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Esses relatos são uma continuação da viagem de 205 dias que fiz, principalmente na Ásia. A partir da Índia o relato se encontra nesse link: relato-de-viagem-a-india-nepal-sudeste-e-sul-da-asia-janeiro-de-2013-t77951-30.html. Tem ainda outros posts da Turquia e da Grécia.

 

Ao final da viagem, passei alguns dias na Europa antes de voltar ao Brasil, em cidades menores, em um roteiro bem diferente. Os relatos se encontram abaixo e também estão disponíveis no meu blog para acesso às fotos.

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Dias 190 a 191 – Zurique, Suíça

 

Viajei da Ásia para a Europa com a Qatar Airways e vale o registro: essa companhia é show! As refeições, o sistema de entretenimento do avião (de Doha para Zurique vim no belo e moderno Boeing 787 Dreamliner) é incrível e a equipe de bordo, amabilíssima. Ajudou com que as 16 horas de viagem, incluindo a hora e meia que passei em Doha, não fosse tão monótona. Mas o melhor mesmo foi o lugar que consegui reservar no primeiro voo fazendo o check-in antecipado pela internet: as poltronas da fileira 10 são as primeiras da classe econômica e como não há assentos na frente, o espaço para as pernas é fantástico. Além disso, o banco reclina também a parte inferior para apoio das pernas. Ainda não era uma classe executiva, mas foi muito melhor que o padrão. Em Zurique, meio atordoado com as 6 horas de jetlag, um colega me esperava no aeroporto para irmos ao seu apartamento, onde eu ficaria nesses dois dias pela cidade. Não o conheci pelo CS dessa vez, mas sim através de uma amiga em comum, e ele me proporcionou um excelente apoio, visto que morava na região central, o que possibilitou que eu visitasse praticamente toda a cidade nesses dois dias de Suíça.

 

A área central de Zurique é pequena e tudo pode ser feito a pé em um ou dois dias, dependendo do passo. Como eu havia comprado um passe urbano que teria validade por 24 horas, abusei da condição e fiz muito mais do que poderia fazer simplesmente andando a pé. Da Estação Ferroviária, cuja construção atual data de 1871, chega-se à cidade alta através de um funicular, ou cable car, em um bairro mais alto da cidade onde fica a Universidade de Zurich, fundada em 1833. Em frente à universidade, um grande mirante proporciona uma primeira vista da cidade. Mais adiante, a visita ao Museu de Artes, com sua incrível coleção de pinturas e esculturas nos transportava novamente para o mundo europeu, com seus motivos que remetem aos livros que nos serviram de apoio para o estudo da Idade Média, sempre focado na Europa. A visita continuou, em meio aos Porsches, Ferraris e Maserattis, pela cidade velha, nos arredores de Niederdorf e da Grossmünster, famosa igreja protestante em Zurich com colunas de estilo romano cuja construção começou no século XII, e infelizmente, proibia fotos no seu interior. Através de ponte Münster, avista-se mais três famosos pontos, como a prefeitura, a igreja Frausmünster e a igreja de São Peter, cuja torre mantém o maior relógio na Europa, com um diâmetro de 8,7 metros. A imaginação rola solta ao pensar no tamanho de todas as engrenagens que o mantém funcionando.

 

Em volta das pontes Rathaus-Brücke e Münster-Brücke as paisagens do verão europeu voltaram à minha mente, com muitas pessoas aproveitando o sol e o rio de águas geladas e cristalinas no meio da cidade para sentar-se e estender-se às suas margens, seja comendo, seja lendo, seja bronzeando-se, seja apenas curtindo o calor que eles recebem apenas por algumas semanas no ano. Só quem teve a oportunidade de passar ao menos um ano na Europa, entendendo esse ciclo das estações, pode compreender o que um dia de sol significa para os moradores dessa região. Nesses dias de visita, tive a sorte de sentir esse clima de saída de toca e relembrar todos esses momentos. E no dia seguinte, atravessei o mesmo rio mais a oeste e deparei-me com inúmeros parques e locais de lazer ao redor, inclusive alguns locais com quadras de vôlei de praia e areia simulando uma situação natural que os suíços não possuem por aqui. Quem não tem, sempre dá valor às pequenas coisas que passam despercebidas para quem possui em excesso. Lei da vida.

