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Argentina/Chile 2008 - 16 dias [Sozinho]


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  • Membros de Honra

É estranho quando uma coisa de quando você é criança adorava, se tornar uma amálgama de stress, medo, tensão e desgaste. Essa coisa se chama aeroporto, e seu principal morador, ou melhor visitante: o avião. Até o dia em que eu precisei viajar para Goiânia à trabalho viajar de avião era algo até divertido. Hoje qualquer turbulência, curvas e solavancos, são motivos de nervosismo e inquietação. Somado a isso, ainda existe a tensão pré-vôo, de imaginar que vou perder o vôo, e a tensão pós-vôo, de que minha mala teria sido extraviada. Mas tudo bem... 12 horas conhecendo os principais aeroportos do Brasil me fizeram conhecer meus principais amigos de viagem antes mesmo de começá-la. Já em Guarulhos, durante a caminhada entre uma aeronave e outra, conheci um camarada que estava indo para Porto Alegre "para terminar um namoro". Forma bem cara de se terminar um relacionamento. Após a conexão em Porto Alegre, tive o desprazer de ver sentada, de forma bem confortável em meu assento, uma senhora portenha que insistia que esse era seu lugar. Falando alto e de forma decidida de que aquele era seu assento, solicitei ao comissário que meu lugar fosse trocado, sem ônus para a companhia, já que a mesma tinha tanta certeza, creio que o meu bilhete estivesse errado.

Coincidência, minha nova vizinha de assento havia passado pelo mesmo problema e solicitado a mesma solução aos comissários. Estavamos lá duas pessoas na mesma situação cômica trocando conversar sobre a viagem que começava. E assim fiz minha primeira amizade: Karla, uma paulista que morava em Porto Alegre, e que estava indo para Buenos Aires estudar espanhol durante duas semanas, outra coincidência.

Aeroporto Internacional de Ezeiza, Buenos Aires, 11:40. Há 35 km do centro de Buenos Aires, a média de tempo de percurso até lá é de 40 minutos, através da auto-estrada, logo a opção mais confortável e mais segura para quem estava viajando pela primeira vez foi o taxi. Ainda no aeroporto tive o prazer de rever uma grande amiga minha, Marcela, Argentina de Buenos Aires que conheci numa mochilada inversa a minha. Ela já fora ao Brasil diversas vezes e a conheci em uma dessas quando estava de passagem pelo Recife.

Karla aproveitou para pegar uma carona no mesmo taxi, já que tanto o bairro onde estava o hostel Che Lagarto quando a casa de família onde ela iria ficar hospeda estavam no mesmo sentido.

E lá estava, Hostel Che lagarto Buenos Aires, um de dez de uma mesma rede de albergues particular que tem hostels em vários paises da América do Sul, inclusive Brasil, todos credenciados pela Hostelling Internacional, ou Albergue da Juventude, a maior e mais respeitada rede de albergues do mundo. Primeira impressão de quem nunca tinha ficado em um albergue fora de estranheza, talvez não que tenha sido culpa do hostel, mas sim da ansiedade acumulada de mais de 6 meses de planejamento desde a idéia ter brotado na minha mente até aquele exato lugar. Alí, depois de ter ouvido muitas palavras de reprovação e dúvidas sobre o sucesso da viagem, durante os seis meses de seu planejamento, creio que a sensação de estranheza refletia outra sensação: a de ter varrido a frustração de nunca ter começado.

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  • Membros de Honra

Após me acomodar no Hostel, fomos eu e Marcela dar uma caminhada pelo bairro. Primeiras sensações de estar em um lugar bem diferente do seu, San Telmo é um dos bairros mais antigos de Buenos Aires, localizado ao sul da Plaza de Mayo, ostenta casas coloniais restauradas, onde residem muitos artistas. Sua beleza história em nada deixa a desejar ao Recife Antigo, bairro da minha cidade, apenas difere por um fator: todas as casas estão bem conservadas e preservadas, diferente do bairro da minha cidade, largado e com casarões históricos entregues às intempéries. Também caminhamos pelo bairro de Puerto Madero, mas de forma rápida.

 

Tempo nublado e fome apertando, fomos para o Restaurante Desnível, uma das muitas sugestões de quando eu estava montando meu roteiro de viagem. Muito agradável, de visual bem simples e boa comida. Comecei o meu turismo gastronômico aqui, comi um bife de chorizo, costela e uma morsicha (este último odiei). Diferente de nós, a carne quando é pedida vem sempre só ela, no máximo uma salada. Seria meu primeiro dia de muitos sem ver o bom e velho feijão com arroz. Também outra particularidade é um pratinho de pães que vem sempre antes da refeição, geralmente acompanhado de um molhinho. Durante a refeição tentei treinar um pouco do meu espanhol com Marcela, mas foi uma experiência na qual prefiro nem recordar. Foi ai que vi o quanto iria precisar das minhas aulas que iniciaria na segunda feira Outra coisa que conheci na prática foram os asssaltos. Aqui, os ladrões pegam de forma sorrateira sua bagagem, bolsa, mochila ou carteira e saem de fininho. E porque na prática? Um ladrão tentou levar a bolsa de uma senhora no restaurante e se deu mau. Quando ele estava bem sorateiramente saindo do restaurante, um dos clientes gritou, correu atrás dele e agarrou-o, assim como outros clientes, imobilizaram o sujeito até a policia chegar. Engraçado como as pessoas se asustam de forma tão grandiosa com esses fatos, acho que para brasileiros que viem em Recife como eu esse fato é mais simplório, e até tranquilo, já que não houve abordagem com arma de fogo, violência física e coisas do tipo.

Sairmos para caminhar, mas o tempo estava muito nublado, quase sempre. Uma falha do meu projeto de viagem foi a escolha do mês: Março é o mês mais chuvoso do ano. Por isso os preços nessa época estavam mais convidativos. Marcela voltou para casa e combinamos de sair mais tarde. Voltei para o hostel, descansei um pouco e fui tomar banho. Porém, liguei para Marcela e ela havia gripado quando chegou em casa, desmarcando nossa saida. Estava chovendo muito em seu bairro e ela pegou um temporal entre o ônibus e a porta de casa. Pena porque esse era o último dia em Buenos Aires que eu a viria, pois no dia seguinte ela teria que viajar à trabalho. Meu primeiro dia em Buenos Aires, já seria o último com minha amiga portenha.

 

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Ainda cedo, conheci meu vizinho de cama do albergue: José Luis Salido, espanhol de Barcelona, foi uma das primeiras pessoas com o qual pude treinar meu espanhol. Admirador de uma boa conversa, falamos um pouco sobre nossas viagens e sobre nossas vidas. Como não havia saido na noite anterior, eu já estava de pé bem cedo no domingo. Aproveitei para fazer uma das coisas que mais gosto de fazer: cooper. Foi uma ideia que veio bem a calhar, já que era uma forma bem saudável de fazer turismo. Devidamente fantasiado de corredor, desci para tomar café e pedi uma sugestão ao atendente do hostel de roteiro. De mapa aberto e dedo indicador apontando em trajetórias circulares, ele me sugeriu uma caminhada em volta de Puerto Madero. Vale lembrar que ainda nesse dia meu espanhol era deplorável e minha comunicação era um misto de inglês, espanhol e mímica. Um cooper de duas hora seria suficiente para voltar a tempo de encontrar com Karla, que ficou de passar no hostel as 10:00 e iniciar o nosso turismo portenho. Puerto Madero tem esse nome em homenagem ao comerciante Eduardo Madero que em 1882 apresentou o projeto de um porto, com fisionomia similar ao porto de Londres, ao governo nacional da Argentina. A construção foi aprovada e finalizada na última década do século XIX. Depois de vários problemas estruturais, o porto foi abandonado em meados de 1950 e ficou assim durante quase 50 anos mas, em 1989, o local do porto foi urbanizado e hoje é o bairro mais nobre e mais novo de Buenos Aires. Para um engenheiro e turista como eu, o cooper em Puerto Madero acabou se prolongando por muito tempo. Outro detalhe importante foi a inclusão de um fim de semana no tempo em que eu iria passar em Buenos Aires. Li em alguns sites que os cidadãos portenhos, diferente de São Paulo por exemplo, curtem a cidade nos sabados e domingos, e Buenos Aires acaba ficando mais interessante. Pessoas levando seus cachorros para passeiar, familias fazendo pic-nic no parque, ciclistas, patinadores, fotógrafos, gente de todo tipo curtindo a cidade de forma bem peculiar. Uma das obras mais interessantes de Puerto Madero é a Ponte de la Mujer, uma ponte de pedestres cuja arquitetura difere e muito do bairro como um todo. A ponte se move para permitir a passagem de navios e foi a primeira obra do arquiteto Santiago Calatrava construída na América Latina. Foi transportada, em partes, da Espanha para Buenos Aires em vários embarques. A estrutura de plástico da obra é interpretado pelo autor como a figura de um casal dançando tango, onde o mastro representa o homem e a silhueta curva da ponte, a mulher. É igualmente interessante e bonita, apesar d’eu achar a ponte muito estranha e divergente no visual do bairro.

