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Perrengue (c/ P maiúsculo) em La Paz!!!


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  • Membros de Honra

SEM LENÇO, SEM DOCUMENTO E SEM GRANA EM LA PAZ

A Bolívia é um dos paises + tranquilos da América do Sul, e andar pelas ruas de La Paz é mto + seguro q circular à noite por São Paulo, pelo calçadão carioca ou q um rolê na perifa da capital portenha. Entretanto, ainda é um dos países + pobres do continente e nem por isso isento dos mesmos problemas sociais q afligem qq metrópole do 3º Mundo. Isso abrange td pratica de crimes, desde roubo, assalto, furto e até seqüestro, principalmente c/ mochileiros, q são sinônimo de dólares fáceis. A proporção destes delitos ainda é pequena, por isso tem pouca divulgação e sua na repercussão na mídia é inexistente. Mas ocorrem. Portanto nunca é de menos dar moleza a um tal de "Murphy", como aconteceu a este q agora vos escreve.

 

Totalizavam já quase 3 meses de rolê pelo continente e tava numa dúvida cruel: voltava p/ casa ou não? O destino havia me levado novamente à La Paz - enorme e belo favelão enfiado num buraco - onde essa indagação martelava minha mente. Havia feito mágica c/ as poucas doletas c/ q iniciara a trip, de modo a q ainda dispunha do suficiente p/ rodar "confortavelmente" por + um mês, algo de U$350. No entanto, o cansaço e a saudade se faziam cada vez + presentes a cada dia q passava. Bem, mesmo assim tava c/ disposição em conhecer Oruro e seus famosos "carnavales" de fevereiro, festividades tao tradicionais qto o ziriguidum tupiniquim, porém + castos e comedidos. Depois disso voltaria à minha cruel duvida existencial.

Estava hospedado há uma semana no "El Gringo Loko", tradicional albergue-muquifo q apesar de superlotado de mochileiros e c/ sinais de degradação q fariam corar qq cortiço, tinha como atrativos o ambiente agradavelmente informal, era localizado próximo da rodoviária e o melhor, tinha um preço de mãe. O dia anterior já garantira minha passagem p/ Oruro e à noite fui badalar c/ a gringaiada conhecida. Sobrara até tempo p/ um "luau c/ violão" no pátio do hostel q a galera improvisou p/ minha despedida e q durou ate q tds foram vencidos pelo cansaço, fumo e bebida. Mas por sorte eu já deixara prontas minhas coisas p/ zarpar antes do dia raiar.

Acordei de ressaca às 5:30, mas mesmo assim consegui sair do quarto q dividia c/ + 6 amigos s/ fazer ruído algum, me equilibrando p/ não tropeçar nalguma mochila, latas ou garrafa de Paceña no chão. Me despedi do atendente daquele horário e, esquecendo q poderia ter tido a opção de tomar táxi, num piscar de olhos ganhei as ruas escuras de La Paz, q ainda reluziam devido às esporádicas chuvas de verão. Logo me vi sozinho na Avenida Sucre, iluminada precariamente por postes caindo aos pedaços. O trajeto ate a rodoviária não dura nem 15min, mas não deu nem metade disso q percebi q não estava sozinho.

Do nada, apareceu um sujeito enorme e robusto q logo emparelhou comigo, afirmando q era venezuelano e tb tava indo p/ rodoviária. Achei estranho, pois o mesmo parecia não levar nenhuma bagagem, mas não dei mta importância a esse detalhe. Fomos entao caminhando juntos enqto conversavamos, qdo do nada (outra vez!) surgiu um veiculo q repentinamente parou do nosso lado. Do interior saíram dois sujeitos à paisana: um baixinho gordinho e outro "armário" gordão. O primeiro prontamente se identificou como sendo policial e apresentou suas supostas credenciais, enqto o outro parecia vigiar meus movimentos me medindo dos pés à cabeça, dando a entender q estava armado pois não parava de cavucar a cintura. Disse q essa era uma blitz rotineira atrás de entorpecentes e pediu minha identificação.

