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EXPEDIÇÃO NASCENTES DO ITARIRU -2016

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ITARIRU - Esse foi o nome que ficou guardado num canto perdido do meu cérebro por mais de 2 anos. Uns 15 km de rio que cortava um vale selvagem e desconhecido entre o planalto de Juquitiba a e a planície litorânea de Itanhaên. Um vale onde não havia notícia alguma de que uma espécie humana teria botado os pés, pelo menos não notícias públicas e se alguém por ventura havia se jogado naquele vale, nunca compartilhou informações com o mundo, ficamos sabendo que um único homem e em uma expedição solo, contando com apoios de outros, havia acessado o meio do vale por um afluente, partindo do oeste, vindo de uma trilha já conhecida que descia do planalto para o litoral. Foi uma expedição ha mais de 15 anos atrás e isso era tudo que tínhamos de informações e então teríamos que partir do zero, tendo como primeiro objetivo DESCOBRIR A NASCENTE DO RIO ITARIRU.

 

Minuciosos estudos nos levaram ao bairro das Marrecas como ponto mais próximo ao rio. Num primeiro momento achei que se tomássemos o caminho vindo por Santa Rita, um povoado de Embu Guaçu, poderíamos acessar o rio partindo de umas estradinhas rurais ao norte do mesmo, mas logo fiquei sabendo que não havia transporte partindo daquela localidade e as condições das estradas eram praticamente intransitáveis. As coisas então não se definia, foi aí que entrou em ação nosso enviado especial na região Décio Marques, caberia a ele tentar dar uma investigada no local, já que ele conheceria bem aquele fim de mundo e foi justamente o que ele fez, pegou seu carro, sua esposa Antônia e se juntou ao Eduardo Loures e o Prince e foi para o local tentar encontrar algum caminho que pudesse nos levar ao grande Rio Itariru. Partindo da BR 116, entrou no portal que leva ao antigo Parque do Gugu e foi se perder naquelas estradinhas de terra até o lago de um sítio à beira da estrada no bairro das Marrecas em Juquitiba. Em seguida virou a direita e seguiu a pé até que a estrada fizesse uma curva de noventa graus para à esquerda. Nessa curva entraram em um sítio, pediram permissão para o caseiro para continuar por uma estradinha de terra, até que ela terminou ao lado de uma casa abandonada no alto de uma pequena colina à direita.

 

Ao lado esquerdo dessa colina, se enfiando floresta à dentro, um pequeno córrego de não mais que meio metro de largura que corria para o leste, juntamente a direção do grande Poço do Itariru e foi esse o caminho que eles pegaram.Se enfiaram no meio dessa selva e percorreram esse pequeno córrego caminhando por dentro da água durante umas três horas, até que o rio foi crescendo, começou a despencar em pequenas cachoeiras, onde em uma delas o Décio resolveu batiza-la de CACHOEIRA DA ANTONINHA , em homenagem a sua amada. Seguiram mais um pouco, mas diante do tempo escasso, resolveram voltar e dar por encerrada a investigação.

 

Quando eles voltaram e fizeram um relatório dessa primeira incursão, fiquei com um pé atrás porque eu esperava que eles tivessem feito essa exploração vinda do norte do tal poço, que era o ponto do rio visível pelo satélite, mas depois tive que aplaudir esses cara de pé pelo ótimo trabalho que fizeram. Não que eu estivesse errado no meu planejamento virtual, mas diante do vasto território e da dificuldade de acesso, tenho que admitir a grande competência dessa primeira investida.

 

Não havia mais o que fazer, havia chegado a hora de parar de sonhar e se jogar na aventura, era hora de juntar o grupo e juntos ir para o local e tentar tirar esse grande vale selvagem do anonimato, pondo-o no roteiro das grandes travessias do Estado de São Paulo. Escolhendo os exploradores a dedo e deixando claro de que essa era mais uma expedição selvagem, sem nenhuma garantia de sucesso, onde cada qual seria responsável pela sua segurança, num vale sem comunicação e sem chance de salvamento se algo viesse a dar errado. Aceitaram o desafio e “assinaram” o contrato demêncial : Eu, Daniel Trovo, Eduardo Loures,Vivi Mar, Fábio Borges, VGN Vagner,Vinícius MZK,Bruno Conde. Décio Marques e Marcos Prince e marcamos para o dia 24 de março de nos encontrarmos todos na casa do Décio em Itapecerica da Serra, onde dormiríamos para partir na madruga seguinte em uma VAM que nos levaria direto para o local.