 

De volta da minha caminhada turística, já estava atrazado com relação à Karla, mas chegando no hostel, ela ainda não havia vindo, apenas ligado. Deu tempo de tomar um banho, trocar de roupa, tempo certo dela chegar ao Che Lagarto. Junto com a Karla, veio também uma amiga dela que conhecera na casa onde está hospedada: Jennifer. Nova Yorkina residente em Paris, Jennifer em nada lembrava uma americana e sim uma francesa. Era alta, elegante e bem magra. Estava em Buenos Aires à passeio, movida pela indicação de um amigo que havia falado que a capital argentina era “um dos melhores lugares para morar, junto com Paris”. Ela estava lá para comprovar esse fato. Interessante foram os motivos que a levaram a morar em Paris. Sempre julgando os nova-iorquinos frios e materialistas, ela foi movida pela dica desse amigo e se mudou para Paris, uma cidade mais romântica e mais humana. Estar em Buenos Aires seria uma espécie de desencargo de consciência dentro da sugestão de seu amigo. Em nosso roteiro de domingo iríamos conhecer a Feira de San Telmo, no bairro homônimo onde estava hospedado. Sempre acontecendo aos domingos essa tradicional feira, além das muitas barraquinhas com antigüidades, abriga artistas locais de todos os gêneros: de dançarinos de tango a mímicos, sendo palco, também, de artistas anônimos, em busca de alguns trocados e diversão.

 

Após uma boa caminhada por entre os suviniers, antiguidades e apresentações de rua, fomos a um típico café para almoçar. Interessante como todos restaurantes tem uma parte externa para atendimento e para ingressar de forma definitiva no cotidiano da capital argentina, tomar um bom vinho e comer nessa área externa eram indispendáveis. E todos os lugares onde você toma vinho o mesmo é servido de forma excepcional. Taças, um copo de água, um pouco de vinho para avaliar sua qualidade, a cultura do vinho é presente de forma definitiva em Buenos Aires. Acompanhado de um sanduiche de “jamón” – presunto – seguimos em nosso almoço até que um evento inusitado aconteceu, ou melhor, se repetiu. Um grupo de turistas italianos almoçava no restaurante do lado, quando alguem, da mesma forma sorrateira, uma pessoa pegou a bolsa de uma das senhoras e saiu de fininho, pegou um taxi e, antes que o mesmo desse partida, uma das pessoas do grupo se jogou na frente do carro, abriu a porta e arrancou o ladrão de dentro do automóvel, imobilizando-o. Em dois dias de Buenos Aires, fui testemunha ocular de dois assaltos mau sucedidos, praticamente un novo record! Como no dia anterior, a polícia algemou, interrogou e levou o elemento. De forma fiel ao meu roteiro de viagem, fomos eu e Karla fazer um city tour em uma empresa que, diferente das tradicionais, faz roteiros turísticos com bicicletas. A empresa se chama Bicicletas Naranjas e estava mais que anotada nos meus planos de viagem. Infelizmente a Jenifer não foi conosco, pois não estava usando tênis. De bicicleta as sensações de apreciação da cidade são mais vivenciais. Você pode conhecer as ruas, caminhos, pontos turísticos e “sentir” o que a cidade tem a lhe oferecer. Fomos a Parque Lezama, onde foi fundada a cidade de Buenos Aires, o bairro d´La Boca, el Carminito, estádio do Boca Juniors e circulamos o bairro de Puerto Madero seguido de uma parada na casa rosada e praça de mayo. Passeio super interessante e descontraido, mas de forma rápida, apenas para ter uma noção da abrangência dos pontos turísticos da cidade. Depois do passeio, voltamos à Puerto Madero a pé para conhecer uma barraca de Parrilla, ou seja, uma banca de rua que vende carnes. Muito legal, comi um choripan, que é um chorizo com pão francês, muitos molhos legais e um sabor típico de comida de rua. Caminhamos um pouco e Karla pegou um taxi para sua casa. Voltei para o hostel caminhando e curtindo um pouco do visual de Puerto Madero, bairro que me agradara muito. Antes de ir lá, passei na Catedral Metropolitana de Buenos Aires, estava tendo uma missa e resolvi parar para assistir. Qual a diferença da missa católica de Buenos Aires para as do Brasil? A língua, pois todo o ritual de celebração é idêntico. Interessante forma de treinar espanhol e pedir uma bença. Fim do dia, de volta ao hostel, precisava ligar pra casa pra saber da minha família. Pois triste notícia veio pelas ondas do telefone: minha avó que estava hospitalizada havia falecido na madrugada anterior. Péssima novidade para quem tinha engrenado na viagem. Início de férias bombástico ter que vivenciar um fato dessa magnitude a distância. Infelizmente não dá para conter as lágrimas nessa hora. O José Luis estava no balcão do pub do hostel e me deu uma força naquele momento, conversamos um pouco e tomamos um choop para desopilar. Ainda liguei para Karla, que também me deu uma força por telefone, e desmarquei qualquer programa que teria para a noite. A cabeça naquela hora não estava para festas. Esperei a bebida fazer um pouco de efeito e fui pra cama, era o melhor que eu tinha pra fazer naquela noite, dormir para no dia seguinte cedo ir para meu primeiro dia de aula de espanhol.

 

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Nem deu tempo de me despedir do café da manhã. A partir daquele dia eu não mais comeria o “desayudo” no hostel, pois a aula de espanhol começaria às 08:00 da manhã, e o café da manhã, às 09:00. Sai bem cedo para dar tempo de fazer a matrícula e quaisquer burocracias que porventura pudessem me fazer atrazar, além do fato de me perder no caminho, caminho este que seria percorrido pela primeira vez naquele dia. Comprei no caminho um jornal para dar uma lida. Já estava mais familiarizada com a lingua portenha, e ler jornal so me ajudaria. Pois bem, com tantas chuvas em Buenos Aires ocorreu um fato na cidade que so chegou ao meu conhecimento através do La Nación: duas trombas d’águas no rio da prata, na altura do bairro de olivos (onde mora Marcela), assustaram os moradores da capital argentina. Nossa, tromba dáguas... muito longe da natureza estável de meu pais, ou melhor, da minha região.

Interessante o caminho, a rua onde ficava a galeria do curso é praticamente a Wall Street portenha: Rua flórida. Todo o sangue financeiro é bombeado por essa artéria da cidade: executivos, trabalhadores, estudantes, estagiários, centros comerciais, galerias.... uma rua de pedestres super movimentada que traduz a grandiosidade cosmopolita da cidade. Tudo o que eu mais gostava de ver e sentir. A vista da Casa Rosada fazia parte da paisagem diária do meu percurso ao curso.

