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livro para quem quer ir de mochila à Machu Picchu cruzando a Bolívia


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Olá amigos! editado

 

Em janeiro de 2007, eu e um camarada zarpamos do Rio Grande do Sul - Lajeado- para o que seria a maior aventura de nossas vidas até então. Passamos um mês viajando pela Bolívia e Peru até Machu Picchu com todos os meios de transportes possíveis, com direito a trilha inca "alternativa" e tudo. Foi tanta coisa que vimos e vivenciamos que resolvi escrever um livro, entitulado - Rumo a Machu Picchu, 250 pág., ed. Nova Letra, 2009.

Para tal, gostaria de compartilhar breves resumos no que consta neste material:

MÁRCIO MARQUETTO CAYE

 

RESUMO 01:

SUMÁRIO:

 

SUMÁRIO - ......................................................................................................

INTRODUÇÃO - .................................................................................................

CAPÍTULO I – A VIAGEM: PRIMEIRAS AÇÕES...........................................

CAPÍTULO II – RUMO A FRONTEIRA BOLIVIANA ......................................

CAPÍTULO III – PUERTO QUIJARRO: A SORTE ESTÁ LANÇADA ..............

CAPÍTULO IV – O EL CARRETON ................................................................

CAPÍTULO V – COCHABAMBA ......................................................................

CAPÍTULO VI – FOLHA DE COCA: A PLANTA MÃE DA BOLÍVIA ...............

CAPÍTULO VII – TIAHUANACO .....................................................................

CAPÍTULO VIII – TITICACA: O LAGO NAVEGÁVEL MAIS ALTO DO MUNDO ..

...........................................................................................................................

CAPÍTULO IX – NOVO PAÍS, NOVO AMIGO ........................................

CAPÍTULO X – A TRILHA INCA ....................................................................

CAPÍTULO XI – MACHU PICCHU ................................................................

CAPÍTULO XII – CUSCO: O UMBIGO DO MUNDO ......................................

CAPÍTULO XIII – AS ILHAS FLUTUANTES DOS URUS ...............................

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ....................................................................

 

 

“Este livro não pretende ser apenas mais um diário de viagem, mas um detalhado trabalho com informações sobre distâncias, tempo de viagem, valores, lugares, o que fazer, o que não fazer, o que levar, os cuidados contra espoliadores e trapaceiros, as mudanças de planos, a história, a geografia, o clima, a flora e fauna, a política, a cultura, a economia, enfim, um minucioso escrito passo a passo de como foi essa empresa desde sua ideia até o retorno.

Destacam-se os casos de polícia em que estivemos envolvidos, as estradas do pantanal boliviano, o “Paro” em Santa Cruz de La Sierra, a deposição do Prefeito de Cochabamba na Bolívia pelas associações de cocaleiros e forças sindicais, a trilha “alternativa” que fizemos a pé para chegar a Machu Picchu, o acidente que sofremos com uma lotação em um lugar qualquer na Cordilheira dos Andes, o trem da morte, as ilhas flutuantes do Titicaca onde vivem os índios Urus e outros lugares fantásticos.

E onde é isso? Aqui, ao nosso lado, nossos vizinhos de porta. Apesar de estarem tão próximos, ao mesmo tempo apresentam um quadro social e econômico bastante diferenciado e precário em relação ao nosso.

Também, para não sermos vítimas da memória, consideramos relevante realizar este trabalho. Aos futuros mochileiros, historiadores e viajantes em geral, acreditamos ser de grande valia a presente descrição.”

 

“Acordei com uma pancada na cabeça, pois a bati contra a janela. Meio atordoado, percebo que o veículo estava balançando fora do normal. Olhei para fora da janela e vi que o ônibus estava parado e escorregando para fora da estrada, com uma roda quase suspensa no ar. E, pior, estava inclinando para nosso lado já com uns vinte graus. Fiquei assustado. A cada acelerada, o veículo patinava mais, indo de encontro ao barranco. Abaixo dele havia um enorme banhado e, se tombasse, iríamos direto para o fundo. Olhei para frente e visualizei a silhueta de várias cabeças acima dos bancos tão aflitas como eu a observar a situação.

Nisso acordo o Leonel para precavê-lo do pior. Assustou-se. Parecia que o ônibus iria cair e o motorista não falava para descermos. Queríamos sair correndo dali. Apontei a lanterna para baixo, a fim de ver melhor a situação e, distraidamente, apontei-a para a frente. E o que vemos? Vários olhinhos brilhando ao contraste da luz do foco. Olhamo-nos. Estava cheio de cobra e jacaré. Podia até ter uma jaguatirica ou outro bicho à espreita, afinal, era o pantanal. “

 

“Ainda estava com uma leve dor de cabeça. Um termômetro media vinte graus naquele momento. Em um dia, a temperatura alterara de quarenta para vinte graus. Além disso, subimos mais de dois mil metros de altitude em poucas horas.

Comemos bem por oito bolivianos, uns dois reais. Assim que saímos do estabelecimento, ficamos em uma sombra estudando o mapa. Nisso, do outro lado da avenida, barulhos de motores e sirenes chamaram nossa atenção. Saíram por uns portões cerca de vinte motos da polícia, todas com caroneiros de armas em punho. Seguiram, em alta velocidade, com sirene e piscas ligados, à praça da prefeitura. Olhamo-nos e corremos naquela mesma direção.

Chegamos à praça 14 de Septiembre e ficamos à espreita, observando o movimento. Passava da uma da tarde, e, apesar da temperatura estar amena, o sol era forte. Naquele momento encontravam-se muito mais pessoas circulando no local, principalmente campesinos. Seguimos pela calçada até o outro lado da praça, ficando em sentido contrário da frente da prefeitura, na outra extremidade.

A prefeitura era o alvo principal dos manifestos. Os campesinos acreditavam, pela quantidade de soldados e policiais que a defendiam, estarem ainda lá dentro o prefeito e seu ministério, ou parte dele. Não sabiam que haviam deixado Cochabamba no dia anterior, antes do violento confronto que resultou na morte dos dois campesinos indígenas.

As motos da polícia circulavam com tons intimidadores em meio a algumas pessoas que andavam por lá aleatoriamente. Já estavam se organizando para iniciarem seus protestos. Ficamos observando de longe, bem na esquina das ruas Santivãnes e Nataniel Aguirre. Tiramos algumas fotos discretamente - não gostam de serem fotografados, e tomamos cautelas para não nos incomodarmos. O tempo nublara e esfriara um pouco mais.

Não havia turistas por perto, pelo menos não os vimos. Estávamos nos arriscando ali, mas não queríamos perder aquele momento. Era imprescindível testemunharmos um forte manifesto social como aquele.

Nossa posição era estratégica – numa esquina. Em caso de tiroteio ou virem na nossa direção, teríamos mais do que uma rota de fuga. Tranquilos, mantínhamo-nos discretos e acompanhando tudo com nossos olhares de historiadores.

A imprensa cobriu o manifesto, pelo menos vimos uma repórter com seu cameraman. No local onde estávamos havia muitas pessoas observando a movimentação. Deviam ser populares, a julgar por suas vestimentas. As tradicionais cholitas estavam por todo lado. Muitas circulavam com seus carrinhos de comes e bebes.

Conversamos com algumas pessoas locais e mais tarde adquirimos um jornal, o Opinión, a fim de entendermos melhor o que exatamente estava acontecendo. O que constava, era que o prefeito de Cochabamba Manfred Reyes Villa, representado por um setor político de direita, estava desviando recursos econômicos destinados para as necessidades básicas do povo e ainda abstendo-se de ajudar e promover as comunidades que pertencem ao Departamento de Cochabamba. Os movimentos sociais na Bolívia são bastante organizados; suas associações devidamente regulamentadas. As pessoas realmente saem nas ruas para protestarem e exigirem seus direitos. Não se acomodam esperando que outros resolvam o problema – vão à luta movidos por muita coragem. É um fato que não se compara à atitude do povo no Brasil diante de situação semelhante. Faz algum tempo que o povo não sai às ruas para protestar.

Escutamos tiros. Vários.”

 

Bem ao lado do hostel, havia uma loja de chás. Queria comprar folhas de coca. A chica que nos atendeu me cobrou seis bolivianos por um saquinho com mais de duzentas folhas. Eram bem pequenas e estavam secas.

Começamos a mascar as folhas, primeiro uma, depois duas e ficamos na média de quatro ou cinco folhas de cada vez. Um gosto esquisito, amarguento, mas foi só até nos acostumarmos com seu sabor.

 

 

 

 

 

 

 

 

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RESUMO 02 - LA PAZ

 

RESUMO 02

 

“Percorremos por certo tempo uma planície verdejante, mas com apenas alguns arbustos. Após deparamo-nos novamente com terra árida. Ouvimos murmúrios comentando que estávamos chegando em La Paz. Um avião passou perto da gente e pousou a alguns quilômetros adiante. Mais para frente víamos o aeroporto, mas nada da cidade de La Paz.

O lugar é um município chamado El Alto, localizado a 4.100 metros de altitude. Na verdade, a cidade é a continuação de La Paz, pois devido à geografia desta, alguns serviço tinham que ser realizados ali, como o aeroporto.

O trânsito estava cada vez mais intenso, principalmente de autolotações e micro-ônibus. Abarrotavam-se em um trevo que logo adiante dava em um pedágio. Cadê a cidade? Somente pequenos bairros populares e deserto pela volta. Assim que passamos pelo pedágio, o que fora um grande estresse devido ao congestionamento intenso, começamos a descer. Estávamos a 4.100 metros de altitude, e, devido à má alimentação e à altitude, fiquei com uma forte dor de cabeça e um pouco zonzo.

