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13/01/2009 Esta aventura começa mesmo em São Paulo. Estou em casa com todos os preparativos prontos para viagem e o único item faltante é a coragem, por mais mentiroso que possa soar a segunda vez é mais difícil que a primeira. Minha irmã Sheila é sem dúvida a grande responsável por minhas iniciativas, pois depois de uma boa conversa ela despertou novamente, o Thiago inquieto com o cotidiano que sempre habitou meu corpo. Agora há um detalhe que poderá me atrasar, hoje é o dia marcado pela faculdade para se realizar a rematrícula, então eu saio de casa as 19:15 com destino a Oswaldo Cruz. Ao chegar no campus percebo pela minha senha que há pelo menos 60 pessoas a minha frente, e meio que o universo conspirando para que eu pegue o último ônibus com destino a Curitiba, alguns amigos (ou anjos) aparecem com uma senha muito mais próxima. Aqui deixo meu sincero abraço a vocês Ligia, Jeferson, Jairo...

Saindo da faculdade com aquele frio na barriga e sabendo que teria uma jornada longa, comprei uma Skol para estimular o sono, afinal a ansiedade não nos deixa dormir e ainda considerando que por mais moderno que seja o ônibus sempre será um incomodo para o sono. Chego a rodoviária do Tietê, e me recordo de quando fui para Angra, com certeza já não sou mais o mesmo viajante, agora posso sentir o que há pela frente e mais uma vez um suspiro de desistência passa pelo meu pulmão e congela minha espinha fazendo com que eu sinta um flash vibrante por todo meu corpo, a sensação foi rápida mas inesquecível. São 22:13 e agora estou ocupado com a tarefa de encontrar o guichê da companhia que me levaria ao Paraná. Ao encontrar fico sabendo que o ônibus partirá as 22:35 e isso sem dúvida me aterroriza, porquê estou com fome e não tenho tempo de me alimentar antes de partir. Ao entrar no ônibus a marginal do Tietê guia minhas lembranças sobre o início da aventura de Angra e percebo que é a hora de eu deixar de lado estas recordações, isso porquê não faz sentido ir para o acaso esperando que algo aconteça, do contrário eu poderia me decepcionar. O ônibus era bem equipado e esse foi meu maior incomodo, afinal quem vai para praia escolhe bermuda e regata, dois itens que não combinam com ar condicionado, e por isso fiquei acordado até Pariquera-Açu, primeira e única parada.

