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Há pessoas que gostam de casas. Outras, de carros. Outras, de luxo. Eu gosto de viajar. Tudo o que faço, que planejo, o dinheiro que guardo, é pensando em viajar. Conheci quase todo o nordeste, sempre fui fissurado em praia. Neve, para mim, era um sonho distante e caro. Buenos Aires era, pensava eu, um arremedo da Europa. Ora, se é pra ver a Europa, que seja a própria. Andes, não, que pobreza! Achava que lá só tinha índios de xale andando de lhama! Como me enganei...

Arranjei um emprego decente e comecei a pensar em ir um pouco além as praias do Nordeste. Pintou então uma oportunidade. Vinte dias de folga no trabalho, milhagem suficiente, vamos para...Cuba, segunda quinzena de junho! Na época eu devorava livros de Pedro Juan Gutierrez, o escritor maldito, o Bukowski do Caribe, o que fazia me identificar com aquela ilha. Por mais castigado que seja o povo daquele país por décadas de tirania, o conjunto bagunça e praias de sonho fazia com que eu fosse louco para ir a Cuba.

A alguns meses da partida, porém, descobri que não tem como ir com milhagem pra lá. Agora não tinha jeito! No Brasil, não ia ficar. Até espanhol eu já arranhava. Arranjei um amigo louco que gosta tanto de viajar e de beber como eu e, quando soltei a bomba, ele me deu a ideia da América do Sul. Afinal, junho já era inverno. Inverno? Inverno não é em dezembro, Papai Noel e o cacete? É que sou de Belém. Aqui tem 2 estações: A que chove todo dia e a que chove o dia todo. Inverno é tão distante da nossa realidade como a primeira divisão para os nossos times e, por isso, confesso, não tinha a menor noção de quando era inverno no sul.

Sempre fui perfeccionista. Quando viajo, pesquiso o máximo possível, passo semanas respirando o lugar. Não tem nada pior do que descobrir que na cidadezinha que você passou tinha uma praia de sonho, ou uma casa de tolerância com escandinavas. :P . Por isso, comprei um guia e me informei sobre o básico da região. Como veremos a seguir, porém, não há planejamento páreo para a farra desregrada.

Chegou o grande dia. Embarcamos às 6 da manhã, rumo ao Galeão, para dali fazer uma escala em Guarulhos e chegar de tardinha em Buenos Aires. Chegando no Galeão, no primeiro bar tinha chopp...da Heineken! Foi um sinal divino de que não tinha como dar errado! Após a dúzia de chopps mais cara da nossa vida, embarcamos devidamente alcoolizados.

Na chegada em Ezeiza, após um almoço melhor que barra de cereal, inclusive com vinho, no avião, fizemos o câmbio no La nácion, depois taxi e hostel. Lembro quando falei pro Robson que ficaríamos em albergue, ele arregalou os olhos e começou a tremer: -Porra, cara, tá louco! Não vamos ficar em albergue! Eles comem nosso cu lá! Nem fudendo! - A comparação com os preços de hotel resolveu rápido a questão. O albergue era o Obelisco, e ninguém comeu o nosso cu, nem lá nem em lugar nenhum. Recomendo...Mesmo!

Fica no coração da cidade, na beira da calle Flórida, a 50 metros da 9 de julio e, como o nome diz, do obelisco. É um casarão histórico, o staff super prestativo, inclusive com dois brasileiros trabalhando lá na época, um deles, o Renato, gente finíssima. Tinha um cara que tomava conta do bar, o Pablo, show de bola. Muito legal, um dia ele atá mandou uma quilmes pra gente! Nem bem chegamos e começamos a mamar ali mesmo, alternando entre o bar do albergue e o fumódromo.

Umas 3 horas depois, seria a hora de testar a famosa parrilla argentina. O Renato nos indicou o Desnivel, mas, por conta da embriaguez, acabamos indo parar mesmo no famoso Siga La Vaca. Inclusive, eu por estar aquecido no albergue, acabei indo com uma camisa de algodão, básica, num frio de dez graus! Ao perceber o erro, pensei. Não, vem um taxi aí, a gente só vai comer e voltar pra beber mais.

Acontece que havia umas vinte pessoas na fila e tivemos que esperar...fora! Um frio da porra, e eu vestido como em Belém! ::Cold:: Era engraçado que todo mundo me olhava....Quem é esse doido? E eu, por mais que a tremedeira do corpo denunciasse o contrário, fazia cara de macho, segundo o Robson, eu era um verdadeiro russo!

Quando estava a um passo da hipotermia, chegou nossa vez . O sistema lá é meio diferente. Rodízio, mas não espeto corrido. Você pega o prato e vai no balcão, onde há dezenas de carnes, mas claro que a gente, por curiosidade, acaba comendo mais o bife de chorizo mesmo. Todas as carnes são incrívelmente macias, mas sinceramente? Nada como a nossa picanha. Legal é o preço, bem em conta, e a localização, em frente ao rio da Prata. Voltamos, enchemos a cara até dormir. A primeira noite superou as expectativas.

A manhã seguinte seria de compras. O staff do hostel nos indicou a Av. Córdoba, o local onde os argentinos compram. Fizemos a festa. Compramos quase toda a indumentária de neve e mais algumas coisas para usar no Brasil. Os preços são inacreditáveis, ainda mais para o belenense, que não tem uma 25 de março à disposição. Levamos uma malona vazia cada, o que atraia olhares preconceituosos dos mochileiros, maioria absoluta em qualquer hostel. No final, ainda tivemos que improvisar mais uma sacola pra levar tudo.

O que mais impressionou foi o sorvete, o famoso helado argentino, graças à herança italiana (aliás, não sei porque falam espanhol naquela porra. É só ver a escalação da seleção argentina e constatar..é tudo italiano!), considerado, possivelmente, o melhor do mundo. Torci o nariz. Belém tem uma rede de sorveterias considerada uma das melhores do Brasil, a Cairu. Estava morrendo de curiosidade de experimentar o tal helado, não podia ser tudo aquilo...

Na primeira heladería que passamos em frente, uma artesanal, não lembro o nome, na Córdoba, entramos e pedimos, como manda o figurino, de dulce de leche. Bom... era tudo aquilo e mais um pouco. É complicado de explicar, simplesmente inebriante, eu diria psicodélico. INACREDITÁVEL!! Depois, por incrível que pareça, constatamos que o Freddo (a Cairu de lá, em todo canto tem um) é ainda melhor!

Lembro que falei pro Robson que se tivesse grana, abriria uma filial em Belém, com o seguinte outdoor: “Freddo: Cairu es lo carajo!” :lol: Após tentar várias combinações, descobri que a perfeita para mim é metade doce de leite e metade chocolate amargo, e assim fiz todos os dias até o fim da viagem. Mas em breve, tal hábito me custaria caro. Chego lá.

