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Fui pela América do Sul (69 dias).


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FUI PELA AMÉRICA DO SUL

 

001. Roteiro.

 

O roteiro realizado foi o seguinte:

 

BRASIL

 

Florianópolis

Campo Grande

Corumbá

 

BOLÍVIA

 

Puerto Quijarro

Santa Cruz de la Sierra

Samaipata

* El Fuerte

Vallegrande

Pucará

La Higuera

* Culto ao Che

Vallegrande

Cochabamba

La Paz

* Downhill Coroico

* Tiwanako

* Mt. Chacaltay

Copacabana

* Isla del Sol

 

PERU

 

Puno

Cuzco

* Machu Picchu

* Vale Sagrado

** Pisac

** Ollantaytambo

** Urubamba

** Moray

** Chinchero

Arequipa

* El Misti

* Chivay (Cânon del Colca)

** Cabanaconde

Nazca

* Sobrevôo das linhas de Nazca

Ica

* Oásis de Huacachina

Parakas

* Reserva de Parakas

Pisco

Lima

Huaráz

* Chavin de Huantar

Trujillo

* Chan Chan

* Huaca de la Luna & Huaca del Sol

Tumbes

Águas Verdes

 

EQUADOR

 

Huaquillas

Cuenca

* Ruínas de Ingapirca

Riobamba

* Mt. Chimborazo

* Guaranda

Quito

Tulcan

 

COLÔMBIA

 

Ipiales

Las Lajas

 

EQUADOR

 

Tulcan

Quito

Huaquillas

 

PERU

 

Águas Verdes

Tumbes

Lima

Tacna

 

CHILE

 

Arica

Iquique

Calama

San Pedro do Atacama

* Gêiseres del Tatio

Arica

Chungará

 

BOLÍVIA

 

Tambo Quemado

Vila de Sajama

* Parque Nacional de Sajama (Mt. Sajama)

Patacamaya

Oruro

Uyuni

* 3 dias e 2 noites no salar de Uyuni

Potosí

Sucre

Tupiza

Villazón

 

ARGENTINA

 

La Quiaca

Humahuaca

Iruya

Purmamarca

San Salvador de Jujuy

Salta

San Miguel del Tucuman

Buenos Aires

 

URUGUAY

 

Colônia do Sacramento

Montevidéu

 

BRASIL

 

Porto Alegre

Florianópolis

 

002. Planejamento(s).

 

A idéia de fazer um mochilaço pala América do Sul já atormentava meus pensamentos há alguns anos. Mais recentemente após meu retorno a faculdade em março de 2009 a idéia tomou novo fôlego, principalmente por não estar mais suportando a merda que é essa faculdade com pelo menos a perspectiva de algo bom para o futuro. No início de março comecei meus planejamentos (foram varias versões até ter um roteiro definitivo), com ajuda de alguns guias de viagem, da internet e de relatos de algumas pessoas conhecidas; também já estava reunindo o dinheiro desde idos de 2008. O que concluo após os fatos: não adianta formular um roteiro achando que você irá conseguir fazer tudo conforme datas, gastos ou muito menos horários levantados. Fura tudo desde o inicio. Por outro lado você estará muito mais preparado para contornar estes furos se tiver realizado uma pesquisa pretérita. Informações muito úteis são as referentes ao que levar na mochila e o mais importante, o que não levar. Particularmente exagerei no peso levando coisas demais (e que sequer usei). No primeiro item esta o roteiro realizado, com muitas diferenças do roteiro que estabeleci antes da partida. Vou comentar um pouco de cada dia dos 69 da viagem; sobretudo com informações que considero úteis para quem estiver planejando uma viagem destas, o que pode tornar a leitura um pouco cansativa e enfadonha, principalmente por comentarias sobre transportes, localização de terminais, hospedagens e valores, etc., mas que considero fundamentais para o planejamento. Por hora uma lista do que levar, e creio que o suficiente para uma viagem como esta.

 

1. Mochila cargueira 75 litros

2. Mochila de ataque 35 litros

3. Camisas, não mais que cinco, de material sintético que são mais leves e secam rápido (você não troca a peça todos os dias).

4. Uma bermuda do mesmo material.

5. Duas calças do mesmo material (tipo calça/bermuda).

6. Algo como sete pares de meia (para a semana), o mesmo para cuecas.

7. Uma camisa de mangas compridas, algodão.

8. Um casaco impermeável (principalmente em época de chuvas) com fleece interno (que pode ser usado separadamente, particularmente usei muito, mas não lavei por dois meses, pois estava com receio de que estragasse na lavanderia, lave no hotel à noite e vai estar seco pela manhã tranquilamente).

9. Um goro ou boné, e se sentir muito frio luvas também.

10. Uma bota impermeável, realmente impermeável e não apenas “resistente a água”, e se você tiver grana, uma bota impermeável que permita a evaporação da parte interna.

11. Sacos plásticos para roupa suja.

12. Para o banho, uma toalha, shampoo, sabonete, saboneteira, desodorante, um par de chinelos (não se atreva a entrar no banheiro sem calçar eles).

13. Remédios; febre e dores, diarréia, material para pequenos curativos, pomadas bactericida e fungicida (micose). Material para barbear-se. Cortador de unhas. Se possível um pequeno espelho.

14. Papel higiênico nunca deve faltar na mochila!

15. Saco de dormir (ver temperatura adequada para os locais visitados).

16. Câmera fotográfica, pendrives e ou cd’s.

17. Money belt para grana e documentos (fará parte de seu corpo!).

18. Documentos; identidade, carteirinha internacional de estudante (para descontos), passaporte, atestado de vacinação contra febre amarela (é obrigatório para entrada nos referidos países e é fornecido pela ANVISA).

19. Grana em espécie, acredito que seja mais vantajoso, cartão VTM só para emergências. Levar apenas dólares americanos.

20. Bloqueador solar deve estar sempre na mochila. Em altitude usar mesmo com céu nublado, para pele e lábios. Óculos de sol. Hidratante. Repelente de insetos. Purificador de água.

21. Material para anotações.

22. Uma lanterna que ilumine bem. Não esquecer pilhas reserva.

23. Telefones e endereços de embaixadas e consulados brasileiros.

24. Tabela com cotações de câmbio. Calculadora.

25. Mapas e referências quanto a gastos no geral (estimativas). No mínimo um guia de viagem para cada país.

 

003. Brasil e fronteira com Bolívia.

 

(1. Viernes, 01/01/10). Finalmente chegou o dia da partida, depois de quase um ano inteiro de pesquisas elaborando roteiros e de alguma ansiedade, coloquei a mochila nas costas. Saída de Florianópolis as 16:50 pela empresa Eucatur. Despedida da família e rumo a Campo Grande. Depois de 21h10m desembarquei no terminal de Campo Grande as 14:00 (13:00 no horário local), 4h20m a menos do que a empresa Unesul que vai pelo interior de Santa Catarina. Passando por Itajaí, Joinvile, Curitiba, Ponta Grossa, Londrina e Presidente Prudente (na verdade é uma linha que vai desde Criciúma até Porto Velho). Já em Mato Grosso do Sul, o céu com poucas nuvens, sol forte, vasto horizonte transformado em pastagens que somente era interrompido por uma cerca que desaparecia em linha reta até onde a vista alcançava alguns arbustos e o gado. No caminho avistei muitos acampamentos do MST a beira da estrada, na terra dos latifundiários pecuaristas. Também notei várias propriedades onde a pastagem já dava lugar a arbustos, portanto sem atividade produtiva alguma, provavelmente do povo de Brasília.

 

(2. Sábado, 02/01/10). Ao chegar a Campo Grande decidi por não procurar hospedagem, e sair com o último ônibus (00:00) para Corumbá chegando cedo na fronteira. Então paguei para deixar a mochila na rodoviária e sai afobado para explorar a cidade. Afobado por que não havia pensado no que fazer até a meia noite quando saía o ônibus para Corumbá, e por não ter levado o casaco impermeável sob chuva do pantanal. Próximo ao terminal esta a morada dos Baís onde se encontra um ponto de informações turísticas. Ali consegui um mapa da cidade. Muita chuva, ano novo, tudo fechado, resultado molhado e fedido, caminhando perdido até o final da Avenida Afonso Pena. Da melhor forma possível tentei “tomar banho” na torneira da sala de espera da empresa Andorinha. Concluindo, Campo Grande bem merece uma visita rápida, mas em dia de sol. Você não perde muito se resolver sair imediatamente a Corumbá. Há vários horários pela empresa Andorinha, garanta sua passagem assim que desembarcar em CG, no mesmo terminal. Já no primeiro dia fui abordado em inglês por um gringo, que merda! Isso seria uma constante nos Andes, ser confundido com gringo.

 

(3. Domingo, 03/01/10). Chegada em Corumbá as 05:20. Em frente à rodoviária esperei um ônibus urbano da empresa Canarinho com a linha “Cristo redentor” (05:55) e as 06:05 já estava no terminal urbano. Daqui embarquei na linha “Fronteira” e as 06:20 já estava no ponto final um pouco antes do posto de migração brasileiro. Fiz amizade com um senhor boliviano, carpinteiro em Santa Cruz, pessoa simples, tem família no Brasil. Como a migração boliviana ainda estava cerrada rachei um táxi com o boliviano até a estação de trem de Puerto Quijarro e ali esperei até as 09:00 (notar que no lado boliviano deve-se atrasar o relógio em uma hora), quando abriria a boleteria (acredito que esse seja o horário de domingo). Era domingo e queria passagem para o mesmo dia à tarde, mas havia apenas para terça-feira (martes). Então como queria muito viajar neste trem (o famoso “trem da morte”, que de morte não tem nada), comprei a passagem para martes as 16:30. Muitas pessoas foram de ônibus creio que por R$60,00. Há como ir de avião também. O destino final é claro Santa Cruz de la Sierra. Retornei para Corumbá que foi minha morada até martes. Não há muito que se fazer, fui ao rio domingo a tarde, que parece ser o ponto de encontro durante o dia, a noite a praça central. Hospedagem no hotel América de um turco avarento, por exorbitantes R$45,00 (algo proibitivo para mochileiro, pura afobação, mas também cansaço e irritação; o turco preferiu deixar o quarto vazio a fazer um preço menor para a segunda noite). A noite tive de lutar contra os mosquitos (repelente), baratas e besouros atraídos pela luz acesa. Finalmente tomei o primeiro banho, e na noite seguinte fui para o Hostel Internacional de Corumbá por R$25,00. Novamente fui abordado como gringo, que infelicidade! Corumbá é a meu ver mais agradável que Campo Grande. Puerto Quijarro tem realmente um aspecto horrível, ruas barrentas quando chove e poeirentas quando o sol seca tudo, onde tudo gira em torno da fronteira.

 

(4. Lunes, 04/01/10). Corumbá a “cidade das lojinhas”, turcos, bolivianos e sei lá mais o que. Ao meio dia transferi minha carga para o HI de Corumbá, muito melhor que o muquifo do turco. Os reais terminavam por conta da minha estadia prolongada ainda no Brasil e tive que cambiar alguns dólares para cobrir minhas despesas brasileiras. A mochila pesa deverás, coisas demais (e que sequer usei na viagem toda!), irritei-me muito ao tentar organiza-la. Algo que notei neste inicio de viagem e que iria acompanhar-me durante toda minha trajetória era o pouco poder de barganha que teria por estar viajando sozinho. A noite fui a uma igreja da cidade e pude observar nas paredes algumas pinturas tipo o lance da “multiplicação dos peixes” só que agora eram piranhas, pacus, pintados, dourados e outros peixes pantaneiros. Corumbá não é muito grande, consegui andar por ali sem mapa, mas perguntando a todo o momento qual o nome da rua etc., sugiro que consigam um, não lembro se existe ponto de informações turísticas.

 

(5. Martes, 05/01/10). Fronteira novamente. Cheguei perto das oito da manhã, havia muitas pessoas, muita confusão, um taxista disse que podia passar na frente, e fui! Não sei se furei a fila no fim das contas. Lá dentro exigiram que mostrasse meus dólares, “tranqüilo ninguém vai roubar su plata” (segundo o oficialzinho mínimo de U$300 para brasileiro). Não vi mais ninguém que teve de mostrar “su plata”, e pelo que sei isso não é necessário, nunca ouvi nada a respeito. O taxista boliviano falou-me com entusiasmo sobre Evo Morales. Fora a região de Santa Cruz onde há certa hostilidade para com o presidente, todo o restante da Bolívia é partidária de Evo. Estava na estação as 09:00 da manhã pelo horário boliviano até as 16:30! Afobado total. Pensei que poderia ter problemas na aduna e me complicar para chegar até a estação, mas fora ter de mostrar os dólares nenhuma complicação. Não há nada que ver em Puerto Quijarro, e não é seguro andar por ali, fiquei sabendo de alguns que se arriscaram em ir caminhando desde a fronteira até a estação, além de ser longe foram assaltados. Fiquei todo o tempo sentado dentro da estação, só observando a chegada do povo para o trem das 12:00 e depois para o das 16:30. Saída do trem no horário previsto, senhora falante sentou-se ao meu lado em Puerto Suarez. Não despachei a mochila, levei junto comigo, muito desconfortável, creio que fui um dos únicos mochileiros a fazer isso. O trem passa por muitos lugarejos pobres e a paisagem do Chaco boliviano é monótona, até Santa Cruz onde há certa agricultura intensiva. À noite passamos por algumas formações rochosas que podiam ser avistadas sob a luz da lua. Nas paradas que o trem fazia nos lugarejos, os locais aproveitavam para vender típicos produtos andinos, um deles suco de frutas transportados em baldes sujos e servidos em copos descartáveis que após o uso eram “reciclados” pelas chicas que o vendiam. Outra constante ao se viajar pelos Andes são os filmes de ação, luta, assassinato e tiroteio a alto volume seja em ônibus ou trem, ótimo para quem quer dormir um pouco. Concluindo, o “trem da morte” não valeu a espera de três dias em Corumbá! Se você quer muito andar de trem, há outros pelo caminho, como o que vai desde Oruro até a fronteira com o noroeste argentino, passando por Uyuni. Porém sempre pode haver problemas com a venda de passagens e com relação à época de chuvas quando é comum os trens não poderem circular.

 

004. Bolívia, Santa Cruz de la Sierra, Samaipata, La Higuera (Che).

 

(6. Miercoles, 06/01/10). Pretendia ficar um dia em Santa Cruz, mas ao avistar a cidade da janela do trem pensei em logo cair fora dali, lugar assustador. Muito afobado no terminal, tentei “chamar pouca atenção” algo impossível se você é um “gringo” e sacar B$700 em um caixa eletrônico no meio do terminal! Muita gente. Você chega ao chamado terminal bi-modal, integrado com o terminal de buses. Perguntando a algumas pessoas como ir a Samaipata (vilarejo a 120 km de Santa Cruz), peguei o micro ônibus (leia-se lata velha, surrada, asiática, e naturalmente feita para asiáticos nanicos) urbano linha 74 que vai para o terceiro anillo esquina com Avenida Grigóta, donde estão várias empresas que saem para Samaipata. O motorista da linha 74, um gordo (“el ginecólogo” segundo uma inscrição acima de seu assento) nasceu com a mão na buzina, que alias não surte mais efeito nos motoristas bolivianos. A cidade é horrível (não visitei o centro). Não recomendo andar por nenhum lugar dali. Trate de sair o mais rápido possível para qualquer outro lugar. Aguardei das 10:00 até o meio dia para saída a Samaipata, chegada as 15:30. Estrada perigosa, com penhascos, e ainda em obras. Recomendo sentar na janela do lado esquerdo do ônibus para admirar a paisagem que não deixa de ser muito bonita. Nunca se esqueça de pedir “assento em la ventana” de preferência no meio do ônibus, e pergunte de qual lado você pode mirar melhor a paisagem. E claro qualquer informação deve ser solicitada para mais de uma pessoa, somente assim você “acredita” nos bolivianos etc. Você desembarca na rodovia, na entrada do vilarejo, sugiro caminhar até o centrinho, onde existem várias opções de hospedagem. Hospedagem razoável (residencial Don Jorge um pouco antes do centrinho), limpa, quarto individual, que para minha surpresa consegui na maioria dos lugares que fiquei, porém muitas vezes “el baño” era compartido. Samaipata nem de longe lembra a Bolívia que até aqui havia avistado. Muito limpa e tranqüila. Há pessoas de várias partes do mundo morando ali, inclusive com negócios próprios. Tive de acostumar-me com o silêncio.

