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Naquela noite havíamos tomado um ônibus que partia da Trujillo, às 19h45, com destino a Tumbes, cidade peruana fronteiriça. O ônibus, da empresa Emtrafesa, era um semileito com serviço de bordo, pelo qual pagamos S/. 50. Nossa ideia era atravessar a fronteira e seguir viagem até Cuenca, no Equador.

 

Eram cerca de 5h da manhã e estávamos todos dormindo quando, lentamente, começo a despertar percebendo as luzes acesas e, com os olhos entreabertos, vejo algumas pessoas entrando no ônibus. Eram policiais peruanos. Eles procuravam insistentemente alguma coisa suspeita nos bagageiros superiores, debaixo dos bancos e entre as pernas dos passageiros. Eu, já de olhos bem abertos, acompanhava tudo atentamente enquanto o Carioca e o Marcelo deviam estar sonhando com as ruínas de Chan-Chan!

 

Após a checagem geral, os policiais desembarcam e, quando pensei que voltaríamos à estrada, ouço um barulho: eram eles abrindo as portas dos bagageiros. Não demorou muito até que um dos policiais voltasse ao ônibus. Eu, sonolento, ouvia de longe suas palavras: “– Dos mochilas azules” (duas mochilas azuis). Enquanto ele caminhava, chegando mais próximo, eu levantei a mão, identificando que eram nossas e tentava, ao mesmo tempo, acordar o Carioca.

 

Sempre que viajamos (de ônibus ou avião) colocamos capas protetoras em nossas mochilas, para que não sujem, nem molhem. As capas são grandes, azuis e não dá pra notar, sequer, o formato do que está dentro dela.

 

Desembarcamos aos olhares curiosos dos demais passageiros – já passei por isso outras vezes e é sempre um pouco constrangedor! Identificamos a mochila de cada um, abrimos os cadeados e eles começaram a revistar. Foi um procedimento rápido e obviamente, sem complicações. Embalamos novamente as mochilas e embarcamos de volta para continuarmos a viagem até Tumbes.

 

Uma hora e meia depois, chegamos ao nosso destino. Ainda na garagem da empresa, enquanto o ônibus estacionava, vários taxistas já nos enxergavam pelas janelas e acenavam com suas chaves enquanto, certamente, pensavam “os gringos chegaram”! Depois de conhecer o sudeste asiático, você meio que se acostuma com esse tipo de assédio, seja de taxista ou de motoristas de tuk-tuk mas, pra mim, continua sendo sempre muito chata essa situação, pois alguns deles são bastante insistentes e inconvenientes.

 

Pegamos nossas mochilas, driblamos os taxistas a qualquer custo e saímos da garagem. O que encontramos lá fora? Mais taxistas! Que fique claro: não tenho absolutamente nada contra os taxistas que exercem sua profissão dignamente mas, às 6h30 da manhã, ficar cercado por qualquer tipo de profissional, falando sem parar, desrespeitando até mesmo uns aos outros, não é legal!!!

 

Nos distanciamos um pouco (mas não muito, pois a reputação sobre a segurança de Tumbes não é muito boa), um deles continuou nos seguindo, era um senhor mais velho, cujo carro era o único que estava dentro da garagem e isso, de certa forma, nos passava mais segurança. Depois chegou outro, com um “ajudante” que chupava uma laranja enquanto falava tentando nos convencer. A cena era hilária! Quando, finalmente, o laranjeiro baixou o preço e decidimos ir com ele, o senhor também baixou e acabamos voltando com ele até a garagem. O preço combinado foi S/. 25 até a fronteira.