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14/01/2009 Agora são 3:30 e a parada é excelente, comida ótima, aí não tive dúvidas e para quem me conhece sabe bem o que fiz, almocei é claro. Chego em Curitiba as 05:30 e para minha surpresa nada muito diferente de São Paulo, cidade grande com moradores de rua e tudo mais, nem tive coragem de sair da rodoviária. O ônibus para a cidade de Pontal do Paraná (trapiche) sairia as 07:30 então tive tempo para dormir. Acordo e vou bisbilhotar a rodoviária (lojas de souvenir), comprei até uma camiseta maneira do Jardim Botânico. Embarco para Pontal com o ônibus lotado, e ao perguntar a outro viajante quanto tempo levaria a viagem fiz a primeira amizade. Era um senhor (nativo de Pontal) que morava em Shangri-La, ele não conversava muito, mas me adiantou que levaria umas três horas para chegar até o píer, conhecido pelos paranaenses como Trapiche. Aquela informação me derrubou, o que eu queria mesmo era chegar logo, enfim esse ônibus fazia varias paradas para que os passageiros descessem e aos poucos foi esvaziando, quando o senhor desceu eu resolvi tentar a sorte, então mudei de lugar me sentando agora ao lado de uma gatinha. Acho que ela era muda porquê ofereci água e batata frita duas vezes e ela nem mexeu a sobrancelha. Cheguei e agora são 10:40 e depois de eu ter passado no mercado para comprar o que seria necessário para me alimentar na Ilha me dirijo ao tal do Trapiche. Há na ilha uma regra de controle de visitantes, fico sabendo que somente 5.000 visitantes podem estar na ilha por dia, até burocracia havia. Primeiro preenchi um formulário com dados pessoais e dizendo quanto tempo, e aonde eu ia me hospedar na ilha. Depois tive de comprar antecipadamente o ingresso para travessia de volta ao continente, parecia até que ia sair do país, ficou faltando só o visto. A travessia foi tranqüila e durou cerca de 40 minutos, o interessante é que passamos por rio e mar juntos, a coloração que se forma é incrível. Depois de ter avistado o píer de descida, as 11:30 eu já havia pisado na primeira praia, a de Brasília! Me sinto muito perdido pois aqui tudo é plano e não me dá uma idéia de como chegar ao outro lado da ilha, onde fica a Praia Grande, sendo assim sigo as placas sem a menor idéia de qual é o menor caminho. Agora são 13:20 e o termômetro marca 37º, a mochila está com carga média de 18 kg e minha água já não serve para outra coisa a não ser molhar a nuca. Agora vou deixar uma dica a quem possa interessar, binóculos são ótimos companheiros numa trilha desconhecida, isso porquê se você tem dúvida se deve ir para direita ou esquerda, não precisa perder tempo para verificar pessoalmente, basta projetar seu olhar e confirmar qual o caminho correto. Bom, dicas a parte a Praia Grande não merece esse nome, até porquê existem praias maiores na mesma ilha, contudo devo admitir que é uma praia muito charmosa e ótima para banho, cercada de pedras e vegetação que abrigam diversos animais pequenos como aranhas, siris, gaivotas e gambás (só encontrados de noite). Seguindo o percurso percebo ao conversar com a dona do camping que não vai rolar minha estadia, para minha surpresa ela queria me cobrar R$ 25,00 a diária, e eu é claro, achei um absurdo, enfim minha filosofia para esse tipo de viagem não é um bom lugar para dormir, até porquê bom lugar para dormir é minha casa, enfim estava disposto a gastar muita grana com algo diferente, mas não com camping, então caminhei por mais 20 minutos e encontrei dois lugares para ficar, o Ola Surf Camping que este recomendo pela localização e atendimento do proprietário (Sergio). Numa conversa afim de desenrolar com uma nativa chamada Juce, que acabou por me oferecer um espaço para camping. A infra-estrutura de onde fiquei não tem nada de diferente de outros campings, entretanto fui privilegiado pelo fato de a Juce conhecer todos os moradores da Ilha, isso me abriu diversas portas. Acampados no mesmo local que eu, havia uma família na qual conheci o Rafael, brother do peito e pode levar fé o cara tem 15 anos, mas tem um papo cabeça e numa balada ele mandou muito bem para cima de uma gatinha de 18 anos, valeu Rafa continua nessa que tu vai longe brother!

Depois de armar a barraca, ainda meio cismado em deixar tudo ali e ir de encontro ao desconhecido, achei que o melhor a fazer seria descansar e recuperar energia para mais tarde.

Agora são por volta das 17:00 horas e o calor dentro da barraca é insuportável, então é hora de partir. Ao preparar o equipamento de caminhada percebo que ainda estou com sono e uma boa solução para isso é banho gelado. O que acho mais interessante em banho frio é que perdemos todos os sentidos, simplesmente sentimos a água gelada como se nos torturasse e se a pessoa não controlar bem seus sentidos ela pode perder o melhor do banho, que é a sensação depois da adaptação, só me lembro de sentir o tato mais aguçado num banho gelado ou quando estive careca (risos). Banho tomado, tralhas em mãos, vamos ao primeiro passeio que é um lugar chamado “Praia de Fora” e fica na parte nordeste da Ilha. Caminhando pela trilha percebo que há uma voz feminina presente e está vindo do matagal, como parece ser uma conversa, tento localizar e aos poucos vou tomando profundidade entre as árvores, quando para minha surpresa era uma moça conversando ao telefone, o que achei estranho é que ela não se importava com a quantidade de abelhas que a rodeavam como se ela fosse uma lata de refrigerante, até que algumas abelhas se entrelaçaram pelos cabelos dourados e de repente ela começou a gritar. Eu sinceramente não sabia o que fazer, por um momento pensei até em ir embora, mas como ela além de gritar começou a correr a única coisa que pude fazer foi segui-la para ver no que aquilo ia dar. A trilha acabou e nossos pés já estão tocando as areias da praia de fora, entretanto a gritaria ainda continua e agora acrescida do barulho que as abelhas faziam na cabeça dela. A moça foi em direção ao salva-vidas e quando ele percebeu do que se tratava a levou para o mar e mergulhou sua cabeça como se fosse batizá-la. Depois que acabou foi até engraçado, e a moça foi encaminhada ao posto de saúde da Ilha. Já sem agitação percebo que cheguei ao meu primeiro destino, e realmente é incrível como esta praia nos conforta, imagina só uma praia com poucas pessoas (todas muito educadas e simpáticas) ondas de ½ metro sem agressividade, águas claras, limpas e muito salgadas olhando para frente se vê o oceano e atrás o melhor da praia, a vegetação é baixa, o que sugere o quão plano é o terreno desta parte da Ilha, e essa é a grande graça desta praia, isso porquê ela passa a sensação de que você possui um bom conhecimento da geografia da ilha, e de fato isso confere. Está escurecendo, mas ainda assim eu insisto em explorar mais a região, caminhando ao som de pássaros e barulho que as ondas produzem relaxando todo tipo de tensão que eu possa sentir, começo a refletir sobre minha vida, é muito engraçado isso, mas antes mesmo de eu tomar profundidade em meus pensamentos me ocorreu uma sensação indicando que ali seria um marco em minha personalidade...

