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  1. Eu e minha esposa Magali decidimos em setembro de 2020 fazer a travessia. Começamos a planejar e nos preparar desde então. Definimos que a melhor data seria na semana santa pois seria mais fácil de conciliar férias, folga etc e ainda daria uma margem de segurança maior caso fosse necessário estender a travessia. Fomos com o objetivo de caminhar no mínimo 35km/dia mas tentar fazer 40km/dia, que reduziria em um dia a travessia. Inicialmente iríamos seguir no sentido sul (Rio Grande x Barra do Chuí), porém na semana que antecederia nosso início a previsão indicava maior incidência de vento sul e optamos em inverter, saindo da Barra do Chuí no sentido norte. Saímos de Itapema/SC de carro até a rodoviária de Pelotas/RS no dia 27/03 onde deixamos nosso carro e pegamos o ônibus até Chuí. Chegando em Chuí levamos 20min até conseguir um taxi para a Barra do Chuí (lá não existe Uber/99 etc). Pernoitamos em um Airbnb lazarento, mas enfim, a ideia era ficar bem próximo da praia para conseguir começar a caminhada cedo. Obs: não conseguimos sinal de celular na Barra do Chuí. Dia 01 Iniciamos a caminhada as 06:00 do dia 28/03/2021 com vento sul moderado. Nossa ideia inicial era fazer uma parada a cada 10km, porém preferimos tocar direto até Hermenegildo e nos abrigar do vento. Foram aproximadamente 13km até essa primeira parada. Aproveitamos para comunicar os familiares. Trocamos as meias e seguimos a caminhada. Logo ao passar Hermenegildo começou uma chuva leve. Vestimos a capa de chuva e continuamos. Poucos km a frente a chuva engrossou, porém não havia local para abrigo e continuamos a caminhada por mais 5km até encontrar um barraco de pescador onde nos abrigamos por aproximadamente 1 hora até a chuva passar. Ao longo do dia o sol ia e vinha. Como era domingo, vários moradores de Hermenegildo passavam de carro. Estávamos aproximadamente no KM 38, totalmente secos quando uma chuva torrencial nos atingiu. Sem possibilidade de abrigo, seguimos até completar 40km e montamos acampamento em meio as dunas (agora sem chuva). Nessa noite ventou pouco, porém a chuva recente e o orvalho que se formou acabou gerando um pouco de condensação no interior da barraca. Jantamos, cuidamos dos pés e eu percebi a primeira bolha inesperada (bolha nos mindinhos eu já esperava). Distância: 41km (areia fofa) Dia 02 Despertador tocou as 5:00, comemos, organizamos as coisas e levantamos acampamento. Eram aproximadamente 6:45 quando começamos a caminhar com as roupas e tênis molhados. Decidimos racionar a água para reabastecer na casa do Sr. Ricardo que possui poço e atingiríamos entre 10 e 11 horas da manhã. Faltando 1 km da casa do Sr. Ricardo, avistamos uma vaca deitada na beira da praia. Minha esposa achou que ela estivesse morta, mas eu percebi movimentos de orelha. Estávamos a 50mt dela quando nos observou e levantou assustada. Virou-se contra nós e avançou em nossa direção. Nesse momento tentei chamar atenção para mim e me afastei da minha esposa. Imediatamente empunhei os bastões como se isso fosse resolver alguma coisa. A vaca recuou e virou da direção da Magali quando pedi para ela ficar parada e fui até ela. A vaca ameaçou novamente e juntos erguemos os bastões lentamente até que a vaca recuou e se afastou pelo outro lado. Lentamente nos desviamos e seguimos nosso rumo. A adrenalina subiu bastante nessa hora e o susto foi enorme. Melhor que nada aconteceu e ficou apenas por isso. Chegamos na casa do Sr. Ricardo e chamamos por ele. Não estava, enchemos nossas garrafas e tratamos com cloro. Enquanto isso, aproveitamos a sombra para um descanso e para trocar as meias. Descobri uma nova bolha se formando em baixo do outro pé. Quando estávamos para sair chegou um