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Enfim, acho que consegui digerir a viagem e poder falar dela. Farei um relato aos poucos, mas não será em ordem cronográfica. Será mais por etapas. Inicio com a parte do trek que fizemos entre Mucugê e o Capão, com passagem pelo Paty.

 

O integrantes do trek era:

 

1) Marcéu, meu irmão

 

2) Iuri, amigão de jampa

 

3) Gabriel, amigo de jampa

 

4) Capitão Planeta, cara de Salvador que conhecemos no camping. Seu nome não será revelado porque ele pode não querer.

 

5) Leandro, amigo da gente, de jampa

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Atrações fora dos roteiros habituais, com um status entre "só trekkers" e "quem sabe vocês turistas no futuro...". Existem dezenas dessas atrações menos freqüentadas na Chapada e, por acidente, acabei fazendo uma dessas, que é Mucugê-Paty pelo Oeste. Meu plano inicial era o "tradicional": Mucugê, Igatu, Andaraí, Paty, Capão... Agora porque ninguém do meu grupo (menos meu irmão) queria fazer um trek com mais de três dias, enquanto eu queria um de pelo menos dez, tínhamos escolhido essa trilha Oeste, supostamente mais rápida. Um cara que conhecemos no camping, de Salvador..., disse que conhecia bem o Paty, que estava familiarizado com a Chapada e talz e que queria fazer a trilha conosco, porque ainda não tinha feito, mas seria de grande serventia devido à sua antiga experiência com a Chapada... ai, ai...

 

Pagamos uma caminhonete e lá fomos prá Mucugê. Tudo mais ou menos às pressas. Decidimos em levar comida prá uns cinco dias, mas só por eu ter insistido um pouco, bancando o chato. Diziam que trilha pro Paty seria coisa de um dia, dia e meio. O cara de Salvador até queria aproveitar o restinho do dia prá pegarmos a trilha e chegar à Toca do Caboclo. Seu Daí, o dono do nosso camping que sempre dá ótimas infos das trilhas e que quando diz: "é pertinho, é..." quer dizer: "dia todo andando, é...", ele disse "seu moço, da prá fazer, mas trilha ali no começo é um POUQUINHO complicada, é...” Isso me deu arrepios na espinha.

 

Mas só saímos de Mucugê no dia seguinte, porque a noite caíra e o cara então achou melhor dormir ali mesmo, mas seria uma pena porque então no dia seguinte não dormiríamos no Caboclo, visto que o atingiríamos rápido e iríamos passá-la. Dormimos ao lado da Casa da Carne, perto da praça onde a rapaziada de Mucugê se encontra prá dançar, namorar, paquerar e mostrarem sua motocas "envenenadas" (com uma moldura dando um ar mais "radical"). Perto da gente o rio-esgoto exalava cheiros e mosquitos. Funk-brega baiano e mosquitos. Que noite.

 

Mas conseguimos "dormir" e no dia seguinte bem cedo saímos prá trilha. De cara, mal saímos da estrada e já não sabíamos onde era a entrada da trilha. "Perto da AABB". Ou AMDB, ou sei lá o que era aquilo. Sei que perto daquilo tinha mais de uma quebrada prá direita. Como nos tinham dito que a trilha seguia pela esquerda do rio, um pouco escondida no matagal alto, atravessamos o rio e ficamos lá procurando trilha. Achamos várias delas, todas conduziam a lado nenhum. Não encontramos nenhuma trilha maior que uma picada. E desconfio que a maior parte fossem formações naturais. Trechos de areia entre o matagal. Incrédulos, achamos melhor voltar. Encontramos uns caras nativos curtindo o rio e eles disseram que a trilha da esquerda tava "meio" ruim, que havia uma que seguia pela direita do rio até a confluência com outro rio e então sim, era cruzar prá esquerda e mais na frente voltar para a direita, ou seja, trocarmos de afluente.

 

Mas onde raios tava essa trilha??? Nosso experiente expert na Chapada estava sempre certo de algo e metia o pé na estrada. Depois de uma hora andando, ele parava, "examinava" o ambiente e dizia que não era por ali. Nosso mapa não ajudou muito. "Tem uma montanha aqui e é esta" se provou um conceito mais que flexível...

 

Sei que no cair da tarde, depois de eu ver cada vez mais desesperado que a gente passou o dia fazendo a curva de um morro à nossa direita, comecei a achar que a coisa não ia bem. Tinha uma rocha nesse morro com um formato bem particular e que "decidimos", consultando o mapa, que era já a Toca do Caboclo. Mais na frente da "Toca do Caboclo”, mais nada fazia sentido na paisagem e no mapa. Então voltávamos à "Toca do Caboclo" prá ver se acertávamos com a trilha correta. E saíamos da "Toca do Caboclo" prá "nova" trilha - e desse dia em diante, “trilha” se tornou o tema de uma discussão velada e polida, porém tão ardente e dúbia que deixaria os filósofos gregos bestas com nossas capacidades de trabalhar com a realidade e conceituá-la, que transformaria o calor infernal do meio-dia e tardes chapadenses em brisa de mar, que transformaria as infinitas mutucas que nos furavam todo tempo em boibôletas bunitinhas.

