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Uma noite encharcada no Pico do Selado, Monte Verde


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[t1]Uma noite encharcados no Pico do Selado[/t1]

 

O Alan Petrillo tinha lançado um convite para uma pernada por Monte Verde durante o feriado da Pascoa, e como eu nao estava em condições, nem físicas nem financeiras, de fazer planos mirabolantes para o feriado, me juntei a ele e ao seu primo Ivan nessa empreitada. A ideia geral era pernoitarmos no Pico do Selado na sexta e curtir os outros picos de MV no dia seguinte, voltando pra casa no proprio sábado a noite ou na pior das hipóteses, no domingo de manhã. O Alan tem um programa na web (pra quem quiser conferir , www.qzona.com.br) e a ideia dele era ir filmando alguns trechos da aventura para o mesmo. A previsão do tempo não era das melhores, mas chuva mesmo só estava prevista para o sábado, então arriscamos.

 

Tanto o Alan como o Ivan não estavam acostumados a fazer trekking - já costumavam fazer umas trilhas por ai mas nada que envolvesse pernoite ou camping selvagem. Trocamos muitas ideias para definir horario, rango, o que levar, tudo via email durante a semana, e mais ideias acompanhadas de algumas brejas na quarta-feira antes do role, e na sexta-feira pela manha os dois me pegaram de carro na estacao Barra-Funda. Precisávamos ainda fazer um pit-stop em Jundiaí , onde o Ivan ia pegar sua mochila e mais algumas traquitanas. Sò lá ele acabou descobrindo que a mochila que pretendia levar estava com a costura da alça estourada, e na falta do que fazer, resolveu seguir com uma mochila pequena onde cabia pouca coisa e mais uma sacola com garrafas de água. Enquanto isso , eu e o Alan acabamos devorando um pouco da deliciosa salada de bacalhau com grao-de-bico feita pela mãe do Ivan..nhammmm!

 

Acabamos deixando para fazer as compras de comida na manhã da sexta e nos arrependemos amargamente - perdemos mais de uma hora em imensas filas dentro do supermercado em Jundiaí. Fizemos a maior favela no estacionamento do mercado, pra arrumar as mochilas fazendo cabert tudo.Seguimos viagem por dentro de Bragança Paulista, com o céu totalmente encoberto, até desembocar na Fernao Dias e seguir direto para Camanducaia. Passamos ainda num posto para abastecer uma garrafinha com álcool, visto que íamos usar nossas espiriteiras. Na minha reserva, eu tinha uma garrafa com um pouco de alcool 92°, que quase joguei fora nessa hora - e ainda bem que nao o fiz!

 

A estrada de terra que liga Camanducaia a Monte Verde agora já está uns 2/3 asfaltada - desconfio que até começar a "temporada de inverno" o asfalto já tenha chegado até a cidade e aí sim teremos uma nova Campos do Jordão, como MV vem ameaçando se tornar há alguns anos. Chegamos em lá por volta das 14h, com uma leve garoa e os picos totalmente encobertos. Deixamos o carro em frente ao Café Plato, proximo do início da trilha, e aproveitamos para comer alguma coisa, já que a trilha até o Selado não era muito longa. Enquanto comíamos chegou um grupo completamente encharcado que tinha feito a trilha pelos picos durante o dia, que nos chamou a atenção por uma de suas integrantes, uma menina toda punk-gótica (toda de preto com direto a coturno, meia arrastão e cabelo com mexa verde e tudo) no maior alto-astral.

 

A garoa começava a se transformar em chuva mesmo, e eu começava a me preocupar realmente com a empreitada. Aparentemente não estava rolando trovoada, mas as nuvens estavam bem escuras. Enquanto esperávamos para ver se a chuva parava, fiquei trocando ideia com essa galera da trilha - que ja começava a comemorar sua empreitada com cerveja - enquanto os meninos davam a ultima arrumação em suas mochilas, ainda no carro.

 

Nos despedimos de todos - com muitos votos de boa sorte, por conta do mau tempo - e as 14h50 começávamos a subida pela trilha que leva ao Platô. Como eu havia dito, a mochila do Ivan era muito pequena, mal cabia suas coisas, então quase tudo foi parar na minha mochila e na do Alan. Exageramos tambem, por insistencia do Ivan, na quantidade de água que carregamos, divididos entre os três estávamos levando mais de 8 litros. O peso, somado a minha falta de condicionamento, começou a me deixar pra trás na subida. Para minha sorte, lá estava o Alan filmando alguns trechos da trilha na subida para o Platô, o que me permitiu recuperar o folego, mas continuei subindo no ritmo de tartaruga manca.

