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Torres del Paine - Diário de uma Travessia


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[t1]DIÁRIO DE UMA TRAVESSIA EM TORRES DEL PAINE, POR LEONARDO.[/t1]

 

 

Chegamos de tarde a Puerto natales. Quanto tempo! 3 anos sem ver aquele porto, aquelas ruas, aqueles lugares tão caros à minha memória, ufa.- explicando: quando estiver escrito "ufa", é porque estou dando um suspiro de olhos mareados, emocionado com lembranças daqueles dias que relato, um saudosismo gostoso de sentir. (rimou?, hahaha)

 

Depois de alguma ponderação, seguimos com a senhora do "hostal caribe". Chegando lá, que surpresa, era um agradável e aconchegante hotel, raro momento na viagem. Depois de acomodados saímos nós quatro para fazermos as compras para a caminhada, comida e combustível para o fogareiro. Tudo comprado(inclusive 4 cervezas australes) fomos eu e Clarisa procurar os malditos botijões de gás butano. Depois de 2 horas procurando, encontramos quase que no último suspiro, numa loja escondida. Perdão, não contei, era domingo, com quase tudo fechado. Ter que esperar o outro dia para poder ir para torres seria muito frustrante.

 

Voltamos ao caribe e encontramos Vinícius e Bira já meio "alegres" devido a nossas australes, já tinham tomado as 4. Saímos então para comer alguma coisa, e para preparar-nos "psicologicamente", tomamos mais umas australes geladas.

 

Antes de dormir, ainda tivemos que arrumar a mochila, separar o que levaríamos e o que deixaríamos no caribe, tarefa meio complicada decidir que roupas não te deixaram morrer de frio e que ao mesmo tempo não te torturarão com o excesso de peso.

 

 

Às 6 horas da manhã já estávamos tomando café-da-manhã, com um devido(e já clássico) atraso do Vinícius. Meia hora mais tarde, estávamos dentro do ônibus a caminho do parque, sem não antes um city-tour forçado em Puerto Natales, "catando" cada passageiro em suas hospedagens.

 

Já na estrada, eu ia tentando reconhecer alguma paisagem já vista, ia atento, vendo tudo. A ansiedade era bem grande, afinal era um sonho, e sonhos tem que ser perfeitos, nada poderia sair errado, não queria de maneira nenhuma frustrar-me, tentava fazer tudo da maneira certa. Nesse momento a "maneira certa" seria simplesmente ver a paisagem e tentar avistar lá de longe a cordilheira.

 

Depois de algum tempo, acho que 1 hora e meia, avistei uma cordilheira, acordei meus companheiros de viagem rapidamente--olha lá as torres, olha lá! São tão grandes! , resumo da história, não era a cordilheira paine, hahahaa.

Algum tempo depois lá estavam, agora sim eram elas, pude reconhecer as três torres, magnífico! Nada mais que isso.

 

Descemos na laguna amarga, o tempo era meio frio, e! pensei: lá vem o frio...meio que sugestionado pela idéia patagônica que todos têm. Pagamos a entrada no parque, relatamos nosso itinerário aos guarda-parques. Eu pessoalmente ainda possuía uma dúvida sobre um trecho da trilha, lá fui eu perguntar-- Onde começa a trilha?

 

" lá em cima, sobre as arestas do risco, na vertigem da eminência do mundo, ele tem certos direitos, não à segurança, mas aos meios de sua própria segurança. Que seria de suas vidas se ele não saísse das trilhas demarcadas? O direito à vida não é nada sem um outro bem, o direito a aventura! A l'aventure!"

 

Perfeitamente instruídos, saímos para o primeiro dia do resto de nossos dias...hahaha, pronto, não me faço mais de poeta, é a última vez.

 

Nosso plano para esse dia era caminhar até o acampamento Serón(5h) e depois seguir para o Coirón(mais 3h), onde pernoitaríamos.