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O segundo orgasmo gastronômico foi num café, localizado a uns 200 metros do hostel, esqueci o nome. Simplesmente não deixe de pedir em um bom café local o chocolate espeso. Vamos classificar como um cruzamento de toddy com brigadeiro, só experimentando pra saber. O Robson não entendia como eu tomava puro, sem misturar o leite que eles servem junto. Porra, nescau eu tomo no Brasil. Aquilo, só lá! Passamos todos os dias complementando o café que serviam no albergue com o chocolate espeso de lá. Descobrimos, no penúltimo dia, que o famoso café Tortoni ficava só a algumas quadras, com um chocolate espeso ainda melhor e um sanduíche de roquefort gigante, único. Aliás, roquefort eles tem pra dar lá. Na Argentina, tudo é exagerado, os ingredientes transbordam.

Nesse dia tinha uma festa no hostel, uma balada louca, com a gringalhada e a brasileirada virando bicho, com muita música brasileira inclusive. Sim, em BAS e principalmente em Bariloche, os brasileiros são quase sempre maioria. Pô, lembro que conheci nesse hostel um paraense loiro, de olho azul, e torcedor da Tuna, espécie de...de Portuguesa, de Ameriquinha, aqui de Belém. Você passa anos em Belém e não conhece alguém com essas características. Lá, tem! Nessa festa, conhecemos umas paulistas, passando 3 dias lá. O Robson se arrumou com uma, mas eu, bem, sou comprometido. :oops:

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Tinha uns peruanos com aquelas roupas típicas, tinha ingleses, australianos, gente de todo lugar. Conhecemos uma figura hilária, a Melissa, de Ribeirão Preto, que já morou na Europa : -Meu, quando eu morava na Inglaterra, tive problema no dente, o cara queria logo arrancar. Eles tem a boca toda podre, uma vez uma mulher me viu usando fio dental e perguntou porque eu usava aquilo. Meu, inglês fede, italiano é porco, espanhol não toma banho, francês é só a carniça, meu. :mrgreen: Nós nos esborrachamos de rir, atá cuspi um pouco da Quilmes. Aliás, é comum venderem a quilmes de 1l por lá. Tomamos tanto que quase enjoei. No dia seguinte...Bom, no dia seguinte teria Argentina x Equador, pelas Eliminatórias, no Monumental de Nuñes!!!

No dia anterior ao jogo, sábado, o pessoal do hostel ofereceu o ingresso para a gente, a 200 pesos. Pensamos, até pro Brasil tá caro. A gente perguntou onde poderia comprar, e aí veio a única e grave falha do hostel. Nos disseram que no ponto de vendas, o Luna Park, espécie de cadeia de eventos de lá, a fila tava dobrando o quarteirão, e que era melhor comprarmos logo, que já tava acabando. Esse Luna Park ficava lá perto, e resolvemos averiguar. Não é que não era mais ponto de venda? Que sacanagem da grossa! ::vapapu::

Decidimos ir no estádio. Valia como passeio, e podemos, no ônibus, ver o quanto é bela aquela cidade. Tudo em Buenos Aires parece brilhar. Chegando lá, nada de filas. Preço: 25 pesos!Isso mesmo, 25 pesos. ::grr:: Compramos logo o melhor ingresso, que custava 43, ridículos 24 reais que não pagam meia arquibancada em jogo da seleção. *Sobre argentinos: Aquele papo de que são arrogantes, grossos, é papo furado. O problema é que brasileiro é folgado mesmo. Chega na casa dos outros e quer deitar no sofá. Se você trata mal alguém orgulhoso como o argentino, ele te devolverá em dobro. Fomos SEMPRE muito bem tratados. É um povo prestativo, gentil, inclusive tagarela. Se você tentar falar espanhol, então, te carregam no colo. Pô, deixa de preguiça e estuda um pouco, antes de ir pra lá. Internet taí pra isso. Mas, cuidado. São muito malandros também, talvez tanto quanto o brasileiro. Lembro que as meninas disseram que a corrida para o Siga La Vaca custou 60 pesos e, pra nós, foi nove! E essa crocodilagem do albergue, pô... Vários hóspedes cairam no conto, contamos a verdade pra alguns, e acho que desde esse dia, um ou outro do staff passou a olhar meio torto pra nós.

Chegado o domingo, pela manhã, fomos com as paulistas ao bairro da Boca. El Caminito é lindo: Vários bares, pelo que vi caros, com mesas na calçada. Shows de tango na rua. É um clima pega-turista, mas vale a pena. Tudo decorado com azul e amarelo, ali se respira Boca Juniors. O sósia do Maradona é incrivelmente idêntico ao original. Robson, já alcoolizado em plena manhã, jurava que era o próprio! Cobra, acho, 5 pesos por foto. Pague, vale a pena. Estávamos com muita pressa, pois o Monumental, ou cancha de River, como chamam lá, era do outro lado da cidade, e iríamos de ônibus. Por isso, não deu nem pra entrar em La Bombonera.

Chegamos a mais ou menos 1 hora do início da partida. E, na hora, em vez de levar os ingressos, levei os mapinhas fornecidos junto. O mundo caiu sobre nós. Mas, eis que pegamos um taxi que fez os quase 20 km de ida e volta em apenas meia hora. A corrida deu apenas 40 pesos e chegamos a tempo de ver as seleções entrando em campo. O estádio é belo, majestoso.

Duas decepções: O jogo foi péssimo, a seleção argentina é ruim de doer, empatou sem merecer nos descontos, gol do Palácio. Outra é a torcida. Realmente canta o tempo todo, mas são cânticos frios, robóticos, sem emoção. Torcida é a brasileira. Torcida é a do Remo. Como pode um time que não vale nada ter, talvez, a melhor torcida do Brasil? Deus não dá asas pra quem sabe voar. A torcida do Paysandu também é fora de série, mas não como a do Remo. Vai ver, têm vergonha daquele uniforme que mais parece um pijama.

Vai aí um parêntese: O argentino é mais fanático por futebol que o brasileiro. Quando se engata um papo com alguém, a primeira pergunta é: De que parte do Brasil tu és? A segunda, invariavelmente: Pra que time tu torces? E no espanhol o L sempre tem som de L, nunca de U. Então, a palavra mais ouvida em todo canto era: RiqueLme. RiqueLme pra cá, RiqueLme pra lá...Inventei uma brincadeira com o Robson. Sabe quem tava lá? RiqueLme! Ele, mais pra frente, quase me mataria por isso. Chega de digressões, voltemos ao jogo. Riquelme joga muita bola mesmo. A classe personificada. Messi, nem se fala. Impossível roubar-lhe a bola. O problema são os outros nove...

