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Trilha da Guaraúna na Jureia


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Já havia visitado Peruíbe algumas vezes, inclusive indo até Barra do Una dentro da reserva da Juréia. Só que dessa vez resolvi fazer o trajeto de Barra do Una até o Guaraú a pé. Pela estrada são 20 quilômetros por dentro da reserva. Já pelas praias com um visual bem mais interessante são 16 km. Passaria por praia do Una, Caramborê, praia Deserta, Juquiazinho, Parnapuã, Arpoador, Guarauzinho e finalmente Guaraú. A idéia inicial era ir pelas pedras, mas após consulta providencial ao André Pimentel que conhece bem Peruíbe, mudei de planos e resolvi fazer pelo menos um trecho de vara mato entre a praia Deserta e Juquiazinho e o restante iria pelas trilhas existentes.

 

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Mapa com mais detalhes: http://www.bikely.com/maps/bike-path/barra-do-una-peruibe

 

Muito bem. Antes das 6h já estava de pé. Iria fazer a trilha sozinho. Peguei o carro e de Peruíbe me dirige a Barra do Una num trajeto de 27 quilômetros e 1 hora e 15 minutos. Chegando num botequinho da vila, tomei dois cafés com leite e proseei um pouco com os moradores locais. Me falaram de um antiga trilha que havia da praia Deserta até Juquiazinho pela crista do morro, mas que certamente já estava fechada. Um dos rapazes me alertou para o perigo de fazer a trilha sozinho, pois eu poderia me machucar, poderia aparecer algum animal ou até mesmo uma assustadora alma penada. Conversa de lado, comecei minha caminhada as 7h e 20min. Meia hora depois já sai no Caramborê. Deve se passar pelas pedras no final da praia tomando cuidado pois elas são bem escorregadias. Mais 20 min e eu desembarcava na Deserta agora por uma trilha óbvia por entre a mata. A partir daí eu começava realmente a realizar o vara mato pra chegar até a praia do Juquiazinho. Entrei pelo meio de duas pedras que encontrei no final da praia e comecei a subir o primeiro morro em meio as teias de aranhas.

 

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O caminho inicial é relativamente fácil, basta ir acompanhando à esquerda a pedreira que surge pra então chegar ao topo do primeiro morro. Em seguida fui circundando o próximo morro evitando descê-lo e acompanhando a crista passando por três pequenos vales para enfim começar a descer e descer na direção noroeste e acabar saindo na estrada que vai para o Juquiazinho. Eram 9h 10min e como minha intenção era seguir pelo topo dos morros e não pela estradinha, eu resolvi voltar para o morro e continuar o vara mato. Subi novamente até a crista e continuei caminhando evitando descer demais. Em alguns trechos a mata fechava e eu precisava usar bastante as mãos para me desviar dos galhos e espinhos que surgiam pela frente. Algum tempo depois cheguei ao que parece o ponto mais alto daquele vara mato, onde havia uma árvore sobre uma pedra. A partir dai desci já em direção a praia saindo de volta na mesma trilha às 11h 20min, soh que agora com apenas mais 5 min de caminhada até Juquiazinho. Outra praia deserta, havia apenas três pescadores e eu segui em frente procurando a trilha. Após cruzar sua metade vi a trilha óbvia que se abria em direção aos morros. Após passar por uma placa de alerta de área particular e uma escola fechada e algumas bifurcações onde mantive à direita, desembarquei meio-dia em Parnapuã.

 

Pois bem nesta praia por grande distração acabei não encontrando a trilha e resolvi fazer outro vara mato até Arpoador. Aí começou realmente meu perrengue. A estratégia era subir o segundo morro e circundá-lo sentido anti-horário. Este trecho era realmente mais difícil, a mata era muito fechada, desniveis mais altos, muitas bromélias e muitos espinhos até na cara. Em alguns trechos cheguei a engatinhar pra passar. Já na descida começando a dar a volta no morro, descia desníveis de até 3 metros no estilo macaco me pendurando nos galhos e me soltando no chão. Eu estava na metade da volta no morro quando ele começou a ficar mais íngrime, as árvores rareavam, só havia bromélias quase na horizontal e eu sem para refletir tentava avançar lentamente. Pisava na vegetação sem sequer tocar no chão e sendo atacado pelos espinhos. Parei um instante para tirar esta foto exclusiva, onde vemos Peruíbe ao fundo:

 

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Mas meu perrengue continuava. Já passava de uma 1h e meia desse vara mato. Enquanto insistia pelas bromélias, minha água acabava e eu começava a ficar exausto. Eu estava com luvas de ciclista, então meus dedos acabavam ficando expostos aos espinhos. Tinha alguns salgadinhos, mas como já estava no último gole de água, resolvi adiar um pouco para matar a fome. Eu já me preocupava com as horas achando que não iria conseguir mais descer da montanha, quando resolvi parar e respirar fundo. Elevei minha confiança, comecei a agradecer por aquela aventura e na verdade passei a respeitar mais a natureza ao meu redor. Vi onde estava errando, resolvi voltar um pouco e subir de novo para o topo e tentar dar a volta pelo outro lado do morro buscando um caminho mais fácil para descer. Um tempinho depois e encontro um pequeno filete de água escorrendo para minha alegria e felicidade. Bebo um gole da preciosa água mesmo com um pouco de terra e começo a subir por ele. Chegando já perto do topo, com o caminho mais aberto do que com as bromélias, começo a descer a encosta seguindo uma grande rocha que afunilava no vale. Era claramente uma corredeira de água da chuva e eu descia esfuziante de alegria sabendo que dessa vez sairia na praia. Já quase no fim da descida, começo a ouvir um forte barulho de queda de água. Era uma pequena cachoeira. Eu entrei em êxtase quando a vi. Não pensei duas vezes, me joguei dentro dela e fiquei meia hora me banhando. Naquele momento era tudo que eu precisava.

 

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Eram 14h 15mim quando comecei a caminhar pela praia. Avistei 2 pessoas, aparentemente vigias da reserva. Tive que parar pra conversar com eles. Me explicaram que aquela praia era de acesso fechado para visitantes e que geralmente recomendavam as pessoas voltarem, o que depois de todo esse perrengue seria bem difícil. Me falaram que havia uma trilha óbvia entre as duas praias que eu passei batido. Após observarem bem meu estado, disseram que eu poderia os acompanhar até a próxima praia. Fui até a base deles entre as 2 praias, onde pude desfrutar de uma pequena refeição com eles. Após algumas minutos de prosa eu os acompanhei até a praia do guarauzinho de onde exatamente às 15h 40min me atravessaram gentilmente de barco até a outra margem do rio Guaraú. A travessia estava quase completa, restava caminhar até o ponto e esperar o demorado ônibus até Barra do Una de onde poderia pegar meu carro e voltar pra casa. Eu esperei na padaria com direito a brejas e queijo quente. Eram quase 21 horas quando cheguei em Barra do Una após pegar um busão pau de arara que ia a toda velocidade pelo estradão da reserva. Estava exausto, mas feliz com a aventura pelas matas da Jureia.

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