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Montanhista brasileiro desbrava cume ‘desconhecido’


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O guia superior de montanha, Marcelo Motta Delvaux, retorna este mês (abril/2015) para o Brasil, após uma série de atividades de alta montanha, realizadas por países da América do Sul.

 

A mais recente expedição do brasileiro culminou com um feito inédito, que foi a escalada de uma montanha com cerca de 5.500 metros de altitude, até então ‘desconhecida’ por montanhistas profissionais, localizada ao norte da Argentina, na região dos Valles Calchaquíes, na província de Salta.

 

De Mendoza, Argentina, o montanhista concedeu entrevista exclusiva ao repórter Luiz Carlos Izzo, do Jornal de Itupeva. Ele falou sobre a inédita passagem pelo cume desta montanha, que teve travessia obrigatória para viabilizar o acesso à porção norte do Cordón Del Palermo. A travessia épica também incluiu a ascensão do Ciénaga Grande, que tem 6075 metros. Segundo o profissional de montanha, este foi um dos roteiros de trekking de alta montanha mais duros já realizados. “Foram 9 dias de caminhada, 108 quilômetros percorridos e mais de 28.000 m de desníveis vencidos, tendo sido necessário carregar a mochila cargueira com todo o peso a altitudes próximas dos 6000 metros.

 

Delvaux fez um percurso circular, com saída e retorno da pequena vila de La Poma, situada às margens da mística ‘Ruta 40’, a estrada que corta a Argentina de sul a norte, desde a Patagônia até a fronteira com a Bolívia. Um dos fatores que mais dificultaram a expedição do montanhista foi o tempo. “Por conta do tempo, tive que alterar o plano original, que era sair do vale do rio Calchaquí em direção à remota porção norte do Cordón de Palermo e, chegando ao primeiro cume de 6000 m dessa cadeia de montanhas, o Ciénaga Grande (6075 m), além de percorrer toda sua aresta até o vizinho Nevado de Cachi, descendo pela quebrada do rio Peñas Blancas até a vila de Las Pailas”.

 

O percurso inicial programado para esta expedição era de, aproximadamente, 90 quilômetros, e passaria por vários cumes acima de 6000 metros do Cordón de Palermo e do Nevado de Cachi, porém, com as condições climáticas desfavoráveis, a aproximação exigiu um dia a mais do que o previsto. “No quinto dia, a menos de 400 metros do cume do Ciénaga Grande, o vento piorou e começou a nevar, me levando à decisão de não continuar em direção ao Nevado de Cachi. Ao invés de subir com todo o peso ao cume, desci para a quebrada que acesso à base dessa grandiosa montanha, montei o acampamento e subi até o cume no dia seguinte. Foi uma decisão acertada, porque fui ao cume com um “viento blanco” fortíssimo e visibilidade zero, “navegando” por instrumento, com bússola e altímetro”, completou.

 

Foram necessários três dias somente para o regresso à La Poma, nos Valles Calchaquíes, descendo nos primeiro dias pela “infernal” quebrada do rio Salado, um vale que, progressivamente, vai se transformando em um cânion profundo, cujas paredes verticais impedem constantemente a passagem, o que obrigava o montanhista a subir pelas pedras 50, 100, às vezes mais de 300 metros, com verdadeiros lances de escalada de até ‘III grau’, isso com todo o peso nas costas, para desviar dos obstáculos.

 

Na metade do segundo dia, após subir cerca de 400 metros verticais, Delvaux tive uma visão da infinidade de cânions que o aguardava rio abaixo e decidiu mudar de direção. “Subi até a aresta acima do cânion, entrei em outra ‘quebrada’ que tomava a direção norte, atravessei um passo a 4300 metros e, no terceiro dia, desci pela mesma quebrada que havia percorrido no primeiro dia de travessia, retornando novamente à vila de La Poma”.