 

(7. Jueves, 07/01/10). Fui a El Fuerte (2000 m.s.n.m.), uma grande rocha de granito esculpida inicialmente pelos índios guarani e posteriormente trabalhada pelos Incas. É única do tipo na Bolívia. Caminhando desde Samaipata (uns 9 km), muito cansativo. Faltando uns 1,5 km peguei carona com uns bolivianos ricos de Santa Cruz, no retorno a Samaipata foi com eles também, portanto não gaste grana com táxis ou agências, comece a caminhar que você seguramente consegue carona. El Fuerte não impressiona muito, mais a paisagem vale o esforço. No meio da tarde esperei do ônibus para Vallegrande na rodovia, até as 16:30, chegada as 20:00. O ônibus era um caco, só andando para ter idéia do perigo. E como sempre lotado, e as cholitas bolivianos com seus niños e sacolas. A sujeira reina soberana, e os odores não são nada agradáveis. O ônibus passa por Mainara, Los Negros, Mataral e El Trigal. Estrada muito perigosa também, e como a maioria na Bolívia, se não todas, estava em obras. Vallegrande a noite pareceu um pouco jeitosa, mas creio que há perigo para gringos (o terminal não fica longe da plaza central, mas se chegar a noite recomendo ir de táxi). Hospedagem em outro muquifo sujo (residencial Vallegrande).

 

(8. Viernes, 08/01/10). Despertei as 06:00 da manhã, fiz tudo rápido e já estava cedo na rua donde saem os transportes para La Higuera, mas não esperei pela condução das sete horas que certamente existe (pelo que falaram há apenas um bem cedo). Paguei uma “fortuna” pelo táxi com um motora meio louco. O nosso transporte era um corola anos 80 asiático usado (que entram na Bolívia via Chile, conforme explicação do taxista) que tremia e gemia a viagem toda fazendo barulho semelhante a um grilo, é de enlouquecer. Sete horas, três para ida mais três para a volta e apenas uma hora em La Higuera (de ônibus muito mais). A paisagem é muito bonita, sobe-se a mais de 3000 m.s.n.m. onde a neblina aparece e fica mais frio. A estrada é perigosa (e qual não é tratando-se de Bolívia?), barro, neblina, desfiladeiros de centenas de metros, pneumáticos lisos, motorista maluco, carro caindo aos pedaços, parecia um rali. O motora a certa altura da viagem começou a mascar folhas de coca, normal para essa região. Até ai sem problemas, mas depois puxou um saquinho com pó branco. Epa! Que merda é essa? Dialogo:

 

- Amigo eso es cocaína?

- No, tranquilo, eso ser bico.

- Bico, que (mierda) es eso?

- Bicarbonato para mascar com la coca.

 

Infeliz. Já estava pronto para pular fora do carro. Depois de visitar o museu de la coca em La Paz soube que se você mascar as folhas de coca com um agente alcalinizante potencializa-se a extração de alcalóides das folhas. Depois de sete horas ao lado da figura dava para notar claramente seus olhos arregalados, e que respondia as minhas perguntas com mais rapidez, realmente funciona. La Higuera é para turistão. Nada de mais para fazer, só o culto a lendária figura, algumas fotos e assinar o livro de visitas no pequeno museu que funciona na antiga escolinha primária onde foi fuzilado. Mas só indo lá para conferir. No livro de visitas do pequeno museu, nota-se a grande presença de argentinos, e alguns europeus. Assinatura de outros brasileiros só fui encontrar em outubro. Devia ter mais espírito de aventura e ido de outro modo que não táxi. Mas há sempre o problema de não se conhecer nada da região. Creio que um casal de argentinos que veio comigo no ônibus desde Samaipata foi caminhando! Mas com certeza devem ter demorado no mínimo dois dias para realizar tudo isso, talvez três. De volta a Vallegrande visitei o museu da casa de la cultura, com alguns achados arqueológicos da região e uma sala dedicada ao Che. Plenamente dispensável. A plaza é bonita, a catedral também. Pensei em ir para Sucre desde Pucará que fica um pouco antes de La Higuera, seria uma rota alternativa a originalmente estabelecida. Mas a estrada estava cerrada por um deslizamento. Desisti de retornar a Santa Cruz, então parti desde Vallegrande direto a Cochabamba pela antiga carretera que liga Santa Cruz a Cochabamba, no entanto muito mais perigosa. Saída as 18:00.

 

005. La Paz e o lago Titicaca, Isla del Sol.

 

(9. Sábado, 09/01/10). A viagem desde Vallegrande a Cochabamba se demonstraria a pior da minha vida até agora (se algo pode ser pior que isso). Além de a tia boliviana ter me vendido a passagem mais caro conforme descobri depois (gringo), meu boleto não correspondia a ventana como tinha comprado. Mesmo assim sentei na maldita ventana. Ao meu lado sentou-se um velho com incontinência urinária deixando um presente no banco. Eu estava na ultima fila do bus, aquela com cinco lugares, e a certa altura uma família boliviana ocupou os outros quatro assentos da forma mais confortável possível, claro que a mais desconfortável para mim. Um casal que embarcou mais adiante e que carregava peixes vivos em sacos, deixou a sua ventana aberta durante toda a viagem, puta merda, que povo louco e mal educado. Um frio do cacete. A estrada como já disse era ruim e perigosa, de terra, muitos buracos, o motora buzinava a cada curva, o motor rugia a cada pequeno declive. Onze horas neste inferno, agonizando! Resultado foi uma gripe em La Paz. Segundo um brasileiro que encontrei assim que cheguei a La Paz, nesta estrada morreram 22 pessoas, um dia após ter passado por lá, o ônibus deles perdeu os freios. Beleza! Ao chegar a Cochabamba o ônibus não parou no terminal, mas num lugar bem afastado. Eram 05:00 da manhã, mas já havia muito movimento. E como Cochabamba não é nada muito diferente de Santa Cruz não tive animo de passar um dia ali. Tratei de pegar um táxi até o terminal e as 06:00 já partia para La Paz, há muitas empresas para este trajeto, com muitos horários. Havia muito movimento no terminal de Cocha, não desgrude de sua mochila! Eles fazem um controle do peso da bagagem, a minha carga já somava 17 kg. A paisagem é muito atraente, subindo os Andes rumo a La Paz. Já no altiplano avistei pela primeira vez plantações de papas (batatas) e de coca, também algumas lhamas. La Paz um caldeirão com suas edificações sem reboco ou pintura, um milhão de almas (dois se contarmos a contígua El Alto), pareceu-me muito interessante. Tinha uma expectativa diferente em relação a ela. Muito mais segura do que imaginei. O centro é muito movimentado, mas se consegue manter alguma ordem, só tomar cuidado para não ser atropelado. A chola paceña domina a paisagem. Alguns odores não são dos melhores, principalmente o das frituras servidas na rua, não sei do que, mas era de embrulhar o estomago. A Soroche não foi problema, apenas no hotel errei ao subir afobado os três lances de escada até o quarto, tive de parar para tomar fôlego. Era meio da tarde, não fiz nada naquele dia, apenas limitei-me a organizar as coisas e descansar. Estava moído. Hospedagem no Hotel Torino bem perto da Plaza Murillo, ao lado da catedral. Quarto individual saiu por B$45 com baño compartido. Minha única reclamação é que a água do baño não estava quente. Chega-se no terminal de buses um pouco afastado do centro, recomendo pegar táxi.

 

(10. Domingo, 10/01/10). Dia do Downhill para Coroico. Contratei todos os passeios no dia da chegada na agencia do Hotel Torino, mas recomendo caminhar um pouco e pesquisar. Muito legal. No grupo um brasileiro de Curitiba e quatro do Rio de Janeiro, os restantes argentinos. Descida é muito veloz. Uma das cariocas se “perdeu” em uma curva e acabou dentro de uma vala. Segundo ela, não viu a curva! Sorte que a curva não era para o lado do penhasco. Paisagem muito atraente. Região das Yungas, que é transição entre os Andes e a floresta tropical. Muita neblina, chuva, cachoeiras, alguns cursos d`água, barro, cascalho, e grandes quedas de até um quilômetro. São quase setenta quilômetros de percurso. Boa parte é no asfalto, vencido rapidamente, depois a bendita estrada. Almoço em Coroico. A noite de volta a La Paz, quebrado, mas não tanto quanto a carioca.

 

(11. Lunes, 11/01/10). Tiwanako, não achei tão grandioso. Fora o grande monólito de sete metros que representa um sacerdote (se não estou enganado), e a porta del sol, com um calendário gravado. As ruínas são em grande parte reconstrução. É tudo muito turistão. Mas não deixa de ser válido. À noite visitei o museu de instrumentos musicales (calle Jean), muito interessante, um dos melhores que visitei em toda a viagem. Perdi um bom tempo na Plaza Murillo, e na catedral em frente a Plaza. Um chá de coca antes de deitar-me, que não teve boas conseqüências na manhã seguinte.

 

(12. Martes, 12/01/10). O chá de coca da noite anterior demonstrou seu poder destrutivo. Fezes muito fedorentas. Vou morrer, pensei. No entanto ainda não associava ao chá tais poderes. Pensei estar com uma infecção alimentar. Mt. Chacaltay. Outro passeio bem turistão. Mas novamente não deixa de ser um passeio muito válido. Desde lá se pode mirar o caldeirão que é La Paz e a contígua El Alto. Chega-se lá de ônibus até 5300 m.s.n.m. e se caminha até os 5430 m.s.n.m. do topo, fui o quinto a chegar simultaneamente com os demais, dois casais de Buenos Aires. Afobado completo. Mirei alguns minutos a paisagem e fui o primeiro a descer. Na estação tomei meu segundo chá de coca! Ainda sem ter idéia das conseqüências. Um pouco de neve. Lá o guia mostrou rochas que continham fósseis de conchas marinhas (a mais de 5000 m.s.n.m.!). Os Andes já foram fundo de oceano. Regresso a La Paz, mas o passeio seguiria para o Valle de la Luna, quem desejasse poderia descer e não seguir ao Valle. As reações ao chá começaram a se manifestar. Decidi ir ao hotel e descansar. Resultado, novamente fezes muy fedidas, febre, dor de cabeça. Tomei um remédio para febre e dormi umas duas horas. Sobrevivi, mas parei com o chá de coca. Mesmo neste estado resolvi visitar um pouco mais da cidade, pois iria ao lago no dia seguinte. Passei por vários museus, dentre eles o já referido museu de la coca, pequeno, mas algo esclarecedor. Calle de las brujas, os museus da jeitosa calle Jean e uma camisa da seleção boliviana (mau negócio). Concluindo, La Paz bem merece uma visita demorada, talvez dois dias a mais para ver tudo. Não pareceu nem um pouco perigosa. E acho que a vida da Bolívia esta muito bem representada ali.

 

(13. Miercoles, 13/01/10). Saída de La Paz, rumo a Copacabana e o lago Titicaca. Táxi até o bairro do cemitério, donde saem os ônibus até o lago. Três horas, e como comprei o boleto em cima da hora, coube a mim o bendito assento mediano, aquele no fim do ônibus, onde ficam os cinco assentos finais. Beleza! E para completar música de fundo, Roberto Carlos em castelhano:

 

- Usted es mi hermano de fé, mi hermano camarada...

 

Infeliz. No estreito de Tiquina o ônibus cruza o lago em uma balsa, os passageiros desembarcam e vão em outra. Uma hora nessa função. O lago é realmente muito bonito. Peguei o último barco para o sul (comunidade Yumani) da Isla del Sol. Não fiquei nem dez minutos e sequer subi a escadaria Inca, decidi ir para o norte (comunidade Challapampa) e fiz o último barco retornar, os argentinos que já estavam no barco não gostaram muito (gringo de mierda). Segundo o que já havia levantado, o norte possui mais ruínas e há menos turistas. A hospedagem foi na casa de nativos, na verdade um pequeno quarto, sem banheiro, naturalmente sem ducha, mas com luz elétrica. O pequeno José de cinco anos conduziu-me até lá. Muito espertos os pequenos da ilha. Caminhei até as ruínas, nada de muito grandioso. Plantações de papas, coca, aba (um legume local) e algum gado, a pesca também é muito importante (não se pode visitar o lago e deixar de provar a truta). A vista do lago ao anoitecer é magnífica. Relâmpagos ao longe, cerca da Cordilheira Real que domina o leste do lago. Muitos argentinos acampando na praia. Para a ilha acho que dois dias inteiros seria o melhor, me arrependi depois de ter passado tão depressa por ali. Outra possibilidade é fazer a trilha que liga norte-sul da ilha, pelo que pesquisei são umas 3h para percorrê-la.

 

006. Peru, Cuzco, Vale Sagrado, Machu Picchu.

 

(14. Jueves, 14/01/10). Retorno a Copacabana, três horas de martírio. A ovelha negra no meio de argentinos (creio que todos!). E o motor do barco parou no meio do lago. Mas em pouco tempo o barqueiro consertou com fita adesiva! Do contrario tinha entrado em colapso nervoso. Não visitei Copacabana direito, só a plaza e a igreja. Saída para Cuzco direto, sem parar em Puno. Na verdade paramos em Puno para cambiar de ônibus, creio que não valha a pena comprar direto o Cuzco, fica mais barato se comprar só para Puno e de lá se providencia para Cuzco, existem várias empresas e muitos horários. Outra coisa é que em Copacabana comprei a passagem em agencia de turismo, não procurei a empresa de ônibus, creio que mais barato (não há terminal em Copacabana). Essa fronteira (Kasani) não apresenta problemas, dizem que a fronteira de Deseguadero é mais perigosa, corrupção dos policiais. As ilhas flutuantes de Puno (Uros) pareceram um passeio muito turistão e já estava farto de barcos e argentinos. Puno também não pareceu nada seguro. Na cidade seguinte Juliaca (essa muito pior, lugar de bang-bang) comprei umas galletas (bolachas) por S$3,5 paguei com S$20 e a tiazinha devolveu apenas S$11,5. – Que isso tia! Gritei. Deu o que faltava sem nenhum constrangimento. Bem vindo ao Peru, Gringo! Foram seis horas até Cuzco, não pude mirar a paisagem por já ser noite. Muito cansado hospedagem no primeiro muquifo que encontrei.