Agora são por volta das 19:15 horas e estou no ponto mais alto da Ilha, aqui além de ser o mirante mais bonito que já estive (considerando que foram muitos), você tem a impressão não só de altura ,mas também de distância sendo a minha esquerda um deserto oceânico, e a direita uma floresta tão grande que ao olhar fixamente no ponto mais longe a cor verde cansa nossa visão nos deixando com muito sono e tontura. Também é possível conferir todas as praias da Ilha e com ajuda do binóculo e um pouco de sorte, também dá para observar golfinhos e outros peixes que não sei por qual razão saltam do mar. Para se chegar aqui, deve-se pegar a trilha do Farol, nesse caminho observe bem, pois há um nativo medroso que nos assusta a todo tempo quando se mexe entre a vegetação é o lagarto. Hora de voltar ao vilarejo então começo a caminhar, me sinto muito depressivo por que amo uma mulher, mas tenho de esquecê-la contra minha vontade, então ao me lamentar sem ter por perto alguém para me distrair passo próximo a um Lual e resolvo parar. A fogueira está muito alta e como faz muito calor não penso duas vezes, vou tomar uma skol para relaxar e retomar o caminho de volta. Acontece que nessa de tomar uma cervejinha, o som estava ótimo e uma garota que acompanhava sua amiga começou a me flertar com olhares e curvas, fiquei amigo do brother Danilo que estava trabalhando no Lual e ele disse:

- Vai fundo cara!

Já estava encorajado, entretanto faltava o papo que ia me jogar na conversa delas duas. Pensei, pensei e abordei no estilo paulistano (risos):

- Ola! Deu uma vontade de tomar uma cerveja, mas sozinho é muito chato, posso acompanhar vocês?

Elas me receberam com um sorriso enorme, mas ficaram esperando eu traduzir a cantada em espanhol. É meus amigos, o jeito foi ficar envergonhado e sair de fininho, porque elas tinham um espanhol muito difícil de compreender e não entendiam nada que eu falava, mesmo pronunciando devagar. Bom já chega, melhor eu ir dormir e aproveitar o paraíso amanhã, afinal se eu quisesse agito deveria buscar em Curitiba e não numa Ilha quase deserta!

...

 

