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Mochilão pela Bolívia (09/07 a 31/07 - tempo real)


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Boa tarde.

Parto amanhã pra Campo Grande em minha primeira viagem sozinha e primeira internacional.

Foram 6 meses de idealização e planejamento.

 

Criei um blog que pretendo atualizar todas as noites, com informações e fotos.

 

A quem se interessar o link é esse: https://tatuviajante.wordpress.com

 

Mas o relato do dia a dia (imagens só posteriormente), colarei nessa postagem do fórum.

 

Quaisquer opiniões, dicas, sugestões são super bem-vindas.

 

Abraços.

 

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Dia 1 – Campo Grande / MS (07/07)

 

Acordei às 7h30, porque minha vó me chamou. Não fosse por ela, eu teria perdido meu vôo que era às 9h40. Eu não sou a pessoa que mais ama acordar cedo, e acordar sozinha, então, impossível. Obrigada, vovó! ❤

 

Porém, por ter acordado no pulo, joguei de qualquer jeito dentro da mala as coisas que ainda estavam faltando, me troquei correndo, engoli meia xícara de café preto e o táxi já chegou na porta de casa. Mal deu pra me despedir direito da Ana (minha filha) e da dona Marina (minha avó).

 

Optei pelo táxi, pois o trânsito costuma ser intenso na região onde moro, e o Uber não poderia pegar a faixa de ônibus.

 

Cheguei ao aeroporto com uma boa folga, mas minha sorte foi ter feito o check-in online ontem à noite, pois a fila estava enorme, principalmente por causa dessa nova regulamentação do peso das bagagens. Agora a Gol tem um serviço de despacho de bagagem express (na real, eu não sei se isso realmente é uma novidade, mas é que eu raramente despacho mala, então nunca vi/usei essa parada).

 

Na hora de pesar minha bagagem, achei que ia ficar em cima do limite mas, para minha surpresa, a minha pequena malinha só estava pesando 12kg.

 

Poucos minutos depois embarquei no avião e às 10h20 cheguei a Campo Grande.

 

Não, o vôo não durou só 40 minutos, é que o fuso horário de Campo Grande não é o mesmo de Brasília, é uma hora a menos, ou seja, em SP eram 11h20 quando eu desembarquei.

 

Saí dos 16º que estavam em SP e cheguei aos 26º do Mato Grosso do Sul. Já fui tirando as blusas e me dirigi à Anvisa.

 

Deixei pra última hora a vacina de febre amarela, que é exigida para quem vai entrar na Bolívia, e tomei na segunda-feira, mas ainda não tinha tirado o CIVP (Certificado Internacional de Vacinação ou Profilaxia) e fiquei mais de 1h esperando atendimento, pois tinha um árabe com 6 filhos, cadastrando e tirando esse mesmo certificado pra família inteira.

 

O meu atendimento não durou nem 10 minutos, pois eu já tinha feito o pré-cadastro no site da Anvisa.

 

A quem vai viajar, pfv, ajudem no atendimento dos coleguinhas e façam também o pré-cadastro.

 

Por mais que conste como “necessário”, não sei se é obrigatório pois, estou em contato com um rapaz que veio conversar comigo por causa de um fórum de mochileiros e ele tinha esquecido de tomar a vacina, entrou em desespero achando que não poderia sequer embarcar no Brasil pra Santa Cruz de la Sierra, mas foi tudo bem e tá lá sem a vacina mesmo mas, por via das dúvidas, é melhor tomar. Vai que, né?

 

Enfim, enquanto esperava o atendimento, percebi que não podia ficar zanzando pela cidade com 12 kg nas costas e tratei de fazer uma pesquisa rápida no Booking. Peguei o contato do hostel mais barato, joguei no Google, entrei em contato por Whatsapp, pedi as informações necessárias no aeroporto e fui pro ponto de ônibus.

 

Eu até pensei em chamar um Uber, mas decidi que só vou usar transporte particular em última caso, afinal, eu não tenho muito dinheiro pra ficar esbanjando, se existe transporte público.

 

Daí, veio o primeiro imprevisto: entrei no site da Andorinha, pra reservar minha passagem pra Corumbá hoje à noite e, simplesmente, não tinha mais vaga. O único horário disponível era às 7h30 de amanhã. Lá tava eu pensando no gasto que ia ter com uma hospedagem de última hora ou que teria que, já logo de cara, no primeiro dia, ir pro plano C e dormir na rodoviária.

 

Pra ajudar, nenhum ônibus de Campo Grande tem cobrador. Mas o motorista foi super gente boa comigo, entendeu minha situação, parou em uma loja de conveniência, explicou aos demais passageiros que ia me esperar comprar o bilhete, pra depois seguir viagem.

 

Achei que ia ver várias caras feias mas, pelo contrário, todo mundo levou bem de boa.

 

Desci no meu ponto (santo Google Maps), subi 100m de ladeira e dei de frente com o Hostel Vitória Régia.

 

A dona Leda me recebeu com o maior carinho, me ouviu reclamar sobre a impossibilidade de viajar pra Corumbá nessa mesma noite pois as passagens já tinham esgotado e eis que, salvadora, ligou pra uma colega que trabalha em uma agência de viagens e conseguiu uma passagem pra mim e ainda vinham entregar no hostel. O único problema era que não aceitavam cartão de crédito, mas tudo bem, só um pequeno rombo de R$130, mas como meu planejamento é gastar, no máximo, R$50 por dia e vai ter dias que eu não vou gastar praticamente nada (em Corumbá, por exemplo, e em Santa Cruz), acho que talvez não tenha sido tããão rombo assim!

 

Dona Leda me acomodou em um quarto, me apresentou o hostel, me orientou sobre algumas regras e depois me deu todas as informações que eu precisava para chegar na Av. Afonso Pena (principal avenida da cidade), onde eu já tinha pesquisado alguns lugares que queria conhecer.

 

Primeiro fui à Casa do Artesão, pra já garantir os meus souvenires de viagem (em todo lugar eu compro um imã de geladeira e um bibelô de mesa), em seguida desci pro Mercadão, onde comprei uns docinhos caseiros e “almocei” um pastel de queijo com uma bela Tubaína Funada.

 

A Tubaína Funada, apesar de ser produzida no interior de São Paulo, é um clássico aqui no Centro-Oeste, principalmente MT e MS e a primeira vez que eu experimentei foi no restaurante Sobaria, que eu, inclusive, recomendo fortemente.

 

Daí peguei o celular pra ver se o Parque das Nações Indígenas estava perto e me deparei com um centro cultural bem na rua debaixo e fui lá.

 

Com uma construção meio moderninha, meio retrô, o Memorial da Cultura Apolônio de Carvalho me surpreendeu com o conteúdo. Dentro dele uma mini exposição de fatos e fotos sobre o homem que dá nome ao centro, o Museu de Arqueologia da UFMS (MuArq) e o Museu da Imagem e do Som (MIS). Pelo conjunto da obra, nesse lugar eu senti vontade de conversar com meu tio Eduardo que, além de comunista, é historiador, arqueólogo e músico. Acho que esse seria um lugar que ele gostaria de visitar.

 

Saindo do memorial, dona Leda me mandou mensagem, avisando que o rapaz da agência ia entregar minha passagem às 16h30, e eu não tinha deixado o dinheiro com ela.

 

Passei em um mercadinho e comprei meu “jantar”: um Cup Noodles e um suco de laranja de garrafinha, fiz o caminho todo de volta, paguei o rapaz e saí novamente.

 

Dessa vez peguei um ônibus e fui até o Parque das Nações Indígenas.

 

O parque não tem nada demais, é tipo um Ibirapuera menorzinho. Me lembrou o zoológico de Goiânia. Nesse parque estão alguns museus que eu queria muito muito ter visitado mas, só durante o trajeto, pesquisando no Google, que eu vi que fechavam entre as 16h30 e 17h30.

 

Quando cheguei lá o sol já estava se pondo, mas ainda deu pra ver (e chegar pertinho) de umas capivarinhas lindas (eram muitas, mas muitas mesmo) e de ver o Monumento ao Índio:

 

Na volta pro hostel passei por uma escola que estava tendo Festa Junina e rolando, adivinha o quê? A Ana já teria um rolê pra ir hoje, se tivesse vindo comigo.

 

Emfim, Campo Grande não tem muitos atrativos, é mais uma metrópole, porém, é mais uma capital brasileira que risquei da lista.

 

Agora é tomar um banho, tomar um Dorflex (minhas costas já estão me matando) e esperar a hora de ir pra rodoviária. Amanhã de manhã chego em Corumbá / MS, fronteira com a Bolívia.

 

***

 

Gastos do dia:

 

R$32 (táxi até o aeroporto)

R$11,75 (passagens de ônibus)

R$15 (hostel – 1/2 diária)

R$10 (souvenires)

R$6 (docinhos)

R$8,50 (almoço no Mercadão)

R$8,50 (Cup Noodles + suco)

R$2,50 (garrafinha de água)

R$128 (passagem CG X Corumbá)

 

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Dia 2 - Corumbá / MS e Puerto Quijarro (BO) (08/07)

 

Entrei no ônibus Campo Grande X Corumbá ontem à noite e, pasmem, estava tocando Raça Negra. Quase meia-noite e o pagodão anos 90 rolando solto (e alto) até o ônibus dar a partida.

 

Em menos de 15 minutos, eu já estava enroladinha no meu cobertor e fechando os olhinhos. Não vi nem a hora que o ônibus parou em Miranda.

 

Quando vi, já estava em Corumbá e eram 5h10 da manhã. Me falaram que chegaríamos às 6h30 e eu já fiquei desesperada, que ia ter que pagar meia diária por ter chegado tããão mais cedo do que tinha avisado.

 

Verifiquei no mapa que era impossível ir andando até o hostel com os meus meros 12kg nas costas e, como de costume, já abri o Uber. Mas Corumbá não tem Uber! Oh, really? Como eu não pensei nisso antes, né?!

 

Pois bem, peguei um táxi. Bem na nossa frente estava uma placa enorme, com os dizeres "Não deixe o motorista partir sem ligar o taxímetro". Olhei pra placa, olhei pro taxímetro desligado, olhei pro motorista e pensei "Ah, meu, nem 6h da manhã, a rodoviária lotada, o cara vai me botar pra fora" e deixei quieto.

