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Etiópia, Quênia, Tanzânia, Zimbábue, Botsuana, Zâmbia e África do Sul - 39 dias em Setembro/Outubro de 2016 - Parte 1/2


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  • Colaboradores

Preparativos

 

No dia 31 de agosto à noite me encontrei com meu calouro de faculdade Haddad e meu primo Tobias no aeroporto de Guarulhos. Algumas horas depois partiríamos para um tour pela África. A passagem de ida pela Etiópia e volta África do Sul havíamos comprado alguns meses antes em uma promoção da Ethiopian Airlines por 1816 reais com taxas. Devido à falta de informações precisas pela internet, grande parte do roteiro foi sendo definido enquanto já estávamos por lá.

 

Para que não morrêssemos de fome esperando as várias horas até o voo, procuramos algum lugar mais em conta no caro aeroporto. Descobrimos uma lanchonete chamada Bom Senso, onde a comida custa cerca de metade do preço. Ela fica instalada no térreo do terminal 2, mas como o acesso não é muito fácil de achar ou explicar, perguntem para qualquer funcionário (os principais clientes) como chegar lá.

 

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Dia 1

 

O voo foi conforme o esperado, nada de muito bom e nem muito ruim. Chegamos no início da noite na capital Adis Abeba, depois de breve escala em Togo. Pagamos os 50 dólares pro visto ser emitido, sacamos uma boa quantia da moeda local (birr!) e dividimos um táxi até a hospedagem, a Family Cozy Bed & Breakfast, cuja diária custou 15 dólares por cabeça com café-da-manhã. Apesar do Michael (o responsável pelo local) falar inglês fluente e ser muito simpático e prestativo, de resto ali já começamos a ter uma boa noção de como funciona o atrasado país.

 

Mesmo na capital, praticamente ninguém fala esse idioma, apenas sua língua de caracteres indecifráveis que se chama amárico. Provavelmente por ter sido o único país do continente não colonizado por europeus. Outro motivo é o de receber poucos turistas de fora da África: durante os dias em que ficamos, pudemos contar nos dedos a quantidade de não negros que vimos por lá.

 

A constatação seguinte foi quanto à precariedade das condições de higiene, como o rato que passeava pela cozinha da hospedagem – não é de se admirar que estava ocorrendo um surto de cólera naquele período. A infraestrutura também deixa muito a desejar: cartões de crédito aceitos somente em hotéis de luxo; quedas de luz não são raras; internet vai e volta; há pouquíssimos semáforos (o da praça principal leva 4 minutos para abrir!); fora a poluição.

 

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Apesar disso tudo, há um lado positivo. A experiência é mais original e o país é muito barato.

 

Jantamos injera, o prato mais típico da culinária etíope. É uma massa esponjosa parecida a uma panqueca, mas à base do resistente grão tefe, o principal cultivado no país. Puro quase não tem gosto, mas ele sempre acompanha alguma proteína temperada com pimenta e coentro, entre outras especiarias. Apesar do coentro, eu e Haddad curtimos, Tobias não.

 

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Dia 2

 

A cia aérea estatal, a única que opera voos domésticos, é a primeira que eu conheço que vende passagens pelo preço quase igual no dia do voo ou meses antes. Acredito que seja pela baixa procura, já que a população local não tem condições financeiras, já que os voos não são nada baratos se comparados com os demorados trajetos terrestres. Dica: quem voa o trecho internacional com a Ethiopian Airlines tem direito a um desconto nos voos nacionais.

 

Como no norte do país choveria nos próximos dias e estavam ocorrendo protestos violentos contra o governo, resolvemos deixar de fora os destinos mais conhecidos do país, Gondar e Lalibela. Em vez disso, compramos o voo para Arba Minch no sul. Uma hora depois já estávamos embarcando no turbo-hélice.

 

O hotel, arranjamos no próprio aeroporto na chegada, ganhando uma carona até lá. Ficamos hospedados no decente Ezani Hotel – não parece haver albergues na cidade.