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Na volta, após penar umas duas horas até pegarmos um ônibus, fomos jantar e tomar um helado próximo ao hostel e, aí, a burrada que quase me custa a viagem. Quando tava no terceiro sorvete, o Robson, com o espírito de porco que lhe é peculiar, me ofereceu dez pesos pra eu tomar do lado de fora, no frio, e fumando! Beleza. Apesar de viver num lugar onde se respira praticamente água, não sou de adoecer.

O castigo viria duas horas depois, uma dor de garganta forte, forte de verdade. ::putz:: Como não deixei de tomar sorvete nem de fumar bastante em nenhum dia, toda manhã, antes de sair eu passava uma meia hora expectorando, pelo nariz, e pela boca, meio litro de catarro, para ter condições de sair, fora o que saia durante o dia. ::essa::

Pouco antes, tomamos uma cerveja com a Melissa, aquela de Ribeirão Preto. Entraram dois ingleses, que encontramos lá no jogo e cumprimentaram a gente, todos os dois bem apessoados. Ela fez uma cara de espanto: -Meu, esses caras não podem ser ingleses! Eles não são australianos? Meu, inglês é do avesso! Esses caras são bonitos! -Que figuraça!

Dia seguinte, compras na calle Florida. A Florida é uma via exclusiva para pedrestes, onde há de tudo. Todo tipo de loja, de artista de rua, todo tipo de show, doleiros por todo lado. Foi a primeira vez que sacamos dinheiro na viagem. Fica a dica: Troque o necessário no aeroporto, até pelas moedas, mas no decorrer da viagem, saque a grana. A cotação é a do dia, mas você paga uma taxa de oito ou nove reais. Ainda assim vale demais a pena.

A Florida é sensacional. Procurando, se acha coisas baratas. Porra, comprei um tênis da puma, uns 500 reais em Belém, por 300 pesos. Assim, uns 160 reais. Se procurar bem, você encontra boas coisas em conta, mas lembre-se: Vá primeiro à Córdoba e ?à Murillo para comprar couro. O que não encontrar, procure na Florida.

Há um shopping chamado galerias Pacífico, coisa do outro mundo. Não compre lá, tudo é caro, mas vá, tome um helado no Freddo e contemple a opulência, o reino dos endinheirados, ou que fingem o ser.

Estava rolando uma apresentação de salsa na rua. Sobre argentinas: Aquela história de serem deslumbrantes é uma meia verdade. De rosto, de fato, são lindas. Agora, o corpo... Mal talhadas! Isso é regra. Falta de miscigenação é uma merda. Toda vez que alguma captava nossos olhares, não tinha erro: era brasileira! Voltando à salsa, eram mulheres esculturais, de uma maneira que é difícil encontrar até no Brasil. Porra, devem ser da América Central, sei lá, mexicanas. Salsa, e tal... Nada. Argentinas. Ficamos uma meia hora babando. ::ahhhh:: Eu até tentei dançar, fizeram uma espécie de concurso com os passantes, mas eu tava doente mesmo, o que me poupou de passar mais vergonha...

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Fomos almoçar na mítica Cabaña Las Lilas, em Puerto Madero, tida como a melhor churrascaria do mundo. O luxo do local, as entradas absolutamente deliciosas, o clima, tudo é deslumbrante. Mas a carne, honestamente, não era nada de mais. E foi o único local caro de toda a viagem. Mas não muito carto. Depois, andamos por Puerto Madero. É uma espécie de galeria na beira do rio, com restaurantes por todos os lados, numa extensão interminável. Lindo. Belém tem o seu, a Estação das Docas. Sem exagero, parece muito mesmo.

Mas eu tava fodido mesmo, não tava agüentando. Iríamos de madrugada pra Bariloche, então pedi arrego. O Robson voltou comigo pro hostel, num nobre ato de companheirismo, ou preguiça, ressaca, sei lá. Dormimos um pouco, acordei bem melhor a noite, e fomos jantar na pizzaria ao lado do hostel. Gigantesca, uns 400 lugares. Pensamos, pizza popular, não deve ser uma maravilha. Asseguro,uma das melhores que comi na vida. O preço, uma piada! Comem duas pessoas com vinho por 35 pesos! Bebemos, só pra dormir.

De madrugada, fomos ao aeroporto, rumo a Bariloche. Chegando lá, o vôo estava atrasado. Cada vez mais atrasado. Relaxamos, compramos óculos de sol, caxecol e duas garrafas de Black label a preço de contrabando, uma loja realmente show! Porra, engatamos uma conversa com o vendedor. Torcedor do Velez. Me explicava, com brilho nos olhos que torcer pelo Velez era como uma religião. Falou do incrível título da Libertadores e mundial de 94, sobre um São Paulo que já era uma caricatura do que havia sido até um ano antes. Quando lembrei do turco Asad, do filho da puta do Chilavert, do Muller humilhando o paraguaio nos dois pênaltis, e aí que ele se empolgou mesmo. Não falei pra ele, mas era um timinho de merda, retrancado, cagão, e o São Paulo foi vergonhosamente roubado no Morumbi. Como todo garoto da época, eu era louco pelo São Paulo, aquele time magnífico, e aquele jogo foi foda.

Bom, o avião não partia, descobrimos depois, porque um vulcão próximo entrou em erupção. Chegamos a entrar, com 4 horas de atraso, no avião, mas chegou a informação de que o avião que tava a caminho teve que voltar. Voltamos, aquela cagada, multidão revoltada, fomos pegar nossas malas. Aí que se vê que brasileiro é foda. Tinha um babaca que queria, "exigia" que o avião fosse assim mesmo! Assim como Robson, trabalho no aeroporto. Se um cara fala daquele jeito comigo...

Decidimos ir logo de ônibus. Conhecemos no aeroporto o Jairson, de Olinda, que morou um ano na Espanha, gente finíssima, e ele juntou-se a nós. E aí, olha a sorte. O taxista que nos levou à rodoviária passou anos fazendo esse trajeto e nos deu detalhes sobre cada empresa. Disse que a melhor era a Via Bariloche. Chegamos lá e tinha um saindo em três horas. Seguindo a dica do cara, pegamos as 3 primeiras poltronas, com o pára-brisa na cara. Espetacular! Ao mesmo tempo que dá medo, você fica de cara pra paisagem, por todos os lados. Acabou sendo melhor que avião.

O ônibus não faz paradas. Servem todas as refeições com vinho e sobremesa, a gente se sente na primeira classe! Mesmo chovendo o tempo todo (aquela região chove mais que Belém, embora sejam chuvas leves, a paisagem é de tirar o fôlego. Interessante também é que os agricultores estavam em protesto e, em cada cidadezinha, havia manifestações, com fogueira e tudo.