 

A chuva resolveu mostrar realmente a que veio, transformando a trilha num verdadeiro riacho. Estávmos quase chegando ao Platô quando uma pergunta se fixou em minha mente e eu não consegui me aquietar até formalizá-la em voz alta: "Gente, voces lembraram de pegar o Alcool??". Intuição feminina é f***... ainda bem que eu nao havia jogado fora nem deixado minha garrafinha de reserva para trás, se não ainda teríamos que comer comida gelada.

 

Chegamos ao Platô em cerca de 1h, mal dava pra ver pra que lado ficava o pico. Seguimos pela trilha que leva ao Selado, acelerando o passo, para aproveitar o terreno plano, pensando em sair logo daquele pé-d'água. Em algum ponto do caminho, a chuva resolveu dar uma trégua, mas a vegetação e os charcos que se formaram pela trilha cumpriram bem a missâo de nos deixar molhados da ponta do pé até os fios do cabelo. Em uns 50 minutos a partir do Platô, chegamos na base do Selado, com uma ventania que gelava nossos ossos. Praticamente não havia um lugar que fosse mais protegido onde pudéssemos armar as barracas - e com o frio que estávamos começando a sentir, nem ficamos procurando muito, armando as barracas no local mais plano e menos encharcado que encontramos, o Alan, em cima de um trechinho gramado e eu, em cima de uma laje de pedra meio inclinada, prendendo o sobreteto da barraca com pedras soltas que encontrei.

 

A chuva havia parado, mas a visibilidade era nula. Em alguns momentos, por cerca de 1 minuto, o tempo abria e dava para ver Camanducaia lá em baixo. Armamos as barracas e nos enfiamos dentro das roupas secas antes que o corpo perdesse mais calor. Muitas das coisas que os meninos levaram haviam molhado e aquela prometia ser uma noite gelada por isso.

 

Começamos a agilizar o jantar (de novo, viva o feijao da Camil!), apanhando um pouco por conta do vento, até improvisarmos um para-vento para a espiriteira do Alan com a caixa do feijão. Descobri que o meu para-vento, feito com uma lata de Nescau, estava me sabotando (pouca passagem de ar), então ajeitamos as panelas e rezamos para que o pouco alcool que eu tinha trazido fosse suficiente para aquecer a comida - mal tinha 100ml na garrafinha. Mas conseguimos, e em alguns minutos tinhamos arroz, feijao com calabresa, farofa e seleta de legumes, para três mortos de fome, um verdadeiro banquete, acompanhado de vinho.

 

A temperatura deveria estar por volta de uns 13°C, mas a sensação termica causada pela vento era muito pior, e as 21h já estavamos entocados em nossas barracas. Dormi feito um anjo pelo que achei que fosse a noite inteira, ja que quando acordei uma claridade invadia a barraca. Olhei no relógio e para minha absoluta surpresa, eram 22h30! Saí da barraca para entender de onde vinha tanta luz, e descobri que o tempo havia aberto um pouco e a lua iluminava o pico. So que o vento continuava gelado demais para pensar em ficar lá fora. Pouco antes da meia-noite, a chuva voltou com tudo, me parecia até que o vento havia mudado de direção de vez, pegando a barraca pela lateral. Acordei com a barraca sacudindo e me vi obrigada a sair e prender de novo o sobreteto com mais pedras, porque o risco era de o mesmo sair voando - o sobreteto, a barraca, e porque nao, eu? heheh Pensei que ela realmente não aguentaria aquela noite, a cada rajada eu via as varetas envergarem

 

Dai entrei num ciclo de dormir uns 20 minutos (com a sensacao de quem dormiu por horas) e acordar assustada com o vento sacudindo a barraca ou com o saco de dormir escorregando em direção ao pé da barraca. Um pouco de chuva tambem havia se infiltrado na barraca, já que o vento continuava sua luta contra minha barraca e o sobreteto estava encostado na lateral. O pé do saco de dormir estava completamente molhado, enfiei um saco de lixo nos pés, por dentro do saco de dormir, e tentei pegar no sono novamente.