 

(15. Viernes, 15/01/10). Ida a Machu Picchu. Táxi até o terminal Santiago donde saem vans e ônibus para Quillabamba. Sair ainda pela manhã para fazer todo o trajeto ainda durante o dia. De vans é somente um pouco mais caro, mas muito mais rápido e “confortável”. O motorista era um maníaco e a estrada não ajuda muito. Quase batemos em um ônibus. Paisagem muito bonita, Yungas, a estrada serpentei as montanhas várias vezes. Passamos por Abra Malagra a 4000 m.s.n.m., muita neblina. Depois de umas quatro horas chegamos a Santa Maria, onde desembarquei, a van segue até Quillabamba. Daí outra van até Santa Teresa. O motora era um moleque de uns 16 anos. Penhascos verticais! Não faça esse trajeto sob chuva! Novamente só argentinos. Outra van até a hidrelétrica donde começa a caminhada pelos trilhos de trem até Águas Calientes. Deve-se observar a terceira placa “Ruta de salida”, subir por ali, e ao chegar aos trilhos caminhar para esquerda, se tomar a direita você acaba novamente na hidrelétrica. São quase três horas de caminhada. Muito legal fazer tudo isso. Paisagem muito louca. Muitas pessoas fazendo. Não recomendo fazer isso a noite, muito perigoso, e se cair no rio (o caudaloso rio Urubamba/Vilcanota que arrasou o acesso a Machu Picchu alguns dias depois, pelo que tive muita sorte) ta morto na certa! No caminho o trem passou, e alguém atirou uns bagulhos para uma tiazinha que aguardava, quase fui atingido por um desses projeteis. Vai saber o que tinha nos pacotes! Ao chegar a Águas Calientes entrei na primeira hospedagem, do lado direito, a diária era a bagatela de U$100. Adeus amigo! Na seguinte a primeira à esquerda diária de S$30 quarto individual com baño compartido, fiquei ali mesmo. Dormi cedo para levantar as 03:00 do dia seguinte. A outra forma de chegar a MP é ir apenas a Ollantaytambo e dali seguir de trem até AC por uns U$31. Também há como sair desde Cuzco com o mesmo trem mais a passagem é bem mais cara.

 

(16. Sábado, 16/01/10). Acordei as 03:00, e as 03:30 comecei a caminhada até a entrada do santuário. Muitas pessoas fazendo isso. Leve lanterna, do contrario é impossível fazer. Você retorna acompanhando os trilhos de trem, mas pela estrada um pouco abaixo por onde sobem os microônibus (você vai ter avistado essa estrada no dia anterior, pode rolar uma confusão quando você esta chegando a AC, continue pelos trilhos que não tem erro, você chega a AC e acha a hospedagem em que eu fiquei, a primeira do lado esquerdo). Subida muito cansativa, em ritmo rápido consegui chegar em uma hora. Daí esperar até as 06:00 sob chuva até o parque abrir. Procurava não me mover, sentia menos frio assim. Leve casaco impermeável! Fui o 37º a entrar. Peguei a senha das dez horas para subir a Wayana Picchu, pois para as sete horas havia muita neblina. Procurei me secar da melhor forma possível, a chuva deu uma trégua e a neblina começava a desaparecer. Andei por quase tudo desde as seis de manhã até as quatro da tarde (dez horas no parque). Muita coisa pra ver, eu estava pior que criança curiosa. Tentei passar por todas as edificações, todos os espaços. Wayana Picchu tem uma vista espetacular, vale o esforço. Desde lá se pode mirar Machu Picchu inteira, e todo o vale do rio Urubamba/Vilcanota, podem-se ver os trilhos de trem e o caminho que fiz no dia anterior (não consegui distinguir MP quando estava lá em baixo). Passei um par de horas lá e retornei pelo outro caminho que chamam “Gran caverna”. Há algumas ruínas também, mas o caminho é bastante vertical e mais longo. Poucas pessoas fazem esse caminho. Perto do fim do dia pensei em caminhar um pedaço da trilha Inca donde vi alguns brasileiros chegando, mas estava moído e resolvi descer. Voltei caminhando, não iria pagar os U$7,00 pra andar de bus. Alias tudo lá em cima é muito caro, uma água pequena custou S$5,00. Mas é tudo muito válido. Um dia volto lá e faço tudo igual. A noite uma janta reforçada (burguesa) e as 19:00, podre de cansado, dormi imediatamente. Um pós-escrito; muitas pessoas me perguntaram se senti algo diferente em MP, tipo um misticismo ou algo do tipo transcendental. Que vou dizer? Não me passou nada. Estava num lugar muito legal, belíssima paisagem! Refletia como aquele povo construiu tudo isso. Para sentir algo de místico só tendo uma cabeça mística.

 

(17. Domingo, 17/01/10). Retorno pelo mesmo caminho até Cuzco. Na noite anterior fui à estação de trem averiguar o preço da passagem, mas desisti. As oito comecei a caminhada de volta a hidrelétrica, sem surpresas, ainda não conseguia distinguir MP desde os trilhos. As pernas doíam. Desde a hidrelétrica, uma van foi direto até Santa Maria. Mas eu e duas garotas tivemos de esperar meia hora lutando contra os mosquitos por que dois argentinos não queriam pagar o valor da passagem. Oh povo! De lá consegui no mesmo instante outra van até Cuzco. O motorista como sempre um doido, ultrapassava todos, andava sempre acima de 100 km/h, falava ao celular durante toda a viagem um espanhol ininteligível. Mas cheguei vivo. No caminho um caminhão que havia tombado em uma curva desde viernes, só agora estava sendo retirado, o que levou uma hora. Também fomos parados por uma patrulha que buscava drogas. Retornei ao muquifo que havia deixado a mochila e dormi um sono pesado.

 

(18. Lunes, 18/01/10). Passei pelo Qorikancha, naturalmente os espanhóis estragaram tudo. Sob uma bela estrutura Inca foi erguido o insosso convento de Santo Domingo. Ali comprei o boleto turístico de Cuzco e arredores, necessário para se ter acesso as ruínas, com desconto para estudante mediante apresentação de carteirinha. Neste dia visitei as ruínas de Pisaq a 32 km de Cuzco, de modo independente, sem guias ou argentinos para incomodar. Os ônibus saem da esquina entre a Av. Tullumayo e a Av. Garcilazo. Passei quatro horas por lá, andando por todas as ruínas e terraços. Achei S$10 no chão, mas tenho duvidas se não eram meus! Não havia quase ninguém por lá. Começou a chover muito e procurei abrigo em umas cabanas construídas recentemente pelo povo que trabalha na conservação das ruínas. Muito frio. Todo molhado, mas valeu. As construções foram feitas em material muito bem trabalhado, como em Machu Picchu ou Cuzco. Comprei um jogo de xadrez na feira local (Incas x Espanhóis), feito em cerâmica, para meu pai. Retorno pelo mesmo caminho. Mas creio que não há necessidade de adotar Cuzco como cidade base. Poderia ter ido a Ollantaytambo e pernoitado lá. Daí só retornava a Cuzco no fim do dia seguinte. Ou mesmo na volta de Machu Picchu poderia ter ficado em Ollantaytambo da mesma forma. Hospedagem no mesmo muquifo.

 

(19. Martes, 19/01/10). Visitei as ruínas de Ollantaytambo. 04:15 desperto, mas perdi o ônibus que ia direto a Ollantaytambo. Os ônibus saem da esquina entre a Av. Grau e a calle Kancharina. Tive que ir primeiro a Urubamba e dali tomar um táxi, mas há coletivos mais baratos (o ônibus foi via Pisaq). As ruínas são muito interessantes. Muitos terraços e edificações. Como toda ruína Inca deve ter um templo do sol. As ruínas principais são acessadas com o boleto turístico. Depois subi nas outras ruínas que ficam em outro morro, em frente. Muito difícil chegar nelas, mas muito recompensador dali pode-se ver toda a cidade e as ruínas principais. O vale sagrado proporciona visões magníficas. Almoço de burguês ao lado da plaza que estava em obras. Coletivo de volta a Urubamba, e dali um bus que regressa a Cuzco, mas por Chinchero e não Pisaq. No caminho desembarquei no cruzamento que leva a Moray pouco antes de Chinchero. Ali dividi a corrida de táxi com um casal de velhos paraguaios. Moray também é acessada com o boleto turístico, é um conjunto de terraços agrícolas construídos na encosta de uns morretes de formato circular. Há quatro destes tipos de terraço, mas todos de tamanhos diferentes. Não creio que os Incas utilizassem estes terraços como experimento agrícola, mas sim como local de reuniões, a acústica do lugar é excelente. Os paraguaios acharam um canto e ficaram meditando durante todo tempo que fiquei por lá (cabeça mística). Desci até o fundo do terraço maior, e cansei para subir na volta. Resolvi voltar a pé até o cruzamento com a rodovia principal, mas fui abordado por um taxista, acabei pagando bem menos, usando o argumento preferido dos argentinos “no tengo plata”. Pouco antes disso uma chica ofereceu-me aba e maiz cozidos. Aceitei e lhe dei uma moeda. “Gracias senhor (gringo)”. Não tem sabor muito agradável, insosso. Mas lembro de ter comido em sopa, daí o sabor é melhor. No caminho vi agricultores com pulverizadores nos campos de papas. Ora vejam, nos Andes também usam agrotóxicos, na terra das papas! No cruzamento peguei o mesmo bus para chegar a Chinchero logo a frente, como não tinha uma nota baixa e nem moedas deixaram que andasse sem pagar. Entrada também com o boleto turístico. Achei Chinchero interessante, ao contrário do que me disseram antes da viagem. Muitos terraços e a lugarejo é bonito. Gastei uma hora ali e novamente com a mesma linha de bus retornei a Cuzco. À noite fui ao “terminal de buses” e não consegui a passagem para Nazca. Por “El paro” nas estradas peruanas contra o aumento dos preços de combustíveis, algo muito comum por aqui, e ninguém queria vender passagem e nem sabiam informar quando isso iria acabar. Fora uns sacanas que vendiam a passagem pelo dobro do preço e sequer saiam com o ônibus. Não tive opção, retornei a hospedagem.

 

(20. Miercoles, 20/01/10). Até que foi proveitoso passar um dia a mais em Cuzco. Não havia visitado a cidade direito ainda. Passei por vários museus e igrejas. Impressionou-me a grandeza da catedral e os muros Inca que agora servem de base para as construções espanholas. A mais famosa das passagens Inca da cidade esta na viela Hatun Rumiyoc onde jaz a famosa pedra de doze ângulos. Creio que visitei razoavelmente a cidade. Mas já estava ficando farto de Cuzco. Mas para se ver Cuzco direito deve-se dedicar no mínimo uns bons dois dias completos. Fui novamente ao terminal e não consegui passagem para lugar nenhum. Encontrei duas argentinas que também estavam indo para Nazca e com elas fui averiguar os preços de avião, mas para Nazca não há vôos, somente a Lima poderia interessar. Mas tudo muito caro e como não podia gastar tanta “plata”, resolvi esperar o dia seguinte. À noite fui a um teatro que esta incluído no boleto turístico. Assisti a uma apresentação de danças típicas do folclore andino. Retornei a hospedagem, a para minha surpresa haviam transferido minhas coisas de quarto! Até ai levei numa boa, mas tive de sair novamente e quando voltei queriam cambiar-me outra vez! Beleza! Discuti com o dono daquele muquifo, atirei o dinheiro no chão e sai daquela merda. Acabei encontrando uma hospedagem a apenas uma quadra dali pelo mesmo preço e muito mais confortável, ao lado da Igreja de Santo Domingo! Por isso recomendo pesquisar bastante, não ficar na primeira hospedagem que encontrar. Mas no caso de Cuzco, acabei ali por que havia chego a uma da madrugada, as hospedagens estavam todas lotadas e o táxi já estava ficando caro demais. Se for nesse horário, recomendo já chegar com um endereço na mão.

 

007. Arequipa, El Misti, Cânon del Colca.

 

(21. Jueves, 21/01/10). Finalmente consegui passagem, mas somente para Puno. Mesmo com receio de ficar preso na estrada e ter de retornar por um caminho já conhecido, saí, pois já estava muito farto de Cuzco. Desta vez pude mirar a paisagem desse trecho, sem muitas surpresas, muito parecido com o que já havia visto no lado boliviano do lago Titicaca. De Puno consegui passagem para Arequipa e nenhum sinal de “El paro”. Se não teria tomado o caminho de La Paz e ido à Arica no extremo norte do Chile, daí subiria a Lima, tempo suficiente para acabar o bloqueio nas estradas. O único contratempo é que não precisava ter ido até Puno, pois o ônibus retornou a Juliaca e daí tomou o acesso a Arequipa (três vezes em Juliaca, infeliz). Depois de uma viagem ruim, mais pelo cansaço acumulado, cheguei a Arequipa. O taxista foi honesto (um dos únicos da viagem) e me levou a uma hospedagem bem localizada próxima ao monastério de Santa Catalina, com preço de mochileiro e confortável. Não recomendo caminhar do terminal ao centro é longe e a noite não pareceu muito seguro. Tomei banho e dormi no mesmo instante.

 

(22. Viernes, 22/01/10). Percorri o centro de Arequipa. Visitei várias igrejas, são tantas que nem lembro os detalhes particulares de cada uma. Em especial, e dizem que se você vai a Arequipa deve visitar (mas não achei tão indispensável), é o convento de Santa Catalina. Gastei um par de horas lá dentro, da uma boa idéia de como era a vida das religiosas da época. A construção é toda feita em pedra vulcânica que é bem leviana e fácil de ser trabalhada. O único ponto negativo é o preço da entrada. Entrei em tantos locais interessantes que nem lembro mais o nome de todos. Em Arequipa esta a múmia mais antiga do continente americano, mas desgraçadamente ela não estava em exposição no dia que estava por lá. No fim do dia comecei a caminhar até o mirador Yanahuara, mas era muito longe e resolvi voltar. Dizem que a plaza central de Arequipa é umas das maiores da América. É realmente uma cidade grande (a segunda do Peru, mas muito inferior a Lima), mas o centro pareceu seguro. Como em quase todas as grandes cidades das nações andinas as ruas são dominadas por táxis e coletivos. É também sem duvida uma cidade burguesa, reduto da direita conservadora, é chamada “a cidade branca”. As pessoas são diferentes das que observei até agora no restante do país, fisicamente e no modo de se comportar. Há certo sentimento de superioridade entre os Arequipenhos com relação ao restante do país, acho. Somente Lima se demonstraria mais burguesa e mais “branca” que Arequipa.

 

(23. Sábado, 23/01/10). Primeiro dia da subida a “El Misti”. Vulcão que domina o horizonte a leste de Arequipa (5825 m.s.n.m.). Fiz com a agência Quechua (ao que parece é a única que esta autorizada a fazer esta subida). No grupo duas americanas, uma garota russa muito bonita e um casal de velhos também russos, dois franceses e mais um brasileiro do ES. No primeiro dia saímos do hotel as 08:30, organizamos as coisas e as 14:00 iniciamos a caminhada desde uns 3200 m.s.n.m. até os 4500 m.s.n.m. do acampamento. Tentamos “dormir” as 18:00 para levantar a uma da madrugada! Sem sono e o chão da barraca não ajudava muito, dormi apenas uma hora! O resultado seria desastroso no dia seguinte.

 

(24. Domingo, 24/01/10). Estava um bagaço por não ter dormido nada. A vista de Arequipa desde El Misti no meio da madrugada é muito legal. Como esta no meio de uma região muito árida, e um tanto longe do litoral as luzes da cidade formam um belo espetáculo em fundo negro. Começamos a caminhada, pé ante pé, um frio de rachar. Depois do amanhecer e já passando os 5000 m.s.n.m. a coisa começa a ficar complicada. As americanas e depois a russa não agüentaram e retornaram com dois dos três guias. Segui a passo de “burrito”, pé ante pé, contava vinte passos e me deitava no chão para retomar o fôlego. O coração bate muito mais forte, uma forte dor de cabeça e a falta de ar, obrigam você a parar muitas vezes. Um pouco de confusão mental, e alguns pensamentos “mas que merda, o que eu vim fazer aqui!”. Perto do meio dia cheguei aos 5700 m.s.n.m., não tive forças para continuar por outro morrete até alcançar o topo (5825 m.s.n.m.) o outro brasileiro foi o único de todo o grupo que conseguiu chegar ao topo. Depois de dormir uma meia hora (com umas alucinações, tipo dorme cinco minutos e acorda assustado) até os demais retornarem, começamos a descida. Enquanto que para subir demoramos quase doze horas, para descer apenas uma! O caminho de volta é feito por dunas bem inclinadas de cinzas vulcânicas e cascalhos. Muita neblina também, você não enxerga um metro à frente. Muito perigoso. Rochas rolavam conosco e poderiam atingir quem estivesse mais a frente. Não é possível parar tão rápido quanto o desejado, resultado foi uma bela pancada na canela que dei em uma pedra, voei por alguns metros. Mas sobrevivi. Mais uma caminhada puxada até o ponto de onde havíamos partido, embarcamos no carro da agência. Ir a Arequipa e não fazer essa loucura é perder a viagem! Foi uma das coisas mais legais que fiz. Quero voltar lá outra vez e subir até o topo. As 14:00 já embarcava rumo a Chivay, base para visitar o Cânon del Colca. Lugar muito provinciano, caminhar ali a noite não oferece risco algum. No terminal fui abordado a respeito de hospedagem, fui com uma tia até o lugar, barato e confortável. Dormi imediatamente.

