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Travessia Petrô/Terê - 11 cabeças e um destino


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TRAVESSIA PETRÓPOLIS/TERESÓPOLIS - 29/07 À 31/07/2005

 

DEDICATÓRIAS

 

Dedico este relato emocionado a Deus; inteligência suprema, causa primeira de todas as coisas, todo poderoso, que criou a natureza e toda aquela maravilha de cadeia montanhosa do PARNASO, à minha esposa Ana Lúcia que sempre me apoiou nas minhas loucuras e nunca criou nenhum obstáculo para que eu realizasse os meus sonhos, aos meus filhos Mario, Aline e Anna.

Dedico também aos outros nove corações que me acompanharam nesta jornada:

Ø Marcos - Grande líder. A única pessoa que seria capaz de me fazer retornar para o grupo. O tipo de líder nato que faz os seus comandados seguir felizes para o embate, porque sabem que ele sempre estará à frente.

Ø Marcio - Grande cara. Calmo, sereno e que carrega um guerreiro dentro de si. A única pessoa capaz de fazer o que fez, no estado de saúde em que estava.

Ø Pepino - Outro camarada que não se abala por nada. Com uma calma constante e uma imensa vontade de agregar.

Ø Arthur - Meu garoto. Um menino que ainda me chama de "chefe", que apesar dos seus dezenove anos, ainda carrega aquele olhar dos tempos de menino. Conserve sempre este olhar rapaz. Mantenha sempre este menino dentro de ti.

Ø Marcelo - Figurassa. Todo entusiasmo antes e o maior chorão durante. Mas um grande cara e um grande camarada que só agora estou tendo o prazer de conhecer melhor. É bom ter você com a gente.

Ø Gabriel Borel - Nada seria bom sem ele. Um cara que me surpreende a cada vez que o vejo. Um menino no corpo de uma baleia. Rssss. Ou melhor; de um homem. Sempre alegre e disposto a levantar a moral do grupo, sempre acompanhado da sua inseparável "bombinha". Dá-lhe Borel.

Ø Renato - Outro exemplar de companheiro que parece estar eternamente calmo. Bom garoto, centrado e amigo de todas as horas. Só precisa dar mais sinal de vida. Rsss.

Ø Gabriel Frodo - Grande aquisição para o grupo. Um cara falante, amigo e bom papo. Vê se aparece mais, pois você já é importante pra gente.

Ø Elton - Esse é o meu "Mucamo" rssss. Que nada; grande amigo e companheiro. Um cara super educado e excelente figura humana. Amigo para todas as horas. Já é um dos nossos.

Gostaria de dedicar também àqueles que por vários motivos não foram com a gente e que certamente teriam amado estar conosco e viver o que vivemos. Luizinho, David, Nego, Filipe Camões, Felipe Fedorento, Pepininho, Daniele DDD, Augusto, meu filho Mário e tantos outros.

Um abraço especial aos meus grandes companheiros de jornada: Bira, que não pôde ir por motivos sentimentais (reza a lenda que ele arrumou uma namorada braba em S. Paulo e ela não deixou ele ir) e ao meu irmãozinho do coração Sandro "Banana de Pijama" que à quase três meses vem dormindo em uma poltrona do Hospital Gafree Guinle, sofrendo com a sua mãezinha que está com grave problema de saúde.

Meu amigo; meu coração está com você e com a Cida. Tenha fé que ela vai sair dessa e que estaremos fazendo esta travessia juntos em breve. Com você eu pego a minha mochila a qualquer hora e vou, sem pensar duas vezes. "Amigo é coisa pra se guardar do lado esquerdo do peito...".

 

 

 

 

INTRODUÇÃO

 

Caros amigos. Este relato para mim, é muito mais do que um simples relato de uma aventura. Trata-se de uma história que teve início em Julho de 2002 quando, já estava afastado do Grupo Escoteiro Anhangá, fui convidado pelo Marcos, chefe da Tropa Sênior a fazer a trilha para o Açu.

Nos três anos anteriores a esta data, vinha ouvindo histórias e fotos sobre o PARNASO e a sua temida trilha para o Açu. A impressão que eu tinha é que no nosso Grupo Escoteiro, havia uma diferença sentimental entre os que já haviam ido e os que não haviam ido ao Açu. Hoje eu entendo por que.

No ano de 2001 a tropa Sênior foi, e com eles foi a minha sobrinha. Passaram o maior "perremgue" da vida deles com uma chuva torrencial e um frio terrível.

Ao ouvir aquelas histórias, eu me perguntava, porque eu não havia ido.

Em 2002 não tive dúvidas e fui com eles. Já não era a Tropa Sênior, mas sim alguns remanescentes dela e dois amigos meus: Bira e Sandro. Não preciso dizer que foi amor à primeira vista.

A partir daquele final de semana, assumi uma relação de completo amor por aquele lugar. Retornei lá meses depois com minha família e fomos até o Poço do Paraíso. Nadei naquelas águas como um filho que retorna aos seios de sua mãe. Contei os dias para voltar ao Açu no ano seguinte. Preparei-me intensamente, tratando do meu joelho eternamente "bixado" e fiquei bastante triste ao saber, às vésperas da data marcada, que o Marcos não iria. Assim mesmo convoquei meu sobrinho Augusto e meus dois amigos Bira e Sandro e fomos. Mesmo com dúvidas sobre o caminho, seguimos, vencemos e adoramos tudo.

Depois daquele dia, meu coração pedia mais. Eu precisava conhecer o PARNASO na sua intimidade e para isso seria preciso fazer a travessia.

A essas alturas do campeonato, o nosso grupo se resumia apenas em três; Eu, Bira e Sandro. Isso não foi o suficiente para nos desanimar. Preparamo-nos por quase um ano e em Julho de 2004 seguimos para aquele que seria o nosso grande "perrengue". Resumindo tudo; choveu um monte, o Sandro teve crise renal com febre e delírios no Açu, muita gente voltou com barracas quebradas e nós tivemos que abortar a nossa jornada e retornar do Açu. O fato de termos voltado ilesos já foi uma grande vitória, porque foi debaixo de muita chuva, neblina e com o Sandro bastante enfraquecido pelas crises renais.

Hoje, escrevendo este relato, fico feliz em saber que não seguimos, porque certamente nos perderíamos naquele final de semana, tendo em vista o nosso despreparo a nível de material para navegação e o mau tempo. Mas para nós, à época, foi uma grande derrota e não preciso dizer que passamos todo o ano seguinte nos preparando para voltar em 2005.

Porém, o acaso (apesar de eu crer que o acaso não existe) conspirou para que a coisa acontecesse de forma completamente diferente do planejado. É a partir daí que se inicia a verdadeira história da bem sucedida Travessia Petrô-Terê/2005:

 

 

 

 

 

 

 

O ACASO E O REENCONTRO

 

Aproximadamente em Maio de 2005, eu me encontrava em um grande dilema. Meu sobrinho Augusto estava criando dificuldade para ir, porque estava com muito trabalho na refinaria e também porque estava meio que encantado com a sua nova posição social, já que estava com um bom emprego, um bom carro e, como é natural; outras prioridades. O Bira, com aquela calma irritante, mostrava também dificuldades para encaixar uma data e o Sandro, coitado, já estava sofrendo com a saúde da sua mãe Cida. Imaginem como estava a minha cabeça. Todo um planejamento depois do fracasso do ano passado para nada. Cheguei a pensar em ir sozinho, pois o planejamento estava pronto. Eu estava pronto.

Desde Novembro, quando havia tido alta na fisioterapia, estava malhando e me preparando para encarar o PARNASO e agora a coisa estava desmoronando à minha frente.

Foi quando num certo dia durante uma reunião da empresa, na hora do almoço, eu comentei a mesa sobre a travessia. Imediatamente o Elton mostrou interesse, mas eu como já estou "calejado", nem dei muita bola e achei que ele no dia seguinte iria esquecer. À noite, voltando para casa, estava na carona de um amigo em pleno congestionamento no Elevado da Perimetral, quando resolvi ligar para o Marcos. O interessante é que até aquele momento, eu não havia levantado aquela hipótese. Foi algo muito de repente, de estalo. Procurei o seu telefone na minha agenda e achei. Liguei meio receoso com a sua recepção, já que não nos falávamos à quase dois anos, e para minha surpresa, o cara ficou super empolgado, já traçando várias estratégias para juntar outras pessoas ao grupo. Aquilo foi a injeção de ânimo que me faltava.

A partir daquele dia, começamos a trocar e-mails e entrei no site do grupo ( www.anhanga@yahoogrupos.com.br ).

A semente foi lançada e as pessoas foram reaparecendo com um entusiasmo surpreendente. Como se todos já estivessem esperando por aquele chamado.

Pra quem está de fora, pode parecer, esse relato, meio melodramático, mas para aqueles que viveram a experiência de ser escoteiro, sabem perfeitamente traduzir a emoção que estou tentando transmitir.

Pela internet, é como se eu visse o brilho no olhar daqueles que eram garotos à época e que hoje são homens. Cada um com as suas responsabilidades e compromissos, porém com o bom e velho brilho no olhar dos tempos de escoteiros.

