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Europa 3.0. 22 dias sozinho!


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Queridos mochileiros,

 

venho aqui publicar o relato da minha terceira viagem pela Europa. Na verdade, estou escrevendo-o para o meu blog de viagens (http://passosepaginas.wordpress.com), então, o estilo está um pouco diferente do que eu costumo escrever, já que, além de querer dividir minhas experiências gostaria de escrever algo para mim também. Algo que eu possa eu me lembrar. Sendo assim, se meu estilo estiver bem chato de ler, me perdoem, ok?

 

Aqui no Mochileiros.com há muitos relatos da Europa e a minha viagem teve novamente um roteiro bem básico. Por isso, creio que não acrescentar nada de novo em termos de informação, mas espero poder inspirar alguém a fazer viagens como essa ou mesmo os divirta em pelo menos alguma coisa.

 

Segue texto já colado do blog. Espero que gostem!

 

Mochilão pela Europa, setembro e outubro de 2012 – Introdução

 

Eis-me aqui novamente para tentar a escrita de uma nova viagem pela Europa. A escrita para mim é sempre uma necessidade muito grande porque me parece que é assim que as experiências que tive ganham forma mais consistente na minha memória. Na viagem que relatei aqui neste blog (a de Buenos Aires), não mantive um diário porque estava acompanhado e não desejava momentos de isolamento. No entanto, eu sugeri que eu e as meninas fizéssemos uma recapitulação ao final de cada dia da nossa viagem. A ideia foi essencial para que eu conseguisse lembrar alguns detalhes importantes posteriormente. Nessas três semanas de 2012 em que eu viajei pela Europa, o meu inseparável companheiro foi um caderninho espiralado azul sem pautas. Era ali que eu escrevia, às vezes rapidamente e com letra confusa e erros de português, às vezes com calma, mais reflexão e letra cuidada, muito do que aconteceu. Com base nesse caderno e nas minhas fotos será escrito o relato. Espero que todos apreciem. Assim como no caderno, não pretendo escrever absolutamente tudo o que me passou. Seria insanidade. Além do que, muito seria irrelevante e outras coisas foram bastante pessoais e vou guardá-las comigo somente.

 

A viagem começou, claro, bem antes da viagem. A vontade surgiu lá em 2010, logo depois que eu voltei da minha viagem anterior (é o vício! Fazer o quê!). Como acontece nessas ocasiões, depois de conversar com tanta gente diferente, com suas línguas e histórias de vida, a gente começa a aprender mais sobre o mundo e então vem a vontade de conhecer mais e mais lugares. Eu voltei com um roteiro perfeito! Queria conhecer a Alemanha e a Polônia e quem sabe dar uma passadinha em Istambul. Ia ser lindo! Voltar para casa parece a princípio uma espécie de exílio. “Tanta coisa lá fora e eu aqui em casa”. Era assim que eu pensava quando retornei. Mas isso durou pouco. Em pouco tempo fui absorvido pelas tarefas do cotidiano. E o meu sonho resolveu tirar uma soneca enquanto isso. Eu até mesmo esqueci que ele estava ali, afinal 2011 foi uma verdadeira montanha russa, com tentativa de mudança dos rumos da minha vida. Mas acho que estava querendo por uma porta estreita demais para mim, e a Providência resolveu me dar uma pequena ajuda, já que eu não estava fazendo o meu trabalho direito. Acabei por chegar à conclusão de que uma mudança de rumo para mim seria continuar a fazer o que eu estava fazendo antes. Confuso? Nem tanto. Quando tive o insight, fiquei tão confiante que continuaria meu caminho não importa o que acontecesse. Assim, de certo modo aquele ano terminou mais ou menos como acabou, porém com uma diferença importante: eu tinha uma grande motivação!

 

