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Leste Europeu II - Romênia, Sérvia e Bósnia


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Esta viagem começou em Luxemburgo e terminou na Bélgica. Vou postar aqui somente a parte relativa ao Leste Europeu -- acho que este espaço carece de relatos específicos de lá.

 

O relato da parte ocidental da viagem, Luxemburgo e Bélgica, está aqui.

 

Estivemos no Leste Europeu numa viagem bem bacana que fizemos em 2011, partindo de Helsinki e terminando em Ljubljana.

 

Desde então, voltar ao Leste Europeu sempre esteve no meu horizonte, mas não era nosso Plano A dessa vez. Nem B, nem C. Para as férias de 20 dias, nossa ideia era ir para a Ásia. Japão ou Sudeste. Cacei passagens a preços decentes para esses lugares, mas não houve tempo hábil -- tive de adiantar minhas férias e tivemos muito pouco tempo para nos prepararmos. O plano B era o Canadá. Surgiu uma boa promoção para lá, mas quando nos deparamos com a tormenta que é solicitar o visto para lá, desistimos. Tem muito país no mundo de portas abertas para visitar. Eis que então a Air France aparece com uma mega oferta de passagens (2,2 mil) para Paris. Compramos na hora. Depois decidiríamos o que fazer. E decidimos voltar ao Leste Europeu.

 

Da outra vez em que estivemos no Leste, minha ideia era ter percorrido mais países da antiga Iugoslávia. Eu havia estudado brevemente a história do país na infância e tinha muita curiosidade de ver os “novos” países, surgidos após a implosão da união eslava. Só que, na época, a Sérvia exigia visto. Cortei da viagem, e, por logística, a Bósnia também.

 

Dessa vez, finalmente acabou essa besteira de visto, então a Sérvia estava de volta ao mapa. Bósnia idem. E acrescentamos a Romênia, outro país que eu queria muito visitar. Passamos duas semanas entre eles.

 

Nós conseguimos um vôo low cost partindo de Dotrmund para Bucareste, mas no meio da semana. Aproveitamos os dias anteriores para conhecer Luxemburgo, que pode ser conferido no outro post.

 

O roteiro do Leste (a grosso modo):

Dias 5-6 – Bucareste

Dias 7-9 – Brasov (com Sighisoara, Bran e Rasnov)

Dia 10 – Sibiu

Dia 11 – Timisoara

Dias 12-14 – Belgrado

Dias 15-17 – Sarajevo

 

Onde ficamos (lugar / hotel / diária)

Bucareste - Crazy Duck Hostel – 30E

Brasov - Pension Casa Samurai – 24E

Sibiu - Guesthouse Casa Baciu – 30E

Timisoara - DownTown Hostel – 35E

Belgrado - Hostel El Diablo – 22E

Sarajevo - Guesthouse AE – 20E

 

Todos reservados via booking.com. Nenhum pago antecipadamente. Todos os lugares em quarto de casal com banheiro privativo. De um modo geral, todos atenderam plenamente nossas expectativas. Nesses países do Leste Europeu, os albergues ainda têm preços MUITO convidativos para quarto de casal (coisa que praticamente não consigo mais nos países mais badalados, fica mais em conta ficar num hotel guerreiro do que num albergue).

 

Passagens compradas antecipadamente:

Rio – Paris – Rio (AirFrance) = 2,2 mil reais cada. Ótima promoção da AirFrance – o dólar dispararia semanas depois.

Dortmund – Bucareste (WizzAir) = 34 euros cada

Sarajevo – Colônia (Germanwings) = 81 euros cada

 

Orçamento:

100 euros/dia por cabeça na Europa Ocidental. Nos países do Leste, um pouco menos da metade disso. Isso inclui hospedagem, alimentação, passeios, cerveja e transportes internos não comprados antecipadamente. Exclusive passagens aéreas.

 

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A Katia publicou um resumão de toda a viagem no blog dela (a maior parte das fotos que publicarei aqui são de lá), em duas partes:

Parte 1

Parte 2

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Dia 5 - Bucareste

 

Acordamos nos arredores do aeroporto de Dortmund, Alemanha, às 5 da manhã, antes de o sol nascer. E fomos andando para o aeroporto. Não era exatamente onde eu achava, ficava um pouco mais distante. Cerca de 1km do hotel. Tranquilo, mesmo no frio.

 

No aeroporto, chateação como jamais tive em qualquer outro aeroporto europeu: mandaram eu voltar para comprar saquinhos plásticos para colocar os líquidos líquidos (perfume e pequenos frascos de xampu). Voltei, comprei. Coloquei a coisa toda nos sacos. E aí cismaram que só podia um saco plástico por pessoa. Depois comecei a achar que estavam brincando, sei lá. Sei que não levei a sério e liberaram. Amem. Como o voo era para a Romênia, tivemos de dar saída no passaporte.

 

O voo low cost da WizzAir não tinha assento marcado. Uma das opções na hora de comprar é pagar para ter um embarque prioritário. Não paguei. Portanto é na base do avanço geral. Literalmente. E, ao menos naquele dia, sem qualquer fila. Não participamos do avanço desenfreado, mas conseguimos pegar um assento lado a lado porque entramos pela traseira do avião. Foi o assento mais apertado que já me sentei num avião. Jogadores de vôlei e basquete não devem voar de WizzAir. De qualquer forma, dormi pesada e desconfortavelmente em mais de 2hs de voo.

 

Chegamos em Bucareste no fim da manhã. Fizemos um pequeno câmbio (ruim, é claro) e compramos os bilhetes de busum para o centro. Já gostei que a moça do guichê do busum conseguia se expressar em inglês (ela não tinha troco, pediu para eu esperar um pouco). Havia duas opções, fomos na primeira, que nos deixava na Piata Victoriei (ônibus 783). Era mais longe do nosso albergue (e o caminho não foi lá muito interessante), mas saía primeiro.

 

Fomos recebidos de forma extremamente simpática no Crazy Duck Hostel. O cara nos deu mapa, nos explicou um pouco das atrações da cidade, sugeriu um Free Walking Tour para o dia seguinte e até nos ofereceu uma cerveja! Viva! Excelente recepção! Mais tarde perceberíamos que as pessoas na Romênia, via de regra, eram mais afáveis que na Europa Ocidental. O Crazy Duck foi também o albergue com o melhor quarto da viagem. Fui trocar euros no banco e saímos para explorar a cidade.

 

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Estátua de Carol I na Praça da Revolução

 

Nesse dia ficamos rodando pelo centro histórico e arredores. A área do centro histórico é reservada aos pedestres – medida que prezo muito em áreas históricas! Muitos bares e restaurantes naquela região. E uma quantidade acima da média de nightclubs também – deve ser aquele feitiche de leste europeu, sei lá. Ah, e cigarros também. Não encontramos bar ou restaurante em que não se fumasse. Como era frio, todos ficavam fechados e aquele cheiro impregnava nossas roupas. Romênia é assim, é +- como o Brasil era há uns 15 anos nesse aspecto.

 

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Nos arredores da área histórica, vimos muitos edifícios bonitos, renovados ou não. E muita coisa no estilão soviético também, os tradicionais blocões de concreto. Bucareste era uma cidade que eu tinha um certo receio de visitar. Tal qual Varsóvia. Volta e meia eu lia gente dizendo que eram cidades pouco atraentes. Fomos em Varsóvia em 2011 e gostamos muito da cidade. E também gostamos muito de Bucareste, a ponto de, já no primeiro dia, eu achar que valeria a pena ter dedicado um dia adicional à cidade.

 

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O centro histórico -- e boêmio! - de Bucareste

 

No centro histórico entramos em diversas pequenas igrejas ortodoxas, todas elas bem antigas. Todas elas parecem simples, mas tinham um interior lindo. De alguma forma eu peguei grande admiração pelos interiores de igrejas ortodoxas. Não apenas pela decoração em si, mas pelo ritual de fé das pessoas, que eu por diversas vezes fiquei observando. Sem saber se era permitido fotografar, acabei não fotografando nenhum interior de igreja em Bucareste, ficava constrangido de fazê-lo num espaço tão pequeno e com as pessoas rezando.