 

Já naquela tarde conseguimos negociar um bom preço na associação de guias para um safári a pé na parte mais acessível do Nechisar National Park, colado em Arba Minch. Ficamos com receio do custo quando descobrimos que na entrada precisaríamos contratar um guarda armado como escolta, por causa dos grandes animais, mas assim como a taxa do parque, o preço foi irrisório. O valor total por pessoa, incluindo o tuk-tuk até a entrada, foi de uns 45 reais.

 

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Assim adentramos por alguns quilômetros a pé ao longo de uma estrada de terra, fazendo pequenas incursões na mata conforme detectávamos a presença de algum bicho diferente. Encontramos grupos de babuínos e colobos no topo das árvores, que aumentavam de tamanho à medida que nos aproximávamos da nascente de água.

 

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Vimos também algumas aves diferentes, especialmente na volta durante o pôr do sol, como o rabilongo-bronzeado (Cinnyris pulchellus), da família dos beija-flores do Velho Mundo, inexistentes em nossas terras.

 

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À noite comemos mais injeras e tomamos as boas (sem milho!) e baratas cervejas etíopes no próprio hotel. Foi quase no escuro, pois aparentemente eles não curtem muito iluminação noturna.

 

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Dia 3

 

Esse foi o dia de ver os animais grandes. Pagamos o triplo do preço por um safári mais completo no mesmo parque, mas em outro setor. Depois de quase perder a carona devido à demora na preparação do café-da-manhã (fato comum para todas as refeições nesse país, já que não existem redes de fast food), subimos num jipe que nos levou até a margem do Lago Chamo, donde embarcamos em uma canoa com motor até a outra margem.

 

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Logo de cara vimos diversas aves, um pequeno antílope, galinhas da Angola de cabeça azul e até um louva-a-deus minúsculo.

 

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Adentrando mais a fundo, começaram a surgir mamíferos de maior porte. Zebras e antílopes de outras espécies como a gazela de Grant (Nanger granti), com seus traseiros que mais parecem faces, chegaram relativamente próximas.

 

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Subimos uma colina para ter uma boa vista do descampado. No caminho de volta tivemos a sorte de ver um grupo de kudus (outra espécie de antílope), cujos machos portam imponentes chifres espiralados.

 

A volta de barco foi por outro caminho, passando próximo à vegetação ribeirinha, o que permitiu ver pescadores em suas jangadas sem proteção alguma, junto a cegonhas, garças, águias e pelicanos...

 

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...além dos 2 vertebrados que, depois das cobras, mais vitimam seres humanos no planeta, o hipopótamo e o crocodilo do Nilo. Nosso encontro com esse último foi um tanto arriscado. A besta de uns 3 metros estava descansando sobre a vegetação quando o barqueiro foi ao encontro dele. Nessa hora o crocodilo saltou pra cima da embarcação, momento em que todos tomaram um puta cagaço. Felizmente ele se jogou pro lado, mergulhou em seguida e se mandou.

 

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Com algum tempo sobrando à tarde, demos uma pequena volta pelo centro da cidade para comprarmos souvenires. O problema foi que era impossível caminhar pelas ruas sem que ninguém nos importunasse.

 

Para o pôr do sol fomos ao mirante do hotel Bekele Mola, ao final da avenida onde estávamos hospedados. De lá se tem uma cena bacana do parque e dos grandes lagos, divididos por uma montanha.

 

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Dia 4

 

Na manhã fomos ao terminal de ônibus. Tivemos que esperar bem mais de 1 hora nesse local deplorável até o ônibus partir, pois assim como na maioria dos países africanos em que estive, o veículo só parte quando estiver cheio.

 

Uma hora e pouco depois da partida, descemos no alto de um morro, com o clima bem mais fresco que o calor lá de baixo. No meio da neblina fica a tribo da etnia Dorze. Haddad foi logo cercado de crianças sorridentes.