IBL, escolha certa depois de uma boa pesquisa na internet e vários emails trocados. Ambiente agradável, gente do mundo todo, pessoal super atencioso... nenhuma margem de arrependimento. Fiz minha matrícula e segui para a aula. O curso é ministrado de uma forma bem diferenciado: os alunos sentam em volta de uma mesa, com a professora em uma das pontas e as aulas são ministradas mesclando exercícios, jogos, lições, tudo com muito diálogo e entretenimento. Uma fórmula muito admirável. Dividindo sala comigo havia mais 3 pessoas: Um americano chamado Eric, um Londrino de nome Jonas e um outro rapaz... que esqueci o nome. Coincidências a parte, Eric e Jonas eram engenheiros como eu, mas não civis. A primeira aula se desenrrolou de forma satisfatória, e o espanhol já começou a se tornar uma língua mais acessível. Após a aula havia uma espécie de reunião entre os alunos interessados em conhecer particularidades da cidade de Buenos Aires, uma aula orientativa para turistas recem-chegados a capital portenha. Conheci outros rostos que viria a conversar outros dias, durante os intervalos das aulas, ao longo da semana de curso. Também nessa reunião conheci a esposa de Eric, Mariah. O casal em geral era muito simpático e muito legal e viriam a se tornar grandes amigos. Combinamos de tomar uma cerveja em um Pub no bairro de San Telmo, onde eles também estavam hospedados. Sai da aula para cumprir o compromisso daquela tarde de encontrar com Karla e Jeniffer, tinhamos alguns pontos turísticos no roteiro. Segui pela Rua flórida até seu final, igualmente interessante. Havia uma grande e bem arquitetada galeria de lojas imponente e exuberante chamada Galeria Pacífico.

Seguindo viagem, passei na Praça San Martim antes de pegar um ônibus em direção à Palermo. O curso de Karla já havia terminado e eu tive que procurar saber onde ela estava hospedada. Nada dificil, a casa de familia era indicação do próprio curso de espanhol, e ficava na mesma quadra, apenas dobrando a esquina. Tocando a campainha, o dono já me reconhecia das ligações que eu fazia: “ahh, Jayme, entre por favor”. Casa antiga com muitos móveis de época, porém muito organizada e cuidada. Apesar do aspecto antigo, respirava nostalgia ao contrário de velharia. Super simpático, o proprietário me conduziu até o quarto da Karla, vizinho a de Jennifer, onde conversamos um pouco e trocamos fotos dos dias anteriores pelo Laptop. Seguimos para nosso roteiro na Recoleta.

Primeira parada, fomos na Biblioteca Nacional. Nada de mais, talvez para pessoas que procurem alguma coisa em especial, pesquisa, acervo intelectual... mas no geral não foi interessante, apenas para dizer “fomos a Biblioteca Nacional da Argentina”. Seguimos por praças e bosques nas proximidades. Legal como o pessoal curte os bosques e as praças. Casais de namorados rolam na grama verde, pessoal leva seus cães para passear, quando não, pagam para alguem levar, e la vão os “Dog Walkers” com 5, 8, 12, as vezes 16 cachorros com uma só pessoa, das mais variadas raças e portes. E por falar em natureza, ouvimos um chamado da nossa: fome.

 

 

Não lembro como chegamos nesse inconsciente coletivo, mas os três desejavam comer uma pizza, creio que por ser um alimento universal tendo em vista que o grupo era coposto de dois brasileiros e uma americo-francesa. Seguimos para o cemitério da Recoleta, que já se encontrava fechado (saco isso, todas as coisas fechavam 3 horas antes do por do sol), mas que na frente tinha uma grande galeria com restaurantes lojas e tudo do bom... isso tudo na frente do cemitério. Achamos um bom restaurante, chamado Pizza Cero, onde comemos, digo de passagem, a melhor pizza que já comi. Uma coisa que ainda teria que me acostumar com a questão dos serviços em terras portenhas eram as “Tips”, ou “propina” em espanhol, que não é uma tradução literal da nossa propina e sim, se traduz como "Gorjeta", apenas conhecida por nós nos 10% dos bares e restaurantes, mas la em todos os cantos se paga “propina”, não que você seja obrigado, mas você receberá uma puta de uma cara feia se negar. Já é cultural, teria apenas que me acostumar e não lutar contra. Já era hora de retornar pra casa, ou melhor albergue, e segui meu rumo. Tinha marcado com o Eric e Mariah no Pub em San telmo e já estava atrasado. Cheguei ao hostel e encontro o José Luis como já estava ficando de costume, no balcão do pub do Hostel. Havia uma brasileira que acabara de chegar conversando com ele, não me recordo o nome, e ficamos conversando sobre nossas viagens. Ela estava a trabalho, morava em São Paulo e veio treinar um grupo de funcionários, mas já voltaria na quinta feira. Chamei ela para o Pub, mas de última hora desistiu devido a fadiga da viagem. Fui até lá, ambiente bem alternativo e bacana, tinha realmente o espírito de Pub londrinho, sofás velhos, a mesa de sinuca, o balcão, cerveja farta... pena que Eric e Mariah não estavam la. Tomei uma cerveja para registrar a minha presença e voltei para o hostel. Mais uma noite de sono na terra do tango.

 

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Segui como viria se tornar de costume meu despertar. Sai cedo sem meu bom e velho café da manhã, em direção ao curso de espanhol. Meu consolo era que nos intervalos tinha bastante biscoito com café para os alunos, e era nessa hora que eu fazia a forra matinal do meu estômago. A aula viria a se tornar uma constante certa em meus dias e não vale a pena me extender sobre elas. Após a aula teve um bingo para os alunos onde foram sorteados passeios, entre outras coisas, infelizmente a sorte não sorriu para mim. Havia um anuncio na escola que informava sobre um show de tango no final do dia. Oportunidade única para ver uma apresentação de tango, a dança que mais representava o país onde eu estava. Bom, devida as limitações financeiras, deixei para pensar sobre essa possibilidade ao longo do dia. Saimos eu, Eric e Mariah da escola em direção à Recoleta, para finalmente poder ver o cemitério que no dia anterior estava fechado. O bairro tem esse nome por causa do convento dos padres Recoletos que fica ao lado da igreja. Recoletos porque os mesmo viviam recolhidos, se preservavam do mundo exterior para fazer umas orações. Mais interessante de tudo é o fato do cemitério ser ponto turístico, infestado de turistas, guias, cartões postais, lembranças, mapas.... mas não por menos, o cemitério era imponente, seus mausoleus eram atrações a parte, com enormes esculturas, criptas decoradas e bem cuidadas, além do fato de grandes vultos da história argentina estarem descansando aqui, entre eles o túmulo mais procurado: o jazigo da família Duarte, onde estão os restos mortais de Eva Perón. Na sequencia, seguimos para a Igreja do Pilar, onde ficava o antigo convento dos padres recoletos. Igreja de aspecto simples, porém tem um museu de arte sacra bem interessante. O museu acaba por retratar um pouco da história de Buenos Aires, sob a ótica dos padres. Logo na sequencia, Eric e Mariah teriam outras coisas a fazer e foram embora, porém combinamos de ir para o show de tango pela escola de espanhol. Despedi-me deles e continuei caminhando pelas proximidades do cemitério. Havia o centro cultural Recoleta, não aparentava nada de mais mas entrei mesmo assim. Havia uma amostra fotográfica chamada “ausências” de um fotógrafo chamado Gustavo Miguel Germano. Interessante amostra, eram fotografias originais de grupos de pessoas, amigos ou familiares cuja ditadura havia vitimado algum integrante da fotografia original. Era feita uma nova foto com as mesmas pessoas da original, obviamente as que estivessem vivas, no mesmo local e situação onde a foto original representaria a “Presença” e a foto nova, a “ausência”. Triste, refletiva, instigante, principalmente para alguem que havia recentemente perdido um parente. Sai de lá de certa forma comovido com as fotos e com as histórias.