 

Em menos de 5 minutos estacionamos em frente ao Hostel Road Riders e lá me veio a facada: "20 reais".

 

Abri o zóião bem grande e falei: "Rapaz, não pago isso nem em São Paulo por uma corridinha dessa, mas tudo bem, né, fazer o quê?"

 

O bonito sequer me ajudou a tirar a mala do carro.

 

Pessoas que vierem a Corumbá: NÃO PEGUEM TÁXI! A cidade é super quente, mesmo de madrugada, então fiquem um pouco na rodoviária e esperem os ônibus começarem a rodar.

 

Assim que entrei no hostel fui me desculpando pelo horário e fui informada de que meu relógio estava errado. Não era 5h30, já era 6h30! De novo meu relógio estava fora do fuso horário. ¬¬

 

Me disponibilizaram um quarto, onde fiquei sozinha, pois não queria atrapalhar quem estivesse dormindo no quarto que eu realmente ia ficar.

 

Pensei em tirar um cochilinho rápido, deixei o celular carregando e, quando levantei pra ir ao banheiro, já eram 11h.

 

Abri o note pra comprar minha passagem pro Trem da Morte e, adivinhem? ESGOTADO!

 

Meu mundo caiu! Eu queria ir pra casa! Um dos momentos mais esperados por mim era o Trem da Morte! NÃÃÃOOO!!!

 

E aí apareceu um novo salvador pra mim, o David, que trabalha no hostel. Me falou pra atravessar a fronteira hoje mesmo e tentar comprar direto na Ferroviária.

 

Joguei minhas coisinhas dentro da mochila, tomei um café da manhã rápido no hostel, pedi as informações necessárias e fui até o ponto de ônibus. Depois de uns 15 minutos de espera peguei o ônibus até a fronteira Brasil X Bolívia.

 

No caminho, me senti indo a Paranapiacaba. Quem já foi, sabe qual é a sensação e a adrenalina, hahaha... O ônibus lotado, eu em pé, sendo esmagada, até o caminho era parecido: várias curvas, o motorista pisando no acelerador, mato, mato, mato e mais mato, por todos os lados.

 

Chegando na fronteira já me meti na fila de imigração, documentos na mão, coração a mil, boliviano pra cá, americano pra lá, um alemão pra cá, aquele ali parece meio árabe, caraio, um japonês...

 

Um só atendente pra umas 20 pessoas na fila, esperei quase 40 minutos pra fazer a minha saída, preenchi um papelzinho mixuruca (mas se eu perco e pedem no meio da viagem, tô fudida), andei 50m e, PÁ, tô na Bolívia, mermão!

 

Cara, não tem ninguém fiscalizando. Nessa horas a gente pensa como é fácil entrar com droga no Brasil. Eu entrei em Puerto Quijarro, ninguém me parou, ninguém me perguntou nada. Se eu quisesse sair andando, foda-se, sabe?

 

Daí já vi uma casa de câmbio, fui perguntar quanto tava valendo a troca de real por bolivianos e, mais cedo, tinha visto a cotação de hoje, 1Bs (boliviano, essa é a moeda boliviana) tava valendo em torno de R$2,10 e o cara me fez por R$2,02.

 

Eu sei lá que que foi que aconteceu.

 

Achei que ele estava me dando dinheiro falso, daí troquei só R$100, fui no vizinho comprar uma paradinha e tava tudo certo. Voltei lá e troquei o resto da grana... Milzão!

 

Sim, eu não tenho mais R$1500, tava com R$1200, mas ainda precisava pagar o hostel e comprar coisas no Brasil e precisava de reais. Por fim, acabei com 2222Bs.

 

E o medo de sair e ser assaltada? Paulista é foda, né? Desconfia de tudo e todo mundo.

 

Meti a grana dentro de um livro, coloquei com todo cuidado dentro da mochila, olhei pros lados, pra trás, pra cima e pra baixo e quando saí andando, o rapaz que me trocou o dinheiro, perguntou se eu já tinha feito a entrada.

 

Gente, pera, eu sou mochileira de primeira viagem, nunca cruzei nenhuma fronteira internacional e achei que fazendo a saída, automaticamente, ganhava a entrada.

 

Voltei pro posto de imigração, mas esse era do outro lado de ponte, depois dos 50m que andei.

 

Em uns 10 minutinhos peguei meu outro documento: o de entrada na Bolívia.

 

Tinha um posto de câmbio lá também, mas o câmbio tava bem mais alto. Uma diferença de R$0,18.

 

Eu realmente não sei como que pode uma diferença estrondosa como essa (sim, pra trocar R$1200, "só" 18 centavos é bastante. Façam as contas!

 

Saquei o celular pra ver se a ferroviária era muito longe da fronteira, e é lógico que estava sem internet, né? Vivo, a maior cobertura do Brasil."

 

BRASIL, não Bolívia. ¬¬

 

Comecei a andar, já procurando alguém pra pedir informação, e começaram a pular taxistas, oferencendo viagens. Perguntei pra um deles, que fui mais com a cara, quanto ficava até a ferroviária, e ele me saltou um "20Bs". Como já sei que na Bolívia tudo é negociável, disse: "En el hostal en Brasil me hablaran que son apenas 5Bs" (meu espanhol deve ter saído bem porco, eu tava me tremendo toda e suando frio, debaixo de um calor de 30º), e o taxista me faz a contrapoposta de 10Bs. Como não sei qual é a distância, aceitei e lá fomos nós.

 

Puerto Quijarro é uma enorme cidadezinha dos interiores do Brasil.

 

No meio da viagem descubro que é hora do almoço e as atividades da ferroviária só voltam depois das 14h30, então, ele me levaria até o Shopping China.

 

Quando chego lá, descubro que esse shopping é a parte paraguaia da Bolívia: milhares de produtos americanos, tipo, cremes da Victoria Secret's, Pringles e Coca-Cola de manga, morango e abacaxi, com preços bem baixos.

 

Eu compraria a loja inteira, mas repeti o mantra de "Não posso gastar muito".

 

Resultado: não comprei nem um agulha. :'(

 

Olhei pro relógio e era 13h30.

 

Saí andando pelo shopping, entrei em outro, outro e outro. Começou a bater aquela fominha, parei em um restaurante e me vem um "brasiviana" (inventei agora, é um neologismo para "brasileira boliviana").

 

Eu realmente não consegui distinguir se ela era brasileira ou boliviana, porque ela falava um portunhol sem sotaque aparentemente boliviano.

 

Conversamos sobre o preço, me levou até o buffet e foi dizendo o que era cada comida. Quando ela soltou um "Aqui é carne de jacaré" e continuou andando, eu pedi pra ela repetir e já coloquei uma porção no prato.

 

Eu sequer imaginava qual era o sabor daquele negócio mas, mesmo assim, eu queria experimentar!

 

Sinceramente? É igualzinho frango, só que um pouco mais adocicado.

 

Sim, carne de jacaré é doce! E é muito gostoso.

 

Meu Deus, eu comi CARNE DE JACARÉ!!! E eu devia ter registrado isso com uma foto, mas a aparência não era nada diferente de iscas de frango.

 

Já era quase 15h, então paguei (podia escolher entre pagar com reais, bolivianos ou dólares) e meti os últimos reais que me sobraram depois do câmbio.

 

Do shopping à ferroviária são 5 minutos de caminhada, então, no meio do caminho começo a escutar um bando de gente gritando uns negócios que eu não entendi bulhufas nenhuma e, quando olho pra trás, me deparo com uma pelotão de militares.

 

É lógico que eu tirei foto depois que eles já tinham passado porque, é lógico, eu fiquei com medo de ser presa caso eles pensassem que era falta de respeito ou se eles descobrissem que eu sou comunista! Não sei como são os militares bolivianos, né, gente?

 

Entro na ferroviária e tem um grupinho de funcionários saindo de um trem de carga. Quando eles passam por mim, só escuto sair do celular de um deles: "Vai taca, taca, taca, taca, taca..."

 

Eu não acreditei naquilo!

O funk brasileiro vai dominar o mundo, gente! É sério!

 

Tinha de tudo: funcionário do trem,auxiliar de limpeza, tinha uns 3 trens, só não tinha billetero (bilheteiro) na cabine.

 

Perguntei a uma das auxiliares e ela me disse que, como é sábado, os billeteros não tem horário fixo. Eles vêm e vão o dia inteiro. Eu tenho que ter paciência e esperar até alguém aparecer, o que pode ser daqui meia hora ou só no dia seguinte.

 

WTF??? Eu não vou esperar até o dia seguintem, irmã.

 

Decido a ir até um bar ali perto e, quando chego la, me deparo com uma placa enorme de propaganda da Tigo, uma das operadoras de celular da Bolívia.

 

Olhei pro cel e pensei que o roaming da Vivo na Bolívia deve ser um absurdo e decido comprar um chip boliviano. Peço pro vendedor que, gentilmente, me ajudou a configurar o celular, me fez um recarga até que camarada (100Mb, por 2 dias, a 4Bs). e ainda registrou a linha no nome dele, porque senão eu teria que ir até uma agência da Tigo pra fazer meu registro de extranjero.

 

Voltei pra ferroviária e fiquei lá, esperando alguém aparecer. Passa 10 minutos, 15, 20 e eu já pensando que tenho que voltar pra Corumbá e, de preferência, enquanto ainda é cedo.

 

Meia hora depois aparece o chefe de limpeza (percebo pela diferença dos uniformes), me fala que dificilmente a billetera voltará do almoço, já que é sábado.

 

Começamos a conversar e, então, meu terceiro salvador dessa viagem, ligou pra billetera e reservou um billete para mim amanhã. Por mais que não tenha mais disponíveis no site, eles ainda têm billetes para compra presencial.

 

Quando disse que eu ia pegar "el trem de la muerte", ele sacudiu a cabeça e disse que o trem era super seguro e tive que explicar a ele que "nosottos, brasilenos aventureros, llamamos el Expreso Oriental de Trem de la Muerte" e que essa é um dos trajetos mais esperados durante uma viagem pela Bolívia/Chile/Peru.

 

Eu quase dei um beijo naquele homem lindo.

 

Saí toda saltitante da ferroviária e eis que me lembro que ainda tenho que voltar pra fronteira, mas não quero pegar outro táxi.