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Chegamos depois do almoço em Bariloche. Sentir a brisa gelada de um frio úmido, ao contrário da secura em BAs, falar e ver fumaça saindo é uma sensação inesquecível. :P Chegamos por volta de 15:00, fomos ao hostel, o 41 Below, discreto, pouco agito, num local bonito, enfim, satisfatório, e fomos bater perna no centro. Simplesmente você se sente na Suíça. Bariloche é um sonho! À noite, Brasil x Argentina, assistimos no Cocodrillo, dono alemão, boa cerveja e uma pizza de cervo memorável.

De madrugada, acabamos conhecendo um nativo e um gringo. Indicaram-nos um local, um pub. O papo estava meio estranho. Foi aí que percebi que os caras eram gays e queriam algo mais. Tive que falar duro, o nativo foi se saindo, o gringo se desesperou. Engraçado ver um cara de quase 2 metros se cagando de medo. Nada contra homossexuais, tenho um grande amigo gay, mas acho que o cara tem que saber onde pisar. Não lembro bem da história, porque tava bêbado, pra variar, mas lembro que o cara era malandrão, e acho que deve ter alisado o gringo babaca.

 

Dia seguinte, quando abrimos a janela do albergue, mágica! Tava nevando!! ::ahhhh:: Ver neve pela primeira vez é, bem... Fomos ao Cerro Catedral, a famosa estação de esqui local. Já nos informaram que as pistas estavam fechadas, não havia neve suficiente, só gelo. Esquiar no gelo é perigosíssimo.

Na base, conhecemos cinco baianas, impressionante como tem baiano em Bariloche, e lá, passamos momentos inesquecíveis, num bar com mesas de madeira fixas do lado de fora, cobertas de neve. Tomar um vinho ali, com aquelas belas e alegres meninas é uma experiência que vou guardar pro resto da minha vida. Chamamos tanta atenção que o cara do La Nación bateu uma foto da gente.

O momento alpino acabou quando Robson, já ébrio, tentou escorregar numa rampa e pegou uma queda linda, seguida por uma ainda pior do Jairson. Foi a senha pra avacalhação. Nos jogamos um por cima do outro, guerra de neve, éramos 8 crianças hipnotizadas pela magia de estar diante de algo tão belo e diferente. Lembro que um amigo meu, o Paulo Doido, me disse que na primeira vez que se sobe num teleférico de estação de esqui, a gente muda, pra sempre. Compreendi o que ele queria dizer.

Na primeira parada, só havia um bar/restaurante. Lotadaço de brasileiros e muito avacalhado. Mas quem se importa? Fizemos um esqui-bunda com saco plástico, demais, e fomos embora, embriagados de álcool e felicidade. Quando foi umas 6 da tarde, no albergue, Robson chegou, assustado: -Cara, fudeu. Me leva pro hospital. Desloquei a omoplata. -Coméquié? - Olha só! - Olha o que, porra!? -Não tá vendo? -Tá um pouco vermelho só. Tenta mexer o braço, vai lá. -Porra, tu tá com movimento normal, não tem hematoma, não tem dor... Tu és é um bêbado, caralho! Vai assustar a PQP, vamo, que a night patagônica nos espera.- Assim, refeitos, à noite, tomamos com as meninas um porre memorável, perfeito, no glorioso Wilkenny, meio pub, meio boate, com chopp artesanal, creio que a melhor balada da cidade.

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Hoje é dia de Cerro Campanário. Havia lido que era o local mais bonito de Bariloche. Era junho, e ainda não tinha quase neve, porque ao contrário do Catedral, o Campanário é baixo, só mil metros. Bom, teleférico, e lá em cima, um lugar realmente embasbacante. Estávamos, com certeza, na Suíça. Sem sombra de dúvida, foi a paisagem mais linda que vi na vida. São 360º de bosques, lagos e picos nevados. Lá em cima tem um café maravilhoso, com vários tipos de cerveja e cédulas do mundo inteiro afixadas pelos cantos.

Eis que vemos um gato selvagem vindo do meio do mato, acho que persa, lindo, e foi chegando, subiu na estaca, como que sabendo ser lindo e posando pra foto. Acho que a foto daquele gato com a paisagem no fundo foi a melhor da viagem. Tudo conspirava! Tudo menos uma ressaca encaralhante do Robson. O bicho tava mal. Seguimos ao cerro Otto, do famoso café giratório. O café gira constantemente, então você sempre tem a vista de todo o lugar. O problema é que gira rápido demais. Aquela altitude, a neve, tudo era novidade pro nosso organismo, adicionando-se o álcool e a minha garganta detonada. Aquela coisa girando, então, foi demais. Não vá de ressaca, por favor. É um local turistão, tem os São Bernardo pra fazer foto. Achei fraco comparado a Catedral e Campanário, mas vale a visita, sim.

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À noite, comemos um fondue no Le Marmite, ponto obrigatório. Na boa? Já comi melhor em Belém. Talvez não tenhamos dado sorte. Chegamos ao hostel, tomamos a garrafa de Black com um irlandês gente finíssima, que ficou maravilhado com caras da Amazônia ”speaking so fucking good english”. Sobraram quatro dedos e demos o resto a ele. Robson disse que deve dar muita sorte dar uísque a um irlandês.

Aí ele pediu arrego. Ficou e eu fui, lógico, completar meu porre no Wilkenny. Cheguei quase engatinhando, seis da manhã, acordei o elemento aos gritos: -Sabe quem tava lá? Sabe? O dono disso tudo!! Dono do bar, da cidade toda. Sabe quem era? –Quem, caralho? Fala logo! –RiqueLLLLLme!!!. Cara, quase ele me mata. Travesseirada, chute, a sorte é que ele tava grogue de sono. Dormi e acordei rindo pra caralho. Aí, só deu tempo de tomar um bom café, um sorvete e despedir do Jairson, parceiraço, com quem dividimos grandes paradas e grandes risadas.

Horas depois, nossa vez. Pucón. Eu tinha tudo planejado pra gente fazer a travessia de barco, o espetacular cruce de lagos, mas estava há três meses desativado. É que a travessia vai de um país a outro, e os dois têm uma rixa boba que paralisou o negócio. Na definição brilhante não lembro de quem, “a Argentina se acha dona de todos os lagos e o Chile, de todos os vulcões”. Pena, pena mesmo. Fomos então de ônibus.

Fomos informados de que a estrada por San Martin de los Andes estava fechada por conta da chegada do inverno, então fomos por fora, num caminho longo e sem graça. O ônibus rumo a Osorno atrasou umas três horas, uma merda. De Osorno saímos rápido a Temuco, última parada antes de Pucón.

Lá chegando, umas duas da manhã, um cenário de filme de terror. A rodoviária completamente deserta, exceto por um mendigo e uns dois funcionários, e nós ali, gringos e cheios de bagagem. Gelamos. Não havia qualquer rastro de taxi. O funcionário, um tipo suspeito, indicou-nos o local onde esperar o taxi. Dez minutos e nada. Cara, é casinha (emboscada, no dialeto belenense).