 

Lá pelas 5h30 eu parei de insistir em tentar dormir. A chuva continuava lá fora e eu tinha a impressão de ouvir os meninos conversando. Meia hora depois, ouvi o Alan me chamando para levantar acampamento, aproveitando outra trégua da chuva. E a vontade pra sair daquela barraca, cadê??? Colocar a bota completamente molhada foi uma atitude extremamente corajosa naquela hora rs. Não havia como insistir no restante do trajeto. A chuva ia e voltava , sem cara de que ia melhorar; eu estava de anorak e ainda tinha roupas secas, mas os meninos estavam com roupas de algodão e com praticamente tudo molhado. Além disso, nao tinha combustível nem pra fazer um café com leite e tirar a friagem do corpo. Hora de abortar o plano e ir pra casa.

 

Arrumamos as coisas rapidamente, esvaziamos as "centenas" de garrafas de água que havíamos trazido - se usamos 2L pra preparar o jantar, foi muito - juntando tudo num sacão, amarrado na mochila do Alan. Voltamos até o Café Plato em cerca de 1h30, não sem antes passarmos batido pela continuação da trilha depois do Platô e perdemos uns bons 15 minutos descendo, desnecessariamente, um trecho de rampa de pedra, por minha culpa hehehe

 

Trocamos de roupa e, naquelas condições, tomei o chocolate quente mais maravilhoso que me lembro na vida rs. Arrumamos as coisas e voltamos pra casa, chegando em Sampa por volta do meio-dia.

 

Eu já tinha ouvido muitas histórias sobre perrengues passados em trilhas por conta de tempo ruim, mas nunca tinha nem passado perto de um. Admito que nem foi lá um "enorme" perrengue, mas poderia ter sido muito pior. Os pequenos apertos foram fruto de pouca experiencia mesmo - Poderíamos ter fuçado um pouco mais a baixo por um local mais abrigado, eu poderia ter armado a barraca prestando mais atenção ao sentido do vento, os meninos estavam com colchonetes e roupas de algodão que garantiram uma noite mais gelada que a minha, e o ítem mais essencial, COMO que se esquece o combustível pro fogareiro??? rs

E se começasse a trovejar lá em cima, ai sim estariamos numa grande encrenca.

 

Mas seja como for, as burradas me ensinaram algumas liçôes importantes que eu duvido que teria aprendido de outra forma.

 

E apesar do mau tempo, os três se divertiram nessa pequena e encharcada empreitada.

 

Agradeço ao Alan pelo convite (repito: estamos aí pras proximas,camarada, mas se equipa um pouquinho melhor pra não passar o mesmo aperto rs) e ao Ivan pela divertidíssima companhia e pelo saquinho de torrone! rs

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O relato da Cris ta perfeito....rs

 

Aprendemos mto com as coisas q aconteceram, por mim, faria tudo outra vez...rs mto boa essa aventura...

 

Segue o link dos vídeos dessa aventura, por conta da chuva, tivemos poucas paradas pra gravação, mas deu pra relatar um pouquinho dessa trip!

 

PARTE 1 - Acampamento Monte Verde

 

PARTE 2 - Acampamento Monte Verde

 

Grande abraço a todos, e vamos marcar outras aventuras e prometo ter mais material pra mostrar!

 

ALAN PETRILLO

http://www.qzona.com.br

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Augusto, Como que ia ter foto com um pé dagua desabando sobre nossas cabeças??? Agradeça ao Alan que parou pra filmar, senao, nao teria registro dessa trip! rs

 

Alan, que bom que voces nao sairam traumatizados dessa trip, pois isso realmente me preocupou. Na proxima, como conversamos, trekking em Brasilia, ok? Tempo seco e nada de subidas! ahauheuaiheiua

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Fála Augusto,

 

As imagens q vc viu onde tinha um pouco de sol, foram da outra viagem q fiz final do ano passado, e coloquei nessa montagem só pra ilustrar, pois tinha pouco material....Pretendo da próxima trip fazer algo mais elaborado com a galera q for junto falando um pouco tbm e participando mais!

 

Agora só resta saber, qual será a próxima.....rs Sugere algo ? Cris, alguma idéia? espero dessa vez não levarmos os 8 litros de água, pois não sou "incanado" igual o Ivan...hehehe

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  • Membros de Honra

Cris, eu acho que tu nunca tinha tomado um caldão destes, né? um imprevisto, que te fez voltar atrás.. acontece!

Mas o que vale é curtir a trip, conhecer o lugar, a parceria. Parabéns, como sempre, um ótimo relato!

Mas posta umas fotos, ok? Bjo

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