 

Depois de rodar bastante, a tarde caía e era hora de darmos uma pausa. Abrimos uma breve exceção à tradição de beber as cervas locais e escolhemos um bar que tinha Guinness. Uma coisa que rapidamente detectamos por lá é como as coisas são mais baratas do que eram em Luxemburgo ou na Alemanha. Hotel, transporte, comida, cerveja. Da ordem de metade do preço, no geral. Pra comer é inclusive bem mais em conta do que no Brasil.

 

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Na hora de jantar fomos no turistão Caru-cu-bere. Tínhamos perguntado no hostel sobre sugestões de lugares com comida romena e o cara falou desse, mas com a ressalva: comida mediana, ambiente muito bacana. Perfeito. A comida é bem mediana mesmo, e o lugar é um barato. Tão legal que tornou-se ponto turístico, as pessoas vão lá pra ver e fotografar. É enorme. Havia uma área para não fumantes – a área “ruim” do restaurante! – que foi onde ficamos.

 

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A imponência interna do Caru'cu Bere

 

Dia 6 - Bucareste

 

Primeiro dia da viagem em que acordamos sem despertador. Ainda assim, foi cedo: 8:30. Decidimos que faríamos o Free Walking Tour, mas só começava às 10:30. Saímos então para explorar outras áreas que não estivéramos no dia anterior. Fomos descendo pela tradicional Calea Victoriei e Piata Revolutiei, especificamente no clássico local onde o infame Nicolau Ceausescu fez o discurso derradeiro de sua ditadura. Voltaríamos a esse local no tour.

 

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Monumento à Revolução de 1989 na Piata Revolutiei – fica na área onde Ceaucescu fez seu derradeiro discurso

 

Eu desenvolvi certa aversão a tours nos últimos anos, não sei exatamente por quê. Acho que aquela coisa de anda, para, fala, anda, para, fala, não sei. Ainda mais quando o que está sendo falado não me interessa e soa como pré-gravado. Enfim, sempre que foi possível, evitamos. Mas topamos ver como era esse. A promessa era de que era uma coisa descolada, feita por estudantes de turismo, grátis (mas, claro, gorjetas são muito bem-vindas – e, nesse caso, muito justas), divertida e fora do padrão habitual.

 

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Piata Uniri, tb o ponto de encontro do walking tour

 

Nosso tour levou umas 3 horas e foi exatamente assim. Divertido, interessantíssimo, informativo, descolado. Para ficar ainda melhor, eram poucas pessoas, pouco mais de meia dúzia. Aprendemos bastante, dado o tempo, sobre a megalomania do Ceausescu, sobre os anos de comunismo, as mudanças na Romênia, a bizarra estátua de Trajano, etc. Foi excelente, recomendo muitíssimo.

 

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A estátua bizarra

 

Dentre as históricas que ouvimos, vale destacar (até onde eu me lembro):

 

- Consta que o primeiro a discursar no Parlamento Romeno foi... Michael Jackson! Ele estava na cidade e foi visitar o Parlamento. As pessoas descobriram e foram até lá vê-lo. Ele então se sentiu compelido a falar ao público. E lá foi: “It’s great to be here in Budapest!” (ou “I love Budapest”, conforme outras versões). Na época as pessoas ficavam irritadas com esse tipo de confusão, sobretudo em função de atritos históricos com a vizinha Hungria. Mas hoje em dia parece que a galera está habituada (!) e até faz troça com esse tipo de confusão – que é bastante comum. Viva o bom humor!

 

- Para a megalômana construção do Parlamento (que tinha de ser o maior do mundo) e da avenida que chega até ele (que também tinha de ser de alguma forma a maior do mundo), milhares de casas foram postas abaixo e moradores removidos. Igrejas e sinagogas idem. Algumas das igrejas foram preservadas, geralmente de duas formas: cercadas (escondidas) por novas construções, e até mesmo transferidas (transportadas!) para novos lugares.

 

Depois do tour, fomos almoçar. Em seguida fomos passear na Champs Elysees local, a Boulevard Unirii, avenida que Ceausescu cismou de fazer de modo que ficasse 1 metro mais larga e 6 metros mais longa que a francesa. Para tanto, além das remoções e demolições de que falei antes, acabou sumindo com alguns distritos históricos -- mas o atual centro histórico sobreviveu.

 

Acabamos chegando no Parlamento pouco antes de fechar e não nos deixaram entrar. O Parlamento jamais foi terminado: a revolução de 1989 chegou antes.

 

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Uma das megalomanias de Ceaucescu

 

Ficamos passeando nos arredores e logo anoiteceu. Jantamos num lugar bem mais interessante gastronomicamente, com ótimo preço e comida muito boa. Também no centro histórico. Depois de um breve passeio noturno, voltamos para o hostel. Dia seguinte já era dia de partir.

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Dia 7 - Sinaia e Brasov

 

Sinaia

Saímos cedo para a estação de trem. Eu reservei o Crazy Duck considerando a posição estratégica dele: distância caminhável tanto para o centro quanto para a estação de trem. Sempre preferimos caminhar. Compramos as passagens para Sinaia na hora, 41 lei cada. Eu achava que o trem estaria cheio de fumantes, mas não: é proibido fumar no trem. Viva, ao menos isso já chegou lá.

 

Chegamos em Sinaia e logo encontramos o lugar para deixar as mochilas. Saiu por 10 lei cada mochila guardada. Nada de lugar automático, como em diversos cantos da Europa Ocidental, lá o esquema é deixar na salinha com a moça que toma conta.

 

E lá fomos caminhar pela cidade até os castelos. Não há qualquer indicação nas ruas para o pedestre chegar aos castelos. Mas felizmente eu tinha um mapinha e o GPS do celular funcionava, então logo nos achamos e lá fomos. Quase ninguém no caminho. O dia estava bem nublado e, por ser mais alto, ainda havia um restinho de neve, dando um toque especial ao lugar.

 

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Castelo Peles

 

Fomos direto no Castelo Peles. Era caro: 50 lei pra cada + 32 lei pra fotografar dentro. É fiscalizado com certo rigor se você tem ou não o passe para fotografar dentro do castelo. E vale a pena: o interior do castelo é ESPETACULAR, dos mais bonitos que já vimos. Demos alguma sorte de entrarmos numa visita guiada. Acho que era porque havia um outro grupo estrangeiro, daí fizeram com guia – mas, se não me engano, a visita não é necessariamente guiada. A guia era bem mecânica, inclusive nas piadas teoricamente improvisadas. Chegava a ser engraçado.

 

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Patio interno

 

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Interiores do Peles

 

Depois seguimos para o Pelisor, que fica logo ao lado e é mais moderno. Ledo engano: este castelo deve ser visitado antes do outro. Foi bem anti-climax visita-lo depois, o outro tem interiores bem mais suntuosos.

 

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Pelisor

 

Descemos andando para a cidade por outro caminho (novamente sem qualquer sinalização para o pedestre chegar ao centro da cidade ou à estação de trem) e rodamos um pouco por lá. Identificamos que não há muita coisa, é a rua principal e alguns hotéis de grande porte. Sinaia é ponto de trilhas e esportes de inverno também, daí os hotéis. Paramos para recarga e comer algo (uma pizza e 4 cervas, e a conta deu 50 lei, pouco mais de 10 euros; viva os preços na Romênia!), antes de pegar o trem até Brasov (27 lei).

 

Brasov

O trem tinha assentos marcados, mas não consegui identificar o vagão. Não sei era o nosso vagão, mas os assentos estavam lá. E com gente sentada. E o trem estava cheio. Um simpático romeno nos fez entender que provavelmente houve duplicidade. Sei lá se havia mesmo, acabamos sentando em outro canto, único que estava disponível. Quando começamos a conversar, uma senhora ao nosso lado perguntou se falávamos português. Ela explicou que trabalhava com uma portuguesa, mas falou isso num italiano bem arranhado. E assim fomos conversando com a senhora, misturando tudo quanto era língua (espanhol e francês também entraram na roda). Muito divertido.