 

Não dou nem 3 passos e um senhor em uma moto me pergunta pra onde estou indo. Me bateu o medo, quando percebo que ele tem um uniforme verde-limão escrito "MOTOTAXI". Perguntei o preço e era R$2.

 

Gente, pera, eu não paguei 20Bs só pra ir??? :'(

 

Subi na moto e o doidão sai em disparada.

 

Atenção, crianças, não façam isso casa: SEM CAPACETE!

 

Gente, eu andei de moto na Bolívia a toda velocidade sem capacete!

 

Eu sou uma retardada, e a sensação foi parecida com a de voar de asa-delta! Hahahahaha...

 

Enfim, cheguei à fronteira, andei, novamente, os 50m, e entrei no Brasil.

 

O ônibus já estava esperando e lá voltei eu pra Corumbá.

 

Já comprei o jantar dessa noite (mais um Cup Nooddles) e voltei pro hostel. O dono estava por lá dessa vez e informou que, à noite, teria uma festa junina e que eu deveria descer pra curtir um pouco.

 

Só deixei as compras guardadas, escondi meu pequeno tesouro boliviano e desci uma ladeira íngreme de paralelepípedos (mais uma vez: Paranapiacaba!), até o porto, a beira do Rio Paraguay.

 

Já passava das 17h e logo o pôr-do-sol começaria e já dava indícios de que seria maravilhoso. *.*

 

Andei pela orla, comprei alguns souvenires, descobri que o Google me enganou e todos os museus, ao invés de fecharem às 18h e, os que ainda existiam, sequer abriam aos sábados. Resultado? Mais uma cidade que eu não conheci as coisas que realmente queria.

 

Mas, por outro lado, fui compensada com uma arquitetura belíssima (apesar de mal cuidada) e uma pôr-do-sol fantástico.

 

Quando estava já mais escuro do que claro, decidi voltar pro hostel, tomar um banho, descansar e depois descer pra festinha do hostel.

 

Chegando lá troquei de quarto e, quando comecei a levar as bagagens pra cima, me deparo com o Louie, um neozelandês, que já começou me perguntando se falo inglês. Juro gente, que achava que meu inglê tava indo muito bem, mas foi começar a conversar com Louie, que percebi o quão merda meu inglês é.

 

Você, migo, que acha que seu inglês é maravilhoso: ELE NÃO É! Kkkkkkkkkkkkk...

 

Acabamos começando a conversar através do Google Translate, pois eu até entendia o que ele estava querendo dizer mas na hora de falar, eu tremi feio na base.

 

Então chegaram os outros 2 hóspedes do quarto: Rodrigo e João, dois mineiros.

 

Entre meu banho e as apresentações entre os meninos, Louie lança um vodka vagabunda que comprou por R$8 no Rio de Janeiro. Eu lanço o meu Guaraná Conti e começamos o esquenta pré-festa.

 

Ninguém contou pro Louie que as bebidas mais vagabas eram vendidas em garrafas de plástico.

 

Bebemos, conversamos (só eu capengando com minha insegurança no inglês, já que os outros meninos dominam bem o inglês) e descemos pra festa.

 

Meia hora depois percebemos que é uma coisa bem de amigos mesmo, que estamos ali sobrando e voltamos pro quarto.

 

Louie e eu trocamos Whatsapp, pois ele também seguirá pra Bolívia e, talvez, em um momento, podemos nos esbarrar novamente, já que ele é o único que sguirá o mesmo caminho que eu. Os brasileiros vão continuar a trip só pelo Brasil mesmo.

 

Lá embaixo tá rolando um Falamansa. O Louie queria, de qualquer jeito, dançar comigo, mas só tocava Legião Urbana. Se estivessemos lá embaixo agora, talvez eu o ensinasse uns passinhos de fooró, mas já estamos todos deitados: os meninos dormindo e eu, a única menina do quarto, aqui escrevendo.

 

Vou desligar logo isso aqui, porque dormir cm claridade é muita sacanagem.

 

Amanhã, se tudo der certo, vou até o Cristo do Pantanal vem cedinho e sigo pra Santa Cruz de la Sierra com o Trem da Morte depois do almoço.

 

Se a minha internet boliviana pegar bem entre as montanhas, eu conto sobre a aventura na Bolívia, que começa, efetivamente, amanhã.

 

***

 

Gastos do dia:

 

R$20 (táxi)

R$ 6,50 (ônibus)

R$2,00 (Garrafinha de água)

R$17,60 (almoço Shopping China)

R$2,00 (mototaxi)

R$12,00 (mercadinho)

 

 

10Bs (táxi)

21 Bs (chip Tigo+ recarga)

1 Bs (pirulito)

 

---x---x---x---

 

Dia 3 - Trem da Morte (09/07)

 

Acordei mais cedo do que imaginava, pois os meninos do quarto iam sair cedo pra pegar a Transpantaneira.

Louie ia pegar o trem comigo mas desistiu quando soube do que se tratava o rolê que os mineiros iam fazer.

Até eu desistiria se não tivesse um objetivo. Me convidaram, mas eu tive que recusar.

 

Quando levantei decidi ir até o Cristo Rei do Pantanal (é tipo o Cristo Redentor de Corumbá) depois de tomar o café da manhã.

Quando desci descobri que, devido a festa de ontem ter durado a noite inteira e acabado só perto das 4h, não tinha ninguém acordado pra fazer e servir o café. Aí tive que decidir se ia até o Cristo ou se procurava algum lugar pra comer e, lógico, a necessidade fisiológica veio antes.

 

Saquei o Google Maps e fui atrás da padaria mais próxima. Fechada! Fui até a outra mais próxima e... fechada também. E assim se seguiram as outras 3 opções pra comer.

Pleno domingo, 8h30 e nada aberto. Absolutamente nada!

Já tinha andado bem uns 50 minutos quando desisti.

 

Desci uma ladeira errada e fui parar na avenida do porto. Sentei um pouco e fiquei vendo os pescadores entrarem nos barcos e saírem pra trabalhar.

Até os pescadores estavam começando tarde no domingo, pois já era quase 9h30.

 

Voltei pro hostel, ajeitei minhas malas, joguei uma água no corpo e, quando desci, enfim, tinha um cafézinho. Assim como no dia da viagem, engoli uma xícara de café preto, fiz o check-out e saí.

 

Do hostel até o ponto onde passa o ônibus pra fronteira são apenas 3 quadras, mas foram as 3 quadras mais longas da minha vida.

 

Nunca mais eu viajo com 12kg nas costas.

 

Até o momento a maior parte das roupas foi desnecessária, já que eu só peguei calor. E calor MESMO, de 28º pra cima.

Por mais que eu saiba que vou pegar um frio do capeta em La Paz e Oruro, por exemplo, acho que 3 blusões são desnecessários. Um só tava é muito bom!

Vivendo e aprendendo, né?

 

Fiquei bem uma meia-hora esperando o ônibus, mas a viagem até a fronteira foi rápida.

 

Quando vi a fila no posto de imigração percebi que tinha dado, pelo menos, uma dentro, já que estava com a documentação prontinha desde ontem.

 

Peguei um táxi até a ferroviária e, quando o carro estacionou, desceu um senhor de uns 70 anos correndo a escada pra me ajudar com a mala. Eu contesei, mas ele estava muito determinado a carregar aqueles 12kg pra cima, então eu deixei. Com uma dor no coração, mas deixei.

 

Começamos a conversar e ele me contou que era carregador da ferroviária, pois o que recebe de aposentadoria não dá pra viver dignamente na Bolívia.

Ele tinha trabalhado durante 15 anos em Corumbá, na estação de trem que começava no interior de SP (Bauru) e ia até Santa Cruz de la Sierra que era o Tren de la Muerte original.

Contei pra ele sobre o meu plano de viagem e ele ficou animadíssimo, disse que conhecia todos esses lugares e que se fosse mais jovem se juntava a mim nessa aventura.

Comprei a passagem e tinha longas 2h de espera.

 

Por mais que na placa esteja 70Bs, eu paguei 100Bs, pois esse é o preço para turistas.

 

O lugar estava vazio, só tinha eu, o senhor carregador e meia dúzia de gato pingado.

Troquei uma nota de 10Bs e dei 5Bs de gorjeta pro senhor carregador. Ele relutou um pouco mas, assim como ele estava determinado a carregar minha mala mesmo em meio aos meus protestos, eu disse que me ofenderia se ele não aceitasse aquele dinheiro.

Minutos depois ele começou a me contar a mesma história de que trabalhou em Corumbá durante 15 anos... E depois de mais uns 20 minutos contou novamente.

 

Aquilo me partiu o coração.

 

Não demorou muito pra eu perceber que ele não era funcionário coisa nenhuma, pois nem uniforme ele tinha e aí, o senhor da limpeza que me ajudou ontem, sentou ao meu lado, perguntou se eu tinha conseguido comprar a passagem e me confirmou que aquele senhor vinha mesmo todos os dias, já há alguns anos, e todos os funcionários juntavam um pouquinho de dinheiro de cada e pagavam um pequeno salário pra ele no fim do mês.

E toda pessoa que chegava cheia de bagagem lá ia ele descer correndo a escada pra ajudar.

 

Resolvi desviar a atenção dele, antes que me batesse uma bad forte e abri um livro.

 

Perto das 12h começaram a chegar as pessoas. Grande parte era de mochileiros e a outra era de numerosas famílias. Vi uma ou outra pessoa sozinha como eu.

 

Mochileiros se reconhecem de longe, claro, e nos olhávamos e sorríamos uns aos outros, como se fosse um desejo de boa viagem silencioso.

Eu estava me sentindo sozinha desde a sexta-feira mas, nesses últimos momentos antes de entrar no famigerado Trem da Morte, eu me senti acolhida, protegida, incentivada e motivada.

 

O TREM DA MORTE

 

Bom, vou começar sendo bem direta: NÃO TEM NADA DEMAIS.

 

Eu fui com um hype bem alto pra essa parte da viagem e me decepcionei.

O que eu vivenciei não é nada parecido com as descrições que li por aí.

Eu não peguei o Regional, peguei o Expreso Oriental, mas já vi relatos sobre o Expreso Oriental que, agora, me soam como exageros ou mentiras mesmo.

 

Bolivianos viajando com galinhas e cachorros? Exagero.

Bolivianos andando pra lá e pra cá oferecendo bebidas e comidas das mais diversas? Exagero.