Fiquei muito feliz por ter, de certa forma, sido o responsável por esse renascimento do grupo e, daí em diante, não parei mais.

Marcamos a data - 29/07 à 31/07 - e planejamos duas caminhadas preparatórias para o Pico da Tijuca e a Pedra da Gávea.

Para o pico da Tijuca fomos eu, Elton e Marcelo. O tempo estava bastante fechado e frio. Apesar de estarmos apenas em três, ficamos bastante empolgados, sentíamos ali, pela primeira vez que "o bebê estava concebido", "a semente estava lançada", estávamos verdadeiramente à caminho do PARNASO.

Foi super-legal e o Elton, que até então era marinheiro de primeira viagem, começou a sentir de perto o prazer de fazer uma trilha. Lá em cima estava super frio. Comemos, tomamos chocolate quente, conversamos um pouco e descemos.

Na semana seguinte fomos para a Pedra da Gávea. Desta vez fomos eu, Marcelo, Borel e Pepino. O relato vocês tem a oportunidade de ler no site do grupo. Adianto para vocês que foi bom demais e uma grata surpresa, já que o nível de dificuldade na subida pela Estrada das Canoas é bastante grande.

No Domingo que antecedeu a Travessia, não fizemos nada, pois estávamos todos quebrados e nos poupando para o grande desafio.

Para a travessia, chegamos a formar um grupo de quinze interessados, mas no final ficamos em dez.

Dez corações e um objetivo: Vencer a temível travessia Petrópolis-Terezópolis.

 

ESCLARECIMENTO À RESPEITO DO RELATO

 

Ao me propor à escrever este relato, imaginei uma forma de faze-lo diferente de tantos relatos lidos por mim, nestes meses que antecederam a travessia.

Observei que todos os relatos eram meras narrativas no pretérito. Imagens frias de coisas passadas. Então me propus ao desafio de narrar a nossa história no presente, como se fosse um "diário de bordo". Para isso, levei um bloquinho de anotações, junto com minha máquina fotográfica e a todo o instante tirava-o do meu bolso para fazer anotações daquilo que ia vendo e observando no grupo. O resultado de tudo isso, foi um monte de "garranchos" quase ininteligíveis com horários, nome de lugares e observações que, tenho a impressão, que só eu sou capaz de entender, tal a precariedade da minha letra.

Com isso, espero que aqueles que o lerem e foram conosco, revivam todos os momentos por mim narrados, e aqueles que não puderam ir, através da magia da leitura, se transportem para junto do nosso grupo e revivam conosco aqueles momentos maravilhosos passados por nós.

Procurarei ser o mais fiel ao que escrevi durante a travessia, portanto, não estranhem se as coisas, em determinado momento parecerem meio que fora de ordem ou sem nexo.

 

A TRAVESSIA PETRÔ-TERÊ 2005

 

29/07/2005 - Sexta-feira

ü 4:00hs - Já estou de pé. Quase não preguei os olhos. A adrenalina está à mil e vou para a cozinha fazer os meus sanduíches de ometete para leva-los.

ü 5:00 hs - O neto (motorista da Van) já me passou o rádio e já está na porta do Penha Shopping nos esperando. O negão (Elton) está atrasado. É uma M... avisei tanto a ele para ser pontual.

ü 5:30 hs - O grupo está formado. Estamos em dez; eu, Elton. Marcos, Marcio, Borel, Arthur, Pepino, Maecelo, Renato e Gabriel Fgrodo; um amigo da Petrobrás do Marcos. Estamos a caminho de Petrópolis.

o O Marcio não está legal, parece que está com uma gripe braba e vai na raça.

o O Nego não apareceu, "peidou".

o O Marcelo também estava peidando e o Marcos teve que busca-lo em sua casa ontem a noite para ele vir. A desculpa foi o cachorrinho doente. Forte candidato a peidar na travessia.

o "Peidar" é dar para trás, desistir, ficar de corpo mole.

ü 6:50 hs - Estamos a 500 mts da porta do parque, já dispensamos o Neto e vamos para a portaria.

o Fotos e lanche.

ü 7:40 hs - Começou a revista das mochilas por parte dos guardas do IBAMA. Os caras estão rigorosos este ano, olham tudo.

o Tivemos o primeiro contra tempo; ao contrário do que estava na internet e do que o IBAMA nos confirmou por telefone na véspera, os caras nos cobraram R$12,00 por pernoite, o que causou um certo embaraço, já que alguns estão com o dinheiro contado. Estamos achando que esta grana é para eles "racharem", já que o quadro de avisos na entrada do parque está visivelmente adulterado. Vou tirar uma foto do quadro para ver o que faço depois à nível de indenização.

ü 8:35 hs - Estamos partindo. Todos estão muito animados. O dia está lindo e o clima é bastante agradável. Fizemos a nossa tradicional prece e me lembrei dos meus amigos Bira e Sandro que ficaram.

o Pepino puxou o grupo e imprimiu o ritmo.

o Estou na retaguarda, como gosto de fazer. Pra variar, minha mochila deve ser a mais pesada. A gente vai9 ficando velho e passa a exigir mais conforto. Isso tem um preço, que é o de carregar mais peso.

ü 10:40 hs - PEDRA DO QUEIJO:

o Tive dificuldades para chegar. Esse primeiro trecho sempre me desagradou. Estou quebrado e esta mochila está acabando com o meu ombro.

o Elton escreveu: " o que estou fazendo aqui?".

o Estamos todos bem apesar do cansaço do primeiro estirão.

o Pausa para fotos e lanche.

o Fomos alcançado por um grupo de cinco pessoas acompanhados por um guia. O apelido do cara é "Mateiro". Parece que o cara sabe muito. Disse que faz o PARNASO a vinte anos e o Borel confirmou que na internet falam muito bem dele.

o Propus ao grupo que não perdêssemos eles de vista para uma eventual necessidade de "ajuda" na travessia.

ü 11:15 hs - Saída do queijo.

ü 12:10 hs - AJAX :

o 55 minutos de trilha entre o Queijo e o Ajax. Fizemos em um ótimo tempo.

o O Elton está morto.

o O dia está lindo e ta na hora de tirar o resto de casaco que nos cobre porque está esquentando.

o A galera está atacando o empadão da tia Marisa. Vou segurar o meu para comer no Açu.

o O grupo do Mateiro está no nosso encalço e chegou mais uma galera. O Ajax está ficando cheio, ta na hora da gente vazar.

o Tem um cara que passou pela gente igual uma bala. Ele está sozinho e parece que veio aqui a três semanas passadas com um grupo e agora quer fazer em dois dias sozinho para memorizar a trilha. Legal.

ü 13:15 hs - Saída do Ájax.

ü 14:20 hs - Estamos na pedra do Urubu descansando e tirando fotos. A subida do chapadão foi braba,. Mas estamos indo bem. Os corpos já estão acostumados com o peso das mochilas e a coisa vai bem.

o O Elton passou um rádio para o André e o cara ficou com água na boca.

o A vista daqui é linda e o dia está maravilhoso.

ü 15:20 hs - CASTELO DO AÇÚ:

o Tempo bom com nuvens esparsas.

o Todos inteiros.

o O joelho está quente. Vou ver como vai estar amanhã.

o Elton chegou bem.

o Marcelo está peidando direto e penou para chegar.

o Fomos o segundo grupo a chegar, atrás do grupo do mateiro.

o Vamos montar o acampamento bem do lado desta pedra que tem o cabo de aço. É um ponto legal, pois a vista do rio é total e o ponto é bem protegido dos ventos sem pontos de represamento de água em caso de chuvas.

o 18:45 hs - Márcio está ferrado com gripe. Estamos preocupados com ele. Montamos as barracas e ele foi dormir com o Marcos que também está bastante cansado, já que está vindo direto da plataforma.

ü 19:20 hs - Estou na barraca. Fiz um Miojão Yaksoba e uma caneca enorme de capuchino. Já liguei para a Sereia e ouvi a voz da Anninha. Infelizmente não vou poder ligar para a Docinho (minha filha Aline)porque estou sem celular e o da Sereia (minha esposa) que eu trouxe não está dando sinal. Estou usando o do Marcelo emprestado, mas aqui as baterias se esgotam rapidamente.

o A galera resolveu sair das barracas e se movimentar, apesar do frio intenso.

o O tempo está legal. O céu coberto de estrelas, apesar de para baixo, as nuvens estarem encobrindo um pouco o Rio.

o Amanhã pretendemos levantar às 5:30hs e sair até as 8:00 hs.

o O Marcio está muito mal. A gripe está derrubando ele, mas o cara é guerreiro. Dei vitamina C a ele e quase duzentas gotas de própolis que ele bebeu fazendo cara de poucos amigos, porque o troço é ruim pacas.

o Fiz um panelão de Capuchino pra galera e estamos trocando idéias. A esperança é grande de que tudo dê certo amanhã na travessia. Quero ver se amanhã dou uma volta por aqui para mostrar para o Elton, porque hoje ele já está dormindo na maior derrota.

o A galera está caindo no meu pêlo, porque o Borel começou a me sacanear. É que como o Elton é meu convidado e está meio despreparado, eu estou dando uma atenção especial para que ele se sinta à vontade com o grupo. Não preciso dizer que o Borel não perdeu tempo em dizer que o cara é meu Mucamo e viramos o casal do grupo. Mas isso é que é legal, porque o clima é ótimo e as sacanagens e encarnações fazem o grupo se descontrair.