 

Foi uma festa o encontro dessa galera trilheira vinda de todos os cantos para se juntar na casa do Décio, onde fomos recebidos com um jantar de gala servido por sua mãe D. NEGA .Não poderei nem relatar a zueira que foi dez maloqueiros reunidos em um só lugar porque esse relato é de família, ou quase, rsrsrsrsr. Às cinco da manhã subimos na VAM e pouco mais de uma hora depois desembarcamos no tal lago com patos à beira da estrada do bairro das Marrecas e sem perder tempo, em uns quarenta minutos a estradinha de terra nos levou à porteira do sítio, onde adentramos e seguimos até a casa do caseiro, que ficou espantado quando afirmamos que desceríamos até o mar por ali :”- Ói, o cêis num chega no mar por aqui não, a trilha que o cêis procura é outra “ A gente deu risada, mas nem nos demos ao trabalho de tentar explicar como pretendíamos chegar ao mar por dentro do vale, primeiro porque nem ele nem ninguém daquela região sabia onde ficava esse raio de Rio Itariru.

 

Seguimos enfrente e entramos à esquerda no córrego encontrado pela primeira incursão. No início é possível seguir por uma trilha paralela ao córrego, mas uma meia hora depois, nos jogamos de vez dentro das águas cristalinas do riozinho e fomos acompanhando-o selva adentro. O riacho vai aos poucos se transformando, crescendo, ganhando corpo ao ser abastecidos por pequenos afluentes. É uma caminhada gostosa, mas não sabemos se realmente esse córrego nos levará ao grande rio e para não perdermos o rumo, vamos ficando sempre de olho nos GPS ou nas bússolas porque não podemos nos desviar do leste e o nosso medo é que o riacho comece a se desviar para o sul e correr paralelo ao grande rio e ir reencontrá-lo somente uma dezena de quilômetros à baixo, coisa que não nos interessava, já que nosso objetivo é cruzar todo o rio e descer por todo o vale até a praia. Passamos pela Cachoeira da Antoninha e deste ponto em diante o rio começa se alargar e ganhar afluentes maiores e às vezes é preciso passar pela água na altura do peito. Felizmente, apesar de serpentear feito uma grande cobra, ele vai nos dando a direção que queremos e quando faltava menos de 1 km para chegar ao tal POÇÃO DO ITARIRU, encontramos um vestígio de acampamento de palmiteiros/caçadores e logo em seguida uma trilha bem fechada, mas estava claro que era um caminho usado anos atrás. Essa trilha nos fez ganhar terreno rapidamente e quando menos esperávamos desembocamos no tal POÇO DO ITARIRU, surpreendentemente não havíamos encontrado o grande rio vindo por um dos seus afluentes, havíamos encontrado a própria nascente do rio e agora se descortinava a nossa frente o grande vale que até então só conhecíamos olhando pelo satélite.

 

Essa tosca trilha que havíamos encontrado seguiu por mais alguns minutos até que acabou do nada e aí não teve jeito mesmo, pulamos novamente no rio, jogamos nossas mochilas na água e fomos seguindo, hora pulando de pedra em pedra, hora atravessando grandes poços nadando ou simplesmente boiando sobre nossas mochilas. Quem estava com mochilas estanque se dava bem, mas quem não estava, o que era o meu caso, ao jogar novamente a cargueira às costas para um eventual vara-mato ou escalar alguma pequena parede, tinha que se contentar em carregar um saco de batatas no lombo.

Pulando de pedra em pedra e tentando sempre manter o equilíbrio para não ir dar com a fuça no chão, logo chegamos ao grande lago de onde uma pequena cachoeira despencava. Foi hora de fazer uma pausa para um lanche porque o dia já havia passado do meio já fazia bem uma hora. Enquanto alguns comiam, outros se jogavam de cima da queda em saltos cinematográficos. Eu não fiz nem uma coisa e nem outro, estava mesmo muito excitado e não via a hora de voltar para descida. O tempo ainda se mantinha instável, mas a temperatura estava alta e cheguei a achar que a tal chuva prevista pela meteorologia, poderia passar ao largo de onde estávamos.

