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"Yeah, I'm brazilian" - 11 meses, 25 países, sozinho, de mochila e chinelo / sexo, drogas e hitchhiking


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Olá,

 

antes de uma apresentação minha, dos motivos que viajei, do relato, dos porquês, eu vou fazer um breve introdução. Aqui eu não vou dizer só e detalhado tudo do que fiz na viagem, vou contar mais um relato pessoal, tudo que senti, pensei e passei. Uma aventura muita mais interna/pessoal do que para tirar fotos, carimbar passaporte. Vou contar tudo o que vivenciei, descobri e aprendi, não medirei palavras e contarei de sexo, drogas, hitchhiking, calote em hostel, ônibus, quando tomei banho no meio de um parque ou até dormi na estação de trem.

 

A cada lugar que parava eu ficava de 5 dias até semanas. Procurava saber de tudo, prato típico, custo de vida, renda normal das pessoas, como elas vivam lá, o que achavam, procurava saber até de coisas de mulher, como tratamento de cabelo, maquiagem, manicure, tudo. Mais uma vez, esse relato não é dica de viagem, até pode ser, mas é algo mais pessoal. Por isso não há muitas fotos, minhas fotos foram mais de momentos do que 'turísticas'. Eu poderia fazer crônicas sobre cada dia e aqui vou tentar fazer o mais resumido possível. Escrevo direto e dificilmente volto atrás (no texto) para mudar alguma coisa.

 

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Era início de tarde, a ligação dela foi repentina enquanto me preparava para sair com meus colegas de quarto. Me disse para ir à sua casa e eu obviamente não hesitei. Avisei que me encontraria com eles em umas 2 horas e saí do hostel ao encontro dela. Era meu último dia em Praga, como eu estava eu fui, de chinelo e bermuda. Como não tinha internet na rua, consegui um wifi num hostel próximo e avisei que estava do lado da casa dela. Ela desceu também usando chinelos, com roupa básica, cabelo bagunçado e um sorriso no rosto. Cabelo quase ruivo, longo e encaracolado, olhos castanhos claros e pele branca, sem maquiagem. Me convidou para entrar.

 

A casa estava consideravelmente bagunçada, mesa suja, coisas espalhadas. Fomos ao quarto dela e conversamos. Não muito depois nos beijamos. Quando tirei sua roupa percebi que as pernas, como outras partes, estavam recém feitas, como fosse só para mim. Transamos. E após quase exaustas uma hora e meia, terminamos rindo e conversamos um pouco sobre tudo, ainda na cama, como bons amigos, quando comentei que tinha que sair, ela se lembrou que também tinha que encontrar alguns conhecidos. Nos despedimos e disse que eu esperava reencontrá-la em algum lugar, um dia, quem sabe. Ela concordou rindo, mesmo sabendo que aquela talvez seria a última vez que nos veríamos. Me deu um beijo na bochecha e foi nas pontas dos pés para o banho.

 

Ela era livre!

 

 

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Eu comecei a trabalhar cedo, com 16 anos, já na minha área, e vinha trabalhando até então, hoje com 24. Tinha uma posição importante na empresa, bom salário, bolsa na faculdade, carro. Mas eu estava frustrado, não queria aquilo para mim, eu estava muito novo para aquilo. Eu estou novo. Quando meu pai se casou aqui no Brasil com uma alemã, ela me disse que tinha uma casa vazia na Alemanha e eu poderia ir quando quiser. Foi então, em que em poucos meses decidi largar tudo e ir para Alemanha! Tranquei faculdade, comprei minha passagem, pedi demissão e após dois meses (de aviso prévio) estava saindo do Brasil em direção à Alemanha. Meu objetivo na época era encontrar algo para ficar lá, um trabalho, uma faculdade. Saí do Brasil com 13 mil reais ao todo. Não falava inglês direito, o que sabia, "aprendi" em duas semanas ouvindo aúdio-aula no meu carro enquanto ia para o trabalho.

 

Em dois meses na Alemanha, vi neve pela primeira vez, tive um relacionamento difícil depois de um tempo com a família da esposa do meu pai porque segundo eles, "eles eram alemães" e eu tinha que viver como eles. Coisas como nossos 15 minutos de tolerância ou coisas banais eram suficientes para um problema. O mesmo aconteceu na Suécia, onde também passei dois meses, mas ainda chegarei lá. Morava numa pequena cidade chamada Kaufbeuren, tinha alguns bares, três boates e uns sete mercados (grandes/pequenos). O primeiro mês na cidade e nos lugares que fui foram impressionantes, a surpresa que causava nas pessoas era ainda mais. Como eram cidades consideravelmente pequenas, as pessoas sabiam que eu não era de lá, por causa da minha cor principalmente. Eu não sou negro, não sou branco, eu sou queimado de sol (sim, eles notam. Para mim eu só sou moreno). Crianças me encaravam como se eu fosse de outro mundo porque elas nunca tinham visto ninguém da minha cor. Quando eu entrava no bar, todo mundo parava e me encarava! Os homens e mulheres. Na primeira semana eu já fiquei famoso na minha cidade, primeiro porque eu bebia muito, então estava sempre frequentando os lugares, segundo eu era bronzeado, terceiro eu era brasileiro (fator principal até). Afinal, que um brasileiro fazia lá?! Legal citar também do susto que eu causava nas pessoas ao sair na rua de havaianas, principalmente calça jeans e havaianas - sou carioca.

 

Entre esses dois meses e pouco, um mês eu estudei alemão para estender meu visto. Paguei aproximadamente 500 euros - me arrependo hoje me dia - e consegui mais sete meses de visto estudando apenas um. Foi um mega "jeitinho" que eu nem estava procurando, mas o diretor da escola ofereceu para mim. Na minha cabeça, de lá eu ia já conseguir me fixar na Alemanha, então 2~3 semanas antes decidi viajar um pouco.

 

Viajei entre Budapest e Praga. Quis chegar em Budapest numa quinta-feira para pode pegar o final de semana e saí direto de Munique para lá. Foi incrível, muita coisa para fazer, as pessoas são 'easy going', mas o preconceito é forte por alguns.

