visto. O Piloto tomou um capeta e eu fiquei no sorvete mesmo. Ficamos batendo um papo filosófico até tarde da noite.

 

Voltamos para o Convento. A Rosita e a Dani já tinham dormido. Bah! Fiquei ainda um tempo acordado escrevendo essas coisas que vocês estão lendo agora, dez anos depois, mas o Piloto desmaiou.

 

No dia seguinte, fomos acordados da maneira mais pitoresca dessa viagem: com os grunhidos e sussurros do cantor do bar e da namorada dele que estavam fazendo sabe-se lá o quê dentro da barraca.

 

Acertamos nossas contas e partimos, decepcionados com as carmelitas, que nem deram o ar de sua graça. Estávamos com um problema muito sério: nosso dinheiro e nossa comida estavam acabando.

 

Dessa vez teríamos que desvirtuar a nossa empreitada. Para chegar a Porto Seguro, teríamos que apanhar uma balsa, e só dá para chegar até ela pela estrada e não pela praia.

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Quatro quilômetros de estrada e chegamos à balsa. Atravessamos para o outro lado e enfim Porto Seguro! Prado estava há dez dias e cento e cinqüenta e cinco quilômetros de distância. Fizemos cinqüenta e quatro quilômetros de barco e cento e um a pé.

 

Chegando em Porto Seguro, telefonamos para o Albergue da Juventude de lá. Havíamos combinado de encontrar a Denise, a Fabi e a Cris lá. Só que elas não estavam. Só pegamos o endereço. Era do outro lado da cidade! Bem que podia ser mais perto...

 

Mas, o que é uma chaga a mais para um lazarento? Fomos andando e aproveitamos para conhecer a cidade. Não sei o que o povo vê em Porto Seguro. A cidade é feia e suja, a praia é mais suja ainda. Para todo lado só se vê turistas com camisetas do tipo "estive em Porto Seguro e lembrei de você", com algum desenho obsceno nas costas.

 

Lá foi o primeiro lugar que eu vi aqueles orelhões temáticos. Os de lá eram em forma de berimbau ou de coqueiro. Havia pelas ruas também as baianas vendendo acarajés que não inspiravam a mínima confiança; não serviam nem para experimentar por curiosidade antropológica.

 

Conseguimos chegar ao Albergue. Parecia mais um hotel, todo arrumadinho e cheio de formalidades. Tinha horário para isso e para aquilo, tinha uma fitinha para amarrar no braço para o segurança nos deixar entrar, tinha andares separados para homens e mulheres. Não tinha cozinha, mas tinha uma cantina meio cara para um albergue da juventude. Os outros albergues que eu conhecia eram um pouco mais bagunçados, o que dá um ar mais "da juventude", mas nem sempre é uma vantagem. Ficamos lá mesmo. As meninas tinham ido para a praia, menos a Fabi, que já tinha voltado para Sampa. Uma pena; queríamos tê-la encontrado, para contar as aventuras desde que tínhamos nos separado, em Caraívas.

 

Deixamos nossas coisas no quarto (que tinha até telefone!) e saímos para almoçar. Procuramos por um PF bem grande e barato, daqueles de caminhoneiro mesmo. Demorou, mas encontramos. Enquanto comíamos, discutimos sobre como existiam lugares bem arrumados e que não tinham o mínimo charme (o Albergue de Porto Seguro), lugares bem simples, mas super legais (a Pousada Sol da Manhã, em Trancoso) e lugares muito simples, feios, sem charme nenhum e com comida ruim (o lugar onde estávamos). Para se ter uma idéia, não tinha nem Coca-Cola; só Crush.

 

A próxima dificuldade foi encontrar o caminho de volta para o Albergue. Quan­do achamos, as meninas não tinham chegado ainda. Fomos para o quarto e na falta de algo melhor para fazer, ficamos falando com as meninas do quarto de cima pelo telefone. O Piloto ligou e disse que era o "Louco por Lee", vê se pode uma coisa dessas! Aproveitamos também para dar uma passada na parte histórica da cidade, que fica bem em frente ao Albergue.

 

Lá pelas três ou quatro da tarde, a Denise e Cris chegaram. A Cris era a troncudinha amiga de faculdade da Denise, que a gente conhecia de nome, mas não sabia como era a cara. E era aniversário dela. Parabéns!

 

Pusemos em dia as nossas histórias e elas nos apresentaram um cara que conheceram por lá. Era um oficial temporário de Material Bélico que dizia que a única utilidade dele ser oficial do Exército era poder entrar nas baladas sem pagar! Isso revolta quem tinha acabado de se formar depois de quatro anos de ralação na Academia Militar.

