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Do paralelo 26 ao 36! Foz BsAs Mvd e Punta


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  • Membros de Honra

CAP 11

 

Grande Karina, alemã de Ilmenau... conheci por acaso no Portal em BsAs. Ela vinha mochilando desde Lima, onde estava estagiando... simpática, animada, muito doida e espivitada. Depois de um tempo fui notar que ela tinha umas picadas nos braços (que não eram de mosquitos) um dos motivos pelo qual nossa relação não passou de uma sincera amizade mochileira. Passeamos bastante pela cidade de Cambio City juntos (era assim que a Karina se referia a Montevideo, devido ao excesso de casas de câmbio na cidade). A iluminação pública não é fixa apenas nos postes, ela cruza a avenida suspensa por meio de fios... a 18 de Julio, a avenida principal, é ladeada por edifícios antigos em plena decadência, quase sem pinturas, venezianas caindo... a impressão é de ter voltado 50 anos no tempo. E isso é o mais legal da cidade!!! Tirei algumas fotos p&b desses pontos surreais... tudo passa uma melancolia, abandono... típico de um país rico que está na miséria. Quanto aos diversos lugares que passamos, um dos pontos altos no Uruguay, foi conhecer a Plaza Independência. É um símbolo de Montevideo e do Uruguay... ali ao lado há um mini-mercado que tem sanduíches, sucos e tortas muito baratas... levamos tudo para viagem e almoçamos ali mesmo no banco da Plaza Independência, observando o Palácio Salvo. Falando nele, quem já viu alguma foto, sabe que é um dos edifícios mais bonitos, me arriscaria a dizer da América Latina! (muito mais bonito que a Casa Rosada ou outro edifício histórico de BsAs).

Passear com calma, sem destino, é o melhor que há para se fazer por lá... sempre tem alguma coisa interessante no caminho. Fomos ao Porto... e ali entramos no famoso Mercado del Puerto, um estilo diferente... tem um relógio de madeira bem ao meio... Não, infelizmente eu não experimentei a parrillada! Meu estômago deu um pulo só de ver aqueles miúdos... ehehe.

Já na saída do mercado fomos abordados por uns tipos "estranhos"... voltamos para o mercado e não deu nada... (bem que tinham me avisado que aquele local era perigoso). Não abalados, subimos para a Iglesia de San Francisco, Banco de Montevideo, passamos pela Catedral, pelo Teatro Solís, Intendência, onde há uma central de informações turísticas excelente e exposições de artistas locais. Ali por perto tem uma feira dos artesãos, grande a feira!

Bem no meio da 18, há uma pracinha com nome bem estranho "Cagancha" onde está a estátua da Liberdade, que nada tem a ver com a americana!

Um edifício que me chamou bastante a atenção foi o do Banco Oriental do Uruguay... neoclassista, com colunas gregas, um interior com vitrais... entramos por acaso e valeu a pena. (parece a Catedral de BsAs!).

Da calçada ouvimos uma voz estranha e alta repetindo: once once once once, resolvemos entrar, e era um leilão de antiguidades. Muita coisa interessante e barata (p/ não dizer de graça!)... quinquilharias em geral! Muito cômico ouvir um leiloeiro falando tão rápido em espanhol, não entendi uma só palavra a não ser o valor dos produtos que eram repetidos umas 15 vezes a cada lance.

Imperdoável em Montevideo é deixar de dar uma volta nas Ramblas. Elas são as "beira-mar" da cidade. Há um calçadão a perder de vista... praias, ciclovia, edifícios de luxo. Um lugar interessante, o local mais brasileiro de Montevideo... no entanto vazio demais para o meu gosto. Na subida para a Dieciocho levamos um gelo do caramba. Passamos ao lado de uns cinco indivíduos deitados na grama... eu olho para trás e estão os cinco caras correndo atrás de nós. Qual a primeira reação??? Ruuun Karina, run!!! (no maior estilo Forrest Gump, já que nós conversávamos só em inglês, porque a preguiça de falar espanhol era muita e o meu alemão se resume a alguns cumprimentos e palavrões). Sorte nossa foi estar passando um circular no qual pulamos e pedimos para fechar a porta. Pela janela ainda vi a cara de raiva dos caras. Êta gelinho, essa foi por pouco. Claro que nós facilitamos... passeando num lugar deserto num dia de semana com mochila (a pequena, de bagulhos) e ela com uma Canon com objetiva de 8mp no peito é pedir! O problema é que eu nem sabia para onde o ônibus ia, e qual era o preço... rs Por aí dá para notar que a crise no Uruguay está feia mesmo... o reflexo de um governo relapso é muita gente desempregada, e a ausência de policiais nas ruas.

