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Travessia dos Lençois Maranhenses – Barreirinhas x Sto Amaro


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Segue relato de travessia dos Lençois Maranhenses realizada em junho/2012.

Sim, demorei bastante pra postar!! ::putz:: Espero que os valores não estejam muito desatualizados...

 

Após reunir “equipe” pra essa empreitada por meio do mochileiros, compramos passagens para o início de junho, período em que as lagoas (supostamente) estão cheias. No entanto, esse prognóstico não se cumpriu. Em 2012 o Maranhão enfrentou uma terrível seca e infelizmente muitas lagoas estavam vazias.

 

A princípio ficamos um pouco decepcionados, pois a paisagem não estaria tão bonita, mas nosso desânimo durou pouco, já que por outro lado, a caminhada seria mais fácil e com menos desvios.

 

Dormimos apenas uma noite em São Luís e no dia seguinte partimos para Barreirinhas. Fomos de van, que nos pegou na porta da pousada. O percurso durou cerca de 3 horas e o valor da passagem foi R$35,00.

Essa noite em São Luís passamos na Pousada Beira Mar (Rua Machado, 27) – quarto individual R$30,00 / quarto duplo R$50,00. Não recomendo, é suja e o banheiro não tem porta.

 

Já havíamos fechado a pousada em Barreirinhas e o serviço do guia com a agência Ômega Tour. Infelizmente é muito difícil fazer contato diretamente com o guia, pois a maioria não tem acesso à internet e não divulga seu trabalho. Dessa forma, o valor da diária do guia saiu R$150,00 (acredito que cerca de 50% desse valor tenha ficado pra agência).

 

Quanto à pousada, optamos por uma mais afastada do centro (pousada do Aldo), localizada ao lado de um posto de gasolina, pois ficaríamos apenas uma noite e o preço era melhor. Pagamos R$80,00 pelo quarto duplo, o que não é nenhuma pechincha, mas foi bem razoável em relação aos padrões locais. A pousada é boa, possui ar condicionado, frigobar e banho quente (raridade no Maranhão!), além de oferecer café da manhã. Porém, para irmos ao centro à noite, precisamos pegar um táxi no valor de R$10,00.

 

Em relação à travessia, nossa ideia inicial era uma caminhada de 3 dias, seguindo o seguinte percurso: Barreirinhas / Baixa Grande / Queimada dos Britos / Santo Amaro. Porém, ficamos tão encantados com a beleza do deserto, que resolvemos dar uma “esticadinha”, incluímos Betânia no trajeto e acabamos ficando 5 dias nos Lençois.

 

1º Dia: Barreirinhas – Baixa Grande

 

Decidimos iniciar a caminhada em Barreirinhas porque ouvimos informações de que seria mais fácil, devido à posição do vento. Esse primeiro dia de caminhada foi o mais puxado. Às 7h30 partimos da pousada de Toyota até o início da travessia, na Lagoa Azul (que infelizmente estava vazia). O preço da Toyota por pessoa foi R$ 40,00. O trecho percorrido é curto, mas todo de areia e há também uma parte em que a Toyota tem que passar sobre uma pequena balsa. Após chacoalhar cerca de meia hora, chegamos ao ponto de partida. Nosso guia foi o “Loro” (referência às suas madeixas oxigenadas). Gostei muito dos seus serviços, apesar de calado e rigoroso quanto ao ritmo da caminhada, ele demonstrou ser uma pessoa incrível.

Decidi fazer a trilha descalça, o que definitivamente não foi a melhor opção. A areia não é quente, pois venta muito, mas o atrito da areia diretamente com a pele me rendeu uma terrível bolha! Resolvi então continuar de meia, o que ajudou um pouco, mas acho que o melhor mesmo seria ter feito de papete.

 

Quanto à roupa, usei camiseta dry fit, bermuda ciclista e boné legendário (que ajudou muito!). Além disso, levei na mochila muito protetor solar, óculos escuros, biquíni, canga, lanches,alguns remédios (como colírio e pomada cataflan) e uma garrafa de 500 ml de água, que fomos recarregando com água das lagoas filtrada com hidrosteril. O que levei e não usei foi repelente (pra minha surpresa não havia insetos) e um lençol. Não foi necessário porque nos locais onde nos hospedamos era oferecido.

Após alguns minutos de caminhada chegamos à lagoa do peixe, essa sim estava cheia. Não resistimos e paramos para “banhar” (como dizem os maranhenses), após alguns mergulhos, continuamos a caminhada com a alma literalmente lavada!

 

No caminho encontramos um filhotinho de bode quase soterrado pela areia. Ele era tão pequeno que ainda tinha cordão umbilical. Verificamos se sua mãe estava por perto, mas nem sinal... Nosso guia decidiu então adotá-lo e o grupo ganhou mais um integrante, devidamente batizado de Hugo.