 

Sei que essa brincadeira de ir voltar de e prá "Toca do Caboclo" nos consumiu o dia todo até que já bem tarde tomamos uma decisão desesperada: ou a "Toca" não era a Toca, ou pegamos uma trilha errada antes da "Toca". E voltamos tudo, deixando a "Toca" lá prá trás. E bem perto de onde começamos a trilha achamos uma confluência. Um grupo de locais estava lá fazendo um pic-nic. Viram que não estávamos na trilha certa. Aliás, a gente já tinha visto que não estava na trilha certa, claro... Aliás, nossa última investida só foi detida porque cruzamos com um bando de caçadores que nos disseram que não era por ali, que era muito ao contrário dali. Isso e uma, a terceira, topada que nosso colega de Salvador dava em seu já machucado dedão. Andar de japonesas não devia ajudar muito, mas ele era bem estrito à forma correta de se fazer uma caminhada na Chapada. "Os locais andam aquilo de chinelas, e talzs..."

 

E eu que só conseguia pensar o quanto estava puto com meus tênis Tiberland que comprei especialmente prá Chapada, prá não cair no exagero de levar minhas botas dos Himalaias. Covardia prá Chapada umas botas daquelas. Agora meus tênis descolavam prá todos os lado e nunca paravam nos meus pés, sempre escorregando nas minhas meias. E eu olhava com pura inveja prum amigo meu que foi de botas...

 

Bom, então acabou que acampamos na confluência, porque todo mundo tava morto mesmo e o grupo do pic-nic nos apontou com a irrecusável proposta de ficarmos ali e comermos todos juntos uma enorme feijoada que eles estavam fazendo. E tinha bebidas. E meninas. E ficamos.

 

Comemos feito reis e conversamos muito, e sempre muito conscientes que o avanço total do dia, cerca de 2,5km, não tinha sido bem o que esperávamos pro dia... mas que com certeza no dia seguinte iríamos pegar estrada a mil por hora, porque agora pelo menos sabíamos em que direção tínhamos de ir e que por isso mesmo sem trilha era só ficar na direção.

 

Dia seguinte saímos feitos foguetes e cruzamos a confluência um pouco atrás onde dava pé e decididos a meter os peitos no mato. Armado de um par de bermudas, tênis e camiseta, eu temia pelo pior. Meter o peito naquele matagal é se entregar ao chicote. Mas ainda bem que no fim todo mundo amarelou e ficamos atrás da trilhinha, aqueeeeeela do comecinho e que achávamos não estar em condições ou que não existia.

 

Isso, essa mesma...

 

Não achamos e o Capitão (o cara de Salvador que tinha sido do exército) achou melhor todo mundo se separar em duplas e tentar achar a trilha. Quem achasse chamava os outros. Me tocou acompanhar o Capitão até o paredão do lado esquerdo, lááááá longe. Iríamos caminhar até ele e estar certos que a trilha iria ser achada. Suspirei fundo porque o paredão tava longe prá cacete e certamente teria de me arranhar muito por provavelmente nada. Mas depois de uns 10 minutos negociando penosamente nosso caminho, o Capitão mudou de idéia e decidiu melhor a gente checar com os outros e ver se tinham achado algo. Ir, não deu em nada e agora voltar por nada. Me aborreci. Olhei pro Capitão e disse:

 

“Direção nesse vale, certo?”

 

“Certo.”

 

“Tá vendo aquele eucalipto bem alto lá na frente, bem grandão?”

 

“Tou.”

 

“Então você vai trás deles e diz que a gente se encontra lá.”

 

E cortei mato em linha reta até o eucalipto. Cheguei lá coisa de 40 minutos depois, reduzido a farrapos. Mas achei local de acampamento. Tinha tido gente ali. Fui ver meu eucalipto de perto, mas tinha uma cerca de arame farpado ao redor dele. Uma escadaria tinha transformado a árvore em ponto de observação. “Perfeito”, pensei eu. E voltei. Tomei banho e fui esperar os outros. Chegam cerca de 20 minutos depois. Tinham achado uma trilha fácil. Má sorte minha...

 

Agora tínhamos de andar até um local onde daria pé para cruzar e pegar a margem da direita, por onde continuava a trilha. Mas aquela cerca não deixava ninguém passar. Um dupla de investigadores foi designada para pular a cerca e tentar achar algo do outro lado dela. O resto ficou para avaliar as pedras que tinham naquele trecho e que davam para a outra margem. Eu achava ser o passe. Todo mundo achava que o passe tava mais na frente. A dupla era eu e outro amigo. Assim que entramos no campo uma nuvem de mutucas nos atacou e ficou conosco todo tempo que nós dois tentamos nos convencer que estava sendo massa o trek. Subimos no eucalíptico. Nada. Descemos, cruzamos o campo, o outro lado da cerca. Mais arranhões. Seguindo margem, vendo montes de varas de pesca fincadas no lodo. Lodo que piorava a situação dos meus tênis, já em franca decadência. Em certa hora tudo morreu e metemos a cabeça fora do mato prá avisar pro pessoal lá na frente que tava maus por ali. Lá de longe chega o grito quase inaudível: “volta... trilha... pedras...”.

 

Ai, ai... voltamos.

 

O meu amigo das super-botas resolveu ser o herói do dia e explorou a outra margem (eu tinha chegado nela, mas devido estar armado de um par de cuecas diante de uma enorme, alta e espessa barragem de capim-navalha, achei mais prudente abandonar aquele tipo de abordagem). A boa notícia é que ele tinha achado trilha mais acima e era bem larga. Todos cruzamos e pegamos a trilha. Por essa altura tinha meus tênis e meias empapados de água e lodo. Não me importei.

 

Trilha larga e pisada. Pisada demais para ter sido usada só por eventuais mineiros. Larga o suficiente para nos deixar fora do alcance da maior parte do mato alto, mas alguns galhos teimavam em espetar minhas desprotegidas e muito arranhada canelas. Desliguei de novo todo e qualquer input sensorial do pescoço prá baixo.