Depois de ver meu passaporte, afirmou q eu e o "venezuelano" teriamos q acompanha-los no veiculo pq iria revistar minha bagagem na "delegacia". Tentei contra-argumentar dizendo q meu ônibus partiria dentro de meia-hora, mas ele não quis nem saber. Foi qdo esbravejou insinuando q se não seria por bem seria por mal, c/ o outro grandao já pronto p/ avançar sobre mim. Como não sou besta nem nada falei q td bem, acatando suas ordens. "Fudeu!", foi o único q me veio à mente.

Fui entao "gentilmente" acomodado no banco traseiro, c/ os dois "armários" em cada orelha; de um lado o "venezuelano" e do outro o grandão carrancudo. No banco dianteiro o baixinho começava a revirar minha pochete e a cargueira, enqto o motorista dirigia a esmo pela cidade. Foi ai q a ficha realmente caiu e q tava numa situação real de risco. Lógico, senti um medo e cagaço absurdos. Já passara por esse tipo de situação no Brasil e ao menos sabia como proceder e o q esperar. Mas ali era totalmente diferente por estar fora do meu habitat, era outra língua e cultura. Não fazia idéia de como aquilo iria terminar, mas tentei obedecer e manter a calma na medida do possível. E assim passei os 10 minutos + demorados e angustiantes q tenho na memória de alguma trip.

Foi qdo o baixinho começou a ficar impaciente afirmando q não encontrava os "tóxicos", e nessas ele mostrou uma arma, gesticulando descontroladamente. Gritavam entre si num aymará incompreensível e dirigiam s/ rumo pelos cafundós de La Paz, o q aumentava minha aflição e ansiedade. C/ a garganta seca pensei até o pior: q rumávamos p/ algum lugar afastado onde seria executado a sangue-frio por não ter o q desejavam. Mas foi ai q o baixinho pareceu + calmo e devolveu meus pertences dizendo q eu tava "limpo". Na sequencia, pararam bruscamente e me empurraram p/ fora do veiculo c/ mochila e td, pra depois pisarem fundo e se perderem por tortuosas vielas centrao adentro. Por sorte minha jaqueta não prende na porta do veiculo e sou arrastado junto.

Assustado e c/ coração saltando da boca, dou uma rápida vasculhada onde tinha meus valores apenas p/ constatar q haviam sido levados (obvio!). "Ótimo, agora so falta um condor passar voando e cagar na minha cabeça!", pensei, ainda rindo de nervoso. O dia amanhecia e tava literalmente s/ um tostão no bolso! Mas se servia de consolo, ao menos reconhecia onde havia sido largado, arredores do Cemitério, e sabia me localizar bem a partir dali. Assim, perambulei na hora sgte rumo à rodoviária, onde fui dar queixa na Policía Turística. Foi lá q peguei um folheto p/ visitantes onde uma pequena nota de rodapé alertava dos golpes + comuns a turistas, embora agora fosse um pouco tarde demais: "Consejos policiales para el turista - Quando usted visita la ciudad y alguien se le acerca con ropa de civil, llevando las credenciales de la Policía, no le crea! Pueden ser ladrones q usan vehículos y documentos falsos para robar. En caso de emergencia, debe pedir ayuda a policías de uniformes verdes. Si no hay policías, dé un grito y atraiga la atención de la gente p/ q ayude. Usted no debe dar su tarjeta de crédito, pasaporte y PIN (nº personal de identificación) a nadie. Cuando usted tome un taxi, anote el color del vehículo y la placa antes de subir. No dé a desconocidos sus cosas personales, pueden ser ladrones q tratan de robarle. Si alguien le salpica c/ chocolate o café, le ofrecerá ayuda comedida, pero no acepte, porque él o ella es ladron! Si necesita ayuda de la Policía, marque este nº de teléfono: la estación de policías turísticos 2225016 o Radio Patrulla 110."