E o que isso tudo tem a ver com o mochilão? Tudo! Se não tivesse encontrado um rumo para mim, essa viagem não teria sido possível. Então, de certo modo ela foi um presente e representa o símbolo de uma nova fase que eu queria que se iniciasse. E foi assim mesmo! Tanto foi que a oportunidade de viajar surgiu logo em janeiro de 2012, porém ela foi sacramentada em março. Foi aí que o “bicho viajante” acordou de vez! A viagem começou aí. Para começar, defini o que eu chamei de “cidade obrigatória”, um lugar que eu gostaria muitíssimo de conhecer e que não tiraria do meu roteiro de jeito nenhum, e a bola da vez foi Istambul, na Turquia. Comecei a pesquisar as passagens e o menor preço foi um voo São Paulo-Madri-São Paulo pela Tam. Negócio fechado! Já tinha duas cidades no meu roteiro. Depois de ouvir muita coisa boa, decidi que Barcelona faria parte da viagem sem dúvida. Iria de Madri para Barcelona assim que chegasse à Europa ou pousaria em Barcelona quase no fim da viagem para voltar para Madri alguns dias depois. Além disso, tinha outro problema: Espanha e Turquia ficam em extremos do continente e eu precisava arrumar um jeito barato de ir e voltar. Confesso que essa foi a parte mais difícil da pesquisa. Cheguei inclusive a pensar em tirar Istambul do roteiro, mas logo que não conseguiria fazer isso. Só de pensar na minha viagem sem conhecer a Ayasophia já me desmotivava (veja só a minha vontade de conhecer essa cidade). O problema é que eu consegui um jeito de ir para a Turquia saltando de Barcelona para Berlim, então de lá para Istambul. Só que não conseguia fazer o caminho de volta de jeito. Tentei inverter a ordem e fiz mil peripécias até que finalmente constatei que o melhor volta seria para Londres, pois, apesar de ser muito longe, eu ganharia algumas horas por causa do fuso horário, mas o voo Istambul-Londres estava muito caro. Precisava de uma ponte entre as duas cidades. Que tal Atenas? Perfeito! Então de Londres era só pegar o último voo para Madri e o círculo fechou!

 

O roteiro ficou assim:

 

Madri (partida para Barcelona no mesmo dia) – Barcelona (5 noites) – Berlim (4 noites) – Istambul (4 noites) – Atenas (2 noites) – Londres (5 noites) – Madri (1 noite).

 

Como você pode ver, ficou um roteiro meio maluco, que sai do ocidente, vai parar quase na Ásia e depois volta para o ocidente. Certamente eu perderia muito tempo com deslocamento, mas por outro lado veria países muito diferentes uns dos outros. O contraste faria parte da viagem. E quer saber de uma coisa? Eu fiquei satisfeito com o roteiro. Fá-lo-ia de novo!

 

A seguir precisei também comprar o seguro viagem (numa agência de viagem) e também reservar minhas hospedagens. Pela experiência positiva que tive na minha viagem para Santiago, pensei em escolher alguns hotéis, mas no fim prevaleceu a minha vontade de conhecer pessoas diferentes e o clima descontraído dos hostels. Reservei pelo Hostel World (www.hostelworld.com):

 

Em Barcelona o Hostel One Paral.lel (http://www.onehostel.com/barcelona-paralelo); em Berlim o Circus Hostel (http://www.circus-berlin.de/circus_berlin_hostel.html); em Istambul, o Cheers Hostel (http://www.cheershostel.com/); em Atenas o Athens Backpackers (http://www.backpackers.gr/); em Londres o Travel Joy Chelsea (http://www.traveljoyhostels.com/) e finalmente em Madri o Way Hostel Madrid (http://www.wayhostel.com/). Todos foram tão bons que seria difícil escolher o melhor! Durante o relato falarei de cada um à medida que forem aparecendo.

 

Os meses que me separaram da viagem foram bastante corridas, então a angústia não foi tão grande. Apenas as três últimas semanas foram difíceis de aguentar. Mas o dia de viajar foi tão emocionante! Eu estava eufórico.

 

Mochilão pela Europa, setembro e outubro de 2012 – Introdução II

 

Como ia dizendo antes, as últimas semanas de viagem foram bem corridas. Além das minhas obrigações do mestrado, que me ocupam bastante tempo, estava trabalhando bastante de modo que tive que fazer muitas coisas nos últimos dias antes da viagem. Não aconselho ninguém a fazer isso. Seria ideal que as coisas sejam organizadas bem antes para que nada saia errado. Para evitar erros, já que teria de me organizar (e muito bem), decidi fazer uma lista das coisas que eu precisava fazer antes de viajar, fossem elas ligadas ao passeio ou não. Assim, minha rotina passou a ser guiada por aquela lista. A cada dia eu tentava riscar um ou mais itens. O pior foi o dinheiro. Eu pretendia retirar o dinheiro que ia levar, trocar parte e colocar o resto num cartão pré-pago, que lhe permite retirar o dinheiro que você quiser naquelas máquinas ATM. No entanto, deixei para fazer isso pouco antes de viajar e no fim decidi ir apenas com as notinhas mesmo. Iria usar três moedas diferentes: libras, liras turcas e euros, mas comprei só essas últimas mesmo. Aqui no Brasil até é possível achar as libras, mas precisa reservar. É bom ficar atento. O dinheiro ficou guardado numa bolsa chamada money belt. Nela também ficavam guardados o meu passaporte, a chave reserva do cadeado do mochilão e o meu cartão de crédito internacional. Essa bolsa ficava sempre comigo, escondida dentro das minhas calças. É o jeito mais seguro, na minha opinião.