 

Fiz um hiking em Zurique até Uetliberg, literalmente montanha Uetli, de onde se tem uma visão magnífica da cidade, potencializada por uma torre de mais de 30 metros de altura no alto do pico. Eu usei o meu passe no trem até o limite da área que eu poderia usá-lo (os passes são divididos em zonas) e depois fui a pé, em uma caminhada de 50 minutos até o topo. Valeu muito a pena, pois o caminho é pelo meio da floresta, acompanhando cursos d´água e muitos moradores usam o circuito como uma caminhada de lazer. No fim da tarde, usei o tram e um ônibus para chegar até a outra margem do Lago de Zurique, até um bonito jardim chinês, dentro de uma grande área de lazer denominada Zürichhorn, muito frequentada pelos moradores. Como havia um pier nessa área, voltei de barco para a área central da cidade, em Bürkli Platz. Esses barcos funcionam como uma espécie de ônibus fluvial na cidade, e faz parte do sistema de transporte urbano.

 

Outra área visitada foi a área Oeste, menos turística, onde pode-se constatar que o padrão de organização da cidade é o mesmo da área central. Algumas lojas de velharias apareceram no meio do caminho, como de câmeras antigas e vidraria antiga de laboratório. Se anunciam, deve ter alguma demanda. Talvez usados em pequenas fábricas. Ou talvez os suíços não sejam fissurados somente em relógios, que pipocam em muitos lugares da cidade. O transporte público é padrão ouro – presenciei o tram esperar um minuto antes de partir de uma estação para chegar na próxima estação no horário exato, os moradores preocupam-se em manter a fachada de suas casas e apartamentos agradáveis, muitos cultivando flores e usam intensivamente as bicicletas e o transporte público, tendo os carros uma importância secundária na necessidade de locomoção na cidade. Muitas praças pelo caminho, e a maioria com banheiros públicos e fontes cuja água é potável para se beber. A limpeza das ruas, entretanto, apesar de satisfatória, fica devendo em alguns pontos (é pior que Cingapura) e algumas construções encontram-se inclusive pichadas, algo que é difícil esperarmos da Suíça. Mas o sentimento de liberdade, que não senti de forma completa em Cingapura, não tem igual. Prefiro estar em um país não tão perfeito, mas onde me sinto mais à vontade. E a Europa proporciona essa sensação.

 

Mais fotos aqui.

 

Próximo post: Alsácia, França.

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Dias 192 a 200 – Sul da Alemanha

 

Esse post e o subsequente não estão em uma ordem cronológica, pois enquanto eu estava no sul da Alemanha, vindo de carona da Suiça, eu também fui um dia à França. Decidi, porém, escrever um post sobre o sul da Alemanha primeiro e posteriormente, escrever sobre as visitas na França e na Áustria, dividindo assim, os relatos por países. Na Alemanha, fiquei hospedado todos os dias, exceto em Nuremberg, na casa de um grande amigo meu e sua esposa, que me proporcionaram excelentes dias de comilança, muitas cervejas especiais, altos papos e incríveis passeios. Fiquei em Bräulingen, mas visitei de bicicleta cidades vizinhas e, de carro, Freiburg durante uma noite. Noite em relação ao horário, pois aqui nessa época o sol se põe somente às 22:00hs. Não sentimos o tempo passar. Fiquei também uma noite em Nuremberg aproveitando uma carona, pois meu trem para a Áustria sairia de lá.

