Ir para conteúdo

Na contramão dos muçulmanos, 'Cidade do Lixo'


MariaEmilia

Posts Recomendados

  • Membros de Honra

:arrow: Esporte / UOL

http://esporte.uol.com.br/futebol/campeonatos/mundial-sub-20/ultimas-noticias/2009/10/05/ult8451u52.jhtm

 

[align=justify]Na contramão dos muçulmanos, 'Cidade do Lixo' fica fora da festa do Mundial

 

Uma vida no lixo. As crianças brincam em montanhas de entulho, e as mulheres dormem sobre restos de sujeira com odores repugnantes. Estes são os costumes dos Zabaleen, comunidade cristã responsável pela coleta dos detritos no Cairo. Em tempos de euforia pelo Mundial sub-20, a "Cidade do Lixo", lar dos catadores, vê o torneio com uma perspectiva bem diferente e se afasta da animação dos demais egípcios em torno do evento.

 

À MARGEM DO MUNDIAL

cidade_lixo1.jpg.e28fd071aebd826fc204bb013f5ae318.jpg

 

cidade_lixo2.jpg.522f56525f9f3a97a918a6c499951328.jpg

 

 

Enquanto a maioria muçulmana do país segue empolgada e lota os estádios para assistir à seleção local, os Zabaleens não saem de sua rotina na sujeira. No discurso, todos dizem ser grandes fãs do futebol. Mas na prática os guardiões do lixo do Cairo ficam à margem do que acontece dentro das quatro linhas e do campeonato em geral. A ordem dentro da comunidade é seguir com a coleta e não desviar o foco do trabalho.

 

Localizada na base das montanhas de Moqatam, nos arredores da capital do Egito, a "Cidade do Lixo" concentra grande parte dos 400 mil Zabaleens. A 20 minutos de distância do Estádio Internacional do Cairo, os catadores levam uma vida fechada, sem grande interferência de visitantes.

 

Mercadoria valiosa para os catadores, o lixo integra todos os momentos da vida dos Zabaleens. Serve como brinquedo para os mais novos, como decoração das casas, como alimento para os animais. E, é claro, como a principal fonte de renda da população.

 

Mas as condições precárias e o estilo de vida chocante para a maioria não são vistos como algo ruim pelos Zabaleens. Muito pelo contrário. É sua identidade e é desta maneira que eles gostam de viver. Tanto, que até mesmo aqueles que prosperam com o lixo não deixam a comunidade por nada e não hesitam ao desfilar seus carros importados e outros pertences no meio da pobreza dos demais.

 

Esse estilo recluso se espalha para os outros setores da vida dos lixeiros. E é justamente por isso que eles seguem sem interesse pelo Mundial sub-20, na contramão dos demais egípcios. Apesar de também gostarem do futebol, os Zabaleens preferem seguir fechados em seu mundo, sem dar importância ao torneio disputado a alguns quilômetros de sua cidade.

 

"A maioria das pessoas daqui não sabe muito de futebol. Elas dizem que gostam, mas são um povo ignorante. Só querem saber de lixo. No máximo, conhecem um jogador ou outro da Europa, mas não sabem o que acontece no esporte. O Mundial não é nada para a maioria do povo daqui", revelou Adel Sawares, um dos Zabaleens que enriqueceu com a reciclagem.

 

MAIS SOBRE OS ZABALEEN

 

cidade_lixo3.jpg.4d03273865ebf59436c47770f6cd3053.jpg

 

cidade_lixo4.jpg.7e38f5bd357eea136fbed1db97faf147.jpg

 

cidade_lixo5.jpg.d0bed5469b794d1bc0873b89f6fdce53.jpg

 

De fato, os "cristãos do lixo" não têm muito tempo para se desviar de suas funções diárias. Bem cedo pela manhã, os catadores saem para as ruas do Cairo e começam a coleta. Depois, retornam à sua cidade para iniciar a divisão do material e a reciclagem.

 

"Não sobra tempo para acompanhar futebol. Meu marido bem que tenta, mas acaba não se empolgando. Senão, não temos como nos manter. Vida com lixo é assim", ressaltou Aida Raouf, enquanto aguardava o esposo retornar da coleta.

 

"Quando era mais jovem tentava acompanhar o futebol de perto, mas fui desistindo com o tempo. Com todo mundo por aqui acontece isso. Aposto que boa parte de nós nem sabe que está acontecendo esse negócio [Mundial sub-20]", completou um porteiro de garagem de 80 anos, que recusou veementemente dizer seu nome com receio da exposição.

 

Problemas com o governo

 

Atualmente, os Zabaleens vivem um momento de grande turbulência com o governo egípcio. O problema ganhou repercussão meses atrás quando os líderes políticos ordenaram o sacrifício de todos os porcos do país para conter o surto da Gripe A (H1N1), mesmo com o alerta da Organização Mundial da Saúde (OMS) de que os animais não transmitiam a doença aos humanos.

 

O caso gerou grande polêmica e protestos em várias partes do mundo. Após as críticas, o governo mudou o discurso e afirmou que as ações foram implantadas como medida de higiene para melhorar o estilo de vida dos Zabaleens.

 

O grupo cristão, maior criador dos animais no país, rebateu duramente o sacrifício e destacou que esta foi apenas uma desculpa para acabar com os porcos. Vale lembrar que os muçulmanos não consomem a carne de porco em sua dieta.

 

Em resposta à medida, os Zabaleens pararam com a coleta de lixo orgânico, que antes servia para alimentar os porcos. Como resultado, as ruas do Cairo ficaram com grande acúmulo de sujeira e sobras de alimentos espalhadas pela rua, pois o governo ainda não conseguiu encontrar um sistema de coleta eficiente como o dos lixeiros cristãos.

 

Rodrigo Farah

No Cairo (Egito)[/align]

Link para o comentário
Visitante
Este tópico está impedido de receber novos posts.
×
×
  • Criar Novo...