 

Para viajar também imprimi todos os protocolos das companhias aéreas, que coloquei junto dos documentos do seguro de viagem. Arrumei o mochilão um dia antes de viajar, para ter certeza de que não iria esquecer nada. Além das roupas de meia estação, levei os itens de higiene habituais, chinelos, um par de tênis já amaciados, toalha, um livro de companhia, meus guias de viagem e só. A intenção era ir o mais leve possível, afinal de contas teria de carregar minha casa por três semanas e sabia que ela iria aumentar de peso consideravelmente ao longo da viagem (isso acabou sendo um grande problema, como você poderá ver mais para frente neste relato). A hora de fechar a mala é bastante tensa porque sempre dá um medo de esquecer alguma coisa. Mas para evitar isso estabeleci um check-list mental de coisas que eu não poderia perder de jeito nenhum: minha câmera, o passaporte, o dinheiro, o cartão de crédito e a chave do cadeado. O resto eu poderia dar um jeito de substituir e no final não seria um problema tão grande assim.

 

O dia da viagem começou como qualquer outro: acordei às 6h10min, tomei meu banho e fui para o trabalho. Nem preciso comentar como o dia passou devagar. As seis horas de trabalho pareciam 30. Não acabavam nunca! Acho que o meu rendimento não deve ter sido muito alto nesse dia. Minha cabeça não estava lá. Eu só queria partir o quanto antes. Então você imaginar o foguete que saiu voando da minha empresa no horário de saída! Era horário de almoçar, mas estava tão empolgado que nem conseguiria comer nada. Peguei o metrô e fui direto para casa. O combinado foi que meu pai iria passar para me buscar, depois ele levaria o meu carro para a casa dele. E ele estava lá no horário combinado! Achei que ele fosse se atrasar, como ele sempre costuma fazer, mas o pai sabe diferenciar aquilo que é realmente importante daquilo que é mais maleável. Beleza, então! Ao entrar em casa eu ainda precisava arrumar algumas coisinhas, mas não demorou nada, então pudemos sair rápido.

 

Hora de ir para o aeroporto! Mas não tão rápido assim. Era 14 de setembro, sexta-feira, e como muitos devem saber, esse é o dia da semana em que o trânsito de São Paulo mais se complica. Assim, não foi surpresa pegar um lindo e delicioso congestionamento bem no calor da marginal Tietê. Calma, calma! Não “priemos cânico”! Ainda tinha muito tempo. Não estava preocupado.

 

E foi tranquilo mesmo. Meu pai me largou no aeroporto, se mandou e eu fiquei sozinho. Ali era o começo das minhas três semanas independentes. Fiz o meu check-in e fui para a área de embarque. Destino: o aeroporto de Madrid-Barajas! E começa a diversão!

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ESPANHA

 

Madri

 

Ao embarcar no avião eu tinha uma certeza: por enquanto eu não iria precisar me preocupar com que língua falar. O voo era Tam. Comissários brasileiros, comida brasileira. Seria minha despedida temporária do país. Sempre tenho dificuldades de dormir nos voos e dessa vez não foi diferente. Dormi apenas umas duas horas no máximo. O jeito foi ligar o monitor e assistir um ou dos filmes. Comecei com o argentino “Um conto chinês” e depois fui para “O estranho caso de Benjamin Button”. Pena que não consegui ver este último até o fim (na verdade faltavam apenas uns 10 minutos para acabar, creio). O bom é que o avião estava para pousar. Na saída, acabei conversando com uma moça de Salvador. Ela iria estudar artes em Granada, na Andaluzia. Como ela estava para pegar o trem na estação de Atocha, no centro da cidade, e eu estava indo para o mesmo lugar, pois precisava chegar a Barcelona naquele mesmo dia, decidimos ir juntos até lá.

 

Desembarcamos e fomos para a terrível imigração espanhola. Confesso que estava com um pouco de medo e pensando nas maiores bobagens. Talvez o agente olhasse para mim e achasse que eu estivesse querendo imigrar ilegalmente. Apareceriam dois ou três bruta-montes que me levariam para uma salinha, onde fariam perguntas e mais perguntas. Sem água, sem comida. E sabe-se lá mais o que aconteceria comigo. Bom, enfim, eu tinha alguns carimbos no meu passaporte. Isso era um ponto a favor, não?

