Colaboradores Vgn Vagner Postado Junho 21, 2016 Colaboradores Postado Junho 21, 2016 Dia 09 de Junho, de 2016... Uma data póstuma. Data que escolhemos para fazer uma breve travessia no extremo sul de Biritiba Mirim/SP. Data em que o litoral norte paulista amanhecia em prantos. Pois na noite anterior, um acidente histórico, mais grave já ocorrido na Rodovia Mogi/Bertioga, acabava de colocar em luto os moradores daquela região. Um ônibus, da empresa União do Litoral, que levava estudantes da faculdade de Mogi das Cruzes até as cidades litorâneas, por motivos ainda desconhecidos, após fazer uma curva acentuada no quilômetro 84 da rodovia, perdeu o controle, invadiu a pista contrária e tombou indo de encontro com os paredões de rocha da Serra do Mar. Esse acidente foi de tamanho impacto que causou 15 mortes instantâneas, mais 3 foram à óbito já no hospital, e 28 ficaram feridos. Algumas especulações de que o motorista trafegava em alta velocidade todas as vezes que fazia suas viagens. Inclusive, gerou um bate boca com os alunos/passageiros, que reclamavam sobre isso, antes de saírem para nunca mais volta. Isso se espalhou pela mídia televisiva sensacionalista com facilidade. Com isso, as repercussões tomaram rumos além da nação. #LUTO ___________________________________________________________________________ RELATO Marcamos de nos encontrar às 07h30, na estação Estudantes da CPTM, e na sequência, às 7h40, pegarmos o ônibus - 392-Manoel Ferreira, mas, devido aos contratempos de sempre, perdemos esse horário. Quando cheguei de encontro com Diógenes e Cláudia, nos trailers que vendem tudo que é tipo de lanches em frente da faculdade, eles já assistiam o noticiário sobre o acidente, e as expectativas não eram das melhores, pois afirmavam que a rodovia estava interditada. Isso gerou a dúvida: será que vamos conseguir ir até lá e fazer a travessia? Depois de termos voltados até as catracas da estação para encontra com a Ana e o Paulo, embarcamos no ônibus que saiu às 08h05, e em quase 1h de sacolejo dentro daquele latão coletivo, tivemos tempo suficiente para enturmar os que não se conheciam. Quando saltamos o ponto final, às 9h15, no bairro de Manoel Ferreira, começamos nossa longa caminhada pela estradinha de terra que acompanha a extensa tubulação que capta água das represas do entorno. Em menos de 50 minutos já abandonávamos as vias de tráfego rural para adentrarmos numa propriedade particular, sem residentes, onde começa a trilha que sobe com destino a Pedra do Sapo. Ainda na estrada, claro, quando vimos que a enorme plantação de pimentões estava carregada deles, não perdemos tempo. Sacamos as sacolinhas e as enchemos com esse leguminoso verde. Uma pena ver que os vermelhos estavam todos danificados e murchos. Um pouquinho depois, duas cachorras, uma alegre, outra arisca, decidiram nos acompanhar. O que surpreendeu com o resultado final. A trilha já começa com uma subidinha forte, tirando o fôlego de quem escolhe esse caminho como acesso à “Pedra do Anfíbio,” serpenteando até terminar numa transversal que sempre confundi quem chega até ali, pois o caminho mais batido, o da direita, segue para outro lugar totalmente diferente daquele que se deseja chegar. Tomamos a direção certa, descendo o morro até o fundo de um pequeno vale, e quando começamos a subir novamente, da nossa esquerda, se ouve o barulho do único ponto de água que há nesse caminho. Aliás, há uma picada que leva ao encontro com o riacho. Aliás, levamos cachorras para beber água, mas não beberam, e acabaram sendo “renomeadas” (coisas de Ana). A trilha, pós pequeno vale, vai subindo, subindo e subindo, sempre bem aberta e de facílima navegação, sem muitos obstáculos. O único obstáculo é a inclinação da subida que, mesmo com o frio mínimo de 8°C que tem feito nos últimos dias, fez o suor minar pela testa de cada um e ensopar as costas abafadas pelas mochilas. Despontamos sobre a Pedra da Forquilhas, às 11h00, à oeste da incrível formação rochosa que lembra um sapo. O tempo que estava aberto enquanto caminhávamos pela mata, rapidinho veio a se fechar com a neblina que subia do litoral. Isso fez com que não perdêssemos tanto tempo por lá, apenas o suficiente para comer alguma coisa e descansar um pouquinho. Nem subimos na cabeça do Sapo (topo), como é