 

Pode até ser que seja assim no Regional e aí eu não posso falar muito mas, o que mais interessa, que são as paisagens, é a mesma coisa nos dois!

No vagão em que eu fiquei tinha, pelo menos, 5 crianças, que faziam barulho por 10, mas era só isso.

Na TV só rodava filmes do Vin Diesel.

A paisagem é um eterno matagal... Não há planícies, não há montanhas, enfim, não há paisagens.

 

Pelo menos fiquei do lado certo do trem, de onde pude ver o começo do pôr-do-sol.

 

O momento em que começa o trecho de montanhas que, provavelmente, valeriam à pena ver, já eram 21h, tudo escuro e eu só consegui visualizar os contornos pois estava uma Lua cheia gigantesca e super brilhante.

 

Em algumas paradas existe sim a venda de comidas e bebidas e, desobedecendo às dicas, eu experimentei uma empanada (descobri o nome do que era só quando cheguei à Santa Cruz de la Sierra). Mas é uma empanada diferente das chilenas e argentinas, às quais já experimentei em restaurante em SP. A empanada boliviana tem uma massa adocicada e o recheio é de queijo. Por mais que pareça estranho, é uma delícia! Já quero encontrar alguém vendendo na rua pra comer novamente.

Quanto a bebidas, só vendiam café e té de manzanilla (chá de maçã) e eu só desejando um té de coca!

 

Na parada de Roboré, pudemos descer por 20 minutos pra esticar as pernas e aí sim eu vi um corre-corre de vendedores com marmitas de riz e pollo (arroz e frango) ou espeto de cerdo (espetinho de carne de porco).

 

Eu queria muito mesmo chegar aqui e contar sobre a minha experiência incrível no Trem da Morte mas, infelizmente, não foi lá tudo isso.

:'(

 

Após longas 17h de viagem (é o trem da morte porue eu já queria morrer na metade da viagem), desci na Estação Bimodal de Santa Cruz às 6h, vi as mensagens da minha hostess Mirlla, uma paraense que veio à Bolívia pra estudar Medicina e fui em busca de um táxi.

 

Sabe o que disseram que com boliviano sempr dá pra negociar? Ao que parece, aqui em Santa Cruz, não é bem assim.

 

Chorei, chorei, chorei e não consegui nem um bolzinho de desconto.

 

Cheguei à casa de Mirlla e, depois de muita conversa, um bom banho e um café da manhã bem brasileiro (Mirlla me fez umas tapiocas), vamos dar umas voltas pela cidade.

 

***

 

Gastos do dia

 

R$58,00 (hostel + bebidas)

R$3,25 (ônibus até a fronteira)

10Bs (táxi até ferroviária)

5Bs (gorjeta)

100Bs (passagem Trem da Morte)

3Bs (cafézinho)

3Bs (empanada)

 

---x---x---x---

 

Dia 4 - Santa Cruz de la Sierra (10/07)

 

Já tinha lido que por aqui não havia muito o que se fazer mas, ainda assim, foi uma boa oportunidade pra descansar e ter uma noção do que é a Bolívia.

 

Minha hostess do Couchsurfing é Mirlla, uma paraense que veio pra cá estudar Medicina.

Ambas estávamos cansadas: ela por ter ido dormir tarde (e eu cheguei muito cedo) e eu por ter passado 17h no trem, com as pernas encolhidas, dormindo de mal-jeito, acordando o tempo todo com os solavancos.

 

ATENÇÃO!

Se vc tem tendência a enjôos, nem pense em pegar o Trem da Morte. Ele sacoleja o tempo todo. Em alguns momentos é mais leve, mas em outros dá pra impressão de que o vagão vai tombar.

 

Enfim, Mirlla fez tapiocas pro café-da-manhã e, enquanto eu terminava o relato sobre ontem, pra postar no blog, ela pensava onde poderia me levar pra conhecer a cidade.

 

O zoológico, uma das poucas atrações daqui, fecha às segundas, o Parque Regional Lomas de Arena é muito longe (e se é pra ver areia e dunas, eu já vi recentemente em Floripa, hihihihihi), então sobrou a praça principal, com sua catedral mas, no calor de 27º que está aqui hoje, Mirlla achou melhor irmos mais pro final da tarde.

 

No fim, ficamos até mais de 14h conversando, trocando experiências e eu postando as fotos que ainda não tinha feito desde sexta.

 

Mirlla mora em um condomínio fechado, nenhuma das casas tem portão e tem uma área verde enorme, com um pequeno parque pra crianças e onde os cachorros da vizinhança também brincam.

Sim, eles ficam soltos por aí!

Quem dera podermos todos morar em lugares assim. :)

 

Por volta das 14h30 fomos à um complexo comercial que fica bem ao lado do condomínio, com um pequeno pátio de comidas, supermercado, farmácia, bancos e lojas.

 

Escolhi um lugar chamado Boccato Burguer, mas peguei um prato econômico com arroz, batata frita, banana frita (sim, bolivianos também adoram isso) e uma coxa de frango. Pra beber uma Fanta sabor papaya (mamão). Eu não suporto mamão, mas até que essa fanta é delicinha.

 

Depois passamos no mercado, onde comprei algumas besteirinhas, já que amanhã pretendo pegar o ônibus das 8h pra Cochabamba e são, nada mais, nada menos, do que 10h de viagem.

 

Então Mirlla me lembrou de um detalhe importante: sorojchi pills.

 

Mas o que é isso?

Sorojchi pills é um medicamente específico que previne o MAM (Mal Agudo de Montaña), também conhecido como mal de altura, mal de páramo, soroche, yeyo, apunamiento ou puna, ou seja, os sintomas desagradabilíssimos que a altitude elevada da Bolívia pode fazer ao desacostumados, no caso, EU!

 

Quais são os sintomas?

Dor de cabeça, náuseas, tontura, pulso acelerado, falta de apetite, fadiga, fraqueza, esgotamento físico, transtornos do sono (sonolência ou insônia) e falta de ar.

 

Por que isso acontece?

Falta de aclimatação ou adaptação do corpo a falta de oxigênio (hipoxia) e a pressão atmonsférica menor das alturas.

 

Você, querido amigo, que um dia pretende viajar à Bolívia ou outros países cde altitude elevada (Peru, por exemplo), não deixe de ter esse medicamento em mãos.

Você encontra, facilmente, em qualquer farmácia boliviana (acredito que nas peruanas também).

 

Você pode aliar o sorojchi pills ao té de coca ou às folhas de coca pra mastigar.

 

Não deixe sua viagem se transformar num mal-estar que pode ser contornado com facilidde. É só se informar com antecedência.

E isso vale pra qualquer viagem.

Até os aventureiros mais roots, que saem por aí com uma mochila nas costas, sem rumo, se informam sobre possíveis doenças e enfermidades.

 

Ok, chega de lição de moral.

 

Voltamos pro condomínio, Mirlla tirou um cochilo, enquanto eu lia um livro.

 

Por volta das 16h30 Mirlla acordou e ficamos na dúvida se era melhor esperar o sol baixar mais um pouquinho, porém, perderíamos muito tempo e voltaríamos bastante tarde.

 

Pegamos o minibus na porta do condomínio e Mirlla me explicou que não existem pontos de ônibus fixos, é só estender a mão que o motorista para pra você subir e, quando quiser descer, é só pedir pra parar, em qualquer lugar.

Isso tem lá suas vantagens, mas também alguns contras.

A vantagem é que você pode descer bem em frente ao lugar que vc quer, mas o contra é que, nessa de parar em qualquer lugar, a viagem acaba ficando mais longa, pois o motorista vai parando o tempo todo.

 

O minibus custa 2Bs e o truffi 3Bs, o que eu achei um tanto quanto estranho, já que no trufi cabem bem menos pessoas.

 

O tráfego na cidade é intenso e existem poucos faróis, o que faz o trânsito virar uma bagunça, em muitos momentos.

 

Uma dica importante, que tanto o taxista que peguei na estação de trem, quanto Mirlla me deiram foi que não se deve dar bobeira com o celular nos minibuses. As janelas são baixas e estão sempre abertas, devido ao calor, portanto, sempre ocorrem furtos.

 

Uma vergonha terem que explicar isso pra uma paulistana que já perdeu 5 celulares, né? Kkkkkkkkkkkkk...

 

Descemos no centro da cidade e entramos em um complexo comercial só de artesanatos. Comprei mais uma ímã de geladeira pra minha coleção! <3

 

Depois, Mirlla me levou pra conhecer a Plaza 24 de Septiembre, que é a principal atração turística da cidade e, pelo jeito, a única, rsrsrs... A praça estava cheia, mas Mirlla me falou que aos finais de semana dobra o número de pessoas.

 

Nessa praça também fica a Catedral de Santa Cruz.

 

Eu não tomo leite, mas como raramente me recuso a experimentar coisas quando viajo, comprei um café com leche de alpaca. Mentira, não era de alpaca, mas eu não podia deixar passar a piadinha.

 

Ficamos algum tempo sentadas tomando o café com leche, conversando e "cuidando da vida dos outros", como disse Mirlla.

 

A praça é o grande ponto de encontro da cidade, o lugar onde parece que tudo acontece.

Quando começou a escurecer, Mirlla me disse que ali perto tinha um cão da raça são-bernardo muito famoso e que o dono cobrava pra tirar foto.

Andamos até lá e eu nunca tinha visto um são-bernardo ao vivo.

Não tirei foto, porque estou na maior contenção de gastos, já que extrapolei nesses últimos dias e ainda tenho mais 20 dias pela frente.

 

Demos a volta na praça e, chegando ao outro lado, um grupo de meninos ensinando e aprendendo passos de hip-hop. Vários, por todos os lados.

Ninguém parecia dar muita atenção, mas eu estava encantada!

 

Andando mais um pouco esbarramos em uma espécia de galeria de arte. Mirlla nem sabia da existência desse lugar e ficamos animadas com o nosso achado inesperado.

Meu pai é artista plástico, então eu sempre tive uma queda por artes, de um modo geral.

Não que eu seja grande entendedora e apreciadora, mas é algo que me chama a atenção e, como boa paulistana, museu, pra mim, é um puta passeio.