 

Ouvi dizer também que é muito comum alemãs viajarem para Budapest só para para fazer o cabelo, unha, etc. Pois saí mais barato pagar a passagem e fazer por lá que fazer na Alemanha. O mesmo acontece na Bulgária e outros países. Já que na Alemanha, uma manicure cobra a partir de 40eur (pelo menos na Bavaria) e o corte de cabelo masculino não saí por menos de 12eur.

 

Dos três dias que reservei o hostel, dois eu nem dormi lá. Eu ouvia muita coisa tipo "Lucas, eu não sou essas meninas de 'one night stand’ ", mas eu não estava lá para isso. Realmente não. Daí continuava conversando e no final sempre rolava. Eu continuo falando com muita gente, aliás. No último dia como deixei para comprar em cima da hora, eu perdi menu ônibus para Praga. Era domingo, voltei para o hostel, paguei mais uma diária e fui dar uma volta na cidade. Domingo, de noite, caminhando aleatoriamente na rua, eu começo a ouvir uma música que parecia que conhecia. Segui o som. Chegando no lugar eu me deparo com uns 200 brasileiros, cantando pagode, parecia um carnaval!! Eu não acreditava no que via. Obviamente me juntei, cantei com eles, muitos me estranhavam porque eu era "um br novo". E foi incrível!! Assim que terminou o pagode nós nos juntamos para limpar a praça (bem legal) e fomos para uma boate, cantando "baile de favela" na rua. Eu quase não dormi no hostel de novo e esses mesmos brasileiros eu viria a encontrar meses depois quando voltaria à Budapest e Munique. Dia seguinte foi em paz, caminhei por um mercado popular, peguei uma chuva terrível que acabou com meu tênis e terça-Feira de madrugada chegava em Praga.

 

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Eram 4h da manhã, em Praga na rodoviária. Aguardei um tempo lá e depois de 1h caminhava para o hostel. Em plenas 5h da manhã de uma terça-feira via pessoas super bêbadas pela rua, bares e boates ainda cheios e com música rolando, pessoas vendendo/comprando drogas. Ao chegar no hostel, o checkin era apenas 12h, deixei minha mochila e fui dar uma volta. Entre 7-8h ainda havia gente saindo de festa e todos que viam falar comigo assim que soubessem que era brasileiro me perguntavam se eu estava com drogas. (?!)

 

Quando voltei ao hostel 10h, eles me liberaram para ir ao quarto - eu estava bem cansado. Era misto, hotel/hostel. O quarto do hostel era no final de um corredor no terceiro andar, era como uma casa, com cozinha, dois banheiros e dois quartos com doze pessoas cada. Éramos muitos, mas quem se juntou foram eu, um australiano, duas americanas, uma norueguesa, uma italiana e uma chinesa. Fiquei em Praga 5-6 dias, sendo que o último eu dormi de graça no hostel. Como o controle era apenas uma chave magnética, o pessoal abriu para mim e eu dormi na cama com a americana.

 

Entre todos os lugares em Praga, o melhor foi um chamado "Naplavka". É como um cais, à beira do rio, com pessoas locais e longe dos idiotas norte-americanos, vários bares e música. Quando fui tinha muita gente estudando e bebendo vinho na beira do Rio. Eu viria a encontrar todo o pessoal aleatoriamente lá, pois quando eles foram eu não estava junto.

 

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De Praga planejava ir para Póznan, encontrar uma amiga polonesa que eu tive um 'rolo' em um dia na Alemanha - eu só viria encontrar com ela de novo em Portugal oito meses depois - mas tive que voltar para Alemanha para estudar.

Eu estudei com 22 refugiados, de todas as idades, 18 aos 50, todos homens, e foi muito legal compartilhar conversas com eles ainda que poucos falavam bem inglês. Alguns ali realmente não queriam nada e estavam só para ganhar dinheiro do governo, mas outros falavam "Lucas, eu quero aprender o idioma, trabalhar e trazer minha família". Eles colocaram a família no Skype, me mostraram e explicaram que todos estavam vivendo na casa de uma tia porque a casa dele tinha sido destruída. Aos que tem 50 anos é complicado também, pois eles estão recomeçando tudo. Me sinto até privilegiado de tido uma chance de ter tido reais conversas com eles.

 

Importante citar que eu sofri MUITO racismo e preconceito por não ser e falar alemão, seguranças me proibindo de entrar em bar/boate, pessoas tentando arrumar briga comigo (me dando ombrada), me tratando mal por não falar alemão. Aliás, eu parei de perguntar para as pessoas se elas falavam inglês, simplesmente saía falando até ganhar a atenção dela. O racismo principal é dos homens, as mulheres por outro lado me davam muita atenção, em outras palavras 'mole'. Também é perceptível a diferença das gerações a cada 10 anos. Se você tem 30 anos ou mais, provavelmente não fala inglês, só os mais jovens. Essa geração mediana é super orientada à resultados e a mais velha não é racista - os mais velhos são os menos racistas (sim!). As mulheres são muito auto-suficientes e orgulhosas, algo que talvez venha de todo movimento histórico alemão. Na geração do meio para nova você pode ver a diferença de mentalidade também, em termos de tolerância e expectativa de vida mas ainda são parecidas porque são jovens – não tiveram tempo ainda de amadurecer. Nessa geração mediana muitos estão saindo da Alemanha por lá ser muito "chato". Eles estão indo para países que consideramos “ruins”, como o México, Colômbia, até Brasil. Reclamações de transporte não funcionar, cancelamento repentino de ônibus/trem ou até a não solução de problemas recorrentes (atenção em como eu disse isso) são tão comuns lá como aqui e, arrisco dizer, na mesma proporção.

 

Por todos esses motivos que é muito comum na Europa os brasileiros se juntarem. Espanhol vêm junto porque eles são iguais à gente. Muita gente me perguntava se eu gostava de encontrar brasileiro enquanto viaja, porque geralmente eles não gostam de encontrar a mesma nacionalidade, e eu sempre falava que era óbvio. Amo Brasil, amo minha gente, "Brasil é longe para caralho, o que você está fazendo aqui?"... Inclusive, a grande maioria das minhas amizades na Alemanha foram com espanhóis e brasileiros que conheci aleatoriamente. Um, aliás, virou ‘brother’ e mora no Rio também! Mais engraçado é que eu conheci ele aleatoriamente em Munique dando um lugar para a namorada dele e a gente conversou um pouco até percebemos que ambos éramos brasileiros e cariocas, e pior, a gente morava próximo um do outro na Alemanha. Tempos depois também, decidimos ir para Munique de bike (100km), e teve o tiroteio do cara no McDonald's, foi uma merda, a gente voltou, acampou no meio mato e na Alemanha é proibido, fizemos comida no meio da praça... A gente pedalou uns 92km em um dia.