Descemos logo depois e fomos ao Congresso... visitem. Vale o tempo perdido no ônibus (que passa por cada favela...). Enfim, gostei de Montevideo, do povo de lá que nos acolheu muito bem (local onde me apresentaram o hospitality club!) mas as noites são perigosas sim (houve outra tentativa de furto, quando estávamos numa turma maior perto do hostel - LUGAR MUITO PERIGOSO). As noites lá não são das melhores... fiquei num quarto sem janela, o cheiro é estranho, o colchão não é bom e acho que a roupa de cama não era limpa. Deixar coisas de valor no locker do quarto é impossível, porque não tem "trumbisco" para colocar o cadeado, a internet que é paga por minuto usado não estava funcionando, e somente membros da HI podem usar a cozinha (tá, eu usei mesmo não sendo sócio... rs). A Karina queria retornar para Colônia, ela é fascinada por cidades históricas... e eu estava ansioso para ir p/ Punta e região. Resultado: evitei a despedida (que eu não gosto mesmo!) deixando um bilhete para ela e me mandei... segui a filosofia hitchhiker de uns colegas Israelenses que estavam no hostel e fui para a saída da cidade hacer dedo. Péra aí... não é o que vcs estão pensando! Fui esticar o polegar, pedir carona... carona para LA PARTY PUNTA!!!:)

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Mike, nossa impressão sobre Montevideo também não foi das melhores, saímos de um clima super agradável em Buenos Aires para frio e chuva sem parar na capital uruguaia. Sem contar que a cidade é repleta de camelôs (como aqui no Rio) e não parece muito segura...

Mas os prédios antigos como o Palacio Salvo, o Teatro Solís e a Plaza Independencia valem a pena, além do lendário Estadio Centenario, que para mim foi o ponto alto da cidade, fui até o gramado, sentei no banco de reservas... o ingresso é muito barato: 15 pesos.

Depois conto mais!

Abraço

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  • 2 semanas depois...
  • Membros de Honra

TÁ BOM MIKE!

LENDO ME FEZ LEMBRAR UM POUCO DE QUANDO ESTIVE EM MONTEVIDÉU..E OLHA QUE JÁ FAZ UNS 15 ANOS.....

ACHO QUE SÓ MUDOU PRA PIOR!

 

AGORA FALTA A MELHOR PARTE NÉ?

E PUNTA?

ABRAÇO

 

ADRIANO

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  • 1 mês depois...
  • Membros de Honra

CAP 12

 

Mochila nas costas, pé na estrada. Me sentia feliz por deixar Montevideo para trás... (hoje sinto saudades). Segui as informações dos israelenses e lá estava eu na saída de Montevideo, esticando o dedo. Sabia que não seria fácil... mas como a vida sempre nos surpreende... 5 minutos depois um casal de uns 60 anos, dentro de um Ford antigo parou. Mais fácil e confiável impossível! Eles estavam indo para Punta, perguntaram se eu não estava com muita pressa, pois tinham que passar por Piriápolis para pegar uma documentação! Maré de sorte! Hauhauah, claro que não me importo!!! Foram algumas horas de viagem a incríveis 60km/h... e aquele mesmo papo de sempre "de onde veio, onde passou, para onde vai, futebol"... mesmo assim me diverti com eles. No outro dia estava verde de tanto mate que bebi na viagem.

Piriápolis pelo pouco que vi, não tem nada demais... uma praia ajeitada cercada de muito verde, muitas famílias. Estava só esperando a chegada em Punta, que não tardou. A descida pela elevação de Punta Ballena é um cartão postal, não tem como não bater aquele frio na barriga. Lá embaixo já dá para perceber que não é só mais um balneário como qualquer outro, em Punta está o "creme de la creme" do Mercosul (vários carros oficiais, inclusive um omega do governo federal brasileiro... Ferrari, Porsche e Jaguar também eram vistos).