de praxe. Acreditávamos que o vínculo de companheirismo com as cachorras se encerraria ali, pois há um lance de corda na face leste da Pedra, que coloca qualquer ser humano em situação de risco e inviabiliza a descida de qualquer animal daquele porte. Ainda assim, uma delas desceu com a ajuda da Ana. Que insistia em cuidar das cadelinhas como se fossem suas. A partir daquele momento começaria a brincadeira de gente grande. Pois estávamos cientes de que, há pelo menos 5 anos, o rumo tomado não recebia pegadas humanas, e que apenas uma equipe havia feita tal travessia. Então, era lógico que teríamos muita mata fechada pela frente. Mas não imaginávamos que seria tanto. rs Quando acabamos de descer a piramba que antecede os 5 lances de cordas que auxiliam a subida e a descida da trilha, em terreno plano, onde há uma grande árvore abraçada por uma fita zebrada de cores preto e amarelo, era hora de concentrar as forças e o psicológico. Pois uma piramba de forte aclive (forte mesmo) estava a nossa frente, prontinha para ser encarada, sem saber se seria vencida. Um vara mato infernal vai tomando o morro, e junto com ele, nós, íamos nos agarrando onde dava, usando a força extrema das pernas e ganhando altitude rapidamente. Ao olhar para trás dava para ter noção da escalada que estávamos fazendo, pois o vale era visto bem abaixo da gente, e a Pedra do Sapo já era emoldurado pelas copas de árvores mais próximas da gente. Uma cenário bonito de ser visto. O vara mato continua firme e forte, até alcançarmos o topo da crista. Ali, inicialmente, pensamos em tocar para esquerda, mas o precipício há menos de 15 passos deixava claro que esse não seria o sentido a ser seguido. Farejando feito cachorro, fuçando mais ao sul, encontramos, em meio a mata fechada, os resquícios de trilha que queríamos e deveríamos acompanhar há todo tempo sobre a crista do morros. Em menos de 10 minutos, 1 pequeno pilar apareceu, e em seguida, outros também apareceram pelo caminho. Isso só reforçava que estávamos no caminho certo. Pois esses pilares também são mencionados no relato de Jorge Soto, o qual usamos como referência para fazer essa travessia. A trilha, nesse trecho, segue óbvia e objetiva, mas quando decide fechar o caminho, fecha de vez e coloca à prova a nossa habilidade em imitar serpentes. Pois um enorme bambuzal de Taquarinhas (pequenos e finos bambus) bloqueiam o caminho, deixando como opção de passagem pequenos túneis que beiram o solo. A úncia solução para vencer esse trecho é: meter as mãos e o peito no chão, e rastejar feito calango velho, igual ao que é feito nos treinamentos de tropas de elites, como o exército. Mas, não é apena 1 túnel desses que aparece. Aparecem 3 ou 4 túneis com extensão diferentes, e o últimos deles é o que te põe nas posição menos confortável possível e ainda força a abrir caminho com as mãos, tendo que rastejar e desprender a mochila que enrosca há todo momento nos bambus. É uma prova de fogo, difícil pra cacete, rs. Foram vários arranhões pelo rosto, mãos e pescoço. Claro, o resultado não poderia ser outro. Até o par de óculos do Diógenes foi lançado no meio do mato, depois que ele bateu a testa numa árvores. rsrs Adeus, óculos. Depois do trecho de Taquarinhas a trilha volta a ganhar vegetação rasteira, mas, por pouco tempo, entra em um novo bambuzal e se perde facilmente. O jeito é farejar seu rastro novamente, já que o caminho continua sobre a crista. Encontramos mais à esquerda o que restava de uma via, contornando o morro para depois subir, em solo rochoso, num caminho aberto e de vegetação seca até o alto de outra rocha, onde há uma das últimas marcações de topografia em todo o trajeto. Aquele ponto já era tido como um grande avanço, já que o Pico do Gavião não está tão longe dali. A trilha que seguia para o leste passa a se apontar na direção da estrela mais distantes dentre a constelação Cruzeiro, entra novamente por outro denso bambuzal, não dá pistas de qual lado podemos encontrá-la, e nos obriga a usar o faro, aguçado e treinado em tantos outros vara mato Estado a fora. Ainda bem que as cadelas, com a fidelidade de vira lata de rua, escolheram nos acompanhar, pois iam na dianteira, farejando todo o caminho por onde iríamos passar, e sem errar, sempre se enfiavam na direção certa. Como se