 

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Pagando a entrada de uns 100 birr (~15 reais) e mais um guia local, já que os tribais não falam inglês, fomos levados à vila, onde tivemos acesso a algumas habitações e suas tradições.

 

Cada família cerca uma pequena área, onde fica(m) a(s) oca(s), feitas de madeira, bambu e folha de bananeira e o jardim, onde cultivam as plantas e animais.

 

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Inexplicavelmente, eles fazem fogo dentro de suas cabanas e ainda colocam animais como vacas e cabras por lá. O resultado disso é que eu não consegui ficar mais de alguns minutos lá dentro, tamanha a quantidade de fumaça e fedor, além da escuridão.

 

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Outra demonstração foi de suas artes manuais, como a tecelagem e dos alimentos, como algo parecido com queijo feito da fermentação do caule da bananeira. Bebemos o forte destilado produzido localmente com, adivinhem, bananeira, que inclui lúpulo e até alho.

 

Na despedida, enquanto aguardávamos o ônibus, paramos em um bar para provar outra iguaria, o tej, bebida milenar etíope que assemelha-se ao hidromel. O gosto é aceitável, mas o melhor de tudo é o preço: uma taça por menos de 1 real!

 

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Regressamos à capital novamente por via aérea e seguimos para o Museu Nacional da Etiópia. Por 10 birr, o espaço bilíngue demonstra bem superficialmente através de artefatos a história do país.

 

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No entanto, a seção principal é a de paleontologia e arqueologia. No país foram escavados e descobertos algumas das mais antigas espécies de hominídeos. Entre elas, encontra-se o esqueleto original da famosa Lucy, o australopiteco mais completo já encontrado.

 

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Para a janta, ficamos com um sandubão numa lanchonete próxima. Ao retornar para o mesmo hotel de antes, tivemos que nos contentar com mais um apagão de luz.

 

Dia 5

 

A dor de cabeça para comprar o voo seguinte de saída para o Quênia foi grande, principalmente no meu caso. Como não conseguia de forma alguma pela internet no celular, tive que ir até o luxuoso hotel Hilton, onde ficavam os escritórios das únicas companhias que faziam a rota: Ethiopian Airlines e Kenya Airways. Muitos rolos depois, a situação foi resolvida por 198 dólares.

 

Almoçamos pelo centro, levados por 2 nativos que queriam praticar o inglês com a gente (não, eles não pediram dinheiro no final). Em frente ficava o moderno metrô elevado construído há um ano pelos chineses, sendo o primeiro sistema do tipo em toda a África!

 

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Pagamos os míseros centavos de passagem para ver a cidade de cima. Logo que o trem saiu do centro infelizmente a miséria já ficou evidente.

 

No fim do dia participamos do festival em comemoração ao ano novo... pois é, a Etiópia utiliza um calendário próprio de datas, onde até mesmo as horas são diferentes, uma confusão só! No pavilhão a céu aberto vendia-se de tudo, incluindo xing-lings; ficamos com as baratas (12 birr ~ 1,7 reais) e gostosas premium lager St. George, enquanto assistíamos aos shows musicais animadinhos. Aparentemente a mesma banda tocava todas as canções, trocando apenas o vocalista como num show de calouros.

 

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Dia 6

 

Voo para Nairóbi pela manhã. Quase fiquei preso na imigração, pois o oficial não aceitou meus dólares, pois as notas tinham sido emitidas há mais de 10 anos, apesar de estarem em bom estado de conservação! Meu passaporte ficou retido até que eu conseguisse trocar numa casa de câmbio para pagar os 50 dólares do visto de turismo.

 

Enquanto aguardava a chegada de meus amigos, que vieram num voo posterior, fiz uma pesquisa de preço para os safáris. Com a negociação, conseguimos uma carona até um escritório no centro, onde fechamos acordo com a Big Time Safaris. 320 dólares para 3 dias de pura diversão, incluindo hospedagem, alimentação e transporte – talvez até menos do que se fôssemos por conta própria!