Sr. Pedro e D. Ubaldina me deixaram perto do terminal, ali está um "Ministério do Turismo" que poderia me ajudar a encontrar um albergue, já que preferi não ficar em Piriapolis no HI (por vários motivos, entre eles por ser do mesmo dono do HI de Mvd, por ser grande demais, e por estar muito longe das baladas de Punta). Resumindo: cheguei no centro de informações turísticas e me informaram que não havia uma única vaga em nenhum hostel, hotel barato e que até o Conrad estava lotado! A essa altura vi a night de Punta indo pelos ares, e mais algum tempo perdido fazendo o trajeto de volta até o HI em Piriápolis.

NÃAAO! Isso não podia acontecer... Peguei todos os mapas da comuna de Maldonado e lista de lugares para ficar que tinha direito. Primeira tentativa seria o Hostel 1949, o único na península, a duas quadras do terminal, na Rua das Focas.

(#9835; som de samba no meu pensamento) Sou brasileiro e não desisto nunca! Ehehe. Com todo jeitinho que só a gente tem, cheguei na recepção do hostel com a maior cara de demolido e disse que tinha reserva em meu nome. O argentino do balcão não estava achando... revirou um livro todo rabiscado de anotações e não achou minha reserva (que coisa!!! rs)

Ele - Perdão, não há nenhuma reserva nesse nome.

Aí vem a parte teatral...

Eu - Como não tem??? Fiz minha reserva por telefone, a moça me pediu todos meu dados e por garantia meu número de cartão de crédito e eu passei tudo! Tem que estar aí! Ela falou que era um dos últimos lugares, mas me garantiu a reserva... "Xô no creo nesto! Berifica más una bês, por fabôr!"

Ele - Não encontro nada.

Eu - Olha meu amigo, tem que encontrar... eu fiz a reserva e estava contando com ela, não tenho mais nenhuma opção a não ser aqui!

Ele - (cara de desacorsoado) "un ratito por favor". (saiu do balcão)

Eu - (me matando de rir por dentro, e pensando: "quer ver que vai dar certo"?).

Uma mulher feia - Certo, prefiro acreditar em você... no momento não temos nenhum lugar, (agora vem a parte boníssima!) mas temos um quarto feminino com uma cama livre, você se importaria? Aviso que é a única forma...

Eu - (disfarçando a explosão de alegria) "No hay problema... gracias".

Subi para o quarto número 1, que estava vazio... bagunçado, com mochilas jogadas, sacadão com vista para toda a playa Mansa e explodi... Ihuuuuuuuulll, yahooooooo, hauhauahuaha BELEZA! ehehehe

Tomei um banho demorado (afinal tinha que fazer valer os USD 15 que custariam cada diária do hostel mais caro da viagem) e saí para a praia. Foto tradicional na estátua La Mano, caminhada pela Playa Brava, almoço num kilo perto da entrada do Yacht Club na Mansa (muito bom!).

 

CAP 13 (número da sorte!)

 

Resolvi passar no Conrad, passei batido pela recepção, peguei o elevador como se hóspede fosse e subi até a piscina!!! Pronto... lá estava eu, num dos melhores hotéis 5 estrelas do continente, cercado de gente desintere$$ante.

Desci para o Cassino, resolvi não jogar... afinal já tinha ganho em BsAs J.

Do Conrad fui até o sul da península para ver o farol, e a dita Punta... onde é considerado o encontro entre o Rio da Prata e o Oceano Atlântico. Adivinha quem eu encontrei no Farol? O grupo de Porto Alegrenses que estavam no HI de Montevideo... mundinho mochileiro é pequeno mesmo. Caminhamos juntos para lá e para cá pela Gorlero, pelas Ramblas... (o melhor de tudo foi poder falar um pouco de português de novo!). Eles queriam de qualquer forma ir ao Casino, pois estava para desabar água... eu queria muito, mass acabei indo, porque na chuva, mochileiro é como carro sem gasolina: só fica parado fazendo nhe-nhe-nhe.

Entramos no Casino... o mínimo em compra de fichas era de 10 dólares. Eu disse que ficaria só vendo eles jogarem... hã, quem disse que eu agüentei a tentação?