 

Já era por volta de 20h e Mirlla me disse que pegaríamos o minibus lotado e muito trânsito, pois ainda era hora do rush (todo lugar tem, né?), então, enquanto andávamos em direção à rua em que o minibus passava, nos deparamos com uma portinha onde vendia charutos e pizza.

 

Olha, se tem uma coisa que paulistano manja é de pizza e eu já comi muita pizza ruim nessa vida (fora de SP, obviamente) e não podia deixar passar logo uma pizza em outro país.

 

Pedimos uma foccacia de entrada, que nem sabíamos o que era, mas estava baratinho e na foto parecia apetitoso e, depois, duas pizzas chicas de queso.

 

Sinceramente? Pizza boa demais. Bem artesanal. Não me surpreenderia descobrir que até o queijo tinha sido feito ali naquele espacinho meio cubano (do lado tinha uma charuteria, com várias caixas de charuto cubano, umas poltronas de couro surradas e aquele cheirinho gostoso que só um charuto tem).

 

Bem alimentadas, seguimos pra pegar o minibus.

 

Santa Cruz que, a primeira vista, parece não ter muito o que se fazer, demonstrou ter potencial pra surpreender. Queria ter mais tempo pra ver se encontrava outro desses lugarezinhos escondidos (Mirlla também nunca tinha visto essa portinha da pizzaria cubana).

 

E Mirlla, bom, fui sua primeira surfer oficial (ela já hospedou pessoas, mas nunca através do site). Espero que eu não a tenha decepcionado.

 

Já combinamos dela me encontrar no fim do mês em Samaipata, nos meus últimos dias bolivianos.

 

Vamos ver se eu realmente vou sobreviver até lá.

 

***

 

Gastos do dia

 

30Bs (táxi até a casa de Mirlla)

15Bs (almoço)

25Bs (supermercado)

17Bs (4 Sorojchi Pills)

4Bs (microbuses)

5Bs (ímã de geladeira)

5Bs (café con leche)

23Bs (pizza)

 

 

Tenho gastado mais do que planejava por dia, mas ainda há muito dias que eu passarei viajando e gastando pouco ou, até mesmo, nada.

Ainda tenho por volta de 2000Bs até o fim do mês. :D

 

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Dia 5 – autobús Santa Cruz X Cochabamba (11/07)

 

Já há muitos anos, desde que eu ouvi o nome Cochabamba pela primeira vez, eu queria conhecer esse lugar. Sei lá, só pra poder dizer que eu tinha ido a um lugar chamado Cochabamba.

Acho a palavra bonita, harmoniosa, gostosa de se falar.

Cochabamba. Repitam aí, em voz alta e digam se não é gostosinho falar CO-TXA-BAM-BA!

 

E agora eu tô aqui.

Mas peraí que eu vou contar como é que eu cheguei.

 

O despertador de Mirlla tocou às 6h15. Como eu já tinha armado o meu pras 6h30, virei e dormi por mais 15 minutinhos.

Levantei, tomei um iogurte que tinha comprado ontem, me troquei rapidinho e joguei as coisas que tavam espalhadas dentro da mala. Chamei Mirlla que pediu um táxi e, às 7h, eu estava me despedindo da minha primeira hostess na Bolívia.

 

Chegando no Terminal Bimodal, antes mesmo de terminar de tirar as malas do carro, vieram 4 vendedores em cima de mim gritando "Cochabamba, Cochabamba, Cochabamba".

Ahá, exatamente o lugar pra onde eu ia.

 

Um deles gritou "60Bs", o outro gritou "55Bs" e um terceiro pulou na minha frente, com a passagem em mãos, dizendo "50Bs".

Sorri pra ele e saquei o dinheiro que eu já tinha deixado reservado no bolso do blusão.

 

Eu sequer precisei falar uma palavra e a passagem veio assim, caindo no meu colo e já com "desconto", hahahahaha.

 

Aos desavisados, não achem estranho se isso acontecer com vcs em algum terminal de buses na Bolívia. É assim mesmo, super normal. Eles vêm pra cima mesmo e, por mais que pareça bagunçado, tem um fiscal ali no canto observando, pra ver se nenhum aproveitador aparece só pra tirar dinheiro fácil dos outros, vendendo passagens falsas.

 

O ônibus já estava prestes a sair e lá fui eu correndo, com 12kg nas costas, procurando a porta que me levava ao ônibus.

Quando achei a catraca, fui barrada por estar sem o ticket de uso do terminal.

Eu tinha esquecido completamente desse detalhe, então voltei à cabine indicada, paguei a taxa de 3Bs e voltei à catracas.

Bem em cima da hora, pois o ônibus já estava fechando as portas.

 

O motorista abriu a porta meio mau-humorado e a cara dele ficou ainda pior quando viu que eu tinha um mochilão enorme nas costas. Desligou o motor, desceu resmungando alguma coisa que eu não entendi, abriu o compartimento de bagagem e eu joguei a mala, de qualquer jeito, pedindo desculpas desajeitada no meu melhor portuñol. :P

 

Na pressa de comprar a passagem e encontrar o ônibus, eu esqueci de pedir pra ficar na janela e, bom, eu me odiei durante toda a viagem por causa desse pequeno (grande) detalhe.

 

A previsão do motorista era que chegássemos às 16h em Cocha e, quando eu olhei pro fundo do ônibus, vi que não tinha banheiro.

Sim, eu peguei um autobús sem banheiro pra uma viagem de 10h.

 

Naquele momento, eu percebi que as coisas não iam ser muito legais pra mim hoje.

Começou com o detalhe da janela, depois o motorista bravão comigo, daí não tem banheiro na desgrama do busão e, pra completar tudo, esqueci meu cobertor na mala que estava no compartimento e, do meu lado, um adolescente de uns 13 anos, com o cabeção grudado na janela, o que atrapalhava totalmente a minha visão lá de fora.

 

Então, já fiquem avisados que de, hoje, não teve foto nenhuma e, sim, eu quero morrer com isso, pois boa parte da paisagem entre Santa Cruz e Cochabamba é maravilhosa!!!

 

Por outro lado, foi nesse ônibus que eu comecei a me sentir, efetivamente, na Bolívia.

Acho que Santa Cruz de la Sierra é perto demais do Brasil pra eu me sentir fora do país.

 

Assim que sentei, olhei em volta e comecei a perceber as coisas a minha volta: nos 2 assentos ao lado do meu, haviam 3 pessoas da mesma família se esmagando pra caberem juntas, pois só tinham pagado 2 passagens e não havia lugar em outra poltrona do ônibus pra pessoa sobressalente.

Olhando pra trás, vi mais umas 4 situações iguais à essa.

Também ouvi uns pintinhos piando e daí vi um senhor com uma gaiola no colo, com uma galinha e uns 10 pintinhos.

E o cheiro, então? Não sei, era uma mistura de suor boliviano com um toque de frutas, flores, cigarro e naftalina.

E, sinceramente, eu amei esse cheiro! De verdade mesmo. Amei o cheiro, amei a bagunça, amei o barulho, só não amei o cabeção daquele moleque desgramento tapando minha visão! EU ESPERO QUE ELE TENHA UM SOROCHE FUDIDO!!!

 

As primeiras 5h de viagem não tem graça nenhuma. É um monte de cidadezinha e mato, mato, mato, cachorro, mato, porco (toda casinha tem um par de porcos) e, em cada fronteira de cidade, o ônibus para e entram alguns vendedores no ônibus, enquanto outros ficam gritando do lado de fora. E vendem de tudo: cana, mexerica, sorvete, pipoca, amendoim, café... E aí o cheiro do ônibus vai ganhando novas fragrâncias!

 

Cara, é sério, era mais ou menos isso que eu esperava do Tren de la Muerte, mas foi o ônibus Santa Cruz X Cochabamba que me proporcionou.

Eu comecei a gostar mais ainda de Cochabamba por causa disso.

Ah, o que dizer dessa cidade que eu nem conheço e já considero pacas?

 

Por causa da contenção de gastos, acabei não comprando nada dos vendedores das paradas e fui beliscando as coisas que eu tinha comprado no mercado ontem: chips de banana, bolacha maria (sim, bolacha, e bolivianos concordam, pois eu perguntei), bolacha wafer e suco de limão Wilson (que eu comprei em Corumbá).

 

Eu não tinha ideia se o ônibus ia fazer alguma parada. Na Bolívia a gente pode esperar por tudo, né?

Então fui dosando o líquido, porque não ia ter coragem de gritar "Baño", como alguns relatos que eu li disseram que era normal isso acontecer.

Eu ia esperar a primeira pessoa gritar isso, pra ir no embalo depois.

 

Foi só lá pras 13h que fizemos a nossa parada, numa churrascaria de beira de estrada, que o banheiro custava 1Bs, mas eu não tive coragem nem de lavar as mãos.

Fiz uma nota mental de que preciso comprar álcool em gel.

 

Meu suco de limão já estava quase acabando, então fui em uma das vendinhas que tinham ao redor da churrascaria e comprei uma agua de cereza (nada mais é do que tipo uma H2O sabor cereja) e não é que o negocim é bom?

 

Pelas contas do motorista, chegaríamos a Cocha em 3h.

Aham, claro, só que não, né?

 

Foi só lá pras 14h30 que a paisagem começou a ficar estonteante mas, como já foi citado aqui, eu só pude olhar, e ainda por cima pescoçando pela janela do banco da frente e dos lados, porque a do meu assento mesmo, eu só via cabeça.

Aaahhhh, que ódio!!!

 

Primeiro começamos a subir a serra, e subimos, subimos, subimos e o autobús não parava de subir, e quanto mais subia mais estreita a estrada ia ficando, e tinha partes asfaltadas e partes só de terra, e precipício pra tudo quanto era lado e, quando era 16h, nós tínhamos acabado de chegar ao topo da montanha e eu desconfiava que ainda estávamos bem longe do nosso destino final.

 

Aí pensei que fôssemos começar a descer, mas não. Andamos mais 1h bem devagar, devido a neblina espessa. Não conseguia ver nada além de um branco total.

 

E quando a neblina começou a se dissipar, o paraíso!

A paisagem mudou bruscamente de serra, montanhas e escarpas, pra um lindo vale amarelado, que parecia dourado, já que o sol tinha voltado a brilhar, do nada, novamente.

Em um determinado momento, havia tantas nuvens no céu, e tão espessas, que parecia que o sol estava equilibrado em cima delas e cairia se elas se dissipassem.