Começamos a andar às 10h30min.

Como em toda caminhada de longa(ou longuíssima) duração, o começo é animado, ritmo forte, papo corre solto, ou seja, animação total! O Bira ia com seu GPS marcando os pontos, informando-nos da velocidade com que caminhávamos, km percorridos, etc...(logo adianto que essa não será uma rotina, hahaha).

 

As primeiras duas horas foram de tranqüilidade total, a não ser por umas chuvinhas safadas que iam e vinham, obrigando-nos a botar e tirar o anorak. Confesso que minhas patinhas doeram um pouco nessas horas, as costas da Clarisa também doeram um pouco. Essa mancada,confesso, foi culpa concorrente com ela, primeiro por que ela levava uma mochila "anexada" na dela, uma mochila de ataque.Tenebrosa idéia desse escriba que vos fala. Agora a culpa de minha amada: sua mochila não tinha peitera! Já adianto que esse foi o único dia em que ela usou essa configuração esdrúxula de mochila.

 

Voltando aos caminhos de minha história, eles estavam cheios de margaridas, pareciam quadros de Monet -Essa tirada ficou meio brega, né? Poxa, mas realmente isso que pareciam. Eram campos inimagináveis, pareciam neve ou sal, sei lá, nunca mais esquecerei.

Obviamente que tiramos muitas fotos, de todos os ângulos, mas não deu para captar a verdade.

 

Bem, tínhamos que completar esse primeiro trecho de 5h até o Serón, e quão longas foram. Chegamos meio que arrastando-nos, pés doidos, costas prejudicadas, mas teríamos duas horas de descanso antes de seguir mais 3 até o acampamento Coiron. O lugar era simplesmente mágico, bem no meio de um desses campos de margaridas, tinha umas mesinhas, uma cabana. Ali preparamos a primeira comida da caminhada, se bem me lembro foi um bom miojo.

 

Hora de seguir a labuta, afinal seriam mais três horas, isso imaginávamos. Começamos a caminhar, depois de 40 minutos, estávamos seguindo uma curva de nível num morro, a trilha mais marcada parecia que subia abruptamente a colina, cortando essa curva de nível. Já olhando o mapa, parecia que ela seguiria essa curva de nível até contornar o morro. Inclusive existia uma certa pegada onde imaginávamos seguir a trilha(infelizmente!), por isso continuamos por ali mesmo. Depois de uma hora, percebemos que estávamos no caminho errado, uma hora de esforço em vão! Decidimos voltar, digo decidimos, mas na verdade quem estava decidindo era eu e Bira. Vinicius e Clarisa nessa hora ficaram mais esperando nossas decisões.

 

Voltamos então até o ponto onde tivemos nossa primeira decisão bizarra, nossa em termos, confesso: foi minha decisão! Eu errei!

Deste ponto teríamos que subir uma bela colina, bem íngreme. Já estávamos caminhando a mais de 7h e não foi nada fácil, sem contar que faltava pouco para escurecer. Bira inclusive teve a singela idéia de bivacar ali mesmo, mas insisti para que continuássemos, pois faltava pouco. Nesse ponto depois da subida da colina, se abriram maravilhosas paisagens, podia-se ver o campo de gelo sul, muitas montanhas, simplesmente espetacular. Pena estarmos tão cansados e não aproveitamos muito. Eu e Clari só comíamos chocolates para dar uma força.

 

Com o Record negativo de 10h, chegamos ao "añorado" acampamento Coiron, armamos as barracas, comemos e entramos em coma profundo dentro de nossos sacos de dormir. Esse foi nosso primeiro dia em torres del paine, a patagônia nos dizia bienvenidos!