Visualizamos a cidade dentro de uma enorme cratera. Era inacreditável. La Paz fica em um grande buraco com casas construídas nos paredões rochosos à sua volta. Parecia que estávamos vendo uma das muitas favelas do Brasil. Construídas de forma simples, a maioria de um só piso, não são rebocadas nem pintadas, ficando a mostra o tijolo cru. É esse visual que dava a sensação de favela. Contudo, tornara-se cultural essa arquitetura por ser bem mais acessível para uma população de quase 50% sem ter emprego formal.

Já no centro, no fundo do vale, existem grandes e modernos prédios em aço e vidro; bancos importantes, igrejas majestosas e palácios em rico estilo colonial rivalizando com a maioria das habitações de suas cercanias. Uma grande diferença socioeconômica.

Depois de acentuada descida por uma autoestrada de quatro vias em cada sentido, chegamos à rodoviária denominada Terminal de Buses La Paz, ou Terminal Terrestre de La Paz, por cerca das cinco e meia da tarde. Assim que descemos prometemos não mais viajar por essa empresa. Pegamos as mochilas e, em meio a todo tipo de pessoas, deixamos o terminal.

A fachada da rodoviária é bastante alta e figurada com um enorme arco em sua estrutura, sendo sua metade superior envidraçada. Seu interior é enorme. É formada por um só piso. Nas suas laterais, internamente, há as empresas de viação - mais de trinta. Ao centro bancas de revistas, bancos para se sentar, floreiras e pequenas lancherias. Em frente da rodoviária há uma “tranqueira” de autolotações, ônibus, micros e táxis, sem contar os caminhões e carros dos populares. É um magnífico concerto de buzinaços.”

 

“Porém, antes de chegarmos ao estabelecimento, meu nariz começou a sangrar. Sentei-me em uma mureta perto do hotel enquanto meu companheiro pegava o rolo de papel em sua mochila. E, pior, os apenas cem metros que caminhamos com as mochilas nas costas já nos haviam deixado cansados. A falta de ar nos propiciava grande desconforto corporal.

Estanquei o sangue e descansamos alguns momentos. O sol já se escondia acima da cratera, e o frio aumentara. Uma luz dourada brilhava sobre a cidade, e a barulheira do trânsito mantinha-se.

O centro da cidade localiza-se a 3.630 metros acima do nível do mar, chegando sua periferia a 4.100 metros. Se não bastasse a dor de cabeça, os olhos começaram a arder, deixando a visão um pouco turva, e a garganta ficou irritada por causa da fumaça dos escapamentos dos veículos. Aliás, sinaleira na cidade é simbólica, ninguém sabe que existe, e todos vencem o tráfego na força.

A intensa fumaça de gases tóxicos não se dissipava tão facilmente devido à posição geográfica da cidade. Também havia a falta de oxigênio por causa da altitude e o frio faziam com que até os mais preparados tivessem alguns surtos corporais, o que não fugiu à regra no meu caso.

Há uma verdadeira confusão de pessoas e autolotações no local, como se fosse um terminal de transporte público. Nas autolotações haviam pessoas gritando consecutivamente com a porta lateral aberta o destino do veículo. Não entendíamos o que diziam. Ainda em movimento, as pessoas entravam no veículo ao custo de três bolivianos. Como aquele horário era o do final do expediente do dia, haviam dezenas delas buzinando e gritando ao mesmo tempo, sem contar o assédio dos paceños tentando nos vender algo. Os paceños são consideradas as pessoas naturais de La Paz. Pensávamos que nossas cabeças iriam cair, tínhamos que sair do local o mais rápido possível.”

 

“O portão e a cerca do prédio do Museu são de metal e todo trabalhado, representando a antiga simbologia dos povos andinos (Wiracocha). Pagamos dez bolivianos a entrada. O prédio é amplo, de dois pavimentos. No inferior fica o Museu principal, mais organizado, catalogado, protegido por vidraças, guardas e câmeras de vigilância. No segundo piso há material muito mais antigo, alguns deles ainda não identificados - considerados pré-históricos em sua integra.

O Museu Nacional demonstra de forma ilustrativa várias atividades dos antigos povos da Bolívia. Exemplo disso é a representação do processo de fundição e manufaturação de adornos e armas em metal, com figuras desenhadas ao fundo e a devida explicação do processo em um painel em inglês e espanhol. Também o trabalho de extração dos metais nas minas está representado por um desenho de dois metros quadrados em uma parede.

O Museu está dividido por salas. Há a sala dos metais, das cerâmicas, da religiosidade, dos funerais e objetos diversos, todos com as devidas explicações. Nos funerais, encontra-se uma múmia. As pessoas eram embalsamadas em posição fetal dentro de um cesto de palha com alguns objetos pessoais. O clima seco ajudou a preservar o corpo e podia-se observar bem sua composição física, de baixa estatura, como ainda são seus descendentes na atualidade.

Outro fato curioso é de haver alguns crânios com a cabeça extremamente ovalada, maiores que as tidas como normais. Tratava-se das pessoas que quando crianças possuíam inteligência e habilidades superiores às normais e eram escolhidas para serem sacerdotes e sábios. Desde tenra idade recebiam preparação especial. Uma delas constituía-se em uma técnica que utiliza panos e madeira que, presos à cabeça dessas crianças desde muito pequenas, possibilitavam o aumento do crânio, acreditando que com isso se tornariam mais inteligentes. A nobreza também se atribuía disso, pois mais que inteligência, essa forma representava status em sua sociedade, como hoje acreditam algumas pessoas terem com a aquisição de um automóvel importado, por exemplo.

Vimos ali uma pequena escultura de pedra em alto relevo mostrando um rosto com uma bochecha maior que a outra. Datada em mais de dois mil anos, é uma prova do uso da folha da coca pelas antigas civilizações andinas. “

 

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RESUMO 03 - TIAHUANACO

 

Tiahuanaco fica a cerca de setenta e dois quilômetros de La Paz. Depois que saímos da cidade, chegamos em uma hora ao nosso destino. Desembarcamos próximo a um grande pavilhão contemporâneo que servia de Museu. Todo o local é chamado de Centro Espiritual e Político da Cultura Tiahuanaco. Na bilheteria, uma surpresa: o valor do ingresso era US$ 10,00. Ficamos indignados, principalmente por o local ser considerado Patrimônio da Humanidade pela UNESCO e administrado pelo governo boliviano.

Mesmo assim resolvemos visitá-lo. Muito contrariados, pagamos os oitenta bolivianos cada e entramos. Não muito diferente do Museu Nacional. Há ali milhares de artefatos arqueológicos como estátuas de pedra de tamanhos variados, objetos de metais, vasos, vasilhames - peças de cerâmica em geral, ferramentas em ossos, líticos e mais algumas mumificações, encontrados em Tiahuanaco e em outros locais próximos. O que vimos de diferente foi um barco típico dos índios Urus do lago Titicaca, todo de junco, a Totora.

Não podíamos tirar fotos, pois os guardas estavam atentos.

A visita durou cerca de uma hora. Pelo menos havia um guia cadastrado que explicou a história e os objetos das antigas culturas indígenas. Em um outro salão mais reservado estava o famoso Monólito Bennett. Chamava-se assim por ter sido encontrado pelo arqueólogo Wendell C. Bennett.

Encontra-se sozinho e com iluminação muito fraca, dando característica ainda mais mística ao objeto. Nas paredes do salão estão as imagens de seus quatro lados em placas com as explicações de cada símbolo. Na estátua encontravam-se outrora trezentos e sessenta e cinco discos de ouro que representavam os dias do ano (idêntico ao calendário católico), um pouco menor que um prato, e um chapéu também de ouro. Tudo foi saqueado assim que os espanhóis a descobriram. Atualmente podem-se visualizar apenas os círculos de onde estavam encravadas.”

 

Seguimos a pé em direção ao sítio de Tiahuanaco, a parte mais importante do complexo arqueológico da região. Do Museu até a pirâmide são apenas cem metros. Antes da entrada encontramos muitas tendas vendendo variadas peças artesanais de muitas cores e tamanhos. Não compramos nada; pegaríamos algo na hora de irmos embora.

Fazia calor e tiramos os casacos. Paramos um pouco adiante da entrada e ficamos admirando a distância o morro que se elevava a nossa frente. Esse morro era a antiga pirâmide de Akapana. Uma enorme placa mostrava como deveria ser na época. Cevamos um mate e fomos andando. Ao nos aproximarmos dela percebemos escavações arqueológicas em sua base. Observamos enormes blocos de pedras perfeitamente alinhados e encaixados uns aos outros. Um sistema hídrico perfeito saía de um pequeno túnel de dentro desse morro recentemente escavado por arqueólogos. Escadarias também estavam à mostra.

Subimos nele. Tinha cerca de trinta metros de altura. As escavações são poucas. Parece que nem 10% de todo o sítio foram escavados até então. Lá do alto pudemos visualizar o templo de Kalasasaya, conhecido como a Área Cívico Cerimonial de Tiahuanaco e o templo semissubterrâneo.

Não apenas as estruturas da cidade, mas tínhamos à vista vários quilômetros em todos os sentidos. É realmente um ponto estratégico como nos haviam informado.

Conseguíamos ver o azul das águas do lago Titicaca, distante cerca de doze quilômetros. Há referências de que Tiahuanaco possuía um porto, chegando essas águas até próximo de onde estávamos. O estado de conservação das ruínas é precário; as pessoas não respeitam o patrimônio que possuem. Há um guarda na parte superior cuidando da segurança do local e outro embaixo. Mesmo assim avistamos uma pessoa andando de bicicleta sobre a área da escavação. O guarda apitara alguns silvos, mas a pessoa não atendera.

