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TRAVESSIA: PARQUE ESTADUAL XIXOVÁ - JAPUÍ

 

 

 

Confesso, nunca fui muito fã das praias do litoral central do Estado de São Paulo, o que chamamos carinhosamente de Baixada Santista. Sempre me pareceu lugares muvucados de mais, gente de mais, praias totalmente urbanas, que não despertava muito a minha admiração. Claro, dezenas de anos atrás, frequentei algumas, principalmente as praias quase selvagens do extremo norte do Guarujá, ali na divisa com Bertioga (Praia Branca, Preta), mas depois que conheci o litoral Norte Paulista (Bertioga, São Sebastião, Ilhabela e Ubatuba), a baixada santista virou apenas passagem. Mas calhou nesse ano, que fui intimado a acompanhar parte da família que mora no interior do Estado e que pela primeira vez iriam conhecer o mar e como o local escolhido por eles, onde alugaram os apartamentos, foi a famigerada PRAIA GRANDE, não me sobrou outra alternativa senão, inventar alguma trilha, algum roteiro que nos tirasse de lá e nos levasse para uma praia de verdade, então era preciso que eu voltasse meus olhos para os mapas locais.

 

Alguns minutos de pesquisas e logo me deparei com o PARQUE ESTADUAL XIXOVÁ-JAPUÍ, um parque criado para proteger um dos últimos resquícios selvagens de mata atlântica ali naquela região, inclusive algumas praias e também, vejam só, uma reserva indígena. A entrada em parte do parque Estadual é gratuita, sendo a trilha autoguiada, ou seja, não é necessário contratar ninguém, somente se o caminhante desejar ir até a aldeia indígena é que deverá se valer de um condutor credenciado. A fim de evitar burocracias desnecessárias, escolhemos um roteiro que pudéssemos ir por conta própria, no caso, uma trilha que leva o nome de TRILHA DO CURTUME, não mais de uns 2 km de andanças até a praia de ITAQUITANDUVA E A PRAIA DO SURFISTA, de onde parte mais uma trilha, que seria a que usaríamos para retornar, estabelecendo assim uma travessia, na verdade um circuito, que no total não nos tomaria mais que 4 km de pernadas tranquilas.

 

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Como em se tratando de Parque Estadual em São Paulo, nada é tão fácil como parece, ao entrar no site do parque, descobrimos que era necessário fazer um cadastro de cada pessoa para garantir vaga, que se limitava a no máximo 60 pessoas por dia. Além disso, tinha um monte de recomendações, como o uso de sapato para caminhada, coisa que não tínhamos, justamente porque fomos à praia e ninguém estava preparado. Então foi sum sufoco para improvisar os equipamentos solicitados, mas pelo menos consegui fazer o cadastro dos 5 integrantes, que além de mim, contava com minha esposa, minha irmã e mais dois adolescentes.

 

Do nosso apartamento até a entrada principal do parque, não deu mais que 4 ou 5 km de distância, já que o parque fica justamente na divisa entre a Praia Grande e São Vicente. Chegando à portaria, estacionamos o carro e fomos nos apresentar, mostrar o agendamento que continha um QR CODE para cada caminhante, mas simplesmente a atendente cagou para esse agendamento, somente pediu para que puséssemos nosso nome numa prancheta com os documentos, não inspecionou nada, não informou nada, ou seja, as informações do site não valeram para nada, aliás, nem sei porque ainda se mantem uma portaria ali, já que em nenhum momento vimos ninguém do parque fiscalizando nada. Enfim, estacionamos o carro na rua de acesso à trilha, já que não havia nem vagas no estacionamento, que pelo menos é gratuito.

 

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O dia já ia pela pela metade, quando deixamos o estacionamento e ganhamos a trilha demarcada e bem consolidada, pontilhada por palmeiras e matas nativa, no início, uma caminhada em terreno plano que em menos de 10 minutos nos leva no que foi uma antiga pedreira e que hoje está desativada, uma ferida aberta na montanha, que ao longo do tempo foi deixando a floresta desnudada. Voltando para a trilha principal, em mais alguns minutos começamos a subir, enfrentar uma cascalheira e é aí que a minha irmã (ROSINEI), desacostumada a trilhas e afins, já começa a colocar as mãos nas cadeiras e vai dando sinal de que o radiador pode ferver a qualquer momento. Por outro lado, minha esposa, apesar de meio esbaforida, se mantém firme e os meus sobrinhos, molecada jovem, picam a mula na frente e deixam a gente comendo poeira.

 

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Para quem não está acostumada com caminhadas com um mínimo de declive, vai sofrer, porque o sedentarismo não poupa ninguém, mas como eu disse, é uma trilha para fazer brincando e quando bate a altimetria de míseros 100 metros, ela estabiliza e daí para frente é somente aproveitar o caminho, numa descida tranquila, com alguns declives mais acentuados, mas nada demais.

 

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Pouco mais de 30 minutos, caminhando num ritmo de tartaruga paraplégica, adentramos numa floresta de bambus e taquaras e uns 5 minutos depois, passamos uma pequena ponte de madeira e antes de completarmos 40 minutos de caminhada, desembocamos num mirante que nos presenteia com vistas da pequena e selvagem prainha.

 

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Três minutos mais, nos valendo de uma descidinha tranquila, desembocamos de vez na PRAIA DE ITAQUITANDUVA. A praia está quase que vazia, não mais que uma dúzia de pessoas estão por ali, largados ao sol ou se refrescando no mar, onde as ondas estão um pouco fortes.