 

(25. Lunes, 25/01/10). Saída as 07:30 rumo ao mirador Cruz del Condor. Nada demais, só muitos turistas, nada de Condor, pois era muito tarde, perto das dez horas. No terminal de Chivay você é abordado por uma tiazinha que vende o “boleto turístico do cânon”, sem ele não deixam você descer no mirador. Sugiro nem descer ali, portanto não compre o boleto! O Cânon tem lugares muito bonitos alem deste mirador. Não fiquei nem cinco minutos ali peguei o mesmo ônibus (tive que pagar a passagem novamente) que foi até o vilarejo de Cabanaconde, também muito provinciano. Resolvi descer ao fundo do cânon por uma trilha que inicia ali em Cabanaconde, chamada “Ruta Sangale”, são mais de mil metros de desnível até o fundo do cânon! Depois de trinta minutos descendo (só alcancei a metade da trilha, isso que fui rápido, correndo!), resolvi voltar, levei uma hora e meia para subir! E já embarquei no bus das 14hs retornando a Chivay. Queria ir até Huambo, que fica depois de Cabanaconde e onde esta a parte mais profunda do cânon, mas há somente um ônibus às cinco da manhã. O cânon vale uma visita mais prolongada, acredito que no mínimo três dias. Há trilhas de vários dias pelo cânon desde Cabanaconde. Minha visita foi praticamente só pela janela do ônibus. Na ida tome assento no lado direito do ônibus e na volta do lado esquerdo assim você vai estar sempre mirando o cânon e não o talude da estrada. Sai de Chivay rumo a Arequipa no mesmo dia as 17:30, mais três horas de viagem. Depois de aturar um vendedor de um chá milagroso que segundo ele é capaz de curar desde uma unha encravada até um câncer (foram muitos durante toda a viagem, mais no Peru e Bolívia, e o pior é que o povo compra!), cheguei ao terminal de Arequipa. Escolhi a empresa Ormeño, que segundo relatos era uma boa empresa. Sugiro que mandem ela a merda! Só ônibus velhos pelo que vi. Ficamos uma hora a mais aguardando no terminal por que os “hijos de puta madre” estavam vendendo os assentos que ainda estavam vagos a um preço bem maior! Cretinice total! Entrei na onda dos outros passageiros e comecei a golpear o vidro do latão. O motora viu que era um gringo metido e pediu para que eu saísse. Ah vá pra p...! Resultado, desgraçado dormiu com a bagagem e acho que o infeliz revirou minha mochila. Sorte que não havia nada de valor, fora um pendrive. Depois dessa tratei de ficar na minha. Alias esse fato é uma constante por aqueles lados, são comuns os atrasos de até uma hora por estarem vendendo os assentos que restaram. Rumo a Nazca!

 

008. Nazca, Ica, Huacachina, Pisco, Parakas, Lima.

 

(26. Martes, 26/01/10). Nazca, 08:00. Cidade muito feia. Deserto! Tratei de fazer somente o sobrevôo das linhas de Nazca (grandes desenhos no deserto, feitos por uma cultura muito anterior aos Incas). Fui abordado logo no terminal da Ormeño por um agenciador da Aeroparakas. Creio que paguei caro, se ir direto ao aeroporto e ficar de butuca para se encaixar em um vôo que falte alguém, você vai pagar bem mais barato. Fui no serviço completo que inclui todas as figuras. São trinta minutos. Muito legal principalmente para mim que nunca havia andado de avião. Aquela lata com asas virava quase 90º. No inicio é amedrontador. Muito proveitoso! Foi um dos passeios mais caros de toda a viagem, mas ir a Nazca e não fazer é perder viagem. Retornei ao centro, no terminal da empresa Soyuz, rumo a Ica. Do terminal de Ica peguei um táxi até o oásis de Huacachina. Sugiro que em locais pequenos como o oásis você não seguir os “conselhos” do taxista quanto ao lugar para se hospedar, pague a corrida e pesquise, pois geralmente você vai pagar uma propina extra que é para o taxista. Assim você economiza um pouco. Subi as dunas do oásis umas duas vezes, uma logo depois do almoço (não é boa idéia) e depois para ver o por do sol, levei uma meia hora para subir. Gostei muito de passar por ali.

 

(27. Miercoles, 27/01/10). Passeio para as ilhas Ballestas frustrado, a guarda costeira não permitiu a saída. O tour foi trocado pela visita por terra na Reserva Nacional de Parakas. Deserto! Litoral seco, pois o pacífico é frio e condensa toda a umidade do ar, não chove. Em compensação a vida marinha é abundante. Visitamos o candelabro, figura desenhada na costa, cogita-se que possa ser um símbolo feito por piratas, são poucos os que chegam por terra. Passamos por praias de areia vermelha, a almoçamos em restaurante de pescadores no meio da reserva, naturalmente peixe do pacífico. Na volta fiquei em Parakas e dali tomei um táxi coletivo até Pisco, ali outro táxi coletivo até o cruzamento com a rodovia panamericana que leva a Lima. Pisco ainda esta sendo reconstruída após um terremoto recente. Ali deu para ter uma idéia do que pode ter ocorrido no Chile. A cidade ainda esta em ruínas. Enfim creio que o passeio as ilhas seja muito legal, por tudo que ouvi falar, mas não pude faze-lo. Mesmo assim recomendo pelo que vi por terra. Novamente pela empresa Soyuz rumo a Lima. Cheguei a noite no terminal da empresa. Sr. Luiz que conheci no ônibus dividiu o táxi, “devemos tratar bem o turista”, boa pessoa. Fui até o bairro de Miraflores, burguês e seguro. Encontrei hospedagem em um albergue, a única opção pra mochileiro em cidades muito grandes! Andei pelo bairro até uma da madrugada. Seguro, só não andar olhando para cima feito turistão. Mirei o pacífico a noite, com iluminação, muito bonito.

 

(28. Jueves, 28/01/10). Esqueci de carregar a bateria da câmera e por isso não tenho fotos de Lima. Fui novamente avistar o pacífico desde o shopping larcomar. Depois fui de coletivo até o centro histórico, é muito longe para ir caminhando, são quase cinqüenta quadras. Passei por várias igrejas e museus. Dentre eles as catacumbas da igreja de São Francisco, o museu da inquisição e o museu etnográfico dos povos amazônicos do Peru. Lima bem merece mais tempo, creio que no mínimo dois dias inteiros. Como já esperava, a cidade é a mais rica do país. A vida é muito distinta da província. Na Bolívia isso não é tão evidente. Retorno a hospedagem para sacar a mochila, e mais um bom tempo até o terminal da empresa Movil Tours. O ponto negativo da cidade é esse, o tempo que se perde com deslocamentos, transito muito ruim. Saída para Huaráz.

 

009. Huaráz, Chavin de Huantar, Trujillo, rumo ao norte!

 

(29. Viernes, 29/01/10). Chegada a Huaráz as 05:00 no terminal da empresa Movil Tours. Há ônibus para Chavin de Huantar, porem não aquela hora, e como sou gringo todo povo quer empurrar você para dentro de um táxi. Desde o terminal fui de táxi até o lugar onde saem outros táxis coletivos. O preço é o dobro do ônibus, mas é muito mais confortável. O motora não andava a mais que 50 km/h, estrada muito ruim, cheia de buracos. Esta carretera sobe até uns 5000 m.s.n.m. depois começa a descida até Chavin de Huantar. Paisagens muito bonitas, com a Cordilheira Branca e as lagunas formadas pelo degelo da neve, a vegetação é dominada pela “paja brava” alimento das vicunhas. Chavin de Huantar é um pequeno vilarejo distante umas três horas desde Huaráz, a 3180 m.s.n.m. Ali estão as ruínas da cultura Chavin que teve grande influencia sobre a cultura Inca, sobretudo na arquitetura de suas edificações. O complexo foi edificado ao redor de 1200 a.C. Passei um par de horas andando pelas ruínas, muito interessantes. Particularmente dentro do templo maior há um ídolo chamado El Lanzón, é a peça mais importante do lugar, e a única encontrada em seu lugar original. Nas galerias do templo deve-se tomar muito cuidado com o teto baixo, consegui a proeza e bater a cabeça duas vezes, cai duro no chão, muy peligroso. Presta atenção míope! Como o vilarejo estava sem energia elétrica por conta de uma tempestade, não pude carregar a bateria da câmera e também fiquei sem fotos destas ruínas. Mais tarde visitei o museu construído com recursos do Japão, é desproporcional pelo seu tamanho em relação a todo o vilarejo! Ali estão reunidos quase todos os achados do sítio arqueológico. Dentre eles as cabeças clava que adornavam as laterais dos templos. Também gastei um bom tempo ali. O Peru é realmente muito rico em culturas indígenas, muito além dos famosos Incas. Esta região também merece mais tempo de visita, mas não havia pesquisado nada a respeito e os gastos não programados poderiam comprometer o resto da viagem. Há coletivos para mais alem de Chavin, rumo a leste. Estava moído e dormi cedo.

 

(30. Sábado, 30/01/10). Pela manhã cedo, fui à rodovia esperar um ônibus que retornaria a Huaráz. Como dito acima, é a metade do preço do táxi coletivo, mas muito desconfortável! Não havia mais assentos, então tentei acomodar-me da melhor maneira possível ao lado do motorista em cima do motor. O problema é que o bus lotou, como sempre. Extremamente desconfortável. O ônibus naturalmente demora mais que o táxi. E tive que aturar o povo que achava que o gringo aqui não entendia o que falavam. “Passagem de primeira classe para o gringo” (risadas), “pode hablar, é gringo no compreende nada” (mais risadas). Ah vá... ! Cheguei vivo, tava no lucro. Fui à empresa Linea e comprei passagem para Trujillo para as 21:00, e como havia tempo de sobra almocei e aluguei uma bike em uma agencia de turismo. Ali mesmo peguei informações. Fui de coletivo (a bike foi em cima da van) até as ruínas de Wilkawain da cultura Wari (contemporânea aos Incas e rival destes), uns 45 minutos (trecho de subida, muito ruim para bike, sendo altitude), muito proveitoso. As ruínas são apenas pucaras, local de enterro dos mortos junto a oferendas. Paisagem muito legal. A Cordilheira Branca com seus vários picos nevados, as plantações de papas irrigadas com a água que desce das montanhas, e a chuva ameaçadora no horizonte. Felizmente não choveu onde estava; depois do quilômetro 12 começa um downhill que retorna a Huaráz. É bom garantir que os freios estejam funcionando bem! Gostei muito de fazer tudo isso, recomendo, excelente passeio. Na agencia ganhei alguns mapas, e o equipamento para consertar a bike se necessário. E há agricultores no caminho, qualquer duvida só perguntar, são bastante solícitos e na maioria gostam de ajudar os gringos. Deixei a bike na agencia e fui novamente ao terminal da empresa Linea aguardar o bus. Sem banho (coisa horrível, agonia; isso aconteceu muitas vezes durante a viagem, ficar até quase dois dias sem banho!) saí rumo a Trujillo, no litoral, rumo ao norte. Concluindo, Huaráz fica em uma região chamada “calejon de huaquillas”, pois esta contida entre a Cordilheira Branca a leste e a menor Cordilheira Negra a oeste mais próxima do litoral. Ali estão os maiores picos nevados do Peru com quase 7000 m.s.n.m. Ali fica o Parque Nacional de Huaráz, onde se podem fazer vários trekkings. Gostaria de ter feito o que parte desde Llanganuco até Santa Cruz, em quatro dias e três noites. Mas a grana estava indo mais rápido do que o planejado e depois do sufoco da subida a “El Misti” em Arequipa, resolvi deixar para outra oportunidade. Mas fica a dica, é um lugar esplendoroso e vale muito uma visita demorada.

 

(31. Domingo, 31/01/10). Descendo os Andes rumo ao litoral, Trujillo muito atraente (centro). Recusei a oferta dos taxistas e segui caminhando até o centro. Foi difícil. Trujillo é muito cara quanto a hospedagens, em especial por que ocorria na cidade o concurso de “Marinera” dança nacional do Peru. E cheguei justamente no dia da grande final. Depois de caminhar por quase duas horas achei um lugar em conta. Percorri as ruínas em torno da cidade de modo independente. A cidade de barro, Chan Chan, da cultura Chimú, fica no caminho do balneário de Huancacho, os coletivos partem da Av. España (um pouco longe do centro), desça na entrada para as ruínas, provavelmente você será abordado por taxistas, recuse, pode-se chegar andando ao palácio principal. Na entrada você compra o boleto que serve para as demais ruínas. Em Chan Chan resta pouco de coisa original, a maioria é reconstrução, mas mesmo assim é muitíssimo válida a visita. Admirável a idéia daquele povo em construir todo aquilo. Como chove pouco no litoral ao menos as fundações preservaram sua originalidade. Não fui ao balneário, pelo que me arrependo, sugiro ir com o mesmo coletivo, primeiro a Huancacho e depois retornar a entrada das ruínas. Enfim, retornei a rodovia, novamente andando, daí segui rumo à cidade, ao museu de sítio ali perto. É pequeno mais ilustrativo para quem não conhece nada das culturas do litoral norte peruano. Segui de coletivo até a Huaca Esmeralda. Uma pirâmide de barro no meio da cidade. Perigoso, um policial fez minha escolta até a entrada e quando saí, acompanhou meus passos até pegar um táxi! Só depois me dei conta de que estava na periferia da cidade! Gringo maluco. De táxi cheguei a Huaca Arco Íris. Ambas valem a visita, mas são bem pequenas. Depois embarquei em um bus de volta ao centro de Trujillo. Ainda restava a grandiosa Huaca de la Luna. Caminhei mais um tanto até o local de onde saem as vans, a linha “campina de moche” leva até a entrada. Pertencente a cultura Moche, as Huacas del Sol e de la Luna são grandes pirâmides construídas com tijolos de barro. A visita é guiada em espanhol. Impressionante lugar, vale muito o esforço. Muito vento, e a areia do deserto tava incomodando. Ali pude ver o famoso cachorro sem pêlos natural do Peru, parece um vampiro! Não recordo de ter visto em outro lugar, só em Trujillo. Atualmente corre risco de extinção e o governo esta realizando programas de conservação da espécie, principalmente na preservação da raça pura. Novamente ao centro, tive de caminhar mais um tanto de quadras para comprar a passagem à fronteira norte, Tumbes. Passagem comprada, retornei ao hotel e depois de caminhar o dia inteiro sob o sol escaldante do deserto tomei um merecido banho, tratei as queimaduras, e dormi um sono de pedra.