 

Bräunlingen é uma cidade com menos de 6.000 habitantes em todo o município, que possui extensas áreas rurais. Possivelmente, a região central da cidade tenha bem menos que isso. De bicicleta, é possível andar em volta de toda a área urbana em 15 minutos. Bairros, casas e jardins de sonhos: as famílias parecem que competem qual delas tem o melhor jardim e as mais bonitas flores. Essas impressões valem também para as cidades vizinhas que visitei de bicicleta, como Donaueschingen, Hüfingen, Döggingen e Unadingen. Em Hüfingen especialmente, cidade com menos de 7.000 habitantes, um dos bairros da cidade exalava aroma de flores, de tanto que os jardins das casas eram bem cuidados e repleto delas. Bem diferente de algumas cidades da Índia, por exemplo. Todas possuem igrejas magníficas, construídas muitos séculos atrás e portais que nos remetem à Idade Média. Dentro delas, e também ao lado das rodovias, espaços exclusivos para bicicletas, que, ao menos nesse início de verão, são bem mais utilizadas do que os automóveis, embora as pequenas cidades são vazias na maior parte do tempo. Apenas as duas maiores cidades visitadas, Freiburg e Nuremberg, fogem à essa consideração e comentarei sobre ambas separadamente a seguir.

 

O visual das pequenas cidades mistura grandes áreas de agricultura com grandes áreas da Floresta Negra, imortalizada no mundo todo pelos contos infantis dos Irmãos Grimm. Percorri muitas trilhas dentro da floresta (muitas atribuídas ao caminho de Jacó, que teria ido até Santiago de Compostela), seja correndo (ok, apenas um dia acompanhando o treino do meu amigo) ou de bicicleta, presenciando uma sensação de conto de fadas, com casinhas típicas européias que apareciam em uma clareira (tipo a da bruxa de João e Maria ou dos sete anões) ou anunciando a chegada de um bairro na cidade. Em um dia o GPS pregou-me uma peça, anunciando uma estrada que não existia e fiquei um tempinho perdido na floresta tentando achar o caminho de volta, necessitando atravessar um riozinho sem a ajuda de uma ponte e pedalando em cima de uma plantação que não consegui identificar do que era. Sem câmeras de segurança como Cingapura, menos mal. Vaquinhas adornavam várias áreas após as cercas, pois a região é produtora de leite. Em um dia, fomos ver a ordenha automatizada das vacas em uma pequena indústria, mas a máquina tinha acabado de quebrar. Vaquinhas desesperadas para desafogar o peso das tetas. Mas mesmo assim saímos com leite, pois existia um local de armazenamento, já gelado, onde podíamos encher nossas garrafas colocando algumas moedas em uma caixinha.

 

Em uma das cidades, Donaueschingen, existe um local considerado a nascente do Rio Danúbio, que banha várias capitais européias, como Viena, Brastislava, Budapeste e Belgrado. A nascente em si, denominada de Donauquelle, estava com seu entorno em reformas e consegui apenas tirar uma foto de longe. Mas, mais distante, eu alcancei o encontro dos rios Brigach e Breg que dão origem ao Danúbio, e fiquei um tempo no local, imaginando se seria possível por ali, em virtude da topografia, chegar em todas aquelas capitais. Donaueschingen era a maior cidade desse grupo que visitei sobre duas rodas, e oferecia uma infra-estrutura maior de comércio e compras. Mas foi mesmo em Bräunlingen que revi grandes amigos cervejeiros, que, aproveitando uma viagem de negócios em Munich, foram visitar o casal de amigos, também cervejeiros, que me hospedaram. Junto com o pai de sua esposa, formamos um grupo de 7 Mestre-Cervejeiros na mesma mesa de um bar. Algo difícil de acontecer. Entre todos, 4 foram companheiros da minha antiga empresa e foi muito bom revê-los depois de mais de 3 anos. O sentimento de “revival” foi completo quando visitamos a micro-cervejaria da família, principalmente a área antiga, com tinas de cobre e tanques de fermentação abertos em uma “cellar”. Vou completar mais um pouco essa sensação na Bahia, onde revisitarei uma das plantas de minha antiga empresa antes de voltar a Campinas.