 

Uma vez na trilha e direção corretas, mandamos bala no passo. Hoje era dia de chegar ao menos na boca do Paty. Achamos estranho, mas não vimos a Toca do Caboclo. Decidimos que passamos acima dela. Depois de um tempo a trilha entrou prá direita e começou a subir. Depois desaguou num platô que parecia um pasto. Muito mato mais adiante. Olhamos o mapa e tudo parecia estar de acordo. De fato a trilha curva um pouco, mas depois se aproxima do rio novamente. Andamos e andamos contornando o morro que estava à direita. Após umas horas decidimos que a “curva” da trilha no mapa não podia ser aquela curva que estávamos fazendo: muito longa e cada vez mais prá direita. Uma bússola mostrou que estávamos caminhando prá Leste, enquanto a trilha fazia uma breve curva prá Nordeste e apontava Norte depois. Nada de Norte agora. Mas antes de decidir voltar, achamos melhor ter certeza e fizemos três coisas: tentamos chegar onde estaria o “rio Preto” à nossa esquerda, que se revelou uma caminhada por mais terreno molhado, sem trilhas e onde em certo momento vejo meu irmão voltando correndo. Correndo muito. Grito perguntando se tinha achado o rio e a trilha. Devia estar correndo de alegria prá avisar os outros. “Não!”, foi a resposta. E continuou correndo. Achei estranho e resolvi voltar também. Já no mói de mochilas e membros que estavam jogados no meio do campo, Marcéu me contou que tinha visto uma cobra que ele conhecia muito bem dos tempos que moramos num sítio. Uma cobrinha que ataca principalmente cavalos e vacas. Ela bota a cabeça no alto e “corre” bem rápido. Uma cobra corre-campo. Uma serpente cujo nocividade era incerta e caracterizada pela sua abundância no Nordeste e pelas corridas que dá em quem as perturba. São bem rápidas e realmente “correm” atrás do “invasor”. Meu irmão já tinha levado uma corrida desagradável de uma delas no sítio quando criança e não estava feliz de ter de repetir a experiência. Adiamos a exploração da parte esquerda da região e fomos prá direita. Achamos uma picadas e pegamos a mais “larga” por muito tempo. Ela contornava o morro da direita bem de perto e não ia prá esquerda. Voltamos e cortamos um pouco de mato: achamos outra picada indo prá esquerda. Andamos até achar um riacho que poderia ser um do mapa. Paramos ali para comer sob o sol sem sombras das 13h. Depois de comidos, resolvi ver um pouco mais da trilha e vi que ia sempre em frente, sempre Leste. Nos reunimos e decidimos que algo deu errado lá atrás. Decidimos voltar tudo, até antes do ponto onde a trilha entrava pela esquerda e subia.

 

Putos da vida, voltamos. Horas e horas de esforço e caminhada perdidos. Na volta acabamos achando a Toca do Caboclo. Sua veracidade era indiscutível devido ao material que havia por lá, provavelmente deixado pelos poucos mineiros ou guias que passam por ali. Um longo banho no gelado Preto nos refrescou e descansou um pouco. Muita mutuca. Segundo o mapa, a Toca tava ainda no início da trilha, quem sabe uns 3 ou 4 km da confluência. Nem a pau iríamos acampar ali. 2,5km por dia não era bom desempenho pruma trilha de três dias... De posse da toca certa, seguimos novamente em direção Norte. Atentos à qualquer trilha que continuasse prá Norte. A trilha seguiu e começou, de novo, a curvar prá direita e subir. Desespero. Mas tinha de haver alguma coisa indo em frente... já pensando em voltar de novo, demos de cara com uma quebrada prá esquerda. Aliviados, deixamos a trilha larga que subia e pegamos a menor que ia em frente, prá Norte.

 

E apertamos o passo. Trilha certa e direção certa de novo. Passamos vários córregos e vários pontos duvidosos, sempre decidindo pela picada que mais fosse prá Norte. Alguns apontavam prá distância que abria em relação ao rio. Será que não deveríamos estar mais próximos dele? Pelo mapa, a trilha parecia correr pela margem... todo mundo considerou a possibilidade, mas no fim a perspectiva de mais um corta mato foi mais forte e decidimos não castigar nossas canelas e braços mais que o suficiente, embora por essa altura eu fosse o único de bermudas e camiseta. Todo resto desencantou calças e camisas de manga longa, inclusive um amigo que também tinha sido do exército e que nos entretinha com suas histórias sobre as durezas do meio militar. Ele foi um dos primeiro a pedir pinico pro mato e pegou emprestada umas calças de outro amigo.

 

Chegamos então num lugarzinho onde vários córregos se encontravam. Meio ruim de andar em terreno alagadiço, mas algo que tinha de ser cruzado, ou contornado. Um mato mais alto e verdejante, e pequenas árvores, transformavam o local numa armadilha de “engancha mochila”. Várias picadas iam e viam do local. De lugar algum prá lugar nenhum. Uma delas devia ser a que procurávamos. Várias investidas à flora do lugar se mostraram inúteis e dolorosas. Metade do grupo decidiu que era mais produtivo ficarem sentados torturando uma mutuca. Ao fim de meia hora ali, decidimos que íamos cruzar por lugar tal, usando picada tal e seguir Norte. Arranha-arranha e depois de muitos galhos e cortes, de novo estávamos direção Norte. A margem cada vez mais longe e baixa do rio nos olhava com desconfiança.