 

Entramos na fila e logo chegou a minha vez. O agente devia ter a mesma idade que eu. A princípio comecei falando inglês (recordações ruins de Buenos Aires), mas o agente me interrompeu dizendo que eu poderia falar português. Ele perguntou o que eu pretendia fazer na Espanha. Expliquei meu plano. A seguir, tive de responder onde ficaria hospedado em Madri. Disse que estava indo de trem para Barcelona naquele mesmo dia. Ele fez uma cara meio cômica e perguntou se eu não iria ficar em Madri. “Sim, sim, mas só no fim da viagem. Antes de voltar para o Brasil”. O agente abriu um sorrisão e carimbou meu passaporte. Ufa!

 

Recuperei meu mochilão e fui com N. (a soteropolitana) até a saída para pegarmos o ônibus até a estação de trens (5 euros). No caminho, pude ver um pouco da capital espanhola. Posso dizer que ela me fez uma ótima impressão! O céu azul, os prédios claros e brilhantes, as ruas largas. Isso sim é uma cidade mediterrânea! O trânsito estava um pouco bagunçado naquele dia porque estava ocorrendo um protesto bem grande contra as medidas econômicas cautelares que o governo espanhol havia tomado para sanar a crise pela qual o país passava. No entanto, não foi difícil chegar na estação de Atocha. Ali, no meio da multidão de pessoas que haviam participado do protesto e que estavam voltando para casa (era mais ou menos duas da tarde), fui comprar minha passagem para Barcelona. N. ficou me esperando no saguão enquanto eu descia para a bilheteria. Ali sim estava uma verdadeira confusão. Tive de pegar uma senha e “estar aguardando” por mais de meia hora! Isso não me causou uma boa impressão mesmo, mas tinha acabado de chegar, então revelei e esperei pacientemente. Quando finalmente chegou a minha vez, tomei o maior susto: a passagem de trem veloz para Barcelona era muito cara! 120 euros! Sem muitas opções acabei usando o cartão de crédito pela primeira vez. (Isso foi um grande aprendizado: eu poderia ter comprado a passagem no Brasil pela internet e possivelmente ter economizado alguns trocados, mas imaginei que o preço não poderia ser muito alto, dada a distância que iria percorrer. Engano meu.) Com a passagem em mãos, subi para o saguão e N. estava me esperando ainda. Pedi desculpas pela demora (ela foi muito paciente mesmo) e depois foi a vez dela se ausentar, pois iria ligar para uma amiga que iria viajar com ela para Granada. Claro que ela demorou bem menos que eu. Assim, nos despedimos porque estava quase na hora de eu embarcar.

 

Em Atocha, depois do atentado de 2004 pelo grupo terrorista ETA (que recentemente anunciou a suspensão de suas atividades paramilitares) é preciso passar por raio-X de bagagem antes de embarcar. Ainda dava tempo de comer alguma coisa antes de partir. Peguei um sanduíche e uma Coca-Cola. A seguir, fui para o trem. Já estava meio cansado, mas tinha mais quase 3 horas de viagem pela frente, antes de chegar a Barcelona. O jeito foi relaxar no confortável banco do trem de alta velocidade e esperar. Ainda bem que ele partiu no horário previsto.

 

(Continua…)

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Aqui vai a continuação do relato! Você pode lê-lo também no meu blog (http://passosepaginas.wordpress.com/2012/10/14/catalunha). Ali, além do meu texto, há algumas fotos também.

 

Demorei um pouco para achar meu lugar no trem, que era simplesmente o primeiro banco do primeiro vagão. Ao meu lado estava sentada uma mulher de meia idade, que estava lendo um livro. Eu, como sempre sou muito curioso a respeito dos livros que as pessoas estão lendo, discretamente fiz uma “pescoçada” para saber o título do livro. Tratava-se de Kafka à beira-mar, de Haruki Murakami, mas não estava escrito em espanhol, não. Era a tradução catalã, uma das línguas oficiais da região da Catalunha, cuja capital é Barcelona.

 

Aquele foi meu primeiro contato com aquela língua. Nos próximos quatro dias iria conhecer um pouco mais dessa língua que a princípio me pareceu bem estranha. Verdadeira mistura entre espanhol e francês. A primeira vez que ouvi duas pessoas conversando foi bem legal. Tive a sensação de que essas duas línguas estavam sendo faladas ao mesmo tempo! Sentia quase como se estivesse num país diferente, com tradições e cultura próprias.