 

Freiburg já é uma cidade maior, de mais de 200.000 habitantes habitantes e possuía importância estratégica na Idade Média. Guarda uma catedral gótica fantástica com uma torre de 116 metros de altura, além de muitas grandes construções erguidas a partir do século XII. A cidade, considerada a mais “quente” da Alemanha, é entrecortada por pequenos (pequenos mesmo, mas bem construídos) canais em quase todas as ruas, nos quais temos que ter atenção para não meter o pé na água, que no entanto, parece limpíssima. Nuremberg, fundada no século XI, é uma cidade ainda maior (500.000 habitantes) e guarda uma área murada muito bem preservada, onde era a cidade original nos tempos medievais. Grande parte do muro de 4 km e dos portais da cidade estão de pé, a maioria reconstruídos após a segunda guerra mundial. O castelo Nuremberg, enorme e impressionante, repousa sobre uma das bordas da cidade velha e transporta o felizardo visitante para as épocas antigas da Idade Média. A catedral gótica de Nuremberg possui um estilo fantástico e tem capacidade para 25.000 pessoas. Todas igrejas da região possuem estruturas muito altas. Percebe-se claramente que uma das formas de exigir respeito a Deus e ao sobrenatural era investir na altura das construções. Caminhar ao lado das catedrais traz uma sensação com um quê de solene.

 

Nessa quase finalização da viagem nas cidadezinhas ao sul da Alemanha desacelerei totalmente. Pedalava praticamente todos os dias, mas ficava no máximo 5 horas fora de casa. Coloquei muitas leituras atrasadas em dia, consegui escrever alguns posts no blog e arrumar algumas fotos, além de deixar meu novo laptop pronto para uso, transferindo todos meus arquivos, instalando os programas necessários e colocando tudo que era importante na nuvem. Além de claro, aprender a mexer com as funcionalidades do Windows 8. Até tentei jogar Lara Croft no PlayStation 3, mas fui um fracasso total. Senti-me em casa com toda a liberdade e atenção que meus amigos me proporcionaram. Conversamos muito sobre política e economia, tendo como pano de fundo os protestos que estavam acontecendo no Brasil no últimos dias. Até engordei um quilo, mesmo com todas as andanças de bike, mas que devo ter perdido nos dias subsequentes, pois retornei a uma correria final. No final da viagem nossa mente não nos deixa opções: nossos pensamentos começam a voltar para a realidade e esses dias me proporcionaram um ritmo que possibilitasse me habituar com a nova realidade.

 

Mais fotos aqui.

 

Proximo post: França e Áustria.

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Dias 196 e 201 a 205 – França, Áustria e Bahia!

 

No post anterior, comentei que, do sul da Alemanha, fomos até a França de carro. A Alsácia é uma região que já pertenceu a Alemanha anteriormente e fica localizada muito perto da cidade de Bräulingen. Na ida, sob um calor de quase 30ºC, não pegamos auto-estradas e as paisagens das estradas vicinais – para usar um termo brasileiro, eram magníficas. Na fronteira, nada de fiscalização, assim como ocorreu na fronteira da Suíça com a Alemanha: passagem livre. Os governos europeus não gastam mais dinheiro com funcionários nesses locais. Mas na operacionalização do estado de bem estar social, devem estar fazendo volume – e consumindo dinheiro do contribuinte, em outros locais.

 

O ponto alto do passeio foi o castelo de Haut-Koenigsbourg, próximo à cidade de Sélestat. O castelo fica no alto de uma montanha de 755m e permite uma visão incrível do vale da Alsácia, além de seus próprios encantos. O castelo foi construído no século XII e passou por grandes melhorias no século XV, fortificando-o para a guerra mas caiu na Guerra dos 30 anos e foi abandonado. No início do século XX foi reconstruído pelo Kaiser alemão, passando para o domínio francês em 1919 pelo “acordo” do Tratado de Versailles. Visitamos ainda duas pequeninas cidades dominadas por imensas vinícolas ao redor: Riquewihr e Ribeauvillé. Bem arrumadinhas, bonitas, mas também bem voltadas aos turistas, que compram desde vinhos e cervejas especiais até todas as guloseimas possíveis. Uma visita especial foi a uma loja de artigos natalinos: loja enorme, decoração fantástica, uma atração só em andar pelos seus corredores, plenamente decorados. Infelizmente, as fotografias eram proibidas.