veículo com 3 homens que estavam construindo uma nova casa para o Sr. Ricardo mais aos fundos (pois a atual está quase sendo tomada pelas dunas). Conversamos um pouco e seguimos nossa caminhada. Por ser 2a-feira, nesse dia praticamente não tivemos contato humano. Nesse dia encontramos o único caminhante que veríamos ao longo da nossa caminhada. Nos cumprimentamos, conversamos rapidamente e cada um seguiu seu destino. Nós querendo seguir e ele querendo terminar logo. No meio da tarde pegamos chuva novamente. Decidimos proteger os tênis com o saco que usávamos para atravessar os arroios pois não queríamos andar novamente com os pés molhados. Esse foi o pior dia e a pior noite, o dia todo foi um misto de "chega, vamos desistir, etc", por sorte não passou ninguém oferecendo carona. Quando paramos para acampar, ventava sudoeste e então montei a barraca abrigado por dunas nesse lado. Só havia abertura pequena para o leste e foi ai que começou nossa pior noite. Já estávamos dormindo (aproveitamos 21:30) quando o vento virou leste com chuva forte. Vacilei ao não reforçar o estaqueamento da porta que estava exposta ao leste e aconteceu o óbvio, o speck soltou e essa lateral "caiu". Fiquei sentado encostado no bastão para a lateral ficar de pé. Quando estiou sai à procura de algo para ancorar essa porta e achei um barril cortado que coloquei sobre o speck e enchi de arreia. Nessa noite continuou ventando muito e chovendo diversas vezes. Distância: 40km (areia fofa com bem pouca área firme) Dia 03 Despertador tocou as 5:00, estava chovendo e botei o soneca para + 15min. Continuava chovendo e seguimos dormindo até aproximadamente 6:15 quando parou de chover, então comemos e saímos para caminhar já eram 8:00. Decidimos que 30km estaria bom para esse dia. Seguimos +/- a ideia do dia anterior e racionamos a água para reabastecer no Farol Albardão que estava a 7-8km de distância. Fomos muito bem recebidos no Albardão onde bebemos água e reabastecemos todas nossas garradas. A água lá é potável, então não tratamos nem filtramos. Nesse dia percebemos que uma parada a cada 10km não era sustentável e decidimos parar a cada 7km. Nesse dia comecei a sentir fortes dores na junção do fêmur com o quadril e comecei a "mancar" para não estender a perna e doer mais. Assim foi praticamente até o final da travessia. Outro dia que tivemos pouco contato humano e com pouco vento, dessa vez sentido leste. Apenas no final do dia quando chegamos na área de reflorestamento que avistamos 2 caminhões saindo de uma área indo no sentido norte. Quase no final do dia, avistamos um morador indo recolher sua rede. Perguntamos se conhecia algum lugar bom para acampar na região querendo ouvir um "pode acampar no lado da minha casa" mas veio um "lá naquela baleia tem uma base do reflorestamento, talvez consiga lá". A tal baleia estava a uns 3-4 km e já estava começando a anoitecer. Deveríamos nos arriscar a andar toda essa distância e chegar lá de noite correndo o risco de nem achar a base? Preferimos seguir mais 1km e acampar em meio as dunas altas. Dessa vez ancorei muito bem praticamente todos os lados da barraca para não ter surpresas. Novas bolhas para cuidar. Dormimos magnificamente bem. Como todas as noites anteriores, choveu bastante durante a noite. Distância: 35km (areia fofa) Dia 04 Despertador tocou as 5:00, comemos, organizamos as coisas e levantamos acampamento. Nesse dia acreditamos que seria difícil manter o ritmo e terminar em 6 dias. Já aceitamos que precisaríamos de 7 dias. Porém mantivemos o desejo de fazer os 35km. O dia foi bastante movimentado, muitos caminhões, ônibus, etc. Sabíamos que agora a água viria apenas dos arroios, porém perto das 11:00, quando devíamos ter apenas 1 litro de água, vimos um quadricíclo