Tiramos umas fotos e descemos em direção aos templos. O templo semissubterrâneo é o original do que havíamos visto na praça em frente ao estádio. Está uns dois metros e meio abaixo do nível do solo e uma escadaria de pedra com três metros de largura conduz ao seu interior. Em seus degraus verificamos evoluído desgaste devido a centenas de anos de sua existência. Porém, não se podia utilizá-la - por medida de conservação. Havia uma escadaria de madeira sobre ela.

Este é um pouco mais amplo, uns trinta por trinta metros. Nele há cento e setenta e cinco cabeças de pedra encravadas em suas paredes. Dessas cabeças, duas chamam a atenção: uma têm as feições de um asiático, com olhos puxados, cabeça bem redonda e praticamente sem cabelos. Como alguém assim, estrangeiro, fora importante governador de Tiahuanaco?. Foi exatamente no centro do templo que encontraram o grande monólito Pachamama, ou Bennett, tombado e enterrado. Até hoje não se sabe qual a posição exata em que deveria estar.

Após sairmos dali, fomos em direção da praça cerimonial principal de Tiahuanaco, o templo Kalasasaya. A uns vinte metros do templo semissubterrâneo, há a entrada principal da praça, com uma escadaria de sete metros de largura e com seis degraus, de uns quarenta centímetros de altura cada. Acima, um portão principal leva ao seu interior.

É de largas paredes e com enormes monolitos perfeitamente retos e encaixados, cortados em perfeita simetria (não se sabe como), com cerca de três metros e meio de altura. Uma única pedra faz o teto dessa entrada, igualmente trabalhada e linear. Lá dentro pode-se avistar uma estátua de pedra. Não é permitida passagem por ali, pois os degraus apresentam-se no mesmo estado que os do outro templo. Essa imagem vemos frequentemente em livros didáticos de História. Tiramos umas fotos e seguimos suas paredes até uma entrada lateral.

A praça está a alguns metros do solo. Construída a mão, ou, como dizem algumas teorias, por “seres do espaço”, tem aproximadamente cento e vinte metros de frente por cento e trinta de fundos. Pedras gigantescas servem de pilares, dando sustentação às paredes e ao aterro de seu interior. A praça toda está em uma posição em que o sol passa perfeitamente pela sua entrada principal ao nascer do dia.

Chegamos a uma escadinha em pedra na sua lateral. A escada é original do templo, mas liberada aos turistas e único local de acesso. No interior da praça há um pátio enorme. Fomos até aquela estátua que vimos do lado de fora. Encontra-se de frente para o portão principal e bem no centro da área cívica cerimonial. Trata-se do monólito Ponce, uma estátua de pedra encontrada em 6 de março de 1965 a uns três metros abaixo do nível do solo, no nível original de Tiahuanaco antes da enchente do lago Titicaca. Uma curiosidade da estátua é a posição de suas mãos. Uma mostra a palma e a outra suas costas, representando o dar e receber, “hoje ganharás, amanhã darás”. Está datada de 650 d. C.

Outra curiosidade do local é um muro interno localizado no pátio da praça. Têm um metro de altura e 50 centímetros de largura. No seu início há um orifício que perpassa a parede, sendo pequeno de um lado e atingindo cerca de 25 centímetros no lado interno do muro. Trata-se de um megafone primitivo usado para anunciar avisos ou a chegada de sacerdotes ou da própria nobreza no local. O Leonel não resistiu e experimentou o “aparelho”. Um som bizzaro se propagou pelo local, indicando que funcionava.

Em escavações pelo local foi encontrado um conjunto cerimonial no qual plantavam cabeças humanas e de animais - lhamas e alpacas -, as quais eram tidas como símbolo de renascimento e acreditavam trazerem fertilidade ao solo. Também foram encontrados trechos de estrada com três metros de largura.

Aos fundos do terreno fica o objeto considerado mais importante de Tiahuanaco, a famosa Porta do Sol. É evidente a originalidade do estilo da arte Tiahuanaco, mas é perceptível alguma relação com o estilo da cultura Huari. Ambas as culturas definiam o período médio das culturas pré-incaicas, que foram precedidas pela cultura Paracas, surgida na bacia norte do lago Titicaca. Alguns estudiosos afirmam terem encontrado laços com a influência cultural e artística da cultura Chimu.

O monumento é uma grande escultura talhada em um único bloco. Mede três metros de altura, cinco de largura e pesa mais de dez toneladas. No topo do monumento está a imagem do deus Wiracocha rodeada com 48 efígies, (é a representação de uma divindade ou pessoa), 32 faces humanas e 16 cabeças de condor. Suas inscrições astronômicas dão alusão de que realmente houve por ali algum porto.

A cidade toda está geometricamente posicionada pela direção das estrelas e pelas estações do ano. Realmente é um lugar formidável e muito misterioso. Há muito que se fazer ali. Infelizmente Tiahuanaco já serviu de campo de tiro ao exército e muitos monolitos foram transformados em brita para as ferrovias que passam ali por perto.

Percebemos muitos blocos pequenos e grandes espalhados por todo lado, os quais já fizeram parte algum dia de um importante templo ou monumento da cultura Tiahuanaco.”

 

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RESUMO 04 - DE LA PAZ à COPACABANA

 

“Chegamos à rodoviária e constatamos que não havia nenhum ônibus para Copacabana. Buscamos descobrir se havia outra forma de irmos para lá. Diante da nossa angustia, a funcionária de uma empresa nos informou que na parte alta da cidade, já na periferia de La Paz, havia um outro terminal menor de autobuses que realizava viagem para Copacabana e às nove horas partiria um ônibus para a cidade.

Isso nos reanimou. Agradecemos e saímos da rodoviária a procura de um táxi. “

“O local era plano, já fora da cratera. As casas, bem mais simples. Era perceptível que nos encontrávamos na periferia da cidade. Compramos os bilhetes num estabelecimento que funcionava como mercearia e bazar ao preço de vinte e cinco bolivianos.

O nosso transporte foi um micro-ônibus chamado de 2 de Febreiro. Nossas mochilas foram colocadas em cima e presas com cordas.

Entramos no transporte e nos acomodamos em nossos assentos. Faltavam apenas cinco para as nove e, curiosamente, estávamos só nós três e mais duas pessoas no micro. Será que seríamos os únicos passageiros a Copacabana? Não, pois víamos pela janela várias pessoas entregando suas bagagens ao homem de cima do micro que as prendia.

Às nove horas começaram a entrar os passageiros. Porém, mesmo passando da hora, a condução não iniciava a viagem. Tradicionalmente esperam primeiro lotar para partirem. Em dez ou quinze minutos lotou, ficando até alguns de pé. Além disso, alguns bilhetes foram vendidos com o mesmo número, criando confusão e atrasando ainda mais a partida.

Finalmente partimos. O Leonel sentou-se no banco próximo à janela e eu no do corredor servindo de escora a uma enorme chola. Demoramos algum tempo para sairmos da zona urbana. Víamos, na medida em que nos afastávamos da parte central, menos casas e mais deserto, com as montanhas nevadas a nossa direita. Não seguíamos pela mesma rodovia que nos levara a Tiahuanaco, mas pela outra paralela a essa chamada de Panamericana. A certa altura nos distanciamos da primeira, seguindo mais para a direita e passando a apenas alguns poucos quilômetros do Monte Illimani - muito lindo de se ver!

Em meio ao deserto cruzamos por várias pontes de rios oriundos do degelo das montanhas, estando a água sempre com cor marrom escuro devido à mistura dos diversos segmentos geológicos que arrastava pelo caminho. Também passamos por várias comunidades, geralmente divididas pela rodovia, como Santa Ana, Kollke Amaya e Batallas, parando em cada uma delas para o desembarque e uma que outra vez o embarque de passageiros.

Depois de uns cinquenta quilômetros de estrada, passamos a costear o enorme lago Titicaca, localizado a nossa esquerda."

 

O lago Titicaca é alimentado pelas águas das chuvas e pelo degelo das montanhas que rodeiam o altiplano. Possuí 41 ilhas, inclusive as ilhas do Sol e da Lua, tidas como sagradas desde os tempos da civilização Tiahuanaco. É a fonte do rio Desaguadero que corre para o sul pela Bolívia até o lago Poopó. No entanto, esse afluente é responsável por menos de 5% da perda de água, ficando o restante por conta da evaporação devido aos ventos intensos e à exposição extrema à luz do sol naquela altitude.

Passamos ainda pelas comunidades de Huarina, Huatajata e Ancoamaiia, comunidades estas muito próximas ao lago. Seguimos mais uns cinquenta quilômetros costeando as azuladas águas do Titicaca até chegarmos em um local onde teríamos que fazer a travessia por balsa. A estrada continuava do outro lado do estreito. De La Paz até ali foram cerca de cem, cento e dez quilômetros.

Descemos da lotação e tivemos que comprar passes para podermos atravessar. O custo extra, do qual não tínhamos conhecimento, foi de cinco bolivianos. As passagens eram para irmos até Copacabana. A história se repetia.

Esse estreito chama-se Tiquina e tem cerca de 750 metros de largura. No local do desembarque não existem habitações, apenas um posto policial, uma casa onde se vendem os passes, as barcas e um monumento que serve de memorial da Guerra do Pacífico, o qual faz alusão a Don Eduardo Ayara, corajoso comandante boliviano da época do conflito.

Deixamos as mochilas onde estavam e atravessamos com um barco especial para o transporte de pessoas, com capacidade para cerca de quarenta pessoas. Do outro lado fica a pequena cidade de San Pedro de Tiquina. Desembarcamos e acompanhamos a travessia do micro pela barca. Enquanto não chegava, desci da plataforma de concreto e molhei as mãos nas límpidas e gélidas águas do Titicaca. Olhando ao seu nível ela parece ser mais esverdeada, mas do alto mostra-se bastante azulada.