 

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(essa era minha bike)

 

Também cheguei a fazer uma “viagem” de 4 dias para Fussen. Uma cidade há 30km da minha, onde fiz acampando e cheguei até subir o Tegelberg, 1881m. Chegando ao topo, eu com uma mochila pesada, cheguei a deixar ela de lado e subir só nos braços porque estava muito cansado.

 

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Uma coisa legal na Alemanha é que durante o verão os parques ficam lotados, o dia é mais longo, é muito comum você ver gente nua no parque pegando sol, homem e mulher. Eles são muito mais mente aberta com isso. A famosa Eisbach Wave que não tive a oportunidade de surfar por que meu wetsuit não era suficiente (3.5), e o mínimo recomendado era 5.5.

 

Um dia estava com 2 amigas espanholas quando chegou um cara do nada, amigo de alguém, que acho que era DJ. Havia uma festa em Zurich de graça, o cara falou que tinha uma casa lá e em 30 minutos resolvemos tudo e estávamos saindo de Munique até Zurich. O DJ ficou com a gente, pagou cerveja para todo mundo, o crystal (metafetamina) rolou também para todos e 7h da manhã íamos para casa do dono da boate.

 

A casa era irada, na beira de um riacho, enorme, um cara me mostrou que estava fazendo uma pousada aqui no Rio, teve aquela garrafa 5L de Chandon, uma maconha top e até rolou o bandejão do pó. Mas não usei, era demais já. Uma amiga ficou, e era hora de eu e a outra voltarmos. O tal DJ ficou em um hotel em Zurich. Nós andamos um pouco pela cidade, tentamos blablacar, e fomos para o ônibus. O Itáu bloqueou meu cartão de crédito porque eu havia mudado de páis em 3h e por "razões de segurança e tal"... Como era domingo, tudo fechado, tivemos que pagar em dinheiro e era o DOBRO do preço na hora. Mas, a gente tava morto, então fomos lá, 40 euros. Quando chegamos em Munique só comemos e fomos dormir.

 

Depois das aulas, decidi sair da Alemanha pois foi quando percebi que era quase impossível de arrumar emprego sem passaporte, e para você conseguir um visto você precisa ganhar pelo menos 48k euros / ano. Ou seja, você precisa ser no mínimo muito estudado. Então fui aproveitar o verão na Grécia! Em 4 dias, arrumei minha mochila, comprei passagem e aterrissava em Zakynthos. Sem passagem de volta ou lugar para ficar.

 

O visual era estonteante, pois o avião beirou toda a costa da Croácia e eu podia ver o mar e os milhares de barcos. Cada ilha, pequena ou grande, pouco habitada ou muito, ou até mesmo deserta.

 

 

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Chegando em Zakynthos tentei negociar com as pessoas que saíam para rachar um táxi pois iria até uma parte meio longe para tentar acampar (16km). Desisti e resolvi ir andando com a mão esticada pedindo carona. Minha mochila estava pesada, com uns 22kg. Como tinha roupa, comida, gás, água, barraca, etc, ficava mais pesada um pouco, mas também acho que estava um pouco demais. Alguns km depois encontrei um mercado, cheio, muita gente comprando álcool, parecia carnaval. Tentei negociar com eles, mas o carro sempre estava cheio (era verdade porque eu via) ou eles iam na direção contrária. Voltei a andar! Um carro parou, o italiano mal inglês falava - italianos não falam inglês - tentei falar com ele, ele negou e foi embora. Alguns minutos depois ele volta, falou que ia me levar e conhecia o camping. Tentamos conversar um pouco, ele disse que tinha casa na ilha, que gostava de "brazilians boys" e que eu podia ir qualquer dia. Hm... Algo bem comum que ouvi pela Europa... Agradeci, desci do carro e fui para o camping. O camping era gigante, até cheio, os donos eram alemães que não falavam inglês (?!), tinha mesas e a parte para acampar era como uma grande ladeira em zig-zag até a praia. O visual da minha barraca era o mar, onde eu via o nascer do sol impecavelmente. Também sempre acordava 7h da manhã com muito calor por causa disso.

 

 

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Citar também, que o fiscal no aeroporto confiscou meu protetor solar. Eu acabei esquecendo ele na mochila pequena. Falei para ele que o protetor era brasileiro e que valia ouro, mas não adiantou, sem desenrolo. Com o protetor custando 20 euros na ilha, eu fique toda a viagem sem.

 

Nos dois primeiros dias eu fui até a avenida principal, onde rolavam as festas. Eram 6km de caminhada, 50min, às vezes conseguia uma carona, às vezes fazia tudo a pé. De madrugada era incrível por que eu via 3-4 estrelas cadentes por noite, mas muitas das vezes foram a pé.

 

Laganas era lotada de bares e boates, geralmente de graça para entrar, o álcool é barato e é muita loucura. Eu curti... Por 2 dias! Depois era só gente idiota. Eu quebrei um osso pequeno do meu pé porque pulei de um bar, aliás está quebrado até hoje, haha. A manjada pergunta "where're you from?" é clássica, e quando falava que era brasileiro, do Rio, em meio aos jogos olímpicos, era loucura. Se eu chegasse num bar, falasse que era brasileiro, carioca e era meu aniversário, eu pegava o bar inteiro. É comum você ver angolanos (ou gente da região da áfrica) vendendo pulseiras na praia por 1eur. Como estava sozinho, muitos vinham falar comigo e acabava explicando todos os motivos de estar lá. Eu ganhei pelo menos umas 4 pulseiras de graça por que eles gostaram da minha história, cada uma com um significado diferente, como exemplo "hakuna matata".