 

(32. Lunes, 01/02/10). Como o ônibus para o norte só saía no inicio da noite, tive tempo de percorrer o centro. Visitei alguns museus, como o de arqueologia da Universidade Nacional de Trujillo e o de Zoologia. Pela manhã vi uma pequena manifestação do APRA, acredito que de professores, puxavam slogans socialistas. Também passei em frente à sede do partido, mas como não conheço nada a respeito da sua história não me atrevi a entrar, na entrada estava escrito “casa del pueblo” (partido burguês, frente populista?). No fim da tarde fui ao terminal da empresa Emtrafesac aguardar o bus para Tumbes.

 

010. Viva o Equador! (E não tão viva a fronteira Colombiana).

 

(33. Martes, 02/02/10). Saída de Trujillo as 19:00. Ônibus desconfortável. Uma “película” de assassinato (normal), só que passou uma segunda vez tipo reprodução automática, quando ia passar a terceira vez tive que reclamar com o motora, infeliz. Isso aconteceu muitas vezes. Só o gringo reclamava! Acho que o povo não entende o que se passa na película e não se importa em ver uma segunda vez. As 06:00 estava na fronteira com o Equador. Como era muito cedo, e logo ao saltar do bus fui abordado por um taxista (o alvo preferencial é sempre o gringo) resolvi sair logo dali rumo a fronteira, que fica a uns 20 km. Em Águas Verdes fiz os tramites com o passaporte do lado peruano. O táxi vai só até a fronteira, dali peguei outro até a aduna equatoriana. É longe, e não é nada seguro andar por ali. Foi a pior fronteira pela qual passei. As cidades são unidas, Águas Verdes e Huaquillas, ruas barrentas, todos te encaram com olhar atravessado, me lembrou algo dos filmes asiáticos tipo aqueles mercados a céu aberto com lama, galinhas, cachorros loucos, frutas tropicais, carne em decomposição e ladrões. Trate de cair fora dali o mais rápido possível! Feito os tramites do lado equatoriano, ali mesmo em frente à aduana logo embarquei em bus rumo ao cruzamento que vai até a cidade de Machala. Ali desembarquei e aguardei outro bus rumo a Cuenca. Recebi ajuda de um peruano que vinha comigo no táxi desde Tumbes, do contrário teria ido sem necessidade até Machala. No Equador existem muitas barreiras do exército a procura de drogas. Fui parado várias vezes. Você tem que descer, revistam sua bagagem de mão, algumas revistam a bagagem do ônibus. Pela conversa que tive em Quito com um brasileiro, que se aventurou em terras colombianas, as barreiras nas estradas são muito mais freqüentes, e as revistas bem mais minuciosas. As 12:00 já estava em Cuenca, no terminal há informações turísticas, ali consegui um bom mapa da cidade e uma referencia de hospedagem barata. Comecei a caminhar rumo ao centro, estava um pouco perdido, decidi ir de táxi, no entanto não há necessidade. Deixei a mochila na hospedagem e percorri o centro histórico. Cuenca foi sem duvida umas das cidades mais atraentes que visitei. Cidade de quem tem “plata”; no Equador há muito mais carros particulares circulando. As pessoas são mais brancas e as mulheres mais bonitas. Pelo que vi na estrada a pecuária é bem desenvolvida, gado de leite, boas pastagens. O Equador se divide em três grandes regiões, o litoral, a parte central dos Andes, e mais ao leste a Amazônia. O eixo central, pelo qual passei, é onde estão as principais cidades do país, incluindo a capital Quito. A economia é dolarisada, foi estranho ter que lidar com as verdinhas americanas.

 

(34. Miercoles, 03/02/10). Neste dia visitei as ruínas Inca de Ingapirca, 80 km de Cuenca. No terminal de buses peguei o bus errado! Mas acabei visitando um pouco mais do interior equatoriano, localidades de Cañar e El Tambo. As ruínas são muito interessantes. Há alguns terraços e um templo central, com muros evidentemente Incas, pelo belo trabalho realizado nos blocos de pedra. Passei um par de horas ali e no inicio da tarde já estava de volta a Cuenca. Visitei o monastério de La Concepcion, um tanto repetitivo, já estava ficando farto de igrejas e ordens religiosas. Caminhei um pouco a noite, o centro estava pouco iluminado, creio que algum tipo de racionamento de energia. Não achei muito seguro. Próximo a Cuenca, esta o Parque Nacional Cajás, são 35 km, área preservada de belas paisagens andinas, pode-se chegar de ônibus desde o terminal de buses, a entrada para estrangeiros esta em U$10,00. No entanto não quis dedicar mais um dia pelos arredores de Cuenca, por tempo e grana. Rumo ao norte.

 

(35. Jueves, 04/02/10). “Temprano” fui ao terminal de buses e saí rumo a Riobamba, mais ao norte. A viagem foi cansativa, as estradas de quase todo Equador, pelo menos neste eixo andino, estão em obras, o que prolongou um pouco o tempo de viagem. Riobamba pareceu-me uma cidade muito “hermosa”. A cidade tem alguns pontos interessantes. Passei pelo museu do banco central, muito completo. O Equador é rico em cultura, foram muitos os povos que prosperaram em seu território. Limitei-me a coletar informações para o dia seguinte e decidir o que fazer. O Equador foi o melhor lugar em termos de tratamento ao turista, onde pude obter bons mapas de graça e boa orientação. Muito diferente do Peru, que só se limitava a distribuir panfletos, e muito menos a Bolívia que sequer possui atendimento ao turista, salvo a cidade de Sucre onde fui muito bem atendido por uma bela chica. Chile, Argentina e Uruguai são semelhantes no que diz respeito a informações ao turista, uma mistura de tratamento cordial e ao mesmo tempo ríspido.

 

(36. Viernes, 05/02/10). Decidi ir ao Mt. Chimborazo (6310 m.s.n.m.) distante uns 28 km de Riobamba. Embarquei no terminal de buses com a linha que vai até a cidade de Guaranda, e desci na entrada do Parque de Chimborazo. Ali se deve pagar uma entrada de U$10,00 para estrangeiros. Sorte minha que àquela hora não havia ninguém para cobrar, então segui até o primeiro acampamento a uns 4500 m.s.n.m. Muito frio, vento, e um sol de rachar, céu sem nuvens. Portanto agasalho e bloqueador solar. Vicunhas provenientes do Chile foram introduzidas no parque para reprodução (a vicunha é um dos camelideos sul americanos em risco de extinção, já foi muito caçada pela sua fina e cobiçada lã). São muito simpáticas e curiosas. Caminhando pelo parque você topa com uns montes de excremento. São das vicunhas que defecam sempre no mesmo lugar como forma de demarcar o território. Alcancei o primeiro acampamento depois de algum sofrimento, principalmente por falta de ar. Leve pouca coisa, só um lanche e um litro de água. Ali notei o grande número de lápides que lembram os que morreram ao tentar escalar o Mt. Chimborazo, primeiro avistei uma, depois outra, e outra, e mais uma... enfim umas trinta! E eu que cheguei a cogitar subir também! Ali também uma demonstração de ufanismo equatoriano. Uma placa indica que o Chimborazo está a 2 km mais perto do céu que o Everest se medido desde o centro da terra. Até onde isso esta correto eu não sei. Enfim de qualquer modo é um dos pontos mais altos do mundo! Segui caminhando até o segundo acampamento a 5000 m.s.n.m. Pé ante pé, contava uns 20 passos e parava para retomar o fôlego. Não tive uma boa visão por conta da neblina. Fiquei ali uns minutos e comecei a descer até a rodovia. Se você desejar há como dormir nos abrigos, mas há que pagar. Levei umas duas horas para descer. Para não pagar os U$10 não usei a estrada, elegi meu caminho para escapar da cobrança. Na rodovia aguardei a mesma linha que vai até Guaranda. Fui até o fim da linha. Guaranda é uma cidade pequena mas bem jeitosa. Subi até o mirador “índio guaranda”, bela vista panorâmica da cidade. Com isso dei por encerrado meu dia e as 16:45 tomei o bus de volta a Riobamba. Novamente um vendedor do “chá milagroso” (previne resfriado e AVC). A noite restaurante chinês (luxo, para mochileiro).

 

(37. Sábado, 06/02/10). Saída a Quito (3h). Paisagem constante, sem surpresas, muito semelhante a que vi no trecho de Cuenca a Riobamba. Quito é uma cidade muy grande. Esta contida por duas elevações, a oeste o vulcão Pichincha e a leste outro grupo menor de montanhas. Portanto cresceu no sentido norte-sul, não tendo se expandido muito no leste-oeste. É bem organizada. Ao desembarcar no terminal sul (ônibus interdepartamentais provenientes do sul do país) peguei o trolebus (tipo bus urbano a combustão e elétrico ao mesmo tempo) e cheguei ao centro histórico (esta linha chega até o terminal norte; há também outras linhas, uma delas passa pelo bairro de Mariscal, este pelo que me disseram é semelhante ao bairro de Miraflores em Lima; arrependi-me depois de não ter passado por ali). Hotéis lotados por conta de um evento que ocorria na cidade, perdi um tempo procurando um lugar barato, acabei ficando em um de U$8,00. Muita chuva, torrencial. Da melhor forma possível percorri o centro histórico, mas acabei não vendo nada direito. Passei pelo museu de la ciudad, nada demais, e pelo monastério e museu de São Francisco, esse sim bastante ilustrativo. Enfim não tenho muito que dizer sobre Quito, dei-me por satisfeito e encharcado voltei ao hotel, descansar para o dia seguinte.

 

(38. Domingo, 07/02/10). Levantei cedo e sai para o que seria um longo dia. Embarquei novamente na mesma linha do trolebus, mas desta vez rumo ao terminal norte. Na verdade o trolebus tem por ponto final um terminal urbano de buses, daí você deve pegar uma condução ao terminal interurbano norte, pela bagatela de U$0,05. Nem cheguei a entrar no terminal, assim que saltei do bus na rodovia já embarquei rumo a Tulcán na fronteira norte com a Colômbia. Algo comum pelos Andes, você quase nunca precisa estar dentro do terminal para embarcar, inclusive pode esperar do lado de fora dos terminais para não pagar a taxa de embarque, só corre o risco de ficar sem assento e ter de ir “intermédio” (em pé no corredor por várias horas!). A paisagem rumo ao norte é mais atraente que ao sul de Quito. Passa por vários vulcões e lagunas, e pela charmosa cidade de Otavalo, que inicialmente estava prevista no meu itinerário, mas que resolvi cortar por causa de tempo e grana, outro arrependimento! Desci no terminal de Tulcán e ali mesmo fiz meu primeiro câmbio de dólares pela desvalorizada moeda colombiana (fazer o câmbio no lado equatoriano provou-se mais vantajoso do que deixar para o lado colombiano; não confie nos cambistas colombianos, fazem o calculo errado propositalmente e sem nenhum constrangimento, tive que arrancar a calculadora da mão de um deles!) um dólar compra quase dois mil pesos colombianos. Ali também fui de táxi até a fronteira, mas há coletivos muito mais baratos. Fiz os tramites nas aduanas e fui novamente de táxi direto a Las Lajas. Aqui também poderia ter economizado. Vá de van até o terminal de buses de Ipiales já no lado colombiano, e então embarque em uma outra van (ou táxi coletivo) até Las Lajas, muito mais econômico. Como era domingo Las Lajas estava cheia de peregrinos de toda a Colômbia e alguns equatorianos. Ali foi construído um monastério com 100 m de altura em um penhasco acima de um rio. Tem seu atrativo, mas o interior da igreja não impressiona. Somente eu de gringo! Gastei um par de horas ali e por se tratar de Colômbia não me animei em ficar ali aquela noite. Resolvi voltar para o lado equatoriano e já tentar a volta para Quito aquela noite mesmo. Acontece que às quatro da tarde e sozinho na aduana da Colômbia o oficialzinho resolveu tirar o gringo para trouxa. Dialogo:

 

- Hola amigo, saída por favor.

- Desculpe señor, el sistema no permite. Deves quedar el mínimo de 24h em Colômbia.

- (Mierda) Pero no hay como resolver eso? Por favor, necessito viajar hoy (cara de perdido).

- Me ajudas que yo te ajudo! (Falou baixo e enrolado).

- Como? Perdón no compreendo.

- Me ajudas que yo te ajudo! (Novamente).

- No compreendo.

- (Uma terceira vez) Me ajudas que yo te ajudo!

- Ah sim, queres... (fiz sinal com a mão tipo contando grana).

- (Sinal de positivo com a cabeça).

 

Cretino, hijo de puta madre, huevon de mierda! Ah só na Colômbia mesmo! Queria no mínimo U$30 para carimbar o passaporte. Não paguei e cruzei a fronteira, passei uma noite em Tulcán. Maldito. Na verdade nem deveria ter feito nada nessa fronteira, é só cruzar sem problemas, visitar Las Lajas e voltar ao Equador, mas estava receoso por se tratar da Colômbia. Resultado foi esperar contra minha vontade naquele lugar. No geral não achei uma fronteira perigosa, as cidades estão distantes uma da outra, e há transporte regular, mesmo sendo domingo.

 

(39. Lunes, 08/02/10). Esse seria um dos piores dias da viagem, só perdendo para o já mencionado trecho Vallegrande/Cochabamba na Bolívia. Primeiro gastar mais grana para voltar a fronteira. Esperar umas três horas nas adunas por que o povo que estava naquele evento de Quito agora retornava a Colômbia em uma caravana de ônibus. Infeliz. Depois encarar bus até a manhã do dia seguinte. Primeiro a volta desde Tulcán até Quito, cinco horas. Do terminal norte tive de pegar outro bus que vai por uma rodovia periférica a cidade de Quito (pelo lado leste) e chega ao lado sul, uma hora nesta função. Finalmente passagem comprada para Huaquillas. No terminal sul encontrei um brasileiro de Curitiba que estava vivendo um mês em Cali, que fica a umas dez horas de Ipiales, segundo ele na casa de locais. Muito louca a viagem desse sujeito. Já estava quase quatro meses viajando! Ele continuo viagem para Guayaquil.

 

011. Enfim rumo ao Chile!

 

(40. Martes, 09/02/10). Novamente pensava ter escolhido uma boa empresa mas outra vez uma lata velha. Não observei o itinerário do ônibus, fomos rumo ao litoral, de Quito seguimos a Santo Domingo de los Colorados a oeste ao invés de tomarmos o rumo de Riobamba e Cuenca! Creio que muito mais demorado. Depois seguimos a Guayaquil e Machala, daí finalmente a fronteira. Infeliz. Chuva, noite, motorista cochilou ao volante, resultado quase um acidente e a indignação dos passageiros. Enfim vivo e sujo na aduana equatoriana. Resolvidos os tramites na fronteira, da mesma forma que antes, tudo muito rápido para sair logo dali; já no lado peruano comprei passagem direto para Lima. Passei umas quatro horas em Tumbes, hospedei-me por esse tempo em um bom hotel pra descansar um pouco antes de encarar as 21h de viagem até Lima, são uns 1250 km. Mas o ônibus da empresa Cial era bem confortável, um dos mais luxuosos que andei. Em Tumbes andei naquelas motocicletas transformadas em triciclos com uma cabine. Parecia um filme asiático. São muito comuns no Peru.

 

(41. Miercoles, 10/02/10). Depois de 21h cheguei a Lima. A paisagem do litoral já era conhecida, deserto contínuo que adentra o Chile. O litoral norte peruano bem pareceu merecer uma visita, mas não quis estender mais minha estadia em terras peruanas. Para dizer a verdade já estava farto daquele povo, depois de quase um mês por ali. Aguardava com expectativa redobrada a minha chegada as terras chilenas. Depois de duas horas de espera no terminal da empresa, e com passagem já comprada desde Tumbes, embarquei rumo a Tacna, foram mais uns 1300 km em 21h30m de viagem! Bus menos confortável que o anterior, mas ainda suportável.