Lá fui eu gastar USD 10 em fichas! Quando voltei da fila eles já tinham perdido quase tudo. (me arrependi, pensei em voltar, entregar a ficha e pedir o dinheiro de volta porque aquilo ali realmente não é para bolsos magros como o meu).

Enfim... a gauchada queria me ver perder também, então acabei jogando, e eles do meu lado só rindo da minha cara de desesperado pq iria perder fácil fácil meus USD 10.

Joguei nas máquinas de 25 cents... de cara perdi 75 cents.

Eu - Sabe do quê? Vou é colocar a aposta máxima... ser perder, perdi! F***-se

Máquina - Bluuuuum-ratatatatatéeeeu-téu-téu

plec (caiu uma moedona escrito $10)

Eu - Puuuuuts, ganhei 10 USD!!! Huahuahauhaha

Sem perder tempo fui para a fila de troca, pedi que me desse tudo em pesos uruguayos e de lembrança apenas uma nota de 1 USD... a verdade é que tenho sempre na carteira uma nota de um dólar do ano de 1988, que ganhei da minha mãe... e junto da nota velha, deixei esta outra nota, já que simbolizou o fechamento de um dia de muita sorte! (conseguir carona rápido, a vaga no hostel, encontrar o pessoal de POA, a chuva que me fez ir ao Casino...)

Do Conrad fomos ao supermercado logo em frente. Ali eu fiz a festa! Era a segunda vez que eu gastava dinheiro do Casino com comida boa. Comprei chocolate, iogurte, bolachas, um refrigerante com sabor de uma fruta diferente (não lembro o nome) mas era muito gostoso, da marca Paso de los Libres... (sim, até refrigerante virou artigo de luxo para mim em Punta).

Fui até a rodoviária com o pessoal que estava voltando para Montevideo... uma pena! Segui para o hostel meio chateado por estar sozinho novamente, e já com saudades da família batendo entrei num locutório na Av. Gorlero... liguei para mãe, namorada, prima... todas ligações rápidas, mas o resultado foi PU$ 200,00 de prejuízo. Um verdadeiro assalto, os locutórios da rodoviária são bem mais baratos e ainda assim eram caros (compre cartão telefônico no Uruguay!).

 

CAP 14

 

PC do hostel não estava funcionando, cozinha estava lotada de gente, na sala de tv muitos australianos falando mal das mulheres uruguayas e comentando sobre o quanto foram requisitados e o quão superiores são aos latinos... preferi subir para o quarto para fazer as anotações do dia. Assim que entrei no quarto, duas inglesinhas ficaram surpresas quando souberam da minha estadia no mesmo quarto delas. Conversamos sobre Londres, Buenos Aires, Rio de Janeiro, diferença entre samba e axé, sobre a famosa falta de fidelidade dos homens brasileiros (conceito delas!) etc etc O sotaque britânico é algo que me fascina... poderia ficar horas conversando, embora o papo nunca ultrapassasse a linha das amenidades (sim, elas eram meio curtas).

Entrou pela porta uma loira de olhos azuis, gata... já chegou se apresentando, falando pelos cotovelos. Sabrina... (já comecei gostando do nome, mesmo da minha maninha) é contabilista e mora na Alemanha. Fez mil perguntas sobre o sul do Brasil e acreditava em algumas barbaridades que o Lonely Planet escreve sobre Santa Catarina. Saímos para comer pizza na Gorlero e o papo se prolongou bastante... no outro dia cedo ela estava pegando um avião para Foz. Quando acordei ela já tinha partido...

Preparei o café da manhã para um pessoal, caronei para La Barra e depois bus para Jose Ignácio (não gostei!). Mais umas voltas, sorvete do Freddo, big mac em Punta tem um sabor estranho, o mar é mesmo gelado, as coisas são caras de verdade e os gringos bebem champagne de manhã no iate...