 

Poucos minutos depois e um pouco mais abaixo do grande lago dos saltos, o rio despencou em mais uma queda, dessa vez um pouco maior, mas um pouco mais fina, formando uma espécie de tobogã à direita do rio. Passamos por mais essa cachoeira pela direita e fomos descendo até sermos travados por uma garganta de uns 20 metros de comprimento, com paredões dos dois lados. Se não bastasse a garganta, começa a cair um pé d’água na serra e sem demora e sem pensar muito jogamos nossas mochilas de novo na água e um a um fomos passando a nado. Foi uma cena linda de ver. Quando você entra em um lugar destes sempre rola uma tensão porque ninguém consegue prever o que vai acontecer se em um determinado momento a corrente do rio não poderá te arrastar para o lado errado e acabar te jogando rio a baixo, mas felizmente a água estava bem calma e a travessia acabou sendo tranquila e prazerosa, mesmo com a chuva despencando em cântaros sobre nossas cabeças. Passado o cânion, as paredes dão uma diminuída, mas mesmo assim ainda é preciso nadar ou passar se segurando em algumas fendas da parede e foi numa destas que o Décio se lascou todo quando uma destas pedras podres quebrou e ele despencou de novo no rio. Por sorte só algum hematoma nas mãos e mais nada. Mas a maioria do grupo preferiu mesmo varar mato e cortar caminho por cima do barranco, evitando todo esse esforço desnecessário.

 

Na sequência nos deparamos com uma linda cachoeira, que despencava em três patamares e isso começou a me surpreender porque eu de maneira nenhuma esperava encontrar essas quedas no início desta travessia, na minha cabeça e na cabeça de quem já vinha estudando esse rio a muito tempo, imaginávamos que pegaríamos um rio tranquilo, com algumas corredeiras somente, inclusive quando decidimos colocar esse vale no nosso roteiro até rolou a ideia de trazermos umas boias para uma melhor flutuação nesse primeiro dia de expedição, nos enganamos mais uma vez.

 

A descida dessa cachoeira foi feita do lado esquerdo dela. É uma descida se pendurando na parede rochosa, como uma escalada para os lados. O grande problema é que você está de botas e não de sapatilha e ainda carrega, como eu disse, um saco de batatas nas costas que insiste em querer joga-lo no vazio, que no caso não passa de uns dois míseros metros, mas o suficiente pra partir sua cabeça ou sua perna nas rochas mais abaixo. Enquanto todos passavam devagar e com os cuidados necessários, o Prince já se posicionou mais abaixo e vendo que o caminho à frente se precipitava numa enorme queda, ele tratou logo de passar para o lado direito do rio porque vislumbrou um caminho mais fácil. Mas essa passagem foi extremamente complicada porque a correnteza já estava muito forte devido ao afunilamento do rio. O menino passou sufoco mas finalmente chegou ao outro lado e diante disso, vimos logo que ali não seria o local mais seguro para a gente passar, então seguimos uns 50 metros mais abaixo até onde as águas do Itariru se jogava no vazio, fim de linha para nós, se quiséssemos passar, só poderia ser ali mesmo.

 

Já que o Prince estava do outro lado do rio, coube a ele nos jogar a corda para que tentássemos passar. A largura do rio neste trecho não tinha mais que uns 5 metros, pelo menos onde efetivamente se concentrava o turbilhão de água. Na outra ponta da corda, que estava junto a nós, se posicionou o Eduardo Loures e sem muita demora se lançou para a travessia o Fábio e logo em seguida o Vinícius e foi aí que eu comecei a notar que algo não estava certo. O Vinícius começou a balançar na corda, parecia que não iria se sustentar sobre as próprias pernas e vendo o ocorrido, minhas pernas também começaram a bambear. Não tive dúvidas, arregalei os olhos e disse logo sem pestanejar : - Eu não vou passar nessa porra aí não, se esses caras que são forte pra caramba já estão quase sendo carregados, imagina eu pesando meio quilo? Nem ferrando, vou pelo mato e pela encosta e tentarei passar mais abaixo da cachoeira. Disse isso e fiquei esperando que alguém se juntasse a mim, mas ninguém disse uma palavra, fingiram que eu nem existia, como se eles estivessem hipnotizados pela cena que acontecia no meio do rio.