 

 

Parte dessa sensação que tive se deve ao fato de que a língua catalã tem um status mais elevado que, por exemplo, os dialetos italianos, restritos em geral ao ambiente familiar. No caso do catalão, ele é usado oficialmente em toda a Catalunha. Avisos públicos, vozes do metrô, nomes de ruas… tudo está nessa língua. Barcelona conta editoras, portanto, que publicam em sua língua natal. Nas grandes livrarias, livros em castelhano dividem espaço com os catalães.

 

Então, ao visitar Barcelona, é bom ter consciência de que a primeira língua usada lá não é a mesma (conheci pessoas que não se deram conta disso; para eles, os anúncios escritos em catalão eram para eles castelhano!) que no resto da Espanha. É óbvio que o espanhol é compreendido e falado por toda a população da região, mas aprender algumas palavras e expressões nessa língua pode ser bastante útil. Por exemplo: em castelhano temos calle; em catalão, carrer; avenida contra avinguda; paseo contra passeig; gracías contra gracie. Por favor é bem diferente: si us plau, quase igual a em francês: si vous plait.

 

A língua, portanto, exerce papel importantíssimo na vida catalã. Os habitantes de Barcelona são patriotas, mas seu sentimento é diferente. É bastante fácil encontrar hasteada a bandeira da Catalunha em todos os lugares, desde prédios públicos até mesmo sacadas de residências. No entanto, o número de bandeiras do reino espanhol é bem menor. Que recado isso passa aos visitantes? Cito agora um comentário que eu postei durante a viagem no Facebook:

 

"A Catalunha quer independência. Para eles a única maneira de superar a crise que atinge o reino espanhol é a criação de um Estado próprio. Em Barcelona é difícil ver a bandeira da Espanha hasteada, mas a catalã está em todos os lugares. Cheguei a ver uma faixa que chamava a Catalunha “próximo Estado europeu”. Não sei a porcentagem da população que apoia o movimento e também não vi manifestação nenhuma contra. As bandeiras catalãs penduradas em cerca de 40 por cento das janelas mostram que há muita coisa por vir ainda."

 

Será que isso é possível? Quer dizer, será que teremos mais um Estado europeu mesmo daqui a alguns anos? Não sou especialista no assunto, então me contento apenas a relaxar e apreciar a paisagem dos campos espanhóis enquanto espero que o trem chegue a Barcelona.

 

(Continua…)

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  • 5 semanas depois...
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Barcelona – Primeira noite

 

Nem preciso mencionar que estava cansado quando cheguei a Sants Estació, a maior gare de Barcelona. Eu só queria chegar ao hostel onde eu ficaria hospedado, o Hostel One Paralel, que tem esse nome porque fica bem próximo à avinguda del Paral.lel, uma das maiores da cidade e que liga a plaça de Espanya à região do porto. Para chegar lá eu precisaria pegar o metrô, cujo bilhete unitário custa 2 euros. O transporte subterrâneo da cidade é excelente. Muito rápido e cobre os pontos principais de Barcelona (pelo menos os de interesse para os turistas).

 

Felizmente não estava muito longe do meu destino. A estação em que tinha de descer ficava na mesma linha que passa embaixo da estação de trens. Também não demorei muito para achar a hosedagem, que fica num bairro bem agradável, com umas ruas um pouco estreitas e com prédios altos e coloridos. O lugar é habitado sobretudo por árabes (não sei exatamente de que país a maioria vem) e indianos. É um lugar residencial, mas muito bem localizado, pois além de contar com o metrô, com uma caminhadinha rápida dá chegar ao Montjüic, ao bairro gótico e a Rambla, ou seja, tudo o que eu estava precisando!

 

O hostel, por outro lado, foi um show à parte. Inicialmente, quando eu cheguei lá, achei que seria mais uma hospedagem, como muitas nas quais até então já havia estado, mas acabou sendo tudo diferente! E por um motivo bem simples: deve ser o lugar mais fácil para conhecer gente nova. Todas as noites às 21 horas, serve-se um jantar gratuito (claro que todo o mundo é convidado a deixar uma gorjetinha no final da estadia) numa grande mesa, e o clima passa a ser do mais puro comunitarismo. Ali o pessoal conversa e se diverte a não poder mais. Depois do jantar, o bate-papo e as brincadeiras sempre iam longe. E é claro: sempre as pessoas se animavam para sair em algum bar ou balada.