15/01/2009 Agora são 08:00 horas e ao verificar o mapa da Ilha, desperto interesse em visitar a região chamada de “Encantadas” (trapiche). Então preparo tudo novamente, e desta vez tenho que admitir mãe faz total diferença, afinal se não fosse a minha eu não teria levado remédio e depois da noite passada só poderia ter acordado com uma baita enxaqueca! Agora são 09:00 e já comi um pacote de passatempo com coca-cola (café da manhã nutritivo), ao final da praia grande avisto uma trilha íngreme com uma placa dizendo: ENCANTADAS siga em frete! Durante a subida não tenho nenhum problema, entretanto todo bom atleta sabe que, descer exige mais habilidade técnica que subir, e como não sou atleta, escorreguei na trilha de argila molhada e desci rolando por uns quatro metros, foi hilário porquê quando parei um casal se aproximou e me mostrou alguns ferimentos que tiveram ao passar no mesmo trecho, enfim cheguei na PRAIA DO MIGUEL, nada tenho a declarar sobre ela, afinal é uma praia sem um diferencial a ser comentado. Ao retomar a caminhada passo por um trecho onde há duas pedras formando um hiato entre elas e com um texto esculpido, que dizia siga em frente (sugerindo passar pela falha), não julguei ser seguro, mas tomo a decisão e sigo em frente, percebi que outro casal acabou tendo dificuldades para passar e me disponho a ajudar. Não posso deixar de reparar que fazer amizade com um casal é bastante incomum - pelo menos quando se está sozinho sim – entretanto a empatia dos dois cativaram minha atenção e seguimos os três conversando sobre viagens e profissões. Agora são por volta das 11:00 e a caminhada se complica, devido o trecho exigir que andemos com água salgada na altura dos joelhos, além de diversos mariscos abertos espalhados pelo chão. Depois de contornarmos o rochedo chegamos a praia de ENCANTADAS, praia esta bem movimentada e com areia tão limpa que chega a se confundir com maisena, vários crustáceos e corruptos (espécie parecida com camarão) desenham a caminhada até a GRUTA DE ENCANTADAS. A fachada da gruta é sem dúvida coisa divina, nem se consegue imaginar como a fenda foi aberta pelas águas, e muito menos como foi esculpida pelo mar uma escada invertida no teto da gruta que te induz a pensar que alguém com certeza fez aquilo e não que foi somente a natureza. Ao entrar na gruta, para minha surpresa uma modelo argentina posa para uns dois fotógrafos (sim, ela estava vestida), e sem exagerar nem uma bromélia chega a ser mais exótica que aquela mulher na gruta. Primeiramente a argentina vestia uma canga com a estampa da bandeira do Brasil e esboçava um sorriso artificial que não podia convencer nem a uma criança, mas sua pose deixava a sugestão maliciosa de uma parada no tango, depois ela posou de biquíni e sem dúvida se superou, seu semblante parecia de uma indigente pedindo esmola, mas não queria em dinheiro, era uma forma que parecia estar pedindo prazer. Aquela observação me deixou estático por horas e o casal envergonhados em interromper meu olhar e pensamentos, foram embora, até mesmo a modelo se foi, mas meu data show cerebral continuou a projetá-la, quando dei por mim, já estava mais que na hora de ir embora pois ainda não havia almoçado e também não carregava lanterna comigo. Tomo a decisão de visitar o vilarejo de ENCANTADAS e sem dúvida esse é o melhor local da ilha para se comprar algum suvenir, acabo a caminhada de frente para mar que nos leva ao continente, e me dirijo ao trapiche para verificar o preço de um frete de volta a BRASÍLIA. É surpreendente como o transporte por barco é barato nessa ilha, pago apenas R$5,00 e percorro uns oito quilômetros via mar até o trapiche mais perto de onde estava acampado.

Ao retornar para a barraca e depois de um bom banho sou convidado a comer alguns pasteis com o pessoal da casa. O Rafael me pergunta se eu já vi plâncton, sem nem pensar no que ele quis dizer eu respondo que já, pois no filme “A Praia” tem uma cena que mostra uma luz brilhante no fundo do mar e a François diz que alquilo é plâncton, enfim o Rafael diz que na praia de fora também tem e como eu duvidei ele me levou até lá. Ao chegarmos na praia nada consigo observar na água pois além de estarmos longe tudo esta muito escuro, então nos aproximamos e ele começou a agitar a água com os pés, pasmem mas quando ele tirou o pé da água parecia uma arvore de natal, o pé brilhava verde vaga-lume e eu não resisti fui nadar para conferir se meu corpo ficaria daquele jeito, galera quando eu saí da água recebi uma ligação de Hollywood com uma oferta de emprego para o filme do Hulk, por um instante eu achei que ia vomitar, porquê plâncton são microorganismos e estavam espalhados por todo meu corpo, percebendo isso logo sugeri que fossemos tomar uma cerveja para matar aqueles bichinhos nojentos. Em resumo quando estive de frente para o fato (plâncton) foi impossível procurar pensamentos que justificasse a tamanha sensação de estar num local único, é claro que plâncton, tartaruga, ou qualquer outro bicho você pode sim encontrar em outros lugares, mas isso não importava para mim e preferi me deliciar com a idéia de que eu era o único num lugar único...

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16/01/2009 Hoje é dia de caminhada brava, meu destino requer boa disposição e protetor solar afinal são dez quilômetros ida e volta de praia, e somente praia se encontra nessa caminhada, o destino é o FORTE da ilha, que foi construído em 1784, dada esta data nem preciso citar o conteúdo histórico que esse passeio tem para seus turistas. Nesse passeio vocês poderão conferir algumas fotos na apresentação de slides na coluna à esquerda, na parte superior. Não vou detalhar esse passeio porquê foi como outro qualquer que se faça num domingo em São Paulo.

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