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  1. A Trilha das Seriemas, nas “Campinas” de Joaquim Egídio. Campinas, cidade de mais de um milhão de habitantes. Pólo de tecnologia, ciência, pesquisa. ”Capital” de uma região metropolitana com um dos maiores IDH de todo o país, que em matéria de desenvolvimento não fica devendo em nada a qualquer outra região do Brasil. Mas em se tratando de belezas naturais, infelizmente é uma região praticamente imprestável. Não há cachoeiras, altas montanhas, cavernas, grandes florestas e nem qualquer coisa que valha a pena sair contando por ai, na esperança de angariar algum turista desavisado que passe pela nossa região. Até mesmo os moradores desta região, na sua maioria, não trocariam um dia de passeio no shoping por uma caminhada ao ar livre, inclusive muitos de gabão de terem na nossa região um dos maiores shoping do mundo. Dificilmente se consegue encontrar companhia ou formar algum grupo para trilhas e caminhadas. Parece que até o Clube de excursionistas de Campinas, infelizmente, não existe mais. Se alguém duvida do que estou falando, tente pesquisar no google e pouco encontrará, não só em Campinas como também em toda a região metropolitana. Mas é claro que toda regra tem sua exceção, existe um lugar a uns 30 km de Campinas que acabou se tornando uma ilha de tranqüilidade no meio deste mar de mesmice. Joaquim Egídio acabou se tornando uma Meca para aqueles que, como nós, não acha nenhuma graça em passar o dia todo fazendo compras inúteis em shopings tão inúteis quanto. Para lá se dirigem a galera das motos, os jeepeiros e a galera dos pedais. Eu mesmo já estive lá por algumas vezes fingindo que sabia andar de bicicleta, na companhia de um amigo e foi em uma destas pedaladas que comecei a observar que a região poderia ter algum potencial para alguma pernada em um belo dia de sol. Levantei cedo no domingo e na companhia do Rogério e da Val,partimos de Sumaré,no velho NIVA,em direção a este pequeno distrito de Campinas. Depois de meia hora rodando pela Rodovia D. Pedro, chegamos ao trevo de acesso ao vilarejo, passamos pela ponte sobre o Rio Atibaia, onde alguns pescadores já preparavam suas iscas e em mais dez minutos estacionamos no pequeno mercado do povoado, para comprar os lanches de trilha. Quem chega a Joaquim Egídio em um domingo bem cedo, vindo pela estradinha de terra, ficará surpreso com o abandono que encontrará. Quase nenhum carro estacionado em sua rua de paralelepípedos. O lugar é realmente pequeno, mas quando chegar lá pela hora do almoço estará lotado, é que o lugar está cercado de vários pequenos restaurantes sofisticados que fazem a cabeça dos ricos e abastados que para cá se dirigem.O bom é que esta gente mal passará da estradinha asfaltada , que liga o vilarejo ao observatório de Capricórnio, uns 15 km á frente. E é para esta direção que partimos e uns 300 metros depois viramos a esquerda no posto de gasolina, abandonando de vez o asfalto. Logo na frente encontramos uma bifurcação, que pegamos para esquerda seguindo a placa de “Usina do Jaguari”. A estrada vai subindo, passa pelo restaurante cachoeira e uns sete km depois passa por uma ponte. Estamos bem no meio entre dois vales:O do Rio Atibaia e o do Rio Jaguarí Estes dois rios correrão quase que paralelamente até desaguarem na Represa do Salto Grande, em Americana, onde formarão o Rio Piracicaba.Menos de 2 km é o que percorremos até chegarmos na Fazenda Santa Maria, com seu casarão histórico e sua igrejinha vermelha. Passamos pela igreja e viramos a esquerda, passando por uma lagoa a esquerda e então estacionamos no campinho de futebol gramado, que pertence a um empório e lanchonete. Pegamos a estrada e seguimos no sentido leste ,em direção a usina. Uns 500 metros depois passamos pelo bar do Vicente,famoso point de encontro da galera e em mais uns 400 metros de caminhada chegamos ao início da nossa trilha. Mesmo antes de começarmos a trilha demos de cara com grupo de Seriemas, belos pássaros que para conseguir vê-los é preciso muita atenção, pois se camuflam entre a vegetação e são bem ariscas. Nós não conheçamos a região. A minha intenção era a priori, entrar no caminho do oleoduto e depois que chegássemos ao alto da serra, procurar alguma trilha de conecção com outras montanhas e depois descer o vale até poder alcançar a própria Usina do Rio Jaguarí. Abandonamos então a