O fato era q o incidente já havia decidido q rumo tomar a partir dali. Casa. Alias, queria mesmo era ir embora o qto antes! Me passaram um álbum de fotografias p/ identificar os caras, mas parece q td boliviano é clone do outro! Sem chance! Sabia q ali não ia dar em nada, pois havia aparente má-vontade tb em ajudar. Ao menos conseguiram devolução do dinheiro p/ passagem no bus. Enfim, era isso e alguns trocados no bolso td q dispunha. E agora, José? Me aconselharam a ir numa tal Delegacia Turística Central onde teria algum apoio, mas a mesma so abriria na outra semana devido as festividades. Putz, e do q sobreviveria ate lá? Sem chance tb! O fato era q tinha q retornar p/ Brasil o qto antes. Mas como?

Voltei ao albergue matutando opções de como arrumar din-din, cogitando desde vender artesanato na praça até "rodar bolsinha" como improvável "cholita gringa", em ultimo caso. Lá contei o ocorrido a meus amigos, onde felizmente pude contar c/ a famosa solidariedade mochileira! Após a galera realizar uma "vaquinha", consegui reunir o suficiente p/ voltar p/ casa. Via terrestre, claro! Agora tinha no bolso algo de 40 Euros, boa parte deles cortesia de uma "ficante" alemã. Isso já me tranquilizara satisfatoriamente p/ ainda curtir o inicio dos festejos à Pachamama no inicio da tarde, trocar os euros por bolivianos, tomar uma chuva de granizo e garantir passagem p/ Sta Cruz (via "Trem da Morte", etc) naquela mesma noite. E, claro, de ainda tomar umas brejas c/ a galera em comemoração à minha situação esdrúxula. Qdo a tarde findou me despedi outra vez de tds e la foram + 4 dias de viagem onde, expremendo ate o bagaço aquilo q dispunha, consegui chegar em Sampa ainda c/ grana de sobra. Claro q no final tive um preju nesse episodio, mas ao menos ganhei + uma pitoresca historia p/ contar numa roda de bar hj.

 

Outro dia li num site especializado em trips independentes q um casal israelense havia sido vitima recente desse mesmo golpe, porem o desfecho desta vez fora trágico c/ o assassinato dos mesmos. Seria uma evolução natural do golpe? Tomara q não. Já estive na Bolívia noutras 3 ocasiões e aquilo realmente era uma triste novidade p/ mim. Alem de q essa modalidade de crime era recente ate pros padrões bolivianos, segundo amigos meus de lá. Portanto é de se supor q a prática tenha sido importada daqui, infelizmente. No entanto, não vai ser por isso q deixarei de visitar este belo, exótico e interessante pais. Pelo contrario, a Bolívia ainda assim é um dos paises + seguros p/ se viajar da América do Sul. Basta agora abrir o olho e ligar o tal "sexto sentido" tal qual se faz aqui.

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  • Membros de Honra

Caraca Jorge...... que situação! Pior que isso, como vc mesmo falou, poderia ter acontecido mais facilmente em qq lugar do Brasil. Imagina que perrengue, passar um apuro desses a trocentos mil km de casa.

 

Ainda bem que não teve consequencias maiores, além do susto e da grana.

 

abs!

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  • 7 meses depois...
  • Membros de Honra

magina, eu já tava pensando em ir p/ Pça Central de La Paz e fazer malabares ou até mendigar mesmo, como ja fiz na rodô de Sao Luiz (MA) pra retornar 'a sampa. Bem, no caso de necesidade extrema já tava mastigando como pedir emprestada a meia-calça, bijus e lantejoulas da minha amiga belga pra vender meu corpitcho sarado, esbelto e vitaminado a troco de din-din pro busao! :lol:

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  • Colaboradores

Deus me livre de uma situação dessas... nossa... deu até um arrepio isso. :|

 

Ainda bem que não aconteceu nada de mais grave contigo... din din é o de menos, em qualquer sinal se arruma, mas enfim... faz parte: lição aprendida-> mais vale um taxi na mão do que dois armários do lado ::otemo::

 

Agora o "chame atenção pra si" do folhetos dos policiais, me poupe. Se for igual ao Brasil, pode berrar a vontade que ninguém vai mexer um dedo. E você ainda corre o risco de ser baleado a toa.

Eu diria... "grite, mas saia correndo pro lado oposto" e corra... muito... ::quilpish::

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  • 1 ano depois...
  • 3 anos depois...

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