Ai, veio um carro, comum e disse ser taxista. E agora? Não lembro o que nos fez desencanar e relaxar. De tão aliviados, nem contestamos a sugestão dele de nos levar a Pucón, ao invés de pernoitarmos ali, por salgados 40.000 pesos, uns 150 reais. Sacamos, pagamos, vamo lá. É que no Chile as coisas são caras. Acabou aquela mamata de rodar a cidade de taxi e pagar um preço simbólico.

O cara era gente boa, disse que tinha música brasileira, inclusive “música da favela”. Ele tinha era umas coisas trash do começo dos anos 2000, Sandy, LAIRTON (o morango do nordeste!!!), breganejo, pagode romântico e outras merdas ainda piores. ::dãã2::ãã2::'> Fazer o que, ta no inferno, come o capeta, elogiamos. –Entonces, yo tengo buena música brasileña? -É, cara, tem sim...

Batemos no primeiro albergue que vimos em Pucón, o hostal Donde Egídio. Acordamos o dono. Ao perguntarmos o preço, ele disse: Docentos mil pesos. Como é que é? Não, muito caro, será que tudo aqui é assim? Não, vamo voltar pra Bariloche.-Bien, puedo hacer por diez mil pesos. Pô, esse cara é louco? De 200 para dez. Esgotados física e mentalmente, nem tentamos entender.

No dia seguinte, veio a luz sobre o ocorrido. Ele dissera doze, e não 200 mil pesos. :mrgreen: Cara, fomos tratados como da família. A mulher dele, Nydia, é como uma mãe. Envergonhados, pedimos desculpas pelo mal-entendido. Eles riram. Dividimos uma tábua de frios, comprada por 4.500 na rodoviária de Osorno, com salame de cervo, javali e dois tipos de queijo com eles e marcamos, na agência da frente, a escalada do vulcão Villarica para o dia seguinte. Pucón foi um impulso. Decidimos na última hora, portanto não tínhamos a mais vaga idéia do que nos esperava, só sabíamos, por alto, que era a “Bariloche Chilena”.

De Bariloche, Pucón não tem nada. Se aquela faz o estilo alpina, esta parece uma cidade americana, canadense, estilo colonial, cercas de madeira maciça, até o lago, esplendoroso, parece daqueles filmes americanos, e tem um quê de indígena. A cidade é simplesmente sensacional, mas lá, o inverno chega mais tarde, então estava vazia, quase deserta.

Então nos preparamos, o que quer dizer que comemos bem, bebemos pouco e tentamos dormir cedo, pois sairíamos sete da matina, o que naquele inverno é uma tortura cruel. Almoço, trutas, jantar, muita, muita carne. Não lembro onde, mas dois restaurantes muito bons e com bons preços. Não dormi quase nada. Acordei, pra variar, banhado em secreção (nas vias aéreas, que fique claro). Após lutar muito, no banho enchi uma mão de catarro verde, de uma vez. Pensei: Agora, vai! É hoje, papai!

Mas o dia tava meio nublado, senti que não ia dar. O cara da agência nos disse que a escalada estava condicionada ao tempo, mas que, de dez vezes, oito saiam. Fomos comunicados de que seria impossível subir. Depois que eu soube que seria muito difícil, pois a época propícia é o verão e só. Poderíamos tentar no dia seguinte, ou, à tarde, conhecer só a base mesmo. Pensamos: Mais um dia bebendo pela metade e dormindo cedo, pra na hora não ir de novo? Nem fudendo! Vamos fazer essa base e o resto, a gente vê.

Tinha mais uns seis que fariam a escalada, entre eles, três meninas cariocas, que ficaram empolgadas ao perceber que éramos brasileiros, e combinamos de alugar um carro. Ficaram de passar no nosso hostel, mas nada. Fomos beber, então. Paramos na calçada, num bar legal na av. principal, e vimos as três vindo. Falaram que tavam tentando alugar o carro.

Bem mais tarde, as vimos na base do vulcão, de carro! Viraram a cara. Aí, lembrei que quando dissemos ser de Belém, elas fizeram uma cara meio estranha, assim “credo, será que são índios, será que vão trabalhar de canoa, usam cipó, tropeçam em jacaré?” Quase todo mundo, ao saber da nossa origem, achava muito legal, ficava curioso, e fizemos amizade com todos com uma facilidade impressionante. Belém é uma cidade, além de bela, culturalmente efervescente, e com um senso de humor peculiar. Mas gente cretina tem em todo lugar, fazer o quê? :evil: As 14:00 embarcamos na kombi, rumo à base do Villarica. Levamos a outra garrafa de Black, reservada pra esse momento. Só nós na kombi. Durante a hora que passamos no vulcão, foi-se metade da garrafa. O motora da kombi esticou o olho pra garrafa. Oferecemos:

-Quieres um poquito? –Oh, si, si, gracias! O elemento puxou um copo e estendeu. Enchemos, ele agradeceu:-Muy Bueno, rico! Amaderado! Aí ele aumentou o som, anos 80, nossa praia. Quando rolou Voyage, Voyage, estávamos os dois doidaços, aquelas curvas rodeando a cordilheira, o abismo lá embaixo, e o motora pedia "más um poquito, por favor!" Foi quando ele começou a gritar: "Fantástico, amaderado! Brasileños, muy buena gente! Show de bola!!!" ::hahaha:: Potaqueopariu, bicho! Como pode uma coisa que deu errado dar tão certo? Acho que correríamos menos risco em uma avalanche no vulcão, bugue nas dunas é autorama perto daquilo, mas e daí?

Fizemos uma tirolesa num riacho, sei lá onde. Conhecemos inclusive uma coroa de Belém, muito legal, loira de olhos azuis (égua, de novo, onde essas porras se escondem em Belém?) Uma hora eu, mamado, não consegui frear e, se não levanto os pés na hora, podia causar um acidente sério com uma mulher. O guia: -Na próxima, te bajo! Ele não me “bajou”, terminamos, muito legal e fomos embora. Havia várias opções de passeio, parque, termas, mas, hoje me arrependo, resolvemos continuar bebendo.

Fomos num cassino muito escroto, uma merda mesmo, e ainda perdi meu cartão de banco. É que, tanto no Chile quanto na Argentina, a máquina engole o cartão e só devolve quando acaba a transação. A combinação de álcool e pressa, nesse caso, é perigosa. Liguei pra central, cancelei logo, ainda tinha um de crédito e um de débito, tranqüilo. Bebemos e comemos tacos num bar mexicano, muito bom por sinal.