O micro saiu da barca e andou por uns cem metros. Ficou ali parado quinze minutos. Como já era perto do meio-dia, as pessoas saíram em busca de algo para comer assim como o motorista. Aproveitamos e também compramos umas bolachas e chocolates. A cidade vive praticamente da venda de comes e bebes e da travessia desse estreito.

Seguimos caminho serpenteando uma montanha rochosa. O percurso depois do estreito de Tiquina até Copacabana é uma península completamente rochosa e com apenas alguns eucaliptos. De onde estávamos, podíamos enxergar o lago em nossos dois lados. Ainda cruzamos por vilarejos como Calata e Chichijaya.

Em dado momento fomos parados em um posto da polícia boliviana. Rapidamente pegamos nossa documentação e ficamos a postos para uma eventual inspeção. Um guarda entrou e ficou analisando o perfil dos passageiros com olhar severo. Em seguida revistou quem tinha bagagem maior. Estavam a procura de contrabando, pois para ir ao Peru há somente dois caminhos: por aqui ou por Desaguadero. A geografia da região não permite construir outras rodovias para o país. A entrada no Peru também pode ser feita por caminhos sem estradas.

Outros dois policiais passaram a descer algumas grandes malas e a as revistarem. Ficamos parados uns vinte minutos e, por fim, confiscaram roupas de algumas bagagens. Um policial quis confiscar a jaqueta que um rapaz estava usando, mas diante dos olhos atentos de todas as pessoas do micro, inclusive de nós três, os únicos estrangeiros da lotação, percebeu o ridículo de sua atitude e desistiu. Quanto a nós, apenas mostramos os documentos. Estavam interessados mesmo nas bagagens. A polícia boliviana tem péssima fama.

Fomos embora. Algumas pessoas estavam irritadas com a perda de suas mercadorias, já outras passaram a conversar em um tom mais alterado. Pelo menos não haviam detido o transporte nem prendido ninguém.

Copacabana não estava longe. Ainda pelo caminho, alguns passageiros atiravam saquinhos pelas janelas. As crianças insistiam em querer atirar também, como se fosse uma tradição, um ritual. Tratava-se de saquinhos com algum salgadinho, amendoim, balas e até chocolates. Havia crianças nas margens da rodovia de vigília, a espera de que algum passageiro passasse e lhe jogasse algo. Os passageiros se divertiam com isso, e as crianças do lado de fora corriam até seu “prêmio”.

Chegamos em Copacabana pelas doze e trinta. A viagem durou três horas. De San Pedro de Tiquina até Copacabana são apenas trinta e cinco quilômetros, totalizando cerca de cento e quarenta ou cinquenta quilômetros de La Paz à Copacabana.

“Era domingo, dia 21 de janeiro. Passava um pouco das nove horas da manhã e, antes de subirmos o morro, fomos até uma pequena praça, a praça Sucre, um pouco antes da praia, comprarmos dois bilhetes para visitação da Ilha do Sol pelo “Titicaca Tour”, a vinte bolivianos cada. A saída seria à uma e meia da tarde.

Pegamos uma ruela transversal e fomos em direção ao caminho que leva ao topo do morro. Muitas pessoas estavam indo para lá - apenas as seguimos. Na base do morro encontramos uma pequena igreja, a Capela del Senhor pela Cruz de Colquepata. Estranhamos estar escrito o nome da capela numa mistura de português e espanhol. Em sua fachada encontram-se duas torres com sinos e entre elas há uma cruz. A parte frontal é toda pintada de vermelho e sua extensão de branco. Muitas pessoas saíam da capela naquele momento. Deveria ter terminado a missa de domingo.

Começamos a subir uma ladeira bastante acentuada por uma estrada calçada de três metros de largura. Pelo caminho havia várias tendinhas vendendo artigos religiosos, bebidas e comidas. Com muito custo avançamos pelo trajeto. As cholas passavam por nós sem dificuldade, carregadas de produtos ou com seus filhos, enquanto estávamos exaustos com apenas a bolsa de mão.

Depois de várias paradas para recuperar o fôlego, chegamos à metade do morro. O morro em si não é muito alto, mas bastante acentuado. Nesse ponto há um pátio calçado e plano, de uns trinta por trinta metros, de onde se avista no seu lado oposto o lago Titicaca em um visual como poucos que já havíamos visto em nossas vidas. Ao centro, uma estátua de Jesus Cristo em cima de uma base de pedras alinhadas e dentro de um cercado, pintada em vermelho e branco como a capela, abençoa a cidade lá embaixo.

Ali também presenciamos algumas pessoas da região realizando um ritual religioso. Em cima de pequenas mesas de pedra, embaixo de lonas azuis, várias velas estavam acesas e uma dessas pessoas balançava seus braços proferindo em voz alta palavras em Aymará ou Quéchua. Andavam em círculos e faziam oferendas com pães e frutas. Eram algum tipo de xamã ou algo assim, pois as pessoas iam a elas para que lhes abençoassem ou livrassem-nas dos “maus espíritos”. Ainda encerravam o ritual fazendo pressão em uma garrafa de cerveja de um litro, lançando seu líquido a grande distância e bebendo o que sobrava.

Para a esquerda desse pátio continuava a subida, só que agora em uma estreita escadaria feita em meio às pedras do morro, bastante sinuosa. Todo o trajeto é chamado de Via Crucis e, de quando em quando, há uma capela com uns três metros de altura, representando o caminho que Jesus fizera desde sua condenação até sua morte na cruz. Em cada uma dessas capelas, quatorze no total, porém somente sete na subida, as pessoas colocavam uma pequena pedra em sua base, como forma de serem abençoadas. Coloquei também nas três primeiras localizadas antes do “pátio dos xamãs”.

O último percurso do morro foi difícil de percorrer. Com seus degraus irregulares, além de um ser maior que o outro, tínhamos que desviar das pessoas que desciam. Fizemos várias paradas, mesmo mascando folhas de coca.

Finalmente alcançamos o topo. Lá de cima podíamos avistar toda a cidade de Copacabana e sua baía a nossa esquerda. Já para a direita, o grande lago Titicaca, perdendo-se de vista pela sua extensão, e, mais adiante, a Ilha do Sol e muitas outras menores. Lá em cima, logo na chegada, eleva-se uma grande cruz, a qual se pode avistar da cidade. Encontramos as outras sete capelas que, por causa do terreno acidentado, encontram-se na parte superior alinhadas. Com cerca de quatro metros de altura e em seu topo cruzes com tamanho uniforme, estão distantes dois metros umas das outras. Ao fundo há uma capela mais elevada com uma Santa de Copacabana. As pessoas fazem orações e acendem muitas velas no local. “

 

“Acompanhamos algumas rezas a distância, tiramos fotos do lugar e apreciamos a vista por longo tempo. Para descermos, não tivemos problemas, foi até bem rápido, cerca de meia hora.”

 

Márcio (D) e Leonel (E) no estreito de Tiquina - Titicaca

 

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Olá amigos!

 

RESUMO 05 – CHEGADA A CUSCO

 

“Foi nessa viagem para Cusco que conhecemos um típico peruano cusquenho chamado Ray Nuñes del Prado. Estava sentado no acento à frente do Felipe e da Tatiana e começou a conversar com eles. Conversaram certo tempo até que passamos a fazer parte do diálogo. Um rapaz de seus 24 anos e de feições indígenas, se mostrou muito simpático com a gente falando de assuntos diversos, tirando principalmente nossas dúvidas e contando histórias sobre o Peru. Falava um português aceitável, pois morara uns tempos no Brasil, dos quais quatro meses na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro. Estava voltando da visita que fizera a alguns parentes seus na Bolívia.

E assim passou-se o tempo, mateando, conversando e admirando a paisagem daquela região do país. Pelo final da tarde iniciou-se uma garoa que logo se transformou em chuva, mas não forte. Mesmo assim, o motorista mantinha alta velocidade.

Já noite, fizemos rápida parada em um estabelecimento à beira da estrada. A chuva transformou-se novamente em fina e gélida garoa. Descemos somente para esticarmos um pouco as pernas. Comemos mais algumas barras de cereal e retornamos à condução.

Viajando agora no escuro, apenas com as luzes individuais acesas, começei a ler meu livreto enquanto os outros cochilavam. Um frio era cada vez mais intenso. Desliguei a luz e tentei relaxar também, mas o barulho dos rodados do veículo em contato com a pista molhada não me deu sossego, mesmo andando mais devagar por causa de algumas subidas. E foi assim, subidas e descidas.

Chegamos em Cusco pelas dez e meia da noite, depois de percorrermos oito horas de estrada nos 440 quilômetros que separam Puno de Cusco.”

 

“A cidade de Cusco encontra-se situada entre a alta cadeia de montanhas da cordilheira ocidental e os inativos vulcões cobertos com gelo da cordilheira oriental. Localiza-se na região andina-sul-oriental do Peru e é cortada pelo rio Huatanay. A cidade está a 3.360 metros acima do nível do mar.

Cusco é considerada uma das cidades edificadas mais antigas do ocidente. Conhecida também como “o umbigo do mundo” dos tempos incaicos, pouco se conhece da cidade anteriormente à conquista espanhola. Supõe-se que foi fundada em meados do século XII pelo inca Manco Capac. Cusco foi tida como uma cidade sagrada e capital do império inca, ou Tahuatinsuyo, como alguns a consideravam.”

 

“Desembarcamos na rodoviária sob a fina garoa que nos acompanhou desde o início da noite e, em meio à escuridão, tentamos identificar nossas mochilas no bagageiro completamente abarrotado de malas. Foi difícil conseguir sair do local com elas. E o pior: não havia telhado onde os ônibus paravam, pelo menos da metade para trás, onde estava o bagageiro.