 

Quanto ao grau de dificuldade, nesse dia foi alto, pois o trajeto tinha 7h de duração, incluindo ainda nossas pausas, demoramos cerca de 9h. Felizmente a areia não é fofa em todo o percurso, em alguns trechos encontramos areia mais firme e em outros vegetação, mas mesmo assim chegamos destruídos.

 

Nosso pernoite foi feito na casa do Seu Mano e Dona Maria Losa, que nos acolheram com extrema receptividade e nos proporcionaram contato com os hábitos e cultura locais.

 

Não há luz elétrica na região, apenas um gerador, que é ligado à noite e também não há água encanada, o banho é frio e de canequinha, mas o calor é imenso e isso não chega de forma alguma a ser um problema. Dormimos em rede, o que achei que pudesse ser um incômodo, pela falta de hábito, mas estávamos tão cansados que não estranhamos em nada, foi deitar e apagar!

 

O valor da hospedagem por pessoa é R$20,00 e inclui café-da manhã (bem simples: café preto e cuscuz ou tapioca). Pagamos também mais R$20,00 por pessoa por cada refeição. As opções são peixe ou galinhada.

 

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2º Dia: Descanso em Baixa Grande

 

Gostamos tanto de Baixa Grande que resolvemos ficar um dia a mais por lá. Aproveitamos esse tempo pra conhecer melhor a região, desfrutar as lagoas e o riozinho do povoado e principalmente pra ouvir os “causos” locais. Tivemos a oportunidade de conhecer a história do Batatão, segundo relato dos locais, uma imensa bola de fogo que aparece à noite nos Lençois Maranhenses e ataca as pessoas. A maioria dos nativos jura já ter visto e dizem que pra espantá-lo é necessário acender algum fogo ou colocar uma faca entre os dentes. A crença é tão forte, que nosso guia se negava a fazer caminhadas noturnas.

 

Pra “prevenir”, à noite ficamos perto da casa e em volta de uma fogueira tomando caipirinha de tiquira (aguardente local, feita de mandioca).

 

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3º Dia: Baixa Grande – Queimada dos Paulos

 

Nesse dia a caminhada foi fácil, partimos às 6h da manhã e andamos por cerca de 3h até chegar às Queimadas. Esse é um povoado maior, com mais famílias. Eles se dividem em subpovoados, identificados pelo sobrenome de cada família. Dessa forma temos: Queimada dos Britos, Queimada dos Paulos, Queimada do Lelis e há ainda um quarto subpovoado que é a mistura da família Brito com a família Paulo.

 

Ficamos hospedados em Queimada dos Paulos, na casa do Seu Mansur e Dona Binu. Lá pudemos saborear o melhor peixe da trilha, divinamente temperado e acompanhado de cerveja geladinha. Depois de tudo isso só com um cochilo na rede mesmo...

 

À tarde, resolvemos explorar a região à procura de lagoas. Nosso guia nos avisou que por ali estavam todas vazias, mas que havia um pequeno riozinho com cerca de 2 palmos de profundidade. O calor estava terrível e decidimos encarar o riozinho raso mesmo... A caminhada até lá foi bem curta e logo estávamos sentados no tal riozinho batendo papo. Sentimos várias vezes algo nos pinicando e pensamos que eram peixinhos, continuamos por lá até que o primeiro do grupo se cansou e decidiu sair da água. Nesse momento vimos várias larvinhas grudadas em seu corpo. :o Saímos da água gritando e tentando nos limpar, ficamos desesperados achando que aquelas podiam ser larvas de fezes de animais e que poderíamos contrair alguma doença. Nesse momento, o guia nos tranquilizou, dizendo que eram “apena sanguessugas”. Ficamos muito aliviados e olha que quando o fato de ter o corpo forrado de sanguessugas é tranquilizador, é porque o negócio tá feio!

 

Ainda tivemos disposição pra ver o pôr-do-sol em uma duna bem alta e o espetáculo foi lindo.

À noite, como de costume, tomamos deliciosas caipirinhas de tiquira e ficamos observando o céu estrelado, iluminado pela lua cheia. Aproveitamos pra tirar fotos e rir dos perrengues do dia.

 

Em seguida, o já comum banho de canequinha e um bom bate papo com nossos anfitriões. A lenda relatada dessa vez foi a do “Caroto do espia”, após algum esforço de interpretação, entendemos que toda duna é um caroto... Certo, só faltava mesmo a parte do espia, sabiamente esclarecida por Dona Binu: “Na época da guerra, há muito tempo, os homens subiam nesse caroto, que era muito, muito alto pra espiar se os inimigos estavam chegando”. Perguntei se esse caroto ainda existia e ela me disse que sim, mas que hoje em dia ninguém espiava mais...