Eu queria demais mesmo ter tirado uma foto disso!

 

Então passamos por um lago enorme, todo margeado por essa montanhas douradas e, quando consegui um pouquinho de sinal no celular, descobri que era Laguna Corani.

Pretendo visitar esse lugar, famosíssimo, caso volte no fim do ano com a Ana, já que é verão, e dá pra se banhar, o que é impossível debaixo dos 14º que estava pela região hoje.

 

Logo em seguida passamos por Colomi, onde pegamos um congestionamento de uns 40 minutos. Nesse momento eu tinha desistido de tentar tirar fotos, mas foi outro lugar que eu deixei marcado pra perder, pelo menos, 1 dia pra conhecer. Por fotos eu não imaginava que fosse um lugar tão encantador.

 

Então, comecei a tentar entrar em contato com minha hostess em Cochabamba, a Carol.

Acho que eu fui um pouco grossa com ela, sem querer, pois as mensagens estavam demorando a chegar e chegaram todas muito tempo depois.

Eu achei que ela estava me ignorando e quase comecei a chorar, pois já era mais do que certo de que eu chegaria em Cochabamba muito depois das 18h, quando na Bolívia já está escuro.

Eu me imaginei tendo que dormir na rodoviária, pra não gastar dinheiro com hostel que, assim, em cima da hora, só teria preços exorbitantes. Eu estava cansada, com fome, com sono e, pra piorar, abandonada???

 

Hoje não era meu dia!!!

 

Quando entrei na cidade de Cochabamba vi de longe o Cristo de la Concordia e, logo abaixo dele, a Laguna Alalay. Impossível não lembrar do Rio, vendo o Cristo Redentor lá em cima do Corcovado da Lagoa Rodrigo de Freitas.

 

A cidade é toda margeada por montanhas e as luzes são todas laranjas, o que deu um efeito bem acolhedor à minha chegada, já que eu estava quase entrando em desespero.

 

Mas foi descer do autobús e as mensagens da Carol chegaram todas, com a ubicación (localização) de sua casa.

 

O terminal de buses de Cocha estava lotaaado de gente e, ao que me parece, é assim todos os dias, o dia inteiro. Fui já pesquisar o preço da passagem para La Paz, para onde sigo viernes (sexta-feira) e já saí pra esperar um táxi.

 

Eu até pensei em usar transporte público, mas eu já tinha passado quase 12h dentro de um ônibus e só queria chegar logo em um lugar seguro e menos frio do que a rua.

 

O taxista não sabia onde era o endereço e ativei o GPS pra poder ajudá-lo. Ele pareceu maravilhado com essa nova invenção e disse que nunca tinha pensado em usar o celular com essa intenção.

 

Gente, pera, para tudo! Será que ele tava tirando uma com a minha cara ou que eu vou ajudar a revolucionar a malha de taxistas de Cochabamba?!

 

Só sei que cheguei na casa de Carol em menos de 15 minutos e fui recebida pela dona Miriam, mãe de Carol, pois ela ainda estava trabalhando (e deve estar até agora, pois ainda não a conheci).

 

Dona Miriam me apresentou a casa, a gatinha Kati, a cadela Luna, me deu água, café, pão com manteiga e uma boa dose de conversa.

Já peguei algumas dicas sobre a cidade e, ao que parece, amanhã vai ter manifestação nas ruas, em protesto contra o aumento da eletricidade.

Ó lá, eu me metendo em política até no país alheio, hahahahaha...

 

Dona Miriam também me deu muitas dicas sobre o soroche, e sobre Oruro e Potosí, e me disse que, no dia 16, está previsto neve em La Paz.

Eu chego em La Paz no dia 15!!!

Gente, eu vou ver neve? É isso mesmo? De verdade, assim, bem na hora que ela começar a cair?

 

Aqui na casa de Carol me disponibilizaram um quarto só pra mim, com uma cama de solteiro queen size e muitas cobertas, pois a previsão pra madrugada é de 3º.

 

Tomei um banho, ajeitei as coisas pra amanhã, pois pretendo sair cedo e passar o dia andando, já que, devido às manifestações, os transportes coletivos não funcionarão e lá vou eu conhecer a cidade de pé-dois e tô nem aí pra isso não.

 

***

 

Gastos do dia:

 

20Bs (táxi até terminal de buses)

50Bs (passagem Santa Cruz x Cochabamba)

1Bs (banheiro)

6Bs (agua de cereza)

20Bs (táxi até Carol)

 

Primeiro dia que gasto o que me propus a gastar diariamente. 100Bs, aproximadamente, 50Bs. Aaaeeewww!!!

 

Ou eu economizo, ou posso esquecer Chacaltaya e o Downhill em La Paz!

 

Bora lá diminuir essa conta amanhã.

 

---x---x---x---

 

Dia 6 – Cochabamba a pé (12/07)

 

Hoje o dia foi bem cansativo.

 

Armei o despertador para as 8h da manhã e nem o escutei.

Desde que saí de SP, não tinha uma noite de sono longa e satisfatória, então, acabei desmaiando mesmo.

 

Lá pras 9h30 acordei e Carol já tinha ido trabalhar, portanto, ainda não nos conhecemos.

Olha que coisa, eu estou hospedada na casa dela e só nos conhecemos por foto, rsrs…

 

Dona Miriam me serviu um café-da-manhã e me disse que, talvez, não teria transporte rodando hoje por causa da manifestação.

 

E eu lá me importo em andar?

Da casa até o centro da cidade são, aproximadamente, 5km.

O dia estava ótimo, céu claro, um calorzinho de 23º, mas dona Miriam me fez colocar uma blusa na mochila, porque à tarde costuma baixar a temperatura.

Coisa de mãe, né, gente?

 

Então juntei minhas coisinhas na mochila, liguei o Google Maps e lá me fui até o centro da cidade.

 

Cochabamba é tão encantadora como imaginei ontem à noite vendo suas luzes. As ruas são todas bem largas e limpas e, é lógico, as construções são todas muito coloridas.

 

Depois de uns 40 minutos andando pela Avenina Galindo Blanco, uma das principais de Cocha, avistei uma simpática lagarta.

 

Era um parque infantil, mas a entrada era 2,50Bs, eu só tinha uma nota de 100Bs e a moça não tinha como trocar, então voltei pro meu caminho.

Passei por um pedaço da Avenida Aroma (é outra palavra que eu acho bonita, por isso quis comentar aqui: Avenida Aroma de Cochabamba) e cheguei ao Terminal de Buses.

Do outro lado da rua vi uma movimentação de pessoas e várias barracas e já me liguei que estava em La Cancha.

Não tive dúvidas, atravessei a rua, meti o celular no bolso e me perdi naquele mundáreu de barracas.

 

La Cancha era um dos lugares que eu mais queria ir em Cocha e, com certeza, voltarei lá todos os dias até ir embora porque, gente, sem brincadeira, é um lugar fantástico.

La Cancha é a 25 de Março dos paulistanos, é o Saara dos cariocas. Você encontra de tudo! Roupas, tênis, bolsas, brinquedos, frutas, flores, eletro-eletrônicos, ócuos de sol, modistas, até serviços de cabeleireiro, tatuagem (sim, tatuagem mesmo, não de henna, feita a céu aberto), manicure… Inclusive vou voltar lá pra fazer minhas unhas, pois a unha artística varia de módicos 10Bs e 30Bs (algo entre R$5 e R$15).

 

Parei em uma barraquinha que me pareceu simpática, sentei com os bolivianos que dividiam uma mesa e pedi uma sopa de maní (amendoim) e uma Fanta (gente, boliviano adora Fanta e Sprite, é só o que eles tomam).

 

Depois passei em uma barraca que vi uma jaqueta linda e quentinha, por 40Bs e só não comprei porque a mala já está abarrotada mas, como estou passando calor, comprei uma regata por 15Bs.

E não pensem vcs que é uma porcaria qualquer não. Tecido bom pra caramba!

Eu realmente devia ter deixado pra comprar roupas aqui na Bolívia mas, agora, com esse pouquinho de dinheiro que tenho, só vou ficar passando vontade mesmo.

 

O lugar parece um labirinto e a primeira vista parece bagunçado, mas é organizadíssimo. Os produtos não são vendidos aleatoriamente. Há a parte só de roupa, a só de sapatos, a só de brinquedos, a só de utensílios de cozinha, a só de flores, e por aí vai..

E é uma feira mesmo, daquelas que o feirante grita um preço e o do outro lado da rua grita 1 ou 2Bs a menos, e de repente tem outro oferecendo 2 por 1.

 

Depois de quase 1h30 me metendo em vários bequinhos aleatórios e saindo em lugares também aleatórios, saquei meu Google Maps e decidi ir até o Jardim Botânico, também a pé.

 

Comprei um saquinho de “granola”, com as mais variadas sementinhas mas, quando abri, percebi que era tipo uma pipoca doce de saquinho, ou seja, ISOPOR. Hahahahaha…

 

Mas, no meio do caminho, acabei dando de frente com o Museu Arqueológico, porém, estava fechado, então abri o mapa e vi que tinha vários museus e igrejas ali perto, então decidi ficar por ali mesmo hoje.

 

Fui até a Plaza 14 de Septiembre, alimentei os pombos (que são infinitos nessa praça) e ia entrar na Catedral Metropolitana, mas ela também estava fechada.

 

Olhei pro relógio e era 13h00. Perguntei a uma senhora que estava vendendo laranjas se não era permitida visitação à catedral e ela me disse que tinham fechado para o almoço e só reabririam às 14h.

 

Um pouco mais pra frente fica o Museo La Casona Santivañez. O acesso era livre, porém, todas as portas estavam fechadas e havia um aviso para me registrar antes de visitar. Quando me dirigi à porta da recepção, estava fechada para almoço.

Tirei só algumas fotos do pátio aberto e algumas esculturas que estavam ali expostas.

 

Então andei até a rua detrás, onde tinha visto um pequeno restaurante chamado Pollos Pachita e foi ali mesmo que almocei.

Bolivianos adoram pollo (frango). A maior parte dos pratos dele vai frango.

 

Na Bolívia vc vai ver e ouvir a palavra “pollo” muitas, muitas, mas muitas vezes mesmo. E vai comer muito pollo também.

 

Detalhe: na Bolívia não existe McDonald’s!