 

Sobe e desce pelas encostas e chegamos num acampamento. Debaixo de umas árvores, o local correspondia à uma marca no mapa, embora não tão longe da Toca quanto gostaríamos. Mas tinha fortes sinais de ocupações anteriores, como a falta de mato e lugar para fogo. As árvores também formavam uma boa sombra. Incertos se o resto do dia seria suficiente para chegar na boca do Paty, resolvemos acampar ali mesmo. Pouca lenha não garantia algo que deixasse cozinhar o macarrão e meu fogareiro teve de sair da mochila. Um córrego perto nos proporcionou um gelado mas agradável banho sob o céu estrelado do lugar. Estrelas cadentes e a passagem de vários satélites eram ocorrências comuns. Nosso acampamento anterior tinha sido mais restritivo e com árvores tapando o céu. Só ocasionais cururus nos visitavam. Um deles tinha feito uma rápida investida sobre minhas partes íntimas sem que eu tivesse visto. Quando todo mundo gritou “cuidado com o sapo” e eu fui ver do que falavam, o bicho já tinha vindo, analisado a presa, decidido que não era o que pensava ser e regressado para seu antigo posto.

 

Nada de sapos agora. Conversamos bastante sobre a urgente necessidade de progressos mais significativos para o dia seguinte, lamentando as más interpretações sobre o mapa e sua correspondente paisagem que tínhamos realizado durante o dia. Mas agora era diferente. Agora sabíamos onde estávamos e que montanhas ali e acolá correspondiam às que estavam impressas no mapa. E bússola sempre prá Norte! Não tinha como o dia seguinte dar errado. O matagal, ainda por cima tinha baixado consideravelmente, se restringindo a uma altura abaixo da nossa. A perspectiva de deixar dias de canelas expostas para trás me animava bastante. Amanhã: dormir no Paty, custe o que custar.

 

Acordei cedo, como sempre quando faço treks. Faço toda toilet do dia, arrumo minhas coisas e começo a preparar o café-da-manhã. Quando o mesmo está quase pronto, começo a acordar quem ainda dorme, quase todos. O Capitão era mais madrugador que eu. Mas meus amigos estavam detestando essa idéia de serem acordados tão “cedo”. Mas a melhor hora de caminhar na Chapada é de manhã, por isso era bom ter o máximo de manhã. De tarde o sol infernal e os enxames de mutucas que nos seguiam tornava muuuuito penosa a avançada.

 

Não demorou muito e a caminhada matutina se tornou numa sucessão de perder e achar picada. O rio cada vez mais distante nos preocupava. Pelo mapa era para estar mais perto... a boa notícia é que estávamos curvando suavemente para Nordeste, de acordo com o que o mapa previa. Estávamos meio perdidos, mas ao contrário dos dois dias anteriores, dessa vez pelo menos estávamos no vale certo e dentro de pontos cardeais muito próximos uns dos outros.

 

Algumas vezes a trilha desaguava numa sucessão de uns lajedos bem estreitos que parecem trilhas. As picadas entravam nesse labirinto de lajedos e saiam sabem lá os deuses onde... seis pessoas olhando pro chão, tentando interpretar qualquer sinal de trilha. Qualquer matinho um pouco mais baixo rapidamente se tornava o alvo de acirradas discussões.

 

Caminhando e desencaminhados, chegamos num regato, onde a fome falou mais alto e paramos. Enquanto eu e meu mano preparamos a comida, o Capitão e outro amigo foram atrás de trilha. Os outros dois se limitaram a deitar numa sombra e cochilar, só se levantando quando o rango tava pronto. Enquanto degustávamos mais uma tediosa macarronada, discutimos o que fazer: atrás de trilha acima ou abaixo? O Capitão estava convencido que tínhamos de ir ao rio e procurar a trilha lá, porque pelo mapa era prá estarmos perto do rio quando a curva prá Nordeste começava e não estivemos próximos do rio já fazia um dia de caminhada. O resto não estava animado com a perspectiva de ir prum lugar com mato alto e muita mutuca. Ainda por cima, o “topo” estava mais próximo de ser explorado. Enquanto uns lavavam a louça, eu e meu irmão, de novo, meu amigo das botas, Iuri, saiu atrás de trilha. Achou uma pouco acima, bem larga e, aleluia!, tinha muitas pegadas. Voamos por essa trilha e já com a tarde caindo chegamos na boca do Paty. Parecia entrada de vale dos elfos tirado do Senhor dos Anéis. A trilha sobe gentilmente, quase nada, chega num topo com muitas árvores e passa por entre uma larga abertura entre o bosque. Saímos dessa passagem por entre as árvores e damos de cara com uma encosta gramada de frente prum buraco enorme cheio de vales e montanhas, o Paty. Era prá ter passado pelo Cachoeira antes disso, mas a pressa nos fez passar da entrada sem muito remorso de pular uma atração bem comentada. Pena, porque depois todo mundo que visitou essa cachoeira nos disse que era belíssima, tanto por cima quanto por baixo.

 

No Portão do Paty, nome que o Capitão chamava o lugar onde estávamos e de onde dava prá ver a Igrejinha (Ruinha) lá longe, finalmente pudemos respirar aliviados. O movimento de alguns trekkers ao longe nos animou. Bom estar numa trilha usada. Nossa esperança era que os dias de corta-mato e picadas tivessem chegado ao fim. Antes era terra-de-ninguém. Agora era terra cheia de alguéns. Satisfeitos, descemos para o vale e avistamos um grupo de paulistas. Gênero feminino. Dois dos integrantes do nosso grupo praticamente não falavam de mais nada durante literalmente todo o trek senão de mulher e sexo, não necessariamente nessa ordem. O cio era patente e com forças surpreendentes, escondidas durante o trek e finalmente reveladas, conseguiram alcançar as paulistas. Durante um dos seus descansos à caminho do seu Wilson, alcançamos eles e elas.