 

(42. Jueves, 11/02/10). Depois de três dias seguidos dentro de ônibus para vencer os Andes equatorianos e todo o litoral peruano, cheguei a Tacna. Só mirei a cidade do alto do morrete em que chegamos. Não pareceu ter nenhum atrativo. Calor infernal sob um sol escaldante. Fui com uma americana que falava muito bem o espanhol contratar transporte até Arica, já do lado chileno. Depois de vencer a rigorosa aduana dos chilenos (o carro passou por uma inspeção com raios-X), desembarcamos no terminal de Arica. Não sabia o que iria fazer e deixei para comprar a passagem depois. Rachei um táxi com a americana até o centro. Na verdade existem táxis coletivos, linha número 8, só cuidar para embarcar no outro lado da estrada, no sentido do centro (pergunte). Caminhei umas duas horas com a mochila (que já estava com uns 20 kg) até encontrar hospedagem barata (calle Maipú, tem as hospedagens mais em conta, a linha 8 passa por lá). Depois de deixar a mochila no muquifo, sai para explorar a cidade. O Chile tem duas horas a menos que o Peru, então ganhei um tempo extra para aproveitar. Perguntei qual coletivo devia pegar para ir até as praias (quase todos têm ponto final lá). As praias de Arica não são em nada parecidas com Florianópolis. Achei tudo muito sujo, e a água é fria. Apesar disso a praia estava cheia de banhistas. Passei um bom tempo por ali. Acabei não subindo o morrete que fica logo atrás da cidade, o “morro de Arica” donde há uma vista panorâmica que deve ser muito bonita. Tive que retornar ao terminal e garantir a passagem a Iquique para o dia seguinte. Por isso dei for finalizado meu dia em Arica. Algumas horas mais creio que bastam para uma boa visita.

 

(43. Viernes, 12/02/10). Iquique depois de quatro horas. A viagem não percorre a costa, a ruta 5 vai mais pelo interior, mas de qualquer modo paisagem muito atraente, vales férteis surgem em meio ao deserto. Cidade bem agradável, o clima é ameno pela proximidade com o litoral. A vista desde a chegada do alto da duna do acesso a cidade é perfeita, procure assento no lado esquerdo do ônibus. Fui pela empresa Tourbus (só usei essa empresa enquanto estive no Chile), desembarquei no terminal particular da empresa. Ali já comprei as passagens para Calama e desta a San Pedro do Atacama para o dia seguinte. Com os 20 kg nas costas comecei a caminhar em direção ao centro, a procura de hospedagem. Ocorre que tudo no Chile é absurdamente caro! Comida, transporte, alojamento e passeios. Praticamente retornei tudo, em uma região mais periférica, na calle Martinez, onde há varias opções em conta para o orçamento de mochileiro, esqueça o centro. Depois de acomodar minha carga no residencial, fui caminhar. O centro tem seu charme, é bem agradável. Visitei o museu regional, ênfase a cultura Chinchoro que viveu no litoral norte do Chile. Depois as praias. Muito mais limpas do que Arica, também achei que são melhores para banhistas, e são mais extensas. Com isso já tinha por encerrado meu dia. Ocorre que não sei dizer se as mulheres chilenas são mais bonitas que as equatorianas. No Chile há mais pessoas brancas, mas o norte ainda tem muitas características indígenas, pelo que me disseram ao sul a população é mais de descendência européia.

 

(44. Sábado, 13/02/10). Tive o cuidado de escolher ventana mirando para o mar. Como estava do outro lado do continente, o sol não nasce no oceano, mas sim nas montanhas. Às vezes é bom prestar atenção na orientação do sol ao eleger um assento. O litoral como já disse é muito diferente do atlântico. Muito lixo mesmo longe das cidades, e muita gente acampando em toda a costa. A viagem segue até Tocopila acompanhado a costa pela ruta 1, donde toma o rumo de Calama, passando por vários lugares tipo cidade fantasma (que prosperaram com a exploração do salitre mas hoje estão desaparecendo). A paisagem do deserto é monótona. Calama esta bem no centro do deserto chileno, um inferno, não há atrativos, e mesmo tendo que esperar umas três horas pelo ônibus que ai a São Pedro, não tive animo de sair. Com atraso, saída rumo a São Pedro do Atacama, a paisagem muda um pouco, pois o lugar esta situado em um vale fértil, e a cor verde reaparece. Tratei de assegurar minha passagem de volta a Arica (último bilhete, convém comprar com antecedência), a sai pelo vilarejo em meio a uma ventania que jogava areia nos olhos. Andei muito procurando uma hospedagem em conta, mas ali é tudo supervalorizado, há muita procura, e se tratando de Chile... Por uma cama em quarto compartido paguei U$20,00! Absurdo completo! Um refrigerante de 500ml saiu pelo equivalente a R$5,00. Então comprei somente o passeio dos Gêiseres del Tatio (não adianta pesquisar muito os preços são muito semelhantes, só barganhar com a já clássica “não sou europeu, no tengo plata”) que fica a uns 96 km de SPA. Percorri um pouco mais o vilarejo e fui dormir, pois a saída era as 04:00 da madrugada.

 

(45. Domingo, 14/02/10). Acordei assustado pelo meu atraso, saída as 04:30, as vans percorrem o vilarejo catando os turistas. No caminho de ida não se vê nada pelo horário, tempo para dormir. Muito frio! Na entrada dos gêiseres as 07:00 o termômetro indicava -2ºC. Eu não me agasalhei bem, não sentia o nariz e os dedos das mãos. Resultado foi um resfriado. O espetáculo dos gêiseres só pode ser bem admirado durante a manhã, quando estão em plena atividade. Há opção de banhar-se nas águas termais, mas não tive coragem, principalmente pelo frio na hora de sair. É muito bonito, mas é um programa bem turistão. No fim penso que talvez fosse melhor ter deixado esses passeios já bem conhecidos e fazer algo mais independente. Averigüei que há ônibus para o vilarejo de Toconao a beira do Salar de Atacama, talvez uma alternativa aos programas de turistão. Dali se pode seguir a diversos vulcões todos com quase 6000 m.s.n.m. Na volta vale a pena tentar ficar acordado e mirar a paisagem, com vários vulcões com neve no horizonte, e tentar distinguir alguma vizcacha (tipo coelho) no meio das rochas, num cenário dominado pela paja brava. No inicio da tarde já estávamos de volta ao vilarejo. Passei pelo museu local, é grande e bem ilustrativo sobre a vida dos indígenas atacamenhos. Deixei de ir a Chuquicamata que já foi a maior mina de cobre do mundo (um pouco acima de Calama), mas creio que não perdi muita coisa. Estava um tempo bem abafado, calor infernal e um sol escaldante. San Pedro de Atacama pareceu um vilarejo bem jeitoso, a presença de água permite o crescimento de algumas árvores, como o Chañar e o Algarrobo, cujos frutos ainda são consumidos por indígenas. Lá pelas 15:00 procurei uma sombra e este foi um dos raros momentos que fiquei sem fazer nada durante o dia, ler os guias de viagem ou refletir um pouco sobre minha jornada. Entristeceu-me o fato de estar ali sozinho. Cheguei a ficar vários dias sem pronunciar palavra, somente coisas do cotidiano, hay bus, no hay bus, hay alojamiento, táxi, etc. As 20:00 embarquei de volta a Arica, desta vez tudo pela ruta 5, sem passar pela costa, mas a noite não pude ver nada.

 

012. Outra vez Bolívia! Sajama, Oruro, Salar de Uyuni, Potosí, Sucre...

 

(46. Lunes, 15/02/10). Foram nove horas de viagem com relativo conforto. Consegui um dos últimos assentos para as 08:00 na linha que vai desde Arica até La Paz, passando pelo lago Chungará (ainda Chile) e por Tambo Quemado (aduana boliviana). No ônibus conheci um jovem casal de chilenos, Natalia muito simpática. Alias achei o povo do Chile muito atencioso. O único problema é que falam rápido demais. A estrada pareceu um pouco perigosa, vi uns dois caminhões estraçalhados no fundo do vale! Logo depois de Tambo Quemado esta o cruzamento para o Parque Nacional de Sajama, ali aguardei um tempo até passar uma van para o vilarejo de mesmo nome, são uns 15 km. Na entrada paguei o ingresso ao parque, e arranjei um muquifo. Não há hospedagem com duchas no lugar. Então sem banho. É um lugar magnífico. O imponente Mt. Sajama que domina o horizonte próximo ao vilarejo é o mais alto da Bolívia com 6549 m.s.n.m. O altiplano é vasto, dominado pela paja brava e pelos rebanhos de lhamas dos camponeses. Há várias trilhas que se pode caminhar. Eu fui apenas aos gêiseres, distantes uns oito quilômetros. Frio, vento, sol forte, falta de ar, e o resfriado adquirido em SPA começando a atuar, demorei a chegar. Os gêiseres de Sajama não chegam nem perto do espetáculo de SPA. Mas vale a caminhada pelo altiplano no meio das lhamas. Estas de acordo com o proprietário recebem umas fitas coloridas nas orelhas ou mesmo na lã, desta forma distinguem os animais que andam livremente pelo altiplano. Uma chuva ameaçava, mas ficou só em torno dos picos nevados. No caminho parei para conversar com um ancião que não pode mais acompanhar os demais no cuidado dos rebanhos. Estava sentado ao lado de sua pequena cabana. Conversei naturalmente sobre a criação destes camelideos. Disse que não ganham mais do que o suficiente para a subsistência, vendem a lã, os animais vivos ou a carne. Era época de partos, e os demais camponeses estavam no campo acompanhando os animais. Despedi-me cortesmente do velho e segui meu caminho. Ao voltar ao vilarejo tive calafrios e febre. Tratei de ir para cama o mais rápido possível e me cobrir bem com todos os cobertores, faz muito frio a noite. Era o que me faltava, ficar doente num lugar desses. Tomei um comprimido para febre e dormi. O Mt. Sajama não é escalado nesta época por que a neve não esta firme. Somente no inverno, e segundo o guarda parque há grande afluxo de alpinistas nesta época.

 

(47. Martes, 16/02/10). Resolvi cair fora de Sajama por conta da doença. Mas o parque bem merece no mínimo uns três dias para ser bem explorado. Mas foi muito válido, quero voltar lá algum dia. As 06:00 da manhã sai a única van do vilarejo com destino a Patacamaya, no cruzamento da rodovia que leva a La Paz (norte) e Oruro (sul). Segui os 150 km muito desconfortável. A paisagem só muda rumo a Oruro pelo cultivo de papas, no mais o altiplano pareceu bem monótono. Como era época das chuvas o verde ainda não é cor proibida, no inverno a seca não permite sua presença. Em Patacamaya deve-se tomar um segundo transporte até Oruro. Ônibus vindos de La Paz passam a cada 15 minutos. Eu e um casal de argentinos que já vinham comigo desde Sajama, paramos um destes. A chola que cobra as passagens abriu o bagageiro e para nossa surpresa um cordeiro saiu em disparada, a ovelha berrava pelo filhote. A cholita correu a capturou o fugitivo. Só o que faltava querer colocar nossas mochilas junto à urina e fezes dos bichos. Mas ela acabou fechando os bichos e abrindo outro. Tudo bem, vamos! No ônibus passou outra chola vendendo umas frituras muito esquisitas. Pegava a comida com as mãos e contava o dinheiro também (as cédulas bolivianas não são nada limpas ou novas), detalhe que a comida estava em um saco de lixo tipo destes de plástico reciclado. Êh, delicia! Desembarquei perto do terminal terrestre de Oruro e perguntei aos argentinos se topavam rachar um táxi até a estação de trem já que estávamos a umas quinze quadras. “No tenemos plata”. Fui no espírito deles caminhado também (alias os mochileiros argentinos quase sempre não recorrem a táxi, vão caminhado ou de coletivo). Uma loucura. O carnaval já havia acabado e estavam desmontando as arquibancadas montadas nas ruas (o carnaval de Oruro é o mais famoso e animado dos Andes, segundo falam; uma pena ter perdido). Muitos vendedores ocupando a rua, muita sujeira, esgoto. Oruro é uma cidade decadente, outrora fora uma das cidades mais importantes da Bolívia como pólo industrial. É feia, suja e imagino que perigosa. Depois de caminhar até a estação de trens, paguei para deixar a mochila, já que a boleteria só abria as 14:00, eu tinha umas duas horas para explorar a cidade. Como era carnaval, as crianças brincam de atirar água em quem passa, escapei de tomar alguns banhos. Os sacanas ficam no alto dos edifícios atirando bexigas d`água. Caminhei até uma parte alta da cidade. Lá de cima tive novamente a impressão de que Oruro é muito suja e sem atrativos. Segundo uns chilenos com quem fiz o passeio do Salar de Uyuni, e que estavam ali no carnaval (foram furtados no meio da folia) há na cidade um mercado de carnes a céu aberto. Carne em decomposição ainda é comercializada! Segundo outros relatos, o povo defeca nas praças! Então, acho que as duas horas que passei ali foram o suficiente. Por sorte consegui passagem para o trem das 15:30, no carnaval você corre o risco de não conseguir, por isso compre com antecedência. Mas tive de comprar passagem mais cara, como se meu destino fosse depois de Uyuni, comprei para a localidade de Atocha. Achei esse trem muito mais confortável que o “trem da morte” na fronteira com o Brasil. A paisagem é a mesma do altiplano, só que passamos por dentro do lago Poopó, avistei alguns flamingos. O trem levanta muita poeira, e coma estava no ultimo vagão não pude deixar a janela aberta. Cuidado para não tomar um banho, pois a pirralhada em torno de Oruro atira bexigas d`água no trem, eu avistei eles se preparando e consegui fechar minha janela, outros não fizeram! As 22:30 desembarquei na estação de Uyuni. Caminhei um pouco e encontrei facilmente alojamento barato (alias na Bolívia tudo é mais barato, o país mais em conta para mochileiro) e confortável. Como as agências de turismo estavam cerradas deixei para o dia seguinte acertar o passeio pelo Salar.

 

(48. Miercoles, 17/02/10). Uyuni uma surpresa, muito mais jeitosa do que imaginei. Tratei de ir logo a uma agência acertar para o passeio que saem no mais tardar as 11:00 todos os dias. Como estava sozinho e deixado para última hora, as agências ficam tentando encaixar você em algum carro. Resultado é que sai só perto do meio dia um pouco irritado. Acredito que não há grandes diferenças entre agências, fora o preço que você deve tentar chorar, acabei pagando pelo passeio de três dias e duas noites U$85,00 (li relatos de pessoas que fizeram por U$70,00). O coche era razoável, uma caminhonete 4x4. O chofer um pé de chumbo, don Raul. O Salar é realmente magnífico. Imensa planície de uma grosa camada de sal que flutua sob água, se perdendo no horizonte. Alias Horizonte é algo difícil de definir, pois as montanhas ao longe parecem flutuar por que não há como enxergar sua base. O Salar é realmente salgado (afirmação de peso)! Depois de passarmos por um vilarejo para o almoço do primeiro dia (a comida foi boa em todos os dias), saímos para o hotel de sal, claro totalmente erguido com blocos de sal. Daí seguimos até a isla del pescado, exatamente no centro do salar. É impossível ficar sem óculos escuros! Use bloqueador solar! Subindo ao topo da pequena ilha tem-se uma visão de todo o Salar, 360º. Na ilha crescem espécies de cactos endêmicas, que não existem em outro lugar. Há exemplares com mais de 10 m. Depois disso a parte do Salar acaba e o passei segue rumo ao extremo sudoeste da Bolívia na Reserva de Fauna Andina Eduardo Avaroa. A primeira noite passamos no vilarejo de San Juan. Ali encontramos ducha caliente. No grupo uma jovem médica boliviana na companhia de sua mãe, duas anti-Evo de Santa Cruz de la Sierra e três chilenos de Santiago, dois caras e uma garota, ela bonita. Acredito que a relação dos chilenos era poligâmica.