Segui meu rumo de volta ao Hostel, porém teria que passar na escola de espanhol para comprar as entradas do show de tango para mais tarde. Optei por fazer o percurso a pé, seria interessante para conhecer as redondezas e respirar um pouco mais dos bons ares que deram nome a capital. Os bosques das redondezas eram bastante interessantes, havia o monumento aos mortos da guerra das Malvinas, onde não arrisquei me aproximar pela cara de poucos amigos dos dois guardas que tomavam conta do local. Outra coisa que pude observar no caminho eram os estacionamentos. Quase não se viam carros parados nas ruas e depois me toquei que muitos estacionamentos eram subterrâneos. Os motoristas deixavam seus carros no subsolo e saiam por escadelas que mais pareciam acessos ao metrô. Ótima solução urbana. Voltando pela Rua Flórida encontrei um amigo que conhecera no dia anterior: um cão de rua preto, sempre perambulando pelo centro da cidade, fiz um pouco de carinho nele no caminho para a aula e vez por outra quando ele me via, seguia meus passos. Descobri o quanto a rua flórida era interessante à tarde, perto do final do expediente. Depois de ir à escola e pagar pela entrada do show de tango, segui rumo ao hostel e fui surpreendido por um show de tango ao ar livre. Um casal fazendo apresentação na rua de forma bem irreverente e profissional. Contribuição de dois pesos para os artistas de rua. De volta ao hostel, preparativos para o show de tango, banho, arrumar um pouco a mala, sentar no balcão do pub do Che Lagarto, tomar uma cerveja e ler algumas coisas. Agora era só pegar um taxi e seguir.

O show de tango não era apenas um show de tango. Pela bagatela de 100 pesos, você tem uma aula de tango, depois um jantar e na sequencia o show propriamente dito. Fui um dos primeiros a chegar no Complejo Tango, seguido de Eric e Mariah. Muita gente chegou de uma só vez, a maioria pessoas de maior idade, mas alguns jovens também estavam lá. Fiz par com uma canadense que estava hospedada no Milhouse hostel, minha primeira opção de hospedagem na época do planejamento da viagem, super simpática e de sorriso largo. O convivio com Eric e Mariah me ajudou muito a tirar meu inglês do fundo do baú e a comunicação com a canadense fluia bem. A princípio os passos do tango são simples, e a aula era bastante divertida, com muitos esbarrões e pisadas nos pés. Depois da aula, fomos para a área onde seria o show e o jantar. Muito elegante e organizado, para o jantar existiam três refeições a serem escolhidas: entrada, prato principal e sobremesa, além de uma garrafa de vinho por mesa e uma garrafa d’água por pessoa. Refeição impecável, atendimento idem. Térmido do almoço, hora do show. Interessante quando as coisas que você faz superam suas espectativas, o show de tango não apenas eram pessoas dançando tango, mas toda uma encenação teatral, canto, sapateado. Muito humor, dança impecável, as encenações de cantores boêmios, serestas para as senhoritas, brigas de familia que não aprovam o relacionamento de um típico galanteador portenho, tudo era de se encher os olhos. Ao final de muitos aplausos, recebemos nossos certificados do curso de iniciação ao tango e fomos para nossos hostels.

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Fim do dia, hora de ir para a cama. Esse era meu pensamento. Fiquei um pouco no Pub conversando com José Luis e outras pessoas que estavam ali. O Cristian, um chileno que estava passando uns dias em Buenos Aires, e duas Colombianas estava se preparando para ir a uma boate e eu peguei carona na aventura deles. Finalmente algo que eu almejava: uma boate, conhecer a noite portenha e as pessoas que ali estavam. Se chamava Bahrein e fica bem no centro da cidade. A casa era antigamente um cofre de banco e agora era um point de musica eletrônica. Nas boates de Buenos Aires se paga a entrada na entrada, e por vezes já se ganha uma dose de cara, e todas as demais bebidas que são compradas são pagas no ato. No meu ponto de vista isso era um atraso, mas tudo bem. A boate se chamava Bahrein e tocava muita musica eletrônica. Havia um paredão luminoso que destacavam várias imagens, grande e imponente, era o destaque da boate. Música eletrônica da melhor qualidade, gente bem alternativa e um ótimo ambiente, além do mais o DJ era de fora e a casa estava lotada. Descobri da pior forma possível que meu cartão de crédito não queria pegar. Um susto pois dependeria dele para o resto da minha viagem. Porém, horas de reflexão depois, vi que aquele dia era do vencimento do cartão e o fuso horário de 1 hora a menos dava um descompasso entre a meia noite do Brasil e de Buenos Aires. Talvez por isso o sistema estivesse dando conflito e recusando o cartão. Tinha muita gente do hostel la, e de outros hostels, muitos estrangeiros que logo formavam um grupo. Inglês, espanhol... tinha que me virar e por sinal estava me dando bem. Muito vinho e bate estaca, assunto farto com um grupo tão globalizado de pessoas. Passadas as horas estava exausto, o dia foi puxado e eu tinha que ir embora, boa idéia mas péssima forma de executa-la. Assustado com o episódio do cartão de crédito, decidi ir a pé para o hostel para economizar o taxi. Distância considerada, além do mais as 3:00 da madrugada e sem saber o caminho ao certo. Passei direto da rua, voltei por outra, sai perguntando as poucas pessoas que por ai estavam, deixei a câmera cair no chão mas nada de mais aconteceu com ela. Buenos Aires é uma cidade menos violenta que Recife, mas naquele dia eu estava abusando. Cheguei exausto, fui logo pra cama e apaguei

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Depois da rotina de aula diurna, me planejei para a tarde ir para o lado de Palermo, bairro mais afastado para atividades de andarilho mas ainda no, digamos, “centro de interesse turístico” de Buenos Aires, parte da cidade onde se concentravam 90% das atividades de interesse dos turistas (vale lembrar que esse termo não é universal, acabei de inventar). Antes disso fui almoçar com o pessoal do curso. São vários os atrativos gastronômicos de Buenos Aires e escolher olhando um guia turístico por vezes apenas mais confunde do que esclarece. Eu já havia desistido e escolher um punhado de restaurantes para visitar e iria tentar na sorte. E foi ela que me levou ao Café Tortoni, Café mais tradicional da capital portenha. Por indicação de Eric e Mariah fomos até la e vejo que me arrependeria se soubesse como era e não tivesse ido. O lugar não só é um bom restauraute, ele respirava história e fora frequentado por grandes nomes da boemia portenha, dentre eles Carlos Gardel e Jorge Luis Borges. Além do mais um bom restaurante não era sinônimo de alto preço, mais pelo poder aquisitivo que a moeda brasileira me proporcionava do que pelo custo de vida argentino. Um bom almoço com bife de chorizo não saiu por mais de 50 pesos, o único preço que tivemos que pagar caro foi esperar na fila para entrar, mas nada que não valesse a pena. A decoração do ambiente remota dos tempos de sua inauguração que, a propósito, tem 150 anos de vida.