 

30/07/2005 - Sábado

ü 5:20 hs - O frio ta de rachar os ossos. A turma está começando a acordar e ainda está escuro. Vamos para cima do Castelo do Açu para ver o dia nascer.

ü 6:40 hs. - ESPETACULAR!

o Subimos a pedra do castelo e ficamos esperando o sol subir.

o Já estava pensando em descer por causa do frio e do vento quando por detrás do Dedo de Deus, aquela maravilhosa bola avermelhada começou a despontar.

o Só estando aqui para sentir como é fascinante esta experiência. Tiramos fotos e comemoramos o nascer do sol e com ele mais um lindo dia.

o Bem diferente do perrengue do ano passado. Meus amigos ausentes, como devem estar? Seria muito bom tê-los aqui conosco.

o O Elton e o Marcelo perderam, pois não saíram da barraca com medo do frio.

o Agora é que o Negão está vindo. Mas agora já é tarde. Perdeu o espetáculo.

ü 8:00 hs - Levantamos acampamento e vamos, eu, Borel, Renato e Elton pegar água naquela nascente escondida lá embaixo. Precisamos nos apresar, porque o grupo do Mateiro já está se preparando para sair.

o O Marcio está muito mal.

o Marcos veio me falar que ele está querendo voltar. O Marcos disse a ele que sem ele não seguiria e eu disse a mesma coisa. Afinal de contas o nosso lema sempre foi o de que onde um vai todos vão.

o Isso incentivou a seguir e parece que ele mudou de idéia e vai continuar.

ü 8:35 hs - O grupo do Mateiro partiu e vamos segui-los.

ü 8:45 hs - Saída do Açu.

o O Mateiro é esperto. Ele sentiu a nossa estratégia e simulou uma parada para pegar água, deixando o nosso grupo passar. Agora estamos por nossa conta.

o Caraca. Estamos perdidos.

o Logo no começo a trilha simplesmente sumiu. Pelo mapa, nós temos o Morro da Luva à nossa frente, mas nos deparamos com um declive íngreme de pedras onde não há nenhuma indicação. O grupo está esperando na encosta e eu e o Marcos nos dividimos para procurar a trilha.

o Não tem jeito. A M... da trilha não aparece. O negócio é esperar a turma do Mateiro passar e segui-lo.

o O cara (Mateiro) é muito esperto. Sentindo que estávamos perdidos, veio falar com a gente e nos propôs que por R$5,00 por cabeça, a gente poderia seguir o seu grupo, tomando uma certa distância, porquê as três garotas do seu grupo estavam assustadas com a gente e como era o seu trabalho, ele precisava preservar a paz e tranqüilidade dos seus clientes.

o Foi legal, afinal de contas o cara vive disso e pra nós saiu quase de graça.

o Pelo visto, ficaríamos por aqui por bastante tempo até acharmos a trilha, porque estávamos convergindo para a direita e a trilha estava aqui na frente do grupo que ficou na encosta, logo à esquerda. O mato tem dessas coisas. É isso que me fascina.

ü 9:40 hs MORRO DO MARCO:

o Estamos no topo do morro do marco. Foram 200 mts de descida pela encosta, e 300 mts de subida atacando-o pelo flanco esquerdo.

o Daqui a gente vê todo o Açu ficando pra traz. Uma vista que eu esperava a três anos, porque é um ângulo do Açu que nenhum de nós ainda tinha visto.

o Fotos rápidas, porque ainda é cedo para parar e o Mateiro disse que a sua programação (agora passa a ser a nossa) é pernoitar apenas no Abrigo 04.

o Tomara que consigamos, pois assim, nos livraríamos de dormir no Vale das Antas que pelo que lemos no relato está virando um reservatório de Cocô.

ü 10:25 hs VALE DO PARAÍSO (DA LUVA):

o O Mateiro me disse que embora no meu mapa esteja escrito que aqui é o Vale do Paraíso, na verdade é o Vale da Luva. Assim chamado porque por ser um ponto de pernoite, sempre se esquecem luvas por aqui.

o Este pedaço é muito legal. Descemos o morro do Marco (+ ou - 200 mts) e nos deparamos com um pequeno Oásis com um córrego com água boa para beber.

o A vegetação aqui é de Mata fechada e temos o morro da Luva pela frente. A impressão que dá é que estamos na Floresta da Tijuca, neste ponto.

o Este ponto me parece bem interessante para um futuro pernoite caso tentemos fazer a travessia em dois dias ou se, caso iniciemos a subida na sexta à noite. Poderíamos passar o Açu e dormir aqui.

o Aqui não haverá parada, apenas encheremos os cantis e vamos seguir.

ü 11:10hs - Parada para descanso. Acabamos de sair da área de mata fechada no morro da Luva e vamos começar a encarar o pedaço com capim elefante e pedras. Ao longe dá pra ver um grupo grande que vem na nossa direção. Eles estão descendo o Morro do Marco e vem em grande velocidade. Parecem estar sem mochilas.

ü 11:30hs - MORRO DA LUVA.

o Morrinho brabo. Duro de encarar.

o Marcelo está empacando.

o Elton agora disse que está sobrando. É a adrenalina. Agora o corpo já se acostumou e ele ta se achando o cara. Até parece... O Negão assumiu a ponta do grupo e disparou na frente.

ü 12:15hs - ELEVADOR:

o Chegamos ao pé do Elevador. É lindo. Um morrão, com escadas de vergalhões encravadas na pedra.

o A turma do Mateiro já está aqui descansando.

o Vamos parar pra lanchar e encarar a subida. Tem um córrego aqui com água boa para se beber.

o Antes de chegarmos, logo aqui , passamos por um trecho onde foi colocado um corrimão de ferro. O Mateiro nos disse que é porque um cara caiu daqui, no ano passado e processou o IBAMA . Aí o parque resolveu colocar este corrimão para evitar novos acidentes. Realmente o pedaço é bastante íngreme e o risco de cair é grande. Com o corrimão o risco é praticamente zero. O problema é que a gente vem pra cá para correr riscos, mesmo que sejam calculados; Daqui a pouco isso vai ficar igual à um parque de diversões e vai acabar perdendo o encanto.

ü 12:40 hs - Vamos partir para encarar o elevador. O grupo que vinha em nosso encalço acaba de nos passar. Eles nem pararam para descansar. São mais de dez cabeças e parece que vão fazer a travessia em um dia. Pelas informações, são uma turma de alunos de educação física. Tem umas garotas que estão mau, mas o grupo acaba incentivandoi os cansados. Pegaram o morrão e já foram embora. Legal. Quem sabe mais pra frente a gente não faz uma Trip dessas.

ü 13:08hs - ALTO DO ELEVADOR:

o Acabamos de subir o Elevador. Para alguns foi o pior trecho. Não pela escada de vergalhão, mas pelo que pegamos depois da escada. É um pedaço de morro bastante íngreme, onde a gente tem que usar as mão e se agarrar nas raízes encharcadas do capim elefante,m pois não há outro tipo de apoio. Essas raízes estão encharcadas e formam uma lama preta e escorregadia que parece sabão.

ü 13:25hs - DINOSSAURO???

o Acho que estamos no Dinossauro. É uma formação rochosa muito bonita. A impressão quer dá é que realmente estamos no Vale dos Dinossauros, tamanha a grandiosidade do lugar. Aqui a gente se sente realmente pequeno diante de tanta beleza proporcionada pela natureza.

ü 13:43hs - MORRO DAS ANTAS

o O ritmo é acelerado. Mateiro aumentou o ritmo e estamos no seu encalço.

o O trecho que pegamos é bastante perigoso. Andamos em pedras com uma inclinação de aproximadamente 60º, com bastante lajes soltas. Aqui os falsos marcos se multiplicam, exatamente como os relatos que li estavam indicando. Muitas setas e marcos que levam a caminhos totalmente opostos do real. Com certeza, teríamos muita dificuldade de achar o caminho verdadeiro sem o Mateiro para nos apoiar.

o Estamos vendo ao longe os mineiros que pernoitaram no Açu próximo de nós.

o De agora em, diante, vamos encarar uma descida bastante íngreme por uma trilha de capim elefante. Daqui já dá pra ver o Vale das Antas. O lugar é muito bonito e podemos contemplar a Pedra do Sino bem a nossa frente.

ü 14:20hs - VALE DAS ANTAS:

o Belo lugar. Não fosse o monte de papel higiênico largado por aqui.

o Realmente o pessoal relata que fazem daqui um grande banheiro público, onde não se tem o menor critério para fazer cocô.

o O lugar é muito bonito. Trata-se de um campo plano com uma vegetação que parece de bambuzal baixo. Tem um córrego com boa água e a galera está se reabastecendo para encarar a trilha que leva à canaleta. Nosso último grande desafio.