Entramos na rodoviária e ficamos esperando todos se ajeitarem. A rodoviária de Cusco é bastante parecida com a de Puno. Dois pavimentos, vários guichês no andar térreo e muitas pessoas circulando. É retangular, apenas inclinando suas duas pontas em direção ao pátio de embarque e desembarque quase em forma de “C”. Um pouco mais adiante, cerca de dois quilômetros e meio, está o Aeroporto Internacional Alejandro Velasco Austete.

Enquanto discutíamos aonde iríamos, Ray nos convidou para irmos com ele, pois perto de onde morava há um hostel bem barato. Já eram quase 23 horas. Resolvemos aceitar.

Assim que todos estavam prontos, comunicamos aos outros o que faríamos, no caso eu, o Leonel e o Guilherme.” “[...] Seguimos por uma calçada que costeava a rua do pátio da rodoviária onde os ônibus chegavam para desembarque. Havia muitos táxis em frente ao lugar, sendo de direito à corrida do primeiro da fila."

 

"Ao sairmos dos domínios da rodoviária, seguimos uma rua chamada Micaela Bastidas. Andamos umas duas quadras. Chegamos a uma larga avenida. A nossa direita seguiam duas faixas duplas ao meio e mais duas duplas nas laterais, uma autopista realmente bem larga. Já à esquerda, para onde seguiríamos, uma praça oblonga servia de rotatória e, ao seu centro, em cima de uma torre circular em pedra, com uns 11 metros de altura e com janelas na forma de trapézio idênticas às construções incaicas, encontrava-se um monumento, a Pachacutec, de braços abertos e segurando uma lança com machado e com alguns adornos. Pachacutec foi o nono inca que subiu ao trono do Reino de Cusco, transformando-o em império durante o seu reinado e de sua descendência. Impôs o idioma Quéchua como linguagem oficial do império por volta de 1400 d. C.

Pegamos a rua à direita do monumento e a seguimos subindo uma longa ladeira que serve de artéria para a cidade chamada San Martin, mas pouco acentuada, cerca de uns quinze graus. Chovia fino e começamos a nos molhar. Íamos pelo meio da avenida, chamada agora de El Sol, no canteiro central, onde há bancos, pequenas praças, outros monumentos menores, árvores e canteiros de flores. No lado direito, há duas vias de mesmo sentido que sobem na direção do centro de Cusco e, do lado esquerdo, duas vias que descem em direção à rodoviária e ao aeroporto. Pelo caminho avistamos as costas do antigo templo inca chamado Coricancha, hoje igreja de Santo Domingo."

 

"Depois de percorrermos a avenida por dois quilômetros, os quais pareceram serem uns dez, chegamos na Calle Mantas e vislumbramos, a nossa direita, trinta metros adiante, a Praça de Armas, principal ponto turístico da cidade. Estava completamente iluminada. Paramos um pouco para contemplá-la e esperarmos os retardatários. Em seguida, continuamos na Calle Mantas passando em frente à igreja de La Merced e, sempre reto, saímos pela outra ponta da praça, seguindo ainda em mesmo sentido na Calle Triunfo até terminar a primeira quadra.

Atravessamos uma rua transversal chamada Herrajes e, ainda no mesmo sentido, continuamos por uma estreita ruela utilizada apenas por pedestres denominada Calle Hatun Rumiyoc. É a rua mais conhecida e visitada de Cusco. Fica nas proximidades da Praça das Armas. É margeada por um muro construído com pedras gigantescas e milimetricamente cortadas. A muralha é parte do antigo Palácio Inca Roca e atual Palácio Arcebispal, onde está a famosa “pedra dos doze ângulos. "

 

"Ao seu final, dobramos para à esquerda na Calle Choquechaca. A seguimos por cerca de duzentos e setenta metros até a altura de uma ruela de pedestres chamada Calle Ladrillos, a sua esquerda. Antes de entrarmos nela, o Ray apontou para a loja de roupas que ele e seu irmão possuíam na Choquechaca. Subimos suas escadarias e entramos por um pequeno portão. Chegamos à Casa de Hospedagem Samani, o hostel da senhora Juana, amiga do Ray.

Escolhemos o quarto mais barato ao valor de dez soles a diária. O hostel tinha a recepção e a cozinha no andar térreo, três quartos no primeiro andar e mais três no segundo, havendo ainda uma cobertura com um pequeno pátio com dois tanques de concreto e varais para se estender roupa. Em cada andar havia dois banheiros coletivos, um feminino e outro masculino. Foi sorte termos conseguido quartos livres naquela hora."

 

"Subimos ao segundo andar e acabamos ficando eu, o Leonel e o Guilherme em um quarto com um beliche, uma cama de solteiro e com banheiro próprio. Isso porque naquela noite não havia o quarto “econômico” de dez soles como almejávamos. Como ficaríamos vários dias hospedados no hostel, dona Juana nos deixou ficar nele por esse valor até liberar um outro sem banheiro. Instalamo-nos e, mesmo sendo tarde, cevamos um mate enquanto íamos revesando o uso do banheiro para tomarmos banho. O Guilherme estranhou matearmos naquela hora, mas mesmo assim tomou umas cuias.

Ficamos mais um pouco mateando e fomos dormir. Já passava da meia-noite e amanhã seria novo dia de aventuras."

 

Realizariamos a famigerada TRILHA INCA rumo a MACHU PICCHU, ao nosso modo.

 

Igreja de la Merced - Praça de Armas-Cusco

 

 

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Vista [do Cristo branco] da parte antiga de Cusco

 

 

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Olá amigos!

 

RESUMO 06 – A TRILHA INCA (PREPARATIVOS) – PARTE I

 

“Há várias formas de a trilha inca ser realizada. Nas mais baratas, guiavam por uma trilha rápida de dois ou três dias, com ponto fixo para acampar com barracas cedidas e carregadas pelo pessoal da agência ou não. Faziam a alimentação e entrariam pela Porta do Sol em Machu Picchu. Já as mais caras poderiam levar até cinco dias e haviam pessoas para carregar todas as bagagens, inclusive as mochilas dos turistas, armarem acampamento e prepararem as alimentações. Certamente não era o que queríamos.

Enquanto o Leonel e o Guilherme mandavam seus e-mails, eu telefonei para casa por três soles o minuto, mas usara apenas um para informar como e onde estávamos. Com as três horas de diferença, lá já era de tarde. A ligação estava boa, nem parecia ser de tanta distância. Aproveitamos para baixarmos as fotos da máquina no pen drive que o Leonel ganhou em sua formatura. O chip que a máquina possuía não era grande coisa.

Feito isso, fiquei do lado de fora esperando, mas não sem ser abordado por sujeitos oferecendo-me pacotes para a cidade perdida dos incas. Depois de passarem seus e-mails, saíram. Logo adiante encontramos uma lavanderia. Esperamos o Guilherme e retornamos para o Samani, a fim de tratarmos com os outros sobre a ida para Machu Picchu.

Encontramo-nos todos e tratamos desse assunto enquanto reformava o mate apreciando a vista de Cusco. Os pacotes estavam caros demais. Carregaríamos nossas mochilas. Por cem dólares poderíamos viajar mais um mês. Rejeitamos os pacotes. Nisso, meu companheiro sugeriu propor ao Ray que guiasse o grupo. Após analisar a proposta, fomo procurar nosso amigo.

Descemos as escadarias e, em alguns minutos, estávamos na sua loja, a Gnomo – Magia al Vestir. Ele e seu irmão fabricavam roupas muito loucas, sendo uma peça sempre diferente da outra. No entanto, naquele momento estava fechada. Deviam ter ido almoçar. Resolvemos fazer o mesmo - já passava do meio-dia e “nem só de barras de cereal vive o homem”.

Descemos a Choquechaca e sondamos os preços de dois restaurantes em sua extensão. Não nos agradara os preços. Encontramos um já no seu final, do outro lado da esquina com a ruela do muro inca. Chamava-se Bar do Nucho e oferecia pratos a três soles. Na verdade, o Ray já nos tinha indicado o local, mas sempre era válido pesquisar outros.

Era por volta da treze horas quando sentamo-nos à mesa. Enquanto esperávamos nossos pratos, eu, o Leonel, o Guilherme e a Tatiana experimentamos a tradicional cerveja peruana, a Cusqueña, de um litro e cem. Apesar de estar fora do resfriador (minto, ela estava dentro, mas o aparelho não estava ligado), na temperatura ambiente, estava muito boa. Quanto aos pratos do Nucho, primeiro uma sopa com milho ou batatas, conforme o dia, e depois o outro com arroz, uma carne, legumes, dependendo do que se escolhesse no cardápio, e ainda um copo de suco. Estava muito em conta para três soles. Dessa vez pedi carne de cerdo.

Já havíamos terminado de comer quando apareceram o Ray e seu irmão para almoçarem. Muito conveniente. Convidamo-los para sentarem-se a nossa mesa e, enquanto aguardavam a comida, o Guilherme lhe dissera, sem rodeios, que queríamos ir para Machu Picchu no dia seguinte, no estilo da trilha inca, e que gostaríamos que nos guiasse, se pudesse. O pagaríamos por isso. Deveria fazer o preço. O Ray pensou um pouco, viu com seu irmão a possibilidade de se ausentar da loja por uns dias e, por fim, nos disse que seria possível. Quanto ao valor, pensou um pouco e fixou em dez soles para cada um por dia.

Consideramos aceitável e, a essa altura, já o tínhamos como de confiança e, além do mais, gastaríamos com ele uns doze dólares mais ou menos, muito mais em conta que os cem ou mais que as agências ofertavam. Deixamos eles almoçarem para depois tratarmos dos pormenores da aventura.

Enquanto esperávamos no lado de fora do restaurante, informamos aos curitibanos sobre a proposta. De repente apareceu o Véio, o argentino, não sabemos como nem de onde. Suas conterrâneas informaram-no da situação e permaneceu com o grupo.