Me enjoei dessa vida de pobre-rico, fui pro terminal comprar meu bilhete de volta para casa. Todo o esquema que tinha armado para parada no Chuí foi por água abaixo, passagem promocional era só em um dia da semana (que não lembro) e os horários iriam me obrigar a passar uma noite na fronteira. A EGA que era minha segunda opção só iria sair dali a 2 dias, resolvi voltar de TTL num ônibus comum... mais barato e parecia ser eficiente. Comprei... o bilhete dizia San Carlos - Balneário Camboriú, perguntei se tinha q comprar outro bilhete de Punta para San Carlos, e a moça do balcão disse que já estava incluso. OK...

Já era tarde e no hostel combinamos a saída para a balada... a tão comentada balada de Punta del Este!Saímos em direção à La Barra num carro alugado por uns noruegueses meio quietões... no caminho muita festa, movimento, só o ritual de chegar até lá já valia a pena. Quase ao lado da ponte ondulada (Leonel Viera) estava o local escolhido a dedo: a Mint... mais famosa e melhor equipada casa de Punta. A facada no bolso foi grande, a mesma proporção foi o prazer de estar lá... som bombando, laser, gelo, mulherada de top, mulherada sem top... viajei, inconsciente, esqueci que o mundo existia e o dia amanheceu... o meio-dia chegou e eu acordei com dor de cabeça.

 

CAP 15

 

Fiz um miojo e me mandei para a Av. Franklin Roosevelt onde consegui carona até a entrada de Punta Ballena na ruta 10. Fotos no mirante, caminhada de uns 3 kilometros até o destino final, a Casapueblo... um cartão postal da região, o qual desde meus planos iniciais da viagem se fazia imprescindível no roteiro, embora não seja tão difundida. É um hotel-museu, idealizado pelo artista Carlos Paez Vilaró... A obra teve início em 1958 com latas, pedaços de navios e ripas de madeira. Vilaró prosseguiu com cimento e cal, sempre pintando o exterior de branco e interior com o encanamento em relevo nas paredes, como se fossem veias de um ser, que hoje possui mais de 70 quartos.

Estar ali para mim não era apenas estar ali... era quase um mito. A entrada era gratuita, mas só para a parte superior... o resto deveria ser acessado somente por hóspedes. Nada, nada mesmo podia me impedir. Mais uma vez desci com o elevador, disse ao ascensorista que estava hospedado lá, e que tinha acabado de chegar... cheguei ao andar térreo, e lá fiquei sentado na beira do Rio da Prata, onde as ondas quebravam com força, o sol se refletia na água escura que contrastava com todo o branco da construção em volta. Olhei para cima e senti que estava lá... me emocionei (sim, tenho gens italianos no sangue). Cheguei no lugar que me remetia à infância, confirmava que tudo pode ser melhor do que a gente imagina.

 

Para quem não conhece, talvez não tenha muito sentido...

Segue trecho dos versos de Vinícius de Moraes:

 

La Casa

 

Era uma casa

Muito engraçada

Não tinha teto

Não tinha nada

Ninguém podia entrar nela, não

Porque na casa não tinha chão... ...

 

Esse foi um dos temas musicais da minha infância... sempre na voz de minha mãe antes de dormir, ou nas rodas de violão quando a família estava reunida...

 

Poucos sabem que Punta Ballena foi inspiração para muitas obras do poeta, e ali foi composta esta canção para seus netos. Tal casa engraçada é hoje denominada Casapueblo...

 

Seqüência original:

 

"Era uma casa muito engraçada, não tinha teto, não tinha nada. Ninguém podia entrar nela não, porque na casa não tinha chão. Ninguém podia dormir na rede, porque na casa não tinha parede. Ninguém podia fazer pipi, porque penico não tinha ali, mas era feita com pororó, era a casa de Vilaró".

 

Depois das fotos, e de quase uma hora paralisado naquele lugar, minha nostalgia foi quebrada pela cutucada de um guarda... perguntou qual era meu quarto, eu não respondi, e ele retrucou dizendo que aquela área é privativa para hospedes e me acompanhou até a saída...

Lá em cima, no estacionamento eu sabia que a minha jornada tinha terminado... e a sensação foi ótima.

Peguei carona com uma família de Mendoza até a porta do hostel, me apressei, pois dali a uma hora e pouco partiria meu bus.