vindo em nossa direção. Pedi para parar e perguntei se sabia de algum ponto de água pela frente. Conversamos um pouco e o Mauro, funcionário da empresa de reflorestamento, se ofereceu para ir pegar água na base deles. Deixamos nossas 4 garrafas de 1,5lt com ele. Uma hora depois ele passou por nós e falou que deixou as garrafas em uma placa mais a frente para que não precisássemos carregar todo o peso. Caminhamos uns 2km até chegar nas garrafas, tratamos e filtramos. Ficamos absurdamente contentes, não tinha como ficar mais contente. Próximo das 15:00 uma caminhonete branca nos intercepta. São funcionários da empresa de reflorestamento. Conversamos um pouco e eles falam (se pedirmos) que iriam trazer água para nós quando voltassem. Ganhamos o dia e agora não tinha mais como melhorar mesmo. Uma hora depois passa outra caminhonete igual (também da empresa) e pergunta se queremos algo (água, comida, fruta etc). Respondo que aceitamos qualquer coisa, mas principalmente água. Ele diz que na volta trará algo para nós. Continuamos a caminhada e com o sol de pondo resolvemos achar um local para acampar. Enquanto montava a barraca a esposa ficava nas dunas de olho se vinha alguma caminhonete. Quando terminei de montar a barraca, avistei um veículo vindo e como já estava escuro sinalizei com a lanterna. Dois santos que caíram do céu. Nos trouxeram 4 litros de água tratada e gelada (com pedaços de gelo ainda). Não só isso, trouxeram duas marmitas e frutas. Estávamos nos sentindo reis. Só então percebemos que montávamos acampamento praticamente na entrada de uma base deles e nos falaram que o movimento de caminhões ali seria a noite toda pois a operação deles é 24hrs. Nos ofereceram ficar em um alojamento vago. Agora certamente não tinha como melhorar. Decidimos aceitar o convite pois o local onde estávamos era de dunas baixas e o vento provavelmente iria incomodar. Caminhamos quase 2km até chegar na base e nos deparamos com o inimaginável, além de tudo que já tinham nos oferecido, poderíamos tomar um banho quente em chuveiro a gás. Nossa energia se renovou absurdamente nessa noite. Decidimos dormir uma hora a mais nessa noite pois não precisaríamos arrumar muita coisa pela manhã. Agradecemos ao pessoal que nos recebeu e principalmente ao Rodrigo (encarregado). Pegamos seu contato para agradecer novamente quando concluíssemos. Nesse dia outras bolhas surgiram e algumas antigas começavam a parar de incomodar. Distância: 42km (enfim, areia firme) Dia 05 Despertador tocou as 6:00, comemos, organizamos as coisas, reabastecemos nossa água, nos despedimos do pessoal e começamos a caminhada. Pela distância percorrida no dia anterior, decidimos que esse dia seria de luxo, 35km bastaria. Saímos dá área do reflorestamento e começamos a avistar as torres geradoras de energia eólica. Que visão horrível. Você começa a enxergar elas a 20-25km de distância, então caminha, caminha, caminha e caminha ainda mais e nunca chega. Esse dia foi um dia caminhando olhando apenas para baixo, pois era desmotivador. Esse foi o 1o dia que não pegamos chuva na caminhada. O vento estava moderado a forte no sentido leste, o que fez com que a maré estivesse acima do normal, nos forçando a subir para areia fofa em vários momentos. Ao final do dia, chegamos em um trecho de dunas baixas e já bateu aquela sensação ruim para achar um local bom para acampar. Nós não queríamos ter que andar 500-700 metros para chegar nas árvores, querendo ou não é uma distância que pode fazer a diferença e em terreno ruim. Atravessamos o primeiro grande arroio e achamos um ponto menos exposto. Ancorei bem a barraca e dormimos igual reis. Distância: 38km (alternando entre areia firme e fofa) Dia 06 Despertador tocou as 5:00, comemos, organizamos as coisas e