 

Seu Wilson era caro. Sua comida, cara. E tinha a necessidade de mil reservas e acertos. Um nativo tentando continuar a ser hospedeiro como antigamente e ao mesmo tempo virando cada vez mais pensão. Ficamos sabendo que um grupo grande de nossa cidade estava acampado nas margens do rio que corria mais ao fundo. Tínhamos alguns amigos nesse grupo e desde o início que estávamos pensando onde nos cruzaríamos na Chapada. Quem diria que seria no meio da trilha...

 

Bom, entre com paulistas, porém em acampamento caro e sem paulistas, porém com gente amiga e acampamento grátis, metade decidiu que as possibilidades de algo especial ocorrer naquela noite estavam metade acima ou abaixo. três desceram e três ficaram. Primeiro cisma.

  • Membros de Honra
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Vamos tentar:

 

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Dormida em Mucugê, ao lado da Casa da Carne (ou Mercado da Carne, sei lá)

 

 

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Já na direção errada, nossa primeira refeição.

 

 

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Então, como não podem ver, aqui é a confluência do afluente da esquerda que vínhamos seguindo e o em frente, que perdemos.

 

 

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No segundo dia de perdição, nada como um cafezinho gostoso pela manhã para levantar a moral de Iuri.

 

 

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Já nos Gerais do Rio Preto, meio perdidos e meio achados: Gabriel e Iuri.

 

 

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A gente tem de se distrair prá aliviar a tensão, né? então vira a câmera assim e assado e, pronto: pedra cara-de-bruxa. Já "perto" do Paty.

 

 

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Meu mano Marcéu. Cara mais gente fina que conheço.

 

 

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Todo mundo pelos Gerais do Rio Preto. Como podem não notar, seguimos pelo melhor e mais larga trilha de todo o trek. O mato é consideravelmente mais baixo e se limitava a danificar as minhas canelas, mas não o resto do corpo. Sair do mato alto e numa encosta nos permitia ter melhores paisagens, o que era bom prá moral.

 

 

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Momento de reflexão sobre as coisas básicas da vida, tipo onde a trilha está. Como podem ver perto da mochila em primeiro plano, umas tiras de pedra permeiam o local e como muitas vezes as trilhas entram nessas tiras e não saem delas, a gente tipo que se perde...

 

 

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A Involução do Trekker.

 

 

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Enfim, no Paty!

 

 

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Tá certo, foto batida, mas tá valendo... todo mundo olhando incrédulo pro Paty.

 

 

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Acabou! todo mundo nos "portões do Paty".

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O Morrão

 

Aconteceu que no fim de alguns dias de bobeira pelo Seu Dái, resolvemos caminhar um pouco, um dos treks mais ou menos planejado. Um pouco dentro do muito que não foi feito. Culpa do camping do Seu Dái. Fácil, fácil ficar o dia ali, ouvindo causos e contos da fauna residente. De manhã, com o Sol nascendo na serra em frente, com um copo de café quentinho na mão, ficava escutando as imperdíveis histórias do Seu Dái. Imperdíveis pelo conteúdo e pela forma como eram contadas. Seu Dái tem um jeito de falar bem característico...

 

Mas enfim vencemos a inércia e partimos pro Morrão. Como sempre, grupos maiores que uma pessoa demora a se ajeitar num espaço de tempo potencialmente ao dobro. Uma pessoa leva tempo N. Duas pessoas levam NxN. Três, NxNxN. Éramos quatro, portanto NxNxNxN, ou para ser mais preciso, saímos prá trilha depois das 10 da matina. Como tínhamos tempo de sobra, ainda ficamos passando pelas lojas de Caeté-Açú, comprando itens de última hora.

 

Saímos pela estrada de barro que vem de Palmeiras. De Caeté-Açú até a torre da Telemar, de onde saem as trilhas prá Fumaça Por Cima e Morrão-Lençóis e outras atrações por “perto”. Coisa de mais de meia hora para vencer a constante subida que é Caeté-Açú-torre da Telemar. As já constantes levas de carros velhos e novos se tornam mais freqüentes, transformando a subida numa subida envolvida em poeira.

 

Na torre, enquanto o caldo-de-cana revigorante desce gelado, somos gentilmente informados sobre onde a trilha estava. Nosso mapa muito bonito com desenhos mostrava as trilhas da Fumaça e do Morrão como saindo mais ou menos do mesmo local. Achava até que Morrão bifurcava da Fumaça logo no começo.

 

Mais a trilha pro Morrão fica uns 100 ou 150 metros depois da entrada prá Fumaça. Trilha boa e plana. O Sol estava forte, mas trilha era fácil, apesar de sem sombras. Cedo vemos o Morrão e calculamos mais umas 2 horas de caminhada. A estrada larga mostrava sinais de pneus, o que me deixou suspeito que ainda não tínhamos começado a trilha propriamente dita. Numa bifurcação, uma placa quebrada de mármore deitada no chão deixa ler entre seus cacos que Morrão e Lençóis ficavam pela direita.

 

Primeira, última e única sinalização que achamos durante toda trilha. Quer dizer, nem isso, considerando que ainda estávamos em estrada...

 

Caminhamos e por fim a estrada se transforma em trilha. A visão do Morrão nos enche de propósito. É bom caminhar com seu alvo em vista, mas sempre tem aquele pequeno probleminha da ilusão de ótica que as montanhas fabricam em nossos cérebros no que toca a percepção de distância e tamanho. O Morrão não estava grande, mas por mais que andássemos, ele não crescia muito.

 

Quando cresceu, cresceu de repente.

