Ir para conteúdo

Operação Descampado!


Posts Recomendados

  • Membros de Honra

No final dos anos 80 eu e meus amigos começamos a “ir pro mato”. Pegávamos o trem pra Paranaguá com nossas cargueiras e diante dos olhares atônitos das pessoas “normais” descíamos nas estações e nos embrenhávamos na floresta. O Véu da Noiva (estação de trem antes do Marumbi) era o local preferido, não apenas meu e de minha turma, mas de muitos que igual a nós curtia a natureza e camping selvagem. Outro lugar que costumávamos ir era o “descampado”, uma ilha de capim baixo no meio da mata atlântica, aos pés do morro do Pelado e Chapéu.

Esta trilha era desconhecida da maioria, o que tornava o lugar praticamente exclusivo. Bem, era o que pensávamos, até que em 1987 uma competição de corrida de aventura (acredito que a primeira do Brasil) o Marumby Trophy passou por ali. Os anos se passaram, conheci as montanhas e abandonamos o Véu e Banhado e começamos a subir as montanhas; nossos destinos passaram a ser o Marumbi, PP, etc...

No meu retorno ao montanhismo (através da AMC em 2010) comentei sobre o descampado, e o Cover (Giancarlo Castanharo, grande montanhista da AMC) logo me questionou sobre ele, demonstrando interesse em conhecê-lo, pois já tinha ouvido falar e a curiosidade era grande. Fomos conversando e tentando encaixar uma data, estudando o lugar pra ver as possibilidades de uma incursão por aqueles lados. Até que combinamos um ataque para sábado. Tudo certo, galera confirmando até que o Cover, um dos principais interessados não pode ir... fica pra próxima companheiro, que com certeza vai acontecer.

Nos encontramos às 6:00hs da manhã de um sábado chuvoso e cinzento no Jd. Botânico; eu, Serginho, Getúlio, Luís Delfrate, Maicon e Matias. Estava formada a trupe da Operação descampado! Logo embarcamos nas viaturas e nos dirigimos até a estação Roça Nova, último acesso possível de carro para a estrada de ferro Curitiba-Paranaguá.

Mochilas nas costas, últimos ajustes e iniciamos a caminhada 7:20hs em direção ao túnel 13, o mais longo da linha férrea. Travessia tranquila, apesar da escuridão total no meio do túnel. Logo após o túnel temos a represa de Caigoava, com sua chaminé parcialmente submersa nas águas e nas brumas da manhã. Se a neblina permitisse poderíamos ver o morro do Canal, Torre do Vigia e Carvalho do outro lado da represa.

 

20121128194434.JPG

 

20121128194022.JPG

 

20121128194125.JPG

 

20121128194228.JPG

 

20121128194339.JPG

 

A caminhada continua pelos trilhos. Quem já caminhou por eles sabe como é ruim caminhar entre dormentes e pedra brita: a distância entre os dormentes é curta para um passo, e longa para pular de dois em dois, coisa de engenheiro! Pra piorar, nem sempre tem brita entre os dormentes, ficando um buraco, bom para torcer o pé.

7 km adiante encontramos o local da entrada para a trilha, se é que ela estava lá. Será que 25 anos depois ela ainda existia? Fomos preparados com facão, mapa e GPS para o que pintasse, nossa intenção era seguir pelo Rio Ipiranga, que toma conta da região e passa ao lado do descampado, segundo a carta topográfica de Morretes e o Google Earth. Eu já tinha marcado as bifurcações do rio, e estava pensando seriamente em fazer uma caminhada aquática, por dentro do raso Ipiranga.

Mas assim que deixamos os trilhos e começamos a fuçar no mato atrás de vestígios da picada Matias grita: “achei!” Fomos em sua direção e lá estava ela; como se os anos não tivessem passado encontramos uma trilha bem demarcada, e foi só segui-la para perceber que ela continua a ser utilizada, talvez por caçadores, ou o pessoal da ALL, não sei. O fato que ela esta lá, inclusive com algum lixo e restos de fogueira. Acredito que não sejam montanhistas as pessoas que por lá estejam caminhando, pois não temos conhecimento de ninguém que tenha andado por aqueles lados. Vamos avançando num ritmo bom, pois utilizamos o facão apenas nas partes mais fechadas, e o GPS para verificar se estamos no rumo certo.