Assim que terminaram de almoçar, perguntou se todos estavam de acordo, para que pudesse tomar suas providências. Dissemos que sim e então combinamos de nos encontrarmos às 17 horas em frente a sua loja, para compramos comida, água e averiguarmos alguns detalhes.

Voltamos para o hostel, cevamos um mate e subimos ao terraço para debatermos o assunto. Nem acreditávamos que estararíamos indo no dia seguinte rumo a Machu Picchu. Estava fazendo uma tarde quente.”

 

“No horário combinado, os “onze elementos” estavam em frente à loja do Ray. Ele falou que o melhor a fazermos era irmos ao mercado público de Cusco, onde acharíamos o que precisávamos de víveres para a jornada. Enquanto íamos para o mercado, foi nos explicando como seria a jornada. Tomaríamos um táxi até um terminal secundário de transporte coletivo da cidade e pegaríamos uma condução até próximo de onde acabava a estrada. Dali em diante era somente a pé ou de trem. E era isto, fácil e bem simples. Seria mesmo?

Passamos novamente em frente à igreja de La Merced fazendo o caminho contrário de quando chegamos; cruzamos a avenida Del Sol e continuamos na mesma rua, a Calle Mangas, sempre em frente, passando a se chamar agora de Calle Santa Clara. Ultrapassamos um enorme arco de pedras sobre a rua, ao bom estilo espanhol, contendo portadas nas laterais para os pedestres. Chama-se de Arco de Santa Clara e um dia já foi o limite da cidade de Cusco.

Da Praça de Armas até o mercado são cerca de 650 metros de distância. Entramos e passamos a circular por seus longos e abarrotados corredores. Creio que a maioria dos produtos agrícolas e carnes do local nem imaginávamos o que e de que seriam. Alguns os feirantes nos explicavam, outros o Ray. Praticamente se encontravam todos os tipos de mercadorias oriundas da região andina, do litoral do Pacífico e também da região amazônica; também artesanatos, roupas, tecidos e alimentos caseiros como bolachas, pães e uns tipos de cuca.

Juntamos dinheiro e compramos bolachas, laranjas, amendoins, maçãs, litrões d’água e principalmente bananas, pois esta é excelente fonte de potássio e de carboidratos, importante para a prevenção e alívio de cãibras e rápida reposição energética devido a sua fácil digestão. Já a adotamos muitas vezes durante a viagem para nossas refeições. O Véio não ajudou no rateio. Penso que não sabia o que fazíamos ali. Apenas o vimos comprar para si um litrão d’água, umas bananas e outras coisinhas.

Dividimos as mercadorias e nos dirigimos para a saída. Quando lá chegamos, seus grossos portões de ferro estavam fechados. Eram seis horas da tarde, fim do horário de atendimento ao público. Ainda do lado de fora comprei uns pães “pires”."

 

"Naquele horário, Cusco é espetacular. Os telhados vermelhos refletidos ao sol do final da tarde pareciam um mar de fogo. Muita gente circulava por suas ruas naquele momento. Retornamos ao alojamento, guardamos as compras, tomamos banho, nos agasalhamos e fomos jantar no mesmo local do almoço. Nos bolsos do meu casaco levava os pães, que acompanharam bem a sopa. Era apenas nisso que pecava o bar do Nucho: não fornecia pão para acompanhar a sopa. Admito que nunca fui muito de sopa, mas acabei me adaptando a ela devido sua sustância e ao frio que fazia à noite.

O Ray nos acompanhou no jantar. Antes de voltarmos ao hostel para descansarmos, combinou com a gente a saída para as seis da manhã, sem atraso, porque um táxi estaria nos esperando.

Voltamos ao Samani e, antes de subirmos ao nosso quarto, conversamos com a dona Juana sobre a guarda das nossas coisas enquanto estaríamos fora. Não levaríamos tudo e guardaríamos o excedente em um quarto do hostel. Acabamos não nos acertando. Primeiro, não iria cobrar nada, depois queria cobrar uma diária de cada um e, por fim, cobrar mais que uma diária. Mesmo argumentando que voltaríamos a nos hospedar ali na volta, queria receber algo para guardar os materiais e não concordamos com isso. Por fim, conseguimos pelo menos que nos reservasse os quartos para quando voltássemos. Ainda pedimos que nos chamasse às cinco e meia da manhã.

Fomos procurar o Ray. Informamos ele da situação. Ele nos disse que poderíamos guardar nossas coisas na sua casa. Resolvemos a questão, mas não aprovamos a atitude da senhora Juana. Até cogitamos não voltarmos mais ao hostel.

Retornamos ao hostel, dessa vez para ficarmos. Arrumamos a mochila apenas com o que precisaríamos para três ou quatro dias. Dividimos os víveres e a água e nos preparamos para dormirmos cedo. Mas nem todos pensavam como o Leonel e eu. O Guilherme quisera sair para uma balada, curtir a noite. Não éramos seus pais, mas recomendamos voltar cedo, pois teríamos que levantar antes das seis da manhã e seria um longo dia, como ele bem sabia. Tranquilizou-nos e saiu todo arrumado, perfumado. Já nós fomos dormir.

Às três horas da manhã fomos acordados com alguém batendo na porta. Era o Guilherme voltando da noitada. Sonolento, liguei a luz, abri a porta. Ele entrou e se atirou na cama do jeito que estava. Desliguei a luz e fiz o mesmo.”

 

ruelas típicas de Cusco

 

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arquitetura inca - incrível

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Olá amigos!

continuando...

 

RESUMO 07 - A TRILHA INCA – PARTE II

 

“Eram vinte para as seis da manhã do dia 24 de janeiro, quarta-feira, quando a dona Juana nos chamou. Enquanto eu e o Leonel nos aprontávamos, por várias vezes chamamos o Guilherme para levantar-se. Esse somente resmungava e virava-se de lado. Após certo tempo o Leonel deu-lhe uma bronca.

Lentamente levanta-se e troca-se, guarda suas coisas na mochila e desce as escadas junto com a gente. Na recepção, encontramos o Ray com uma pequena mochila nas costas nos aguardando. Devolvemos a chave e acertamos a diária, mesmo não se completando o tempo. Logo em seguida desceram os curitibanos e deixamos o local. Soubemos que a mulher só nos chamou porque o Ray a acordou.

A cidade dormia, ainda estava escuro. Apenas algumas lamparinas despejavam sua tenra luminosidade nas ruas e nas paredes caiadas em sua volta. Fazia frio, mas era tal a empolgação que isso pouco teve importância.

Abaixo das escadarias da Ladrillos um táxi nos aguardava. No entanto, ainda fomos guardar nossos excedentes na casa de nosso amigo cusquenho, um pouco acima de onde estávamos, na mesma rua de sua loja. Quando voltamos, o dia já anunciava seus primeiros raios de sol. Circulava um ou outro carro naquela hora, quebrando o silêncio do amanhecer.

Nisso, quando alcançamos o táxi, eis que estão ali as quatro argentinas e o Véio. Todos presentes. Para o Ray, além de curtir um passeio, seria um bom negócio, cento e dez soles por dia. Para nós, também foi bom, pois além de sair barato, teríamos mais segurança. Como no táxi não iriam todos e não queriam se dividir, o Ray dispensou-o e seguimos até outro ponto para irmos todos juntos. Ainda, as argentinas tinham que guardar algumas coisas onde estavam alojadas. Na verdade, elas não haviam confirmado se iriam de fato, e, por isso, o Ray só chamou um táxi.”

 

“O Ray chamou dois táxis, informou o destino e nos dividimos entre eles. A condução que utilizei era um carro bem pequeno, propício para as estreitas ruas de Cusco, parecendo-se com os antigos FIATs 147.

Em poucos minutos chegamos a um terminal de ônibus, em algumas quadras atrás do mercado público. Assim que todos estavam reunidos, compramos bilhetes a apenas três soles e meio numa pequena casinha de madeira dentro do pátio do terminal. Destino: Ollantaytambo. Com o entra e sai dos pequenos ônibus por ali, quase morremos sufocados com a fumaça que alguns produziam. Terrível mesmo. Nossas mochilas foram carregadas e presas em cima do micro e em seguida entramos na condução que, por sinal, logo lotou. Mais uma vez houve confusão por causa da venda de passagens com o mesmo número.

Partimos somente pelas oito horas, abarrotados dentro da condução. Havia no veículo um cheiro de tudo, e o sol prometia ser forte naquele dia. O micro era velho e lento, produzia muito barulho. Saímos da zona urbana e partimos em diração aos interiores de Cusco. Um sobe e desce constante por estradas de chão batido, cruzando volta e meia por casas e camponeses. Enormes montanhas iam surgindo ao nosso redor, misturando-se o verde de sua vegetação rasteira com a aridez de suas rochas."

 

"Depois de percorrermos cerca de uns 75 quilômetros, chegamos a Ollantaytambo pelas nove e meia da manhã, no Vale do rio Vilcanota-Urubamba. O local é praticamente rodeado de montanhas, nas quais há nelas inúmeras construções incas.

Essa pequena cidade foi outrora um gigantesco complexo agrícola, administrativo, social, religioso e militar administrado pelos incas. Seu estilo arquitetônico de construção é típico da época que antecedeu a chegada dos espanhóis. Enormes pedras formam os muros, entradas e divisões dos templos e palácios. Na parte mais alta destaca-se uma montanha com imponentes templos e muralhas, dando ares de seu poderio. Apenas visualizamos essas construções a distância, depois de descarregarmos nossas mochilas na praça principal da cidade. Próximo dessa praça de Ollantaytambo, havia uma feira com diversos produtos agrícolas da região. As argentinas foram visitá-la. Eu, o Leonel, o Guilherme e o Ray esperamos do lado de fora observando o movimento e as ruínas. Aproveitamos para comer um pão e bananas, ajeitar as mochilas e esticar um pouco as costas. O próximo passo seria irmos até o final da estrada, onde há apenas o rio Urubamba e as imponentes montanhas do Peru."

