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Sem Limites na Ponta da Joatinga!


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  • Membros de Honra

[t1]Os "Sem Limites" na Travessia da Ponta da Joatinga[/t1]

 

[t3]Planejando o golpe...[/t3]

 

Depois de nos entregarmos bravamente a "auto-destruição" durante o "Sem Limites Weekend" em Trindade, os Sem Limites chegaram a conclusão que estava na hora de voltar as trilhas. Afinal, foi esse o motivo que juntou essa turma (além de gerar mais uma desculpa para cachaça, já nunca falta uma comemoração etílica no final...).

 

Porém, o feriado de 12/10 já apontava no próximo fim de semana e não tínhamos nenhuma definição de pra onde realmente iríamos, até que a Vivi acabou por nos dar umas 415 sugestoes diferentes, a maioria delas correndo o risco de ser burlada por causa do possivel mal tempo e/ou falta de preparo físico suficiente do resto da turma. Uma delas, porém, chamou a atenção de imediato. A idéia da Travessia da Ponta da Joatinga se descortinava para nós como um verdadeiro presente, já que a previsão de tempo para Parati e região nao era tão ruim como para boa parte dos outros lugares que cogitamos e tinha apenas um desnível mais crítico a ser vencido. Só que essa decisão só foi tomada firmemente no dia 07, o que nos lançou numa frenética correria atras dos detalhes e pra arrumar mais interessados.

 

Além do Fábio, Vivi e eu, as demais confirmações foram chegando: Kátia pretendia levar seu namorado Alvaro na pernada e o Rafael, que a Vivi conheceu durante sua trip na Serra Fina. Mas quando tudo parecia certo, tomamos um susto: o Fábio nos manda um email na quinta-feira de manhã noticiando que estava há dois dias derrubado por um resfriado. "Putz, perdemos o 01!", pensamos. Pouco depois, chega o email da Katia informando que o Alvaro tambem não poderia ir pelo mesmo motivo. Antes que o pânico que a trip estivesse esvaziada se espalhasse, para nosso alívio, sexta-feira o Fabio resolveu parar de palhaçada e mandando um "que se dane o resfriado", confirmou sua presença.

 

A Vivi, que já havia feito esse percurso pela rota comum (Pouso de Cajaiba-Laranjeiras) havia sugerido que fizéssemos o sentido contrário de todos os relatos que encontramos: começar a pernada por Laranjeiras e terminá-la em Pouso da Cajaíba. Era bastante sábio, porque este roteiro favorecia bastante a logística, além da oportunidade de terminar com uma boa refeição em Parati, ao invés de Laranjeiras, onde não há nada. Além disso, ainda rolava um Festival de Curtas em Parati durante o feriado, logo o plano era comemorar o sucesso da empreitada lá, para fechar a trip.

 

A mudança de rota criava um pequeno problema: corrigir a navegação dos relatos, já que estaríamos no sentido contrário. Coisa que foi facilmente resolvida com a ajuda do livreto Guia de Trilhas vol.1, do Guilherme Cavallari, que trazia a descrição dessa travessia e uma planilha de navegação indicando as bifurcações e o tempo de cada trecho do percurso.

 

Não que a navegação dessa travessia seja difícil; as trilhas são usadas pelos moradores das comunidades caiçaras e são bem marcadas, em cada praia era fácil encontrar informações com os caiçaras ou com outros caminhantes pelo caminho, mas algumas bifurcações podem confundir bastente, levando a perder tempo - e como o efeito dos atrasos pela perda de tempo desnecessária por falta de planejamento estava bem fresco na nossa memória por causa da nossa primeira trip, achamos que já tinhamos passado da idade de ficar marcando bobeira e depois se lamentar pela correria. Bastou entao inverter a direção das indicações da planilha e rezar para que meu chute ao estimar o tempo dos trechos de percurso estivesse certo.

 

A única recomendação - praticamente ordem - emitida pela 02: "Sejam leves! Isso não é travessia de montanha e nem no inverno!" E quem vai discutir com Vivi? hehehe

 

[t3]1º Dia -São Paulo -> Laranjeiras -> Ponta Negra: Seguindo as pistas...[/t3]

Informações em mãos, mochilas arrumadas, bastava aguardar nossa partida, marcada para as cinco da manhã do sábado em frente ao meu prédio. O Rafael sairia de Pindamonhangaba e nos encontraria na Praia do Sono por volta do meio dia. Mas, como nada no mundo é perfeito,acabamos nos atrasando em mais de uma hora nossa saída de Sampa, entre aguardar a chegada da Katia e guardar o carro dela no estacionamento e com isso encaramos um transito monstruoso na chegada em Ubatuba.