 

O Vinícius chegou ao outro lado do rio e logo em seguida o Vagner se jogou na corda, enquanto isso eu continuava repetindo, feito papagaio gago, que não iria atravessar por ali de jeito nenhum e continuava sendo ignorado, o que acabava por me deixar mais nervoso ainda. O Vagner é mais um cara forte e foi tentando se sustentar, mas a cada metro percorrido via- se claramente que algo não ia bem. O menino começou a ficar arqueado feito um velho de 80 anos, tentando se manter em pé na correnteza. Quando ví aquela cena não tive dúvidas: Aquilo ia dar merda! O Vagner estava prestes a ser arrastado pelo rio e pior, nós que estávamos na margem oposta não tínhamos o que fazer. Eu, da minha parte, fiquei paralisado diante da situação e mesmo os outros que estavam do meu lado, mal deram uma palavra. Mas como não há nada tão ruim, que não possa piorar, o Vagner acabara de ficar preso entre a torrente de água e a corda a um passo da margem do rio. Ninguém estava entendendo nada e nem a ajuda do Fábio estava conseguindo liberá-lo. Parecia inevitável a sua precipitação cachoeira abaixo. Foi uma luta ferrenha entre o Fábio e a correnteza e no meio, já perdendo as forças, o Vagner procurava não se entregar, mas a situação parecia mesmo caminhar para uma tragédia e foi em uma última tentativa desesperada que o Fábio conseguiu puxá-lo para fora do rio. Não houve tempo para comemorações. No momento em que o Vagner se salvava, olhei para o rio e vi que a rocha onde os meninos usaram como base para atravessar, não mais existia e foi aí que a ficha caiu de vez.

 

Estávamos passando por um fenômeno temido e devastador que costuma acontecer com frequência nos grandes vales, uma cabeça d’água havia nos pegado. Quando olhei para mais acima do rio e vi que a cachoeira anterior que tinha 3 quedas e agora tinha se transformado em uma só, soltei um grito que ecoou por toda a Serra do Mar : -SAÍ DA ÁGUA, SAÍ DA ÁGUA, SAI DA ÁGUA AGORA ! Cada qual correu como pode, abandonamos o rio e subimos o barranco imediatamente, enquanto a água tomava conta do vale e arrastava tudo que tinha pela frente. Talvez eu tenha até exagerado um pouco, mas minhas experiências passadas em outros vales já me deixaram bem experto pra saber da força devastadora deste fenômeno natural.

 

Agora o que era um grupo, havia se transformado em dois, separados por um rio bufando e furioso. Do lado direito do rio ficaram o Fábio, o Vinícius, o Prince e o Vagner. Do lado esquerdo além de mim, a Vivi, o Trovo, o Décio, o Bruno e o Loures. Mesmo com a comunicação prejudicada pelo barulho das águas, ainda deu para combinarmos de seguirmos até a próxima curva do rio, na verdade um grande cotovelo que fazia o rio se jogar mais ainda vale abaixo e tentar juntar o grupo novamente. Acontece que o grupo da esquerda acabou por ficar sem os equipamentos de segurança, sem facão, sem GPS, sem corda, que estavam com o grupo da direita. Então sem pensar muito o grupo da esquerda subiu pelo barranco que margeava o rio, vendo do lado oposto o outro grupo se perder mato à dentro. Fomos nos pendurando à margem do rio, rasgando mato no peito e nos segurando em tudo que era vegetação espinhenta para não nos precipitarmos no vazio. Metro a metro fomos vencendo o terreno, sempre parando para admirar a monstruosidade daquele fenômeno que deixava um rastro de destruição, transformando uma água cristalina em um rio de barro e lama. Menos de uma hora de caminhada nos levou a grande curva do rio, de onde do seu lado esquerdo se juntava a ele, um afluente que não devia em nada ao rio principal. Esse afluente estava encravado num grande cânion e a nossa frente se descortinou um paredão de uns 100 metros de altura, fim de linha para nós.