levantamos acampamento. Esse seria o primeiro dia para captar água nos arroios. Estávamos com 1 litro de água e a esperança era conseguir água com quem passasse, afinal era feriado e teríamos movimento. Passou o primeiro carro e nada de água. Logo chegamos a outro arroio grande e decidimos captar água ali e garantir. Pegamos 4,5 litros, tratamos e filtramos. Esse dia estava puxado, o vento resolveu querer dificultar e virou norte moderado. Foi o dia todo contra o vento, mas nada nos seguraria. Muitos arroios pela frente, já estávamos exaustos de colocar e tirar a sacola nos pés, mas assim o fizemos durante todo o dia. No 4o ou 5o arroio a Magali não olhou bem o terreno e entrou em uma arreia movediça, ficando com os 2 pés enterrados até acima do tênis. Falei para não tentar sair, fui até ela e puxei ela pela cargueira. Saiu fácil mas encharcou os pés e os tênis. Andamos, andamos, andamos e a quilometragem não andava. Parecida que estávamos em uma esteira, andava sem sair do lugar. Dia bem movimentado, carros, motos, ônibus, bicicletas e o primeiro cachorro de toda travessia. Esse foi o 2o dia que não pegamos chuva na caminhada. Enfim chegamos a praia do Cassino, mas ainda tínhamos 13 km pela frente. Parece que foi a parte mais longa da travessia. A praia estava muito movimentada devido ao feriado. Às 16:30, enfim, chegamos aos molhes. Ficamos sem reação, apenas sentamos e aproveitamos o momento. Decidimos pegar um Uber até Pelotas e retornar direto para casa. Distância: 34km (areia firme) Distância total: 230,74 km Equipamentos que levamos: Murilo Magali Se alguém querer, posso passar também a relação dos alimentos levados. Tracklog
  2. Em tempos complicados nos colocamos na estrada. Foram 26 horas dentro do ônibus. A lotação praticamente vazia, nem 15 pessoas, uma série de protocolos para evitar ao máximo qualquer contaminação. Depois de todo esse trajeto ficaríamos sós, isolados, quase uma quarentena. Sete dias completos e muitas surpresas, superações e no final um evento triste que poderia estragar toda uma viagem, mas deixa pra lá. As pessoas de boa índole não merecem que seja despendida grande atenção para os intrépidos. Dia 1 Ficamos meio período na cidade de Rio Grande, um local de muita história, 9 museus (fiquei sabendo) todos fechados, muita arquitetura e praças dignas de um povo desbravador. Ao meio dia pegamos o circular que vai até a Barra. Descemos no último ponto antes do retorno. Recebeu-nos um aguaceiro danado. Enquanto encapávamos a cargueira e colocava a capa de chuva, tomamos o primeiro banho. Só não foi maior porque fugimos para uma varanda ali do lado. Não demorou para o proprietário aparecer. Depois de algumas curiosidades sanadas, seguimos firmes pelo asfalto até o molhes. Já na chegada encontramos um bugue, nele um homem desesperado. Pedindo ajuda. Seu filho, um amigo e o tio haviam seguido pelo molhes mar adentro. O mar enfurecera e subiu rapidamente. O homem fugiu com o carro mas os outros nem sinal, o molhes já estava praticamente tomado de água. O mar quebrava com força, rajadas de ondas cobriam metros acima do monumento. Orientei o a correr na Barra e chamar o bombeiro ou qualquer coisa (nesse momento eu não havia visto a situação do mar ainda). Quando chegamos no molhes, padre mio... Olhei para trás e lá vinha o homem, não tinha ido atrás do bombeiro ainda. Quando peguei o telefone para fazer a ligação um casal que estava em um trailer ali do lado gritou - Lá, estou vendo alguém. Guardei o telefone, os três vinham com dificuldades entre as ondas. O pai desabou em prantos, e xingamentos. Horas mais tarde fui refletir: ele não ligara para o socorro temendo a notícia horrível que receberia. No final todos ficaram bem. Para nós, vida que segue. Primeiro não