Depois de 20 min de caminhadas já estamos todos encharcados de enxugar a mata molhada da chuva da noite anterior. Encontramos duas árvores grandes e uma pequena clareira, e a recordação me vem a mente, “já passei por aqui!” Lixo e madeira queimada demonstram que outras pessoas também... Paramos para um rápido lanche e continuamos a caminhada. Logo estamos na margem do Ipiranga, e vamos segui-la por um bom tempo.

A trilha continua limpa e quase desimpedida, apenas alguns trechos aonde o mato cresceu mais utilizamos o facão. E começa a chover... sorte que a chuva não durou muito. Se bem que já estávamos molhados mesmo e fomos preparados pra pegar chuva, então...

 

 

20121128194642.JPG

 

20121128194805.JPG

 

20121128194958.JPG

 

20121128195131.JPG

 

A trilha deriva um pouco para a direita, em direção ao trilho, o que faz com que andemos um pouco mais do que se fossemos pelo rio. Isso quer dizer que numa bifurcação que marquei em pegar a esquerda a trilha seguiu o rio da direita. Mas continuamos indo na direção correta, a trilha está ali, não tem o que discutir. Nesta parte deixamos a margem do Ipiranga caminhando pela mata.

Após 4 horas de caminhada chegamos novamente ao rio Ipiranga, para cruzá-lo. O descampado está muito próximo, menos de 100 metros. Procuramos a continuação da trilha na outra margem e nada, fuça daqui, procura dali, todos dentro do rio, um pra cada lado e não conseguimos achar a continuação da trilha; o que fazer? Dá-lhe facão!!! Achamos um trecho com vegetação menos densa, miramos pelo GPS e vamo que vamo!!! Em 20 minutos estamos no descampado. Neste trecho encontramos a única cobra do caminho. E por falar em animais, ficamos surpresos com a quantidade de pássaros, o tempo inteiro andamos com uma sinfonia de arapongas, canários, etc... isto significa que a área é bem preservada, o que pudemos constatar também pela mata intocada, o único senão é pela pequena quantidade de lixo deixado na trilha.

Finalmente o descampado, 25 anos depois!!! Após caminhar mais de duas horas dentro da mata fechada achar esta área sem uma árvore (apenas um capão de mato no topo de um morrote) do tamanho de uns 10 campos de futebol vale o esforço. O lugar é muito bonito, e se não fossem as nuvens teríamos uma visão privilegiada de quase toda Cordilheira do Marumbi.

Caminhamos para o alto da pequena elevação que domina o descampado, aonde existe um pequeno capão de mato, era ali que acampávamos antigamente. O capão ficou bem maior e denso. Passamos pro outro lado do morrote para ficarmos de frente pras montanhas da serra do Marumbi. Serginho desce até o final do descampado no outro extremo da onde entramos, e encontra a continuação da trilha, que segue até a “freeway”, como era conhecida a linha de captação de água do reservatório do Carvalho, que fica próximo ao morro do Canal. Dali também era possível subir o morro do Pelado, caminho que foi feito pelo Marumby Trophy, mas isso são apenas conjecturas, e que ficarão para uma próxima investida, pois a chuva intermitente e o curto espaço de tempo nos fez desistir de continuar a caminhada.

 

20121128195336.JPG

 

20121128195501.JPG

 

20121128195630.JPG

 

20121128195735.JPG

 

Almoçamos ali mesmo, sentados no baixo capim do Descampado de Banhado, tentando avistar as montanhas a nossa frente, mas as nuvens nos davam apenas pequenas amostras dos seus contornos. 12:30hs começamos a voltar debaixo de chuva novamente. A volta foi tranquila, na mesma balada da ida. Agora que os facões estavam guardados aproveitamos para tirar fotos, e a volta demorou o mesmo tempo que a ida. Chegamos aos trilhos 14:45hs e resolvemos ira até a estação de Banhado. O Maicon, recruta mais novo do bando, não conhecia a estação nem o famoso jacaré de Banhado...