 

O trânsito da desenvolvida Nairóbi é um dos piores que já vi. Ainda bem que pagamos uma tarifa fixa, pois levamos quase 2 horas para ir de lá até nosso maneiro albergue (Milimani Backpackers) na saída da cidade voltada pra rota do safári, no bairro residencial de alta renda Karen. Ali enfim pudemos relaxar e usar uma internet decente.

 

Dia 7

 

Cedo a van para o Parque Nacional Maasai Mara (nomeado em referência ao povo semi-nômade que por ali vive) veio nos buscar. Nossos companheiros dos dias seguintes seriam o alemão de meia-idade Mike, o brasileiro Kako, o casal australiano Laura e Nick e o guia/motora Stanley. No começo da longa jornada o veículo para em um penhasco ao longo da estrada para que se fotografe o vale do Rift. Não caia na armadilha de comprar souvenires, pois você encontrará mais tarde preços bem menos exorbitantes.

 

Por várias horas a paisagem resumiu-se a vilas e terras semiáridas com pastores.

 

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Paramos para almoçar, e no meio da tarde chegamos à área do parque, onde você encontra parte da tribo. Cuidado ao fotografar os nativos Maasai Mara, pois muitos deles acreditam que você está tentando roubar suas almas – o resultado pode ser uma chuva de pedras em sua direção.

 

Tivemos tempo para umas 2 horas dentro dos portões do parque até o sol esvair-se. Foi tempo suficiente para perceber o quanto aquele lugar era especial. Gnus, búfalos, girafas, babuínos e muitas espécies de antílopes, como a vaca-do-mato (Alcelaphus buselaphus) da foto, todos se alimentando da rala vegetação que restava no fim da estação de seca.

 

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Para nossa surpresa, avistamos até mesmo os grandes (e preguiçosos) felinos leão e guepardo. Este último é o animal terrestre mais veloz do planeta – até 130 km/h!

 

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A janta, assim como as demais refeições, não possuía muita diversidade, mas ao menos tinha quantidade. Quanto à acomodação, próxima à entrada do parque, era uma tenda grande com camas e mosquiteiros similar a um quarto, e com um banheiro anexo.

 

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Dia 8

 

Com o dia inteiro de condução pela frente, o jipe explorou novas áreas da savana. Além dos animais já vistos, muitos outros se somaram à lista, convivendo em aparente harmonia.

 

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Entre as cenas mais diferentes que registramos esteve a carnificina na decomposição de uma carcaça de zebra por abutres e cegonhas.

 

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Outra foi a encarada de uma gazela-de-thomson (Gazella thomsonii) numa hiena que repousava sob uma sombra. Como se a tivesse provocando, ficou vários minutos naquela posição. Perdeu a noção do perigo? Certamente não, pois a velocidade dessas gazelas só é inferior a do guepardo.

 

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Famílias de elefantes e aves coloridas também chamaram nossa atenção, mas nada foi tão surpreendente quanto o que vimos enquanto almoçávamos às margens do rio que separa o Serengeti (Tanzânia) do Maasai Mara (Quênia), onde é mais visível a grande migração das zebras e gnus em busca de alimento.

 

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Receosos, os animais só fazem a travessia quando alguém toma as rédeas. Por quê? Foi o que descobrimos em seguida. Quando uma família de zebras estava no meio, malandramente um crocodilo se aproximou e abocanhou o pobre do filhote, que não teve chance alguma, submergindo imediatamente para nunca mais voltar.

 

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Impressionados com a cena, seguimos para o alto de uma colina, para uma foto coletiva longe dos animais, mostrando o cenário quase plano do parque.

 

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Antes de sair do parque vimos mais um tanto de animais, como esse abelharuco-dourado (Merops pusillus), de uma família ausente nas Américas de comedores de vespas e abelhas.