 

Chegamos a Brasov uma hora depois (de Bucareste a Sinaia deu 1,5 hora), no fim da tarde. Nosso hotel ficava a 1,5km da estação (e a outros 1,5km do centro histórico). E lá fomos andando. Hotel muito bom, excelente para o nosso padrão! Sobretudo pelo custo-benefício, dos melhores da viagem. Muito espaço, varanda, frigobar, tv e armário. Não estamos habituados a tanto, ahahahah. E lugar muito silencioso também. Fomos para o centro histórico curtir um pouco da cidade naquele fim de tarde nublada.

 

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Praça central de Brasov

 

O centro histórico de Brasov é muito charmoso. Não é à toa que a cidade é badalada – não é somente por ser uma ótima base para explorar a Transilvânia. Como já eram quase 18hs, as poucas atrações da cidade já estavam fechadas. Ficamos apenas rodando pelo centro e arredores. Queria descolar um mapa da cidade, mas o próprio centro de informações estava fechado. De qualquer forma, a cidade te boa sinalização para o turista, com mapinhas espalhados sob a forma de placas. Além disso, o centro histórico é relativamente pequeno.

 

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Construções charmosas no centro histórico e o letreiro "Brasov" ao alto

 

Ficamos por lá até anoitecer, compramos algumas coisas no mercado e fomos jantar no quarto mesmo.

 

 

 

Dia 8 - Sighisoara

Fomos conhecer Sighsoara num bate-volta de Brasov. Longo bate-volta, porque cada trecho durava longas 2,5 horas de trem. Os trens na Romênia são lentos. Cada passagem saiu por 41 lei.

 

Pegamos um trem às 8:45 e chegamos a Sighsoara no fim da manhã. A estação de trem de lá foi a pior que vimos na viagem em termos de conservação e sinalização. E passagens subterrâneas sinistras! Só que a fachada da estação está toda reformada, verdadeiro pavão! Fora da estação, novamente não havia sinalização alguma para o pedestre turista chegar ao centro histórico a pé. Mas felizmente havia o GPS do celular funcionando.

 

No caminho nos deparamos com uma espetacular igreja ortodoxa. Havia um senhor aspirando, que nos deixou entrar. Lindíssima!

 

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A magnífica igreja ortodoxa de Sighisoara

 

De lá seguimos para a citadela, onde ficamos flanando boa parte do dia. É muito bonita, cheia de casinhas coloridas, históricas. É relativamente pequena, você anda tudo em pouco tempo. A famosa igrejinha que fica no alto da colina eu achei decepcionante. Valeu mais pela vista e pela escadaria de madeira. A igreja da parte de baixo, na citadela, eu achei mais interessante. Em termos de beleza, a catedral ortodoxa deixava as duas no chinelo.

 

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Visitamos a tal casa onde o Vlad nasceu, é bem bobo. Amplamente dispensável. Depois de flanar bastante, fizemos uma pausa para uma pizza com cerva num restaurante na parte de baixo (beeeeem mais em conta do que os da citadela). Era num varandão e logo chegou um grande grupo de jovens, garotada mesmo. Ninguém bebia. Vários fumavam.

 

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Torre do Relógio

 

Ainda passeamos mais pela citadela e partimos de volta a Brasov. Havia duas opções de trem, ambos +- no mesmo horário de fim de tarde: um mais lento (mais meia hora) e mais barato. Optamos pelo mais rápido (custava os mesmos 41 lei da ida). A escolha revelou-se um erro! O raio do trem atrasou pra cacete pra chegar e acabamos chegando em Brasov mais tarde do que se tivéssemos pego o outro! Dormimos na viagem de volta e felizmente acordamos um pouco antes da chegada a Brasov. Não há anúncio de estações dentro do trem. Uma chuvinha bem leve caía em Brasov. Apenas fomos para o hotel dormir.

 

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A charmosa Sighisoara

 

Dia 9 - Bran, Rasnov e Brasov

 

Bran

Um das mais populares passeios a partir de Brasov é o que leva até o castelo de Bran. Tinha lido várias “desrecomendações” em relação ao castelo, tanto que retirei do nosso roteiro. Mas Katia insistiu e recolocamos. Tiramos esse dia para ir lá. Fomos andando até a estação onde partem os ônibus para lá, a tal Autogara 2. Ficava a uns 2,5 km do hotel. Pegamos o busum das 9hs (7 lei) e chegamos em Bran 40 minutos depois.

 

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Castelo de Bran

 

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Lago congelado no jardim do Castelo de Bran

 

Aquela manhã estava bem nublada, no estilo “hoje vai chover”. Felizmente só ficou naquilo mesmo, não choveu. Chegamos na cidade e fomos direto para o castelo. E o pior é que gostamos bastante de lá! Talvez pela baixa expectativa, ou por não ser muito ligado nessa coisa de Drácula, achei o lugar bem legal.

 

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Detalhe de um cômodo no interior do castelo

 

Rasnov

Descemos e fomos ver o esquema para Rasnov. O próximo ônibus somente em 40 minutos, então fomos negociar um taxi. Eu tinha em mente algum relato que havia falado em 150 lei para levar e trazer de Brasov. Tudo preço fechado, embora o correto seja pelo taxímetro. Enfim, vamos lá. Após negociação, fechei por 40 lei para o cara nos levar até Rasnov. Chegando lá ele ofereceu de nos esperar e depois nos levar a Brasov, tudo por 100 pratas. Topei pelo conforto. Deveria ter negociado, mas... o conforto falou mais alto, queríamos ter tempo para explorar Brasov naquela tarde, e optamos pelo esquema-patrão. De qualquer forma, acho que saiu mais em conta do que os tours organizados.

 

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Entrada da citadela

 

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A Fortaleza de Rasnov é bem interessante, mas eu esperava mais. Não sei exatamente – é tudo questão de expectativas! As ruínas são interessantes, mas várias delas com lojinhas. É meio como se em Pompéia houvesse lojinhas nas ruínas, sei lá. Achei meio nada a ver. De qualquer forma, tem um visual amplo e belíssimo!

 

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Torre de observação da Fortaleza de Rasnov

 

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Vista da cidade de Rasnov

 

Valeu a pena ter alguém esperando lá embaixo, a Fortaleza fica um tanto pra dentro da cidade, em relação á parada de ônibus. Nosso taxi nos levou até o centro de Brasov.

 

Brasov

 

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Torre da igreja negra, em Brasov

 

Em Brasov fomos na famosa Black Church (8 lei), que decepcionou. Depois fomos finalmente pegar o teleférico para o alto da montanha da cidade (onde tem o hollywoodiano “Brasov” estampado no alto), o Monte Tampa – e eis que nos deparamos, dentro do vagão, com a simpática menina que nos atendeu no hotel dentro! Pelo visto ela estava curtindo o dia com os amigos. Lá em cima é bem interessante, com amplo visual da cidade. Mesmo em dia nublado, dava pra ter ampla visão.

 

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Vista da Praça Sfatului a partir do Monte Tampa

 

Na descida ainda esticamos ao sul do centro para conhecer a igreja de S. Nicolas – a mais bonita da cidade (na minha opinião), e grátis. As igrejas de Brasov geralmente tinham algum pedinte na porte, e não foi diferente por lá. A praça (Uniri?) que fica logo em frente à igreja também é bem bacana. Na volta ainda fomos no museu da cidade, que eu achei dispensável, só vale pela vista da praça mesmo. E depois fomos percorrer as torres remanescentes da cidade (a branca e a preta), que também proporcionam boas vistas da cidade.

 

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Igreja de São Nicolau, a mais bonita (por dentro) que vimos na cidade

 

Jantamos num lugar de padrão mais elevado – e achei que não valeu a pena em termos de custo benefício (mas o ambiente era muito maneiro; só não me lembro o nome do lugar). Encerramos o dia num pub muito bacana, Hockey Pub, que tinha diversas camisas de grandes astros contemporâneos da NHL, além de fotos, camisas e etc. de times locais. Partimos para o hotel, de onde pegaríamos nossas mochilas para seguir viagem de trem para Sibiu (46 lei). Novamente dormimos no trem e novamente acordamos um pouco antes de chegarmos em Sibiu – na sorte mesmo, do tipo “ih, será que já estamos perto”.