 

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O sol realmente resolveu queimar tudo nesse início de primavera, então todos nós caímos no mar, eu e os meninos fomos trombar com as ondas, enquanto as meninas ficaram na beirinha, se refrescando e se protegendo da fúria do mar.

 

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O nome do parque é em alusão aos dois morros que se elevam na unidade de conservação, o morro do Xixová (morro pontudo) e o morro do Japuí (morro grande). Além das praias do Itaquitanduva, ainda preserva as praias de Paranapuã e do Canto do Forte, essas do outro do lado do morro de onde estamos, à nossa esquerda.

 

Bom, depois de uma bela refrescada no mar e de comermos alguma coisa, foi hora de voltarmos para a caminhada. Pegando agora a trilha para a nossa direita, vamos em direção a maior praia desse roteiro, a PRAIA DO SURFISTA. A trilha é bem larga, plana e menos de 05 minutos chegamos ao mirante do canto esquerdo da praia, que igualmente a praia que acabamos de deixar, é desabitada e selvagem.

 

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Eu parei no mirante para bater uma foto, o resto do grupo seguiu. Ao contrário da prainha anterior, essa está lotada, claro que não como as praias urbanas, mas há um número considerável, só que como é uma praia extensa, as pessoas se espalham pelo local. Apesar de bonita, achei muito mal cuidada, por estar em área e preservação ambiental, com muito lixo espalhado acima da linha da maré, claro que a culpa é apenas da natureza, que traz de outros lugares, mas claramente não há nenhuma manutenção pelo parque, pelo menos foi essa a minha impressão. Além disso, o local é bem mal frequentado, a maconha come solto por lá, caixa de som e muita bebida, coisas que são proibidas pela própria unidade de conservação, que deveria fiscalizar, mas com certeza faz vistas grossas.

 

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Me encontro com as meninas, que não aguentando o calor, estacionam numa grande bica d’água, onde um cano serve para tirar o sal do corpo e outra fonte ao lado, abastece nossas garrafas com água potável. O menino Pedro e seu amigo foram ao mar e eu aproveito para fazer o mesmo, um último mergulho antes de retomarmos nossa caminhada de volta.

 

 

 

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Agora iremos voltar por outro caminho, uma trilha mais curta que parte de um bairro, pouco mais de 1 km, onde o Parque Estadual também mantem uma portaria e é por onde vem a maioria dos que frequentam essa praia maior. É uma trilha calçada com degraus de madeira e corrimão, pelo menos nesse trecho inicial, até que ela atinja a maior altimetria, que não chega nem a 100 m de altitude.

 

 

 

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Menos de 3 minutos, passamos por uma ponte de madeira, justamente encima do córrego que abastece a bica lá embaixo e a partir daí, ela embica para cima de vez e é nessa hora que a minha irmã empaca e é preciso acompanha-la mais de perto, contando umas lorotas de que já está acabando a subida, afim de fazê-la não desistir e sucumbir de vez. Mas ela aguenta firme, mesmo que a língua venha arrastando subida acima, até que menos de 15 minutos depois, o caminho estabiliza de vez.

 

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Caminhando sobre pedras irregulares, mas de fácil caminhar, vamos seguindo e cruzando com todo tipo de gente, carregando seus molambos, desde caixas de isopor, aos trambolhos eletrônicos, sua farofa e sua galinha e não dá nem meia hora, chegamos a uma construção abandonada que praticamente marca o fim da nossa jornada e logo em seguida, chegamos ao estacionamento, onde está uma instalação improvisada que serve como portaria do parque, que controla ou deveria controlar o acesso e se faz isso, não cumpre as regras que estabeleceu no seu site.

 

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Essa caminhada toda, contando as 2 trilhas pode ser feita e menos de 3 horas, caso seja seu único objetivo e não queira ficar lagarteando na praia e esse foi o tempo que gastamos. A saída da TRILHA DOS SURFISTAS é num bairro bem meia boca, para falar a verdade, um lugar meio sinistro, então é bom estar atento e o meu conselho é que se retorne pela mesma trilha, ou seja, pela TRILHA DO CURTUME, além de mais segura, você já volta direto para o carro, mas eu queria conhecer a outra trilha. Nós caminhamos por mais uns 15 minutos até encontrarmos uma lanchonete para comermos algo e deixei o grupo descansando e parti sozinho para resgatar nosso veículo, uns 800 metros mais à frente. Quando cheguei de volta à sede do parque, me apresentei para dar baixa no nosso grupo e avisar que havíamos saído pela outra portaria, mas surpreendentemente ou não, falaram que não precisava e nem perguntaram quem eu era, vai entender para que serve essa portaria, talvez só para encher linguiça.

 

Apesar de tudo, gosto muito dessas pequenas trilhas do litoral de São Paulo, porque serve de escola para quem está começando e quer se lançar nesse mundo sem a presença de um guia, faz a pessoa ir ficando confiante que poderá começar a se soltar independente por aí, mesmo porque, é uma trilha sem nenhum problema de navegação. Um caminho que te tira do caos absoluto das praias urbanas e te entrega uma paisagem ainda selvagem, em estado bruto e uma caminhada dessa, abre os olhos para que o iniciante possa voltar sua atenção para os mapas e descobrir tantos outros encantos que o Litoral Paulista tem para nos oferecer.

 

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 Divanei, setembro - 2025

 

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Editado por DIVANEI
  • DIVANEI changed the title to XIXOVÁ - JAPUÍ : Travessia no Litoral Paulista

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