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Acidente a caminho de Uyuni - Empresa "Todo Turismo"


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E ai pessoal!

 

Fiz a trip Bolivia-Peru com meu namorado no mês passado com tudo previamente planjeado para que as coisas saissem minimamente bem, mas, infelizmente, sofremos um acidente logo no começo da viagem, no dia 14 de Julho.

 

A viagem para Uyuni estava programada para o 4º dia do mochilão. Estávamos em La Paz e optamos por viajar com a empresa Todo Turismo porque pareceu ser mais confortável e segura. E de fato no começo a viagem estava indo muito bem - o ônibus era bom, serviram o jantar como combinado, dava para dormir.

 

De madrugada o ônibus estacionou em uma espécie de posto e ficou parado um tempão. Isso começou a se repetir, fiquei com a sensação de que o motorista estava claramente perdido. Deixei pra lá e tentei dormir um pouco. Já de manhã o ônibus começou a trupicar, muitas pedras no caminho. Ótimo, pensei, porque era um sinal de que estávamos próximos a Uyuni - eu já havia lido por aqui que o trecho final da viagem era tenso.

 

Umas 6h30 da manhã, em alta velocidade, o ônibus passou em uma valeta ou bateu em qualquer coisa e depois simplesmente tombou! Caímos para o lado da minha janela. Fiquei soterrada por alguns minutos, na minha frente só via pedras, terra e felizmente um buraco pelo qual entrava luz e eu podia respirar. Em cima de mim caíram meu namorado, mais um turista desmaiado e sabe-se lá mais o que. Tinha quase certeza que não tinha quebrado nenhum osso porque não sentia dores e podia fazer força para cima e para os lados para tentar me desprender, mas era inútil, tinha muito peso em cima do meu corpo. Sem ter como sair dali comecei a gritar por ajuda e logo fiquei sem fôlego, era muita coisa em cima de mim, o pulmão começou a fraquejar. A espera por ajuda durou pouco, acredito que uns 5 minutos (que pareceram uma eternidade!!!).

 

Quando tiraram os meninos de cima de mim consegui levantar e a esta altura todo mundo já tinha saído do ônibus por um buraco que se abriu no teto, bem em cima de onde estávamos sentados. Meu namorado estava com um ferimento em cima da sombrancelha, com sangue escorrendo no rosto e eu com a parte de cima da mão bastante ralada. Do lado de fora, assim como nós, muita gente estava completamente coberta pela terra que subiu do impacto com o chão. A cena só não foi horrível porque todos estavam se ajudando muito e não haviam muitos feridos. Sem grande surpresa tivemos a noticia do que tinha acontecido: o motorista havia bebido durante a viagem.

 

Conseguimos resgatar as malas e mochilas no compartimento de fora do ônibus (que estava agora virado para cima) e muitos pertences que estavam do lado de dentro. Eu consegui encontrar minha câmera intacta e tirei algumas fotos até o meu ferimento na mão começar a incomodar. Escreveram uma carta exigindo que a empresa se responsabilizasse por todos os danos e o motorista, ainda chapado, assinou.

 

Cerca de quarenta minutos depois do acidente chegou uma ambulância. Levaram uma garota com dores fortes na coluna (depois a encontramos em La Paz, ela quebrou 2 costelas), outra garota com sangue no rosto e muito traumatizada (parece que ela não tinha nenhum ferimento grave mas precisou voltar para casa e ficar duas semanas em repouso completo) e o moço que caiu desmaiado em cima do meu namorado - ele de longe foi o caso mais grave, pelo que entendemos, precisou de uma cirurgia no cérebro.

 

Um pouco depois uma ambulância chegou para socorros locais. Eu e meu namorado fomos atendidos com medicamentos e curativos nas nossas feridas. O pessoal desta ambulância resolveu nos levar ao hospital de Uyuni para termos atendimento completo e foram também conosco um boliviano e um casal de alemães que não passavam bem, mas nenhum deles possuia ferimento aparente. No começo eu não queria ir com eles, preferia que pessoas com ferimentos mais graves fossem atendidas primeiro, mas o pessoal insistiu para que fossemos, afinal não haviam mais feridos - é isso aí, a maoria do pessoal escapou ileso ou com machucados muito superficiais.

 

A viagem na ambulância foi péssima, mais e mais pedras no caminho e o medo de tombar outra vez. Minha mão começou a inchar, comecei a pensar que tinha quebrado. Chegamos quase 3 horas depois e no hospital demoraram um pouco para nos atender. Enquanto esperávamos demos depoimentos a um jornalista e um policial. Fizeram um raio-x da minha mão e não havia fraturas, mas o machucado já estava com uma aparência bem feia e eu não conseguia mexer direito os dedos por causa do inchaço e da falta de flexibilidade da pele. Receitaram apenas um remédio para dor - o mesmo para meu namorado. Algumas horas depois o resto dos passageiros do ônibus chegaram ao hospital e fomos todos até a sede da Todo Turismo. Eles disseram para irmos ao um hotel, que eles mesmo reservariam e pagariam, para descansar e conversar só depois que todos estivessem melhor. Enquanto caminhavamos para o tal hotel o pessoal na rua nos olhava assustado, estavamos péssimos.