 

 

CAP 16

 

Check-out, adios muchachas. troquei todos meus pesos por reais antes de ir para a rodoviária, pois o ônibus não tinha paradas dentro do Uruguay. Mc Donalds de novo, muita fila... cheguei na rodoviária com 15 minutos de antecedência. Fiquei tranqüilo no banco conversando com umas argentinas e esperando o bus Copsa que me levaria até San Carlos onde eu pegaria o TTL. O ônibus chegou, me despedi e puxei papo com dois irmãos gringos, perguntei se eles também estavam indo ao Brasil... estavam sim, e estavam também com um bilhete diferente do meu. Eles tinham um bilhete da Copsa de Punta para San Carlos! E eu não... pois tinham me informado que estaria incluído no trecho internacional que comprei. Resultado: o ônibus já estava saindo, todos dentro e eu não tinha um tostão para comprar o bilhete... não daria tempo de ir até a casa de câmbio, não tinha caixa eletrônico no terminal, a Copsa (Bus del Atlântico) não aceitava reais como pagamento, nem cartão de crédito porque o valor do bilhete era muito baixo.

Gritei para o holandês segurar o ônibus porque eu iria dar um jeito! Chorei a cortesia do bilhete, falaram que eu estava enganado que essa informação não era verdadeira (acho que eu entendi errado mesmo), tentei trocar reais com outros passageiros e ninguém aceitou... de repente deu um estalo (acendeu a lâmpada na cabeça) Na verdade eu tenho dinheiro sim! Tenho 1 dólar novo (aquele do Conrad, de lembrança do dia de sorte) e a nota velha de estimação... perguntei ao caixa da Copsa se ele aceitaria dólares e quanto custaria... ele respondeu: 1 dólar!!! Dei um pulo de meio metro... continuei com minha nota de estimação, e a nota do dia de sorte me salvou! Não pude acreditar... aquilo foi muito legal. Legal também foi o motorista que me deixou viajar de pé até San Carlos, porque o bus já estava lotado.

Uma hora depois, na dita San Carlos, chegou o TTL. Era um bom ônibus, placa de Porto Alegre, pessoal muito gente boa, poltrona confortável e o mais importante para mim: ele era silencioso.

Depois do lanche à bordo entregamos os documentos para o auxiliar, já que na fronteira ninguém precisa descer, então quem quisesse, poderia dormir cedo. Eu estava sem sono, fiquei relembrando os momentos:

 

Fade in - Eu sentindo a força das cataratas do Iguaçu... fade out

Fade in - Na sacada do Portal em BsAs, Quilmes... céu estrelado...fade out

Fade in - Deitado no gramado da Casa Rosada... fade out

Fade in - Tomando suco de manga e vendo o Palácio Salvo... fade out

Fade in - As ondas batendo forte no paredão da Casapueblo... sobe a câmera.

 

Logo que acabei de comer, foi colocado um DVD... inacreditável quando vi qual era o escolhido. Sociedade dos Poetas Mortos... um grande filme!

Pude crer que realmente todo fim tem um início, e que o ciclo tinha se fechado de forma perfeita (pareceu montado!). A viagem foi encerrada com a mesma mensagem que marcou o seu início...

 

CARPE DIEM! disse Robin Williams na tela, repetindo a frase que meu celular mostrou quando desliguei ao sair do trabalho naquela sexta-feira, dia 07.

 

E é esta mensagem que deixo aos mochileiros que tiveram a paciência (saco!) de ler este relato... muito boa viagem para vocês, apoio do ser superior e suerte!

 

 

 

 

"Carpe Diem" quer dizer "colha o dia". Colha o dia como se fosse um fruto maduro que amanhã estará podre. A vida não pode ser economizada para amanhã. Acontece sempre no presente!

 

Abração!

Mike Weiss

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  • Membros de Honra

pois é... só tive tempo de ver esta parte do forum hj mesmo!! e está quase na hora de ir dormir!! [:)]

 

demorô, hein, senhor Maico!! foi preciso a gente ameaçar-te de porrada para escreves, né? confessa... [:D]

 

só há uma coisa que eu acho que nao teria coragem de fazer, que é pegar carona! fico sempre pensando que vou ter azar e alguem me vai assaltar!!

 

foi uma viagem louca;

e vou lê-la de novo porque depois de tanto tempo já nao me recordo do início! quero ler de uma forma sequenciada! [8D]

 

um abraço.

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  • 6 meses depois...

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