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Dia da volta para mais 4 noites em Bariloche. Descobrimos que a estrada por dentro, pela rota dos 7 lagos, não estava fechada nada. Saímos às 11:00. A estrada é de tirar o fôlego! Batemos dezenas de fotos, lagos, montanhas e o imponente Villarica e sua fumacinha. Chegamos a San Martin, já no lado Argentino, por volta de 02:30. A cidade é inacreditável! Uma mini-Bariloche, até mais charmosa! Almoçamos, tomamos um helado razoável e pegamos o ônibus rumo a Bariloche. No caminho, meia hora em Villa la Angostura, outra cidadezinha de sonho.

Chegada a Bariloche, dia da final da libertadores, LDU X Fluminense, dia de Wilkenny, lotado de cariocas e o Fluminense, com aquele timaço, entra de salto alto, tem um apagão, leva 3 gols em dez minutos e o resto da história todo mundo sabe.

Seguimos a dica do Jairson e nos hospedamos no Marcopolo inn, desta vez. Demais, show! Quarto privado com banheiro particular, boate, mesão se bilhar. Conhecemos uma figura louca, que trabalhava lá, sabe um daqueles caras todos espetados com metal, malucão, com aqueles negócios de rave, ecstasy, explicando como conseguia droga e tudo.

Porra, lá pelas tantas chegam duas inglesas, lindas, uma loirinha, a outra do cabelo escuro, uns 20 aninhos. Quando descobriram que éramos brasileiros, nos puxaram pra dançar, assim mesmo! Dançar é eufemismo. Aquilo foi uma esfregação total, um zouk turbinado. Íamos até o chão, e a minha, como boa européia, ignora que o homem é que conduz, e se jogou pra trás com tudo, e eu tive que apará-la, com dificuldade. Na terceira vez que fez isso, não consegui segurar. Então, me joguei pra tentar amaciar a queda dela. Não sei como, a minha orelha ficou detonada, em carne viva, sangrando e roxa.

O pior, porém, não foi isso. Alguém comunicou-nos que os namorados das duas estavam lá, assistindo toda a palhaçada. –Porra, agora fudeu. São aqueles australianos enormes que tavam jogando bilhar com a gente! Não, eram dois branquelos raquíticos! Diz que eles falavam, olhando a dança, o chifre crescendo: -Brazilian people! Very caliente! ::lol4::

No dia seguinte encontramos as gostosas no Boliche Del Alberto, por sinal recomendável, e elas não conseguiam nem olhar pra nossa cara. Mas esse tipo de coisa é da cultura do europeu. O cara sai com a namorada, e fica cada um na sua, ela se esfrega em todo mundo, mas só isso. Um argentino tava me explicando que não entende esse tipo de comportamento, que os hermanos são como nós, territorialistas.

Descobrimos um bar fenomenal nesse dia: o Pilgrin, legítimo pub irlandês. Todo tipo de bebida imaginável, música ótima e o clima...Quero morar aqui. Lembrei de um livro muito bom, dado pela minha mãe, “achei a tua cara”: “Bar, Doce Lar”. Quero morar aqui! Os astros, sem dúvida, eram os chopps artesanais produzidos na região de Bolsón, próximo de Bariloche. Além dos tradicionais, tinha de mel, cereja, cassis, e o principal, de framboesa. Ao contrário do que parece, nenhum enjoativo, todos deliciosos.

Dia seguinte, nosso penúltimo, fomos conhecer o Llao Llao (se diz chau chau), um hotel tão famoso que no aeroporto e rodoviária tem placa indicando. Tivemos a opção de fazer um passeio de barco, mas não estávamos no clima. Tudo no Llao Llao é imponente, opulento. Majestoso. Fomos anunciados pelo vigia, dissemos que íamos almoçar, porque se disser que vai só conhecer, acho que barram.

O garçon já estava esperando. Fomos conduzidos a um janelão, com uma paisagem inverossímil. Um lago, montanhas no fundo, e cabras pastando. Ser rico deve ser muito bom...O garçon, Rodolfo passou o tempo todo conversando com a gente. –Ustedes están onde? Robson: -Estamos em um local similar a este, Marcopolo! –Oohhh, si, si! –Contou que era de Bolsón, contou história do local e do hotel, só não bebeu com a gente porque aí não dava mesmo.

Imagino que um cara desse passe o dia atendendo gente esnobe, insuportável. Quando aparecem caras como a gente, ele se solta. Todo o embaraço inicial acabou com aquela conversa e com a bebida.

Bom, fomos preparados pra uma extravagância. Duas refeições, sobremesas, um monte de cervejas e o melhor vinho de nossas vidas, Alegoria Malbec, acho. Quando a conta chegou, tivemos vontade de rir: 380 pesos, cem reais pra cada. Cara, isso se gasta em um restaurante bonzinho de Belém! Demos foi 60 pesos de gorjeta praquele cara fantástico! Fomos depois ao fumódromo de lá, uns camparis, cervejas, e a sensação inigualável de ser rico por um dia!

Na volta, mais bilhar no hostel, e...Pilgrin! Acabamos conhecendo um guia, dono de uma agência, que nos contou histórias cabeludas sobre o risco de esquiar quando não há neve. Não divulgam, mas há muitos acidentes. Contou sobre um empresário brasileiro, que chegou botando banca, como assim não dá pra esquiar, vim de helicóptero, etc..Liberaram a pista pro cara. Diz que a filhinha dele, de 10 anos, entrou numa pista errada e acabou desvirginada por um esqui! Pelo menos, conseguiram operar a menina.

Bom, no dia seguinte, a menos que outro vulcão resolvesse aprontar, voltaríamos a BAs de avião. O dia amanheceu assustador. Ventos violentos. Aquele barulho: FFFFFFFFFPouPou! Não me sentia seguro nem pra sair da cama, que dirá voar de avião. Concordamos que seria difícil algum avião voar nessas condições. O que não sabíamos é que isso é muito comum por lá, e brincadeira pra avião. Teve vôo, sim, tranquilo, pontual, e com os Andes ao fundo.

Voltamos ao Obelisco, nosso amado albergue. Faltava irmos a uma casa de massagens, pois Robson tinha que traçar uma portenha. Já eu... Sou comprometido. Em todo canto do centro te dão propagandas desse tipo de local. Ouvimos conselho de todo lugar de evitar, poi você chega, te dão uma cerveja, logo chega um cara com a conta, algo como 50 dólares, e quando você pensa em reclamar, um outro na porta mostra a arma. Fuja dessa!

Teria que ser então, um local conceituado. No caminho para o Siga La Vaca, perguntei ao taxista donde había una casa de tolerância. Diante da não-compreensão, expliquei: -Donde hay prostitutas. O velho falou que nos levaria depois lá, deixou um telefone. Pensamos melhor e chegamos à conclusão de que nossa verba estava no fim, e pensaríamos melhor, deixamos pro outro dia.