ü 15:05hs - DORSO DA BALEIA:

o Que trecho bonito. A impressão que dá é que realmente estamos caminhando em cima de um dorso de uma enorme baleia.

o O paredão do sino está cada vez mais perto e o ritmo é acelerado.

ü 15:25hs - Estamos em um trecho bastante inusitado. Trata-se de um "buraco" que temos que entrar para começar a encarar a trilha pra canaleta. O Mateiro teve que colocar corda em uns grampos porque sem elas, seria difícil as garotas do seu grupo passar. O pedaço é bastante difícil e demanda tempo pra galera toda passar, já que alguns precisam retirar a mochila.

ü 16:00hs - CANALETA:

o Um congestionamento se formou.

o Seguimos; eu, Elton, Borel e Pepino na frente e ao depararmos com a Pedra do Cavalo (uma rocha atravessada na Canaleta em que temos que transpô-la fazendo um movimento idêntico ao que se faz para montar em um cavalo), o grupo do Mateiro nos alcançou. Eu quis dar uma de educado e deixei-os passar. Só que os caras não deixaram e passaram batido pelo Cavalo. Agora eu estou aqui olhando pra bunda gorda de uma garota em pleno congestionamento de gente, esperando o mateiro ter que "içar", literalmente uma por uma. É um micão atrás do outro, pois elas fazem escândalo dizendo que vão cair e o mateiro tem que praticamente atravessá-las no braço.

o A dupla de mineiros que vinha ao nosso encalço desde o Açu nos alcançou. Eles estão na fila esperando a sua vez.., Os caras tem pinta de malucos mas são gente boa. Os dois já foram, escoteiros e já formamos uma amizade. É legal o Movimento Escoteiro, pois nos proporciona esta interação imediata com outros colegas de movimento, mesmo nunca tendo nos visto antes.

ü 16:30hs - Atravessamos a Canaleta. O ritmo é muito rápido, pois sentimos que estamos perto do descanso e ao mesmo tempo o "russo"(neblina) está subindo, anunciando a noite que chega. Vamos correr

ü 17:20hs - ABRIGO 4:

o Sucesso.

o Depois de três anos de sonho, conseguimos concluir a travessia. A sensação é indescritível.

o O Abrigo 04 é um chalé de madeira, com uma boa infra estrutura para receber aqueles turistas que buscam um pouco mais de conforto. Tem beliches e água quente. Mas tudo tem que pagar.

o O banheiro (privada) é gratuito. Não poderia ser diferente, pois do contrário isso aqui estaria igual ao Vale das Antas.

o Do lado de fora, tem uma área de camping, onde a galera mo0nta suas barracas. Já está cheio, pois tem muita gente que vem de Terê só para pernoitar aqui e curtir uma noite com os amigos. Realmente o clima aqui é de bastante confraternização. Muito legal. Tem até pais que trazem seus filhos pré-adolescentes para cá. Eles perturbam um pouco, porque querem ficar correndo de um lado para o outro, mas tudo bem. Daqui a pouco eles vão se recolher, porque o frio é grande.

ü 18:00hs - Barracas montadas. Está bastante frio.

o Marcio está legal. Foi tomar um banho quente e disse que está se sentindo bem.

o O Marcos está a fim de ir ao Sino hoje para ver a noite de lá de cima. Estou fora, estou super cansado, meus ombros estão em frangalhos e só quero comer e dormir para encarar o retorno amanhã, pois ainda temos 11 Km de descida.

ü 19:00hs - A noite é linda. O céu parece um tapete de estrelas, mas o frio é grande. O Mateiro veio trocar4 uma idéia conosco e deixou alguns cartões. De repente a gente vai fechar com ele outras travessias, pois ele disse que há várias outras , tanto no PARNASO, quanto na APA que formam a cadeia da Serra dos Órgãos. O Mateiro nos disse que na noite anterior, no Açu, a temperatura chegou à 0º.

ü

31/07/2005 - DOMINGO

ü 4:20 HS - Alvorada:

o A galera já está acordando. A noite foi bastante fria e como as barracas estão montadas muito próximas uma das outras, não deu para esticar o toldo direito e ele encostou no casulo da barraca, fazendo com que a umidade entrasse.

o Bate papo e sacanagem.

ü 5:45hs - PEDRA DO SINO:

o Faz muito frio aqui.

o Ainda está muito escuro e apenas um leve clarão ao leste anuncia o Sol que está querendo despontar no horizonte.

ü 6:15hs - O SOL. LINDO!

o Meus amigos, isso aqui é fantástico!

o O frio está de raxar e tem mais de 30 pessoas aqui em cima.

o Quando o sol saiu, a alegria foi geral. Muito emocionante. Bandeiras do Brasil desfraldadas e também a dos nossos amigos mineiros, com a bela bandeira das Minas Gerais.

o Só faltam os meus companheiros Bira e Sandro. Na próxima estarei aqui com eles, se Deus quiser.

o Peguei o telefone do Marcos emprestado e liguei para Sereia. Daqui de cima, a gente dá valor a tudo que faz parte da nossa vida e gostaria muito que minha mulher e meus filhos estivessem aqui para compartilhar comigo de toda esta maravilha de lugar.

o Todos nós estamos muito felizes, com uma sensação enorme de missão cumprida.

o Agora vamos descer para o abrigo para desmontar acampamento e seguir trilha a baixo para encontrarmos com o Neto no parque.

ü 9:40hs - Saída do Abrigo 04:

o Belo dia de sol. Secamos nossas barracas, lanchamos e estamos partindo.

o Antes fizemos um circulo e a nossa tradicional prece de agradecimento. Os mineiros participaram e trocamos emails. Depois, o Marcio sugeriu que fizéssemos a cadeia da fraternidade. Cada um falou um pouco e foi bastante emocionante.

o Só peço à Deus, que possamos repetir esta e outras jornadas daqui pra frente e que esta chama não se apague mais.

ü 13:05hs - Parque de Terê. Fim da Trilha.

o Ô descida chata. Parece que nunca vamos chegar.

o É uma trilha fácil até demais, com um zigue e zague sem fim.

o Durante a descida, aconteceu um fato inusitado: Estávamos caminhando, meio que entediados e impacientes, quando um cara, seguindo no nosso sentido pediu que abríssemos caminho. Ele vinha correndo no maior pique. Quando o cara passou, vimos que nas suas costas, estava amarrado nada menos que um botijão de gás. Isso mesmo, um botijão de gás. O maluco, com certeza, fazia parte do grupo de montanhistas que são voluntários na conservação do Abrigo 04 e simplesmente foi "ali" comprar um gás. Eu sei que o cara passou por nós e sumiu na trilha. Acho que se alguém me contasse isso, sem eu ver, acharia que era mentira. Ficamos nos olhando sem acreditar no que havíamos visto. Com certeza aquilo serviu para quebrarmos um pouco o tédio da descida do Sino.

o Só fiquei um pouco chateado porque não houve o tradicional banho no final da jornada. É que o Marcos já estava doido para irmos embora e fizemos uma votação para saber se tomaríamos banho na piscina natural do parque ou não. Infelizmente venceram os porquinhos e fomos todos fedendo pra casa.

o É importante relatar que os únicos que quiseram o banho foram eu e o Borel. O resto é tudo Sujismundo. Rssss.

 

CONCLUSÃO

É isso aí meus amigos!

Espero que vocês tenham gostado deste humilde relato, pois procurei ser o mais fiel possível às nossas emoções.

Espero sinceramente, que este relato contribua para que o nosso grupo se una cada vez mais e também para que possamos divulgar e trazer para o nosso meio, todos aqueles amigos que ainda estejam desgarrados por aí, fazendo dos seus finais de semana um imenso e tedioso Domingão; dos Faustões, Gugus e etc.

Forte abraço e até a próxima.

 

Alberto ( www.azaueb@yahoo.com.br ).

 

 

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TRAVESSIA PETRÓPOLIS/TERESÓPOLIS - 29/07 À 31/07/2005

 

DEDICATÓRIAS

 

Dedico este relato emocionado a Deus; inteligência suprema, causa primeira de todas as coisas, todo poderoso, que criou a natureza e toda aquela maravilha de cadeia montanhosa do PARNASO, à minha esposa Ana Lúcia que sempre me apoiou nas minhas loucuras e nunca criou nenhum obstáculo para que eu realizasse os meus sonhos, aos meus filhos Mario, Aline e Anna.

Dedico também aos outros nove corações que me acompanharam nesta jornada:

Ø Marcos - Grande líder. A única pessoa que seria capaz de me fazer retornar para o grupo. O tipo de líder nato que faz os seus comandados seguir felizes para o embate, porque sabem que ele sempre estará à frente.

Ø Marcio - Grande cara. Calmo, sereno e que carrega um guerreiro dentro de si. A única pessoa capaz de fazer o que fez, no estado de saúde em que estava.