 

Aí cruzamos com uma dupla de trekkers, um casal, voltando do mesmo trek. Tinham ido ao sopé e subido o Morrão. Deram dicas valiosas de como após o terceiro (ou era segundo?) córrego, a gente devia ficar de olho em picadas entrando pela frente do Morrão. Se não achássemos, devíamos procurar. A trilha que sobe ao cume passa pela frente do Morrão.

 

Foram as primeiras, últimas e únicas pessoas que cruzamos nesse trek.

 

Confiantes, seguimos em frente e nada de picada entrando pela frente do Morrão. Depois de passados os córregos indicados e alcançados córregos não indicados, e nada de picada prá esquerda, deduzimos que talvez fosse uma coisa que parecia uma vala de água que tinha pouco acima do último córrego. Voltamos. Entramos pela “picada”, que ao fim de alguns minutos dá em mata fechada. Cedo a frente, pouco entusiasmado em continuar por ali. Voltamos. Nada de trilhas pela esquerda. Seguimos pela trilha grande mesmo. Que por sua vez seguia pelo flanco direito do Morrão, que não era onde devíamos estar segundo o casal de trekkers. Não se nossos planos eram escalar o Morrão.

 

Mas como ninguém viu trilha... continuamos andando. Aí já quase passando o Morrão, decidimos que tínhamos de pegar à esquerda. E pegamos, cortando mato. Ao fim de várias centenas de metros pisando sem ver o chão, sempre com medo das famosas cobras da Chapada, chegamos em algumas picadas, que sumiam e apareciam. E assim fomos contornando o Morrão. Já quase no seu outro lado, decidimos por um ataque direto e começamos a subir ele por ali mesmo.

 

Eu tinha ouvido meus companheiros de trilha decidindo ir por um lugar tal e tal que ficava na parte de trás, onde estávamos. Comecei seguindo um deles, que depois parou, eu avancei e fiquei bem na frente.

 

O caminho começa a subir, subir, subir... fica quase vertical. E a gente ali, se equilibrando com as mochilas. Nossa sorte-azar era um capim bem pegajoso que tinha nas encostas. Qualquer coisa, era só se jogar no capim que ele grudava todo. Em certo momento, já perto do paredão de rochas nuas que tem depois e acima dessas encostas de capim-melado, escuto um familiar bzzzzz. De experiências anteriores na Paraíba, aprendi da forma mais dolorosa que vespa gosta de pedra e eu tava em pedras.

 

Uma vespa passa pertinho de mim.

 

Ora, até agora tinha me pendurado com mochila pesada em paredes super-inclinadas com vários metros de queda abaixo. E tava tudo mais ou menos bem. Melado do capim, do suor, da poeira, da pouca água, dos tênis que começam a se abrir e que rodam sobre as meias. Fora isso estava num momento crítico no pé direito, onde dias antes uma pequena farpa tinha se instalado na sola e que depois de uma tentativa fracassada minha, agora era uma ferida aberta e dolorosa. Na sola do pé.

 

E agora as vespas. E agora sim, eu me assustei. Petrificado de terror, imaginei que em poucos segundos seria atacado por, com sorte, algumas desses simpáticos insetos. Com azar, por dezenas deles. Suando frio, decidi não tinha como voltar. O jeito era tentar adivinhar onde o ninho estava e tentar passar longe dele. Bem devagarzinho. Se as vespas viessem, bom, largava mochila e trekker encosta abaixo e fosse o que Zeus quisesse...

 

Não vieram. Mas eu estava com dificuldades em me manter com meus amigos, que aparentemente mudaram de idéia e estavam indo em outra direção. Quando ao fim de intermináveis negociações com o pouco de espaço que a encosta dispunha para os pés, cheguei num deles, fiquei sabendo que tinham mesmo mudado de idéia. Fiquei puto porque não me comunicaram. Andei encosta acima um tempão para descobrir que era prá fazer aquilo mesmo, só que uns 200 m mais prá Sul... Tudo bem, talvez não tenha ouvido bem.

 

E fomos subindo. E o Sol descendo. Nós subindo. Ele descendo.

 

Foi aí que algo básico nos tocou: sem luz seria impossível subir. E subida era o que mais havia pela frente, ainda por cima da forma como estávamos fazendo. Na frente outra vez, disse pro pessoal que havia ainda outra garganta na frente e mais subida.

 

Pedimos penico.

 

Descemos tudo e chegamos num local meio tosco, mas que queríamos chamar de acampamento. Um integrante do grupo, Leandro, achou melhor acampar num lugar mais plano que nosso atual platozinho cheio de pedras, buracos, galhos, cactos e sem água por perto. Uma área banca que víamos do alto devia estar ali perto. Achei que “perto” não era noção muito fiável num ambiente montanhoso, mas no fim todos fomos atrás de Leandro.

 

Felizmente a área estava perto mesmo. O branco era de uma areia bem fininha e acampamos em cima dela. O que nos dava conforto também nos enchia de areia. O vento impiedoso do lugar em breve se ocupou em nivelar o volume de areia do local entre barracas, roupas, material, pratos, etc... e meu pé doendo que não podia mais sequer olhar prá ferida. Leandro que tinha servido no Exército e trazia consigo um super-kit de primeiros socorros, primeiro motivo de orgulho dele mas que ao fim de algumas horas de trilha se transformara em motivo de ódio pelo peso, disse que ia dar um jeito naquilo. Foram atrás de rio para tomar banho. Sem poder me mexer, fiquei na barraca, remoendo dores, suor, baba de capim e arranhões da subida mal sucedida. O vento ameaçava levar a barraca.