 

Voltando para a Alemanha fiquei mais uns dias ao redor de Bräulingen e depois em Nuremberg, comentadas no post anterior. De Nuremberg, peguei o ICE para Munique, onde faria conexão com outro trem para Sazlburgo, na Áustria. O trecho de Nuremberg e Munique é um dos trechos onde o trem alcança suas maiores velocidades: até 300km/h. Os trilhos repousam em dormentes de concreto, e não de madeira, tornando a viagem confortável, sem solavancos. Fotos com minha câmera amadora, apenas de paisagens distantes. Qualquer coisa mais próxima borrava tudo, resultando em um aproveitamento de fotos ridículo… A conexão em Munique foi precisa. Fácil visualização com pontualidade germânica. A viagem total levou menos de 3 horas. Estava pela segunda vez na Áustria, mas dessa vez em uma cidade menor, no interior do país.

 

Salzburgo é a quarta maior cidade da Áustria, mas como o país é pequeno e pouco populoso, essa classificação não reflete em tamanho: menos de 150 mil habitantes. Foi durante mais de 4 séculos uma cidade independente, cujos governantes enriqueciam em virtude das minas de sal no sul da cidade. Seu nome significa literalmente “fortaleza de sal”. Cortada pelo rio Salzach, é tombada como Patrimônio Cultural da UNESCO e possui um dos centros antigos mais bem preservados da região dos Alpes. De fato, muitas ruas apresentam belas igrejas e casarões de arquitetura gótica e barroca, cercados por uma grande quantidade de turistas e por longos penhascos que delimitam uma pequena planície nas margens do rio. Ao longo da (rua) Getreidegasse, muitas lojas de artigos de luxo e marcas globais movimentam um grande comércio junto aos turistas. A cidade é mais famosa, entretanto, por ser o local de nascimento de Mozart, e mantém como local de visitações o lugar que nasceu e o local que morou. O comércio explora muito o nome de seu filho mais ilustre, seja utilizando-o na venda de produtos ou seja usando-o como o próprio nome de seu negócio.

 

Nesse sábado nebuloso e ameaçando chuva, também ocorria uma maratona na cidade e topei com vários atletas, de todas as idades, no meio da competição. As margens do rio estavam vazias, entretanto, possivelmente reflexo do tempo não convidativo. Em função dele, abreviei minha caminhada no monte Kapuzinerberg, mas mesmo assim subi em um dos pontos que possibilitavam uma visão panorâmica de grande parte da cidade. Próximo ao pé do monte, também no lado oposto do rio em relação ao centro histórico, a área do jardim Mirabell (Mirabellgarten) é belíssima, com jardins minuciosamente cuidados. Andei também por uma área mais residencial, fugindo dos turistas, e meu prêmio foi encontrar uma praça com um bom movimento, apesar desse tempo ameaçando chuva. Crianças brincando, famílias fazendo um churrasquinho (!), jovens em uma atividade de treinamento de bombeiros para emergências e até apresentação de músicas típicas. Gastei um tempo por aqui e só me dispus a reiniciar a caminhada quando começou a garoar.