 

Após esses dois dias resolvi explorar a ilha e tentei alugar um ATV. Foi muito engraçado quando eu chegava no local e mostrava minha carteira de habilitação: um pedaço de papel (br). Uns 3 não aceitaram, foi foda. Na última tentativa eu consegui, por 25eur/dia (o mais caro). Peguei por um dia e fui, sem mapa, dar a volta na ilha. Foi... sem palavras! O mar azul de um lado, uma montanha do outro, uma reta que parecia terminar no céu e mar, alguns momentos eu abria os braços. O meu sorriso estava de orelha à orelha, e escrevo esse parágrafo já sorrindo só de lembrar... Quando cheguei na Shipwreck Beach fiquei horas sentado à beira do penhasco e não acreditava que estava ali. No horizonte, o mar se misturava com o céu e os gritos abafados das pessoas na praia pareciam suspiros do vento.

 

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Quando voltava, já procurando um posto, a gasolina acabou (o marcardor não funcionava, mas eu já estava esperando). Eu tive que empurrar o troço por uns 2km até achar um posto, mas foi até de boa. Ainda ajudei um casal de italianos, meio velhos já, que estavam com uma moto quebrada no meio do nada...

 

Ao todo fiquei sete dias em Zakynthos e meu último dia decidi ir à Atenas para ver minha volta para Alemanha, mas lá iria mudar de planos de novo. Último dia, eu desci o camping de mochila e ficaria na rua até 7h da manhã aguardando meu ônibus para cidade e pegar a balsa. A polícia me parou uma hora me perguntando porque eu estava de mochilão àquela hora andando para lá e para cá. Ainda de madruga vi um cara suspeito mexendo numa bolsa na praia mas não fiz nada. Poucos minutos depois veio um casal que estava na água me perguntar se eu havia visto alguma bolsa. Eu me liguei na hora... Quando eles me perguntaram o cara que roubou veio logo em seguida e eu disse que havia sido ele. Ele disse que tinha sido eu. A gente discutiu, eu estava fora de mim e até peguei uma faca... Falei para o casal que se ele estava lá era porque a bolsa dela também estava, e para ela procurar debaixo de carro, lata de lixo, etc. Eu sou brasileiro, carioca, sei disso. Mas no final, não deu em nada!!

 

Quando peguei a balsa até Pargas era incontável o número de gente bêbada ou de ressaca, muitos reencontros de gente que eu não tenho ideia do nome e provavelmente nunca vou ver de novo, parecia um carnaval². Na viagem de 6h de Pargas até Atenas, o visual é indescritível.

 

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Atenas já me pareceu estranha de cara. Esperava homens bonitos (tem que dizer que homem grego é 'boa pinta') e mulheres feias. Mas em geral todo mundo é bem feio. No hostel eu já encontrei brasileiro e no meu quarto haviam duas pessoas. Will e Sarah, inglês e australiana, respectivamente. A gente conversou 20 min e combinamos de irmos comer algo juntos. Eu antes fui direto ver minha volta para Alemanha, mas estava caro. Dos quatro dias que fiquei, um foi de graça. Porque um cara pagou uma diária, mas foi embora para uma das ilhas.

 

Tudo em Atenas é pago e caro. É muito comum ver gente tentando tirar dinheiro de você e até te sequestrar (segundo o que me disseram). Fiz tudo a pé e me recusei a pagar 20eur para ir na Akrópolis. Desci pelo outro lado e procurei o lugar que servia de ponto de vista para foto da mesma. Andei, andei, andei. Em certa parte, eu vi uma pequena montanha com uma igreja no topo e fiz o pequeno hiking de chinelo que durou uns 20~30 min. Não era o ponto de vista que procurava mas valeu a subida. De volta ao hostel, conversando, todo mundo lá fez a mesma coisa. Acho que o melhor de Atenas foi o hostel, pois todos viam de diferentes ilhas e lugares, cada um com uma história diferente. E a noite fomos ver o jogo do Brasil e Alemanha juntos. Também foi muito legal ver todo mundo planejando espontaneamente a próxima parada, usando os mesmos sites que usava e da mesma forma.

 

O dia que todo o pessoal saiu a noite, fomos em busca de algum lugar legal. Vimos boates, com pessoas dançando, sem música nenhuma, tanto quanto estranho, ruas desertas e mais gente feia. Eu estava mancando muito porque causava do meu pé e sempre andava mais atrás. Quando achamos um bar, subimos uns 4 andares e descobrimos o lugar que servia de ponto de vista para a foto a Akrópolis. O bar era legal mas a cerveja custava 6eur, pedimos uma só para irmos embora. Final da noite passamos horas sentados na calçada, na rua, conversando sobre tudo.

 

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No penúltimo dia 2 meninas francesas me chamaram para ir à Mykonos com elas. Elas não tinham nem onde ia ficar, porque iam de improviso, eu tinha barraca e tal, elas eram bem gente boa. Mas como o barco estava um pouco puxado não fui e resolvi ir até Sófia, na Bulgária. Quem foi com elas foi o cara que pagou a diária e foi embora, por isso fiquei no lugar dele. Dia seguinte de noite estava indo para Sófia.

 

O ônibus era meio acabado, ninguém falava inglês, mas não via problema. O maior foi que na segunda parada para o ônibus pegar passageiro, tinha uma família com um cachorro filhote na caixa para transporte. O motorista fez a família colocar ele na bagagem!! Eu fui falar com eles, eles não me entendiam, em seguida uma mulher fez um escândalo porque tinha uma criança dormindo e ela estava pegando o espaço de dois bancos, mas tinha espaço para todo mundo, o que não fez menor sentido. Desisti de discutir e deixei para lá. Eu conseguia ouvir o cachorro latindo no bagageiro e toda vez que ele parava já achava que o bicho tinha morrido. Não consegui dormir mais e tentei até trocar de lugar para parar de escutar. Eram 16h de viagem. De manhã, chegava em Sófia, na Bulgária. O cachorro estava vivo.

 

Andei até o hostel, e estava bem cedo. Cheguei cerca de 7h da manhã e perguntei se podia tirar um cochilo no sofá até a hora do check-in. A menina deixou e fiz isso. Acordei 13h novo para fazer o check-in e percebi que fazer isso poderia ser uma tática para economizar diárias em hostel, o que viria a fazer logo em seguida. O hostel tinha as paredes desenhas por mochileiros e eu até gostei. Também fiz alguns desenhos.