 

Fizemos nossa parada estratégica no boteco que tem junto a Cachoeira da Escada, pouco antes da divisa SP-RJ, para nosso já "tradicional" lanche de pão com linguiça em baixo de um tremendo pé d'água, o que começou a nos preocupar de começar a caminhar em baixo de chuva (a previsão realmente falava em chuva para o sábado e o tempo aberto nos dias seguintes). Nossa preocupação se amainou assim que passamos a divisa... as nuvens continuaram se despejando as nossas costas,sobre Ubatuba (porque será? ::lol3:: ) enquanto seguíamos com o tempo apenas tranquilamente nublado pela Rio-Santos até a saída para Trindade e o bairro Patrimônio.

 

Depois de subir a serrinha, entramos a esquerda na bifurcação que leva ao Condominio Laranjeiras e a Vila do Oratório (não sem antes cogitar o que aconteceria se a gente simplesmente desistisse da pernada e seguisse novamente para Trindade hehehe). Passamos pelas duas portarias do Condomínio, seguindo até o final da vila, onde a estrada bifurca. Seguimos pela direita até o ponto final do ônibus que vem de Parati, onde começa a trilha para a Praia do Sono. Deixamos o carro "guardado" na vila (na verdade, ele ficou na rua e mesmo assim os moradores estavam cobrando taxa de R$7,00 por noite como estacionamento....). Percebemos, através da placa, que haviamos estacionado ao lado do carro do Rafael - eram 13h30; o mesmo rapaz que guardava nosso carro tinha informado a ele, quando chegou, de uma turma que já havia passado, entao ele julgou que era "o atrasado"... já estaria chegando a Praia do Sono, pelo que podíamos calcular...

 

A trilha até a Praia do Sono, nosso primeiro trecho da pernada, se inicia subindo pelo calçamento a direita do ponto final do ônibus que vem de Parati. Ela é larga, chega a lembrar uma estradinha, com alguns trechos com degraus de concreto pelo caminho. Levamos cerca de 1h00 para percorrê-la, seguíamos de forma cuidadosa e totalmente enlameada... as chuvas constantes na semana deixaram a trilha um verdadeiro sabão, nos fazendo rir das nossas tentativas (e mais ainda das de um grupo que estava a nossa frente de não cair) ou simplesmente atolar. A vista da chegada na Praia do Sono, do alto do morro, mesmo sob ceu nublado é algo de tirar o fôlego. Não tínhamos muitas horas de trajeto pela frente, mas sentíamos que a chuva se aproximava e o Rafael não tinha ficado lá a nossa espera, então achamos melhor seguir em frente. Sabíamos que a trilha continuava na outra ponta da praia, junto a um curso d'água. Tivemos que tirar as botas para atravessá-lo e aproveitamos para uma parada rápida ali antes de continuar seguindo pela trilha meio escondida na ponta da praia, que atravessa o primeiro dos muitos "morrinhos chatos" que teríamos pela frente (principalmente para os "carros 1.0", como eu e a Katia rs).

 

Em cerca de 20 min chegamos a próxima praia, Antigos. Deserta e bela, mas o encanto que a Praia do Sono havia nos causado ainda estava fresco na memória (mal sabia eu que meu olhar abobalhado para a paisagem só estava começando...). Ao contornar uma pequena pedra logo no inicio da praia, o Fábio chamou nossa atenção para areia. O nome da Vivi escrito na areia chamou nossa atenção. Era um recado. Do Rafael.

"Vivi, estou indo para Ponta N." Bastava para deixar a Vivi (e a todos nos) maravilhada com tamanha atenção. Seguimos pela praia até a outra ponta, encontrando de novo a trilha que adentrava pela mata. Cruzamos um pequeno corrego e pouco depois dele a trilha apresenta uma bifurcação a direita, que leva a praia de Antiguinhos. Ignoramos a bifurcação e seguimos direto; nossa preocupação com a chuva ainda era maior que a vontade de explorar as praias.