 

À noite, as meninas levaram a gente para conhecer a cidade. O point de lá é a tal da passarela do álcool, a avenida principal da cidade que, à noite, vira uma Sodoma e Gomorra. Andamos para lá e para cá, sem parar em lugar nenhum. As meninas ainda encararam uma boate, mas nós, sem grana nenhuma, voltamos para o Albergue.

 

No dia seguinte, as meninas acordaram antes da gente. Tomamos o café e fomos para praia do Virasol.

 

A praia era longe, mas com a Denise e seus atributos, conseguimos carona rapidinho.

 

Como eu já falei, as praias de Porto Seguro não são as mais bonitas. O povo vai para lá por causa de festa que fazem. Virasol não era diferente. Tem até um palco na praia.

 

O que estava mais na moda era a música do Tchan, que tinha sido lançada ali mesmo. Mas tocavam também a Dança da Garrafa, o Rala-Pinto e outras obscenidades do mesmo calibre. E o povo ainda subia no palco para dançar! Eu não nasci para isso.

 

Os garçons dos bares fazem um show à parte, cada um berrando e batendo nas bandejas mais que o outro.

 

Voltamos de lá já tarde e fomos almoçar só às cinco da tarde. Almoçamos num restaurante self-service por quilo, ao lado do Albergue, que dava desconto para quem estava hospedado lá.

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Nessa noite foi o nosso dia de fazer o programa. Levamos as meninas para o centro histórico, subimos uma enorme escadaria e ficamos na mureta da igreja mais alta para ver a lua cheia nascer e falar para elas coisas da terra, do céu e do mar.

 

Voltamos para o Albergue e fomos fazer a gororoba de despedida; elas iriam embora no dia seguinte.

 

Aí começaram os problemas que acabam com a noite de qualquer um. Nossa idéia era fazer o jantar e comer na beira piscina do Albergue. Só que a piscina fechava as oito da noite. Fomos falar com a Telma, a mãe do Albergue. Ela não deixou. Não que quiséssemos fazer uma suruba no Albergue, mas não podíamos entrar no andar das meninas nem para chamá-las para sair.

 

Voltando ao problema do jantar na beira da piscina, argumentamos filosoficamente, enfocando a nossa liberdade enquanto seres humanos e a total falta de propósito de se fechar a piscina a partir das oito da noite. Mas não deu certo.

 

Who dares, wins. Resolvemos fazer o jantar no nosso quarto. Porém surgiram outros dois problemas: como levar a comida para o quarto (era proibido comer nos quartos) e como levar as meninas para lá. O primeiro nós resolvemos, o segundo, deixamos elas se virarem um pouco também.

 

Usar a precária cozinha do Albergue foi a única concessão que conseguimos da Telma. Havia uma pequena janela que dava num banheiro. Eu fiquei com as panelas no fogão e o Piloto, fingindo uma VRC (vontade repentina de cagar), entrou no banheiro, com mochila e tudo. Eu, mais do que esperto, passei as panelas para ele pela janelinha e ele as levou para o quarto. O problema é que na mochila não cabiam todas e ele teve que voltar ao banheiro umas três vezes em dez minutos, sempre com a mochila. Simples e discreto.

 

Passadas todas as panelas, saí da cozinha com a minha rematada cara-de-pau e fui para o quarto também. Arrumamos as coisas e interfonamos para as gurias. O cardápio da noite constava de arroz, strogonoff de frango, salada e Tang. Para dar um ar mais rústico ao evento, o jantar era no chão mesmo forrado com uma manta de velame de pára-quedas, iluminado com um lampiãozinho de vela de citronela e o suco estava no cantil prateado de cinco litros. E elas gostaram ainda.

 

Depois do jantar, ainda demos uma saidinha. Fomos ao bar do Cabral, um bar de portugueses, como sugere o nome.

 

No dia seguinte, logo cedo, partia o ônibus das meninas. Elas iam ainda para Cumuruxatiba. Levamo-las até a Rodoviária e voltamos para o Albergue. Nosso ônibus era só à tarde. Ficamos lá naquela situação pastosa, sem nada para fazer até a hora de partirmos.

 

A volta de vinte e quatro horas de ônibus nem merece ser contada.

 

Assim terminava o maior programa de índio que eu fiz até agora.

 

Valeu a pena?

Tudo vale a pena,

Se a alma não é pequena.

Quem quere passar além do Bojador,

Tem que passar além da dor.

Deus, ao mar, o perigo e o abysmo deu,

Mas nelle espelhou o céu.

 

F.P.

 

F I M

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