 

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Quando cheguei tentei fazer amizades com todos, mas eles estavam meio fechados. Alguns, já de saída, disseram que o meu varal era genial. Eu carrego uma corda (de metal) de 5m para fazer de varal, invés de ficar pendurando toalha na cabeceira da cama. Então, sim, eu esticava roupas as vezes no meio do quarto. Também carregava em 2 garrafas pet de 600ml de detergente e sabão em pó. Aceito dicas para isso, caso tenham.

 

Sófia é uma cidade muito barata. Tudo é bem barato, comida e bebida. Supermercado também. Fiquei 2 dias no hostel e andei a cidade quase inteira. Conheci alguns locais e logo no segundo dia uma menina local tinha me chamado para viajar para Plodiv com ela. Eu já estava me preparando quando ela me disse que não ia dar porque o pai dela ia busca-la mais cedo. Pena! Fiquei no mesmo hostel mais um dia e conheci pessoas que estavam em outro andar. A menina, alemã, cantava muito e os caras, canadenses, sabiam tocar guitarra, baixo, etc. No dia seguinte nós fomos à uma loja de instrumentos musicais e eu só dei a ideia deles fazerem um som. Eles tocaram Seven Nation Army com a menina cantando e até os funcionários vieram para ver. Foi muito irado. Detalhe, eles tinham mais ou menos 20 anos.

 

Todos nós estávamos saindo do hostel no mesmo dia e eu coloquei um outro hostel, ainda em Sófia, para o dia seguinte. Naquele dia eu não teria lugar para ficar. Com gente local fui à um parque chamado “Градска градина”, em outras palavras City Garden. Me explicaram que a polícia que tomo conta do parque é a do Teatro e por isso a polícia normal não está autorizada à exercer lei lá. O parque é lotado de gente de todas as idades, bebendo, fumando, apenas juntas conversando, é bem legal. Do parque fomos para o Studentski Grad. É como um cidade universitário e é mais irado ainda. Cheguei à ir nos alojamentos e conversar com as pessoas, o mercado perto é 24h e ainda mais barato que o da cidade. Compramos um monte de álcool e ficamos até 5h num parque conversando, onde então chegava no hostel e perguntava se podia tirar um chocilo no sofá. Economizava uma diária.

 

O hostel é chamado Hostel Mostel. É bem grande, o pessoal super mente aberta e se não tivesse lotado, ficaria todos os dias lá, porque a vibe é muito boa. Conheci pessoas que viria a encontrar de novo em outras cidades ou até um americano que estava indo para a China para passar dois meses. Fiquei dois dias no hostel pagando um, porque no último acabei dormindo no sofá. O sofá era enorme, em quadrado, como uma grande cama, final do dia éramos 5 pessoas conversando, até que todo mundo dormiu por lá mesmo. Eu só acordei bem cedo, antes de mudar o turno dos funcionários para eles não perceberem, peguei minha mochila e saí. Fui então de volta ao meu primeiro hostel. Havia dormido só umas 3h.

 

Chegando lá pouco havia mudado, algumas pessoas novas, todos quietos. Tirei um cochilo porque estava cansado e eu já estava há mais de uma semana naquela cidade. Quando acordei havia apenas uma menina alemã no quarto e começamos a conversar. Ela me disse que estava indo no dia seguinte para uma cidade chamada Veliko Tarnovo. Eu perguntei o horário e companhia do ônibus, pedi 30min e fui para estação de ônibus ver a passagem. Nas meia hora que pedi resolvi tudo, comprei a passagem, reservei o hostel, voltei para o quarto e falei “bom, estamos viajando juntos amanhã”.

 

Dia seguinte estávamos em Veliko Tarnovo. Andamos bastante da estação até o hostel. Lá vinha encontrar novamente algumas pessoas que estavam em Sófia. Veliko Tarnovo, apesar de ser bonita, é uma cidade pequena. Bem pequena. Andamos um pouco em volta e nosso objetivo era ir para o Buzludzha, um antigo observatório de UFO abandonado. Era um pouco distante e o passeio pelo hostel era 30eur. Me recusei a pagar e a minha amiga disse que então iria sozinha, porque ela só foi lá para isso. Sem problema. Conversei com algumas pessoas do hostel e um cara ia alugar um carro para ir até outra cidade e voltar, perguntei se ele podia me deixar no meio do caminho ou até no observatório se eu desse 5eur para ele, afinal era no caminho. Ele disse que não tinha problema algum e acabou que até a alemã veio comigo. O lugar era irado, e ainda estava com uma forte neblina que fez o lugar mais interessante ainda.

 

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Para a volta, descemos a pé e conseguimos uma carona já na porta do observatório. Era um local e um inglês que eram amigos há muito tempo e estavam se visitando. O motorista deu para a gente experimentar Rakia, uma tradicional bebida alcóolica lá, mas essa tinha o teor de 60%. E... não parecia que era bem doce. Ele nos deixou na beira da estrada em direção a Veliko Tarnovo, era fácil, afinal era só uma estrada. Começou a chuviscar um pouco e eu consegui um papelão no lixo, pedi uma caneta numa lojinha e escrevi a cidade. Conseguimos uma carona até a próxima cidade, ainda no meio do caminho. A segunda carona que conseguimos era um Audi, só a aliança do dono devia valer o carro. Ele não falava inglês e ligou para o filho dele falar com a gente e traduzir para ele... Foi muito legal da parte dele e em 2h, sendo que só de viagem eram umas 1h20, chegamos de volta à Veliko Tarnovo.

 

No mesmo dia, fomos para outro hostel que estava uma amiga da menina que estava viajando comigo. Chegamos lá e tinha cinco pessoas no hostel: eu, minha amiga, a amiga dela, um funcionário e... uma brasileira. Muito super aleatório, eu coloquei Charlie Brown para tocar e ela saiu da cozinha tipo “?!”... haha. Conversamos um pouco, ele disse que estava marcando um tempo fora da zona Schengen, do quão ruim é viajar tendo que aprender inglês ainda e mais bizarro que parecia que ela gastava menos dinheiro viajando que só vivendo no Brasil, tudo o que pensava. Eu até espero que ela leia esse relato porque eu não lembro nem o nome dela, haha. Ficamos um tempo, bebemos umas cervejas e eu e minha voltamos para o hostel. Dia seguinte íamos ver nossa ida para Bucharest.