 

Esse dia nada mais que 3 h de marcha, foi um descanso penoso dia anterior. O trecho é simples, o único inconveniente fica por conta dos charcos, fique de olho nos troncos, serão uma ajuda para atravessar os pântanos. Ao chegarmos montamos logo as barracas e nos metemos nela, visto que caia uma gelada chuvinha. Logo de algum tempo, apareceram os picos que rodeiam o acampamento dickson, aleta del tiburon, cota 2000 e outros. Eu e Bira ficamos na espreita para fotografar-los, aguardando uma luz que não veio.

Enquanto aguardava o momento para fotografar gritei para que a Clarisa saísse da barraca, hahaha! Ela só saiu depois de uma hora de insistência.

 

O terceiro dia de caminhada seria novamente brando, não mais que 4 h de trabalho. A trilha vai quase que inteiramente por dentro de um bosque de lengas muito bucólico. O problema está em saltar uns 1673 troncos caídos, isso com a mochila bem pesada, herg! Depois de umas 2h passamos por uma bela cascata, linda.--- Vale um adendo, o personagem PAPAI NOEL: nesse ponto conhecemos o famoso Papai Noel, um senhor suíço muito parecido com nosso personagem infantil, mas fica no físico apenas a semelhança, pois seguimos encontrando o papai Noel pelo resto da viagem, e sempre com encontros desagradáveis, papai Noel se mostrou um cara muito chato.----voltando à caminhada, algumas horas depois, começamos a avistar uma moraina, que imaginávamos ser do glaciar los perros, nosso destino do dia. Com uma ansiedade brutal por vermos de perto nosso primeiro glaciar da trilha, Clarisa, eu e Vinícius tiramos a mochila e começamos a subir correndo a moraina. E valeu a pena, avistamos aquele glaciar, exatamente aquele tipo de paisagem que buscávamos em torres del paine. Nos metemos atrás de um bloco para proteger-nos do vento e ficamos ali quietos curtindo aquele bom momento da vida.

 

Voltamos então ao encontro do Bira e seguimos a trilha, mais uns 20 min e estávamos exatamente em frente ao glaciar, moral da história: subimos a moraina naquela pressa a toa, a trilha passava exatamente em frente ao glaciar! Hahaha, mas foi emocionante aquele primeiro encontro com o "los perros".

 

Nos acomodamos no acampamento los perros, este ficava num bosque ao lado do glaciar, possuía banheiro e um refúgio, era um belo local para nosso primeiro dia de descanso. Durante a tarde, conhecemos o chileno que tomava conta do refúgio, o cara era o maior papo-furado, cascateiro que só ele, mas muito agradável de conversar. Dividimos um mate com um belo dedo de prosa. Falamos sobre as trilhas do parque, o passo que atravessaríamos em dois dias, as nevadas e outras. Conhecemos também um casal de arquitetos cariocas. Estavam viajando pelo Chile e nos indicaram como ótimo lugar, Pucon, mais tarde obedecemos a dica.

 

Essa noite, creio, foi um daqueles momentos perfeitos, sem contar o desentendimento com uns alemães meio bêbados, conto a história: os caras estavam dominando o refúgio, no caso um abrigo de plástico equipada com um aquecedor de latão movido a lenha, falando alto, gritando, etc...por horas. Quando eles saíram, fomos nós quatros aproveitar aquele lugar. Eu fiquei incumbido de pegar uns tocos de madeira que estavam caídos do lado de fora, enquanto tentava corta-los com um machado, um dos alemães passou por mim reclamando do ruído, que poderia estar incomodando seus amiguitos nas barracas, pensei: tremendo filho da puta, até um minuto atrás estava fazendo o maior algazarra, gritando, etc, agora vem falar comigo? Que tremendo safado, não resisti e mandei ele tomar "naquele lugar" em bom português. Como o cabra já estava mais pra lá que pra cá, foi-se pra barraca sem mais confusão. Respirando fundo para que esse incidente não arruinasse aquela maravilhosa noite, voltei para o abrigo. Tomamos uns chimarrões, conversamos, tiramos umas fotos, ufa, que saudosismo me dá ao escrever sobre momentos assim.