 

Toca outra subida ingreme de novo, atravessando outro morro. Nesse ponto estávamos excessivamente lerdos. A Kátia, para nossa total surpresa, parecia estar apanhando mais das subidas do que eu, e pra ajudar ainda mais, a chuva resolveu despencar sobre nossas cabeças, abrindo uma sequência de tombos e derrapagens pela trilha lamacenta. A Vivi, aproveitando a experiencia, nos incentivou a acelerar o passo - ainda haviamos que atravessar uma praia de pedras mais a frente, sua preocupação era termos que fazer isso com a maré alta.

 

Chegamos, por volta de 16h30 na beira de um rio; atravessando, estariamos na costeira da Praia de Galhetas, a praia de pedras que a Vivi tinha falado. Ainda não estava tão tarde - isso era bom, porque o rio a atravesar não nos parecia nada convidativo. A chuva haviam tornado o rio mais caudaloso, a água estava bem acima dos joelhos, a correnteza não era muito forte, mas, para ajudar, o piso pedregoso era absurdamente escorregadio. O Fábio, num dos muitos momentos "gentleman" dessa travessia, atravessou nossas cargueiras e depois ajudou as "malas" a atravessar. Seguimos com cuidado atravessando as pedras na costeira da Praia de Galhetas, entrando de volta na trilha que começa a esquerda logo apos elas.

 

Seguimos pela trilha, subindo novamente, já avistando as primeiras casas da Ponta Negra e sem ter a mínima ideia de onde o Rafael poderia estar. Cruzamos com outro recado do Rafa, escrito no chão da trilha - e foi a nossa sorte, ele informava que estava no camping da Tuane. Levamos ainda um certo tempo para descobrir que o camping da Tuane era a primeira casa que se via da trilha, então voltamos e encontramos o Rafael já devidamente instalado. Eram pouco mais de 17h. Contando o tempo de nossa parada, levamos 4h para concluir esse dia; até que minhas estimativas de tempo não estavam ruins, pelo visto...

 

A Praia da Ponta Negra é pequena, mas de uma beleza singular, mesmo embaixo de chuva. O espaço de camping fica no quintal da casa da Tuane, bastante simples porém ajeitadinho - para nossa sorte, havia espaço numa pequena área coberta onde já havia, além do Rafael, mais duas barracas montadas. Montamos nossas barracas, encaramos o banho gelado (há luz elétrica nas casas da vila, fornecida por paineis solares instalados nas casas, mas o tempo chuvoso da ultima semana havia deixado a comunidade inteira sem luz durante tres dias) e fomos preparar nosso rango - de novo, o salvador feijão pronto veio saciar nossa fome e aquecer nossos corpos.

 

Ficamos papeando, e tomando vinho, para ajudar a embalar o sono, acompanhado de uma pequena platéia de crianças da vila, tímidas demais para conversar, mas com os olhinhos de quem estava morrendo de vontade de participar da nossa conversa. Cerca de 21h30, nos recolhemos em nossas barracas, agradecendo aquela área coberta, enquanto chegavamos a conclusao que São Pedro, apesar da previsão de tempo otimista, ia sacanear nossa trip - a chuva caia torrencialmente. Acordei no meio da noite com o barulho de alguma coisa tombando, mas não era perto das barracas e eu estava cansada demais para me convencer a levantar e verificar. Continuava chovendo canivetes lá fora, e o barulho da chuva embalou meu sono.

 

[t3]2º Dia - Ponta Negra -> Caiaçuru -> Martins de Sá : O Purgatório vem antes do Paraíso...[/t3]

Acordei xingando um galo que não conseguia calar o bico. Prestando mais atenção, percebi que já estava claro, abri a barraca e me surpreendi com o céu absurdamente límpido. "Valeu, Pedrão!", pensei comigo mesma, tentando descobrir que horas eram. 6h da manhã, descobri pelo relógio da Kátia. Pensei em voltar a dormir mais um pouco, mas lembrei do galo, então me levantei e descobri que o barulho que tinha ouvido de madrugada era do latão de lixo tombado. Os cachorros tinham revirado o lixo e xeretado a minha cargueira, que estava do lado de fora. Encontraram tambem uma panela suja perto da barraca da Vivi, mas o estrago maior foi nas maçãs e damascos do Rafael, que ele esqueceu do lado de fora da barraca.