 

Chegamos tarde em Sibiu, mas dentro do horário programado. Eu havia avisado via booking do nosso horário de chegada, que mostrou ser crucial: a moça que nos atendeu falou que normalmente só ficava por ali até o meio da tarde. Esse foi mais um lugar de excelente custo-benefício. Quarto e banheiro amplos, limpo, pertinho do centro histórico e da estação (mas lá é tudo perto de qualquer jeito). Ainda saí pra curtir um pouco a cidade de noite. Teríamos pouco tempo no dia seguinte. Estava tudo bem vazio, alguns poucos restaurantes ainda abertos. Achei a cidade muito bonita.

 

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Sibiu, vazia tarde da noite

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Dia 10 – Sibiu

Dia de céu azul. Fui na estação comprar logo os tkts de trem para Timisoara (75 lei), depois ficamos curtindo o centro histórico (e arredores de Sibiu). Cidade MUITO bonita (ajudada também por um dia MUITO bonito). Ótima cidade para um slowtravel. Para conhecer, um dia foi suficiente. Mas era um lugar tão charmoso que deu vontade de ficar mais tempo. São duas ou três largas praças +- interligadas, formando o coração do centro histórico. Geralmente são áreas somente para pedestres.

 

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Piata Mare

 

Como era uma segunda-feira, algumas atrações estavam fechadas. Uma pena, porque havia um museu de arte popular que parecia ser muito interessante, ficava num complexo cultural que não abria às 2as.

 

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A rua principal

 

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Interior da igreja ortodoxa de Sibiu

 

Como teríamos de encarar 7,5 horas de trem até Timisoara, nesse dia almoçamos. E muito bem! Num lugar estilo keller, com comida típica romena – ou seja, pesada, carnívora. No mais, flanamos ainda mais pela cidade até chegar a hora de pegar as mochilas no hotel e partir para a estação.

 

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Crama Sibiana

 

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O trem partiu no horário certo. Teve tantas paradas que achei que iria atrasar, mas não: chegou até mesmo antes do previsto em Timisoara. Eram cerca de 23hs, fomos andando para o nosso hostel. O trajeto era bem vazio, do tipo que no Brasil daria medo de andar. Mas lá nos sentimos tranquilos.

 

Na chegada, mais uma recepção extremamente amigável (também havíamos avisado antecipadamente do nosso horário de chegada, e a menina nos esperou). Ainda demos uma saída rápida pela cidade, apenas para observá-la de noite. Como já era madrugada, havia muito pouca gente nas ruas. Mas pudemos ver como a Praça Victoriei é bonita.

 

 

Dia 11 - Timisoara

Lindo dia de sol pleno. Saímos para fazer uma longa caminhada, tendo nas mãos um ótimo mapinha que pegamos no albergue. Aproveitamos para comprar as passagens de trem para Belgrado.

 

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Praça Libertatii

 

Timisoara passa por extensas obras de infraestrutura. Depois vim a saber que trata-se de uma reorganização e todo o sistema sanitário do centro da cidade. Por conta disso, algumas das atrações, inclusive a maior e principal praça (Uniri), praticamente inexistem no momento (ao menos naquele momento em que estivemos lá!). Consta que as obras durariam de 2011 até meados de 2015. Mas é natural que obras desse tipo atrasem, então...

 

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Piata Unirii, em obras

 

Rodamos por praticamente toda área central da cidade e depois começamos a esticar para mais longe. Primeira parada que fizemos foi uma muito esperada visita ao Museu da Revolução Romena (Memorialul Revolutiei). Timisoara foi a cidade que deflagrou os protestos que acabaram derrubando Ceaucescu do poder e encerrando o período de comunismo ditatorial do país. O Museu surpreende negativamente na entrada: está num prédio muito mal conservado, clamando por reforma. Tem um pedaço do Muro de Berlin na entrada, uma recordação. Mas a impressão negativa para por aí: somos simpaticamente recebidos por um senhor que nos avisa que vai passar um vídeo, e depois poderemos ver o museu. Ok. Somente nós no museu naquele momento. O vídeo é ótimo. Não sei o motivo, mas achei que seria coisa de 10-15 minutos. Foi mais de meia hora. Mas foi ótimo, verdadeira aula do período.

 

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Resto do Muro de Berlim, na entrada do Memorialul revolutiei

 

Em seguida fomos guiados por um senhor manco. Soubemos depois que ele é um aposentado que foi ferido na época da revolução e que trabalhava por prazer. Fizemos uma doação ao museu (é grátis teoricamente, mas a galera praticamente cobra a doação – demos com prazer, de qualquer forma) e fomos verificar. Diversas fotografias, várias bandeiras da época (os romenos arrancavam a foice e martelo das bandeiras, ficando um buraco), muito bom. Satisfez a sede por um museu de História.

 

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Uma sala do museu, com as bandeiras usadas na Revolução (os buracos eram para rasgar fora o símbolo comunista)

 

Depois fomos andando até a Piata Traian, saindo do centro e conhecendo uma área menos badalada da cidade (mas com turismo crescente). Pelo caminho, parques, antigas muralhas, igrejas ortodoxas. Na volta, viemos margeando o rio, onde tem um parque atrás do outro. Passeio muito agradável. Cidade muito agradável, aliás. Mesmo com as obras!

 

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Centro cultural abrigado num dos antigos bastiões da cidade

 

Um dos ícones da cidade é uma monumental catedral ortodoxa, que, além de enorme, é espetacular. Mas sou suspeito, geralmente eu adorei o interior de qualquer igreja ortodoxa da viagem.

 

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Catedral Ortodoxa de Timisoara

 

Depois do longo passeio, ficamos intercalando passeios mais curtos pelo centro com paradas para recarga até anoitecer. Um dos lugares que paramos foi um agradável bar ao lado do rio. Jantamos uma boa pizza (comfort food!) e ainda demos uma volta noturna pela cidade antes de ir dormir. Era nossa despedida da Romênia.

 

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Rio Bega

 

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Piata Victoriei

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Dia 12 – Vrsac e Belgrado

 

Acordamos bem cedo e partimos, fomos andando para a estação. O trem que vai para a fronteira é beeem melhor do que o que veio de Sibiu, mas é tão lento quanto. Controle de passaportes na fronteira foi tranquilo. Guardas entram, pegam os ppts, e trazem de volta devidamente carimbados. Isso acontece na saída da Romênia e, logo a seguir, na entrada da Sérvia. Leva algum tempo. Imagino que não seja comum ver ppts brasileiros naquela fronteira.

 

Vrsac

Chegamos em Vrsac, já na Sérvia, umas 10 da manhã, ou seja, depois das 9:44, que era o horário que o trem parte para Belgado. Putz! Saímos para ver os arredores. Nem sinal de rodoviária. Fui no guichê da estação de trem perguntar sobre o próximo trem para Belgrado. Somente às 14hs e blau. Tempo demais pra esperar (Belgrado não fica longe!). Perguntei onde era a estação de ônibus e a moça, mesmo sem falar inglês, nos indicou o caminho (depois vi que a moça nos indicou um ponto de ônibus, o que nos teria poupado quilômetros de caminhada pela cidade). E lá fomos. Andando, de mochilão, pela cidade.

 

Vimos uma agência de viagem pelo caminho e entramos. A atendente vestia-se como aeromoça de décadas atrás. Foi extremamente simpática conosco e avisou, do jeito que pôde, que a estação de busum ficava a um bom tempo de caminhada dali. Indicou um banco mais à frente para fazermos câmbio, e lá fomos. Vrsac é uma cidade pequena, muito longe de ser um grande centro. Paramos no banco. Fui trocar e ouvi que não aceitavam os leis romenos. Mau sinal, a cidade faz fronteira com a Romênia (depois isso nos deu certa dor de cabeça – e perdas cambiais! -- quando chegamos a Belgrado). O atendente perguntou de onde eu era e, quando falei Brasil, ele soltou um longo uaaaaaaauuuuu de surpresa. De fato!

 

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Seguimos andando pela cidade, em direção ao que haviam nos indicado com sendo a direção da rodoviária. Ainda paramos num outro centro de informação turística (!!), onde a atendente mais uma vez foi extremamente simpática conosco, se esforçando ao máximo para nos ajudar e se comunicar em inglês. Cativantes, esses primeiros sérvios com quem tivemos mais contato!

 

Depois de cerca de 3,5km, chegamos na estação de ônibus. Por sorte havia um logo para sair para Belgrado. O cobrador do busum falava inglês e nos ajudou. E lá fomos. A viagem levou duas horas.