 

Foi nesse restaurante que eu descobri que, por ter manifestação, muitos comércios, museus e igrejas não abririam e, gente, verdade mesmo: não abriu NADA!

 

Eu não consegui entrar em nenhum igreja, em nenhum museu e até o shopping que passei na volta pra casa, só estava funcionando o pátio de comidas!

 

Acho que isso é uma das coisas que nós, brasileiros, deveríamos aprender com os bolivianos.

Não houve uma manifestação assim lá muito grande e cheia de gente, mas a cidade realmente parou. Quem não foi à manifestação, também não foi trabalhar.

E eu não ouvi ninguém reclamando da falta de transporte ou chamando os manifestantes de vagabundos!

 

Sério, eu moraria em Cochabamba com muita tranquilidade.

 

Bom, andando sem rumo, novamente, pela cidade, dei de frente com um museu aberto. Êêêêê… Não era um museu muito grande e está bem descuidado, pra falar a verdade.

Museo Martin Cardenas.

Por ser um museu histórico, uma casa com móveis originais e tudo mais, deveria ter uma atenção maior por parte das pessoas que ali trabalham.

Tinha toalhas de mesa secando na escada de madeira, da década de 40, quando a casa foi construída.

Saí de lá até meio chateada.

 

Então fui pra minha última tentativa: o Convento de Santa Teresa e seu museu.

Já de longe, quando vi sua arquitetura, me arrepiei. E, ao fundo, dava pra ver o Cristo de la Concordia.

No momento em que comecei a pesquisar sobre Cochabamba, me interessei, antes de mais nada, pelo Convento. Eu via as fotos e ficava maravilhada.

Daí que, adivinhem? Fechado!

Mas, como já haviam me dito que os lugares estavam fechados por causa da manifestação, ainda tinha a esperança de poder vê-lo amanhã.

 

TINHA.

 

Vi uma casinha ao lado da igreja, oferecendo pacotes turísticos e fui pedir informações sobre a igreja e daí, a moça fez uma cara super triste e me disse que a catedral está em reforma há quase 2 meses, sem previsão para término e reabertura.

Disse que como a cidade está em festividade (não entendi muito bem o que ela me disse), talvez eu conseguisse ver um pouco durante a noite, quando eles abrissem para a missa mas, o museu, com certeza, estaria fechado.

 

Eu quase comecei a chorar ali mesmo.

 

Vendo a minha situação ela começou a pegar vários prospectos e me mostrar vários outros lugares que eu ia gostar de conhecer mas me confirmou que hoje seria impossível que alguma coisa estivesse aberta.

 

Juntei os prospectos e peguei o caminho de volta pra casa.

 

Já era quase 17h e eu resolvi não fazer o caminho inverso, mas um outro caminho. Abri o Google Maps, me localizei e saí andando.

 

Quando cheguei em uma ponte foi que me dei conta de que Cochabamba é, realmente, toda margeada por altas montanhas.

 

Chegando à Avenida Galindo Blanco comprei um helado cono doble (sorvete duas bolas no cone) de limão e cereja, depois parei em um shopping e subi até o último andar, de onde se tem uma vista panorâmica parcial da cidade, só pra tirar uma foto e continuar o caminho pra casa.

 

Então, lembrei que não tinha pegado o telefone de dona Miriam, para visá-la quando estivesse voltando e pedi a Carol que falasse com ela.

Minha última bateria estava acabando (lembrem-se que eu trouxe duas) e eu já não estava mais em condições de andar rápido, com os pés moídos.

 

Quando, enfim, cheguei ao portão, Carol me avisou que dona Miriam tinha saído e que era para eu tocar a campainha e falar com seu abuelito (vovozinho), porém, ele também não atendia à campainha.

 

Sentei na calçada e fiquei ali esperando minha bateria morrer.

 

Alguns minutos depois chegou um carro, com duas tias e os abuelitos de Carol, que também tinham saído. Nos apresentamos, me deixaram entrar e fiquei um pouco na casa os abuelitos.

 

Dona Miriam avisou que tinha deixado a porta aberta e, então, eu subi, tomei um banho e dei uma organizada na mala, que estava absurdamente bagunçada!

 

Dona Miriam chegou a pouco, mas Carol ainda não.

 

Será que vou embora sem conhecer, pessoalmente, minha hostess?

 

***

 

Gastos do dia

 

9Bs (sopa de maní + Fanta)

15Bs (blusa em La Cancha)

6Bs (granolas)

18Bs (almuerzo)

1Bs (gelatina na plaza)

10Bs (cañapés)

10Bs (helado cono doble)

 

---x---x---x---

 

Dia 7 - Cochabamba com guia particular

 

Carol chegou ontem, depois da postagem. Conversamos um pouco, mas ambas estávamos cansadas, pois já passava da meia-noite.

Percebo que meu portuñol está se troando mais español do que português. Até que enfim.

 

Mais uma vez armei o despertador para as 8h da manhã, mas só vou levantar, efetivamente, quando passava das 9h30.

 

Carol não ia trabalhar cedo hoje, então me levou para tomar café da manhã em um lugar que eu nunca, jamais, conseguirei falar o nome: Wist'upiku.

Comi uma empanada de queso ótima e um apí, uma bebida quente de maíz blanca e maíz roja, ou seja, nada mais, nada menos que MILHO. Sim, milho! Um suco de milho branco e milho vermelho, só que quente.

Parecia, tipo, um vinho quente cremoso.

Sem brincadeira, apesar de ser milho, o gosto era parecidíssimo com o de vinho quente.

 

Carol e eu conversamos sobre nossas experiências de viagem e trocamos muitas informações sobre nossas respectivas culturas.

Acho que agora estou começando a entender o que, realmente, o Couchsurfing proporciona, o que ele realmente prega e propõe aos viajantes.

 

Quando Carol foi trabalhar, peguei um trufi até o centro da cidade, de onde iria recomeçar o mesmo caminho de ontem e, dessa vez, conseguir ver os locais que não consegui ontem.

 

Minha primeira parada foi o Museu Casona Santivañez.

Como já tinha visto as esculturas, já queria logo entrar na casa mas, antes, me direcionaram a um espaço com fotos antigas da cidade.

Como já tinha passeado um pouco ontem e sempre presto muita atenção aos nomes das ruas, pra me localizar, sem precisar ficar ativando GPS o tempo todo (porque gasta uma bateria do caramba), reconheci alguns lugares e comparei com as fotos que eu tinha no celular.

 

Quando saí, percebi que as portas da casa estavam todas fechadas e perguntei a uma funcionária se não havia forma de visitar o interior da casa. Ela me disse que a guia tinha acabado de sair, mas ia verificar com o chefe se podia liberar minha entrada.

 

Então, se aproximou de mim um senhor e perguntou, em espanhol, se eu era turista, respondi que sim, que era brasileira e ele me respondeu em português.

Não me contive e dei um abraço nele!

Ele me explicou que não era brasileiro, mas falava português pois já tinha vivido no Brasil.

Quando a moça voltou, disse que podíamos subir e conhecer a casa.

 

O lugar é fantástico e o acesso é gratuito.

 

Lauro e eu continuamos conversando e ele foi me explicando algumas coisas sobre a casa, sua arquitetura, obras de arte, a história e sobre como ela é usada para alguns eventos do governo cochabambino.

Então, ele perguntou se tinha alguma problema se me acompanhasse e me mostrasse alguns lugares da cidade.

 

Bom, eu sou desconfiada. Apesar de bastante sociável, eu sou extremamente desconfiada. Desconfio até das pessoas mais próximas a mim. Não confio nem em mim mesma, na maioria das vezes. Mas sei usar minha intuição e Lauro não me pareceu má pessoa.

Durante nosso tour pelo museu, Lauro me contou muitas coisas sobre sua vida, tanto pessoal quanto profissional e isso me deu mais segurança.

Em último caso, era só eu inventar uma desculpa qualquer e sair de fininho, né?

 

Então, Lauro me disse que tinha que dar uma entrevista pra um dos canais locais e me convidou para ir junto e, depois, me levaria pra um tour pela cidade.

Fui.

 

Gente, é sério, eu tava num canal de TV boliviano, hahahaha... Tá certo, é um canal pequeno, da Univalle (uma universidade boliviana), mas eu nunca tinha entrado assim nos bastidores de um programa de TV e tive essa experiência, justamente, fora do meu país.

 

Enquanto Lauro dava a entrevista, conheci Pedro, um colega de faculdade de Lauro, que também estava lá na emissora, pra dar uma entrevista sobre uma feira de produtos naturais que está rolando em Cocha.

Pedro não falava absolutamente nada de português, mas conseguimos nos comunicar muito bem.

Conversamos sobre cultura, sobre nossas profissões, sobre gramática espanhola e portuguesa, sobre Fórmula 1 (quando eu disse que morava próximo ao Autódromo de Interlagos) e, até mesmo, sobre o nosso atual cenário político brasileiro.

Pedro demonstrou uma enorme admiração e respeito por Lula e Dilma e, antes mesmo de eu falar qualquer coisa, chamou o nosso querido "presidente" de golpista.

<3

 

Então, Lauro me levou até o Museu Arqueológico, onde eu fiz amizade com a Mumi, mesmo depois do susto que ela me deu.

 

Depois fomos ao Banco Central de Bolivia, que é um prédio fantástico, perto do Museu Arqueológico.

Ele não faz parte do roteiro turístico, afinal, é um banco, mas Lauro me fez entrar e admirar a arquitetura do lugar, me mostrou alguns detalhes, contou de onde tinham vindo todos os mármores da construção.

Lá dentro, óbvio, é proibido tirar foto, mas é um lugar centenário, que as pessoas não dão nem um pingo de atenção.

 

Então, ele me convidou para almoçar, disse que iríamos de carro e aí, é lógico, bateu um pouco de medo. Mas o cara já tinha aparecido na TV, parecia conhecer todo mundo do banco, falava abertamente sobre sua vida profissional. Daí que eu fui começar a entender que eu tinha conhecido um famoso, tipo, um figurão da sociedade cochabambina.

 

Lógico que, por ser mulher, a gente acha que, no fundo, existem segundas intenções, mas Lauro me deixou muito a vontade, em nenhum momento tocou em assuntos que pudessem me soar como assédio.

 

Antes de ir ao restaurante, Lauro me levou a uma de suas lojas de queijo e experimentei um sorvete de queijo. Muito bom, por sinal.