estrada de terra bem na placa do oleoduto, seguindo para o norte e nos guiando pela imensa trilha de uns 10 metros de largura. Não caminhamos nem 50 metros e já paramos para tomar nosso café,aproveitando uma pedra mais plana para banco.Enquanto tomávamos café , um grupo de bois Nelore nos fitava com uma curiosidade de dar medo e enquanto isso varias maritacas faziam um barulho tremendo em uma árvore junto a uma enorme pedra .Depois de degustarmos um sanduíche acompanhado com uma horrível gosma (opss... suco) de pêssego voltamos para trilha,que desceu até um riachinho de águas transparente mas de qualidade suspeita. Atravessamos o dito cujo nos valendo da lama seca que o cercava e então a trilha sobe pra valer e sem dó. Tentamos subir pela lateral, mas logo abandonamos a idéia e aproveitamos algumas canaletas de contenção de erosão até chegarmos no topo. No topo encontramos uma antiga estradinha que atravessa por cima do oleoduto e desce praticamente como trilha e parece que vai se perder vale abaixo até encontrar o próprio Rio Jaguarí. Poderíamos ter seguido por ela e talvez até seja um passeio interessante, mas ainda é cedo para abandonarmos nosso caminho e então resolvemos seguir em frente. Deixando então a estradinha para trás, seguimos até encontrarmos uma cerca de arame que nos fecha o caminho. Pulamos a cerca e a dez metros encontramos uma trilha bem batida a nossa direita. Desci pela trilha uns 50 metros até encontrar uma grande pedra,servindo de mirante. Esta trilha parece seguir morro abaixo e se juntar com a outra estradinha que havíamos acabado de deixar para trás. Mais uma vez nos recusamos a começar a perder altura, ainda mais porque avistamos um pico com pedras pontudas a um quilometro e meio de onde estávamos e achamos que seria legal explora-lo. Voltando então para o caminho do oleoduto, seguimos por uma estradinha abandonada que corria paralela a ele, depois de uns dez minutos ou menos voltamos para o nosso caminho e sem pensar muito enfrentamos um caminho cheio de mato até sairmos em outra estradinha. Passamos pela cerca, subimos um barranco de uns dois metros e reencontramos nosso amigo oleoduto, De onde estamos já podemos avistar boa parte de Campinas. O horizonte se alargou muito e também já é possível ver toda a outra face desta cadeia de montanhas. Olhando e tendo um pouco de imaginação, parece estarmos nas bordas de um “vulcão”. O oleoduto continua seguindo para noroeste e deve ser legal continuar por ele, galgando seus ombros ondulados e suas formações rochosas.Mas seguir em frente significa ficar cada vez mais longe do nosso veículo e então resolvemos seguir mesmo para o pico parecendo uma sentinela de pedra, a trinta graus nordeste. Portanto depois de subirmos o barranco da estradinha, caminhamos mais uns 30 metros e pulamos a porteira a nossa direita. Junto a porteira encontramos um grande marco de concreto com as inscrições PMC-09. Não fazemos a menor idéia do que seja a não ser é claro que PMC se trata de Prefeitura Municipal de Campinas, mas isso é óbvio e qualquer idiota também saberia. Seguindo pelo caminho bem demarcado, depois de uns quinze minutos chegamos ao nosso pico. Um amontoado de pedras de uns cinco metros de altura, que escalamos com facilidade, menos a Val, que resolveu apreciar a paisagem e delicioso vento no rosto lá de baixo mesmo. No topo das pedras encontramos um pino de aço e uma marcação com o número 64.”Vá lá se saber que diabos de marcação é essa” . O certo é que o lugar é agradabilíssimo , com uma linda visão de toda a serra e matas verdejantes no vale logo abaixo de nós. Descemos do pico e voltamos para a trilha, passamos pela porteira, que já estava aberta e começamos a perder altura até chegarmos a outra cerca de arame e a acompanhamos pela direita, descendo por um discreto carreiro que foi ziguezague ando até fazer uma curva de quase cento e oitenta graus para a esquerda e então desce pra direta em direção ao rio Jaguari, até acabar em uma cobertura para cocho, aonde as vaquinhas vem se alimentar de sal. No local existem vária formações rochosas, uma delas bem parecida com a Pedra do Segredo, no Canyon Fortaleza, na Serra Gaúcha.Ficamos por algum tempo jogando conversa fora e aproveitando para arrefecer a temperatura do corpo, descansando na sombra da cobertura do cocho. Estamos bem as margens do Rio Jaguarí, procuramos uma trilha que pudesse