Ø Pepino - Outro camarada que não se abala por nada. Com uma calma constante e uma imensa vontade de agregar.

Ø Arthur - Meu garoto. Um menino que ainda me chama de "chefe", que apesar dos seus dezenove anos, ainda carrega aquele olhar dos tempos de menino. Conserve sempre este olhar rapaz. Mantenha sempre este menino dentro de ti.

Ø Marcelo - Figurassa. Todo entusiasmo antes e o maior chorão durante. Mas um grande cara e um grande camarada que só agora estou tendo o prazer de conhecer melhor. É bom ter você com a gente.

Ø Gabriel Borel - Nada seria bom sem ele. Um cara que me surpreende a cada vez que o vejo. Um menino no corpo de uma baleia. Rssss. Ou melhor; de um homem. Sempre alegre e disposto a levantar a moral do grupo, sempre acompanhado da sua inseparável "bombinha". Dá-lhe Borel.

Ø Renato - Outro exemplar de companheiro que parece estar eternamente calmo. Bom garoto, centrado e amigo de todas as horas. Só precisa dar mais sinal de vida. Rsss.

Ø Gabriel Frodo - Grande aquisição para o grupo. Um cara falante, amigo e bom papo. Vê se aparece mais, pois você já é importante pra gente.

Ø Elton - Esse é o meu "Mucamo" rssss. Que nada; grande amigo e companheiro. Um cara super educado e excelente figura humana. Amigo para todas as horas. Já é um dos nossos.

Gostaria de dedicar também àqueles que por vários motivos não foram com a gente e que certamente teriam amado estar conosco e viver o que vivemos. Luizinho, David, Nego, Filipe Camões, Felipe Fedorento, Pepininho, Daniele DDD, Augusto, meu filho Mário e tantos outros.

Um abraço especial aos meus grandes companheiros de jornada: Bira, que não pôde ir por motivos sentimentais (reza a lenda que ele arrumou uma namorada braba em S. Paulo e ela não deixou ele ir) e ao meu irmãozinho do coração Sandro "Banana de Pijama" que à quase três meses vem dormindo em uma poltrona do Hospital Gafree Guinle, sofrendo com a sua mãezinha que está com grave problema de saúde.

Meu amigo; meu coração está com você e com a Cida. Tenha fé que ela vai sair dessa e que estaremos fazendo esta travessia juntos em breve. Com você eu pego a minha mochila a qualquer hora e vou, sem pensar duas vezes. "Amigo é coisa pra se guardar do lado esquerdo do peito...".

 

 

 

 

INTRODUÇÃO

 

Caros amigos. Este relato para mim, é muito mais do que um simples relato de uma aventura. Trata-se de uma história que teve início em Julho de 2002 quando, já estava afastado do Grupo Escoteiro Anhangá, fui convidado pelo Marcos, chefe da Tropa Sênior a fazer a trilha para o Açu.

Nos três anos anteriores a esta data, vinha ouvindo histórias e fotos sobre o PARNASO e a sua temida trilha para o Açu. A impressão que eu tinha é que no nosso Grupo Escoteiro, havia uma diferença sentimental entre os que já haviam ido e os que não haviam ido ao Açu. Hoje eu entendo por que.

No ano de 2001 a tropa Sênior foi, e com eles foi a minha sobrinha. Passaram o maior "perremgue" da vida deles com uma chuva torrencial e um frio terrível.

Ao ouvir aquelas histórias, eu me perguntava, porque eu não havia ido.

Em 2002 não tive dúvidas e fui com eles. Já não era a Tropa Sênior, mas sim alguns remanescentes dela e dois amigos meus: Bira e Sandro. Não preciso dizer que foi amor à primeira vista.

A partir daquele final de semana, assumi uma relação de completo amor por aquele lugar. Retornei lá meses depois com minha família e fomos até o Poço do Paraíso. Nadei naquelas águas como um filho que retorna aos seios de sua mãe. Contei os dias para voltar ao Açu no ano seguinte. Preparei-me intensamente, tratando do meu joelho eternamente "bixado" e fiquei bastante triste ao saber, às vésperas da data marcada, que o Marcos não iria. Assim mesmo convoquei meu sobrinho Augusto e meus dois amigos Bira e Sandro e fomos. Mesmo com dúvidas sobre o caminho, seguimos, vencemos e adoramos tudo.

Depois daquele dia, meu coração pedia mais. Eu precisava conhecer o PARNASO na sua intimidade e para isso seria preciso fazer a travessia.

A essas alturas do campeonato, o nosso grupo se resumia apenas em três; Eu, Bira e Sandro. Isso não foi o suficiente para nos desanimar. Preparamo-nos por quase um ano e em Julho de 2004 seguimos para aquele que seria o nosso grande "perrengue". Resumindo tudo; choveu um monte, o Sandro teve crise renal com febre e delírios no Açu, muita gente voltou com barracas quebradas e nós tivemos que abortar a nossa jornada e retornar do Açu. O fato de termos voltado ilesos já foi uma grande vitória, porque foi debaixo de muita chuva, neblina e com o Sandro bastante enfraquecido pelas crises renais.

Hoje, escrevendo este relato, fico feliz em saber que não seguimos, porque certamente nos perderíamos naquele final de semana, tendo em vista o nosso despreparo a nível de material para navegação e o mau tempo. Mas para nós, à época, foi uma grande derrota e não preciso dizer que passamos todo o ano seguinte nos preparando para voltar em 2005.

Porém, o acaso (apesar de eu crer que o acaso não existe) conspirou para que a coisa acontecesse de forma completamente diferente do planejado. É a partir daí que se inicia a verdadeira história da bem sucedida Travessia Petrô-Terê/2005:

 

 

 

 

 

 

 

O ACASO E O REENCONTRO

 

Aproximadamente em Maio de 2005, eu me encontrava em um grande dilema. Meu sobrinho Augusto estava criando dificuldade para ir, porque estava com muito trabalho na refinaria e também porque estava meio que encantado com a sua nova posição social, já que estava com um bom emprego, um bom carro e, como é natural; outras prioridades. O Bira, com aquela calma irritante, mostrava também dificuldades para encaixar uma data e o Sandro, coitado, já estava sofrendo com a saúde da sua mãe Cida. Imaginem como estava a minha cabeça. Todo um planejamento depois do fracasso do ano passado para nada. Cheguei a pensar em ir sozinho, pois o planejamento estava pronto. Eu estava pronto.

Desde Novembro, quando havia tido alta na fisioterapia, estava malhando e me preparando para encarar o PARNASO e agora a coisa estava desmoronando à minha frente.

Foi quando num certo dia durante uma reunião da empresa, na hora do almoço, eu comentei a mesa sobre a travessia. Imediatamente o Elton mostrou interesse, mas eu como já estou "calejado", nem dei muita bola e achei que ele no dia seguinte iria esquecer. À noite, voltando para casa, estava na carona de um amigo em pleno congestionamento no Elevado da Perimetral, quando resolvi ligar para o Marcos. O interessante é que até aquele momento, eu não havia levantado aquela hipótese. Foi algo muito de repente, de estalo. Procurei o seu telefone na minha agenda e achei. Liguei meio receoso com a sua recepção, já que não nos falávamos à quase dois anos, e para minha surpresa, o cara ficou super empolgado, já traçando várias estratégias para juntar outras pessoas ao grupo. Aquilo foi a injeção de ânimo que me faltava.

A partir daquele dia, começamos a trocar e-mails e entrei no site do grupo ( www.anhanga@yahoogrupos.com.br ).

A semente foi lançada e as pessoas foram reaparecendo com um entusiasmo surpreendente. Como se todos já estivessem esperando por aquele chamado.

Pra quem está de fora, pode parecer, esse relato, meio melodramático, mas para aqueles que viveram a experiência de ser escoteiro, sabem perfeitamente traduzir a emoção que estou tentando transmitir.

Pela internet, é como se eu visse o brilho no olhar daqueles que eram garotos à época e que hoje são homens. Cada um com as suas responsabilidades e compromissos, porém com o bom e velho brilho no olhar dos tempos de escoteiros.

Fiquei muito feliz por ter, de certa forma, sido o responsável por esse renascimento do grupo e, daí em diante, não parei mais.

Marcamos a data - 29/07 à 31/07 - e planejamos duas caminhadas preparatórias para o Pico da Tijuca e a Pedra da Gávea.

Para o pico da Tijuca fomos eu, Elton e Marcelo. O tempo estava bastante fechado e frio. Apesar de estarmos apenas em três, ficamos bastante empolgados, sentíamos ali, pela primeira vez que "o bebê estava concebido", "a semente estava lançada", estávamos verdadeiramente à caminho do PARNASO.

Foi super-legal e o Elton, que até então era marinheiro de primeira viagem, começou a sentir de perto o prazer de fazer uma trilha. Lá em cima estava super frio. Comemos, tomamos chocolate quente, conversamos um pouco e descemos.

Na semana seguinte fomos para a Pedra da Gávea. Desta vez fomos eu, Marcelo, Borel e Pepino. O relato vocês tem a oportunidade de ler no site do grupo. Adianto para vocês que foi bom demais e uma grata surpresa, já que o nível de dificuldade na subida pela Estrada das Canoas é bastante grande.