 

"Depois de algum tempo, reunimo-nos todos e fomos até próximo a uma igrejinha onde havia alguns táxis. Negociamos com os taxistas para nos levarem até onde se inicia a trilha inca, ou melhor, onde acaba a estrada, distante um pouco mais que dez quilômetros dali (o taxista dissera ser uns dezoito). Acertamos o valor a três soles e meio cada um, o mesmo valor de Cusco até ali. Lotamos dois deles, totalizando sete pessoas por veículo e mais as mochilas.

Estava tão cheio que o táxi da frente demorou para sair do lugar. Durante o trajeto cruzamos por algumas vilas e costeamos o rio Urubamba pelo Vale Sagrado. O rio Urubamba, considerado também sagrado para os incas, segue uma extensão de centenas de quilômetros pelo Peru. O rio nasce no Peru com o nome de Vilcanota, depois recebe a denominação de Ucayali, Urubamba e Marañon. Ao entrar no Brasil passa a se chamar Solimões até o encontro com o rio Negro, passando a ser chamado de rio Amazonas."

"Após certo tempo, chegamos ao nosso ponto final. O pessoal do outro táxi estava preocupado com a nossa demora. Descemos, descarregamos as mochilas e nos organizamos. Os táxis deram meia volta e sumiram logo adiante em uma curva. Eram dez e meia da manhã e uma espessa névoa se formava por ali, estando mais forte nas montanhas, impedindo a visualização de seus cumes.

O cenário do lugar é impressionante. Uma cadeia com íngrimes montanhas elevava-se a nossa frente e nas laterais, como se fossem dedos erguendo-se aos céus. No local existe uma guarda da ferrovia, que impede a passagem das pessoas para seguirem a pé pelos trilhos a Machu Picchu. Na verdade, tinha uma estrada terrestre ali, mas cuidada por essas guardas que a mantinham fechada sob vigília e com uma cancela. De qualquer forma, a estrada só seguia por um pequeno trecho, terminando aos pés de uma enorme montanha. Dali em diante, somente os trilhos e trilhas.

Entretanto, quando soubemos que não poderíamos seguir adiante, ficamos desanimados: não voltaríamos e pagar para fazer a trilha estava completamente fora de questão. Nisso, nos reunimos com o Ray, a fim de tomarmos providências. Disse-nos para o seguirmos: tinha um plano.

Voltamos a pé pela estrada em que viemos por cerca de meio quilômetro. Paramos e nos reunimos para escutarmos a solução do Ray. Seria simples: eram quase onze horas e ao meio-dia a guarda almoçava. Esperaríamos até essa hora e contornaríamos “por cima” do local, descendo mais adiante até alcançarmos os trilhos. Após era só segui-los."

 

"Subimos em um barranco de uns dois metros e adentramos uns cinquenta por um campo cercado de pequenos arbustos. Onde estávamos não poderíamos ser vistos por ninguém. Largamos as mochilas na grama e nos sentamos. Aproveitamos para descansarmos nessa uma hora, mas no fundo estávamos ansiosos para avançar pelo caminho. Havia chegado a hora da grande aventura.

As montanhas que nos cercavam pareciam nos desafiar. Seus gigantescos paredões delineavam a fantástica visão da topografia da região. Abaixo delas estava o rio Urubamba - no ponto ainda com fraca correnteza. Nas suas laterais, o enigmático Vale Sagrado. O Vale Sagrado era assim especificado porque foi e ainda é um dos locais com as terras mais férteis do Peru; também muito apreciado pelos incas devido a suas especiais qualidades geográficas e climáticas. Sendo um dos principais pontos de produção pela riqueza de suas terras, é o lugar onde se produz o melhor grão de milho no Peru.

Aproveitamos para comer estirados ao chão. O tempo teimava em ficar fechado, mas mesmo assim estava abafado. No período que ali ficamos, aproveitamos para conversar e ouvir as façanhas do Ray. Quem gostou do descanso foi o Guilherme, que aproveitou para dormir um pouco. Disse-nos que encontrou vários bares com free pass e free drink no entorno da Praça de Armas. Aproveitou."

 

"[...]Meio-dia. Levantamo-nos e seguimos o Ray por uma trilha em direção a um morro. Subimos por outra trilha em trote acelerado por cerca de uns quinze minutos. Passamos por uma cerca e aguardamos as argentinas. Além de suas mochilas, ainda traziam consigo uma volumosa barraca.

Completamente ofegantes, respirávamos com dificuldade. Devemos ter subido uns trezentos metros ou mais e daquele lugar podíamos vislumbrar o Vale Sagrado recortado pelo rio Urubamba. Uma bela visão. Aproveitei para tirar uma foto do local. Ainda, lá embaixo, podiamos ver o alojamento dos guardas. Avistariam-nos facilmente, mas naquela hora não havia ninguém no pátio. Começei a acreditar que daria certo realizarmos o contorno.

Descansamos somente até estarmos todos juntos. Continuamos em linha reta, mas agachados. Depois de sairmos da trilha, recortamos umas capoeiras e continuamos a andar em meio a pedregulhos calcinados pelo sol. Chegamos até um enorme paredão, onde o único caminho a seguir era para baixo. Já havíamos passado pelo posto de vigia.

Iniciamos a descida em meio a uns arbustos espinhentos e seixos que estavam por toda parte. Para completar, o tempo nublado transformou-se em chuva, tornando a descida cada vez mais difícil. Resvalávamos com muita facilidade. Quem estava com camisa de manga curta arranhou-se bastante.

Assim que nos aproximamos da base, um cão veio ao nosso encontro latindo com certa ferocidade. Por sorte, logo atrás estava o seu dono com seu filho, de uns dez anos. Segurou o animal. Ainda não sabíamos realmente se era sorte mesmo, pois poderia alertar os guardas e, além do mais, havíamos invadido suas terras. O Ray conversou com ele rapidamente. Com um sorriso sofrido, observou-nos um a um enquanto passávamos por ele. Da nossa parte, restou-nos retribuir o seu sorriso com um cumprimento. O peruano era um simples camponês e não havia maldade em sua pessoa.

Passamos ao lado de sua humilde casa e saímos em outra trilha, já fora do morro. Esse contorno nos custou cerca de uma hora e certo desgaste físico. Pelo menos ninguém se machucou e estávamos alimentados."

 

"Colocamos nossas capas de chuva e seguimos a trilha, guiados pelo nosso amigo peruano. Mas, assim que percorremos uns duzentos metros, estando eu logo atrás do Ray, aviso-o, apreensivo, que um guarda se aproxima.

Encontramo-nos. Somente depois que paramos os outros perceberam a presença do guarda. O Ray passou a dar explicações ao guarda. Esse manteve uma cara de poucos amigos e estava só a escutá-lo. Eu e o Leonel chegamos junto aos dois e, em silêncio, acompanhamos a trama.

O Ray tentava diblar de todas formas para que pudéssemos seguir adiante, mas o sujeito apenas balançava a cabeça negativamente e dizia que não era permitido, que isso, que aquilo. Podíamos avistar os trilhos a uns cem metros a nossa frente, brilhando com a água da chuva. Nisso, o Ray nos informou que iria acompanhar o guarda até a sede e que era para esperá-lo ali nos trilhos..............”

 

o Vale Sagrado

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A caminho de Ollantaytambo

 

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Olá amigos!

 

RESUMO 08 – ATRILHA INCA – PARTE III -

 

“Seguimos naquela direção bastante desanimados. Toda aquela volta que demos fora em vão. Foi muito azar termos encontrado com o guarda. Mas, inesperadamente, antes de alcançarmos a ferrovia, chega o Ray, com o rosto sorridente, contrastando com o nosso. Tranquilamente ele contou que o guarda queria propina, mas não queria realizar a operação na frente do grupo. Pediu trinta soles e Ray deu-lle uns três soles, o que tinha. Se levasse o pessoal para o posto, teria que preencher relatório, “trabalhar”, e por ali muitos aceitam “contribuição”.

Respiramos aliviados. Agora sim poderíamos, de fato, iniciarmos a caminhada para Machu Picchu. Seguimos cerca de trezentos metros e paramos em um curto túnel da ferrovia, a base da montanha que nos forçou a descer. Arrumamo-nos melhor. Acabei colocando a segunda capa de chuva, pois a intensidade da chuva aumentou.

Seguimos caminhando pelos trilhos. A nossa esquerda, o rio Urubamba começava a mostrar-se violento com suas corredeiras, apenas desviadas pelos matacões em seu caminho. Já à direita, as ingrimes montanhas da região nos forçavam a caminhar obrigatoriamente por aquele trilho. Para nossa sorte, todo o trajeto era em leve declive, portanto, estávamos sempre em descida. Comparado com os 3.360 metros de altitude de Cusco, estávamos naquele momento em 2.200 metros.

 

A partir do Km 80 da ferrovia, visualizamos pelo caminho terraços incas do outro lado do rio. Acima, a cerca de uns dois quilômetros de onde estávamos, víamos volta e meia um grupo realizando a trilha inca original. Suas coloridas capas de chuva destacavam-se em meio ao verde dos morros. Provavelmente também nos visualizavam, pois igualmente estávamos com capas amarelas, vermelhas e de outras cores.

Pelo caminho, de vez em quando, alguém cruzava por nós fazendo o caminho inverso. Dado à quantidade de pessoas que fomos encontrando pelo trajeto, constatamos que os trilhos não eram tão bem vigiados assim ou havia muita propina.