nos levar sem maiores dificuldades até a usina,a uns 2 km daqui. Encontramos uma que saia justamente ao lado do cocho. Era meio suja e de vez enquando desaparecia para ser encontrada mais a frente. Logo outra trilha foi interceptada e pegamos sempre para a esquerda para não nos afastarmos do rio. A trilha desceu a um pequeno vale, passamos por uma enorme árvore com um local ideal para se montar uma barraca e então tropeçamos em um lindo córrego de águas transparentes. O sol estava quente, muito quente. Havíamos subestimado a trilha, não levamos nem maquina fotográfica e nem roupa de banho. O primeiro problema não havia como resolver, mas o segundo foi resolvido com o pulo de roupa e tudo dentro dos pocinhos que encontramos rio acima . Que delícia !!!! È uma recompensa estar emerso dentro desta água geladinha depois de horas torrando no sol. Encontrar este rio foi sem dúvida uma grata surpresa, que já fez valer a caminhada. Ficamos por algum tempo imersos no riacho, mas logo tivemos que partir.Continuamos seguindo sempre bordejando o rio e ao passarmos por outra enorme árvore, avistamos mais um grupo de seriemas que ao nos ver, saíram sorrateiramente e desapareceram na capoeira. Sempre me surpreendo quando encontro animais silvestres em liberdade e é realmente um grande prazer avista-los. Pouco depois da grande árvore, decidi investigar a foz do riacho de águas cristalinas e encontrei uma linda prainha de pedras, local maravilhoso para um refrescante banho. Como já estávamos satisfeito com o banho anterior seguimos em frente sempre ás margens do Jaguarí. Deparamos-nos com vários excrementos (bosta !!) de capivaras e logo chegamos a uma cerca, de onde já avistamos uma pequena clareira.A nossa intenção era alcançar a usina hidrelétrica do Jaguari e poderíamos ter forçado passagem pela floresta e continuar seguindo o rio até chegarmos lá, acho que se tivéssemos procurado teríamos encontrado alguma trilha de conecção , mas o dia já chegou na metade e outros afazeres nos obrigou a tomar uma pequena estradinha estreita e subi-la por meia hora, até que ela nos devolveu novamente a estrada principal, onde saímos em frente ao sítio Conquista, junto a uma porteira de ferro. Pulamos a porteira e seguimos para a direita. Poderíamos descer a esquerda e alcançar a usina a uns 3 km, mas depois teríamos de voltar a subir tudo de novo e o nosso estômago venceu a nossas pernas e não nos deixou irmos até lá. Continuamos pela estrada e em menos de 15 minutos estávamos de novo no local aonde iniciamos nossa jornada. Mais 10 minutos de caminhada e reencontramos nosso jeep, que estava estacionado na lanchonete, onde aproveitamos para encher a cara de coca-cola gelada com limão e comemos umas gordurosas cochinhas. Não ficamos lá por muito tempo. Não deu para agüentar o “sertanojo” ao vivo e quando os cantores resolverão “assassinar um Raul Seixas”, resolvemos partir para não sermos pegos de testemunhas. E assim foi a nossa exploração por estas montanhas que se mostraram muito promissora para outras caminhadas futuras.Muitos que conhecem a região dirão que caminhamos por caminhos onde nativos passam todos os dias, mas se pegarmos a maioria das grandes trilhas e travessias do Brasil veremos que não passam de vários caminhos que foram ligados entre si até formarem uma grande trilha passando por pontos interessantes. Talvez no futuro consigamos explorar a outra borda do “vulcão” e conecta-la a esta trilha, formando assim uma grande caminhada para um dia e meio ou dois, com direito a um acampamento em algum lugar legal. Mas esta caminhada do jeito que está e conseguindo conecta-la com a usina me parece bem legal., talvez sirva de incentivo para outros poderem vir para cá e ampliar as possibilidades. Se me perguntarem por que Trilha das Seriemas, direi que escolhi este nome devido as maravilhosas aves que encontramos pelo caminho, mas poderia ter chamado de trilha do oleoduto ou trilha dos marcos ou qualquer outro nome, alias os meus amigos de trilha não tem nada haver com a escolha do nome e talvez nem concorde com ele. Fico na torcida para que esta região continue como está para termos a opção de podermos aproveitar, sempre que quisermos, um lindo passeio em um belo dia de sol. Pelo menos enquanto não inventarem de construir um SHOPING lá também . Divanei - abril-2010
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