 

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Ainda à tarde, saímos do parque para visitar uma aldeia Maasai Mara. Depois de uma dança um tanto tosca e de um pagamento à parte, nos levaram ao cercado e mostraram seu modo de vida, com o pastoreio de cabras, as habitações minúsculas e precárias e como fazem fogo. Fiz até um escambo com o filho do chefe, trocando um relógio velho por algumas joias artesanais.

 

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Dia 9

 

Acordamos cedo para admirar um lindo nascer do sol dentro do parque.

 

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Com mais algumas sobrando, encontramos chacais atrás de galinhas da Angola, avestruzes e antílopes pastando, e leões e guepardos sentados. Esses últimos sem pressa alguma para caçar, devido à abundância de comida disponível para eles.

 

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No almoço não podia faltar o chapati, uma massa parecida com a de panqueca de origem indiana, mas comum no leste da África.

 

Para não termos que nos deslocar, acabamos reservando um hotel bem no meio do centro, uma área perigosa amedrontadora pela noite. Nem saímos do hotel para jantar. Para meu desgosto escolhi um dos muitos pratos que vinham entupidos de coentro e super apimentados para padrões brasileiros. Eis o chicken tikka.

 

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O próprio hotel tinha um bar, onde nós (os únicos turistas) interagimos com os simpáticos locais.

 

Dia 10

 

O destino do dia foi o Hell’s Gate National Park, o local no qual o filme Rei Leão foi baseado. Como fica um pouco afastado de Nairóbi, tomamos uma matatu (van) até Naivasha para não gastarmos com táxi. De lá, subimos em outro até a entrada do parque. Ali alugamos bicicletas e pedalamos na estrada de chão entre babuínos, antílopes, zebras, javalis e girafas.

 

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As feições geológicas são uma atração à parte. Uma delas é a caverna de obsidiana, uma rocha negra brilhante. Dentro dela encontrava-se um ser que não existe nas Américas, o hírax.

 

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Ao deixa-la, tive o infortúnio de ter o pneu furado. Ainda assim, resolvi continuar pelo caminho mais longo. As horas seguintes foram sofridas, empurrando aquele peso morto morro acima num sol de rachar. Tive a maior sorte quando, ao chegar ao mirante de onde se viam as fontes geotermais, encontramos um casal canadense que me cedeu uma bomba de ar que resolveu meu problema.

 

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Com o tempo perdido, tivemos que meter uma correria até os cânions dos portões do inferno.

 

Abaixo de uma das torres do parque ficam gargantas próximas a algumas das fontes geotermais (algumas rochas e trechos de riacho apresentam altas temperaturas). Para acessar é recomendado um guia; pegamos um moleque na entrada da trilha que nos levou em troca de umas moedas. Algumas das fendas são estreitas, mas o acesso não é tão difícil.

 

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Quando regressamos já começava a escurecer e o parque a fechar, mas ainda tinha gente lá dentro. Para voltar à Nairóbi tivemos que negociar muito para pagar o caminho de volta, já que estávamos quase sem xelins quenianos ou dólares.

 

Dia 11

 

Era cedo quando pegamos um ônibus bem meia-boca que fez o longo trajeto até o aeroporto de Kilimanjaro, passando pela fronteira de Namanga-Tanzânia, onde tiramos um visto de turista (50 dólares). Não é mais necessário levar fotos, eles tiram na hora.

 

Do aeroporto de onde se mira a imponente maior montanha do continente, voamos por 57 dólares pela cia de baixo custo tanzaniana Fastjet. Não há nenhum serviço de bordo grátis e o entretenimento se resume a uma revista, além dos voos geralmente saírem com atraso. Ao menos, os aviões são grandes e novos.

 

Chegamos à capital Dar es Salaam já na hora de dormir. Como teríamos um voo bem cedo e o táxi para estrangeiros era abusivamente caro, caminhamos até achar um hotel simples que nos custou 20 dólares por cabeça com café incluído, o Transit Motel Airport.