No Domingo que antecedeu a Travessia, não fizemos nada, pois estávamos todos quebrados e nos poupando para o grande desafio.

Para a travessia, chegamos a formar um grupo de quinze interessados, mas no final ficamos em dez.

Dez corações e um objetivo: Vencer a temível travessia Petrópolis-Terezópolis.

 

ESCLARECIMENTO À RESPEITO DO RELATO

 

Ao me propor à escrever este relato, imaginei uma forma de faze-lo diferente de tantos relatos lidos por mim, nestes meses que antecederam a travessia.

Observei que todos os relatos eram meras narrativas no pretérito. Imagens frias de coisas passadas. Então me propus ao desafio de narrar a nossa história no presente, como se fosse um "diário de bordo". Para isso, levei um bloquinho de anotações, junto com minha máquina fotográfica e a todo o instante tirava-o do meu bolso para fazer anotações daquilo que ia vendo e observando no grupo. O resultado de tudo isso, foi um monte de "garranchos" quase ininteligíveis com horários, nome de lugares e observações que, tenho a impressão, que só eu sou capaz de entender, tal a precariedade da minha letra.

Com isso, espero que aqueles que o lerem e foram conosco, revivam todos os momentos por mim narrados, e aqueles que não puderam ir, através da magia da leitura, se transportem para junto do nosso grupo e revivam conosco aqueles momentos maravilhosos passados por nós.

Procurarei ser o mais fiel ao que escrevi durante a travessia, portanto, não estranhem se as coisas, em determinado momento parecerem meio que fora de ordem ou sem nexo.

 

A TRAVESSIA PETRÔ-TERÊ 2005

 

29/07/2005 - Sexta-feira

ü 4:00hs - Já estou de pé. Quase não preguei os olhos. A adrenalina está à mil e vou para a cozinha fazer os meus sanduíches de ometete para leva-los.

ü 5:00 hs - O neto (motorista da Van) já me passou o rádio e já está na porta do Penha Shopping nos esperando. O negão (Elton) está atrasado. É uma M... avisei tanto a ele para ser pontual.

ü 5:30 hs - O grupo está formado. Estamos em dez; eu, Elton. Marcos, Marcio, Borel, Arthur, Pepino, Maecelo, Renato e Gabriel Fgrodo; um amigo da Petrobrás do Marcos. Estamos a caminho de Petrópolis.

o O Marcio não está legal, parece que está com uma gripe braba e vai na raça.

o O Nego não apareceu, "peidou".

o O Marcelo também estava peidando e o Marcos teve que busca-lo em sua casa ontem a noite para ele vir. A desculpa foi o cachorrinho doente. Forte candidato a peidar na travessia.

o "Peidar" é dar para trás, desistir, ficar de corpo mole.

ü 6:50 hs - Estamos a 500 mts da porta do parque, já dispensamos o Neto e vamos para a portaria.

o Fotos e lanche.

ü 7:40 hs - Começou a revista das mochilas por parte dos guardas do IBAMA. Os caras estão rigorosos este ano, olham tudo.

o Tivemos o primeiro contra tempo; ao contrário do que estava na internet e do que o IBAMA nos confirmou por telefone na véspera, os caras nos cobraram R$12,00 por pernoite, o que causou um certo embaraço, já que alguns estão com o dinheiro contado. Estamos achando que esta grana é para eles "racharem", já que o quadro de avisos na entrada do parque está visivelmente adulterado. Vou tirar uma foto do quadro para ver o que faço depois à nível de indenização.

ü 8:35 hs - Estamos partindo. Todos estão muito animados. O dia está lindo e o clima é bastante agradável. Fizemos a nossa tradicional prece e me lembrei dos meus amigos Bira e Sandro que ficaram.

o Pepino puxou o grupo e imprimiu o ritmo.

o Estou na retaguarda, como gosto de fazer. Pra variar, minha mochila deve ser a mais pesada. A gente vai9 ficando velho e passa a exigir mais conforto. Isso tem um preço, que é o de carregar mais peso.

ü 10:40 hs - PEDRA DO QUEIJO:

o Tive dificuldades para chegar. Esse primeiro trecho sempre me desagradou. Estou quebrado e esta mochila está acabando com o meu ombro.

o Elton escreveu: " o que estou fazendo aqui?".

o Estamos todos bem apesar do cansaço do primeiro estirão.

o Pausa para fotos e lanche.

o Fomos alcançado por um grupo de cinco pessoas acompanhados por um guia. O apelido do cara é "Mateiro". Parece que o cara sabe muito. Disse que faz o PARNASO a vinte anos e o Borel confirmou que na internet falam muito bem dele.

o Propus ao grupo que não perdêssemos eles de vista para uma eventual necessidade de "ajuda" na travessia.

ü 11:15 hs - Saída do queijo.

ü 12:10 hs - AJAX :

o 55 minutos de trilha entre o Queijo e o Ajax. Fizemos em um ótimo tempo.

o O Elton está morto.

o O dia está lindo e ta na hora de tirar o resto de casaco que nos cobre porque está esquentando.

o A galera está atacando o empadão da tia Marisa. Vou segurar o meu para comer no Açu.

o O grupo do Mateiro está no nosso encalço e chegou mais uma galera. O Ajax está ficando cheio, ta na hora da gente vazar.

o Tem um cara que passou pela gente igual uma bala. Ele está sozinho e parece que veio aqui a três semanas passadas com um grupo e agora quer fazer em dois dias sozinho para memorizar a trilha. Legal.

ü 13:15 hs - Saída do Ájax.

ü 14:20 hs - Estamos na pedra do Urubu descansando e tirando fotos. A subida do chapadão foi braba,. Mas estamos indo bem. Os corpos já estão acostumados com o peso das mochilas e a coisa vai bem.

o O Elton passou um rádio para o André e o cara ficou com água na boca.

o A vista daqui é linda e o dia está maravilhoso.

ü 15:20 hs - CASTELO DO AÇÚ:

o Tempo bom com nuvens esparsas.

o Todos inteiros.

o O joelho está quente. Vou ver como vai estar amanhã.

o Elton chegou bem.

o Marcelo está peidando direto e penou para chegar.

o Fomos o segundo grupo a chegar, atrás do grupo do mateiro.

o Vamos montar o acampamento bem do lado desta pedra que tem o cabo de aço. É um ponto legal, pois a vista do rio é total e o ponto é bem protegido dos ventos sem pontos de represamento de água em caso de chuvas.

o 18:45 hs - Márcio está ferrado com gripe. Estamos preocupados com ele. Montamos as barracas e ele foi dormir com o Marcos que também está bastante cansado, já que está vindo direto da plataforma.

ü 19:20 hs - Estou na barraca. Fiz um Miojão Yaksoba e uma caneca enorme de capuchino. Já liguei para a Sereia e ouvi a voz da Anninha. Infelizmente não vou poder ligar para a Docinho (minha filha Aline)porque estou sem celular e o da Sereia (minha esposa) que eu trouxe não está dando sinal. Estou usando o do Marcelo emprestado, mas aqui as baterias se esgotam rapidamente.

o A galera resolveu sair das barracas e se movimentar, apesar do frio intenso.

o O tempo está legal. O céu coberto de estrelas, apesar de para baixo, as nuvens estarem encobrindo um pouco o Rio.

o Amanhã pretendemos levantar às 5:30hs e sair até as 8:00 hs.

o O Marcio está muito mal. A gripe está derrubando ele, mas o cara é guerreiro. Dei vitamina C a ele e quase duzentas gotas de própolis que ele bebeu fazendo cara de poucos amigos, porque o troço é ruim pacas.

o Fiz um panelão de Capuchino pra galera e estamos trocando idéias. A esperança é grande de que tudo dê certo amanhã na travessia. Quero ver se amanhã dou uma volta por aqui para mostrar para o Elton, porque hoje ele já está dormindo na maior derrota.

o A galera está caindo no meu pêlo, porque o Borel começou a me sacanear. É que como o Elton é meu convidado e está meio despreparado, eu estou dando uma atenção especial para que ele se sinta à vontade com o grupo. Não preciso dizer que o Borel não perdeu tempo em dizer que o cara é meu Mucamo e viramos o casal do grupo. Mas isso é que é legal, porque o clima é ótimo e as sacanagens e encarnações fazem o grupo se descontrair.

 

30/07/2005 - Sábado

ü 5:20 hs - O frio ta de rachar os ossos. A turma está começando a acordar e ainda está escuro. Vamos para cima do Castelo do Açu para ver o dia nascer.

ü 6:40 hs. - ESPETACULAR!

o Subimos a pedra do castelo e ficamos esperando o sol subir.

o Já estava pensando em descer por causa do frio e do vento quando por detrás do Dedo de Deus, aquela maravilhosa bola avermelhada começou a despontar.

o Só estando aqui para sentir como é fascinante esta experiência. Tiramos fotos e comemoramos o nascer do sol e com ele mais um lindo dia.

o Bem diferente do perrengue do ano passado. Meus amigos ausentes, como devem estar? Seria muito bom tê-los aqui conosco.

o O Elton e o Marcelo perderam, pois não saíram da barraca com medo do frio.

o Agora é que o Negão está vindo. Mas agora já é tarde. Perdeu o espetáculo.