 

Naquela noite, eu conheci meus colegas de quarto: uma australiana, uma chinesa e um canadense. Depois do famigerado jantar, decidimos sair, com um grupo que estava no outro quarto. Nossa ideia era simplesmente dar um passeio na praia. Pegamos o metrô e descemos na estação Barceloneta. Quando chegamos lá, as meninas se perderam e não sabiam direito como fazia para chegar na praia. Ficamos andando por um bom tempo pelas redondezas do Port Vell (tempo que eu não vi passar porque estava muito entretido numa conversação muito divertida com os meus companheiros de quarto), até que finalmente eu consegui ver o mar. Estava tudo escuro, mas era o mar! Que maravilha! Aquela região tem um astral superlegal num sábado à noite. O mais legal foi ver alguns carros-bicicleta de tapas. As pessoas se sentam ao redor de uma mesa de tapas… e pedalam! Ou seja: elas pedalam, batem papo, comem e se exercitam!

 

Na região da marina, há uma série de barzinhos e restaurantes. Escolhemos um bar onde só tocava salsa, mas ficamos numa mesa do lado de fora. E a multidão só aumentando! Já passava da meia-noite, mas o clima só estava começando a esquentar. E batemos papo, rimos muito… foi a melhor primeira noite de viagem que eu poderia ter. E tudo só estava começando! Antes de irmos embora, entramos no bar para ver os dançarinos de salsa. As meninas do grupo se animaram para dançar também, mas o pessoal estava tão sem ritmo que até doía (não que eu tenha ritmo, mas…), mas no fim o que importa é se divertir, não?

 

Exaustos, pegamos o táxi para o hostel. E assim terminou meu primeiro dia. O que estava me esperando na sequência?

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Pessoal, para este post, você pode ver as fotos correspondentes, que foram postadas no meu blog (passosepaginas.wordpress.com)

Espero que gostem!

 

Barcelona, 16 de setembro

 

Apesar de ter dormido bem pouco (umas 4 horas apenas), a adrenalina e a expectativa de conhecer uma cidade nova me puseram de pé bem rápido. O chinês e o canadense estavam indo embora para os seus respectivos países naquela manhã. Como despedida, tomamos o café da manhã juntos.

 

Devo dizer que acho que o aquele café da manhã foi uma coisa de que eu particularmente não gostei. Os espanhóis adoram comer uns pãezinhos bem doces logo de manhã e acho que meu estômago não se adaptou muito a isso. O jeito foi apelar para os famosos cereais matinais, um pouco mais apetecíveis (eu também não gosto deles, mas eles me pareceram melhores que os pães doces), com suco de laranja e um cafezinho para acordar. Mais tarde, nós três fomos andando até o metrô, mas nos separamos na plataforma, pois eles estavam indo para o aeroporto, mas eu queria ver o Parc Güell, que fica próximo às estações Valcarca e Lesseps, ambas da linha 3. É possível ir de ônibus também. Do metrô, eu apenas tive de andar mais ou menos 10-15 minutos até a entrada do parque, que já prenuncia algo muito bonito.

 

Para quem não sabe, o Parc Güell foi projetado por Gaudí, no início do século XX para servir de moradia para a família Güell. Porém, conforme o dono do hostel havia me dito, o lugar era tão bonito que ninguém morava ali. De qualquer modo, o lugar é uma loucura mesmo: curvas e mais curvas e aquelas casinhas ao lado do portão principal, que para mim pareciam comestíveis (olha eu já pensando em comida). Gaudí realmente era um gênio e olha que para mim dizer isso é algo incrível, já que o meu amor pela arte moderna nunca foi muito forte. É preciso explorar o parque com muita calma para não perder os detalhes, como as passagens líndissimas embaixo das pontes que existem nas laterais do parque e os discos no salão de entrada, logo acima das escadarias com a famosa estátua do camaleão, que se tornou o símbolo de Barcelona. Não deixe de subir também num pequeno morro sobre o qual você tem uma bela vista da cidade. Em dias bonitos é possível ter uma bela vista do mediterrâneo e também é de lá que você pode ver como a catedral da Sagrada Família se destaca na paisagem da cidade. O contraste com a cidade de São Paulo é bem grande. Aqui do alto vê-se uma massa de torres e mais torres, umas ao lado das outras; em Barcelona, poucos prédios se destacam na paisagem, o que nos dá uma sensação maior de planificação.

 

Na volta peguei o metrô de volta para o centro a fim de ver a famosa casa Batlló, projetada também no início do século XX e encomendada por um industrial que também era mecenas de Gaudí. É difícil não ficar impressionado com os detalhes da casa. As sacadas e colunas em forma de ossos humanos, as torres que nos obrigam a olhar bem para o alto, a despeito do pequeno espaço que a calçada nos proporciona. Que lindo lugar! Hoje a casa abriga um centro cultural e está aberta à visitação também. Ela fica no Passeig de Grácia, seguramente a rua mais moderna da cidade, que marcou o período de grande progresso pelo qual a cidade passou. Barcelona foi o coração da industrialização espanhola no início do século. A cara desse período é essa região chamada Grácia, bem diferente de outro lugar que fica não muito longe dali, do outro lado da praça de Espanya.