 

Minha passagem para Salvador sairia de Salzburgo, com uma escala em Frankfurt. Enquanto as passagens da Europa rondavam os 800-900 dólares para São Paulo, eu paguei apenas US$450 para Salvador. Isso porque existe uma companhia de baixo custo, pertencente à Lufthansa, que faz vôos somente para o Nordeste. Voar pela Condor é uma mão na roda para economizar uma boa grana em uma viagem à Europa. E claro, tirei vantagem da situação para reencontrar amigos em Alagoinhas e visitar uma das plantas da cervejaria em que eu trabalhei durante mais de 12 anos. Foram quase dois dias bem passados, com direito a deliciosas comidas caseiras! Só lamentei pela fábrica parada, em virtude do feriado de São João no Nordeste. Fiquei sem sentir o cheirinho de mosto das antigas receitas que fabricava… De Salvador, voltei a Campinas usando milhagens do cartão de crédito em um vôo da Gol. E assim terminou a aventura de 205 dias. Assim que tiver um tempinho (sim, muuuitas coisas para fazer por aqui), escrevo mais um post de finalização, com alguns números da viagem.

 

Mais fotos aqui.

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Post final da viagem:

 

205 dias de viagem

 

Fim de viagem! Ao menos a viagem física. No pensamento ela ainda está presente, criando asas nas inevitáveis comparações que fazemos com a nossa rotina, com as pessoas e com o nosso país. Nesses 205 dias, foram 18 países, sendo 15 novos para mim. Das 88 cidades visitadas, passei a noite em 58 delas, seja em hotéis, hostels ou com companheiros do Couchsurfing (CS). A grande maioria dos percursos foram rodoviários - carros, ônibus, motocicletas, bikes e muitas caminhadas, mas pelo caminho também estiveram presentes 14 viagens de avião, 15 de trem e 9 percursos de navios, com "caronas" eventuais em balão, cavalos, botes e lanchas.

 

Na apresentação do blog coloquei meus objetivos quando decidi compartilhar a viagem e meus pensamentos. Digamos que, em parte, eles foram atingidos. As postagens relativas à viagem em si foram inicialmente, mais específicos para os futuros viajantes, com muitos auxílios para suas novas viagens. Porém, no decorrer das postagens, comecei a escrever de uma forma menos particularizada, sem colocar muitos nomes de locais e valores de gastos, deixando a leitura mais fluida. Talvez porque no início a maioria dos feedbacks foram de pessoas próximas que buscavam apenas compartilhar as sensações da viagem, sem interesse em informações que poderiam estar em um guia turístico. Afinal, elas não tinham um planejamento de repetir a aventura. Porém, acredito que com a constante indexação das páginas do google, o público em geral começou a encontrar o blog na web e invariavelmente, me procuravam para perguntar algo mais detalhado. E muitas dessas perguntas eram justamente sobre as informações que eu estava omitindo nas postagens subsequentes. Porém, eu já estava nessa tendência de produção de texto e preferi mantê-la, me disponibilizando sempre, entretanto, para responder todas as dúvidas que me eram enviadas.

 

A falta de tempo disponível para manter o blog também foi implacável. Achei que, como a viagem era longa, eu poderia fazer pausas e teria tempo para enriquecê-lo da forma que eu gostaria. Além dos posts da viagem em si, busquei manter uma frequência de postagens sobre temas diversos, pensamentos que me ocorriam durante a viagem, compilados posteriormente na página “Reflexões”. Porém, a última postagem até então foi publicada no dia 14/04, ou seja, mais de 2 meses antes do término da viagem. E essa última, sobre "Ciclos e Procrastinação", já tinha sido publicada mais de um mês depois da anterior. Isso é, na primeira metade da viagem eu consegui publicar 8 artigos (desconsiderando os dois primeiros que escrevi imediatamente antes da viagem) e na segunda metade, apenas 1!!! Menos um efeito de falta do que escrever, mas mais de disponibilidade mental. A segunda metade da viagem foi intensamente recheada com as amizades feitas no CS e estava totalmente distante de uma "Viagem Solo". Na primeira metade da viagem, as condições eram mais propícias para a produção de textos. A solidão ajuda nisso. Porém, as companhias, apesar de sabotar um pouco essa situação, nos traz muitas outras alegrias e satisfações no decorrer da viagem, inclusive a oportunidade de outros tipos de reflexões, através do exemplo de vida de cada um. Considere-se ainda a forma de apresentação do país, muito mais rica quando feita por pessoas locais. Esse balanço na viagem foi extremamente positivo, e acredito que o tempo que disponibilizei para “viver” mais as situações reais compensou fortemente minha ausência nas situações virtuais.