 

Não somente essas pessoas, mas também o trem (de cor azul) com turistas ia e voltava em curto espaço de tempo. Quando vinha as nossas costas, quem o ouvia ou avistava primeiro gritava: - “Treeeem!” E assim era repassado para os demais. O pior era que ele andava muito rápido e, devido ao barulho das corredeiras do rio, à chuva e às constantes curvas do trajeto, às vezes, quando o víamos, estava muito próximo e tínhamos que pular para fora da estrada rapidamente.

Para a esquerda nem sempre era possível, pois logo depois dos trilhos, em algumas partes, não havia lugar aonde ficar, apenas o rio trinta metros abaixo; já para a direita, às vezes havia enormes poças d’água entre os paredões e o nível dos trilhos. E era ali mesmo que entrávamos. Mas, ainda, sempre antes ou depois que o trem passava, um vagonete com uma carcaça de Kombi cruzava por nós muito rápido, nos forçando a pularmos novamente para fora da estrada. Esse vagonete tem a função de inspecionar os trilhos a cada vez que o trem passa. Ainda bem que apitava, pois não fazia barulho e era perigoso para quem estivesse sobre os trilhos.

Quando vinha de frente, era mais fácil, pois o víamos logo e, como era em aclive, vinha um pouco mais lento. Caso quiséssemos ir de trem para lá (e perder toda essa diversão), era só pagarmos US$ 20 em Ollantaytambo ou US$ 40 em Cusco. Ainda na outra margem, avistamos umas últimas casas de camponeses e suas plantações de folhas de coca e de milho. Por lá as casas são constituídas de pedras, material abundante na região.

A caminhada sobre trilhos era difícil, principalmente por o trem ficar nos expulsando da estrada seguidamente e devido aos “buracos” por onde escorria a água do degelo das montanhas. Isso era um cano de concreto em meia lua que chamávamos de “buraco”, pois faltava um dormente no ponto. Havia a cada cem, duzentos ou trezentos metros, às vezes em quinhentos metros. Mais as pontes, de uns cinco a oito metros de comprimento, das quais desciam velozmente as águas gélidas dos cumes, formando uma espuma branca muito límpida. Creio ter sido a água mais limpa e pura que já vi na minha vida.”

 

“[...] A chuva não dava trégua e, se não bastasse isso, estava bastante abafado, fazendo-nos suar, principalmente nas costas. Logo após dez minutos de caminhada, cruzamos por ruínas de umas poucas casas de pedra, algumas apenas com seus alicerces, outras com as paredes dos fundos inteiras, encostadas nos morros que se elevavam muito altos. Isso era incrível. Um pequeno vilarejo inca, praticamente abandonado. Um arqueólogo que passasse pelo local ficaria maravilhado com o sítio.”

 

“Naquele momento, a chuva amainara. Por causa dela, não consegui tirar muitas fotos, pois mesmo com duas capas de chuva, estava todo molhado. A máquina estava bem guardada dentro de um bolso da mochila, embaixo das capas, e cada vez que queria fotografar algo tinha que chamar o Leonel ou o Guilherme para pegá-la. Nem conseguia me mexer direito daquela forma. E, por falar no Guilherme, mantinha-se firme na caminhada.

Passava um pouco das cinco da tarde e o sol surgiu com intensidade, já próximo ao topo dos morros. Em alguns trechos podíamos avistar, em um mesmo quadro, o rio, a ferrovia, as montanhas com neve no topo e o céu acima delas. O sol produzia reflexo na neve - uma visão espetacular.

Alcançamos umas ruínas incas sobre um platô em uma curva do rio. Saímos dos trilhos e subimos por uma trilha em sua direção. Havia uma placa de madeira indicando o nome do local: Torontoy. A julgar por isso, acreditamos que logo o caminho que estávamos fazendo também se tornaria uma trilha inca “oficial”. Potencialidades existem.”

 

“[...] Perto das seis horas da tarde começou a escurecer. O sol pôs-se pelas dezessete e trinta e a noite avançava rapidamente. Estávamos bastante molhados. Por fora, a chuva atingiu nossas roupas, mochilas e as capas de chuva, por baixo da roupa estávamos empapados de suor. A nossa volta, muita umidade, todo o terreno encharcado e o rio ao nosso lado expelindo uma fina garoa. Esfriou também. Foi aí que o Leonel perguntou para o Ray quanto faltava. Eram ainda dezessete quilômetros. Precisávamos encontrar um lugar para ficar e descansar antes que escurecesse mais.

Leonel parte num ritmo mais rápido, na frente de todos. Na verdade, nós dois fizemos isso. Havíamos levado nossos sacos de dormir e passamos a sondar um local “seco” para pernoitarmos. Seguimos caminhando. Cada vez ficava mais escuro, mas íamos habituando os olhos com a escuridão. O difícil era visualizarmos os “buracos”. Assim que o primeiro passava, avisava. E assim seguia-se a todos os outros. Quando a escuridão realmente tomou conta, a única coisa que enxergávamos era o reflexo da lua nas movimentadas águas do rio Urubamba e um pouco sobre os trilhos.

Por sorte, tinha meu pequeno foco, que foi nossa salvação. Passei a ir sempre na frente e assim que encontrava um buraco dava o aviso e seguia caminho. As paradas eram cada vez mais constantes. A água, importantíssima, escasseava, as frutas iam acabando, restando somente amendoins. O Leonel estava indignado com o Véio. Não ofereceu água nem comida para ninguém e estava tomando da nossa, que era pouca.

 

Sentávamos no meio dos trilhos, mas o difícil era levantarmos para continuar. A exaustão abatia sobre nosso corpo e cada quilômetro parecia serem três. Numa das paradas, olhando para o céu, tive uma sensação estranha por não estar reconhecendo nenhuma constelação ou estrela em seus devidos lugares, como as conhecia. E ainda outras estranhas. Era perceptível o quanto estávamos longe de casa. Imagino o que os marinheiros do período das Grandes Navegações sentiram ao cruzarem os oceanos.

Masquei muitas folhas de coca durante a caminhada. As montanhas ao nosso lado estavam agora tão altas e acentuadas que eram assustadoras. Chegavam a cobrir a lua, deixando-nos em completa escuridão, um perigo diante dos buracos e pontes existentes no nosso caminho. Passei a, além de dar o aviso do buraco, ficar focando-o, até que todos passassem. Depois procurava andar mais rápido e alcançar novamente a dianteira. Confesso que isso me desgastou bastante, mas era necessário, precisava zelar pelo bem-estar dos meus companheiros. O Leonel me ajudou com isso, revezando comigo o foco, desempenhando igual tarefa.

E assim seguimos a caminhada noite adentro. Pelo menos não estava chovendo. O rio Urubamba continuava feroz em nossa companhia. O Vale estreitara-se, resumindo-se apenas às montanhas e ao rio em sua base. O trem não dava trégua, seguia rápido apitando e com seus fortes faróis acesos. Precisávamos chegar logo em Águas Calientes, a cidade dormitório aos pés de Machu Picchu. Um problema: as pilhas acabaram. Por sorte, tinha umas reservas, já um tanto gastas.

Pelas vinte e duas e meia avistamos umas luzes. Assim que alcançamos o local, estranhamos. Havia grandes cercas e um imenso barulho de água e um outro mecânico. As luzes vinham do outro lado e uma passarela extendia-se sobre o rio. Mas não havia acesso a ela, tudo estava trancado. Uma placa: “Propriedade Privada”. Acabamos constatando que se tratava de uma usina de energia elétrica. Não era Águas Calientes.

Exaustos, com fome, molhados, sono, dores no corpo, principalmente nos pés, paramos por quinze minutos ali embaixo de uma pequena cobertura de concreto, onde havia bancos. Era um ponto de embarque da ferrovia. Logo depois, passou alguém, como que surgido do nada. Informou-nos que a cidade ficava a três quilômetros.

 

Recompomo-nos e seguimos. – “Coragem, agora falta pouco!” – falava aos outros, otimista. Percorremos uns setecentos metros quando visualizamos, mais adiante, reflexos de luzes nas encostas de umas montanhas. Animamo-nos e seguimos no escuro mesmo (acabaram as pilhas reservas do foco), apenas auxiliados pelos raios das luzes da usina, que logo cessaram.

Continuamos assim mesmo, na completa escuridão. Porém, por mais que andávamos, não chegávamos. As luzes pareciam estar sempre na mesma distância, nos angustiando. Quando fizemos uma curva, ouvimos os da frente gritarem: - “Treeem!” Vimos em frente suas luzes. Subitamente, pulamos para fora dos trilhos, pelo menos na sã consciência de ser para a direita, mas de qualquer forma. Rolamos pela barranca de brita da ferrovia na total escuridão e o esperamos passar. Para nossa surpresa, não era o trem, mas dois indivíduos que vinham em sentido contrário com lanternas nas mãos. Mesmo assim, custamos para termos certeza: “Será que é ou não o trem?” – nos perguntávamos, antes de voltarmos aos trilhos.

Há que ponto haviamos chegado, nem raciocinávamos mais direito. E isso que sabíamos que já havia encerrado seus intinerários.

Perguntamos da cidade e nos disseram estarmos bem próximos. Continuamos e logo avistamos as luzes e o perfil dos prédios. Alegria. Tínhamos certeza que era ali. Estávamos chegando, finalmente.

 

Na entrada da cidade, fizemos simbolicamente o “último passo” sobre os dormentes, saindo do mesmo sem olharmos para trás. Era meia-noite. Avistamos a placa da ferrovia: Km 112. Acabamos percorrendo cerca de trinta e dois quilômetros pelos trilhos em doze horas, fora aquele enorme contorno pelo morro.”

 

pelos trilhos a caminho de Machu Picchu

 

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o rio Urubamba com sua ferocidade

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no meio do caminho, uma cidadela inca: Torontoy

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nosso concorrente de caminhada

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