 

 

Belgrado

Em Belgrado, descemos e fomos andando para o albergue. No caminho vi um relógio público e achei estranho estar atrasado em uma hora. E então me deu aquele quente no corpo: e se houver fuso entre Romênia e Sérvia?? Cheguei no albergue e perguntei de cara que horas eram. Sim, havia fuso, estávamos uma hora a menos que a Romênia! Isso significa que... chegamos de trem em Vrsac às 9 da manhã e o trem era às 9:44! Que anta!! Como não vi a coisa dos fusos?? Por outro lado, como a moça da estação me indicou o próximo trem para Belgrado partindo somente às 14hs? Vai saber. Enfim, valeu por passear um pouco por mais uma cidade, Vrsac.

 

A novela seguinte era trocar nossos leis restantes. O cara do albergue avisou que ninguém na cidade trocaria. Putz! Como assim, é um país vizinho! Tem vezes que eu me sinto marinheiro de primeira viagem, a regra é sempre evitar levar moeda de um país para outro, exceto por moedas de países primeiro mundo. Enfim, tinha sobrado uma quantia boa para deixar largada! Varei todas as casas de câmbio e bancos que vi pela frente até finalmente encontrar uma alma que, sim, trocava! Viva! Só que a um câmbio amplamente desfavorável, claro. Paciência, melhor algo do que nada.

 

E então finalmente fomos curtir Belgrado. Nosso albergue (aliás, galera do albergue muito bacana, nos deu várias dicas e ainda nos descolou transporte para Sarajevo) ficava colado à rua boemia de pedestres local, a Skadarlija, onde ficam vários restaurantes e bares (ainda que boa parte deles seja meio turistão). Aproveitamos para almoçar num deles e foi muito bom. Comida, clima (dia de sol!) e ar livre.

 

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Skardalija

 

Passamos a tarde flanando pelo centro e depois pelo Kalemegdan. O Kalemegdan, aliás, é lugar que rende boa parte do dia, de tão grande que é e de tantas e boas opções que oferece (passear, comer, ir ao museu, observar o por do sol...). Ficamos por lá até o anoitecer, presenciando um belíssimo por do sol.

 

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Portão do Relógio no Parque Kalemegdan

 

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Fortaleza de Belgrado

 

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Por do sol a partir do Kelemegdan

 

Pegamos um excelente mapinha no albergue, (Spy??) que inclusive sugeria lugares para beber e comer. De cara vi o Miners Pub, especializado em cervejas artesanais. Fomos lá bater ponto, claro. O lugar tinha (felizmente!) um razoável espaço para não fumantes, uma seleção muito boa de cervas artesanais on tap e, mais bacana ainda, os caras do bar reconheceram minha camisa do Petkovic e foram me mostrar fotos do time dele quando ele começou a jogar, o estádio, etc. Muito bacana ver como o Pet é respeitado na área.

 

Depois ainda fomos num turistão na Skadarlija, mais para tomar umas saideiras. Tinha música, performance, etc. Aquela coisa pra turista.

 

Dia 13 – Belgrado

Nesse dia fomos fazer o Free Walking Tour local. Saímos cedo para tomar um café da manhã local, ou seja, um burek com iogurte. Achamos um lugar que pareceu ser bem da galera local mesmo, tudo estava em cirílico e a moça não falava uma palavra de inglês. Curtimos a experiência, mas o unidunitê da escolha nos presenteou um burek de batata. Achei pesadão. Mas muito barato.

 

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Kneza Mihaila

 

Demos uma passeada antes e depois seguimos para a Praça da República, o ponto de encontro do tour. Bem mais gente do que em Bucareste (mais de 20 pessoas), o que torna a coisa mais impessoal. Mas foi muito bacana também. Passamos por alguns pontos da cidade e retornamos ao Kalemegdan. Nos intervalos eu satisfazia minha curiosidade sobre questões sérvias com a guia, mas ela era bem ponderada.

 

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Estátua de Victor, um dos cartões postais da cidade que celebra a vitória na Guerra dos Bálcãs

 

Terminado o tour, fomos tomar um café no famoso “?” (o nome é esse mesmo). Como Katia estava baleada naquele dia, com um princípio de gripe chegando, nosso instinto explorador ficou meio prejudicado nesse dia. Buscamos alguns museus para ela ficar mais protegida do frio. De um modo geral eram interessantes, mas não imperdíveis (para o nosso gosto).

 

Um deles é o badalado museu militar, que fica no Kalemegdan. Tinha muita curiosidade de entrar, sobretudo para ver como a Sérvia retrata as guerras recentes de que participou (perdeu todas). No fim das contas, embora vasto e interessante, eu esperava encotrar mais sobre a história recente. Mas, tal qual qualquer canto do planeta (exceção feita à Alemanha, até onde eu me lembre), o museu militar sérvio opta por mostrar a Sérvia vítima – no caso, da época dos bombardeios da OTAN. Nada vi sobre o papel do país nas guerras com a Slovenia, Croácia e Bósnia.

 

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Museu militar

 

Foi um dia atípico, em que fomos até almoçar! Aliás, um ótimo lugar, Teatroteka, que tinha sido dica da guia do free walking tour. De noite ainda fui passear pelo Kalamegdan, para ver como fica bacana com a iluminação noturna. Katia ficou me esperando, protegida do vento frio que faz na área. E ainda fomos tomar saideiras no Cervas noBlack Turtle, bar que tem cervas próprias.

 

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Visual noturno na Fortaleza

 

Aliás, no tocante a saideiras, uma boa opção na Sérvia é a rakia, meio que a cachaça local. Geralmente é forte, mas encontramos algumas que pareciam até suco. Toma-se em shots.

 

Dia 14 – Belgrado

Tirei o nosso último dia cheio na Sérvia para fazer um longo passeio, meio que inspirado num blog que sigo que de que gosto muito, especificamente este dia: http://www.desbravandonovasfronteiras.com.br/2013/06/mochilao-10-dia-23-belgrado.html

 

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Igreja de São Marcos

 

A ideia era seguir para o estádio do Estrela Vermelha (Red Star), o time do local do Pet, seguir para o Museu da Iugoslávia e voltar beirando o rio. Tudo a pé, sempre. Porque é a pé (ou de bicicleta) que respiramos a cidade.

 

Dejan Petkovic

Дејан Петковић

 

O sérvio Dejan Petkovic teve passagem marcante no Flamengo (e no futebol brasileiro). Durante um tempo, era considerado até mesmo um jogador que seria da seleção brasileira, se brasileiro fosse. Pudera, o Brasil passou anos investindo em volantes brucutus, treinadores chegavam a escalar 4 ou 5 deles no time. Resultado: o país deixou de produzir meias (meio-campistas de ligação). No início dos anos 2000 ainda havia alguns (hoje em dia praticamente inexistem meias de qualidade no futebol brasileiro), mas o Pet era dos melhores. Foi autor do inesquecível gol do título do campeonato carioca de 2001 (quando ainda se dava algum valor aos estaduais). Muita gente – e qualquer flamenguista que se preze – sabe do que se trata quando se fala no “Gol do Pet”.

 

É esse:

O “Gol do Pet”

 

Mas a gestão do Flamengo de então era uma zona generalizada e ele acabou saindo logo depois, de graça, por falta de pagamento de salários e problemas subsequentes.

 

Anos depois, em 2009, aos 37 anos e já em baixa no futebol, sem time, ele retornou ao Flamengo -- inclusive como parte do abatimento da dívida que o Flamengo tinha com ele! Entrou numa improvável engrenagem que levou o Flamengo ao sexto título de campeonato brasileiro, tendo sido apontado como um dos melhores (e seguramente o mais surpreendente!) do time e do próprio campeonato. Ninguém, e isso eu afirmo com segurança, esperava que ele jogasse tanto como jogou naquela reta final. Foi a consagração do craque.

 

Um gol histórico e uma conquista histórica. Rei no Flamengo.

 

E Rei na Sérvia também, mesmo não tendo participado da seleção sérvia.