De volta ao hostel, conhecemos uns paulistas muito legais, e uma figura inacreditável. Um coroa santista, com seus 50 anos, completamente louco. O cara começou a gritar lá na recepção: -Bando de gringo FDP! A Amazônia é nossa! –No país dos outros, chamar alguém de gringo é foda. Ele me contou depois: -Eu conheci um gringo aqui, e disse pra ele: “Você é legal, quero te oferecer a minha filha, ela é cabaço!” O cara recusou! FDP!- Ou: -Porra, fui comprar um baseado ali, e me senti mal, fiquei sequelado! O bagulho argentino é paraguaio!- Pode?

O elemento falava um monte de merda, xingava o pessoal, conseguiu a antipatia de todo mundo! Quem dormiu com ele disse que no dia seguinte, cedo, ele abriu a janela do quarto e deu um grito. O Renato, do staff, nos garantiu que, se o cara passasse outra noite, seria expulso.

No dia seguinte, paramos pra beber no único bar com mesas na calçada, com um toldo, na 9 de Julio, batemos papo com o garçom, falamos sobre as prostitutas, e o cara nos garantiu que nos levaria, e que na maioria dos lugares, se você for sem um argentino, te sacaneiam mesmo. Ficamos de passar lá às 20 horas, mas, pensamos, teremos que pagar tudo pra ele lá dentro. Não dá.

Na noite anterior, lembrei, fomos ao cassino, que fica em dois barcos de vários andares, interligados. O jogo é proibido lá, mas em barcos, vale a lei marítima. Que diferença pro cassino de Pucón... Quanto luxo, quantas figuras, jogatina correndo solta. Fomos numa sala onde rolava jogo alto, a ficha mais baixa, acho, dez dólares. Tinha um cara que sempre colocava as fichas nas mesmas casas na roleta, uns 20 mil dólares por rodada. Ganhando ou perdendo, o mesma atitude: Rosto impassível, acendia um cigarro, e botava as fichas no mesmíssimo lugar de novo. Viciado em último grau. Nossos gastos não foram além de duas bebidas pra cada.

No dia seguinte, percebemos que perdi novamente meu cartão, novamente num cassino. Meu último cartão estava já estourado.

Passei o resto da viagem com meus últimos pesos e a caridade do Robson.

No último dia, começamos a jogar bilhar na mesa do hostel, de dupla, com uns paulistas gente boa. Aí, apareceu um americano, que pediu pra jogar. Todos entenderam na horas que aquilo seria bem mais que um jogo, e Robson resolveu por nós que seria mano a mano, o nosso melhor contra ele, no caso eu, herança dos tempos de Universibar.

O americano começou a meter bola adoidado, o cara tacava bem demais, muito melhor que eu. Tacar bem e jogar bem são duas coisas diferentes. Bilhar é mira, técnica, tática, coração e sorte. O jogo que mais se aproxima do futebol. Aquele americano era boçal (em Belém, arrogante) e antes de cada tacada, media com o taco, como se fosse um compasso. Sempre detestei esse tipo de babaquice.

Minha mira não é lá essas coisas, mas meu jogo sempre cresce quando é apostando. Nesse caso, havia mais que grana em jogo. Era Brasil x EUA, eram aquelas pessoas maravilhosas confiando em mim. Comecei a equilibrar o jogo, fui destruindo psicologicamente o gringo. Até que ficamos com uma bola cada, e eu tinha que tacar com um ângulo que tornava impossível matar ou me esconder. Veio a inspiração, fiz uma tabela mágica, a bola morreu lentamente. Até hoje, não sei como fiz aquilo. O salão ficou sem palavras, tive meu dia de artilheiro da seleção e o gringo cretino aprendeu que não se mexe com brasileiro. Certamente vai ter muita história pra contar quando voltar pra sua vidinha vazia. :twisted:

Lembro que os paulistas nos contaram que tinham ido ao zoológico, melhor até mesmo que o de SP, tigre albino e tudo. Aí, caiu a ficha. Percebemos que quase não fizemos turismo. Não fomos ao parque de Bariloche, às termas de Pucón, não fotografamos a casa rosada ou fomos à Recoleta. Toda noite, alguém do albergue se oferecia pra nos levar à alguma festa, mas embriaguez, sono, conversa boa e garganta ruim não nos permitia. Há de se considerar que o ambiente naquele hostel era mágico, a cada dia com figuras humanas diferentes.

Bom, em outubro e novembro vamos de novo, desta vez pra beber e principalmente fumar menos e conhecer todo o sul da Patagônia, fazer trekking de verdade nos dois parques, ir a Santiago, Atacama, e fazer turismo em Buenos Aires. Uma forra!

Quando se vai à Patagônia, só se pensa em voltar lá de novo. É como se você precisasse. É tão diferente do que temos aqui... Tive naquela viagem algumas das melhores sensações de minha vida, e viajar é isso mesmo. A busca por novas sensações. Espero que tenham gostado e se divertido.

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::lol4:: Me diverti lendo seu relato, pena que fiz este roteiro em Abril, sendo que de Pucon fui p o deserto do Atacama, salta jujui e tucuman, mas seria divertido ter encontrado vocês, um forte abraço do amigo crocodilo dundee, e não tenha uma má impressão do povo carioca, pois nem todos são como as patricinhas que vocês infelizmente conheceram. ::otemo::::otemo::
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::lol4:: Me diverti lendo seu relato, pena que fiz este roteiro em Abril, sendo que de Pucon fui p o deserto do Atacama, salta jujui e tucuman, mas seria divertido ter encontrado vocês, um forte abraço do amigo crocodilo dundee, e não tenha uma má impressão do povo carioca, pois nem todos são como as patricinhas que vocês infelizmente conheceram. ::otemo::::otemo::

 

Pô, irmão, que bom que você gostou, valeu o comentário! ::otemo:: Seria legal a gente ter se encontrado. Não tenho má impressão do carioca, de jeito nenhum, pelo contrário, conheço vários cariocas maravilhosos. Aquelas 3 poderiam ser paulistas, goianas, gaúchas... Mas eu acho estranho, porque, sei lá, seria de se imaginar que quem faz turismo não-convencional tivesse a mente mais aberta, né? Aqui em Belém também tem muita gente babaca, como em qualquer canto do Brasil. Crocodilo, tamos indo em outubro/novembro pra Atacama, Salta, Torres del paine, El Chaltén, Ushuaia, Santiago e Buenos Aires, dessa vez o turismo será um pouco menos etílico. :D Vamos tentar fazer o W em Torres e trekking pesado e muito álcool é complicado, né? O que você recomenda no Atacama, Jujuy e Salta? Você tem previsão de quando vai cair na estrada novamente?

