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Os Prazeres da Gravidade – Snowboard no Ushuaia


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Seis horas da manhã de mais uma madrugada congelante. Era ainda noite no paralelo 54° do hemisfério sul; o primeiro raio solar ainda passava distante do horizonte. Acordar àquela hora da manhã, em qualquer outro dia, teria sido um fardo, mas hoje era diferente. Já era hora de me vestir... Calça e jaqueta a prova de água? Confere. Luvas e toca contra o frio? Confere. Botas? Confere. Prancha de snowboard? Confere. Coragem? Hum... Essa só encontrei depois de abraçar muita neve naquele dia. E assim iniciava uma agitada “temporada” de snowboard nas montanhas nevadas do Ushuaia, na Argentina.

Fazia temperatura abaixo de zero naquela manhã na cidade mais austral do mundo. Nenhuma surpresa... A temperatura média anual na cidade é de quatro graus Celsius. A capital da Província da Terra do Fogo fica a um pulo da antártica, menos de mil quilômetros de distância. Tornou-se, por esse motivo, uma cidade amplamente utilizada por cientistas e pesquisadores de todo mundo, que lá embarcam rumo ao mais meridional dos continentes. Porém, não era por esse motivo que lá estávamos. Nosso objetivo era mais simplista; deslizar montanhas abaixo, em alta velocidade; seja sobre uma prancha, ou rolando...

A criação da cidade, na verdade, não envolve pesquisas científicas nem profissionais do ski e do snowboard descendo velozmente altíssimas montanhas nevadas. A instalação ali de uma prisão que funcionou de 1902 a 1947, para onde eram levados os prisioneiros de maior periculosidade da Argentina, foi o motivo fundador. Não há dúvida do porquê da localização eleita. Seria humanamente impossível fugir da prisão e sobreviver ao frio e ao vazio populacional daquela região... Não existem cidades vizinhas, e o frio é intenso durante todo o ano. Uma verdadeira barreira natural a qualquer fuga.

No dia anterior, havíamos alugado nosso equipamento e hoje podíamos nos dedicar inteiramente à montanha. Tivemos de alugar um serviço de transporte, já que a estação de ski se localiza a 26 quilômetros do centro da cidade, onde estávamos hospedados. Ao chegar lá, não tivemos grandes surpresas. Não era a primeira vez que visitávamos uma estação de ski. Já conhecíamos a estação de Chamonix, na França e a de Andorra, no Principado de Andorra. Possuíamos, assim, certa experiência, fato que não me poupou dos tombos. E não foram poucos!

Para nossa infelicidade, já fazia algum tempo que não nevava no Ushuaia e isso, obviamente, não foi nada bom para a prática do snowboard. Havia neve sobre a montanha; nessa época sempre há. Porém, quando não neva por longos períodos a espessa camada branca que cobre homogeneamente a superfície montanhosa fica compactada. Assim, demos adeus aqueles tombos macios em neve fofinha; corriqueira diversão de inverno. Ficou só no pensamento... A dureza da neve estava similar a do gelo.

De qualquer forma – sendo a neve dura ou macia – lá estávamos nós, a beira da montanha, criando coragem. A primeira descida é sempre a mais incerta. Você passa meses, ou até anos sem descer uma montanha sobre uma prancha. O medo é sempre o mesmo... Nos primeiros segundos nos perguntamos se esquecemos de tudo, e o choque de nossa bunda contra o gelo nos trás à dura realidade. Mas, após alguns longos minutos, lembramos como se faz. Desliza para a esquerda; desliza para a direita; fica de costas para a montanha; agora de frente; tenta desviar dos turistas, mas acaba praticando boliche humano; quase acerta em alta velocidade uma árvore; desce acidentalmente por aquela pista só para profissionais; é humilhado por pirralhinhos de cinco anos que andam muito melhor que você; sente-se um idiota por achar tão difícil levantar com os dois pés atados a uma prancha... Enfim, tudo fica maravilhoso. Que esporte sensacional!

Recomendo a visitação de estações de ski mesmo a quem não pratica os esportes lá oferecidos. Normalmente são disponibilizados passes para visitantes, que não podem levar pranchas, mas que são vendidos a preços consideravelmente mais baixos. Assim, o visitante pode subir a montanha pelo simples prazer de apreciar a vista e usufruir um pouco do ambiente “radical”. As fotografias da Estação Glaciar Martial, próxima ao centro do Ushuaia, são as melhores. Você conseguirá uma vista panorâmica do Canal de Beagle e inclusive da região montanhosa do Chile, do outro lado do Canal. Só não se esqueça do importantíssimo detalhe de ir bem agasalhado. Venta muito lá em cima! Não economize em luvas e toucas para o frio, você não se arrependerá. De qualquer forma, recomendo veementemente a prática do snowboard ou do ski! No início, certamente será dolorido, cansativo e amedrontador, e a máxima “no pain no gain” lhe fará perfeito sentido. Mas garanto, depois compensa. E muito!

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  • 2 anos depois...
  • Colaboradores

Oiee, voce sabe se durante o inverno tem algum onibus publico que leva do centro da cidade até o carro castor?? ou só da pra ir com servico de transporte alugado?? e outra duvida tb... viajar para ushuaia (p fazer snow) é mais caro do que outro destinos na america do sul (como bariloche, por exemplo)?? ou é quase o mesmo preço? obrigaada!!

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