 

Dia 12

 

Ao nascer do sol voamos novamente com a Fastjet para Mbeya, no sudoeste da Tanzânia, por 36 dólares. Chegando ao minúsculo aeroporto, dividimos um táxi até o local de onde saiam os ônibus para a praia de Matema, nosso destino final às margens do Lago Nyasa/Malawi.

 

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Foi um parto de viagem, pois estava um calorão e o ônibus que fazia uns barulhos estranhos parava a cada poucos km, tendo que esperar estar cheio novamente para seguir rodando. O que seria feito em menos de 3 h de carro levou quase 6. A viagem foi tão dura e a decepção de chegar num lugar tão subdesenvolvido (não por muito tempo, visto que há uma grande obra de infraestrutura chinesa) que Tobias decidiu se mandar dali!

 

Azar o dele, pois o melhor ainda estava por vir. Caminhamos da vila de pescadores em direção oposta pela praia, à procura de hospedagem. Encontramos 3: a primeira um centro luterano não muito simpático, a segunda simples e em conta mas ainda não nos agradou, até que a terceira nos encheu os olhos. Apesar de mais distante e cara (30 dólares por cabeça pelo bangalô com café-da-manhã), a Blue Canoe Safari Camp, administrada por um alemão, é um lugar limpo, ecológico, confortável, silencioso, à beira da lagoa e possui o único ponto de internet da região.

 

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Com o sol se pondo, fomos à foz do Rio Lufirio, há uns 500 m dali. Tinha lido na internet que havia hipopótamos nesse ambiente. De fato, encontramos várias pegadas e ouvimos ruídos que só poderiam vir de um dos animais que mais matam humanos na África. Por isso, não chegamos a entrar na água, mas isso não nos impediu de ver um cenário de dar inveja.

 

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À noite jantamos espaguete vegetariano, o prato mais barato da pousada, e tomamos uma gelada na frente da lagoa, com um baita céu estrelado e silêncio quase total.

 

Dia 13

 

Usei meu equipamento de snorkeling pela primeira vez na viagem. Há infinitas vidas atrás ocorreu um fenômeno de evolução biológica surpreendente no Lago Nyasa, devido ao isolamento em sua formação, o que resultou na multiplicação das espécies de peixes da família dos ciclídeos. Uma diversidade de cores existente apenas nesse e em outros grandes lagos da região.

 

Para tentar acessar os melhores pontos de mergulho, próximos à vila de pescadores, começamos caminhando pela areia, mas veio tanta gente encher o saco dizendo que era proibido seguir sem guia que continuei pela água. Nadei por alguns km até onde ficava o suposto ponto, mas não o encontrei. Apesar disso, vi bastante peixe pequeno da família dos ciclídeos no trajeto, mais na parte rasa.

 

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Somente consegui voltar por terra porque uma alma bondosa, vendo que eu estava sofrendo (de verdade) com aquela areia grossa e fervente, me emprestou seu chinelo.

 

Na própria vila de pescadores, já no meio da tarde, tivemos uma refeição caseira e infinitamente mais barata que a da nossa hospedagem. Tirando a gororoba verde, o resto estava bom.

 

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Regressamos à foz do rio, dessa vez em busca de aves. Além de alguns passarinhos indistinguíveis, maçaricos, uma águia e um frango d’água pintaram por lá. Destaque para os diversos martim-pescadores.

 

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À noite estávamos numa boa confraternizando com os outros poucos hóspedes da pousada, quando de repente a tela do meu celular derreteu. Ela já estava rachada há meses, mas dessa vez ela parou de aceitar o toque em partes da tela e logo depois de meu amigo ir embora parou de funcionar completamente. Agora sem GPS e internet as coisas iam ficar ainda mais complicadas.