soubessem onde estávamos querendo chegar. As Taquarinhas do mal, por fim, ficaram para trás. E todo o espaço a ser palmilhado a partir daquele ponto era em meio a uma espessa floresta de incertezas. Todos os lados em que se olhava, apenas se podia ver mata, árvores. E poucas clareias acima das copas se deixavam ver, para servirem como pontos de referência, indicando que ainda caminhávamos sobre uma crista e, que, na direção onde não houvessem clareiras, havia um morro para subir. A encrenca em nos enfiamos estava evidente a cada passo dado. Muitas árvores, árvores enormes, tombadas pelo caminho impediam um progresso animador. Já estávamos há um bom tempo varando mato, suspeitando de que não seria uma investida á esmo, e com o reservatório dos ânimos em volume morto. Nessa hora, algo inusitado nos chamou a atenção. Pouco depois de nos separar por poucos metros para farejar os rastros da trilha, encontramos uma porção generosa de fezes de algum animal. Semelhante ao cocô de um cavalo. Daí veio a questão: Que diabos um cavalo estaria fazendo ali, há 1000 metros de altitude, quando não se sabe de sítios, chácaras ou fazendas que fazem a criação desse animal? muito menos há notícias de alguma propriedade próxima que tenha a posse de algum(s) dele(s). Muito estranho, pois os dejetos haviam sido depositados, ali, recentemente e em grande quantidade, em um único lugar, e sem pegadas por perto. No mínimo, pelo tamanho e a quantidade de bosta, o animal deixar marcas pelo solo úmido e de barro preto. Muito estranho, isso. Mas era certo de que se tratava de cocô de Anta. O céu já estava todo cinza, e ainda estávamos a procura do Peito de Moça, andando sem retroceder, mas trafegando em direções aleatórias. Por hora pulando árvores caídas, por vez atravessando jardins de bromélias, enfiando os pés em raízes embaralhadas sob a mata. Emfim, miramos um alvo e “atiramos no escuro.” O resultado foi, ter passado despercebidos por um enorme vespeiro, que se sentisse ameaçado por nós, fariam a gente correr feito loucos pela mata. Mas a desatenção custou apenas uma única ferroada no crânio do Paulo, que reclamou a dor por um longo tempo. Se bem como é isto! rsrs Bom, estávamos cientes de que a missão poderia falhar, mas, também, sabíamos que algo nos prendia ali, numa obsessão insana de querer alcançar o último dos 5 cumes que nos restava subir naquela região. Seria até uma injustiça da nossa parte deixá-lo de escanteio devido ao seu difícil acesso, comprovado na prática. Por força de vontade, determinação, e 16 toneladas de sorte, claro. Encontramos uma trilha que segue rumo ao nosso destino. Não estávamos perdidos, mas ter encontrado uma via de fácil navegação naquela altura do campeonato, foi uma mão na roda. E mesmo que ela tenha se fechado algumas vezes, chegamos ao sopé da face norte do Pico do Gavião. E o que tínhamos pela frente era uma via ferrada para ser escalaminhada, pois a inclinação rochosa só tinha pequenas ramificações superficiais, não enraizadas, que não serviam como apoio e sustentação, e alguns lírios vermelhos enfeitando a parte exposta da rocha. O que nos ajudou a subir até o topo, foram as pequenas fendas que subiam tangenciando até a parte mais alta, onde já dava para se agarrar as pequenas árvores que dominam o cume. Todo o cuidado foi necessário. Um descuido qualquer poderia resultar num acidente gravíssimo. Não sei se fatal, mas que iria causar estragos, isso iria! Felizes por alcançar o cume do Pico do Gavião? Sim! Claro que estávamos. Nossas cadelinhas também! Mas o tempo de permanência não foi longo. O pouco visual que se pode ver por uma fresta entre as árvores, mais a oeste do pico, estava dominado pela neblina. Até no cume é preciso varar mato para tentar alguma coisa. No nosso caso, averiguar se há alguma marcação topográfica. Mas não encontramos. Na hora de descer o trecho escalaminhado, com o cuidado triplicado, fomos avançando devagar até o ponto mais seguro para sentarmos e comer alguma coisa. Ainda sentados, de costas para o ponto de escalaminhada, estávamos para decidir por qual caminho voltaríamos, já que o caminho da ida já estava descartado. Eu sugeri que seria vantajoso contornar o “mamilo do peito" pela esquerda, pegar o vale que desce em direção à Estrada do Senhor Geraldo e sair na