 

No outro dia não fizemos absolutamente nada! Só uns alongamentos, um passeio ao glaciar e conversas com o pessoal que passava. Um dos melhores foi o "Califórnia", um californiano com mais de 55 anos, fazia a trilha em solitário no sentido horário. O cara era o rei dos "causos", desde ir se arrastando por três dias nas rochosas depois de uma queda, passando por salvamentos milagrosos nos Andes e terminando com seu último resgate, ali mesmo nas torres del paine. O cara era um enciclopédia montanheira viva, valeu o papo.

 

O outro dia era o de atravessar o passo jonh garner, meros 400m de desnível. O único inconveniente é a primeira parte dentro do bosque, simplesmente um pesadelo em forma de lama, uma hora e meia com barro e lama até o joelho ou mais alto, é mole? Já instruídos pelo pessoal do refúgio, fui de sandálias, essa decisão até hoje não sei se foi boa ou não. Me explico: deixei a bota seca e tudo mais, todavia quase congelei o pé, sem contar os arranhões. Foi brava a coisa, Vinícius foi de botas mesmo, ficou toda molhada. Saindo bosque, já na parte mais alta, vai-se seguindo as marcas laranjas nas pedras, atravessando os neveiros. É um paisagem simplesmente fantástica, visual de alta montanha, glaciares, picos de granito...e vai-se galgando o vale. Logo a frente, onde não se possa mais subir, está o topo do passo.

Nesse momento nada me prepararia para o que veríamos, eu nem imaginava o que estava bem a nossa frente: a lingüeta Grey do campo de gelo sul, o galciar grey propriamente dito, indescritível. Km e km de gelo puro e sólido, lá em baixo.

Nós ainda teríamos que descer todo aquele desnível naquele mesmo dia. Neste ponto do passo a trilha é de cascalho puro. Depois do impacto da visão, descemos alguns metros até um ponto onde poderíamos descansar um pouco, Vinícius e eu tiramos nossa botas molhadas, depois ficamos só curtindo aquele momento único e tão esperado.

A descida a partir desse ponto é um pequeno pesadelo, desnível de 500m até o acampamento de los guardas. Cheguei nesse ponto particularmente debilitado por causa da descida, o pessoal queria seguir até o acampamento grey, mas empaquei com os planos do grupo, tinha as pernas bambas e me sentia sem forças.

 

Essa, creio, foi a pior noite, eu e Clarisa dormimos numa inclinação horrível, passamos a noite escorregando dentro de nossos sacos de dormir. No outro dia, amanheceu um tempo chuvoso e bem frio, desarmei a barraca com as mãos quase congeladas. Na hora em que saíamos para o refúgio Gray, 4 horas mais a frente, chegavam dois grupos do passo, os caras estavam simplesmente congelados, pegaram uma nevasca feia lá em cima, o pior era que enquanto o casal de argentinos estava todo equipado, uns adolescentes chilenos estavam encharcados com suas blusas de moletom e lã, pasmem, deu pena dos moleques.

 

Esse dia foi tranqüilidade pura, depois de atravessar uns rios, subir umas escadas nas erosões desses mesmos rios e curtir a visão do Gray bem do nosso lado, lá estávamos tranqüilamente acampados no refúgio gray. Bem diferente dos dias passados, de chuva e frio, no Gray estava fazendo um tempo benigno e gostoso, aproveitamos para tomar um vinho de caixa comprado no armazém e curtir um belo final de tarde( lá pelas 10 da tarde? É, anoitece depois das 10 na patagônia sul) ------ mais um dia perfeito!