 

(49. Jueves, 18/02/10). O segundo dia começou com visita a umas chulpas da cultura Lipez ao lado do vilarejo de San Juan. Trata-se do local de enterro dos mortos junto com oferendas. Eram feitas no interior de rochas originarias de algas marinhas petrificadas (novamente lembrando que os Andes eram fundo de oceano). Muitíssimo interessante. Seguimos viagem rumo ao extremo sudoeste. Nesse dia passamos por várias lagunas (a maior e mais bonita é a “laguna colorada” de cor vermelho-alaranjada), plantações de quinoa (o cereal dos Incas), desertos coloridos com rochas de formas esquisitas, e miramos um vulcão ativo no fronteira com o Chile (vulcão Ollagüe, 5865 m.s.n.m.). A segunda noite passamos sem banho. Tomei algumas cervejas com o povo do Chile, algo que não cai nada bem em altitude! Vinho de Tarija (fronteira com Argentina), muito suave, parecia suco de uva. Contabilizamos dois pneus furados.

 

(50. Viernes, 19/02/10). O ultimo dia começa cedo, passamos por alguns gêiseres, também muito inferiores aos de SPA e umas águas termais. Não tive animo de entrar, frio de congelar. Em seguida rumo à laguna verde que contem arsênio, não há flamingos ali, junto ao vulcão Licamcabur na fronteira com o Chile, uns 45 minutos de carro até SPA! Vejam só estava tão perto dali antes. Mas se escolher entrar por SPA seria mais caro e não teria visitado o Sajama e Oruro. O resto do dia é à volta para Uyuni. Passamos pelo “deserto de Dali”, muito colorido e lembrando aquela pintura com os relógios derretidos. Muitas horas dentro do carro, já estava ficando insuportável. Enfim vivos, despedi-me dos demais e fui à mesma hospedagem passar aquela noite. Antes de sair para o salar já havia garantido a passagem de ônibus para Potosí, recomendo fazer o mesmo. Concluindo, não vale passar pela Bolívia e deixar o Salar de fora! Sem duvida foi uma das coisas mais interessantes de toda a viagem.

 

(51. Sábado, 20/02/10). Saída para Potosí. A carretera esta em obras, recebendo asfalto. Dois argentinos estavam com a janela aberta e tomaram um banho com um carro pipa que estava trabalhando ali, me caguei de rir! Muito legal ver o Salar e a cidade de Uyuni quando se sobe a cordilheira. A paisagem não muda muito, fora quando surge um rio e o verde reaparece, junto com os rebanhos de lhamas. No caminho passamos pelo pueblo mineiro de Pullacayo local das famosas “teses de Pulacayo” escritas no congresso mineiro de 1946 as vésperas dos conturbados acontecimentos de 1952. Cheguei a uma região da cidade perto do antigo terminal. Dali fui de táxi ao novo terminal um tanto afastado do centro, já garantir minha passagem para Sucre, mas existem tantas empresas que não é necessário comprar este trecho com antecedência. Retornei ao centro e caminhei até achar uma hospedagem razoável. Não pude ver muito neste dia pois quando saí já estava no fim da tarde. “El cerro rico” domina a paisagem. Totalmente mutilado perdeu sua forma e cor original, dele brotam as saídas das minas como um imenso ninho de formigas que expulsão material de suas entranhas. Palco de grandes horrores no passado a mina continua a ceifar a vida de jovens mineiros bolivianos. Há passeios para as minas, mas considerei isso uma ofensa aos operários, não fui.

 

(52. Domingo, 21/02/10). Acordei cedo para visitar a “casa de la moneda”, local onde foi realizada a cunhagem das moedas bolivianas até um passado recente. Muito ilustrativo, a visita é guiada e dura um par de horas. Imensa edificação com grandes muralhas já foi usada como fortificação em períodos de conflito interno. Vale muito a visita. Como era domingo acabei não visitando mais nada. Passei as horas caminhando pela cidade. Fui até a periferia perto do cerro rico. Não recomendo! Era o domingo de “carnabalito” um pequeno carnaval depois do feriado. Vi alguns carros alegóricos, mas nada grandioso. Potosí não tem mais a glória do passado, é outra cidade em decadência. Lembro que perto do mercado público o cheiro de merda e urina era muito forte, cidade também muito suja, mas ainda assim muito mais atrativa do que Oruro. Dei por encerrada minha visita e segui para o novo terminal, rumo a Sucre. Depois de umas quatro horas cheguei ao destino, desembarque no terminal longe do centro. Pela hora que cheguei não quis caminhar e dividi um táxi com uma boliviana até o centro. Acabei me hospedando em um muquifo barato perto do mercado público. Ajeitei minhas coisas e dormi.

 

(53. Lunes, 22/02/10). Sucre muito hermosa! Muito limpa e burguesa, nem parecia Bolívia! Morenas bonitas. Carros de luxo. Dediquei o dia a percorrer vários museus que explicavam sobre a presença indígena no departamento de Chuquisaca, e possuíam muitas peças de arte sacra, espanhola e mestiça. Impressionei-me com um quadro com o plano da cidade de Potosí de inicio do século XVIII pelo qual pude situar-me muito bem! Outro museu interessante é o de arte têxtil indígena da região ao redor da cidade. Ali se podem apreciar várias peças produzidas por várias culturas, e suas distinções quanto a técnicas e estilos. Ao fim do dia subi até o mirador de la recoleta, onde se tem uma visão panorâmica de toda Sucre. Sucre é chamada de cidade branca, todas as edificações recebem pintura branca, preservam edifícios históricos (por força de lei) o que faz dela uma cidade realmente muito bonita. Achei também que é muito segura, não há problema em se caminhar pela periferia. Ao cair da noite resolvi ir ao terminal de buses caminhando, sem problemas. Não consegui passagem para Tupiza rumo à fronteira com a Argentina. Deixei para o dia seguinte. À noite me sentei na praça central e apreciei o movimento. Muitas pichações com slogans revolucionários do P.O.R.

 

(54. Martes, 23/02/10). Pela manha retornei ao terminal de buses e comprei a passagem a Tupiza para o fim da tarde. Tive tempo de visitar o museu da casa de la liberdad, puro ufanismo burguês bolivariano. Ali foi declarada a independência da Bolívia e tomada a decisão de não se anexar ao território peruano. Simon Bolívar era favorável a anexação, mas seus adversários sabendo de sua vaidade deram seu nome a nova nação, e fim da história. Neste museu também se conserva a primeira bandeira do estado argentino. Depois dessa demonstração de patriotismo burguês voltei a hospedagem para catar minha carga e sair ao terminal. Na hora de pagar pelas duas noites (é comum cobrarem sempre adiantado, mas desta vez não) fiquei esperando o velho se manifestar. Detive-me um momento. - Estamos acertados chefe? Ele se limitou a dizer adeus. Detive-me outra vez na porta e balancei a cabeça negativamente. Não sei por que mas isso perturbou minha consciência. Pensava a todo instante: - Ele tem meu nome e numero de passaporte! Enfim passei a perna no velho e não aconteceu nada. Deveria ter feito mais disso! Embarquei rumo a Tupiza. Novamente tocou-me assento na ultima fileira do ônibus, mas desta vez ao menos na ventana. A paisagem de Sucre a Potosí é muito atraente, não havia visto anteriormente por que viajava a noite. Até pouco depois de Potosí a estrada é asfaltada, depois é terra assentada. Mas Evo parece querer asfaltar as principais vias do país. Mesmo a noite pude ver a paisagem com os relâmpagos da chuva que se aproximava. Muito legal tudo aquilo. Ali já se avistavam árvores e cactos. A chuva começou a cair forte. Sentia-me como uma criança feliz sem um motivo claro, só por estar ali, ria sozinho. Mas a felicidade deu lugar a preocupação. A estrada cruza um rio, mas não há ponte! Com a chuva o nível da água subiu, e tivemos que esperar uma hora até o motorista criar coragem e seguir adiante. Chegamos a Tupiza as 03:00 da madrugada. Catei o guia da Bolívia e averigüei as hospedagens disponíveis no lugar. Todas próximas ao terminal, então saí sozinho embaixo de chuva. Logo encontrei uma. Quarto amplo e com baño privado, o melhor lugar que consegui na Bolívia, e era barato. Apaguei as 04:30.

 

(55. Miercoles, 24/02/10). Tupiza também muito hermosa. Mais grande do que imaginava. Fui ao que chamam de cânon, muito legal caminhar por ali percorrendo o mesmo caminho que a água só que em sentido contrário. Trata-se de uns morretes que sob ação das chuvas estão sendo erodidos com alguma intensidade. Nota-se que o material que forma os morretes tem pedras roliças cimentadas por argilas, acredito. Tudo aquilo era leito de rio? Caminhei pela quebrada durante umas três horas e resolvi subir até o topo de um destes morretes. Avistei Tupiza ao longe e uma imensa planície que rumava ao sul. Alguns cerros tinham várias cores praticamente no sentido vertical sugerindo uma grande movimentação do material original. Tirei algumas fotos e encarei a volta. Mirei um pouco da praça e a igrejinha, almocei uma pizza e me retirei, caia uma chuva torrencial.

 

013. Argentina, Iruya, Jujuy, Salta, Tucuman, BsAs.

 

(56. Jueves, 25/02/10). No hay ferrocarriles! Por conta das chuvas dos dias anteriores, um trem saiu dos trilhos e não consegui sair rumo a Villazón como queria, na fronteira com a Argentina. A saída foi ir de bus. No dia anterior fui ao terminal averiguar os destinos possíveis (cogitava ir a Tarija) e avistei o que parecia ser um ônibus, tive pena de quem andava naquilo. Não sabia que tocaria a mim subir naquela coisa! Sem opções, a magnífica Trans Sagovia oferecia um serviço de meia estrela rumo à fronteira. A estrada não é asfaltada ainda, mas a mão de Evo esta trabalhando por ali também, cruzamos uns pequenos cursos de água e continuamos. A paisagem é muito bonita cada vez mais perdendo altitude rumo ao noroeste argentino. O rio Tupiza corria caudaloso e barrento a beira da estrada. Até o momento em que o motora conseguiu eleger um caminho que se provou um atoleiro. Descemos todos, um casal de franceses só arregalava os olhos perplexos. Depois de uma hora saímos novamente. Essa fronteira é uma merda. Duas horas no lado boliviano só para carimbar o passaporte, e mais uma no lado argentino para uma revista ridícula, deveria ter tentado escapar. Villazón tem um aspecto horrível, caminhe o mais rápido possível até a aduana, não é tão longe. Um aviso na rua, “proibido urinar e ou defecar sob pena de multa e cárcere”. La Quiaca é o lado argentino, também não possui motivo algum que faça você prolongar sua estadia, caminhei até o terminal, tranqüilo. Saquei PA$1000,00 e segui rumo a Humahuaca. A gendarmeria argentina revistou o ônibus várias vezes. Já noite cheguei ao destino, muita chuva, entrei na primeira hospedagem que vi e fiquei por ali mesmo.

 

(57. Viernes, 26/02/10). Este era para mim um dos pontos altos da viagem, se conseguisse chegar ao vilarejo de Iruya no extremo noroeste argentino já podia dar por completa minha jornada, o restante seria acidente na volta para casa. Comprei o boleto na única empresa que faz o trecho e saí por um par de horas por Humahuaca. O lugarejo tem seu charme. Ainda lembra a Bolívia pela etnia do povo, mas já se podem notar grandes diferenças notadamente quanto a urbanização e a higiene. O ônibus é bem jeitoso como já havia visto em uma fotografia da internet. Seguimos em comboio. Há três rios que devemos cruzar, sem ponte. Isso atrasou em uma hora a viagem, pois os motoristas deviam eleger o melhor leito para passar. A estrada serpenteia as montanhas em uma paisagem muito agradável. Passamos pelo ponto mais alto a uns 4000 m.s.n.m. depois descida até o vilarejo. Um temporal recente havia destruído o acesso ao vilarejo, por isso desembarcamos uns dois quilômetros antes (leve apenas uma muda de roupa, deixe o restante em Humahuaca) pelo que tivemos que andar. Há poucos gringos nesta época por conta das chuvas. Muito hermoso o vilarejo. A beira de um rio nas montanhas, isolado, a vida corre devagar. Ainda é predominantemente boliviano. Subi ao mirador donde se tem vista panorâmica de todo o vale. Resolvi ascender um outro ponto mais elevado, mas a neblina impediu a visão de qualquer coisa (há neblina pela manhã e depois do meio da tarde, portanto suba ao mirador perto do meio dia). Caminhei mais um pouco pelo vilarejo. Jantei bem e dei por encerrado o dia. Um índio no ônibus havia perguntado (gringo) o que eu queria em Iruya. Afirmando: “- No hay nada que hacer!” Ora por isso estou indo!

 

(58. Sábado, 27/02/10). Dia mais perdido dentro de ônibus. Acordei tarde e visitei o outro lado do vilarejo, outra margem o rio. Saquei algumas fotos almocei e caminhei os dois quilômetros até a minha condução de volta a Humahuaca. O mesmo comboio (3h). Saquei minha mochila na hospedagem e segui rumo a Purmamarca. Cheguei a noite e não pude aproveitar nada. Arranjei um quarto coletivo que acabou sendo só para mim e dormi. A região onde estava é chamada “Quebrada de Humahuaca“, ocupa um vale fértil que se estende por vários quilômetros até San Salvador de Jujuy, possui cerros de muitas colores, paisagem muito atraente.

 

(59. Domingo, 28/02/10). Purmamarca gira em torno do turismo. Gastei uns dez minutos para percorrer o vilarejo e uns 45 para fazer o passeio de “Los colorados” próximo ao vilarejo, ali pude avistar o cerro de sete colores. Comprei um casaco de lã de alpaca para minha mãe na feira local e segui viagem rumo a San Salvador de Jujuy, capital da província mais setentrional da Argentina. Ao fim da quebrada esta a região das Yungas, como já dito é uma área de transição entre os Andes e florestas tropicais. O verde reaparece com intensidade e daqui em diante é presença constante. SSJ não tem nada de muito atrativo, é uma cidade grande e um tanto feia. Garanti minha passagem para Salta. Percorri o recorrido sugerido no mapa turístico, e fui a ponte que cruza o Rio Grande rumo a periferia da cidade, notei alguns olhares atravessados e resolvi retornar. Passei um bom tempo no hotel descansando. As tias do hotel eram um tanto esquisitas, todas pareciam ter sofrido de um acidente vascular cerebral, tinham movimentos e falar lentos, parecia que iam me comer. Na verdade creio que não há motivos para pernoitar ali, siga a noite mesmo para Salta, você não perde nada da paisagem, tudo já foi transformado em terreno agricultável, soja etc.