 

Documentário “O Gringo” sobre Petkovic:

 

 

Mas primeiro fomos no Museu Tesla, paraíso para amantes da ciência e interessantíssimo para turistas comuns, como nós. Requer bom ouvido para inglês, o tour guiado de uma hora é acelerado, intenso, repleto de informações.

 

Fizemos um desvio para observar alguns prédios destruídos pelo bombardeio da OTAN – não sei exatamente porque não foram reconstruídos, talvez queiram deixar a memória viva. E seguimos descendo a cidade até a Catedral de St. Sava. Catedral enorme, interior decepcionante, vazio, não decorado, parecia em reconstrução (!). Claro, se eu lesse antes ou visse fotos dos lugares que vamos, não teria me decepcionado -- mas evito fazer isso, gosto da surpresa.

 

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Catedral de São Sava

 

Em seguida pegamos um caminho meio que no feeling (e no google maps do telefone!) até o estádio do Red Star. Fica aberto para visitação (do alto, sem entrar nas arquibancadas), tem até lojinha com coisas do time pra vender. Mas nada do Pet, ehehehe.

 

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O Marakana de Belgrado

 

De lá seguimos para o Museu da Iugoslávia (novamente no feeling e no google maps), onde também fica o túmulo do Marechal Tito. Mais à frente escrevo um pouco sobre essa emblemática figura histórica. De qualquer forma, achei o Museu da Iugoslávia uma baita decepção. Eu esperava (equivocadamente, pelo visto) um museu de História, e nada tem de História por lá. Valeu mesmo pelo Túmulo do Tito, que ao menos conta um pouco da história dele, além de apresentar um monte de fotos e presentes que ele recebeu enquanto chefe maior da Iugoslávia. É um lugar claramente enviesado, pró-Tito. Tal qual o memorial Getúlio Vargas, que tem no Rio de Janeiro.

 

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Mausoléu de Tito

 

 

Josip Broz Tito

Quando eu era adolescente, fiz um trabalho de escola sobre Josip Broz Tito. Não era para mim, era para um amigo, de outra escola. Não faço ideia do por que fiz aquilo. Mas foi quando tomei conhecimento da figura. Já quando a Iugoslávia desmoronou, nos anos 90, me lembrei de como ele mantinha aquelas etnias todas unidas (à mão de ferro), de como ele se dissociava dos outros ditadores comunistas, e de como a morte dele acabou por permitir toda aquela onda de violência subsequente.

 

Quando fizemos nossa primeira incursão pelo Leste Europeu, queria muito conhecer países da antiga Iugoslávia (mas a Sérvia me demoveu, por requerer visto), e retornei minha atenção a ele. Anos antes, lendo HQs do Joe Sacco sobre a Bósnia, novamente Tito estava lá. Nessa viagem eu conversei mais com pessoas sobre a percepção geral sobre a figura histórica que Tito representa. E, surpreendentemente, a avaliação geral (ao menos na pequena amostragem que representa as minhas conversas) é saudosista. Pior é que, em parte, é saudosista de gente que não viveu a época dele – mas que vive o pós-desfragmentação, após a morte dele.

 

Tito foi um militar que lutou na 2ª Guerra, meteu a mão na massa. Isso lhe trouxe respeito. Mais tarde tornou-se ditador comunista na Iugolsávia, mantendo todas aquelas etnias sob sua guarda. Ele próprio dava o exemplo: era esloveno, casado com uma croata. Afastou-se do controle soviético, era visto com alguma frequência em altas rodas com presidentes ocidentais. Mas todos aqueles elementos do autoritarismo estavam presentes: nada de oposição, culto à personalidade, etc.

 

Cheguei a comparar Tito a Getulio Vargas. Tal qual por lá, encontramos muita gente no Brasil saudosa do Getúlio. Mas não tenho certeza de que seja uma boa comparação. De qualquer forma, Tito me parece um personagem histórico muito interessante de ser estudado.

 

 

De lá, cruzamos o Hyde Park local e fomos catar um acesso ao rio e, passando por ruelas, passagens subterrâneas e até shoppings, chegamos lá. Viemos caminhando de volta para a região central. Embora o rio seja margeado por uma extensa ciclovia e faixa de pedestres, a caminhada não tem lá muitos atrativos. Muitos barcos largados – alguns lugares pareciam meio que cemitério de barcos. Longa e interessante caminhada, no entanto, que nos permitiu dar nossa primeira pausa do dia (já no fim da tarde!) para uma cerva.

 

Encontramos um bar numa área boemia da cidade, logo ao lado do rio. Não me recordo o nome de lá, mas era num dos locais onde rola a night local. Recarga feita, cruzamos a ponte para a parte nova de Belgrado, já no entardecer. A ideia era ver um pouco do outro lado, sobretudo as splavs, construções no rio que servem de bares, restaurantes, boites e até mesmo hostels. Mas que funcionam majoritariamente no verão. Na época e hora em que chegamos, só havia um restaurante aberto. Pareceu ser meio refinado, e estava cheio. De qualquer forma, trata-se de uma área muito agradável ao longo do rio. Havia muito pouca gente (e fazia frio!) naquela hora, já quase noite. Andamos muito nesse dia. Voltamos para o outro lado e fomos jantar no “que será, será", que tinha comida típica sérvia, mas que achei meio decepcionante. Felizmente tomamos saideiras num ótimo bar, chamado Blaznavac. Muito bacana, fechou bem nossa estadia na cidade.

 

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Barcos ancorados que funcionam como restaurantes

 

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Boite à beira do rio

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Dia 15 – Sarajevo

Nós teríamos comprado antecipadamente a passagem de Belgrado para Sarajevo. A ideia inicial era voar, dado que não tem trem e que o busum leva muito tempo. Quando tentamos comprar, meses antes, no site da BIH (a cia aérea Bósnia), não conseguíamos, dava erro. Em paralelo, eu vi que a Air Serbia tinha preços mais ou menos estáveis, então deixamos para ver no local. E fizemos muito bem, porque descolarmos um transfer de taxi por meros 25 euros cada. Foi tudo bem na viagem, tranquila. É uma van. Exceção única ao incrível longo tempo para cruzar uma simples ponte e conseguir entrar na Bósnia. Haja burocracia! Levamos nada menos que uma hora e meia pra isso.

 

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Paisagem rural na Bósnia-Herzegovina

 

No caminho pegamos alguns belos visuais de áreas ainda com neve na Bósnia. Chegamos em Sarajevo já no início da tarde e felizmente nosso hostel era bem central. Dia de sol! Ficamos apenas flanando pela região até o fim do dia.

 

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Rio Miljacka

 

É nítida a influência muçulmana na cidade, remete ao período turco-otomano. Você vê mulheres com véu e sem véu andando pelas ruas numa boa. Consta que boa parte da população local é muçulmana, mas isso tende a ser algo muito mais de caráter étnico do que religioso. As pessoas em Sarajevo bebem álcool e vão a boates, mesmo muçulmanos. Porém, parece que a noite por lá fecha cedo – e por isso vimos muita gente muito arrumada a caminho da night já cedo, tipo umas 19hs.

 

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Pracinha, pombos, etc.

 

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Rua de Bascarsija

 

 

Dia 16 – Sarajevo

Dia nublado, tiramos para passear pela cidade. Cogitamos de fazer o free walking tour local, mas tinha de agendar antecipadamente, então decidimos fazer por conta própria mesmo. Saímos bem cedo, ainda bem friozinho. Fomos numa fortaleza, de onde se tem uma bela vista da cidade. No caminho, um cemitério muçulmano, lamentavelmente cheio de crianças enterradas. As lembranças da guerra dos anos 90 estão em toda parte, alguns prédios ainda tem marcas de tiros na região central cidade. O Army Gallery é o que mais tem marcas de tiros na fachada.

 

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Panorama de Sarajevo

 

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Army Gallery, com suas marcas remanescentes de tiros

 

Depois de passear, decidimos entrar numa galeria que exibia fotografias de Srebrenica, cidade que foi massacrada pelos sérvios durante a guerra. Chama-se Galerija 11/07/95, e fica logo ao lado da catedral. Mais do que a exposição fotográfica, o lugar projeta dois documentários: um sobre Srebrenica (não me lembro o nome, mas acho que era do Paul Lowe) e outro chamado Miss Sarajevo, produzido pelo Bono Vox, com a trilha sonora do próprio, e dirigido por Bill Carter. Ambos imperdíveis, tocantes, emocionantes (boa parte da sala estava em lágrimas ao término do Miss Sarajevo). Miss Sarajevo, aliás, tornou-se a música da viagem para nós daquele dia em diante.