Os mais velhos devem ter ouvido falar ou conheceram pessoalmente o “jacaré” que morava no chafariz da estação. Na verdade o “jacaré” era uma desculpa pra levar os curiosos até o chafariz. Nos anos 80/90 o trem era gerido pela RFFSA e muito barato, do preço de uma passagem de ônibus. Todos iam pra a serra de trem, e o trem parava em todas as estações. Quando o trem chegava em Banhado os novatos e curiosos eram levados para conhecer o “jacaré”, quando chegavam perto do chafariz eram jogados lá dentro, “batizados” nas trilhas da serra do mar. Maicon não escapou do batismo e molhou-se nas águas de Banhado.

Nos restavam os 7 km até a estação Roça Nova, que foram vencidos em 2:30hs, chegamos nas viaturas 5:15hs. Colocamos uma roupa seca e fomos brindar com Coca-Cola e gasosa Rio Branco o sucesso da empreitada.

Ficou a vontade de continuar a trilha até a freeway, e quem sabe, morro do Pelado ou Chapéu. Também descobri que existe uma linda cachu no Rio Ipiranga entre o Pelado e Chapéu, coisa que vale a visita. Espero retornar em breve, se esperar mais 25 anos não chego nem no descampado...

 

20121128195940.JPG

 

20121128200105.JPG

 

20121128200229.JPG

 

20121128200336.JPG

 

20121128200438.JPG

 

20121128200653.JPG

Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

  • Membros de Honra

Grande Otávio!

 

Parabéns pela organização da "Operação Descampado" e pelo relato!

 

Companheiro, essa trilha realmente me surpreendeu. Relativamente curta, mas muito bonita e com algumas dificuldadezinhas para temperar, "bem ao gosto" daquelas que se espera encontrar na Serra do Mar paranaense, saindo dos caminhos (estradas) clássicos (e batidos) da Graciosa e do Itupava.

 

A caminhada foi das boas, tirando o ferrotrekking, meio cansativo, e o tempo (que se não ajudou no visual pelo menos não cozinhou nossas cacholas). A equipe reunida foi esplêndida, destaque pro Maicon pilotando a vanguarda no facão, pena só a ausência de alguns dos nossos mais audazes companheiros.

 

Temos muitos motivos para voltar e explorar mais aquela área...

 

Depois vou postar algumas das minhas fotos aqui também.

 

Grande abraço!

Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

  • Membros de Honra
Grande Otávio!

 

Parabéns pela organização da "Operação Descampado" e pelo relato!

tks!!!

 

Companheiro, essa trilha realmente me surpreendeu. Relativamente curta, mas muito bonita e com algumas dificuldadezinhas para temperar, "bem ao gosto" daquelas que se espera encontrar na Serra do Mar paranaense, saindo dos caminhos (estradas) clássicos (e batidos) da Graciosa e do Itupava.

A caminhada foi das boas, tirando o ferrotrekking, meio cansativo, e o tempo (que se não ajudou no visual pelo menos não cozinhou nossas cacholas).

Mesmo quando é ruim, é bom... :mrgreen:

Trilhazinha show mesmo.

 

pena só a ausência de alguns dos nossos mais audazes companheiros.

Temos muitos motivos para voltar e explorar mais aquela área...

Mais um motivo pra voltar lá e levar quem não pode ir.

E também fazer o test drive das redes. ::cool:::'>

 

Depois vou postar algumas das minhas fotos aqui também.

Grande abraço!

Adoro foto!!! ::otemo::::otemo::::otemo::

Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

  • 2 semanas depois...

Participe da conversa

Você pode postar agora e se cadastrar mais tarde. Se você tem uma conta, faça o login para postar com sua conta.

Visitante
Responder

×   Você colou conteúdo com formatação.   Remover formatação

  Apenas 75 emojis são permitidos.

×   Seu link foi automaticamente incorporado.   Mostrar como link

×   Seu conteúdo anterior foi restaurado.   Limpar o editor

×   Não é possível colar imagens diretamente. Carregar ou inserir imagens do URL.

×
×
  • Criar Novo...