 

Não havia mais o que fazer, não havia a menor possibilidade de atravessar o afluente para passarmos para o outro lado, nem se tivéssemos com corda poderíamos passar. Estávamos mesmo num beco sem saída, o jeito foi sentar em um toco caído e pensar no que fazer, pensar em alguma possibilidade. Poderíamos tentar subir o afluente e ver se conseguíamos passar mais acima, mas mesmo se conseguíssemos, essa manobra acrescentaria pelo menos mais um dia de caminhada ao nosso roteiro e estaríamos definitivamente separados do outro grupo. Alguns já levantaram a possibilidade de abortarmos, mas boa parte já rechaçou essa possibilidade de imediato, mas a gente sabia que a situação estava mesmo complicada para nós. Depois de algumas discussões que acabaram não levando a lugar nenhum, resolvemos em conjunto que o melhor mesmo seria voltarmos a subir o rio e tentar passar em algum lugar bem mais acima da cachoeira, contando que o rio poderia voltar a baixar um pouco e conseguindo atravessar para o lado direito, seguiríamos no rastro do outro grupo até nos juntarmos a ele novamente. Demos uma última espiada na grande CACHOEIRA DA CABEÇA D’ÁGUA e subimos rapidamente o barranco de volta para a cabeceira da grande queda, mas não deu nem 15 minutos de caminhada e já ouvimos os apitos que vinha do outro lado do rio. Alguém gritava desesperadamente para que voltássemos e logo respondemos de volta que estávamos mesmo voltando. Até então não sabíamos o que tinha feito com que o outro grupo do outro lado do rio resolvesse voltar e num primeiro momento até ficamos apreensivos e pensando que algo grave poderia ter acontecido, talvez um acidente. Surpreendentemente em meia hora os grupos estavam novamente no mesmo lugar de onde havia se separado e vimos logo que todos estavam bem e recebemos a notícia de que o outro grupo havia abortado a descida, haviam sido travados mais abaixo também.

 

Já passava das 16:00 horas e como o rio ainda estava perigoso, combinamos de unir definitivamente os grupos no grande poço mais acima e cada grupo seguiu varando mato do seu lado do rio, mas não demora muito achamos um lugar onde vislumbramos a possibilidade de nos juntarmos. Jogaram a corda e um a um fomos passando, mas mesmo assim ainda traumatizados com o ocorrido anteriormente. Agora ao invés de esticarmos a corda, preferimos apenas amarrar na cintura e nos jogarmos na correnteza enquanto uns dois ou três puxava pela outra ponta, evitando que alguém pudesse ficar travado. Finalmente unidos novamente, tocamos para cima até o poção e ali fizemos uma grande pausa para nos alimentarmos e para um grande mergulho comunitário. Alguns mais ousados deram pulos e saltos memoráveis, mas outros, minha nossa, não dá nem para descrever a desgraceira que foi, cada barrigada que sinceramente eu não via faz tempo. O show de horror foi tão grande que já me arrependi de não ter torcido para o cara ter caído naquela cachoeira, feito o pica-pau, mas sem barril, teria nos poupado de tamanho vexame (rsrsrsrsrsrsr).

 

Acabado o divertimento e vendo que o dia já se ia findando, decidimos arrumar um lugar para acampar e não andamos nem mais de meia hora e ao chegarmos junto a uma ilhota mais acima, resolvemos jogar nossas mochilas ao chão e encerrar nosso dia de caminhada, acampar e ir tentar cuidar do jantar e descansar o esqueleto. A área do acampamento não era lá grande coisa, mais cada qual escolheu seu pé de pau e foi montar sua rede, só a Vivi e o Fábio que tiveram que dar uma limpada de meio metro de chão para montarem sua barraquinha. O acampamento virou uma competição para ver quem fazia o rango mais sofisticado. Eu até desauguei um bacalhau, mas estava tão cansado e meio chateado com os acontecimentos que acabei por nem preparar um jantar descente. Roubei um pouco de macarrão do Vinicius e logo em seguida fui morrer na minha rede.