rodovia. Simples assim. Só que não. O trecho que desce pela esquerda é super navegável, solo em leve declive coberto por folhagem caída das copas. Mas, quando temos que tomar a direção mais à esquerda, para poder contornar a rocha, surge um paredão. A lógica é seguir beirando esse paredão, contorná-lo até seu fim, sair em sua base e seguir com o plano. Só que surge um outro paredão, que nos obriga a se lançar cada vez mais no fundo do vale e em direção contrário do que deveríamos estarmos indo. Ok!, fomos tocando o barco conforme mandava o script. E quando visualizamos a parte que não havia mais paredões a serem contornados, fomos ver por onde poderíamos descer, e o que vem aos nossos pés é uma baita de um precipício com algumas dezenas de metros. Uma queda livre, e totalmente na vertical, que nos obriga a ir cada vez mais no rumo contrário do que deveríamos. Talvez, por conta do cansaço, mais físico do que psicológico, o grupo começa a perder o ritmo. E mesmo com pouco menos de 3 horas para caminhar, antes de começar a escurecer na mata, em particular, Paulo diz: - você sabe que não vai dar tempo. Né? Tá ligado que a gente vai ter que varar mato no escuro. Né? - Relaxa, mano. Vai dar sim! - respondi com calma. Foi a única coisa que pude dizer para que esse início de pane não se agravasse e se espalhasse aos demais. Principalmente às meninas. Quando, finalmente, conseguimos contornar e descer os obstáculos que nos colocava fora do itinerário, fomos varando mato sempre em declive e em mata cada vez mais fechada, que nos obrigado a sair novamente da rota desejada. Como se não bastassem os paredões. Do nada surge uma trilha, e mesmo que nos jogasse fora da direção que deveríamos tomar (o fundo do vale), seria um caminho que daria fluidez no andar da carruagem. Conforme fomo s descendo, ao longe se ouvia o barulho da água correndo entre as pedras. E não tardou para pisarmos os pés na margem esquerda daquele riacho cor de chá. Ele corria quase sem desnível, ganhando largura e pequenas profundidades com água transparente que permitia ver alguns bancos de areia e o fundo arenoso. Diógenes sugeriu que prosseguíssemos caminhando por dentro desse riacho, enquanto minha preferência era permanecer em solo seco afim de não molhar por completo as botas que eu usaria em uma grande travessia, 4 dias depois. E assim foi. Continuamos por terra, mas fomos obrigados a cruzar esse riacho, quando algumas rochas bloqueavam nossa passagem. Eu e o Paulo estávamos fazendo de tudo para manobrar sobre pedras e galhos que apontavam sobre a água, saltando de um para o outro e pulando até o lado oposto. Já a Ana, afobada do jeito que é, ia na frente, inventou de colocar a perna direita sobre um galho encurvado, que fazia uma alça pendurada vinda de uma árvore, tentou atravessar a parte mais funda dessa forma. Não deu outra. Quando ela fez força para se lançar até a outra margem, a alça cedeu, ela foi descendo em câmera lenta, pediu ajudo do Paulo que estava mais próximo dela, mas não teve jeito. Acabou caindo dentro dágua, e segurando a mão do Paulo, queria puxá-lo para um banho gelado também, rsrs. Foi cômico. Já era notável que não haveria mais nenhuma piramba pra descer. Estávamos em terreno plano/encharcado, pantanoso. Um brejo na verdade. As clareiras que apontavam no céu mostrava que a estrada que queríamos alcançar estava a nossa esquerda, e quanto mais avançávamos, olhando o GPS do Diógenes e o Tracklog que estava sendo gravado pela Ana, era evidente que estávamos acompanhando a estrada do Sr. Geraldo em paralelo. E sem continuássemos assim não iríamos sair daquele brejo nunca. Pois ainda tinham quase 5 quilômetros de vara mato até o asfalto. Nessa hora o facão teve que comer solto. Mas era uma área tão fechada que não dava espaço para dar os golpes de facão. O que só fazia o Paulo gastar energia e não sair do lugar. Até o momento em que avistei um jardim de bromélias e apontei que deveríamos sair rasgando naquela direção. Direção essa que, não tardou a ser vencida, nos levou à tão sonhada liberdade fora daquele inferno verde. Para alívio da galera. Deu pra notar a satisfação no rosto do Diógenes em sairmos de lá. Satisfação maior ainda em ter conquistado esse pico que há tempo vinha sendo almejado por nós. Depois de uma pausa