ü 8:00 hs - Levantamos acampamento e vamos, eu, Borel, Renato e Elton pegar água naquela nascente escondida lá embaixo. Precisamos nos apresar, porque o grupo do Mateiro já está se preparando para sair.

o O Marcio está muito mal.

o Marcos veio me falar que ele está querendo voltar. O Marcos disse a ele que sem ele não seguiria e eu disse a mesma coisa. Afinal de contas o nosso lema sempre foi o de que onde um vai todos vão.

o Isso incentivou a seguir e parece que ele mudou de idéia e vai continuar.

ü 8:35 hs - O grupo do Mateiro partiu e vamos segui-los.

ü 8:45 hs - Saída do Açu.

o O Mateiro é esperto. Ele sentiu a nossa estratégia e simulou uma parada para pegar água, deixando o nosso grupo passar. Agora estamos por nossa conta.

o Caraca. Estamos perdidos.

o Logo no começo a trilha simplesmente sumiu. Pelo mapa, nós temos o Morro da Luva à nossa frente, mas nos deparamos com um declive íngreme de pedras onde não há nenhuma indicação. O grupo está esperando na encosta e eu e o Marcos nos dividimos para procurar a trilha.

o Não tem jeito. A M... da trilha não aparece. O negócio é esperar a turma do Mateiro passar e segui-lo.

o O cara (Mateiro) é muito esperto. Sentindo que estávamos perdidos, veio falar com a gente e nos propôs que por R$5,00 por cabeça, a gente poderia seguir o seu grupo, tomando uma certa distância, porquê as três garotas do seu grupo estavam assustadas com a gente e como era o seu trabalho, ele precisava preservar a paz e tranqüilidade dos seus clientes.

o Foi legal, afinal de contas o cara vive disso e pra nós saiu quase de graça.

o Pelo visto, ficaríamos por aqui por bastante tempo até acharmos a trilha, porque estávamos convergindo para a direita e a trilha estava aqui na frente do grupo que ficou na encosta, logo à esquerda. O mato tem dessas coisas. É isso que me fascina.

ü 9:40 hs MORRO DO MARCO:

o Estamos no topo do morro do marco. Foram 200 mts de descida pela encosta, e 300 mts de subida atacando-o pelo flanco esquerdo.

o Daqui a gente vê todo o Açu ficando pra traz. Uma vista que eu esperava a três anos, porque é um ângulo do Açu que nenhum de nós ainda tinha visto.

o Fotos rápidas, porque ainda é cedo para parar e o Mateiro disse que a sua programação (agora passa a ser a nossa) é pernoitar apenas no Abrigo 04.

o Tomara que consigamos, pois assim, nos livraríamos de dormir no Vale das Antas que pelo que lemos no relato está virando um reservatório de Cocô.

ü 10:25 hs VALE DO PARAÍSO (DA LUVA):

o O Mateiro me disse que embora no meu mapa esteja escrito que aqui é o Vale do Paraíso, na verdade é o Vale da Luva. Assim chamado porque por ser um ponto de pernoite, sempre se esquecem luvas por aqui.

o Este pedaço é muito legal. Descemos o morro do Marco (+ ou - 200 mts) e nos deparamos com um pequeno Oásis com um córrego com água boa para beber.

o A vegetação aqui é de Mata fechada e temos o morro da Luva pela frente. A impressão que dá é que estamos na Floresta da Tijuca, neste ponto.

o Este ponto me parece bem interessante para um futuro pernoite caso tentemos fazer a travessia em dois dias ou se, caso iniciemos a subida na sexta à noite. Poderíamos passar o Açu e dormir aqui.

o Aqui não haverá parada, apenas encheremos os cantis e vamos seguir.

ü 11:10hs - Parada para descanso. Acabamos de sair da área de mata fechada no morro da Luva e vamos começar a encarar o pedaço com capim elefante e pedras. Ao longe dá pra ver um grupo grande que vem na nossa direção. Eles estão descendo o Morro do Marco e vem em grande velocidade. Parecem estar sem mochilas.

ü 11:30hs - MORRO DA LUVA.

o Morrinho brabo. Duro de encarar.

o Marcelo está empacando.

o Elton agora disse que está sobrando. É a adrenalina. Agora o corpo já se acostumou e ele ta se achando o cara. Até parece... O Negão assumiu a ponta do grupo e disparou na frente.

ü 12:15hs - ELEVADOR:

o Chegamos ao pé do Elevador. É lindo. Um morrão, com escadas de vergalhões encravadas na pedra.

o A turma do Mateiro já está aqui descansando.

o Vamos parar pra lanchar e encarar a subida. Tem um córrego aqui com água boa para se beber.

o Antes de chegarmos, logo aqui , passamos por um trecho onde foi colocado um corrimão de ferro. O Mateiro nos disse que é porque um cara caiu daqui, no ano passado e processou o IBAMA . Aí o parque resolveu colocar este corrimão para evitar novos acidentes. Realmente o pedaço é bastante íngreme e o risco de cair é grande. Com o corrimão o risco é praticamente zero. O problema é que a gente vem pra cá para correr riscos, mesmo que sejam calculados; Daqui a pouco isso vai ficar igual à um parque de diversões e vai acabar perdendo o encanto.

ü 12:40 hs - Vamos partir para encarar o elevador. O grupo que vinha em nosso encalço acaba de nos passar. Eles nem pararam para descansar. São mais de dez cabeças e parece que vão fazer a travessia em um dia. Pelas informações, são uma turma de alunos de educação física. Tem umas garotas que estão mau, mas o grupo acaba incentivandoi os cansados. Pegaram o morrão e já foram embora. Legal. Quem sabe mais pra frente a gente não faz uma Trip dessas.

ü 13:08hs - ALTO DO ELEVADOR:

o Acabamos de subir o Elevador. Para alguns foi o pior trecho. Não pela escada de vergalhão, mas pelo que pegamos depois da escada. É um pedaço de morro bastante íngreme, onde a gente tem que usar as mão e se agarrar nas raízes encharcadas do capim elefante,m pois não há outro tipo de apoio. Essas raízes estão encharcadas e formam uma lama preta e escorregadia que parece sabão.

ü 13:25hs - DINOSSAURO???

o Acho que estamos no Dinossauro. É uma formação rochosa muito bonita. A impressão quer dá é que realmente estamos no Vale dos Dinossauros, tamanha a grandiosidade do lugar. Aqui a gente se sente realmente pequeno diante de tanta beleza proporcionada pela natureza.

ü 13:43hs - MORRO DAS ANTAS

o O ritmo é acelerado. Mateiro aumentou o ritmo e estamos no seu encalço.

o O trecho que pegamos é bastante perigoso. Andamos em pedras com uma inclinação de aproximadamente 60º, com bastante lajes soltas. Aqui os falsos marcos se multiplicam, exatamente como os relatos que li estavam indicando. Muitas setas e marcos que levam a caminhos totalmente opostos do real. Com certeza, teríamos muita dificuldade de achar o caminho verdadeiro sem o Mateiro para nos apoiar.

o Estamos vendo ao longe os mineiros que pernoitaram no Açu próximo de nós.

o De agora em, diante, vamos encarar uma descida bastante íngreme por uma trilha de capim elefante. Daqui já dá pra ver o Vale das Antas. O lugar é muito bonito e podemos contemplar a Pedra do Sino bem a nossa frente.

ü 14:20hs - VALE DAS ANTAS:

o Belo lugar. Não fosse o monte de papel higiênico largado por aqui.

o Realmente o pessoal relata que fazem daqui um grande banheiro público, onde não se tem o menor critério para fazer cocô.

o O lugar é muito bonito. Trata-se de um campo plano com uma vegetação que parece de bambuzal baixo. Tem um córrego com boa água e a galera está se reabastecendo para encarar a trilha que leva à canaleta. Nosso último grande desafio.

ü 15:05hs - DORSO DA BALEIA:

o Que trecho bonito. A impressão que dá é que realmente estamos caminhando em cima de um dorso de uma enorme baleia.

o O paredão do sino está cada vez mais perto e o ritmo é acelerado.

ü 15:25hs - Estamos em um trecho bastante inusitado. Trata-se de um "buraco" que temos que entrar para começar a encarar a trilha pra canaleta. O Mateiro teve que colocar corda em uns grampos porque sem elas, seria difícil as garotas do seu grupo passar. O pedaço é bastante difícil e demanda tempo pra galera toda passar, já que alguns precisam retirar a mochila.