 

E aqui cabe um parênteses: apesar do círculo de amizades ter sido um fator de influência na frequência da escrita, diversos outros fatores foram determinantes. Como escrevi em “Viagens: o elemento esquecido” existem muitos agentes que podem nos deixar menos disponíveis para cumprir todos nossos planos. Acrescentaria hoje nessa postagem todo o planejamento dos próximos passos. Parece que não é determinante, mas quem está em uma longa viagem, sem aquisições de pacotes turísticos, gasta uma boa parte dela planejando os próximos destinos, principalmente meios de se chegar até lá, locais para passar a noite e locais para visitar. Considere-se ainda a realização de justiça e preferências pessoais na escolha do pessoal do CS que havia me convidado para hospedagem… Tudo isso acabou me tomando muito mais tempo do que eu imaginava e, em muitas vezes, um tempo ainda maior do que eu reservava para realizar meus trabalhos particulares pela internet. De qualquer forma, escrever manteve-me atento. Estimula o pensamento. A reflexão. Essa disponibilidade de refletir impede que nos limitemos internamente, permitindo nossa perpétua formação.

 

Minhas auto-avaliações, em geral, são pessimistas. Pessoas dizem que eu me cobro demais em algumas coisas e isso pode ser verdade. Isso provém de algo interno, um sussuro que sempre está me lembrando que, se você vai fazer algo, e principalmente se você se comprometeu a fazer algo, faça bem feito. Assim, sempre acho que poderia ter feito de uma forma melhor. Expor-se não é algo fácil. Expor-se em um blog, onde sua foto aparece em uma simples procura no google recebendo cliques de pessoas totalmente desconhecidas, é ainda mais desafiador. E continuamente, estamos avaliando qual deve ser o grau de exposição que devemos nos permitir, tanto nas ações do dia a dia como nos pensamentos. Foi um desafio, mas gostei das minhas escolhas, embora acho que podia tê-las desenvolvido de forma melhor. Acho que fui mais eficaz, mas não tão eficiente*.

 

Espero também que tenha sido bom para quem leu. Espero que toda essas minhas saídas da zona de conforto (e estar sempre mudando de local com todas as implicações e responsabilidades que isso acarreta é decisivamente determinante para isso) tenha motivado mais pessoas a fazer o mesmo algum dia. Se não em viagens, em outras áreas da vida. Sair da zona de conforto gera dor, mas como disse Alain de Botton: "É no diálogo com a dor que muitas coisas belas adquirem seu valor". Buda também explica a relação de dor e desejo que mantém a maioria das pessoas inertes no ensinamento das “Quatro verdades”.

 

Espero ainda que as situações que narrei estimulem futuros viajantes a olhas mais para o local real, e não para os locais construídos. É neles que está a essência de um povo, da construção (ou não) de um país. Enfim, resumidamente, sem ter a presunção de que eu possa influenciar o pensamento da maioria dos leitores, espero que as postagens de forma geral tenham sido momentos de prazer, de questionamentos e de reflexão positiva a todos.

 

A viagem acabou. Mas o blog não. Claro que quando tiver uma coceira de escrever algo, voltarei por aqui.

 

* Um conceito que gosto é: eficácia é fazer as coisas certas e eficiência é fazer certo as coisas.

  • Membros de Honra
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Parabéns pela viagem, André. Acho que já escrevi em posts anteriores seus.

 

É legal ver esse tipo de reflexão no final, pois relatos são histórias e a gente espera mesmo ver algo além do que vemos nos guias. Mas as dicas de planejamento também são importantes, ideal seria ter os dois. O ideal esbarra no real, que é o cansaço do viajante de escrever uma aventura que durou mais de 200 dias e isso é perfeitamente compreensível. O importante é compartilhar, cada um da forma como pode.

 

Abs.

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