 

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Miss Sarajevo: o vídeo acima contém imagens do documentário

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Sarajevo foi cercada e permaneceu sitiada durante quase quatro anos – conta que é o período mais longo da História moderna. Já Srebrenica sofreu um processo de genocídio comandado pelo infame Ratko Mladic, comandante militar das forças paramilitares sérvias. No vídeo citado acima, ele afirma que “hoje é o dia da vingança contra os muçulmanos”, antes de chegar a Srebrenica. O que veio depois foi o horror.

 

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Antigo prédio da Prefeitura de Sarajevo, que hoje em dia funciona como biblioteca e museu: foi destruído e incendiado por sérvios durante a guerra

 

De tarde fechamos com uma agência o passeio até o túnel de Sarajevo, outra reminiscência da guerra que tornou-se interesse turístico. Trata-se do túnel por onde se conseguia passar (pessoas e produtos) durante o período em que a cidade estava sitiada. A área teoricamente estava sob comando das forças da ONU, mas na prática era quase um corredor polonês para os bósnios muçulmanos, que construíram o túnel para escapar da artilharia dos bósnios sérvios. É bem complicado de chegar lá por conta própria, então tivemos de ceder ao tour, que não é barato: 15 EUR por pessoa. Felizmente foi ótimo, excelente, porque enchi a guia de perguntas e pudemos conversar longamente sobre uma série de pontos que eu questionava. O mais bacana é que boa parte das minhas perguntas exigia uma resposta opinativa, e a guia não se furtava a dar a opinião dela. Conversamos até sobre o Mujica, do Uruguai! Aida é o nome dela, muito bacana. Eu já conhecia a história do túnel, e foi interessantíssimo ver na realidade. Na prática, restou muito pouco dele, o lugar serve mais como memória.

 

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Tunel

 

Uma coisa interessante foi ver os alimentos que eram jogados pela ONU para a população sitiada. Aviões da ONU jogavam esses alimentos. Um deles, que pode ser visto no museu, era dos EUA da Guerra do Vietnã!! Era desidratado, mas ainda válido.

 

Na volta, o motorista (que também era o dono da agência!) sugeriu de voltarmos por um caminho mais longo, passando pela área da Republika Srpska. E deparei-me com o inacreditável: uma placa homenageando o genocida Radko Mladic. A guia me explicou que a placa era constantemente vandalizada por bósnios muçulmanos, daí os sérvios passaram a montar guarda em frente a ela. De fato, havia uma dupla de sentinelas por lá, do outro lado da rua. Ok, é verdade que muita gente aplaude assassinos de diversas estirpes. Mas aquilo me surpreendeu, mesmo assim.

 

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A infame placa

 

Bósnia hoje:

O acordo do fim da guerra dividiu a Bósnia basicamente entre os bósnios muçulmanos e os bósnios sérvios. Foi traçada uma linha sobre todo o território, basicamente cedendo 51% aos muçulmanos e 49% aos sérvios. A suposta diferença entre bósnios (muçulmanos), croatas (católicos) e sérvios (ortodoxos) não me parece ser fundamentalmente religiosa, é étnica.

 

Na volta à cidade, fomos dar um rolê na cervejaria local, a HS Pivnica. O lugar ao lado da fábrica é espetacular, belíssimo. A cerveja nem tanto, ehehehe. Mas vale a ida só pra conhecer o lugar. Fomos jantar cevapcici novamente.

 

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Sarajevska Pivara

 

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Sarajevo Roses: Espalhadas pela cidade estão marcas de tiros, geralmente no chão, pintadas de rosa

 

 

Dia 17 – Mostar/Sarajevo

Saímos cedo de manhã para uma rápida caminhada nos arredores. Fomos ao mercado municipal, onde houve um horrendo massacre durante os tempos de guerra, que acabou catalisando a entrada de atores externos (EUA, Europa) na história toda. Pareceu-nos que os nomes das vítimas foram colocados num painel, mas não havia nada em inglês em relação a isso. Hoje voltou a ser um mercado normal, tipo feira.

 

No dia anterior havíamos fechado, com a mesma agência do passeio do tunel, de nos levarem num tour para Mostar. Nossa ideia original de viagem era chegar de Belgrado em Sarajevo (o plano original era chegar de manhã cedo no aeroporto) e partir direto para Mostar, dormir lá e voltar para Sarajevo, onde ficaríamos ainda mais duas noites. No entanto, mudamos: não haveria mais voo de manhã, somente chegaríamos de tarde em Sarajevo e até descolar busum pra Mostar era alto risco de chegar lá de noite. E tudo isso pra voltar no dia seguinte pra Sarajevo. Pra completar, o hotel que havíamos reservado em Mostar nos mandou msg dizendo que tinha algum problema e que não poderia honrar a reserva. Optamos por ficar em Sarajevo mesmo todos os dias e fazer um bate-volta a Mostar. Fui ver a logística do bate-volta e acabamos optando por ir num esquema-patrão, que nos daria ainda a opção de conhecermos outros lugares pelo caminho. Achei caríssimo (55 euros pp), mas não encontrei nada mais em conta.

 

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Konjic bridge

 

E felizmente valeu muito a pena, nosso guia também era ótimo. Conversamos MUITO, a viagem inteira. Muito sobre a Bósnia, sobre Tito, sobre a guerra (nosso guia viveu a guerra ainda menino), sobre Iugoslávia, mas também sobre Brasil, futebol e etc. Tal qual o dia anterior, o guia (Enes é o nome dele) não se furtava a das opiniões pessoais. Excelente.

 

O tour esquema-patrão fez paradas em lugares bem bacanas pelo caminho. Paramos na estrada para um café à beira rio (Orahovica). Nosso guia nos falou que em vários lugares, quando você pede um café, ele vem com um cigarro para você fumar!

 

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Pausa para um café na estrada

 

Depois em Jablanica, no rio Neretva, onde a ponte foi destruída exatamente quando um trem passava por ela. Isso foi na 2ª GM, num ataque dos Partisans (liderados pelo Tito). A ponte foi recriada para o filme “The Battle of Neretva”, nos anos 60.

 

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Dentre os vários assuntos que conversamos, nosso guia nos falou da novela O clone, que fez sucesso por lá. Elogiou muito, disse que foi a primeira vez que ele viu o islamismo sendo bem retratado. Outra coisa que nos contou foi de um amigo dele que, durante a guerra, foi baleado na frente dele enquanto jogavam futebol. Está vivo até hoje.

 

Chegamos a Mostar já de tarde. A cidade é pequena e bem charmosa. É a região no entorno da ponte e... basicamente só isso! Ou melhor, tudo isso, porque a ponte (e o entorno) é muito bacana mesmo.

 

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A ponte

 

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Vista do alto da ponte

 

Mostar foi devastada por uma outra guerra que a Bósnia teve de enfrentar: contra os croatas, antigos aliados na guerra contra os sérvios. Uma guerra dentro da guerra. Tudo indica, a muito grosso modo, que Sérvia e Croácia chegaram a um acordo para ratear a Bósnia. Sem perguntar aos bósnios muçulmanos, claro. Enfim, Mostar ainda tem muitas marcas de guerra. A pior delas foi sanada: a famosíssima e histórica Ponte de Mostar atual é (infelizmente) uma réplica da anterior, que foi destruída pelos croatas na guerra.

 

Fotografada de tudo quanto é ângulo, repleta de restaurantes nos arredores com vistas panorâmicas para ela, e ainda lojinhas para todos os lados, a Ponte de Mostar é o grande atrativo turístico da Bósnia.

 

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Ruazinhas de Mostar

 

“Forgive, not forget”. Esse é o lema que prevalece na Bósnia, sobretudo em Mostar. Perdoar sim, mas sem esquecer. Pareceu-me justo. Escapei rapidamente do centro histórico para conferir os prédios que ficavam na linha de guerra com os croatas. Alguns já foram reformados, mas um deles permanecia com marcas terríveis.