Arrumamos nossas coisas, tomamos café da manhã, e fomos esperar a amiga dela. Ela demorou eternidades e estávamos quase desistindo quando ele finalmente aparece. Na estação de trem, super deserta, tivemos que comprar uma passagem até outra cidade para lá procurar a passagem para Bucharest. A viagem para lá cortava todos os campos de girassóis, e você via quilômetros de girassóis por toda a extensão do trilho, fantástico. O único problema era que o ar-condicionado do trem não funcionava e as janelas não abriam, então estava MUITO quente.

 

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Mesmo dia, na parte da tarde, chegávamos à Bucharest.

 

 

 

*Continua....

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Parabéns pela coragem e pelo relato. Só achei que se tornou meio chato/arrogante essa ênfase em contar de pegar mulher, fora isso espero a segunda parte

 

Pedro, minha ênfase é muito mais para a liberdade, deixei isso claro assim que comecei a escrever. Elas, eles, nós, somos tão livres quanto qualquer. Quis mostrar o prazer do sexo livre e ainda no título fiz a relação com o conceito "Sexo, drogas e rock’n’roll", que nada mais é que: Liberdade. Além disso, muito comum aqui no fórum pessoas buscarem lugares para festas e para turismo, acredito que meu relato sirva aos dois.

 

E mais importante, tenho dito que foi uma aventura muito mais interna e acredito que você vai perceber ao longo do relato o como minha cabeça foi mudando. Até então, no meu relato eu estou mais ou menos em 3-4 meses de viagem, ainda faltam uns sete. E me perdoe se eu pareci arrogante.

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OBS:

Importante citar que em toda a viagem eu perdi 15kg. Eu tenho quase 1.80m e estava pesando 59 quando cheguei no Brasil. Eu estava bem magro. Viajar de baixo custo tem seus problemas também. Lógico que boa parte é porque eu andava sem parar com peso nas costas, mas, ainda assim, 59kg é muito pouco. (Vou repetir isso num resumão no final depois. Até então eu tenho no uns 4 meses de trip, quase metade).

 

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Chegando em Bucharest fizemos uma longa caminhada até o hostel. Eu não lembro o nome, mas ele era bem localizado e tinha uma varanda para a galera. Era o prédio quase inteiro e no primeiro andar só tinha escada, no segundo a recepção, terceiro e quarto eram quartos. A chave não era magnética, mas por senha. A escada era separada.

 

As meninas planejavam ficar dois dias e uma ia fazer um trabalho voluntário, a outra ia para a costa do mar negro. Eu queria muito, mas sabia que por lá seria a mesma idiotice da Grécia de gente bêbada. Em si, na cidade, não tem muito o que fazer. Eu andei tudo e encontrei diversas referências brasileiras. Também acho que o povo e lugar é bem parecido com o nosso, todos os dias após o expediente os lugares estão lotados, o clima é bom, tem pivete, as pessoas são mais abertas e tentam te fazer de “trouxa”. O trânsito é uma loucura, os carros se xingam o tempo inteiro e a buzina é constante. Após 2 dias minha amiga foi para o mar negro e eu fiquei mais 3 de graça no hostel.

 

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Dentro do hostel eu conheci uma galera que estava ficando de graça havia 5 dias. Como a porta era senha, era só entrar e dormir numa cama vazia, não tinha lençol e tinha que levantar 7h, antes da menina vir limpar o quarto. Mas a gente sempre se virava.

 

Eu saí duas vezes com o pessoal do hostel e em uma delas até uma funcionária foi. A gente entrou na boate e uma menina colocou uma garrafa de Gordon dentro da calça para a gente beber lá dentro. Sem condições de homem fazer isso porque eles estavam verificando. Foi até bem esperto.

 

Acho que o que mais me chamou a atenção em Bucharest foram os pássaros. Tem muito pássaro. Chegando o pôr do sol, eles tomam conta do céu e você pode ver milhares e milhares de pássaros voando para um mesmo local. Geralmente todos paravam em um parque no meio da cidade. Olhando as árvores você não sabia se era folha ou pássaro.

 

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Entre os últimos dias, uma dupla de australianos veio e eles só queriam saber de festa. No primeiro dia a gente saiu, mas eu estava consideravelmente cansado e fui para o hostel 1am. Às 7am eles chegaram e começaram a brigar, um empurrou o outro, a beliche chegou a despencar, o outro chorou, eles estavam falando de ir para “a costa” no mar negro, para alugar um carro e ir daquele jeito, que eles conseguiam dirigir... foi bem engraçado!! No dia seguinte eles me pediram até desculpa pela confusão, o que achei até legal, e me chamaram sério para ir para o Mar Negro, que iam dirigindo. Mas eu já estava com meu ônibus comprado e ia para Budapest (de novo).

 

Era um ônibus barato, 16eur, e uma viagem super longa porque ele parava em todos os pontos turísticos. E mais uma vez, toda vez que me pediam passaporte, me perguntavam o que eu fazia lá, porque eu viajava, se eu tinha drogas, etc. Essa gente varia desde de funcionários da empresa de ônibus até policial da fronteira. Como a viagem tinha um dia de duração, sem condições de fazer aquilo sóbrio. Eu saí com o pessoal no último dia e voltei 3h para pegar minha mochila, mas o ônibus saia só 5h20. Eu acabei dormindo no chão e acordei 4h50, tive que pagar 10eur à um taxista que malandramente dirigiu mais que o caminho certo (eu estava olhando o mapa) e ficava puxando meu saco de “brazilian girls”. Ele nem troco me deu. Peguei meu ônibus e a primeira coisa que fiz foi dormir. Acordei só em Brasov, cidade do Drácula.

 

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Depois de uma rápida visita em Brasov, meu ônibus seguiu viagem e próxima parada seria Transfăgărășan. Foi então que me arrependi muito de ter ido de ônibus, porque eu deveria ter feito hitchhiking. Ainda em Brasov, do ônibus, eu tinha visto um cara fazendo. Transfăgărășan é uma estrada entre as montanhas, a vista é espetacular e quando eu fui o clima seco fazia tudo em volta amarelo e morto, com a estrada cortando. Outra sorte que tive é que a estrada só está aberta entre junho e setembro por causa das condições do tempo, e quando fui era agosto.