Com caminhos opostos dos demais amigos, minha tarde turística seria solitária. Após a refeição segui de metrô para Palermo. Ainda não havia andando no metrô e descer escadas rolantes para acessar esse meio de transporte era pra mim apenas coisas de filme (Recife tem apenas metrô de superfície). Meio sujo porem eficiente, já estaria em Palermo poucos minutos depois pronto para visitar alguns lugares. O primeiro da lista era o Jardim botânico, bem no meio da cidade, abriga Mais de 8000 espécies vegetais de todo o mundo. Uma estufa subtropical foi criada para abrigar as variedades mais exóticas. Foi inaugurado em 1898 e é considerado a obra máxima do arquiteto e paisagista francês Carlos Thays. Casais de idosos levando seus netos para passear, namorados, amigos de passagem, gente sentada embaixo das árvores e um clima bem úmido cercavam o local. Local agradabilíssimo para uma caminhada, não só o jardim botânico, mas o bairro de Palermo era bastante arborizado e com diversos parques. Segui para o zoológico de Buenos Aires e as constantes ameaças de chuva ao logo dos dias se tornaram concretas. Choveu forte e isso me obrigou a aguardar um pouco para entrar no zoológico. 15 minutos de espera e 14 pesos depois eu já estava dentro do segundo zoológico mais visitado do mundo. Além da grande variedade de animais provenientes da Argentina e de outros países, o Zoo de Buenos Aires está muito bem cuidado e sempre tem atrações para as crianças. É subdividido de forma que cada grupo animal de uma determinada região do planeta tem seu espaço bem identificado. África, china.... é como dar a volta ao mundo em um safari. O mais curioso é que você pode alimentar alguns animais com uma ração que é vendida dentro do parque, óbvio que leopardos, tigres e outros pouco amistosos estão de fora dessa lista. Caminhada interessante, bom programa para crianças e turistas curiosos como eu. Já eram quase 05:00 da tarde e precisei agilizar para mais uma atração, o Jardim Japonês. Pelas fotos que vi parecia ser um lugar bastante agradável e bonito, pena que tive que ficar apenas com a visão das fotos, o parque fechara exatamente as 17:00 horas e não pude fazer a visita. Uma espiada por cima do muro foi a única coisa que consegui fazer. Uma pena, não teria mais tempo para ver o parque nos próximos dias.

Segui de volta para o hostel, mas antes uma parada no mercadinho para comprar algumas coisas, vinho, água... Chegando lá, o pessoal de sempre estava no pub, tomando cerveja e conversando. A essa altura do campeonato o meu espanhol já estava melhor, e o inglês também devido ao convívio com Eric e Mariah e essas habilidades linguisticas me davam maior abrangencia social. Haviam grupos de mochileiros de lingua inglesa e grupos de mochileiros de lingua hispânica, e eu era amigo de todos. Nessa noite tinha muita gente reunida e a conversa rolava solta, regada a muito choop. Naquele dia Cristian tinha uma nova programação: O After Office do Museum. O Museum é uma boate muito legal, está situada num casarão projetado por nada mais nada menos que Gustave Eiffel, o mesmo que deu seu nome e sua arquitetura a famosa torre francesa. A casa que no passado era uma fábriba de ferramentas e moinhos era grande, tinha 3 andares e toda estrutura metálica refletia sua irmandade com o monumento da frança. Todas as quartas rolava uma festa chamada “after Office” que começava as 10:00 (em se tratando de Buenos Aires era super cedo, pois as festas geralmente começam as 2:00 da madruga). As pessoas chegavam do trabalho ainda de terno e gravatas e iam curtir a balada. Além de Cristian, também foram mais duas figuras que conhecera no hostel: O Cameron, um canadense super gente boa e Martin, se não me engano era noruegues, mas que minha memória não deixa esquecer e o jeito retartado que ele fazia. Gente boa, mas retardado. A única coisa que ele sabia dizer e alto e bom som era “boludo” e fazendo um gesto com a mão direita como se fosse um cozinheiro italiano degustando uma comida e dizendo “mamamia”. Seguimos os 4 para o Museum caminhando pela rua na maior tranquilidade, passamos no banco para sacar uma grana e seguimos rua abaixo. Essa era uma das grandes vantagens de San Telmo, tudo ficava muito próximo. Um grande portão de ferro e uma baita fila nos aguardava, muita gente arrumada, outros com roupas que ainda remetiam seu dia de trabalho. Logo na entrada ganhamos uma dose de energético com vodka e o som da casa, bem como todo o ambiente, era bastante agradável, musica pop/rock bastante dançante, muita gente dançando de forma altamente descontraida. Descobri uma bebida que ainda não havia tomado que pela qual me tornaria fã: a Tekila Sunrice, simplesmente tekila, groselia e suco de laranja, davam um efeito “nascer do sol” à bebida, não só no aspecto mas também no sabor, de ia gradativamente saindo do sabor laranja ao da groselia a medida em que era consumida. Curtimos até quase começarem a varrer a boate, haviam poucas pessoas ainda e rodamos um pouco os andares mais acima para ver o local. Depois de perambular, decidimos ir pra casa, bêbados e pedestres, ainda paramos em um armazem do lado do hostel para tomar a saideira. O lugar era bem característico e o dono, uma figura. Tinha uma voz bem rouca e era muito conversador. Tomamos algumas Quilmes, conversamos um pouco e voltamos para o hostel. Não lembro de como cheguei na cama, sei que foi com meus próprios pés, e nesse meio tempo aprendi mais uma nova palavra em espanhol:

- jayme, estás muy boracho – Dizia Cristian.

Agora eu sabia o que significava o nome de um bar mexicano que tinha em Recife.

 

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Difícil acordar, pior ainda ter descoberto que havia perdido a hora. Tomei um banho nas pressas e comi no hostel.

- Maldita ressaca - Pensei.

Atrasado estava eu, sai correndo para a IBL para ver o resto da aula, não perdi tanto assim, mas detestava ter planejando tanto tempo uma viagem na qual estudar era uma das principais tarefas e não estar cumprindo. Bom, acho que estava exagerando, deveria curtir ao máximo a viagem, afinal de contas quando viria novamente pra cá? Encarando dessa forma a ressaca ficava mais leve. Aula difícil de levar pra frente, mas mantive meus olhos abertos com ajuda do café.

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Na programação da quinta feira estava reservada uma visita mais detalhada ao bairro da Boca. Nesse dia, minha programação despertou interesse de Eric e Mariah e os dois resolveram me acompanhar. Seguimos de ônibus para lá, nada dificil. A Boca é um bairro que, por sua localização próxima ao porto, foi habitada por muitos estrangeiros que chegavam para trabalhar. O bairro possui duas grandes atrações: O estádio do Boca Juniors (La Bombonera), time com maior quantidade de torcedores da Argentina e conhecido por serem absurdamente fanáticos por futebol, e o Caminito, onde parte do bairro foi restaurada. O Caminito tem uma característica peculiar: as casas são contruídas com tábuas de madeira, placas e telhas de metal e pintados com muitas cores, isso porque, quando os estrangeiros - principalmente espanhóis e italianos - construíam suas casas, usavas as tintas que sobravam dos navios do porto para pintá-las.

Caminhamos pelas ruas do bairro, compramos alguns suvineirs e paramos para um almoço. Quando havia estado no bairro no domingo anterior (DIA 02), as poses de tango me custaram 10 pesos. No restaurante onde comemos tinha um show de tango muito legal com cantor, dançarinos e instrumentistas, e as poses de tango estavam inclusas no valor da refeição, ou seja, minha burrada me fez desperdiçar 10 pesos. Muito legal o almoço, a música e os dançarinos também estavam impecáveis.