 

Para chegar lá, basta descer a rua e cruzar a formosa praça para chegar à Rambla, um passeio arborizado (e que pode facilmente ser avistado do alto do morro do Parc Güell) que prossegue até a região do porto. Dos dois lados, você pode se perder num dos lugares mais bacanas da cidade: o bairro gótico, resquício de uma Barcelona bem diferente: estreita (e um pouco tenebrosa) e medieval. Ali, caminhei com bastante calma e tentei visitar as várias igrejas que ali há. Não me lembro o nome de todas, mas apenas de três delas: a de Nossa Senhora do Pi (que fica na praça do Pi), a catedral de Barcelona e a de Nossa Senhora do Mar, todas lindas e medievais. A catedral é bastante interessante e para visitá-la você deve entrar por uma porta lateral, que dá direto no claustro. Ali há um jardim com treze gansos, representando os treze martírios de Santa Eulália, a quem a catedral é dedicada. Me disseram que é muito bom visitar a catedral antes de ir para a Sagrada Família, pois essa irá parecer um pouco menos interessante, embora seja linda e uma peça da arquitetura religiosa. Outro ponto interessante do bairro gótico e o arco sob o qual você pode ver os símbolos da vida e da morte. Algumas pessoas dizem que você passar de costas para o símbolo da morte e de frente para o símbolo da vida.

 

Almocei uma paella com sangría num restaurante no gótico e depois terminei minha caminhada no porto para encerrar meu dia. Estava cansado de tanto andar, por isso voltei ao hostel com os pés doloridos. Tomei um banho e depois saí de novo para jantar. Encontrei um barzinho de tapas muito gostoso, do outro da avenida do Paral.lel. Comi bastante para variar e no hostel acabei batendo o maior papo com a australiana. Mais tarde, com outro australiano, um canadense e um estadunidense, voltamos ao mesmo lugar do dia anterior e nos divertimos mais ainda, conversando num barzinho árabe.

 

(Continua…)

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  • 3 semanas depois...
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Continuação do relato!

 

As fotos correspondentes podem ser vistas no meu blog. Fiquem à vontade para perguntar!

 

Barcelona, 17 de setembro.

Publicado em 2 de dezembro de 2012

Na noite anterior eu havia conhecido uma chinesinha muito bacana no meu quarto. Ela era muito engraçada. Me contou umas histórias muito boas da cidade dela e eu também contei algumas histórias daquelas cheias de peripécias, do jeito que eu gosto. Rimos adoidados e eu fiquei com uma vontade enorme de ir para a China. Naquela manhã, quando desci para tomar o meu café, ela já estava lá com um xícara de café e o mapa da cidade aberto sobre a mesa. Sentei-me junto dela, que me pediu que lhe mostrasse onde ficavam os principais pontos turísticos da cidade. Ela ia perguntando e eu apontando no mapa onde estava. Com uma canetinha rosa, ela ia fazendo algumas anotações em cantonês no mapa. O que eu achei mais divertido é que para ela os nomes dos lugares eram todos iguais. Ela sentia sobre o catalão e o espanhol o mesmo que a maioria de nós sente pelo chinês ou pelo japonês. Antes que eu terminasse a minha xícara de café, ela já foi para a rua dizendo que teria um longo dia pela frente, mas não muito tempo na cidade.

 

 

Eu, por minha vez, saí para a rua alguns minutos depois. Caminhei pelas ruas até chegar às Ramblas no porto velho. No dia anterior não a percorri totalmente, por isso, decidi que faria isso, já que a tradição assim o manda (geralmente eu não caio muito nessa coisa de “tradição turística”, mas achei que naquele caso valia pena). No meio do caminho fiz um pequeno desvio e fui visitar a igreja de Santa Maria del Mar, no bairro Gótico. Meu Deus! Que coisa linda. Não sei se foi sugestão do nome, mas achei que a igreja tinha mesmo um ar assim meio marítimo. Seria só imaginação minha e eu ouvi mesmo o barulho do mar lá dentro? Vai saber? De volta às Ramblas, percebi que faria bastante sentido eu almoçar, já que passava já do meio-dia e o estômago já reclamava um pouco. Naquele passeio há um grande mercado, o Boqueria, que é mais ou menos como aqueles mercados municipais que existem aqui no Brasil. Ali você encontrar diversos tipo de comida para se empanturrar do jeito que você achar melhor. Eu, claro, como não sou bobo nem nada, sabia que ali poderia encontrar algo que satisfizesse o meu apetite fenomenal por coisas diferentes e deliciosas. No fundo do mercado (que não é muito grande, não) há alguns restaurantes em que você come no balcão. Escolhi um deles e pedi um prato de salsichas afainas, macias e simplesmente deliciosas. Para beber, fiquei curioso com uma cerveja com gosto de limão que havia ali. A cerveja é boa. Mas não peça mais do que uma. O gosto fica meio enjoativo depois de um tempo. Vale experimentar, de qualquer modo.