 

Tínhamos analisado a planilha na noite anterior - esse seria o dia mais puxado da travessia, a trilha seguia toda pela mata e precisávamos vencer uma subida árdua (600m de desnível) até começar a descer para chegar em Caiaçuru, a próxima praia. Eu havia estimado, apartir dos relatos, que sem contar as paradas, levariamos cerca de 5h30 para chegar até Martins de Sá, levando em conta o meu ritmo, que era mais lento que os demais, ainda mais quando se tratava de subidas longas e ingremes. Havíamos concordado de sair de Ponta Negra no máximo as 10h. Eu teria sugerido saírmos um pouco mais cedo, mas a margem era boa e estávamos confiantes que dava pra seguir o planejado. Dei mais meia hora de sono pro restante antes de começar a chacoalhar as barracas...rs

 

Tomamos nosso café da manhã, desmontamos acampamento, não sem antes fazer cara de assombro pro Rafael, que estava fazendo a trilha de all-star e admirando sua barraca, uma big agnes que pesava só 950g...Pegamos as infos com a Tuane para retomar a trilha apartir dalí - as referencias que eu tinha era apartir da Praia. Conhecemos ali o Alexis, da Rokaz Escaladas de BH, que tambem fazia a travessia acompanhado dos pais dele, franceses idosos (mas que estavam em melhor vigor que nós). A Katia desenferrujou seu frances, conversando um pouco com eles.

 

Eram 09h30 e o sol,se alternando com nuvens já queimava nossas cabeças. Agradecemos por ser um dia de caminhada pela mata, estariamos protegidos do sol - e indo em direção a nuvem de chuva que estava sobre as montanhas... Seguimos a continuação da trilha pela qual háviamos chegado, perguntando aos moradores o caminho correto para continuar na trilha e não na entrada de uma das casas. Apos cruzar o riacho pelas pedras, passa-se pelas ultimas casas, ignorando a bifurcação a direita e a trilha começa a subir - e depois de mais de uma hora naquela subida puxada, fiquei boquiaberta ao perceber que ela seguia ainda mais ingreme que o trecho vencido. Fábio, Rafa e a Vivi, que tem um ritmo mais forte, foram seguindo a frente, mas sempre estavam na minha linha de visão. Mas acabamos percebendo que a Kátia estava muito mais lenta e ficando para trás - os meses sem treino a descondicionaram, a tartaruga dessa turma costumava ser eu...

 

Eles seguiram na frente enquanto eu acompanhava o ritmo da Kátia, mas começava a me preocupava por estarmos muito lentas. Já estavamos caminhando, subindo sempre, há cerca de 2h e pela referencia visual que tinhamos, sabia que estávamos na metade da subida ainda. A Katia pressentiu minha preocupação e me disse para ir na frente. Como sabíamos que os outros nos esperariam mais a frente ou em qualquer bifurcação, ela estava tranquila, mas realmente a pernada estava muito puxada para ela. Ela tinha mais experiência, já havia feito uma caminhada como essa sozinha; eu não, mas a mata virgem ao meu redor e o silêncio eram tão maravilhosos que eu comecei a gostar da sensação. Segui em frente, eu ja nao conseguia ver os outros e estava me sentido mais cansada em ir lenta do que seguir regularmente. A neblina foi baixando conforme me aproximava do topo, já não conseguia ver a Kátia seguindo atrás de mim, mas sentia que se parasse, não iria conseguir continuar. Criei um "mp3" na cabeça, lembrando de todas as músicas que conseguia e seguia um ritmo constante. Fazia paradas rápidas para recuperar o folego e continuava subindo, xingando e rezando pra acabar logo.

 

Quando cheguei ao topo, percebi que os outros tres seguiram em frente, mas dava pra entender o porquê: a neblina cercava tudo, alguns minutos parada e já começava a sentir frio e dor nas pernas. Lembrava que tínhamos combinado almoçar em Caiaçuru então comecei a descida, encontrando outros trilheiros pelo caminho. Um deles ainda fez graça, "seus amigos passaram por aqui e deixaram um abraço! hehe" Lembrei do perfil altimétrico que tinha visto desse trecho no Guia de Trilhas e entendia porque os relatos eram, em sua maioria, no sentido contrário ao que fazíamos: a subida vindo de Caiaçuru também era longa e puxada, mas não era nada em comparação a subida no sentido que fizemos. Outro grupo passou por mim, vindo no sentido contrário, e perguntei a eles sobre meus amigos. Ela me perguntou se eu estava com a Vivi e me espantei; ela explicou que a conhecia e me tranquilizou: eles estavam cerca de dez minutos a minha frente. Ela me alertou que a descida seria escorregadia e eu não podia animá-la, a nossa subida era era pra acabar com os joelhos de quem estivesse descendo.