 

Quando voltaram, fomos tratar da comida. Ao mesmo tempo tive que correr com meu irmão prá nossa barraca que estava praticamente tocando o chão com o vento. Cordas, pinos e pedras depois, amarramos a bicha no chão. Comemos e fui pro leito cirúrgico. Leandro limpou a pereba, fez curativo e me aplicou com a maestria de um carniceiro uma enorme e dolorosa injeção nas... bom... ali... Mas sempre a agulha teimava em emperrar. E ele empurrar. E tirar prá tentar de novo, e emperrar, e empurrar...

 

Umas três tentavas depois, achei que tavam era mais curtindo com minhas nádegas quando enfim a agulha entrou. Doeu prá cachorro!!! Mancando, sai da barraca prá chuva fina de fora e fui dormir de lado na minha barraca. Nosso vestíbulo estava encharcado da chuva e da areia fina. Parecia uma fina camada de argila sobre tudo. Aliás, era uma camada de argila, molhada.

 

Tudo seria bom, se o vestíbulo não estivesse curto de umas três varetas que formavam a estrutura sobre a qual o vestíbulo era vestíbulo. Sem essas varetas, como na ocasião, o vestíbulo era apenas uma cortina descendo do teto da barraca e se esparramando pelo chão argiloso e branquinho do local. Levantar e passar sobre esse vestíbulo irrealizado equivaleu a ser lambido por uma língua de metro de largura e metro e meio de comprimento, molhada e suja de uma areia beeeem fininha.

 

Me despindo coberto de areia fina e molhada, dorido nos pés devido à ferida, na bunda devido à injeção, nos ombros, costas e pernas devido à subida inútil e perigosa que fizemos, suor, areia e baba de capim apegados à mim como uma segunda pele... nesse momento meu cérebro disse:

 

“Bom, é mais do que posso suportar”

 

E foi dar uma volta por aí...

 

E fiquei ali, deitado sobre o chão da barraca, sem isolante, com o saco-de-dormir aberto sobre mim como se fosse um lençol, e nesse estado alfa, adormeci. Era Lua Cheia, mas as nuvens deixavam ver apenas um clarão.

 

Dia seguinte quando acordei, senti o pé bem melhor. Doía e eu ainda mancava nem podia pisar no solado do pé, mas ao menos não doía de forma ridícula, como ontem. Peguei minhas coisas e fui tomar banho. E que banho... voltei animado e comecei a me arrumar. A chuva voltou, mas estava de bom humor que nem liguei. Meu fogareiro me deixou muito orgulhoso quando ferveu a água do café embaixo de chuva. De chuvisco...cof...

 

Quando parou de chover, fomos arrumar tudo enquanto filosofávamos sobre as causas de nosso fracasso de ontem. Nos pareceu lógico que o Morrão não gostou muito de nossa ousadia e nos deu uma péia. Tudo arrumado, ficamos de frente para ele, fizemos uma vênia e batemos palma. “Cê é o melhor, Morrão.”

 

E fomos embora por uma trilha, que se estendia pela frente do Morrão, contornando-o. Aí uma sai dela e entra em linha quase reta pela encosta acima. “A trilha do cume”, dissemos. “Pegamos?”, perguntou Leandro. “Sim”, disse eu, sem pensar. A idéia era ir embora, mas ao ver a trilha ali, agi sem pensar. Nem queria que quem tava mais afim de ir embora se sentisse obrigado a vir. O “sim” era para mim.

 

E subia, subia e subia. E o declive aumentava. E tinha trechos de usar mão e subir verdadeiras paredes de pedra. Mas sempre tinha uma trilha. A subida progrediu rapidamente, embora no meu entusiasmado de mais um cume me tenha feito adiantar muito e ter perdido os outros de vista e som. Lá em cima, no espaço entre os dois cumes, a trilha bifurcava. Quer dizer, tinha muita picada lá em cima. Me lembrei do casal que disse para nos mantermos sempre à direita da trila e segui pelas picadas em direção ao cume da minha direita, o menor. Cheguei no seu topo e meus amigos ainda não tinha chegado no espaço abaixo. Tirei fotos e passeie e fui esperar eles numa pedra do topo, com vista para toda área abaixo. Eles começaram a aparecer e quando estavam mais perto, chamei-os e um deles veio. Fui esperar na entrada do cume. Fiquei lá um tempão e nada... voltei ao outro ponto e os vi indo para o outro cume, o maior. Chamei-os e eles me chamaram para ir com eles.

 

Aí fiquei puto... nem doido ia descer de onde estava, entrar na área abaixo, cruzá-la e subir outro cume só porque eles mudaram de opinião no meio do caminho. Mandei que tomassem naquele lugar onde o sol não brilha e fui curtir “meu” cume. Pequeno, mas bonitinho e com vistas de 360 graus à poucas pernadas. Bem na frente, pequenas colunas de pedra dava direto pro vale, sem encosta alguma embaixo da gente. Era como estar numa parede perfeitamente vertical bem alta e olhar prá baixo.

 

Depois de curtir, fui embora. O resto da turma ainda estava subindo o outro cume. Gritei bem devagar que ia embora e ia esperá-los no riacho tal. Tinha visto do “meu” cume as tais trilhas que o casal tinha falado e era muitas mesmo. Todas circundavam o Morrão pela frente e de fato se ficarmos sempre a direita nas bifurcações, acabamos tranqüilo no cume. Desci e peguei as trilhas. Chegando perto da grande que percorre o Morrão pelo lado e que seguimos ontem por engano, percebi a dificuldade. Perto da trilha principal, essas trilhas perpendiculares passam para picadas, que passam para matinho baixo, que passam para uma massa disforme que passa para coisa alguma. Por isso não achamos nada ontem...