Um abraço, brother!

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::lol4:: Cara, muito boa sua história. Um bom contador delas!!!!

Vou novamente para Bariloche e B.A, no mês que vem. Fiz um muchilão em Março desse ano para Santiago, Puerto Varas, Bariloche e B.A.... foi ótimo!! Uma viagem sempre faz agente refletir um pouco mais, dar muitas risadas e lembrar como a vida pode ser maravilhosa...... ::otemo::

Boa viagem..... e escreve novamente sua aventura!!!

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::lol4:: Cara, muito boa sua história. Um bom contador delas!!!!

Vou novamente para Bariloche e B.A, no mês que vem. Fiz um muchilão em Março desse ano para Santiago, Puerto Varas, Bariloche e B.A.... foi ótimo!! Uma viagem sempre faz agente refletir um pouco mais, dar muitas risadas e lembrar como a vida pode ser maravilhosa...... ::otemo::

Boa viagem..... e escreve novamente sua aventura!!!

 

Obrigado, Alessandra, legal você ter gostado! ::otemo:: Fiz em novembro uma viagem pra Natal, sozinho, fiquei no Lua Cheia, considerado o melhor hostel do Brasil, realmente um local mágico. Em dez dias, fiz amizades fantásticas, impressionante como nessas situações pessoas estranhas se apegam tão rápido. Na despedida tinha até gente chorando. um dia ponho um relato sobre isso. Acho que o mais importante pra viajar é ter a mente aberta. Dessa forma, a gente tem boas surpresas o tempo todo. Quem não sabe bem pra onde vai, provavelmente chegará lá.

Acho que agosto deve ser mesmo o melhor mês pra ir a Bariloche. Não tem a turistada de julho e é cheio de neve. Você vai sozinha, passar quanto tempo? Vai ficar em albergue? Dizem que Puerto Varas é belíssima. Você ouviu falar alguma coisa sobre o cruce de lagos, se ainda tá fechado? Tem dicas de Santiago?

 

Um abraço!

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  • Membros

Muito divertido ler seu relato!! Ainda mais que foi regado a muito alcool!!

E quando for pro Chile.. muito pisco na cabeça!!!! ::otemo::

 

Vou pra Buenos Aires em outubro, e pretendo ir também pra Bariloche, e agora estou começando procurar informações!

Quantos dias ficaram em Bariloche? Qto tempo de busão Bariloche - Buenos Aires?

 

abraço

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  • Membros de Honra

Conterrâneo(s),

 

Adorei o relato, foi escrito com muito humor. ::otemo::

 

Realmente deve ter sido engraçado, vc. com roupas paraenses no frio de BAS. ::lol4::::lol4::

 

Quanto ao sorvete da Cairu - aí, aí, que saudades dos sabores paraenses.

 

Mas, no referente as torcidas, vou concordar com você somente em parte, pois a do "meu" Paysandu é realmente "única" e seu uniforme é muito bonito "sim senhor"

 

Quanto a descriminação que nós nortistas sempre sofremos, já tiro de "letra", e aí procuro viajar sempre mais, para verem que não somos "índios sem cultura" e outras coisitas + que pensam de nós.

 

::cool:::'> ::cool:::'> ::cool:::'>

 

Maria Emilia

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Obrigado pelos elogios, meninas! Fico feliz que vocês tenham gostado! ::otemo::

Vou pra Buenos Aires em outubro, e pretendo ir também pra Bariloche, e agora estou começando procurar informações!

Quantos dias ficaram em Bariloche? Qto tempo de busão Bariloche - Buenos Aires?

Gisele, Buenos Aires é magnífica! Uma das melhores coisas é sair andando adoidado, a cidade é perfeita pra isso. Ônibus e mêtro funcionam bem, são quase de graça. Cuidado quando pegar taxi. Dizem que roubam no preço, dão notas falsas de troco...Não passei por esses problemas, mas vários passaram. Outra dica: Pra ligar pro Brasil, compre cartão telefônico internacional ou fale em locutórios. Até pra ligar pra celular, é muito barato! Em Bariloche, recomendo o Marcopolo inn. É um albergue que parece um hotel, tem lavanderia barata bem perto. Tente fazer a travessia dos lagos, se tiver aberta, dizem que é coisa de outro mundo! Ficamos cerca de sete dias em Bariloche. De ônibus, o via Bariloche é o mais caro, mas vale cada centavo. A comida é boa e não tem paradas. A viagem durou cerca de 21 horas, mas outubro é primavera, acho que é mais rápido. O link: http://www.viabariloche.com.ar/home/ Se quiser, têm várias outras empresas, mas não vá de Andesmar. dizem que é horrível.

 

Conterrâneo(s),

 

Adorei o relato, foi escrito com muito humor. ::otemo::

 

Realmente deve ter sido engraçado, vc. com roupas paraenses no frio de BAS. ::lol4:: ::lol4::

 

Quanto ao sorvete da Cairu - aí, aí, que saudades dos sabores paraenses.

 

Mas, no referente as torcidas, vou concordar com você somente em parte, pois a do "meu" Paysandu é realmente "única" e seu uniforme é muito bonito "sim senhor"

 

Quanto a descriminação que nós nortistas sempre sofremos, já tiro de "letra", e aí procuro viajar sempre mais, para verem que não somos "índios sem cultura" e outras coisitas + que pensam de nós.

 

::cool:::'> :8): ::cool:::'>

 

Maria Emilia

Que bom saber que você é paraense e curte Nilson Chaves, Maria Emilia! ::cool:::'> Não posso dizer o mesmo do seu gosto futebolístico. ::bad:: Mas a atual situação do Leão não me dá argumentos... Corre uma história aqui que metade da população de Belém pegou a gripe felina. Oito meses de cama! ::lol3:: Tem que rir pra não chorar!

Na maior parte dos lugares nos demos muito bem com brasileiros, mas casos isolados sempre acontecem, né...

Abraços!

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  • 3 semanas depois...
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Haha, muito bom teu relato!! Não consigo acreditar que tantas situações engraçadas possam ter acontecido numa viagem só!!

Bacana teu jeito de contar a história!

Parabéns!

Abraço!!

 

Obrigado pelos elogios, brother! ::otemo:: É, aconteceu cada coisa bizarra... Fora o que eu não lembro! :mrgreen:

O que mais surpreende é a parte não planejada da viagem. Por exemplo, pra mim, o ponto alto seria a travessia dos lagos. Mas não fosse a gente ter ido a Pucón, e inclusive não termos podido escalar o vulcão, não teríamos conhecido o maluco da kombi, que, foi uma das situações mais hilárias que aconteceram na minha vida. Se fosse hoje, faria muitas coisas diferentes, menos álcool e mais turismo (será?). Mas, da maneira que foi, foi inesquecível...

Um abraço!

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