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Haveria um jogo do Boca Juniors naquele dia e estar no bairro onde foi fundado o time mais tradicional da argentina me despertou uma vontade de ver a partida. Havia um passeio turístico no hostel para o jogo e passei a dica para o casal de amigos, que acataram-na. Decididos a ver o jogo, fomos comprar algumas camisas do time e seguimos para o hostel de Eric e Mariah, para que os mesmos se arrumassem. Aproveitei esse tempo para dar um passeio no mercado de San Telmo, que ficava bem na frente do hostel deles. Foi lá que descobri o quanto os argentinos gostam de velharia, a tirar pela feira de San Telmo, o mercado tinha várias vendas que disponibilizavam todo e qualquer tipo de velharia para compra. Bem simples, não vinha a ser um ponto turístico relevante, mas uma rápida visita valia a pena, principalmente quando se espera os amigos tomarem banho. Fomos para o Che lagarto e lá já estavam algumas pessoas aguardando para ir também. O Cristian e o Jonas Vannay, um Suiço super gente fina, iriam também além de algumas caras conhecidas de meu convivio mochileiro que estavam no ônibus: gente do curso de espanhol e mesmo a canadense que fora minha parceira de Tango tinham o mesmo destino. Devidamente fardados de “hinchas boquenses” eu e Eric, acompanhado dos demais seguimos o passeio até La bombonera e, após revistas, detectores de metais e escadarias, nos acomodamos nas arquibancadas. Na argentina não é permitido bebidas alcóolicas nos estádios e na casa do Boca Junios, apenas se consumia sanduiches e Coca-cola. A propósito a Coca-Cola é o patrocinador oficial do Boca Juniors, cujo campo tem sua fachada decorado com o nome do patrocinador, porém não na cor vermelha tradicional, e sim na cor preta, porque o vemelhor é a cor do arque-time rival, o River Plates. A arquibancada era super inclinada dando maior proximidade do campo (o estádio todo era compacto para aproveitar o pouco espaço disponível na época da construção) e a arquibancada era super apertada. Assistia-se ao jogo de pé, sentar era apenas possível no intervalo, e mesmo assim essa tarefa deveria ser executada assim que fosse apitado o final do primeiro tempo, pois não sobraria espaço para descanso. O jogo seria Boca x Atlas pela Copa Santander Libertadores da América e o campo estava lotado, a torcida organizada do Boca Juniors, a La Doce, não parava de cantar. Eles tinha esse nome porque se consideram o 12º jogador em campo, não por menos. Levavam o time pra frente cantando sem parar diversas músicas, algumas debochando inclusive do River Plate, e para frente mesmo foi o time ganhando de 3 a 0 do Atlas. Para prestigiar o jogo estava lá Maradona em seu camarote, torcendo freneticamente pelo time que lhe projetou cuja devoção pelo craque é grande. Para meus olhos Maradona não passava de um ponto distante acenando para a multidão, cuja localização foi ajudada pelos torcedores que estavam ao meu lado. Programa caro, tendo em vista que o ingresso custava 24 pesos porém o passeio turístico com o ingresso custava 100 pesos, mas que valia muito a pena, até mesmo para pessoas como eu que detestam futebol.

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De volta para o Hostel, hora de dar uma geral na mochila. Roupas sujas, jogadas, carregador de maquina fotográfica solto, toalha... todos nos seus devidos lugares. Deveria deixar tudo organizado para seguir viagem no dia seguinte pois minha estadia em Buenos Aires estava chegando ao fim. Ainda me restava uma noite e, como sempre, o Cristian tinha uma programação certa. Depois de mochila e mochileiro devidamente arrumados, guardei minha companheira de viagem e desci para me encontrar com o Cristian. Havia um grupo de pessoas,não me lembro a nacionalidade, que iriam dividir o taxi conosco. Fomos até o quarto deles aguardar alguns se arrumarem e tomar uma antes de sair. Até hoje gostaria de ter aprendido aquilo, mas a turma jogava baralho cujo objetivo era sempre beber. E não era apenas um jogo e sim vários. Dependendo das cartas que se tirava, tinha que beber, ou virar, ou beber sem parar até que o companheiro parasse primeiro, enfim... Bebi uma garrafa de vinho em menos de 10 min, um índice olímpico!

Depois de todos prontos e “afinados”, pegamos um taxi para o 69 Club. A princípio uma boate como qualquer outra, mas que depois se mostraria mais um local surpreendente da capital portenha. Algumas garrafas de espulmante e vinhos depois, vejo um grupo caracterizado entrar no recinto e se dirigir para o palco na frente da pista de dança. Bem cômicos mas com certo apelo erótico, o grupo fazia encenações em palco de forma bem descontraia, sensual e dançante. O mais legal é que a medida que a noite ia passando, as apresentações iam ficando mais “calientes” e culminavam um strip-tease sensasional. Engana-se quem só tinha homens na boate, haviam mulheres e muitas, em nada a boate lembrava uma casa de serviços sexuais. Os homens babavam e as mulheres se divertiam, tudo na maior descontração. Fim de noite, de volta pra casa. Ainda paramos em uma lanchonete que, a propósito, existem em várias nas noites abertas para servir esfomeados baladeiros. Comemos alguns cachorros quentes, com molhos que só tinha visto mesmo por lá. Via-se ao longe o obelisco, único monumento que optei por não visitar por julga-lo não merecedor de um tempo até mesmo pelo fato de ter passado várias vezes de taxi ao seu lado e crê que já havia visto suficiente.

De volta para o hostel, sem mais nem longas, cama e “buenas noches”.

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Ressaca novamente, com ela veio o atraso para o último dia de aula. Daria tempo de comer no hostel e me despedir de algumas pessoas. A viagem deveria seguir seu roteiro, porém havia gostado muito da semana em Buenos Aires e era triste deixar tudo para trás. Mochila arrumada e devidamente instalada nas costas, me despedi do José ainda no dormitório, acordando e me desejando boa viagem. Já havia pego o contato dele e de alguns que conheci ao longo dessa semana. Fiz minha refeição e paguei minha conta onde constava as estadias e os diversos chopps tomados nos 8 dias e fui para a aula já sem intenção de voltar para o Che Lagarto. Não programei nada para aquele dia, apenas seria destinado a viagem para Mendoza, nunca se sabe de possíveis imprevistos e preferi não arriscar um dia livre seria ótimo para fazer o que vier na telha.

Fui à aula e, após as últimas atividades em sala, tiramos fotos e recebi meu certificado. Tarefa cumprida que aliara viagem de férias a melhoramento profissional, isso era bom em todos os sentidos e me fazia feliz em ter tornado a viagem benéfica para minha pessoa em diversos aspectos, principalmente pessoal e profissional. Me despedi da Mariah ainda no IBL, que teria que ir ao Hostel para resolver algumas pendências particulares e sai para almoçar com o Eric. Conversamos um pouco no almoço onde comi mais um prato feito sem lógica para meus conhecimentos culinários brasileiro: purê com frango. Algo sem explicação para mim que como no mínimo feijão, arroz e carne, sem falar quando acompanha salada, purê, batata frita.... enfim, gastronomias a parte saimos do restaurante e me despedi do Eric também, deixando as portas de recife abertas para futuras visitas. Ele deu um largo sorriso e foi embora em meio ao rush da capital argentina. Triste dia....

Passei o dia perambulando, caminhei por algumas ruas, acessei a internet... de interesse turístico apenas visitei o predio da faculdade de engenharia de Buenos Aires, não tanto de interesse turístico mas uma curiosidade particular. Prédio imponete, bonito, respirava história e em muito lembrava uma faculdade de direito com seu aspecto grego, de pilares enormes. A caminhada ao longo do dia me custou um incoveniente na coluna que resolvi indo logo para a Rodoviária para não abusar muito dela. Fato curioso: nesse dia teria o show do Iron Maiden e, no caminho, passei na frente do hotel onde eles estavam hospedados, lotado de fãs na porta. Passagem comprada, aproveitei a demora para fazer algumas ligações ao Brasil e mesmo para buenos aires: Liguei para me despedir da Carla, a qual passaria mais uma semana estudando espanhol e que acabamos nos desencontrando na segunda parte da semana em que estive na capital portenha. Mais um embarque a vista e mais uma cidade a frente do roteiro, minha noite seria dentro de um ônibus, durante 11 horas ao longo da noite, uma economia de diária do albergue a qual estava com receio de não ser válida. Uma possível poltrona desconfortável poderia fazer o barato sair caro.

A empresa que havia escolhido era a Andesmar, depois de muitas sugestões na internet. Apesar de ser uma das mais caras preferi não arriscar. Valeu a pena: Poltrona confortável, uma semi-cama onde dava para esticar as pernas de forma bem satisfatória. 3 refeições ao longo da noite, além de um bingo e um filme para descontrair. As refeições eram muito boas, porém estranhas para meu paladar tupiniquim. No bingo não fui felizardo com o vinho de prêmio e o filme, apesar de ruim, era divertido para uma viagem de ônibus. Demorei a dormir, mas dormi. Sono tranquilo e confortável, apenas a coluna ainda reclamar do dia de andanças e o problema que eu ainda teria com ela estava longe do que poderia imaginar.