 

(60. Lunes, 01/03/10). As 10:00 sai do hotel e segui caminhando até a rodoviária (Em SSJ não é necessário táxi, o terminal fica perto do centro). Melhor ônibus da viagem, uma pena que só para uma viagem de duas horas. Bus tinha apenas três assentos por fileira, a coube a mim um assento isolado na ventana. A paisagem não muda muito, soja a perder de vista. Desembarque no terminal terrestre de Salta, moderno. Já garanti minha passagem para San Miguel del Tucuman para o dia seguinte. Como estava na Argentina segui o espírito dos mochileiros argentinos, andei umas trinta quadras a procura de hospedagem. A ironia da coisa é que na saída do terminal foi abordado por uma chica que fazia propaganda de um hostel, com táxi incluído, no fim acabei me hospedando nele por que era a única referencia mais um conta. Salta é muito mais hermosa e atraente que SSJ. Achei muito agradável circular pelo centro histórico. Subi de teleférico ao mirador no alto do cerro San Bernardo. São alguns bons minutos subindo, eu estava sozinho e não há como pensar um monte de besteiras imaginando se aquele negocio resolvesse enguiçar. Desde o alto tem-se uma vista geral de toda a cidade, percebendo-se sua grandiosidade. Passei uma meia hora ali, saquei algumas fotos e resolvi descer andando pelas escadarias (para descer de teleférico você deve pagar mais Par$10,00). Em Salta faz muito calor, clima quente e úmido, suei para descer. Ao pé do cerro, no fim da escadaria, esta o museu antropológico da cidade de Salta. É pequeno mais reúne uma cerâmica bem conservada dos povos indígenas da região. Acabei caminhado por todo o centro histórico, até a estação de trens mais ao norte da cidade. Não há trens para outras cidades pelo que averigüei, mas há um trem turístico que saí creio uma vez por semana, e ruma ao noroeste, o chamado “Trem de las nubes”, percorre 217 km (434 km ida e volta), a passagem esta a bagatela de U$120,00 ou algo assim. Passei mais um tempo nas praças do centro e voltei para o hostel. A noite, mesmo numa segunda-feira, as ruas ficaram bem movimentadas, pessoal se acotovelando nos passeios. Enfim achei Salta muito agradável, vale bem uns dois dias de visita para ver tudo com calma. Eu não tinha mais tempo, e a grana estava no fim.

 

(61. Martes, 02/03/10). Perdi cinco horas no ônibus para Tucuman. Assim que cheguei ao terminal terrestre (esta um pouco longe do centro) procurei o posto de informações turísticas. Fui bem recebido e o camarada informou tudo que precisava. No terminal mesmo, peguei uma linha urbana que me deixou perto da Plaza Alberdi. Ali esta localizada a estação de trens. Desde meus planejamentos, queria muito concluir a viagem com esse trem desde Tucuman até Buenos Aires (são 25h de viagem por trem). Acontece que nesta época, segundo o atendente da boleteria, você deve comparecer pessoalmente com até 20 dias de antecedência! Eles não vendem passagem pela internet ou telefone. Talvez agências de turismo possam comprar para você, mas não tenho certeza. Já irritado pela minha teimosia em acreditar que iria conseguir passagem, apesar das muitas negativas que tinha ouvido desde Salta, segui de táxi novamente até o terminal terrestre. Comprei a passagem para Buenos Aires para as 21:00, e sai com a mochila em busca de uma hospedagem para tomar um banho e deixar a carga. Acontece que o terminal está longe do centro, e não há muitas opções de hospedagem por ali perto. Depois de suar a camisa, percebi que estava andando numa região que eles chamam de “mercado das pulgas”, não é nada seguro, como pude notar nos vários olhares atravessados para cima do gringo perdido. Tratei de voltar correndo ao terminal. Resolvi pagar e deixar a mochila no guarda volumes e sair para explorar a cidade, fiquei sem banho mesmo (não era a primeira vez, azar de quem sentasse do meu lado!). Caminhei bastante, por todo o centro. Passei pelo museu de la ciudad e pelo museu de arte sacra da catedral. Nada de muito grandioso. O centro de Tucuman bem lembra o de Salta, fiquei na duvida de qual das cidades era maior. Como tinha muito que andar até o terminal, dei por encerrada minha visita a Tucuman, retornei ao terminal, tomei banho da melhor forma possível na torneira do banheiro e cambiei camiseta e meias. Pronto para enfrentar as 16h até BsAs.

 

(62. Miercoles, 03/03/10). Paisagem monótona, soja e outras monoculturas. Saudades das cordilheiras desnudas, do altiplano com a paja brava, dos rebanhos de lhamas e dos montes nevados. A viagem não foi de todo desconfortável, só o sono na madrugada que irrita por que não há como dormir direito no ônibus. Apesar de não ter tomado banho passou tudo bem. Ao chegar ao terminal de Retiro, estava um pouco apreensivo. A cidade é gigantesca. Consegui um mapa da região central no posto de informações turísticas (não sugiro chegar sem saber para onde ir!), e fui de táxi até a Plaza do Congresso. Taxista me aplicou um golpe, não quero nem comentar de tanta raiva. Já tinha ouvido muita história da filha da putice dos taxistas de BsAs. Basicamente não converse com eles! Diga um destino, fique na sua. Saía do carro e atire o dinheiro na cara dele e pronto, sem conversa. Tentei esquecer e segui até um hostel junto a plaza. O hostel chama-se Cabanadonde. O dono foi camarada e deixou um quarto só para mim um pouco mais barato. Nas duas noites seguintes transferi minha carga para um novo hostel do mesmo dono umas dez quadras ao sul, fui o primeiro hospede, havia acabado de inaugurar, pelo que tive muita sorte, tudo novo e pouca gente. Deixei minhas coisas na hospedagem e caminhei o que restava do dia até o terminal da Buquebus, só para saber como chegar no dia da partida ao Uruguay. Também passei pelo C.E.I.P. Leon Trotsky um dos únicos do gênero em toda a América Latina (se não é o único?). As 21:00 podre de cansado dormi sem banho ao cochilar um pouco, acordei já no meio da madrugada e tratei de tirar a casca grossa acumulada. BsAs surpreendeu-me pela sua organização e limpeza. É uma das cidades mais bonitas que conheci. Por outro lado é burguesa demais! A classe média provocou-me asco, enquanto os pobres para sobreviver separavam o lixo dos escritórios durante a madrugada e reviravam as sobras do Mac Donald`s. A cidade dos teatros, do tango, dos vinhos caros e do churrasco não poderia ser diferente.

 

(63. Jueves, 04/03/10). Caminhei todo o dia. Desde as 10:00 até as 22:30. Passei boa parte do tempo na parte leste, mais periférica, notam-se como os edifícios vão escasseando, até a Plaza Mafalda. Jardim botânico e zoológico. O que não vi em liberdade nos Andes vi preso em uma gaiola, el Condor, a maior ave do mundo. Segui até o Rosedal e o Jardim Japonês. Já anoitecia e resolvi retornar a hospedagem. Caminhei mais umas quarenta quadras, exausto e com bolhas nos pés dormi um sono de pedra. BsAs é como já disse imensa. Não há como visitar tudo caminhando. Mesmo assim não utilizei transporte urbano. Mas a cidade conta com uma boa linha de metro e ônibus.

 

(64. Viernes, 05/03/10). Comecei o dia as 11:00. Desta vez percorri o outro lado do mapa. O Bairro de San Telmo é um dos mais bonitos da cidade. Ali estão boas opções de hospedagem, pena que não soube disso antes. Passei em frente a igreja dinamarquesa e segui ao bairro de Puerto Madero, bairro novo que completou apenas 20 anos, numa região aterrada do Rio da Prata. As distâncias são enormes, caminhei praticamente toda a extensão do porto. Segui até uma ponte moderna na área comercial, tudo muito bonito e naturalmente muito burguês. Segui até a Plaza de Mayo onde esta a Casa Rosada sede da presidência. Depois fui ao monumento Obelisco na Avenida 9 de Julio onde se concentravam algumas pessoas. Eram na sua maioria imigrantes bolivianos que estendiam faixas com slogans socialistas. Percebi a presença de alguns partidos de esquerda. Partiram em marchar, e eu sem entender nada segui com eles. Acabamos em frente à prefeitura cerca da Plaza de Mayo. Ali o povo fez um pequeno protesto, não consegui captar nada dos motivos, mas acredito que se tratava de alguma questão habitacional. Algum tempo depois foram dispersando e dei por encerado mais um dia. Retornei a hospedagem passando pela Avenida Corrientes, cheia de teatros com os anúncios de espetáculos iluminados com neon. Uma lastima passar por aqui e não entrar para assistir a um tango. Enfim BsAs bem merece uma visita demorada, tipo uns cinco dias ou mais. Há muita coisa para ver e fazer. Só não dá para fazer caminhando como eu tentei, é demasiado cansativo. Amanhã seria Uruguay!

 

014. Uruguay, retorno!

 

(65. Sábado, 06/03/10). Como já sabia o caminho que deveria fazer, saí da hospedagem e fui caminhando com minha carga de 20 kg rumo ao terminal da Buquebus, umas 25 quadras. Esperei o horário para fazer o check-in e segui até a migração. Sem problemas, embarquei. O barco levou as esperadas 3h até Colônia do Sacramento. Legal ver BsAs sumindo no horizonte. No meio do rio se pode avistar tanto BsAs como Colônia, mas em qualquer uma das margens não é possível mirar o outro lado. O barco em si não tem nada demais, fora que sacode um pouco. Mas é muito mais rápido que ir de ônibus. Há como ir direto a Montevidéu, e há também um barco mais rápido que faz o trajeto em apenas uma hora só que mais caro. Colônia é muito charmosa. Há presença de arquitetura portuguesa e espanhola. A cada banco que encontrava parava para descansar. Minhas pernas não agüentavam mais. Fiquei assim lagarteando a cada sombra que encontrava. No fim do dia assisti a uma pelada braba entre o time de Colônia e um adversário qualquer. Vitória do povo de casa. A mãe do juiz devia estar com as orelhas ardendo. Colônia não é um lugar muito barato, pois recebe muitos turistas endinheirados de BsAs e Montevidéu. Não saía na rua sem passar repelente de insetos! Os mosquitos devoram você ainda vivo. Principalmente perto do rio.

 

(66. Domingo, 07/03/10). Saída a Monte. Fui caminhando do terminal de Tres Cruces até a hospedagem, umas 25 quadras. As 15:30 efetivamente comecei a caminhar pela cidade. Fui ao palácio legislativo no norte da cidade, não é muito seguro, era domingo e as ruas estavam vazias, muitos mendigos, mas não fui abordado. Segui até a feira de domingo da calle Tristan Narvaja e depois a cidade velha com seus belos edifícios históricos. Segui até o porto (donde deve sair o único produto deles, a carne) e segui pela beira mar deles, nesse caso a beira rio. Domingo a tarde parece que todos se encontram ali, onde sentam para tomar seu mate. Escutei alguns comentários que acabavam com “gringo hijo de p... !”. Não dei importância. Segui até uma área mais ao leste, bairro residencial. Com isso encerrei o dia, só caminhar as quarenta quadras de volta ao hostel!

 

(67. Lunes, 08/03/10). Já havia comprado no dia anterior a passagem para Porto Alegre, saída as 20:00. Direto a Florianópolis somente aos sábados. Portanto tinha mais um tempo para explorar Monte. Segui até a torre da Antel, empresa de telecomunicações do Uruguay, acho que o maior edifício da cidade. A visita ao alto da torre é guiada, o guia fala pelos cotovelos o que atrapalha um pouco quem só queria mirar a paisagem, resultado sequer tirei boas fotos. La do alto percebi como Monte é grandiosa e que existem alguns bairros importantes longes do centro, como ao norte onde esta o palácio presidencial. Uma pena não ter conseguido passar por estes lugares. Retornei a cidade velha e passei o tempo por ali. Depois catei minha carga e caminhei novamente até o terminal. Viajei confortável sem ninguém ao meu lado pela TTL. Na fronteira fizeram um pouco de cara feia por que estava com passaporte e não com cédula de identidade, já que nos paises do MERCOSUL não há necessidade de passaporte. Concluindo, Uruguay país mixuruca exportador de carne nem devia estar separado da Argentina, sua economia vai muito pior que a de seus hermanos. Nas refeições não pode faltar carne, e nos restaurantes os vegetarianos não tem muitas opções. Acredito que os Uruguayos tenham mais problemas de saúde por conta da alimentação rica em carne vermelha. Enfim pela proximidade acho que bem vale uma visita, o interior do país também deve ter seus atrativos. O governo esta restaurando uma linha de trem que irá cortar o país de norte a sul. Brasil!

 

(68. Martes, 09/03/10). Cheguei pela manhã, desembarque na rodoviária, centro. O entorno da rodoviária não é muito seguro, por isso catei umas informações no posto de infos turísticas ali mesmo na rodoviária e segui para uma hospedagem próxima e “luxuosa” para os padrões mochileiros (já que seria a última), conforme indicação da tiazinha muito prestativa. Muito esquisito ter que escutar português depois de quase 70 dias. Ainda saudava as pessoas com “hola”, e agradecia com “gracias” e perguntava “hay; no hay...”. Foi só no segundo dia que consegui esquecer um pouco o espanhol. Deixei a mochila e saí para andar por POA. Uma das cidades mais feias por qual passei! Suja demais, e carros demais. Muito cinzenta. Não sabia direito o que visitar, então saí andando meio que sem rumo, passei pela catedral, o centro cultural Mario Quintana, a usina do gasômetro, e por fim alcancei o estádio do Grêmio. Muita chuva, e como já escurecia retornei ao hotel. Fim do mochilaço!

 

(69. Miercoles, 10/03/10). Só sai do hotel perto do meio dia, caminhei até a rodoviária e embarquei na última viagem, rumo a Florianópolis. Um pouco demorado por conta das obras na BR 101, oito horas depois pisava na ilha novamente, depois de 69 dias. Ainda tive que encarar mais uma hora e meia até o norte da ilha. Rever a família depois de tanto tempo é até estranho, particularmente eu que nunca havia saído de casa por tanto tempo. Meu irmão casula aparentava ter crescido um pouco. Enfim de volta a rotina, só resta saudades. Mas um dia eu ponho o pé na estrada outra vez! E por que não muitas outras vezes.

 

 

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  • 2 meses depois...
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TROSKO,

 

Quando você postou o seu relato eu estava viajando e como o povo aqui do mochileiros.com escreve demais ::mmm: "perdi" o mesmo ::lol4:: somente agora procurando outro relato reencontrei o seu.

 

Como a Joy faz com muitos mochileiros, gostaria de te dar umas vassouradas ::quilpish:: você reclama D + + +

adoro a Bolívia e não acho as carreteras bolivianas muito mais perigosas que muitas estradas brasileira, também achei o percurso Vallegrande x Cochabamba até razoável se comparado a muitos percursos feitos aqui entre o nortão de Mato Grosso, sul do Pará e estados como Amazonas e Rondônia.

 

As carreteras bolivianos são perigosas pois são quase todas nas montanhas, mais não podemos negar, suas paisagens são maravilhosas.

 

Também não é "bico" de bicarbonato é "bica" que mascam junto com a hoja de coca.

 

No mais, gostaria de dizer, que apesar de você reclamar muito adorei seu relato.

 

::otemo::::otemo::::otemo::

 

Maria Emilia

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  • 1 mês depois...
  • 1 ano depois...
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Muito bacana o seu relato. Gostei também da tabela, bastante organizada...

Vou, em 2012, fazer uma Caminhada pela América do Sul...e sem dúvida aproveitarei várias de suas dicas...

Minha maior preocupação é com relação a dinheiro...entendi bem o valor que vc gastou com toda a viagem (R$ 5.000,00) em 69 dias?

Estou juntando grana para 60 dias com a previsão de gastos de R$ 200,00/ dia e estou muito preocupado se serão suficientes... Me parece que vc fez a viagem toda com média de gastos de R$ 70,00/dia?

Gostaria muito de ter suas dicas no meu facebook, - Márcio Fernando Dib - posso inserir vc no meu Grupo "VIAGEM PARA AMÈRICA DO SUL"?

 

Tenho certeza que vc será bastante útil com suas dicas e experiências...

 

se puder me mande resposta também pelo e-mail: maferdib@hotmail.com

 

Grato.

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  • 3 meses depois...
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Olá Maria, como vai. Faz tempo que não entro no mochileiros.com

 

Mudei bastante minha vida desde então... nem sei quando terei outra oportunidade como aquela, pra ficar quase dois meses e meio viajando.

 

Vou tentar organizar o blog, e postar pelo menos 2 fotos de cada lugar.

 

Até,

 

Ícaro.

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