conseguimos chegar no molhes, o mar tinha tomado toda a praia. Desviamos pela direita e saímos nas dunas. Dali seguimos com dificuldades contra o vento e sobre as dunas. Para ter uma ideia os banheiros químicos que ficam na praia estavam todos tombados. Mas não se apavoremos, toda essa situação se devia a um ciclone que estava sobre o oceano nesses dias. Caminhamos os 8 km até o Balneário Cassino, durante o trajeto traçamos vários planos B. Se a tempestade não passasse teríamos de esperar alguns dias, em último caso desistir. Pernoitamos num Hostel. Ventava muito. Passei a noite monitorando o ciclone e os ventos pelo app wheater. De madrugada os ventos começariam a se afastar e no sábado já estaria tudo calmo. Dia 2 Acordamos cedo, o vento ainda soprava forte, mas o céu já estava melhor. Partimos. Na praia o mar tinha recuado um pouco, apesar do vento sul. Logo na primeira hora, depois da garoa um arco íris pintou sobre o parque eólico. Isso é um bom sinal. Seguimos firmes, 3 horas depois o parque eólico ainda estava às vistas. Chegamos no Naufrágio Altair. Pera lá! Chegamos perto dele, as ondas tomavam a ruína. O mar já avançara sobre a praia novamente, muitos dos canais de água se tornaram bancos de areia movediça engolindo os pés. Paramos para almoçar no Hotel Netuno, único lugar abrigado do implacável minuano (vento). Voltamos a marcha, agora pelas dunas. A praia estava alagada. Não demorou muito até que a Bruna fosse engolida até a cintura na areia movediça. Com muita luta conseguimos resgatá-la. Um misto de apreensão, medo e comicidade tomou conta dos dois. Às 15:00 demos por vencidos, depois de 30 km, tomamos o rumo da mata, em meio a um novo parque eólico, as poucas árvores restantes serviram de guarida. Dia 3 Saímos cedo, ansiosos por descobrir o que o mar reservara. Pelo menos o vento já reduzira pela metade. Com a praia larga a caminhada fluiu bem. Logo cedo avistamos o Farol Sarita. Mais um desafio psicológico. Caminhamos 25 km dos 30 km, avistando o luminoso, e nada de chegar. Parecia que o negócio tinha rodinhas. Logo depois do almoço o mar voltou a complicar. A caminhada voltou a ser pela duna. Em poucos quilômetros encontramos um homem todo esfarrapado, com uma faca e olhar desafiador. Com receio, me aproximei a tentar um diálogo. Não entendi nenhuma palavra que ele disse, tratava-se de um hermitão que vive nas dunas, provavelmente. Enfim às 15:00 chegamos no farol, e logo à frente tentamos ir para a mata acampar. Caminhamos 3 km circulando o mangue alagado até que decidimos acampar embaixo de um arbusto na duna mesmo (sei que é burrice, mas depois do hermitão, fiquei um pouco abalado, não com medo de ser atacado, mas vai que ele se sentisse invadido...). Depois de lavar as partes no alagado, deitamos na barraca e nem lembramos mais do hermitão ou de qualquer coisa. Nessa hora o vento já havia cessado. Durante o dia, manhã, encontramos muitos carros e motos fazendo a travessia, a penas um grupo de motocross parou e falou que acampariam perto do Farol Verga, que deveríamos passar lá. Também encontramos um leão marinho e muitas, muitas tartarugas mortas. Dia 4 Começamos cedinho na tentativa de fugir das dunas no período da tarde. O dia estava lindo, céu azul, vento leve, areia fina, mar calmo. Encontramos muitos carros fazendo a travessia nesse dia, também um grupo de ciclistas, que inclusive nos deram água. Logo avistamos a primeira carcaça de Jubarte, no segundo dia tínhamos visto uma Beluga morta. Mais à frente um naufrágio recente ainda bastante visível apesar das ondas. Logo que retomamos do almoço encontramos novamente a galera do motocross. Nos disseram que tinham feito um churrasco e esperado por nós, mas... No fim o seu Zeca falou que seria um bom lugar para acampar, e