 

Hora de dormir... A estrutura era bem semelhante à encontrada em Baixa Grande, mas dessa vez tivemos o privilégio de encontrar uma cama, o que depois quase nos matou de culpa, porque descobrimos que aquela não era uma cama para os hóspedes e sim, a cama da Dona Binu, que com certeza precisava mais dela do que nós. Mas a tradição de oferecer sempre o que se tem de melhor, é muito forte por lá.

 

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4º Dia: Queimada dos Paulos – Betânia

 

Nosso projeto inicial era ir de Queimada direto pra Santo Amaro, ponto final da trilha, mas a ideia de acabar a travessia era tão triste que demos um jeito de prolongá-la. Por sugestão do guia, decidimos incluir o povoado de Betânia no roteiro.

 

Dessa vez a caminhada foi pesada. Partimos às 6h e caminhamos por cerca de 4h30, o que não é muito, mas o trajeto era bem difícil, com muitas subidas e muitos trechos de areia fofa. Pra piorar, esse foi o dia de temperatura mais quente, foi realmente difícil.

 

Bem perto de Betânia encontramos um lindo rio (dessa vez com águas fundas e sem sanguessugas). Aproveitamos pra dar um mergulho e nesse momento, todo o sofrimento ficou pra trás. A paisagem ali era belíssima. Nossa pressa de chegar já era coisa do passado.

 

Depois de nos refrescarmos, retomamos a caminhada e logo chegamos a Betânia. Precisamos pegar um barquinho pra cruzar o rio. Era possível cruzar nadando sem problemas, mas devido às mochilas, o barco foi necessário. O guia pediu pra darmos um “agrado” ao barqueiro e nos sugeriu o valor de R$7,00.

 

Ficamos na casa do Seu Francisco e Dona Chagas, pessoas adoráveis, assim como todas as outras que conhecemos na travessia. Devido à proximidade de Betânia com a cidade de Santo Amaro, ali há mais desenvolvimento, como luz elétrica e até um mercadinho.

 

Passamos quase todo o dia no rio e lá pelas 17h pegamos um barco pra ver o pôr-do-sol em uma duna mais afastada. Foi um espetáculo indescritível. Nunca vi um final de tarde tão lindo.

 

À noite trocamos o banho de canequinha por um banho de rio e nem preciso dizer que depois “desmaiamos” nas redes...

 

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5º Dia: Betânia – Santo Amaro

 

Partimos para Santo Amaro às 5h30, o trajeto durou cerca de 3h e foi bem fácil. A descida da última duna foi consagrada com gritos de uhh huuu e fotos. Estávamos muito felizes de ter concluído o percurso, uma real sensação de dever cumprido!

 

Santo Amaro é uma cidadezinha que parece estar em construção, praticamente tudo por lá está no reboque, são raríssimas as casas que possuem acabamento. Tudo é bem simples, a cidade resume-se a poucas ruas estreitas e um centrinho com algumas lojas, lanchonetes e a prefeitura, onde pudemos encontrar várias cabras pastando.

 

Nossa chegada à “cidade grande” foi devidamente comemorada com cerveja e um delicioso almoço no restaurante da Pousada Água Doce. Minha opção foi camaroada, o prato individual saiu por R$25,00 e foi um excelente custo-benefício, estava fantástico!

 

Nos hospedamos na Pousada Solar das Gaivotas, bastante confortável, com um ótimo café-da-manhã e uma linda vista do rio. O valor da diária no quarto pra 4 pessoas foi de R$160,00.

 

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No dia seguinte às 15h partimos pra São Luís. É importante atentar-se ao horário, pois as jardineiras partem apenas em 2 horários. Foram 3 horas bem sofridas de viagem, com muitos chacoalhos até o povoado do Sangue. De lá precisávamos pegar uma van para São Luís, pois não há nenhum ônibus que faça o percurso (a única linha que fazia, deixou esse itinerário há algum tempo). A van atrasou uma hora e quando ela chegou, viajamos por mais 3h até finalmente chegarmos a São Luís. O valor da jardineira foi R$15,00 e o da van R$30,00.

No trajeto conhecemos duas maranhenses incríveis, que fizeram questão de nos apresentar um pouco de São Luís. Saímos pra jantar e em seguida fomos ao Bar do Léo, um lugar alternativo e repleto de objetos antigos, localizado dentro de um mercado, onde brindamos o meu aniversário.

 

Experiência maravilhosa! Recomendo a todos! ::otemo::

 

Quem precisar de maiores informações sobre outros destinos no Maranhão, pode consultar no meu blog: www.mochilamundoafora.com.br

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