 

Me lembro agora de um pensamento que tive em torres del paine, acho que é quase uma dica de viagem. Vamos a ele: depois que estive em 98 no parque, algumas lembranças me vinham constantemente a cabeça: sempre recordava do sai em que eu e Clarisa subimos as torres. Tinha essa recordação tão vivo, gostava tanto desse "dia perfeito", que ele sempre me voltava em sonhos. Como sonhei repetidamente com aqueles lugares! aquelas sensações!-- Ufa de novo-desta feita, me ocorreu a idéia de tentar decorar bem cada lugar, cheiro, clima, diálogos e sons, para depois que eu voltasse, ter novas "imagens saudosistas perfeitas". Com se pode notar nesse texto, fiquei com muitas e muitas imagens.

Sobre o comentário que isso é quase uma dica de viagem, isso por que indico a todos esse exercício, é um álbum de fotografias sentimental do lugar.

 

Voltando a suar a camisa, esse dia seria bem duro, 7h de marcha. Mas também seria um dia especial para mim, estaria caminhando as pegadas de um casal recém formado, éramos eu e Clarisa no ano de 98 passando por aquelas trilhas. Agora estávamos passando por lembranças tão lindas, que tanto nos marcaram - ufa --, éramos veteranos do W, seríamos os gguias, os mestres, hahahahhaha! Olha, cabo de ler esse dia no meu diário de viagem, acho que vou reproduzi-lo aqui, está bem autêntico e traduzirá bem o que foi:

 

"14/01/2001

 

tudo preparado, 6 horas nos esperavam, estava feliz. A partir desse ponto pisava em território já conhecido, não que goste de estar em lugar mais seguro, gosto do desconhecido, gosto de ser afrontado. O que me atraia nessa situação eram as lembranças "añoradas" de 98. Clari e eu nos conhecendo, primeiros contatos coma natureza brava. Recordações que inundavam meu coração com água morna.

Saímos a todo gás, Bira acelerado como kamikaze louco(como sempre!), íamos sendo maltratados por vento, chuva, sol, quase que todos ao mesmo tempo. De qualquer forma a caminhada era agradável. Mesmo assim faltando uma hora para a primeira parada (refúgio pehoe) rogava por chegar! Descansamos por uma hora no pehoe, chovia e fazia frio.

Seguimos então para o acampamento italiano, logo na primeira subida fomos freados, aturdidos pela visão fantástica do lago pehoé, verde de sonhos. Seguimos e logo mais aturdimento, estavam diante de nós os cuernos sob o sol, fantásticos! Sem contar o quadro que se formava a nossa frente: um lago(não me lembro o nome!) com formações de redemoinhos na água, devido ao forte vento, e os cuernos no fundo. Mas a partir daí acabou a felicidade e começou o vento e chuva, juntinho com a fadiga. Chegamos ao italianos arrastando-nos, chuva e vento fortíssimos! Lutamos para armar as barracas. A noite foi terrível, ventos fortes varriam o vale e enchiam a porra da barraca de poeira! Não foi uma noite agradável."

 

Depois de ler essas linhas de frio e vento, posso atestar:é uma delícia estar nessas situações, a raiva só dura enquanto suas mãos estão geladas e seus pés doendo. Passado o momento, tudo fica bem. Restam as lembranças depois.

 

Pela manhã os ventos estavam mais mansinhos, até o sol deu uma despontada. Esse era o dia de subirmos o vale do francês. Queríamos chegar ao acampamento britânico, onde fica um mirante espetacular do vale, onde se podem avistar diversos picos, aleta del tiburon, la máscara, etc. Só para ter uma idéia de localização, no fundo vale estão essas montanhas que citei, atrás delas, lá do outro lado, fica a área do acampamento dickson que havíamos passado alguns dias antes.(é só dar uma olhada no mapa que está disponível no link "MAPAS").