 

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  • Membros de Honra

Meus olhos se abriram com uma certa dificuldade. O sol se mostrava ainda omisso mas alguns raios resplandeciam no horizonte e eles me mostravam o que o mundo todo lembra quando se ouve falar na província de Mendoza: seus vinhais. Eram grandes e bem cuidados, pareciam não ter fim. Viajar pelo nordeste brasileiro em meios de transporte terrestre trazia as vistas uma paisagem de plantações e mais plantações de cana-de-açucar e essa mesma sensação eu estava tendo viajando pelas estradas de Mendoza, apenas trocando o produto plantado. À medida que o sol raiava a silueta da Cordilheira dos Andes se apresentava na paisagem como grandes protuberâncias gananciosas em serem primeiramente iluminadas pelos raios solares da manhã. Fantástica combinação! Os Andes ao fundo e os vinhais percorrendo a linha da minha visão. Só essa visão já iniciava com satisfação um dos principais motivos da minha visita à Mendoza: Conhecer seus vinhos e a cordilheira dos Andes.

O primeiro dia de estadia seria destinado apenas ao city tour. Um dia livre para conhecer a cidade e retomar a tarefa de fazer amigos e sair para novos lugares. Importante decisão deixando em aberto a agenda para possíveis empecilhos na viagem, que até o presente momento estava perfeita e superando qualquer expectativa inicial.

Chegando a rodoviário comprei logo um jornal para me interar sobre a cidade. Grande surpresa, aquele dia seria o dia da maior festa da cidade, a Vindimia 2008, algo como a festa da uva e do vinho. O jornal separava páginas e mais páginas para falar do festival que já tinha eventos ocorendo nos últimos 3 meses e naquele dia seria a festa maior, onde seria escolhida a Rainha da Vindimia 2008 em um grande espetaculo de show e dança.

Peguei um taxi e descobri que meu espanhol ficara em Buenos Aires: O sotaque espanhol nas regiões distantes do rio da prata é diferente e acaba por dificultar o meu entendimento. Novo hostel a vista, minha nova moradia seria a Huellas Andinas, opção feita devido ao forte apelo esportivo presente nas minhas pesquisas. De cara não gostei muito do hostel, mas depois teria certeza de que não era mesmo uma boa opção. Minhas reservas não estavam 100% confirmadas e tive sorte de me hospedar pois haviam vagas no local. A receptividade, diferente do Che Lagarto, não era calorosa e os quartos eram muito apertados. Logo cedo tomei café da manhã, as pessoas do Hostel ainda não tinham acordado exceto um cara chamado German, de aspecto magro e com óculos, que me pediu o jornal para dar uma lida. Entrei um pouco na internet e fiquei a pensar o que fazer naquele dia, consultando mapas e entrando em alguns sites. O German me disse que haveria um desfile diurno da Vindimia, a menos de uma quadra dalí, com todas as candidatas a Rainha daquele ano, um verdadeiro desfile de colírios e exacerbação enófila que remetia Mendoza. Durante a conversa chegou a Mariana, amiga do German, de estatura baixa e cabelos cacheados e ruivos bem intensos, para com os quais me ofereci para fazer companhia em ver o espetáculo na rua, no maior estilo cara de pau da cultura mochileira. Os dois eram da Província de Neuquén, mais ao sul da Argentina mas faceando a cordilheira também, davam aulas em uma faculdade e estavam em Mendoza para o festival. Do jeito que eu estava, com a roupa da viagem de 11 horas durante a noite, sem falar no dia anterior perambulando pelas ruas de Buenos Aires, segui em condições de higiene questionáveis para apreciar o festejo.

Gente de todas as idades, dos 30 aos 70 anos, algumas crianças e jovens claro, mas a maioria pessoas da meia vida pro fim. Guardas de trânsito, reporters de jornais, tudo para um festejo que seria a prévia da noite que estava por vir. Logo procurei me informar da dinâmica do evento: cada rainha representava um “departamento” da província de Mendoza, como assim eram divididas as provinciais argentinas. Cada rainha oferendava aos “súditos” o produto característico de seu departamento, em sua maioria uvas, mas também tinham maças, peras e melhões, que eram arremeçados para as pessoas que estavam em volta do desfile, com exceção do melão por motivos óbvios. Algumas pessoas criavam um dispositivo composto de cabo de vassoura com um balde no topo que servia para pegar a fruta diretamente da mão da rainha, ou de uma de suas auxiliares.

 

O desfile era grande e bonito, chegava a enfadar mas não por culpa da demora e sim do meu cansasso. Havia apresentações de carros antigos, gauchos, danças do ventre, grupos peruanos, colombianos, uruguaios... uma variedade imensa. Carros da prefeitura distribuindo camisinhas, até mesmo algumas rainhas “alternativas” digamos, Rainha da água, rainha da terra, até rainha travesti... tinha lugar para todas as dinastias, até mesmo para um grupo de protestantes que reclamavam da instalação de uma mina nas proximidade de uma fonte de água que abastecia a cidade que, digo de passagem, ficava no meio de um deserto. Coisa que até aquele momento eu não entendia: como Mendoza ficava no meio de um deserto e era puro verde, com ruas bastante arborizadas? A explicação estava em um eficiente sistema de canaletas que circulavam por toda a cidade e drenavam a água do degelo noturno do topo das montanhas. Nevava no pico durante as madrugadas e o gelo derretia durante o dia. Essa água escoava e descia pelas canaletas, alimentando todos os seres vegetais e animais da região.

Depois do desfile fomos dar uma volta para comer pela cidade. Nossa, cidade super esquisita. Parada com todos os estabelecimentos fechados. Era a siesta, coisa que nunca tinha visto na prática e que estava odiando. Depois do almoço todos fecham as portas e vão dormir, só reabrem as 17:00. Dei um passeio nas ruas e logo voltei pra casa na esperança de ainda ter um ingresso para a festa maior que acontecedia à noite. Doce ilusão, os ingressos que já estavam sendo vendidos faziam 3 meses estavam esgotados. Pensei em desistir, mas toda a cidade estaria la e eu não queria estar de fora do evento. Decidi ir com meu novo par de amigos, arricar a sorte por la, apesar de que eles já haviam se precavido e comprado os ingressos, tinha plena certeza que a função de cambista não era uma ideia exclusivamente brasileira. Fui tomar banho para sair, banheiro horrível, pequeno, com pouca água que escorria pelas paredes. Pouco funcional, não tinha onde pendurar as coisas e já estava começando a pegar abuso daquele lugar. Banho de gato tomado, hora de ir para o festival.

O lugar ficava em um espaço entre alguns morros chamado “teatro grego”. Era grande e especialmente planejado para grandes eventos como este. O acesso era feito por ônibus preferencialmente, com os quais seguimos viagem. Durante a caminhada, comprei a um cambista o ingresso, mais caro lógico, mas comprei. O ingresso que comprara, de cor verde, me daria acesso a ala menos nobre do evento, no fundão longe do palco, ao contrário dos de German e Mariana de cor roxa que ficava logo de frente ao palco. Infelizmente nos separamos e eu teria que ver o show sozinho. Sentei um pouco e fiquei vendo a movimentação inicial. Pouco tempo depois a Mariana apareceu do meu lado, disse que havia conseguido uns convites da ala roxa com um pessoal do departamento de Tunpugato, que estavam lá para torcer para a anfitriã de sua terra. – Jeitinho brasileiro na argentina? – Pensei, e pelo visto a Mariana era boa nisso. Logo e já estava com a torcida de Tunpugato, uma turma de pessoas composta em sua maioria de pessoas acima dos 30 anos, e uma animação mais contida do que a dos brasileiros com a qual estou acostumado. A única bebida alcoólica que vendia era vinho, em garrafas pequenas e práticas próprias para esse tipo de evento. Após alguns vinhos, começaram as apresentações. Primeiramente um dançarino cuja função maior era animar o público, dançando com uma parceira. – eso es Salsa – Me orientava a Mariana sobre o ritmo. – ahora es tango eletrônico –

???????