 

Dia 14

 

Dia de pegar a estrada novamente. Como não havia previsão da saída de ônibus de Matema, tomamos um dala-dala (van) até Kyela, que é a cidade mais próxima, e outro até Mbeya. Mais uma jornada chata.

 

Como o tanso do Haddad havia comprado a passagem aérea para o dia errado, e para embarcar naquele momento estava impossivelmente caro, nossa despedida foi antecipada. Segui sozinho e sem celular para Dar es Salaam. Para não ter que arcar com o custo de um táxi sozinho, puxei papo com 2 alemães que sentavam ao meu lado e que se chamavam Tim. Acontece que eles eram técnicos do time de futebol tanzaniano Toto African. Como resultado, indo com eles consegui pagar a tarifa de táxi para residentes e ficar num hotel acessível. Jantei com os 2 e fui para o primeiro quarto privado da viagem.

 

Dia 15

 

Peguei um dos ônibus modernos que contam com uma pista exclusiva e desci na estação da balsa para a ilha de Zanzibar. Como cheguei em cima da hora do embarque acabei caindo na lábia de uns golpistas que me venderam um ingresso mais caro do que os 35 dólares normais vendidos na própria estação. Fiquem mais atentos com isso.

 

Uma hora e meia depois eu desembarquei. Zanzibar é um território semiautônomo da Tanzânia, com águas paradisíacas e um grande influxo de turistas não africanos. A maior cidade, onde aportam os navios, é a islâmica Stone Town. Terra natal de Freddy Mercury, tem suas construções históricas feitas com os corais que envolvem boa parte do arquipélago.

 

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Visitei o museu erguido no local do antigo maior mercado de escravos do leste da África. Conta e expõe a triste história da escravidão dos povos africanos, que demandados por portugueses e outros europeus, em troca de armas e demais artigos manufaturados, capturavam suas tribos vizinhas com a ajuda de árabes e indianos, numa procissão de sofrimento interminável do interior à ilha, onde eram vendidos.

 

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Como era feriado, a cidade estava cheia de gente na orla. Dei uma passeada para ver as construções principais até o solzão se pôr.

 

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Na primeira noite fiquei hospedado no barato Manch Lodge, um albergue localizado em meio aos becos labirínticos de Stone Town. É tão difícil de se localizar ali quanto numa medina árabe, tanto que quando saí para jantar um hambúrguer de mil xelins tanzanianos (~1,60 reais) numa barraca de rua levei uma hora pra achar o caminho de volta. Ah, se meu celular ainda estivesse funcionando...

 

Ainda que em meu quarto houvesse 20 camas, apenas 1 estava ocupada. Meu colega era o italiano Zali, que coincidentemente iria para o mesmo ponto ao norte da ilha que eu no dia seguinte.

 

Dia 16

 

Pela manhã peguei um dala-dala até Nungwi, no norte da ilha. Mzushi, o doidão gente boa que responsável pelo Homeland Swahili Lodge me aguardava na estrada. É verdade que a hospedagem fica meio longe de tudo, mas sempre que alguém precisava de carona Mzushi levava em seu velho carro sem custo algum. Sendo assim, logo que cheguei fui à praia. Como era hora do almoço, tive uma refeição no mesmo restaurante popular que eu comeria em todos os dias e noites em Nungwi, o Mama Africa. Por 3 mil xelins você fica com uma porção de arroz ou chapati, feijão, um pedaço de carne não identificável ou peixe e algo de salada. A comida tem um sabor bem aceitável, e não há muitas opções de restaurantes baratos à volta.

 

Depois da digestão peguei meu equipamento de snorkeling e segui pela praia de água turquesa (mais precisamente pelo mar, já que a maré estava alta) até Kendwa. No caminho, passei por diversos resorts luxuosos.

 

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Cheguei em seguida no Kendwa Rocks, badalado hotel onde há recifes de coral em sua praia semi-particular.