Comemos algo e partimos para a subida do vale, a trilha é muito bonita, vai bem ao lado do glaciar francês e com os cuernos todo o tempo a direita, o tempo estava perfeito, sem nuvens. Depois de meia hora de caminhada, Clarisa começou a sentir-se mal, sentamos um pouco para ver se ela melhorava. Seguimos caminhando, mas Clarisa não resistiu a vontade de vomitar, estava realmente sentindo-se péssima. Foi com pesar que vi Vini e Bira seguindo e não ali parados. Confesso que fiquei com raiva da clarisa por não poder continuar, ela insistiu para que eu seguisse com eles, mas obviamente não a deixaria passando mal descer. Minha raiva passou em 3 min também, há de se ressaltar.

Ao chegarmos à barraca, preparamos uma monstruosidade macarrônica! Uma porção para cinco pessoas! Devoramos até quase desmaiarmos de excesso de carboidratos. Só para lembrar, esse foi o remédio que prescrevi para a Clari, muita comida! Ela realmente melhorou. Vinícius e Bira retornaram pela tarde com notícias de maravilhas mil, eu e Clari marcamos para uma nova data, Oxalá.

 

O dia no italianos amanheceu péssimo, vento e chuva, sem contar que a noite foi a mesma coisa, poeira, vento e chuva. Desarmamos as barracas e partimos para o que eu já adianto, foi um dia leve, quase um passeio.

Depois de uma hora e meia estávamos no refúgio los cuernos. Vinícius comprou o chocolate mais caro de todos os tempos, 7 dólares e nós uns pãezinhos. Recadinho particular para a Clarisa: lembra da briga estúpida pelo pãozinho? Hahahahha! É, depois de alguns dias de esforço físico e privações, as pessoas, algumas vezes(muitas, né clari?) podem ter mudanças repentinas de humor. Depois dessa parada estratégica, seguimos rapidamente para o refúgio las torres.

 

Refúgio e acampamento las torres. Aqui acabou, "de direito" a travessia da cordilheira paine, estávamos num verdadeiro acampamento 5 estrelas, banheiro com água quente, churrasqueiras, famílias inteiras...não contei: compramos um pão idílico no armazém do refúgio, nos parecia de sabor soberbo. Não sabia que sentiria tanta falta de pão.

Nesse dia da chegada, ficamos só curtindo o tempo ameno que fazia, tomamos chimarrão até não agüentarmos, comemos comida preparada na fogueira. Vivemos um verdadeiro dia familiar. Bem parecido com um dia no camping clube do Brasil...

 

Conhecemos uns chilenos bem bizarros, mas pareciam cantores de uma banda de pagode, só que escutavam led zeppelin, ozzi e outras pauleras, foi algo inusitado.

 

No outro dia subimos até a base das torres, 2h45min de uma só vez, quanta diferença de 98! Em 98 eu e Clari sofremos bastante para subir esse mesmo caminho. Agora em 2001 estava tudo exatamente como em minhas lembranças, o vale do acensio, a moraina acareo e as torres, inclusive neve caiu para recepcionar-nos. Lá em cima Vinícius me fez sair do sério, ele chegou obviamente com sua camisa toda molhada de suor e após alguns minutos estava congelando de frio..."- Vinícius, troca a camisa, bota essa seca que você trouxe..." e a teimoso do Vinícius só para não fazer o que eu dizia, continuou batendo queixo e com sua camisa molhada em baixo do anorak, é mole?

Conhecemos dois compatriotas, de Sampa, batemos um bom papo lá nas torres, que belo lugar para conversar...

Na descida, senti minha primeira contusão, as plantas de meus pés estavam bem doloridas, tornando o caminhar meio penoso. Vinícius e Bira desceram em disparada na frente e nos esperaram no acampamento.

Trecho do diário:

 

"No acampamento preparamos uma comidinha gostosa e já nos preparamos para a despedida da cordilheira paine. Havíamos completado o circuito".

 

Obrigado, amigos, por estarem juntos comigo, nessas linhas acima que narram semanas maravilhosas, a vocês-- Bira, novo amigo, Vinícius, primo e amigo de sempre e Clarisa, minha amada e companheira, dedico estas palavras:

AMIZADE:

"Si llueve, comparto mi paraguas. Si no tengo paraguas, comparto la lluvia"

 

Quando um de nós quatro voltará ao reino dos ventos? Espero voltar breve.