 

Travessia épica, que incluiu a ascensão do Ciénaga Grande (6075 m) e de uma linda montanha desconhecida de quase 5500 m de altitude, cujo cume foi passagem obrigatória quando o montanhista percorria a porção norte do Cordón del Palermo.

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O montanhista

Marcelo Motta Delvaux sempre acreditou que a multidisciplinaridade é a chave para o sucesso profissional e para o crescimento pessoal. Possui formação em ciências exatas (Bacharel em Informática / UFRJ), ciências humanas (Bacharel em História / UFMG, Especialista em Temas Filosóficos / UFMG e Mestre em História / UFMG), em gestão de projetos (Pós-Graduação em Gestão de Projetos / IETEC, Certificação PMP – Project Management Professional / PMI – Project Management Institute), e montanhismo (Tecnicatura Superior en Actividades de Montaña / EPGAMT – Mendoza – Argentina).

 

Pratica escalada em rocha desde a década de 1990 e alta montanha desde o início dos anos 2000, tendo realizado mais de 70 ascensões nos Andes e no Himalaia, em países como Argentina, Chile, Bolívia, Peru, Equador, Venezuela e Tibete. Líder da primeira expedição de Minas Gerais ao Himalaia em 2009, que teve como objetivo a escalada ao Cho Oyu (8201 m), a sexta montanha mais alta do mundo, tem em seu currículo inúmeras montanhas andinas, como o Aconcágua (6962 m), o Ojos del Salado (6893 m), o Mercedario (6770 m), o Sajama (6542 m), o Chimborazo (6310 m), o Illimani (6439 m), o Huayna Potosí (6088 m), o Marmolejo (6108 m), o Hualca Hualca (6025 m) e o Tocllaraju (6032 m), dentre outras.

 

Depois de uma longa experiência em montanhismo e escalada, obteve sua certificação como guia de montanha pela EPGAMT. Associado à AAGM e AAGPM, é um dos únicos guias de montanha profissionais em atividade no Brasil com um título superior em montanhismo, o que lhe possibilitou tornar-se um guia credenciado no Parque Provincial Aconcáua e habilitado, legalmente, a liderar expedições de ascensão ao cume da montanha mais alta das Américas.

 

O montanhismo representa em sua carreira e caminho pessoal, mais do que uma profissão, uma escolha e estilo de vida. E também é o elo de ligação com as outras áreas de sua formação acadêmica, constituindo o núcleo do modelo disciplinar que tanto defende.

 

A experiência de mais de duas décadas em projetos corporativos complexos e gestão de equipes é, agora, utilizada no planejamento e execução de suas expedições e na liderança de grupos em ambientes de alta montanha. Em um sentido inverso, o montanhismo é utilizado em seus programas de treinamento, realizados através de sua empresa SummIT, como um meio para o desenvolvimento de habilidades e aquisição de conhecimento nas áreas de gestão de projetos, liderança e motivação pessoal.

 

Sua formação em ciências humanas também se integrou, perfeitamente, a sua paixão pela montanha, tendo os aspectos sociais, políticos, econômicos e filosóficos do montanhismo proporcionado um rico material para a elaboração dos cursos e workshops promovidos pela SummIT, relacionados às áreas de desenvolvimento humano, inovação, crescimento pessoal e autoconhecimento. Trazendo uma visão humanista para suas expedições, procura abordar, junto a seus clientes, tais aspectos “não técnicos” do montanhismo, ampliando a experiência de se escalar uma montanha para além da esfera meramente esportiva.

 

Por fim, como a corroborar a importância de uma formação multidisciplinar, sua atuação como historiador forneceu-lhe um embasamento fundamental para a condução de suas expedições nos Andes, fazendo das mesmas, mais do que simples atividades físicas ou lúdicas em ambientes naturais, uma rica vivência cultural a partir do contato com as populações andinas e com sua história, tradição e conhecimentos ancestrais. Desenvolve, atualmente, pesquisas na área de arqueologia de alta montanha para elaboração de novos roteiros que integram montanhismo e história.

 

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