foi o que fizemos. Durante a caminhada da tarde percebemos que algumas caminhonetes iam e vinham pela praia, só não entendi o motivo. Como o mar tinha acalmado e a praia estava larga aproveitamos. Debaixo do sol forte das 14:00 uma das caminhonetes parou, um simpático senhor nos ofereceu um suco de limão, oh glória. Pensa num negócio bom, agradecidos seguimos em frente. Já eram passadas 15:00 quando chegamos no local de acampar. Definitivamente não chegaríamos a tempo de almoçar. Nesse dia alcançamos a marca importante dos 100 km andados. Dia 5 Foi o dia que começamos mais cedo. Logo nas primeiras horas avistamos um senhor maltrapilho, descalço, caminhando com dificuldades. Ainda lembrando do hermitão, me aproximei. Ele com a mão dentro da bermuda, eu com cautela. Surpreendentemente entendi sua fala. Se chamava Paulo, recusou um sapato que tinha minha mochila, recusou comida, apenas aceitou água. Como tínhamos avistado um pouco antes um acampamento de trabalhadores na mata de pinus, orientei o senhor que caso precisasse chegasse lá. Nesse ponto já estávamos no Farol Verga. Saindo do Verga avistamos no horizonte um veículo gigante que saiu na areia e rumou para o sul. Não demorou, encontramos um carro parado com adesivos "Pet Free", não sei o que fazia ali. Uma hora depois aponta no horizonte o gigante, eram um caminhão de carregar toras, carregado. Vinha a todo vapor na areia. Passou por nós, buzinou e sumiu no norte. Paramos para almoçar quando encontramos uma carreta parada na areia. Sentamos à sombra e logo o dono dela apareceu. Curiosamente ele tinha o mesmo nome do senhor dos sucos. Conversando, explicou-nos que têm frentes de trabalho que ficam acampadas na floresta de pinus (chegam a 150 trabalhadores). Ele estava com a carreta-casa esperando um ônibus que traria o pessoal de Rio Grande e Pelotas. Quando falei do seu Paulo ele disse que já havia visto o mesmo homem andando de bicicleta na areia, de certa forma me senti aliviado por saber que ele se virava por aquelas bandas. Pouco depois de deixar a carreta, encontramos outra Jubarte, essa bem mais conservada. Ao tirar foto da baleia, olhamos para trás e lá estava o ônibus, descendo uma galera. Às 14:00 o reflorestamento que nos acompanhara acabou. Percebemos que seria possível chegar no Farol Albardão ainda naquele dia, ele já se desenhava no horizonte. Com 40 km, exaustos, com chuva, chegamos no farol. Já não esperávamos dormir lá devido a pandemia. Montamos acampamento do lado de fora do pátio da Marinha. Como o vento já rugia, fiz algumas ancoras com sacos cheios de areia que, enterrei e amarrei a barraca neles. Fomos dormir assustados com o vento, mas a amarração deu conta. Dia 6 Acordamos de madrugada com trovões, vento e muita chuva. O dia clareou e a chuva castigava, meu maior medo não era se molhar, eram os raios. Pensamos em fazer um dia de descanso caso não passasse. Eram 07:15 quando as nuvens começaram a ceder, fizemos um desjejum e partimos, já 08:10. A chuva sumiu, mas as dunas estavam todas alagadas. Assim que começamos a caminhar começaram aparecer os problemas. Os passos de água que, até então eram raramente fundos, agora pareciam rios de desgelo. E para piorar se multiplicaram, cruzamos em média 5 por km nesse dia. Nessa manhã observamos uma infinidade de caravelas azuis na areia, assim como raízes e galhos que devem ter saído das dunas com a enxurrada (não as caravelas, que, devem ter vindo do mar). Só atingimos os 30 km às 17:00, quando avistamos um pedaço de mata, onde nos escondemos à noite. Além de atingir os 150 km nesse dia, tomar água muito boa drenada das dunas, encontrar um bom local para acampar, acompanhamos o segundo pôr do sol nas dunas (o primeiro havia sido no Albardão), tomamos banho fresco na água