 

Conversávamos tranquilamente com nosso motorista durante o caminho e ele parecia ser uma pessoa bacana. Mas, mudamos de opinião quando nos aproximamos da fronteira. Ele disse “– Bom, o combinado foi S/. 25 até aqui, a imigração do Peru, se quiserem ir até o outro lado, são mais S/. 5”. Pois é, ele nos enganou. Pior que isso, agiu de má fé, pois não havia absolutamente nada para fazermos ali, pois a saída do Peru era feita no outro prédio, a alguns km dali. Discutimos bastante com ele que se mostrou irredutível. Muito contrariados, pagamos a diferença. Seria melhor ter escolhido o laranjeiro? Talvez…

 

Já na imigração, o procedimento foi rápido e desenrolado. Apenas precisamos apresentar os passaportes e preencher os formulários. Não houve nem checagem da bagagem por raio-x.

 

Saímos e caminhamos na direção dos táxis. Apenas um motorista veio em nossa direção (mal dava pra acreditar) e a tarifa era fica US$ 3 até Huaquillas, a cidade mais próxima. No táxi há câmera de segurança e a clara identificação do motorista para os passageiros. Perguntamos qual empresa de ônibus nos levaria até Cuenca, ele nos indicou a Pullman Sucre e nos deixou no escritório dessa empresa.

 

Estávamos um pouco apreensivos, pois não sabíamos se a cidade era segura ou não. O escritório ainda estava fechado mas os horários de ônibus para Cuenca estavam pintados na parede da fachada e o próximo seria às 10h45. Tínhamos bastante tempo na cidade. A poucos metros dali havia um botequim servindo café da manhã por US$ 2,50. Entramos para comer.

 

Ao lado havia um mercadinho, onde comprei uma Inca Kola pequena (que havia prometido trazer ao Brasil, mas havia esquecido de comprar no Peru) por US$ 0,60 e uma garrafa grande de água por US$ 1,25.

 

Ah, sim, vocês devem ter percebido que a moeda corrente no Equador é o dólar americano, instituído desde o ano 2000. O Sucre, antiga moeda utilizada no país, saiu de circulação porque na época o país enfrentava uma inflação terrível que ultrapassou o índice de 60%. As vantagens e desvantagens da dolarização no Equador são assuntos para outro post!

 

Falando em dinheiro, conseguimos trocar os Soles restantes a uma boa cotação. Em Huaquillas, não encontramos casas de câmbio, mas sim vários senhores sentados em banquinhos com suas maletas, debaixo de guarda-sóis, trocando dinheiro sem parar para locais e turistas.

 

Retornamos até o escritório da empresa, compramos as passagens por US$ 7 e ficamos aguardando o horário. Às 10h45, em ponto, fomos chamados para embarcar. O ônibus, era velho sem ar condicionado, saiu dali praticamente vazio mas foi se enchendo de gente durante o caminho. O motorista achava que pilotava um foguete e voava pelas estradas com o pinga-pinga. Pra distrair, pela janela passavam paisagens incríveis durante toda a viagem até Cuenca: bananais a perder de vista, montanhas e rios formavam cenários cinematográficos.

 

A viagem levou bastante tempo e chegamos a Cuenca às 16h30. No próximo post vou falar sobre Cuenca, a cidade mais bonita do Equador e sobre a generosidade, respeito e solidariedade com as vítimas do terremoto.

 

Outras informações

 

Empresa de ônibus Emtrafesa: www.emtrafesa.com; passagem Trujillo-Tumbes S/. 50

 

Táxi de Tumbes até a imigração do Equador S/. 30

 

Táxi da imigração do Equador até Huaquillas US$ 3

 

Empresa de ônibus Pullman Sucre: não encontrei o site, mas tem fanpage no Facebook; passagem Huaquillas-Cuenca US$ 7

 

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O post original com fotos está no blog Viajante Inveterado: http://viajanteinveterado.com.br/atravessando-a-fronteira-tumbes-huaquillas-de-onibus-peruequador/

 

Leia todos os posts desse Mochilão pelo Peru / Equador / Colômbia: http://www.viajanteinveterado.com.br/indice-de-posts-mochilao-america-do-sul-ii/

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