 

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(A foto não é minha porque meu cel não funcionava. Fonte: Instagram)

Após isso, foram algumas paradas normais. Eu fiquei preso em uma parada dentro do ônibus porque supostamente era para gente sair para hora do almoço e eu estava dormindo. Além disso, ninguém falava inglês. Foi bem complicado também para entender quanto tempo eu tinha para comer, porque me disseram 15min (“one-five”). E na verdade era 1h15.

 

 

Após toda essa trip, chegava em Budapest pela segunda vez, e com intenção de ficar uns 3,4 dias só.

 

No caminho para Budapest avisei para um amigo que estava indo e para ele tentar me arrumar um sofá para dormir. Nos dois primeiros dias eu fiquei em hostel, era 4eur a diária (sim!). Também estava falando com uma brasileira que eu conheci no Couchsurfing enquanto estava em Sófia, carioca também, eu vi que ela estava na Turquia vindo e a gente tentou marcar de se encontrar em Sófia mesmo. Mas aconteceu que eu saí muito cedo, ela veio muito tarde. Eu fui para Romênia e ela para Sérvia, depois a gente foi quase que juntos para Budapest.

 

Na primeira noite do hostel, eu fiquei por lá mesmo. Como tinha um bar/boate embaixo, não tinha nem porque sair. Conversei com algumas pessoas e eles me disseram que haviam 3 brasileiros lá e pouco depois eu fui conhece-los. Muito bizarro, um viajava há 2 anos, outro morava na Alemanha e outro veio de Floripa velejando sozinho! Ele estava magro barbudo e até brincou de Náufrago, mas que irado deve ter sido. E eles eram 3 amigos que se reencontraram lá, em Budapest.

 

Meu amigo encontrou um sofá para eu ficar e eu fiquei uns 5 dias com a Mari, brasileira também. No primeiro dia a gente encontrou vários brasileiros e fomos buscar mais 2 no aeroporto que só uma menina lá conhecia! A gente foi bebendo, brincando no ônibus, a gente esperou os meninos bebendo no aeroporto e ninguém sabia quem a gente estava esperando. Mas quando eles apareceram, lógico que foi festa. O jeito brasileiro, que só quem é daqui sabe.

 

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Eles chegaram, largaram a mala e fomos direto para algum outro lugar. O mais legal é que era início de Setembro, independência do Brasil, e rolou uma festa brasileira numa das boates lá. Foi sensacional!

 

Também cheguei a conhecer uma húngara, vou chamar ela de E., num parque e fiquei próximo dela. Nós conversamos por horas e ela trabalhava numa cafeteria em frente. Eu tive que sair para ajudar a Mari e depois voltei para encontrar E. novamente. Do parque, já a noite, nós fomos para a Heroes Square e “escalamos” o monumento, algo até comum. A gente conversava por horas bebendo vinho e a gente junto tinha uma boa energia, a gente pediu para acender um cigarro e ganhamos um isqueiro. Pedia um cigarro e ganhava um maço. Todos comentavam. De lá a gente andou até a Margitbridge.

 

A Margitbridge tem um parque no meio, fica bem cheio todo o tempo e acontece de vez em quando uma “dança” com o chafariz. Tem música, luzes, etc. Como eram em torno de 2h da manhã, não tinha muita gente além de bêbados ou casais. Eu só larguei a ideia da gente ir na água e ela topou na hora, foi muito legal. Ela tirou o vestido e ficou só com a roupa de baixo, eu tirei a calça e camisa. Nós fomos!! A água estava bem gelada e todas as pessoas que passavam e nos viam gritavam, foi uma energia muito maneira. Não muito depois a gente saiu, porque a água estava gelada, e fomos nos vestir. Eu tirei minha cueca ali mesmo e fiquei sem, porque não ia colocar minha calça por cima. Voltando à cidade, eu não queria deixar ela sozinha e o próximo trem era só às 5h. Ela foi dormir no trabalho, eu fui junto, ela numa espécie de lençol no chão, eu na mesa. “Ela era livre!” ²

 

Ela beirava seus 27 anos, mais velha que eu, e me agradecia frequentemente por tudo. Por ter dado essa energia à ela e despertado algo que talvez ela nunca tinha sentido. Eu fico até lisonjeado por isso. Não foi a primeira vez nem última que alguém que me disse isso, e que talvez eu pareça ser uma motivação para uma pessoa que deseja mudar. Talvez isso, aliás, é o que me faz escrever esse texto longo.

 

Em outro dia, quando saí da casa da Mari (maravilha de pessoa), E. me convidou para ir à sua casa e eu em 2s disse “sim”. Pegamos um trem, e fomos até uma cidade próxima – quase uma hora de viagem - que eu não tenho menor ideia do nome. A cidade era pequena, com 2 bares, até cheios, ela me explicou algumas coisas e mostrou um lago, dizendo que muita gente ia lá para acampar. Me fez até pensar.

 

Chegando na casa dela, ela pediu para esperar por causa do cachorro, eu não ligo e falei que ela podia soltar. Enquanto estava com o cachorro, ela limpava a casa porque ele tinha feito xixi. Já passavam das 1h da manhã e ela tinha que acordar as 5h. Eu ofereci ajuda, e ela recusou a todo custo. Ela trabalhava em turno dobrado e estava morando sozinha porque a mãe tinha ido ajudar a irmã. Eu só pensava “Caralhoo...”.

 

Sei que o mundo não são só de flores, muito menos a Hungria. Mas acho que isso serve de um bom exemplo para àqueles que acham tanto que o mundo afora é melhor que o Brasil. Tem suas qualidades, mas também suas diferenças. A “diferença” que digo aqui é da matemática (pense!)

 

 

*Continua....

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Ao voltar para Budapest, era hora de ir embora. Afinal, eu estava lá há quase 10 dias. Fui para a auto-estrada tentar pegar carona, peguei um metrô e um ônibus para mais na estrada. Meu papelão estava escrito “Belgrade”, e fiquei lá por horas. Um táxi parou e me cobrou 50eur para me levar até a fronteira, eu quase ri! Estava muito quente e uma hora eu olhei para trás e vi 3 pessoas há uns 300m de distância pedindo carona também.