ü 16:00hs - CANALETA:

o Um congestionamento se formou.

o Seguimos; eu, Elton, Borel e Pepino na frente e ao depararmos com a Pedra do Cavalo (uma rocha atravessada na Canaleta em que temos que transpô-la fazendo um movimento idêntico ao que se faz para montar em um cavalo), o grupo do Mateiro nos alcançou. Eu quis dar uma de educado e deixei-os passar. Só que os caras não deixaram e passaram batido pelo Cavalo. Agora eu estou aqui olhando pra bunda gorda de uma garota em pleno congestionamento de gente, esperando o mateiro ter que "içar", literalmente uma por uma. É um micão atrás do outro, pois elas fazem escândalo dizendo que vão cair e o mateiro tem que praticamente atravessá-las no braço.

o A dupla de mineiros que vinha ao nosso encalço desde o Açu nos alcançou. Eles estão na fila esperando a sua vez.., Os caras tem pinta de malucos mas são gente boa. Os dois já foram, escoteiros e já formamos uma amizade. É legal o Movimento Escoteiro, pois nos proporciona esta interação imediata com outros colegas de movimento, mesmo nunca tendo nos visto antes.

ü 16:30hs - Atravessamos a Canaleta. O ritmo é muito rápido, pois sentimos que estamos perto do descanso e ao mesmo tempo o "russo"(neblina) está subindo, anunciando a noite que chega. Vamos correr

ü 17:20hs - ABRIGO 4:

o Sucesso.

o Depois de três anos de sonho, conseguimos concluir a travessia. A sensação é indescritível.

o O Abrigo 04 é um chalé de madeira, com uma boa infra estrutura para receber aqueles turistas que buscam um pouco mais de conforto. Tem beliches e água quente. Mas tudo tem que pagar.

o O banheiro (privada) é gratuito. Não poderia ser diferente, pois do contrário isso aqui estaria igual ao Vale das Antas.

o Do lado de fora, tem uma área de camping, onde a galera mo0nta suas barracas. Já está cheio, pois tem muita gente que vem de Terê só para pernoitar aqui e curtir uma noite com os amigos. Realmente o clima aqui é de bastante confraternização. Muito legal. Tem até pais que trazem seus filhos pré-adolescentes para cá. Eles perturbam um pouco, porque querem ficar correndo de um lado para o outro, mas tudo bem. Daqui a pouco eles vão se recolher, porque o frio é grande.

ü 18:00hs - Barracas montadas. Está bastante frio.

o Marcio está legal. Foi tomar um banho quente e disse que está se sentindo bem.

o O Marcos está a fim de ir ao Sino hoje para ver a noite de lá de cima. Estou fora, estou super cansado, meus ombros estão em frangalhos e só quero comer e dormir para encarar o retorno amanhã, pois ainda temos 11 Km de descida.

ü 19:00hs - A noite é linda. O céu parece um tapete de estrelas, mas o frio é grande. O Mateiro veio trocar4 uma idéia conosco e deixou alguns cartões. De repente a gente vai fechar com ele outras travessias, pois ele disse que há várias outras , tanto no PARNASO, quanto na APA que formam a cadeia da Serra dos Órgãos. O Mateiro nos disse que na noite anterior, no Açu, a temperatura chegou à 0º.

ü

31/07/2005 - DOMINGO

ü 4:20 HS - Alvorada:

o A galera já está acordando. A noite foi bastante fria e como as barracas estão montadas muito próximas uma das outras, não deu para esticar o toldo direito e ele encostou no casulo da barraca, fazendo com que a umidade entrasse.

o Bate papo e sacanagem.

ü 5:45hs - PEDRA DO SINO:

o Faz muito frio aqui.

o Ainda está muito escuro e apenas um leve clarão ao leste anuncia o Sol que está querendo despontar no horizonte.

ü 6:15hs - O SOL. LINDO!

o Meus amigos, isso aqui é fantástico!

o O frio está de raxar e tem mais de 30 pessoas aqui em cima.

o Quando o sol saiu, a alegria foi geral. Muito emocionante. Bandeiras do Brasil desfraldadas e também a dos nossos amigos mineiros, com a bela bandeira das Minas Gerais.

o Só faltam os meus companheiros Bira e Sandro. Na próxima estarei aqui com eles, se Deus quiser.

o Peguei o telefone do Marcos emprestado e liguei para Sereia. Daqui de cima, a gente dá valor a tudo que faz parte da nossa vida e gostaria muito que minha mulher e meus filhos estivessem aqui para compartilhar comigo de toda esta maravilha de lugar.

o Todos nós estamos muito felizes, com uma sensação enorme de missão cumprida.

o Agora vamos descer para o abrigo para desmontar acampamento e seguir trilha a baixo para encontrarmos com o Neto no parque.

ü 9:40hs - Saída do Abrigo 04:

o Belo dia de sol. Secamos nossas barracas, lanchamos e estamos partindo.

o Antes fizemos um circulo e a nossa tradicional prece de agradecimento. Os mineiros participaram e trocamos emails. Depois, o Marcio sugeriu que fizéssemos a cadeia da fraternidade. Cada um falou um pouco e foi bastante emocionante.

o Só peço à Deus, que possamos repetir esta e outras jornadas daqui pra frente e que esta chama não se apague mais.

ü 13:05hs - Parque de Terê. Fim da Trilha.

o Ô descida chata. Parece que nunca vamos chegar.

o É uma trilha fácil até demais, com um zigue e zague sem fim.

o Durante a descida, aconteceu um fato inusitado: Estávamos caminhando, meio que entediados e impacientes, quando um cara, seguindo no nosso sentido pediu que abríssemos caminho. Ele vinha correndo no maior pique. Quando o cara passou, vimos que nas suas costas, estava amarrado nada menos que um botijão de gás. Isso mesmo, um botijão de gás. O maluco, com certeza, fazia parte do grupo de montanhistas que são voluntários na conservação do Abrigo 04 e simplesmente foi "ali" comprar um gás. Eu sei que o cara passou por nós e sumiu na trilha. Acho que se alguém me contasse isso, sem eu ver, acharia que era mentira. Ficamos nos olhando sem acreditar no que havíamos visto. Com certeza aquilo serviu para quebrarmos um pouco o tédio da descida do Sino.

o Só fiquei um pouco chateado porque não houve o tradicional banho no final da jornada. É que o Marcos já estava doido para irmos embora e fizemos uma votação para saber se tomaríamos banho na piscina natural do parque ou não. Infelizmente venceram os porquinhos e fomos todos fedendo pra casa.

o É importante relatar que os únicos que quiseram o banho foram eu e o Borel. O resto é tudo Sujismundo. Rssss.

 

CONCLUSÃO

É isso aí meus amigos!

Espero que vocês tenham gostado deste humilde relato, pois procurei ser o mais fiel possível às nossas emoç

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  • 1 mês depois...
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Cara, só pra compratilhar um pouco do seu relato, eu estava nesse dia acampando na Pedra do Sino com uns amigos... A bandeira do Brasil que vc viu lá no Sino era do meu pessoal, e o cara do botijão passou por nós da mesma maneira que passou por vcs... parou pra trocar uma idéia com um dos meus amigos que passou mal e dormiu lá no abrigo... Acho que ele era um dos guardas que ficam por lá... E assim que chegamos no Parque de Teresópolis, vcs chegaram... a hora que vc falou bate com a hora que minha câmera digital registrou nossa chegada, mais ou menos as 13:05...

 

Detalhe: eramos 5 caras, fazendo uma aventura dessas pela primeira vez na vida, passamos por aqueles perrengues normais de pessoas sem o menor preparo (subimos a trilha do Sino no sábado, e voltamos no domingo), e ficamos muito deprimidos ao ver vcs chegando, inteiraços, dizendo pro cara que fazia o check-out da trilha que estavam vindo de Petrópolis...

 

Só pra confirmar, no final da trilha do sino não tinha um grupo de turistas, na hora que nós chegamos???

 

Grande abraço, cara... Esse mundo... tão imenso, e tão pequeno...

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  • 3 semanas depois...
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Legal Guga.

Po cara aquele nascer do sol no Sino foi inesquecivel.

Em Julho estaremos fazendo a travessia outra ves. A data esta sendo fechada ainda e vai a maior galera. Voce e sua rapaziada estao convidados.

Entra no topico do rio de janeiro em travessia petropolis terezopolis que la a rapaziada ja esta se agitando para Julho. Se quizer, me liga que a gente troca uma ideia melhor.

21 - 8121-5223 . azaueb@yahoo.com.br

Abraco.

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  • 3 meses depois...
  • 2 semanas depois...
  • 2 anos depois...
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Olá, alguém tem track log para garmin da travessia petro-tere?

 

Valeu!!

 

Olá Golum. Visite o bolg do Tacio Philipes. Aí tem tracklog da travessia Petro - Tere(http://www.tacio.com.br/tacio/arquivos/gps.shtml). E o Mapa de Track Source mesmo já tá marcado a trilha.

Procure cidade Petropolis e vai achar todos ponto interessante da traveissia. Eu também interessado pra fazer essa travessia na feriado de Tiradentes. Sei que no feriado longo não é adequado mas como trabaho so posso usar feriado. Se alguém conhece travessia me informe seguinte.

01. Precisa de autorização - se precisar como posso pegar.

02. Navegação é dificil - se for como posso pegar o guia e quanto custa .

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