 

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Enes (o guia) perguntou quanto tempo queríamos ficar por lá. “Meia hora?” Ahahaha, até parece que ficaríamos só aquele tempo naquela beleza de lugar. Passeamos um pouco, depois Katia ficou no centrinho e eu fui conferir o estado de algumas regiões que ficavam nas linhas de guerra. A cidade é pequena. Ou melhor, a parte histórica da cidade é bem pequena, você percorre em pouco tempo. Mas é muito bonita com aquele rio cruzando e aquela ponte. De modo que convidamos o guia e o motorista para esticarmos o bom momento num restaurante (com vista para a ponte, claro!). Eles toparam, e assim curtimos mais uma horinha por lá. Muito bacana. Realmente é um lugar que merece dormir ao menos uma noite.

 

Voltamos para Sarajevo, passeamos um pouco e fomos jantar. Sempre cevapcici! Fomos num restaurante recomendado e a conta para dois saiu por 4,5 euros! Viva o cevapcici e o iogurte como bebida nas refeições!

 

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Cevapcici!

 

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Fonte de Sebilj

 

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Academia de Belas Artes de Sarajevo e ponte “Festina lente”

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Dia 18 – Sarajevo - Bruges

Nosso último dia de Leste Europeu. Saímos cedo para passear pela cidade, como sempre. Tomamos nosso tradicional burek com iogurte, tomamos um café bósnio (que é igual ao turco e ao sérvio). Flanamos pela área mais bacana de Sarajevo, esticamos para o outro lado e percorremos novamente as diversas ruas de pedestres da cidade. Foi nossa despedida. O dia seria de transporte.

 

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Igreja da Mãe Sagrada e estátua que representa a paz

 

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Um dos vários cemitérios a céu aberto espalhados pela cidade

 

 

Considerações gerais sobre a Romênia, Sérvia e Bósnia:

 

De um modo geral, em todos os três países, as pessoas foram muito simpáticas conosco. Em média, mais calorosos do que na Europa Ocidental.

 

Os carros nos três países param na faixa para os pedestres (via de regra). Mesmo assim a galera (minoria) eventualmente atravessa fora da faixa e com sinal fechado para pedestres.

 

Na Romênia fuma-se em bares e restaurantes (praticamente em todos), mas não nas estações de trem, nem nos trens. Sérvia e Bósnia eu achei isso (fumar em ambientes fechados, sobretudo bares e restaurantes) menos frequente, mas tinha também.

 

Não vimos pessoas com pau de selfie. Não me lembro de ouvir brasileiros nesses países.

 

Os trens na Romênia são bem diferentes da Europa Ocidental. São bem mais baratos e são bem piores. Nem tanto em termos de acomodações internas (que não são ruins, mas são bem piores que na ocidental), mas principalmente em termos de estações de trem: a sinalização é precária ou inexistente. Algumas estações estavam bem mal conservadas. Várias delas mal tinham o nome do lugar ao chegarmos (você tinha de ficar procurando o nome da cidade!). As plataformas geralmente não estavam indicadas (Bucareste foi uma exceção), mas também não havia muitas. Os adesivos internos de sinalização de segurança (aqueles do tipo “não faça isso”) continham frases em romeno, francês, alemão e italiano. Nada de inglês! Será coisa da UE?

 

As rakias na Sérvia diferem muito. Tem as bem alcoólicas, e tem outras que parecem licor quase sem álcool.

 

Língua: As pessoas geralmente falavam inglês. Quando não, entendia-se (mas nem sempre, vide nosso “diálogo” na estação de trem em Vrsac). Por exemplo, uma moça de uma lanchonete em Sarajevo que não sabia se expressar em inglês para me dizer quanto custava os bureks e iogurtes que compramos. Abri a mão com as moedas para ela, que pegou as moedas necessárias. Tem de confiar, claro! Num mercado em Belgrado, não sei exatamente como, mas entendi uma simpática moça me falando em sérvio que eu teria de retornar a garrafa de vidro da cerveja pra ganhar um troco de volta. São coisas saborosas da comunicação viajante.

 

Considerações gerais específicas sobre a Bósnia:

Xadrez na pracinha: Numa praça de Sarajevo, sempre havia uma galera jogando xadrez na pracinha. Geralmente eram senhores. Eu bem que gostaria de puxar algum deles para conversar sobre o país (minhas conversas resumiram-se praticamente à galera mais jovem, que era criança nos anos de guerra), mas faltou-me o descaramento (ou iniciativa). Quando voltei para casa e fui reler os livros do Joe Sacco, vi que ele também menciona esse xadrez da praça.

 

Desemprego: Ambos os nossos guias destacaram esse aspecto no país; diziam ter formação mais ampla, mas que eram guias por falta de opção. Pessoas qualificadas sem oportunidades nas áreas em que se qualificaram. Em tese, parece que a Bósnia é paraíso para multinacionais.

 

Comida: Cevapcici. Como eu adorava comer isso. Aliás, como era bom comer qualquer coisa por lá! Bom e barato, muito barato. A comida boa deve ser pela influência muçulmana, não sei. Aliás, a Bósnia deve ser o país com mais mesquitas, proporcionalmente, na Europa.

 

Lixo: Infelizmente vi uma boa quantidade de lixo nas encostas de rio na Bósnia, tanto em Sarajevo quanto em Mostar.

 

Marcas de guerra: Não é difícil achar prédios com marcas de tiros na Bósnia. Seja em Sarajevo, seja em Mostar, praticamente basta levantar os olhos que você acha. Em Sarajevo, se você tiver dificuldades em encontrar, caminhe em direção à chamada Sniper Alley. É uma avenida que ficou tristemente chamada assim porque era uma aventura caminhar por ela durante a guerra: snipers sérvios atiravam do alto das montanhas nas pessoas nas ruas.

 

Vi armas de brinquedo à venda em Sarajevo. Chega a ser chocante hoje em dia, mas havia coisa semelhante no Brasil na minha infância. Taí um ponto em que acho que estamos mais avançados.

 

A Bósnia foi um lugar que eu gostaria de ter tido mais dias para explorar mais. Talvez por esse interesse que eu tenho pela história do país, não sei. Faltou conhecer museu em Sarajevo, faltou passar ao menos uma noite em Mostar, e gostaria muito de conhecer Srebrenica e Gorazde, nem que fossem como tour de um dia, bate-volta. O interesse por Gorazde é em função de uma excelente HQ que li do Joe Sacco.

 

Aliás, neste mês de julho Srebrenica relembra 20 anos do genocídio.

 

Para quem se interessar, seguem as HQs do Joe Sacco sobre a Bósnia:

Gorazde

Uma história de Sarajevo

 

[se você quiser apenas um para saber um pouco da guerra na Bósnia, não hesite: leia o Gorazde]

 

 

 

 

Fomos para o aeroporto de Sarajevo, de onde pegamos nosso voo da Germanwings para Colônia, Alemanha. Foi bem mais tranquilo e confortável do que a WizzAir para Bucareste. E foi exatamente no mesmo dia, e quase na mesma hora, do acidente com a Germanwings na França. Que eu sabia ou tenha visto, ninguém no aeroporto sabia. É o tipo de coisa que deve gerar pane. Só fomos saber dentro do trem, já partindo para a Bélgica.

 

Chegamos em Colônia e logo compramos passagem de trem para Bruges. Comprando na hora sai caro, claro (bem mais caro que a passagem de avião desde Sarajevo!), mas achei preferível assim do que arriscar comprar antecipado e perder o trem (e ter de comprar novamente!) em função de eventual atraso no voo. E lá fomos para Bruxelas de TGV. Foi quando tivemos acesso à inet e recebemos a notícia da tragédia no Germanwings.

 

Conectamos em Bruxelas para Bruges, onde já chegamos de noite. E com chuvinha fininha.

 

O relato aqui retorna ao post sobre Luxemburgo e Bélgica.

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  • 6 meses depois...
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Oi, Keka! Obrigado!

Curti muito a Romênia. teria ficado mais um dia em Bucareste (espero voltar), teria esticado até Cluj Napoca (ou entrado no país por lá), teria tentado desviar para Maramureș... Mas é aquela coisa, temos de selecionar os lugares para caber dentro do tempo disponível. :)

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