Tango eletrônico? Nunca ouvi falar, nem ouvi ouvir. Mas parecia legal.

Depois música para todos dançarem. Salsa, ritmos caribenhos, pagode..... isso mesmo, musica brasileira da pior qualidade, mas o pessoal me transformava no centro das atenções quando começou a tocar. Logo na seqüencia, Asa de Águia e a dança do vampiro.... mais de mil kilômetros de distância e a globalização me trazia essas músicas. Bem, muitas pessoas adoravam e dançavam e eu aproveitava a animação em geral. Tanto que muita gente subiu ao palco e a Mariana me arrastou para lá. Ao final da parte interativa da festa, começavam as apresentações. Show de música e dança, encenações que mais pareciam abertura de jogos olímpicos ou mesmo do criança esperança. Não encarem as comparações como deboche, pois o espetáculo era muito belo, impressionante e grandioso. Luzes, música, teatro e mais de 800 bailarinos dançando sincronizadamente em um cenário grandioso e bem produzido. E pensar que nada daquilo estava no meu roteiro de viagem.

Ao final a eleição da rainha da uva. Voto a voto as torcidas gritavam freneticamente aguardando o resultado final. E a campeã , adivinhem só: foi a rainha de tunpugato.

- Brasileiro pé quente !!! – pensei. E a festa estava garantida com a torcida a qual eu participava.

Fim de festa, a multidão voltando para seus carros ou para pegar os ônibus. Caminhada leve e com destino ao coletivo em meio a multidão. De volta ao albergue, buscar minha cama no meio do quarto escuro e pequeno, amotoado de beliches e lençois maucheirosos, sem banho para não tem que encarar aquele banheiro horrível mais uma vez. Para a minha sorte o cansaço era mais forte que tudo isso.

 

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Acordei meio quebrado, ainda com a dor nas costas da caminhada do último dia em Buenos Aires, estava preocupado com a hora do tour dos vinhos que havia separado para aquele dia. Tomei café e aguardei a van vir me buscar. Eu já havia tido os primeiros contatos com vinhos durante a minha viagem. Em alguma das conversas de fim de tarde no Pub do Che Lagarto, perguntei sobre vinhos a algumas pessoas e fiz algumas anotações, além de ter tomado algumas garrafas com Marcela e Carla, mas aquele dia seria inteiramente para me aprofundar sobre essa bebida que impulsionava o turismo da região e agradava os paladares de pessoas ao redor do mundo. Essa importância ficou mais latente na festa do dia anterior, a celebração maior cuja cidade havia parado para apreciar. E não é que na televisão, em um programa tipo "Ana Maria Braga" de Mendoza, estava lá a nova Rainha dando entrevista e tomando café da manhã?

Chegando a condução a van tinha seu motorista, claro, e uma guia e o veículo já tinha alguns turistas que iriam participar do passeio, além de mais alguns outros que iríamos buscar em outros hotéis e pousadas. No caminho para nosso destino inicial, a guia explicava sobre o vinhos, os tipos, quantas vinícolas existiam em Mendoza (quase 900). Nossa primeira parada foi em uma vinícola de produção familiar. Fomos recebidos com uma senhora de sorriso largo e muito simpática, esposa do proprietário, que nos mostrou todo o processo de produção de seus vinhos, desde a colheita nos vinhais até o engarrafamento. Interessante processo, cuidadoso e curioso. Fomos ao subsolo onde ficavam os barris de carvalho onde alguns dos melhores vinhos produzidos ali ficavam apurando seu sabor durante um ano. Na seqüência tivemos uma aula de degustação, provamos alguns vinhos da vinícola e aprendemos a avaliar suas características de cor, odor e sabor. Ao final tínhamos um tempo para comprar algumas garrafas de vinhos na lojinha da vinícola. Estava com um pouco de receio em gastar tanto dinheiro mas não me contive e comprei algumas garrafas de vinho e uma do melhor vinho de lá, cuja entrega seria feita no próprio hostel. Dando continuidade ao passeio fomos a uma vinícola cuja produção era mais industrializada. Conhecemos o processo do começo ao fim na mesma filosofia do anterior, apenas sendo o processo mais mecanizado. Explicações por vezes repetidas mas também com novos conteúdos que iam agregando mais eno-conhecimento. Novamente tivemos uma aula de degustação e nova parada para comprar vinhos na lojinha. A essa altura do campeonato eu já estava com diversas garrafas prontas para degustá-las ao longo da viagem e ao regressar para casa, presenteando assim meus pais que eram enófilos e iriam adorar vinhos de tamanha qualidade. Regressei mais cedo do que imaginava e aproveitei para dar uma caminhada na cidade.

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Exacerbações patrióticas a parte, todo brasileiro gosta de levar no peito a bandeira ou o mapa do Brasil na camisa, alguns mais exagerados gostam de carregar bandeiras enormes como se estivessem nas olimpíadas de fato representando seu país. Sem beirar o exagero, eu havia comprado uma camisa, ainda no Brasil, que tinha não só o mapa do meu país, mas também um “X” sobre a o Recife, de forma tal que eu poderia mostrar onde eu morava as pessoas que fizessem cara de desdém quando eu falasse o nome da minha cidade natal. O que parecia ser uma forma não exagerada de levar meu país no peito se mostrou uma idéia um pouco perigosa em duas situações. Em uma delas, neste mesmo dia, eu estava caminhando pela rua quando um cara de aspecto estranho se dirigia para mim perguntando onde era a praça da independência. Quando eu disse que ela ficava atrás dele, ele continuava perguntando e vindo na minha direção. Aquela situação estranha me fez falar em tom mais forte: “detras de usted, bien?! E o camarada meio desconcertado deu meia volta e seguiu. Bom, até ai talvez nenhuma relação com minha camisa, mas quando parei para comer um cachorro quente , um cigano parou do meu lado e perguntou se eu era brasileiro. Desconversei e virei o rosto. Esse mesmo cigano havia tentado me abordar um dia antes mas, como eu estava caminhando, dei meia volta. Coincidentemente encontrei o German e a Mariana enquanto comia e conversamos um pouco, programando algo para fazer, enquanto o cigano abordava uma pessoa que estava comendo em outra mesa. De alguma forma na qual não entendi bem, o cigano persuadiu o turista, pegou seu dinheiro e o turista saiu furioso com o mesmo. Naquele momento decidi seguir caminhando com meus amigos para o destino a qual eles iriam. Andamos cidade acima e fomos ao aquário municipal, ver peixes. A programação não só parecia bucólica demais como a maioria dos peixes eram brasileiros, os quais não me impressionavam. Na seqüência fomos a um reptiário, ver répteis. Essa parte da história também não é tão merecedora de descrição.

Voltamos caminhando pela cidade e conheci melhor sua história. Mendoza ficava numa região onde os terremotos eram constantes e muitas de suas construções histórias haviam sido demolidas por esse fenômeno da natureza. Demos uma passada na rodoviária para que meus amigos comprassem antecipadamente suas passagens de volta pra casa, e voltamos para o hostel.

As pessoas do hostel, em sua maioria eram peregrinos, pessoas de passagem que viviam pelo mundo mais pelo prazer da viagem do que de curtir o lugar. Não havia pessoas como o Cristian que gostavam de uma balada, e pelo visto meus dias em Mendoza não seriam agitados. Sai a noite com o German e a Mariana para jantar em um restaurante mexicano, conversamos um pouco e bebemos. A certa altura da noite, eu e a mariana, os únicos que bebiam do trio, estávamos perguntando como se falavam algumas palavras de baixo calão na língua do outro. Muitos risos e descontração, o German participava da conversa de forma mais contida. Voltamos para o Hostel e fui direto para a cama. Vale salientar que eu estava para alcançar mais um índice olímpico: o de mais dias sem tomar banho.

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