 

 

 

De barriga cheia, caminhei um pouco mais pelo mercado e para ajudar na digestão comprei um pote de frutas fatiadas e continuei minhas subida das Ramblas até o moderno bairro do Eixample. No Passeig de Grácia, caminhei mais um bom bocado até chegar na impressionante La Pedrera, ou casa Millá, certamente o mais famoso que Gaudí construiu. Mais acima vi também a não menos bonita casa de les punxes. Voltando um pouco, sentei-me num restaurante para tomar outra cerveja porque estava com muito calor. Estava lá, “pensando na morte da bezerra”, quando de repente eis que eu ouço o meu nome sendo pronunciado.

 

 

Poxa vida, que mundo pequeno! Quem estava ali? Achei que seria alguém do Brasil, mas não: era Maadi, a chinesinha do hostel. Levantei-me para dizer oi e ela veio correndo na minha direção e me abraçou. Foi muito espontâneo. Parecia que éramos amigos há anos. Convidei ela para sentar e batemos o maior papo. Ela havia visitado muita coisa e gastado bastante dinheiro também. Ela estava com fome, mas não gostou daquele restaurante. Ajudei-a encontrar outro.

 

Mais tarde, nos separamos e eu fui procurar o arco triunfo, que haviam me dito no hostel que era mais bonito que o de Paris. Será? Bom, eu não achei, mas vale a pena dar uma conferida, claro. Ali perto fica também o Parc de la ciutadella, excelente lugar para relaxar e ver a vida passar (tem wi-fi grátis).

 

No hostel, tentei recuperar minhas energias e depois saí para ir no supermercado fazer um lanchinho antes do jantar. Os mercados daquele bairro sempre têm marroquinos como donos. E no que eu fui não era diferente. Peguei um guaraná (sim, é possível encontrar guaraná feito em Portugal) e um saco de batatinhas e fui pagar no caixa, que era dono do mercado. Ele estava conversando com um homem de pé ao lado dele. Esse homem ficou me olhando com curiosidade.

 

– .السلام عليكم – disse ele.

 

– .السلام عليكم – respondi eu. Já havia ouvido a frase num filme e achei que soubesse o que significava. Mas aparentemente não porque o cara desandou a falar árabe comigo e eu fiz aquela cara de interrogação. O cara parou.

 

– No comprendo árabe. – tentei, em espanhol.

 

– ¿Pero tú eres musulmán?

 

– No.

 

– Entonces, ¿por qué contestó?

 

E essa foi nossa excitante conversa. Quando nos explicamos, acabou que realmente passou a ser uma conversa legal. O cara me contou algumas coisas sobre o islamismo, que eu veria em ação dentro de alguns dias e também me disse que admirava muito o Brasil, assim como a maioria dos muçulmanos, pois segundo ele os que imigraram para cá tem uma vida tranquila por aqui. Bom saber que nosso país é reconhecido por outras coisas que não o futebol e o carnaval!

 

Mais tarde, no jantar de verdade, comemos penne ao molho branco (que não estava muito bom, por sinal; mas como era de graça, melhor não reclamar, né?). Acabei me enturmando com uns amigos que o J, o norte-americano, e os dois australianos do nosso quarto haviam feito. Eles e mais duas canadenses superdivertidas e animadas estavam jogando Jinga, um jogo em que você tira uma pecinha da base de uma torre e tem de colocá-la no alto. Porém, eles estavam fazendo a versão “drinking”, ou seja, cada vez que você falha na sua missão tem como punição de beber um gole ou um copo inteiro de cerveja. Assim, quando mais você bebe, mais difícil fica. Mas no meu caso foi o contrário: quanto mais eu bebia, mais fácil ficava. Claro que o jogo rendeu boas gargalhadas e a conversa foi longe. Até que o pessoal resolveu ir para a cama já bem tarde. Eu também precisava de descando, afinal havia muito mais de Barcelona para conhecer.

 

(Continua…)

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