da chuva acumulada nas dunas e dormimos em meio a algazarras dos periquitos que aninham nas árvores ali. Dia 7 Sabíamos que seria um dia longo, faltavam mais de 40 km para chegar no Balneário Hermenegildo onde teria um camping. Partimos às 06:40. O mar tinha recuado muito, as enxurradas formaram muitos canais (já secos). O chão irregular castigou os pés a manhã toda, quando ficava mais plano o conchal tornava os passos mais pesados. Nesse trecho muita vacas vigiam a praia, é grande também o número de ranchos nas dunas. Lá pelas 09:00 encontramos um negócio motorizado, feito em madeira, puxando uma carretinha cheia de entulho, com rodas largas que parecia um rolo compressor, apinhado de gente. Ainda de manhã avistamos mais dois naufrágios quase submersos na areia e no mar, um hotel destruído e um leão marinho começando a putrefação. Na hora do almoço se chegamos à sombra de um rancho na areia. Descansamos, aliviamos os pés e retomamos a marcha. O número de veículos que encontramos cresceu exponencialmente, muitas pessoas pescando de molinete. A praia agora alternava em trechos terríveis de irregular e outros menos, mas os pés doem até a alma. O alento é que já avistamos o Hermenegildo. No final foram 45km caminhados, além de bater os 200km. Valeu a pena. Chegamos no Camping Pachuca, o dono (incrivelmente tinha o mesmo nome dos dois outros homens que conversamos na praia nos dias anteriores) nos recebeu muito bem. Ofereceu a garagem para montar a barraca, nos trouxe pão com queijo e mortadela e ainda disse que seria cortesia da casa. Depois do banho, de barriga cheia, e diga-se de passagem a musica no rádio incrível, dormimos feito criancinhas. Dia 7 Se demos o luxo de acordar mais tarde e sair só às 08:00. Diga-se de passagem que amanheceu chovendo. E ventando, mas o vento agora era norte e empurrou nos para o molhes. Na praia novamente, não demorou para dois cachorros, muito brincalhões nos acompanharem. Foram 15 km tranquilos. Com muitos passos de água, alguns fundos, inclusive. Mais um negócio estranho aconteceu, eram umas 10:00 quando passou uma patrola por nós. O maquinista ainda ofereceu carona, dispensamos numa boa. Chegamos no molhes da Barra do Chui às 11:50. Fomos recebidos por um bombeiro, todo empolgado que nos revelou estar pronto para fazer a travessia nos próximos dias. Descansamos algum tempo refletindo nosso feito. Tomamos as ruas do balneário até encontrar um buffet, onde fomos à desforra. De barriga inchada pegamos o ônibus para o Chui, chegamos lá a então a palhaçada. Como o ônibus para Porto Alegre era só às 22:00 ou às 12:00 do dia seguinte, fomos procurar um local para tomar banho e descansar, quem sabe passar a noite. Fomos em um posto Ipiranga que segundo o dono da rodoviária tinha chuveiro para os caminhoneiros. Fomos muito mal recebidos, e mesmo oferecendo para pagar fomos recusados. Segunda tentativa, uma pousada. O velhote que nos atendeu, primeiro fez cara de nojo por que talvez não estávamos muito bem trajados, segundo ele estava lotado, sei. Terceira tentativa, outra pousada. O homem que nos viu nem a porta abriu direito, após nos analisar, disse em tom ríspido que não tinha vaga e deveríamos procurar outro local. Respondi pra ele que não adiantaria procurar, o problema não era vaga, era preconceito. Nossa última investida foi um hotel de uma rede, Turis Firper, apesar de não muito barato (afinal não passamos a noite), fomos muito bem recepcionados. Às 22:00 tomamos o ônibus para passar 29 horas viajando até nossa terrinha. A maior dificuldade acabou sendo o chão irregular dos últimos dias, e a batalha psicológica do terceiro e quarto dias. Agora vamos descansar que a temporada de montanhas se avizinha.
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