Depois demos uma volta por um bairro mais chique, Los Prados, enquanto ele ia me mostrando alguns locais que eu deveria conhecer antes de ir embora.

Enquanto me descrevia, também, algumas opções de comida típica que poderia me levar para experimentar (uma delas era rins de vaca, e eu realmente me animei), optamos por um prato menos "pitoresco", um sillpancho.

 

Embaixo dessa carne, tem arroz e batatas fritas.

Eu não consegui comer tudo.

 

Bolivianos comem bastante e bem.

As comidas que experimentei aqui são, todas, sem excessão, deliciosas!

 

Então Lauro me deixou no centro da cidade e voltei à Casona Santivañez e, dessaa vez, havia uma guia. Entrei novamente na casa, com algumas explicações adicionais, porém, o jardim estava inacessível, por causa de uma exposição que vai acontecer e todos os quadros estavam "guardados" (leia-se jogados) no tal jardim.

 

Tá, né? Fazer o quê?

 

Então saquei o Google Maps e fui entrando em todas as igrejas que estavam por perto:

 

Eu queria ir ao Cristo de la Concordia perto do pôr-do-sol, mas quando fui pesquisar sobre o teleférico, vi a informação de que funcionava até as 18h e já era mais de 16h, o Jardín Botânico estava fechando em meia-hora, então segui até o Palácio Portales, que fica aberto a visitação até as 18h30.

Fui caminhando devagar, pois meus pés ainda estavam doloridos de ontem.

 

Cheguei, novamente, ao bairro nobre de Cochabamba.

Parece até outra cidade, se comparada com onde estou hospedada e o centro da cidade.

Tudo super modernoso, prédios enormes, shoppings, um cinema gigante... Me senti até meio oprimida e, pra falar a verdade, eu não curto muito lugares assim.

Eu sou da perifa, né? Sempre fui. Apesar do meu sonho de infância ser Paris, rsrsrsrs...

 

Quando estava chegando à rua do Palácio, fui abordada por um rapaz e, nesse momento, minha intuição apitou.

Ele veio dizendo que tinha um perfil no AirBnB e alugava casas aqui em Cochabamba e em Tarija e que tinha me abordado pois percebeu, pela minha fisionomia, que eu era turista e queria deixar o contato dele caso, um dia, eu voltasse a Cochabamba ou algum amigo meu.

Eu grudei no meu celular, parei num banquinha de doces e fiquei ali parada, conversando com ele.

Ele perguntou pra onde eu estava indo e disse que poderíamos ir andando e aí eu disse que ia comprar algumas coisas na barraca antes de continuar, que ele podia me passar o contato ali mesmo.

Foi tudo bem rápido, eu sequer anotei o nome completo dele, agradeci e logo me virei pra falar com a vendedora.

Ele ainda ficou uns segundos parado, depois se virou e foi embora.

 

Eu olhei no Google Maps e peguei outro caminho. Andei bem uns 10 minutos a mais, mas pelo menos me senti segura.

 

Chegando ao Palácio pedi informações, perguntei se havia desconto para estudantes e, além de desembolsar 20Bs pra visitar o palácio, só depois fui informada de que não poderia tirar fotos lá dentro!

 

O Palácio é fantástico. Lindo mesmo. Mas muito europeu pro meu gosto. Se eu quisesse ver coisas europeias, eu ia pra Europa.

Nossa, que chata, né?

 

O tour durou uma meia hora e então podíamos passear pelo jardim ou pela galeria de exposições de arte, e lá sim poderíamos tirar fotos, sem problemas.

Mas já estava escurecendo e as fotos não ficariam lá grandes coisas.

Enquanto eu olhava alguns quadros, chegou o guia perto de mim e começou a perguntar de onde eu era, o que estava achando daBolívia, quantos dias mais eu ficaria em Cochabamba... Não sei se foi só impressão minhas, mas achei mesmo é que ele tava querendo me convidar pra sair.

 

Bolivianos não devem estar muito acostumados com loiras de cabelo azul.

Aqui acho que eu sou meio exótica, sei lá...

 

Dei uma volta rápida pelo jardim e fui pra rua, esperar o micro que me levaria ao centro.

Hoje eu queria tentar entrar na Catedral de Santa Teresa e a missa já devia estar quase começando.

 

Como já estava ficando muito escuro e eu estava bem longe, acabei pegando um táxi mesmo.

 

E foi ótimo fazer isso, pois o taxista me falou sobre uma igreja em La Paz, que tem enormes murais baseados no Inferno da Divina Comédia de Dante, mas eu não perguntei o nome e ele também não me falou, portanto, pessoas, por favor, me digam se souberem que igreja é essa, pois eu quero e preciso muito ir nela.

 

Chegando na praça da Catedral, vi algumas barraquinhas de comida e a porta semi-aberta. Ouvi vozes lá dentro e empurrei a porta só um pouquinho.

Meu queixo quase caiu no chão!

É a igreja mais linda que eu já vi em toda minha vida.

Eu entrei olhando pra todos os lados e a emoção foi subindo. Quando eu peguei o celular pra tirar foto, o altar se acendeu por completo e eu comecei a chorar. Literalmente. Eu chorei de verdade.

 

Como eu já disse, a Catedral de Santa Teresa era um dos lugares que eu mais queria conhecer e foi um banho de água fria descobrir que ela estava fechada pra reformas, junto com o museu e o convento.

Quando todas aquelas luzes se acenderam, no instante exato em que eu ia tirar foto, pareceu como se fosse Deus ou seja lá o que vcs acreditem, que estivesse me dizendo pra não ficar tão triste por não poder conhecer aquilo que eu tanto queria.

 

Eu me sentei um pouco, escutei um pouco da missa e agradeci por esses últimos dias que têm sido tão perfeitos.

 

Não sou religiosa, nem tampouco católica, mas senti que precisava agradecer.

 

Saí de lá ainda com os olhos marejados e parei na barraquinha, onde comi um pastel e tomei um copo de tojori (parece bastante com a nossa canjica). Pedi informações sobre onde pegar transporte a Quillacollo (o lugar onde estou hospedada fica no caminho para essa cidadezinha) e lá me fui.

 

Eu tô sem óculos de grau, quebrei o meu no trem (da morte!). Os itinerários estão escritos em letras minúsculas e, com as luzes dos carros vindo direto na minha cara, eu não conseguia enxergar nada. Fora o trânsito caótico da cidade, também é aquela coisa de vc poder pegar o transporte onde quiser.

Existem algumas esquinas em que as pessoas se juntam e ficam todas lá esperando os micros e trufis, mas eu posso subir e descer onde eu quiser.

 

E passaram 3, 6, 10 e eu só enxergava quando já tinha passado a toda velocidade.

 

Resolvi ir andando até um certo trecho e tentar pegar um táxi mas, da mesma forma que os micros e trufis, eles não têm lá uma marcação muito visível. Alguns têm luminosos escrito "taxi", mas a maioria só tem um adesivo de uns 20cm colados no vidro.

 

Eu demorei uns 50 minutos até conseguir pegar um micro.

 

Em 15 minutos cheguei em casa.

 

Amanhã pretendo ir ao Cristo cedo e fazer minhas unhas em La Cancha.

 

***

 

Gastos do dia

 

4Bs (microbuses – ida e volta)

13Bs (café-da-manhã)

20Bs (Palácio Portales)

10Bs (tojori + pastel)

 

---x---x---x---

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Se tudo der certo estou partindo na noite de 08/07/2017 de Campo Grande rumo à Isla del Sol.

Roteiro = Campo Grande > Corumbá > Puerto Quijarro > Santa Cruz de la Sierra > La Paz > Copacabana > Isla del Sol e volta.

Estou sem zap zap.

Vamos trocando informações, pelo Fórum.

Maria Emília

 

Em tempo : Acabo de ler o blog e vou comentar (já me metendo onde não sou chamada, "perdão")

 

* Acho 3 casacos forrados e com touca, muito peso, bom em minha opinião, um único casaco "firme" basta. Mas, cada um é cada um.

* 2 pares de tênis = um par de tênis acho o suficiente. O mesmo de cima.

* Em minhas pesquisas, verifiquei que o melhor câmbio de reais x boliviano é na fronteira de Corumbá, logo depois da imigração, umas barracas que estão cambiando R$1,00 por 2,20 bol.

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Se tudo der certo estou partindo na noite de 08/07/2017 de Campo Grande rumo à Isla del Sol.

Roteiro = Campo Grande > Corumbá > Puerto Quijarro > Santa Cruz de la Sierra > La Paz > Copacabana > Isla del Sol e volta.

Estou sem zap zap.

Vamos trocando informações.

Maria Emília

Opa, vamos sim! :)

 

Qualquer coisa me mande mensagem inbox ou me passe seu Face, que conseguimos nos falar por Messenger também.

 

Eu vou ver de comprar um chip de operadora boliviana!

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Chip boliviano é sempre uma ótima opção, sempre compro da Viva, nunca tive dificuldades. Tô sem face e insta, na realidade estou com um celular "pré-histórico" por isso sem as modernidade dos app.

Mas vamos nos comunicando por aqui.

Boa viagem.

Maria Emília

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Seguindo a postagem e teu blog. Teu roteiro é bem parecido ao que planejo fazer e o orçamento também. Uma pena não ser possível pra vc seguir até o Peru por agora, seria interessante acompanhar algo a passagem por Cusco em "tempo real". Mas estou aqui torcendo e acompanhando enquanto tua viagem me motiva.

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Seguindo a postagem e teu blog. Teu roteiro é bem parecido ao que planejo fazer e o orçamento também. Uma pena não ser possível pra vc seguir até o Peru por agora, seria interessante acompanhar algo a passagem por Cusco em "tempo real". Mas estou aqui torcendo e acompanhando enquanto tua viagem me motiva.

Legal, cara. Valeu pela força.

 

E vai viajar quando? Vai passar por onde?

 

Estou em contato com um user daqui que está no Salar de Uyuni e vai subir pra Cusco depois.

 

Não sei se ele está fazendo alguma postagem por aqui, mas posso ver se te coloco em contato com ele. O que acha?

 

Também tenho uma amiga que esteve lá no mês passado.

 

Qualquer coisa, pode me mandar uma mensagem inbox.

 

Abs.

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