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Por Milton Leal, depois de mais 7 dias cariocas

No Rio de Janeiro, há calor até na forma como os cariocas se cumprimentam. Diferentemente de muitos lugares no Brasil - nos quais a etiqueta manda dar um beijinho no rosto -, na cidade maravilhosa a recepção é feita com dois beijos, um na bochecha direita e um na esquerda. Por isso, dizer que o Rio de Janeiro recebe seus turistas de braços abertos é uma meia-verdade.

 

O emblema de cidade violenta, esparramado pelos “tele/jornais”, é de certa forma um estigma, um exagero. Não é porque facções de bandidos e de policiais corruptos têm mais força que o Estado em alguns locais, que a população se acanha.

 

Assim como no início do século passado, quando o samba começou a tilintar no bairro do Estácio de Sá, os boêmios contemporâneos não hesitam, de jeito nenhum, em rodar as frequentadas ruas da Lapa durante a madrugada.

 

Como toda e qualquer grande cidade do mundo, ela apresenta problemas, em parte devido a sua alta densidade populacional, que reúne quase 6 mil pessoas por quilômetro quadrado e gera toda sorte de infortúnios, mas também em razão de uma nítida e perversa desigualdade social.

 

A divisão entre os que vivem nas comunidades e os que habitam a elitizada Zona Sul é evidente. Não chegam a ser dois mundos, mas são, ao menos, dois ambientes muito distintos e peculiares. O circuito Copacabana – Ipanema – Leblon é apenas a face mais bonita, bem cuidada e conhecida do Rio. Tomar o trem rumo à Zona Norte é que pode fazer o turista ver de perto o “Apartheid” carioca.

 

Mas no centro da cidade, tanto durante o expediente do dia quanto à noite, a mistura entre a gente de lá e a gente de cá acontece.

 

Às quintas-feiras, patricinhas da Barra da Tijuca e turistas estrangeiros pisam no mesmo tablado que os moradores dos morros, quando a zabumba bate seca no Forró da rua do Mercado. Com banda ao vivo, a festa, que se estende noite adentro, reúne centenas de jovens, que ocupam toda a rua de paralelepípedo do antigo mercado, ao lado da famosa Praça XV.

 

Nas noites de sexta e sábado, a Lapa ferve. A miscigenação de tribos e a variedade de boates impressiona. Assistir ao nascer do Sol é prática comum de quem sai à noite na cidade. Dezenas e mais dezenas de bares apinhados com mesas na rua ficam de portas abertas até o último gole do último cliente.

 

A pedra do Arpoador, perto de Ipanema, é um dos locais preferidos para ver a subida (ou, depois de pegar uma praia, a descida) do astro. E quando o gigante amarelo está morno, ainda pela manhã, o programa é correr ou andar de bicicleta ao redor da Lagoa Rodrigo de Freitas, perto de Copacabana. De tarde, quando ele arde, o Posto 9, na praia de Ipanema, é o reduto dos universitários e dos turistas mais descolados.

 

A oferta cultural não perde em nada para as paisagens cariocas. No centro, na Cinelândia, fica o Cine Odeon, construído nos anos 30, quando o presidente Getúlio Vargas governava o País diretamente do Palácio do Catete, que hoje abriga o Museu da República. Ali também no “downtown”, vale dar uma passada na imensa biblioteca do Real Gabinete Português e no ostensivo e reformado Theatro Municipal.

 

Ver o Rio de Janeiro do Corcovado ou do Pão de Açúcar não é a mesma coisa que andar de chinelo nas ruas, subir o morro, falar de Fla-Flu no boteco ou ir à praia no domingo.

 

É no chão que o Rio vira Janeiro.

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