para fotos, prosseguimos pela estrada que um dia serviu como passagem de carros que vinham dos bairros mais ao norte, e hoje, nada mais é do que um rasgo em meio a mata, que logo será retomado por sua dona legítima. Quando pisamos os pés no asfalto da no quilômetro 79 da Rodovia Dom Paulo (vulgo: Mogi/Bertioga), estávamos certos de que havíamos deixado para trás uma travessia que, tão cedo, não será feita novamente, por nós ou qualquer outro grupo que decida atravessar essa rota. Pois é uma encrenca das grandes tentar fazê-la. Recomendada só para experientes. De volta para realidade, os barulhos de carros, ônibus e caminhões quebravam o silêncio enquanto a noite começava a marcar presença. Tínhamos, em média, 2,5 kms a percorrer até o último ponto de ônibus coletivo da pista sul. As cachorras nos acompanhavam, e pelo andar de tudo que possou, estávamos crentes de que elas iriam embora quando nos separássemos. Só que não. Ali começava um episódio extra após finalizarmos a travessia. O DRAMA DAS CADELAS Ao atravessar a rodovia, uma das cachorras veio acompanhando o Paulo e Eu, no momento em que um carro vinha em alta velocidade. A cadela de assustou e paralisou na mira do automóvel. Ana soltou um grito estridente que ecoou pela Serra do Mar, agachou de junto com a cadela, enquanto o carro já vinha reduzindo a velocidade, com o pisca alerta ligado, com a pretensão de não atropelar as duas. Ainda bem que um outro acidente não aconteceu, na mesma rodovia, em menos de 24h. Eu e o Paulo continuamos a andar, enquanto Ana ficou ficando para trás, junto com a cadela, fazendo sei lá o quê. A parar para amarrar o cadarço, olhei para trás e vi que um caminhão havia parada justamente onde as vi pela última vez. O caminhão demorou a sair, e enquanto ele não saiu não era possível ver o que acontecia. A escuridão já dominava as pistas. Deduzimos que ela havia pedido uma carona para levar a cachorra até o próximo ponto de apoio, no km 77. E foi isso que aconteceu. A outra cadela seguia na frente, caminhando junto com o Diógenes e com a Cláudia, correndo atrás dos carros que passavam, tentando morder os pneus dos mesmos. Mas parecia que ela queria morrer, isso sim! A rodovia não tem iluminação própria, e com a chegada da noite não dava para ver o quão distantes à nossa frente estavam o Diógenes e a Cláudia e uma das cadelas, muito menos para trás, onde deveriam estar a Ana e a a outra cadela. Decidimos continuar pois todos se encontrariam no mesmo ponto. Há menos de 100 metros do ponto de ônibus, vimos uma das cadelas farejando o acostamento da pista, entrando na mata e sumir de vista. Coisa que aconteceu durante todo o dia. Logo depois que encostamos na mesa de sinuca do boteco, veio a Ana, ofegante feito um Búfalo, acompanhada pela cachorra que tinha pego carona na boleia do caminhão junto com ela. Explicou que a cachorra tinha ficado assustada quando desceu do caminhão, que não sabia qual rumo tomar para ir embora, e que a seguia por onde fosse. Sendo assim, ela jogou a cadela nos ombros e veio ao nosso encontro. Por isso tanto cansaço. Quando ela perguntou da outra cachorra... ai, ai, ai. Que cena. Não sei se por brincadeira, ou falando sério, o Diógenes disse que um carro havia batida de raspão nessa cachorra, e que ela gritava de dor até não querer mais. Pra quê que ele disse isso? Essa Ana perguntou onde estava a cachorra, disse que tínhamos abandonado a cadelinha, que ela já estava morta, que isso, que aquilo, coisa e tal. Fez um estardalhaço general. Só faltou chorar (faltou pouco). Só depois de uma conversa com os moradores locais, dizendo que reconheciam a cadela, e sabiam que era seu dono, um deles se propôs a “prende-la” até o dia seguinte, “prenderia” a outra cachorra quando a encontrasse, e entraria em contato com dono das Totó. Mesmo assim, continuou a se lamentar com aqueles que perguntavam o estava acontecendo. Mas se deu um pouco satisfeita com a maneira que tudo estava terminando. Só a partir daí que pudemos seguir em paz até nossas casas. Amém! Vgn Vagner. Citar
Colaboradores Vgn Vagner Postado Junho 21, 2016 Autor Colaboradores Postado Junho 21, 2016 Estatísticas: 16 km percorrido Navegação muito difícil Há poucos pontos de água pelo caminho Citar
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