 

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Não sei se fui ao ponto exato, mas encontrei recifes dispersos a cerca de 50 m da areia. Fiquei observando as diversas espécies de peixes, como palhaço e corneta, e invertebrados, como estrelas, ouriços e anêmonas, até ficar desconfortável com a quantidade de pequenas águas-vivas buscando aquele mar quente em meio à visibilidade um pouco baixa.

 

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Retornei à praia de Nungwi e reencontrei Zali e mais o pessoal que faria parte da minha turma pelos próximos dias: o holandês Sjöerd, o inglês Sam, o boliviano Carlos e as alemãs Jule e Tony.

 

Jogamos vôlei de praia até o incrível pôr do sol no mar, que também veríamos nos dias seguintes. De volta ao albergue, rolou um carteado até altas horas.

 

Dia 17

 

Nesse dia eu e os rapazes fizemos um passeio de barco até o atol Mnemba, no outro lado da ilha. Na internet dizia que esse tour custava 45 dólares, mas fechando o acordo em Nungwi nos custou apenas 19 dólares por cabeça.

 

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Navegamos por águas belas até chegarmos ao ponto onde as embarcações atracam. Não é permitido ingressar na faixa de areia, pois a ilha é particular – o dono é nada menos que Bill Gates.

 

Por quase uma hora nos maravilhamos com os muitos corais que cercam a ilha (embora houvesse branqueamento em parte deles) e toda fauna associada.

 

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A diversidade ali é bem maior do que em Kendwa, e há área útil suficiente para que você não fique esbarrando no colega ao lado.

 

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De lá, o barco seguiu à praia mais próxima, onde tivemos nossa refeição inclusa, à base de peixe.

 

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Voltamos a Nungwi, onde jogamos vôlei e futebol de areia.

 

A grande noite chegou. Tive a sorte de estar em Zanzibar com essa turma bem no dia da Full Moon Beach Party, a festa da lua cheia mais famosa da África. Compramos um estoque de cervas a 3 mil xelins cada, agregamos 2 suecas, 1 holandesa e 1 alemão ao grupo, fizemos um esquenta com jogos alcoólicos e partimos em comboio pro agito.

 

Apesar das bebidas estarem meio caras, a festa realizada nas areias do hotel Kendwa Rocks estava bem animada, com vários ritmos e músicas globais, além de performances. Até um ministro de terno caiu na dança. A festa foi ainda mais proveitosa pra quem formou casais entre a galera do albergue. Felizmente fui um deles, saindo de lá apenas no fim da festa ao clarear o dia.

 

Dia 18

 

Como a festa foi longe e estávamos com uma certa ressaca, o dia foi preguiçoso. Não fizemos muito mais do que jogar cartas e relaxar na praia.

 

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Dia 19

 

Ao amanhecer, cada um do grupo partiu para um destino diferente. Eu voei de volta pra capital. Ainda que a distância fosse curtíssima, o avião da Fastjet era de porte normal, já que a empresa não possui aeronaves pequenas. E o preço foi pouco acima da balsa (48 dólares com taxas), diferença que seria anulada caso tivesse que pagar táxi até o aeroporto de Dar es Salaam, já que é para lá que eu iria em seguida, já que tomaria um voo à noite para a capital de Zimbábue (Harare). Esse voo saiu mais caro, quase 100 dólares. Mesmo sendo um voo de duração expressiva, a empresa não serviu sequer água de graça.

 

Para passar na imigração só pude comprar o visto de entrada única, pois não aceitavam cartão, não havia máquinas para sacar antes e eu tinha apenas os exatos 30 dólares do visto.

 

Como já era 2 da madruga, me atirei num banco quádruplo próximo aos guichês de check-in e passei a noite ali mesmo, enrolado na mochila. Considerei o lugar seguro para tanto.

 

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Por causa do tamanho do relato e da quantidade de fotos, o dividi em duas partes. Em breve lanço a parte 2. Enquanto isso, não deixem de conferir outros relatos mais detalhados no meu blog: http://rediscoveringtheworld.com ::otemo::

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