 

Cheguei no rio, tomei água e esperei os outros. Ao fim de uma meia-hora, considerei que poderiam demorar e o dia não estava mais cedo. Mancando ainda devido ao pé, decidi voltar logo. Eles estavam bem. Me alcançariam logo. E fui embora.

 

E lá quando o sol tava se ponto, cheguei em Caeté-Açú. E nada deles. Achei que tinham ido tentar a auto estrada do Morrão mesmo, como ouvi alguém sugerir ontem. Cheguei no camping, tomei banho, me arrumei, comi e já tava no relax da noite quando eles chegaram. Tinha ido comer no PF do Catatau e por isso demoraram mais.

 

Noite de Lua Cheia, descansados, limpos e alimentados. Assistimos a Lua nascer na serra em frente deitados na barraca ao som de violão.

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Hendrik, muito engraçada a sua aventura! Cara, qual mapa você usou? Por acaso foi o do Circuito do Diamante, do Roberto Sapucaia?

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Esse mesmo, oteb. Inclusive visitamos o cara em Mucugê.

 

Agora, algumas fotos do Morrão:

 

 

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Ainda no começo. Trilha larga, ânimos em alta, Morrão em vista. A vida era bela.

 

 

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Um dos córregos da trilha que matavam nossa sede e refrescava do sol escaldante da tarde.

 

 

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Aí, é aí!!! bando de cegos...

Nesse ponto (sendo ponto uma noção de um determinado espaço indeterminado) a gente deveria ter virado prá esquerda.

 

 

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Quatro horas numa trilha e já nos perdemos! Um record!

 

 

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Defitinitivamente perdidos. Pior: perigosamente subindo o Morrão por onde não tem subida, só mato preguento, mutuca e encosta extraordinariamente inclinada.

 

 

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Já na base do Morrão e mais ou menos acampados, vimos a Lua cheia nascer.

 

 

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E chovia. E ventava. E a areia fina colava em tudo. E ventava mais. E chovia mais... de manhã, desmontando acampamento.

 

 

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Agora, sim! achamos a trilha pro topo! no meu entusiasmo, cheguei bem antes e subi o cume menor. De lá tirei umas fotos, inclusive dos outros subindo. Acho que dá prá ver uns pontos brancos na foto...

 

 

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Se não deu prá ver, aqui estão eles.

 

 

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E os miseráveis foram pro outro cume... ou pelo menos tentaram...

 

 

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Detalhe dos miseráveis.

 

 

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Enquanto isso eu, no meu pequeno porém panorâmico cume, enfim consegui ver as trilhas perdidas. A grande é a que pegamos e que passa pelo Morrão pelo Leste. As pequenas passam pela frente, pelo Sul. Tão vendo? nem a gente viu. Do alto eu só via umas estreitas picadas...

 

 

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Já embaixo do Morrão, enfim vi que as picadas eram trilhas bem claras, mas não onde importavam, quando saindo da trilha principal.

 

 

274morraocumemenordefretk0.jpg

De frente pro Morrão, na volta.

 

 

275morraomorrosetrilhasqa5.jpg

O caminho de volta. Mais ou menos caminhar prum lugar entre o segundo e terceiro morro...

 

 

276morraobifurcacaoyb8.jpg

Isso aí é a primeira, última e única sinalização para uma rede de trilhas que leva ao Morrão, Lençóis e outras atrações. Fotografei na volta.

 

 

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De volta ao Seu Dái. Todo mundo lavado, jantado, roupas limpas (menos sujas e fedorentas), uma barraca, um violão e...

 

 

285seudailuacheiarz5.jpg

... E essa belezura aí, vista da porta aberta da barraca.

  • 2 semanas depois...
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Cara, que fera sua narrativa!

De repente estava feito boba lendo sem poder (porque uma dissertação de mestrado me aguarda ali, recolhida à sua insignificância momentânea na tela do computador), e morrendo de rir das suas aventuras.

Ainda quero fazer um roteiro pela Chapada Diamantina, e seu relato já me deu algumas dicas. Estive lá a coisa de uns três anos, mas nada de trekking.

Nesse mesmo período em que você estava na Chapada, eu estava em El Calafate - ARG. E depois, "tentei" fazer uma trilha (mini-trekking) em Torres del Paine - Puerto Natales. Não me perdi, mas estava perdida, pois só havia eu no camping (bom... tinha um senhor holandes doente e que partiu na manhã seguinte à uma noite em que a temperatura esteve negativa). Nessa manhã eu sai com uma mochila pesando algo em torno de 15kg. Uau! Digo tentei porque tive que voltar na metade do caminho. Estava só, nevava, e em um possível lugar para acampanhar, uns camaradas nada gentis (uma alemão e um australiano), que estavam na minha frente, tomaram conta da área e montaram suas barracas (duas), e me sugeriram que eu montasse a minha na neve, pois um cara (um certo inglês) havia feito isso e como passaram por ele (e eu também) vindo no caminho contrário, e não parecia que a visão fosse apenas de uma alma penada e gelada (até conversei com o camarada - gente boa) imagino que ele ainda fosse desse mundo. Ora, pois! Agradeci a sugestão de armar a barraca sobre a neve (obviamente que mentamente para aquele agradecimento eu usava outros termos, no momento indizíveis aqui). Ao vivo me limitei a dizer "Thanks for your idea. But I have to go back!! Bye!!

Pois é... Torres del Paine e um verdadeiro trekking fica para o próximo Ano. MAs... talvez em outubro, eu me aventure pela Chapada Diamantina e daí a importância do seu relato.

Parabéns pela aventura e boa sorte sempre!

Um abraço!

Shirley

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