 

No hotel não houve qualquer tipo de contratempo relevante, os 3 dias de hospagem por lá a Todo Turismo bancou. A primeira noite foi sofrida, limpar a escoriação na mão não foi fácil, gritava de dor e na hora de dormir, só pesadelos. O dia seguinte foi um pouco melhor, naquela altura estar viva e sem nenhum ferimento grave era realmente de se comemorar. Muita gente na cidade estava sabendo da história, quando entrávamos nos restaurantes pergutavam se éramos os turistas do acidente e muita gente na rua olhava quando passávamos.

 

A grande sorte nisso tudo foi ter encontrado ótimas pessoas que nos incentivaram a continuar a trip, porque o impulso inicial depois de ter vivido este absurdo era de voltar imediatamente para casa. No acidente um casal de velhinhos que também viajavam no ônibus nos deram a maior força para continuar seguindo e depois, já em Uyuni, um pessoal de Porto Alegre parou a gente na rua para perguntar se estávamos no acidente e - voilà! - tivemos as palavras certas na hora certa! Estavamos precisando urgente de apoio, de ouvir qualquer consolo e esse pessoal realmente ajudou muito. Eles nos encorajaram a fazer ao menos o passeio de um dia no salar e seguir viagem até Cusco, como estava planejado antes do acidente.

 

Aí o trauma foi passando e as coisas ficando um pouco melhor. Fizemos o passeio e foi muito bom pisar no salar, algo que nos parecia impossível. Após 3 dias em Uyuni pegamos o caminho de volta, claro, de trem, o que também foi realmente uma sorte porque as passagens até Oruro estavam bem disputadas. De Oruro para La Paz o medo no ônibus foi inevitável, mas acho que sofrendo ou não um acidente qualquer pessoal passa medo nas estradas da Bolivia e do Peru.

 

Em La Paz fomos a um hospital porque o inchaço não tinha passado e o machucado não melhorava. Lá descobrimos que estava infeccionado, aí a médica receitou um antibiótico mas disse que eu ficaria bem e poderia seguir viagem. Em Cusco, 10 dias depois do acidente, precisei novamente de um médico porque apesar do machucado ter melhorado os dedos da minha mão estavam ficando escuros, parecia haver algum problema de circulação. E de fato havia mas segundo o médico não era grave - a pancada foi tão forte que comprometeu a circulação, mas ela deveria voltar a funcionar sozinha, aos poucos.

 

Em resumo, a trip mesmo com dificuldades foi se ajustando, conseguimos visitar a maior parte dos destinos programados. Passei apuros por causa da minha mão atingida, justamente a direita, mas meu namorado foi um campanheirão mesmo de olho inchado e me ajudou em tudo. O que ferrou de verde e amarelo foram os gastos com passagens de trem Puno > Cusco > Puno. Não havia clima nenhum para fazer outra viagem longa de ônibus então o trem era uma das únicas opções. Foi osso pagar, mas as viagens foram incríveis, o trem é de primeira classe e as paisagens são demais.

A Todo Turismo devolveu o dinheiro das passagens e dos gastos médicos que tive tanto na Bolívia quanto no Peru. No final ficamos com um prejuízo bastante grande por causa dos gastos com trem, mas ter saído com vida desta situação infeliz e ainda ter seguido viagem foi mais importante que qualquer coisa.

 

Muita história já no primeiro mochilão, fato totalmente inesperado.

Nem comento sobre os perigos da viagem porque em vários momentos do mochilão vi risco de acidente e acho as pessoas bem sabem que nada é 100% seguro (.. tampouco 90%....), o problema com os motoristas imprudentes é uma situação crítica, MUITO infelizmente...

 

Sofreu acidente durante a viagem? NÃO se desespere! Minha dica é: espere o resgate, tente se comunicar com calma para que as pessoas possam saber o que vc está sentindo. Não deixe de procurar quantos médicos achar necessário para se sentir seguro em relação a saúde - em La Paz e em Cusco foi muito fácil conseguir atendimento. Em La Paz passei em um hospital público e em Cusco em uma clinica particular, em ambos fui bem atendida e as consultas foram imprescindíveis para que eu ficasse tranquila em relação ao meu ferimento.

 

É isso aí, se cuidem. E na medida do possível tenham cuidado!

 

Fotos do acidente:

 

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  • Membros de Honra

Meu, estou lendo um livro onde um cara dá uma volta ao mundo viajando pelos locais mais perigosos do mundo em termos de transporte. Inclusivé passou pelo Peru. Já passou por vários locais e não lhe aconteceu nada até agora. E vocês logo no primeiro mochilão, no início do mesmo, sofrem esse acidente. Há quem lhe chame estatística, probabilidades, destino, sei lá... Mas vocês estão bem e isso é o que importa. E tiveram muita força para seguir em frente.

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