 

Eles estavam indo para Szeged, cidade húngara na fronteira com a Sérvia. Falei com eles e me juntei, eram um iraniano que morava na Eslovênia, e uma garota e um cara do País de Gales. Todos entre 18 e 20 anos. Éramos quatro tentando fazer hitchhiking (loucura).

 

Ficamos mais horas lá. Dançamos, brincamos, subimos em algo alto para chamar a atenção, nenhum carro parava. Decidimos então pegar um ônibus e ir mais a dentro da cidade, para ficar numa autro-estrada melhor. Pegamos o ônibus até o pronto final e andamos uns 3-4km. Achamos um saco de frutas no meio do mato e o iraniano pegou, cheirou e guardou para comer mais tarde. O céu, nessa hora, estava espetacular.

 

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Como era um lugar distante, muita gente de casa que via a gente andando com mochila nas costas saíam por curiosidade ou até para nos ajudar, mesmo sem falar absolutamente nenhum inglês. E depois de quase uma hora andando, chegamos à um grande cruzamento na auto-estrada com um posto de um lado. Fomos na lojinha do posto, comemos algo simples e pegamos água. Como na Europa a água da bica é bebível, apenas perguntava se o funcionário podia encher a garrafa.

 

Ninguém parava e estava começando a escurecer. Quando finalmente um carro parou, no meio da curva, e chamou a gente. Era um senhor já e ele disse algumas coisas em húngaro, mas deu a entender que a gente estava no lugar errado. Entramos no carro, quatro pessoas com mochilas grandes. O carro estava abarrotado, eu não sentia minha perna.

 

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(na real essa foi no outro dia, mas é para ter uma idea de como estava. E sim, eu estava ali)

 

Ele deixou a gente num posto de gasolina de uma cidade próxima. E falando húngaro, inglês e alemão ao mesmo tempo, ele deu a entender que a lá era um bom lugar para conseguirmos uma carona, principalmente por causa dos caminhoneiros. Era noite já e nada conseguimos.

 

Ficamos no posto e íamos dormir por lá mesmo. Como o posto tinha uma lojinha 24h, era até mais fácil, carregamos celular, etc. Eu, camper, carregava meu fogão e macarrão, a gente só comprou um molho de tomate e tivemos uma refeição perfeita. Eu tinha até Tabasco.

 

Logo mais tarde a gente comprou cerveja e depois vinho, que era mais barato comparando preço x percentagem de álcool. A gente bebeu umas 6 garrafas de vinho.

 

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O iraniano puxou uma droga e eu só perguntei o que era, ele me disse "DMT". Eu nunca tinha nem ouvido falar. Tempos depois eu vim descobrir que é o princípio ativo da ayahuasca. Não usei, mas vi, e a "trip" é intensa, ainda misturado com álcool, mas dura pouco. Um pouco ao contrário da ayahuasca, onde durabilidade é mais longa. Ps: Respeitem os "objetivos" de certas drogas.

 

Quando íamos dormir, o pessoal do posto ficou bolado e falou que a gente não podia, então, a gente simplesmente atravessou a rua. Tínhamos duas barracas e éramos quatro, mas acabamos montando apenas uma e colocamos todas as mochilas lá dentro. Trancamos a barraca e dormimos nós quatro do lado de fora, na frente. Acordamos com os mesmos caminhoneiros da noite voltando de manhã e buzinando para a gente.

 

Estava bastante calor e ali estávamos novamente tentando pegar carona, cheguei a colocar a canga na minha cabeça para “proteger” do sol. Quatro pessoas é um tanto quanto difícil. Em certo momento, eu coloquei minha placa “anywhere” (qualquer lugar) e era muito engraçado a reação das pessoas. Depois de um tempo, colocamos o nome da cidade mais próxima, e conseguimos uma carona em 10min. Lá a gente conseguiria outra carona, onde o motorista deixaria a gente na beira da auto-estrada. O que foi bem ruim!

 

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Na auto-estrada nenhum carro iria parar, além deles estarem muito rápidos, é proibido. Tinha uma casa abandonada na beira e umas árvores em volta, seria até um bom lugar para ficarmos. Eu não faço ideia de que parte da Hungria estávamos, mas arrisco dizer que metade do caminho entre Budapest e Szeged.

 

Alguns caminhões pararam na curva, mas éramos quatro pessoas, o que faz ser impossível. Passamos outra noite. Tínhamos que nos separar. Shepard, o iraniano, teve um problema e iria voltar para a Slovenia. Eu, Zack e Kim optamos por voltar com ele até Budapest. A gente conseguiu carona em 10min.

 

De volta em Budapest², a gente foi para um protesto onde o pessoal estava acampando para evitar a demolição de um prédio histórico. A gente ficou um dia lá e foi muito bom poder conversar. Apesar da galera ser meio maluca, todos são bem gente boa e com boas histórias, inclusive quando foram presos por causa desses protestos, etc. No entanto, o pessoal me questionava sempre o que eu fazia ali, acho por causa daquela história de preconceito. E, porr, eu era brasileiro.

 

No camping, tudo era divido. Toda a noite, alguém passava com um chapéu pedindo doação para quem estava presente, podia ser dinheiro, comida, qualquer coisa. Esse dinheiro ia ser usado para comprar o almoço/janta do dia seguinte. Era um panelão e a comida era dividida para todo mundo, inclusive até morador de rua. Também tinha um “palco” para quem quisesse ir cantar e uma tenda chamada “luggage” alguma coisa, onde você podia deixar sua mochila. Não tinha segurança nenhuma, mas era cheio de mochila de todo mundo.

 

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Eu precisava de um banho depois de dois dias e perguntei como fazia. Zack veio e comigo e a gente pegou uma mangueira no camping, que eles tinham exatamente para isso. A gente foi até o meio do parque e abriu uma espécie de bueiro, ali tinha o encaixe da mangueira e a torneira. Era uma m*, eu tomei um banho só tentando encaixar a parada.

 

Tomei meu banho de cueca mas na hora de se secar e vestir, eu fiquei complementa nu ali no parque mesmo. Me sequei, me vesti, e voltei para o camping. De noite, nós três iríamos de trem até a Sérvia.

 

 

*Continua....

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