 

~~ FIM ~~

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  • Membros de Honra

Trotta meu querido amigo poeta!

 

Que relato maravilhoso, heim

 

Pude sentir através dele, o frio, o cansaço, avisão de paisagens esplêndidas rencompesando toda a caminhada, os machucados e o mal-estar e como vc disse: "Depois de ler essas linhas de frio e vento, posso atestar:é uma delícia estar nessas situações, a raiva só dura enquanto suas mãos estão geladas e seus pés doendo. Passado o momento, tudo fica bem. Restam as lembranças depois".

 

As lembranças são o q temos de mais valor, como eu te disse ontem, temos a necessidade de viver, com intensidade como se cada instante fosse o último.

 

Leo vou guardar as fotos e o relato da sua próxima trip,.

E, q ela seja tão insana e compensadora como esta..

 

Se cuida!

 

Da miga, Cláu

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  • Membros de Honra

Cad Girl,

 

parabens pela iniciativa de responder ao nosso poeta Trotta. Um texto com essa qualidade ficou por muito tempo esquecido nas ultimas paginas do Relatos e Expedições (ultima postagem antes da sua em setembro...) e traze-lo de volta à primeira página só enriquece o conteudo do nosso espaço e valoriza o trabalho do Leonardo.

 

Esperamos novos relatos do dois!

 

Thiago de Sa

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  • Membros de Honra

Thiago, infelizmente não sou merecedora desse parabéns.

Tem algumas semanas q conheci o Leo virtualmente e nos tornamos mto amigos compartilhando nossas vivências, relatos e fotos.

Ele q me deu um tok sobre esse relato e como boa amiga q não não poderia deixar de ler.

Realmente o relato dele ficou excelênte.

Eu como estudante de jornalismo não escrevo textos tão bons qto esse[:I], mas isso não é assunto pra ser tratado aqui né.

 

Bom o nosso amigo Trota vai fazer outra trip loka nesse fim de ano q nós estaremos aqui aguardando outro texto como este.

 

Abraços a todos

 

Cláudia

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  • Membros de Honra

Cad,

 

e onde estao os seus novos relatos?? Não me venha com desculpas, "ah, eu nao escrevo assim", "estou com gripe eterna", " a prima da mae da minha tia..." que a gente ja viu o seu potencial na louca historia caroneira pelo Espirito Santo!

 

Temos certeza de que vc esta nos escondendo mais algumas coisas, conta ai, vai?

 

Thiago de Sa

 

p.s.: vc é uma forte concorrente mas ainda continuo firme para ser o primeiro mochileiro a caronar na lua...

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  • Membros de Honra

Thiago não tinha pensado nisso!!

Pra mulher é mais fácil pegar carona, logo se vc quiser posso quebrar o seu galho e vc vir junto...rs

Senão é bem provavel q eu chegue a lua umas décadas antes que vc.

 

Em janeiro é possível que eu faça outro relato, por hora não tenho vivido grandes emoções, o trabalho e facu consumiram toda minha vitalidade nas últimas semanas, nem rola relatar isso , né

 

Bjaum[:x]

 

Cláudia

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  • Membros de Honra

Só se vc concordasse em dividir os louros da conquista. E quem tem de derrubar a bandeira americana sou eu! (ok, ok vc pode apagar as pegadas do Armstrong...)

 

Toda essa correria de fim de ano nao deixa de ser uma viagem muito louca, so que essa todo mundo ja sabe de cor.

 

Com toda essa correria, eu tbem estou me arrastando pra escrever a passagem pela Holanda, sem comentarios. Quando eu parir a criança, te aviso.

 

Bj

 

Thiago de Sa

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  • 3 semanas depois...

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