O dia amanheceu lindo, o rio havia baixado completamente e a água voltado a ser cristalina e quando o Eduardo me chamou para continuar com a expedição, minhas pernas voltaram a tremer e fiquei balançado. Apesar do tempo estar excelente, a previsão do tempo dava muita chuva para o resto do feriado e seria um grande risco levar a travessia adiante, não pelos perigos do rio, mas sim porque diante daquela situação teríamos que acrescentar mais um dia na expedição e ainda havia a possibilidade de conseguirmos chegar em casa somente na terça feira, quando o combinado seria no domingo à noite, perderíamos dois dias de trabalho e isso estava forqa de cogitação para a maioria. Então o melhor a fazer, mesmo que com um sofrimento de derrota momentâneo, era enfiar o rabo entre as pernas e marcar uma outra data para dar prosseguimento a essa aventura.

 

Desmontamos tudo e começamos a retornar. Pouco mais acima, localizamos o final da trilha que havíamos achado no dia anterior e desta vez, ao invés de voltarmos pelo afluente ou a própria nascente do Itariru, resolvemos tentar voltar sempre pela trilha, sem ter que caminhar por dentro do rio. O Eduardo foi à frente limpando a trilha com o facão, enquanto o Vinicius e o Fábio ficavam de olho no GPS para ver se essa trilha não iria desviar muito do nosso caminho e realmente essa nova opção se tornou excelente porque seguia quase em linha reta, sem termos que dar grandes voltas como foi seguindo pelo rio no dia anterior. Tivemos que subir alguns topos de morro no meio da floresta, nada muito grande e umas duas horas depois cruzamos com o rio novamente e aí foi um estirão de não mais de meia hora até sairmos no aberto, junto a uma clareira com um coqueiro isolado, já em terras civilizadas. Havíamos descobertos uma trilha que economizaria mais de duas horas de caminhada, justamente o caminho que eu pensei existir, vindo mais ao norte da estrada, mas que os meninos na primeira investida não conseguiram localizar. Marcamos esse ponto para da próxima vez podermos acessar o rio por um caminho muito mais rápido. Da clareira do coqueirinho, andamos por mais uns minutos e pegamos uma trilha para a direita e em mais outros minutinhos, desembocamos na estrada, junto a um sítio com alguns lagos cortado ao meio por uma ponte de madeira, onde conseguimos uma carona para voltar a BR 116, evitando que precisássemos andar modorrentos 18 km. Na BR pegamos um ônibus direto para casa do Décio, em Itapecerica da Serra, onde resolvemos fazer um churrasco para comemorar, se não o sucesso total da empreitada, ao menos a união e o companheirismo do grupo que juntos se safaram ilesos do que poderia ter se transformado numa grande tragédia, mas que no final só aguçou a vontade de colocarmos novamente a faca nos dentes e definitivamente tirar aquele vale selvagem do anonimato.

 

Essa foi mais uma EXPEDIÇÃO AO LADO ESCURO DA SERRA DO MAR PAULISTA, é verdade que o referido vale não foi completamente explorado por causa das circunstâncias descritas acima, não conseguimos registrar as tais cachoeiras monstro que imaginávamos existir, mas podem ter certeza, neste exato momento que esse relato chega ao conhecimento de todos, já estamos com as mochilas prontas e fechando a porta atrás de nós para que essa Travessia e esse Vale selvagem seja revelado definitivamente e entre para a galeria das grandes Travessias da Serra do Mar Paulista.

 

Divanei Goes de Paula – março/2016

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  • 2 semanas depois...
  • Membros de Honra
Postado

ATENÇÃO : O VALE DO ITARIRU acaba de ser conquistado, o mistério foi desvendado. Foram 4 dias no mundo selvagem, num lugar menos visitado que o planeta Marte. Saímos do outro lado um farrapos humanos , mas com a sensação do dever cumprido. Estou escrevendo o RELATO e editando os filminhos.

  • 9 meses depois...
  • Membros de Honra
Postado

Você poderá ler o RELATO da conquista do Vale aqui mesmo no mochileiro.com :

 

TRAVESSIA EXPEDICIONÁRIA VALE DO ITARIRU.

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