 

Bem que ela avisou: os quase-tombos foram se tornando frequentes e vez ou outra eu avistava uma derrapada e ria, identificando o All-Star do Rafa do lado da pegada firme da bota do Fábio. Foi um alívio chegar no trecho em que eu já conseguia avistar o mar. Olhei em frente, havia uma bifurcação a direita, mas novamente tinha ali um recado, a seta traçada na terra dizendo "Siga!". Sorri, agradecendo mentalmente aos três por isso, ignorando a bifurcação.

 

Finalmente, eram pouco mais de 14h00 quando eu pisei na areia grossa da pequena e bela Caiaçuru. Perguntei aos três se eu havia demorado muito e fiquei contente comigo mesma quando eles me disseram que haviam chegado a menos de 15 minutos. Me senti culpada quando percebi que eles seguiram em frente tranquilos porque acharam que a Katia estava comigo, mas cerca de 15 minutos depois, ela chegou. E chegou completamente acabada, suas pernas tremiam com o esforço. Sabíamos que tínhamos pelo menos 2h pela frente até Martins de Sá, mas a Kátia alegava que não tinha condições de seguir em frente. Caiaçuru tem apenas três pequenas casas, não era um dos pontos de pernoite da travessia. Apesar de poder ser usado como pernoite de emergência, não estava nos planos acampar alí, precisaria ser negociado com os moradores. Combinamos então de fazer uma longa parada para que ela pudesse descansar e aí analisariamos melhor o caso. Era melhor chegar lá ao escurecer do que passar a noite aqui.

 

Todos aproveitamos a pausa, refrescamos o corpo num bicão na ponta da praia enquanto nos divertíamos com um grupo de crianças caiçaras que brincavam alí na praia. Elas eram todas de Ponta Negra, e tinham vindo até Caiaçuru "só para brincar", como explicaram (Aliás, como tem criança em Ponta Negra!).Trouxeram até um bebê; o cabelo espetado para cima do menininho lembrava uma calopsita...rs

 

Cerca de 15h45, sabendo que não podíamos mais esperar, tiramos a Kátia de sua soneca renovadora. Ela se sentia mais descansada e concordou que era melhor seguirmos em frente. Cargueira nas costas, e bora tocar o rumo. No retorno para a trilha, encontramos alguns moradores que voltavam de Martins de Sá e nos informaram de uma complicação: uma árvore havia caído no rio, obstruindo as pedras que facilitavam sua travessia. Eis o objetivo: conseguir atravessar o rio antes que escurecesse.

 

A minha adaptação da planilha nos falhou uma únca vez: no sentido percorrido pelo autor do relato, aquela bifurcação a nossa frente era insignificante, já que se juntava ao caminho da trilha. Na dúvida, o Fábio teve que voltar até uma casa proxima ao Saco das Anchovas para perguntar, mas o Rafael conseguiu identificar a trilha certa, na bifurcação saindo a direita, antes que ele voltasse. Aproveitando o tempo, a Katia se mandou na frente; como nosso ritmo era mais forte, a alcançamos cerca de 10min depois. A trilha seguia atravessando um morro, depois descendo, cruzando vários riachos. Até que chegamos no rio que os caiçaras nos alertaram e entendemos o problema. Não era tão complicado atravessar, no sentido em que estávamos, mas para quem vinha de Martins de Sá, a coisa ficava feia. Continuamos seguindo, mais lentos para acompanharmos a Kátia - não arriscaríamos deixá-la sozinha de novo para trás - porém constantes. Começou a escurecer, sacamos nossas lanternas e aceleramos o passo. Faltavam mais um riacho para atravessar e em poucos minutos a trilha se abriu como se fosse uma estrada. Estávamos, enfim, as 18h30, em Martins de Sá.

 

Armamos as barracas, o Fabio, Vivi e o Rafa foram dar seu merecido tchibum noturno enquanto eu e a Kátia preparamos o rango. Resolvemos acabar logo com a toda a comida e com o vinho que trouxemos, batendo papo sob o céu estrelado até 23h, quando apagamos em nossas barracas.

 

[t3]3º Dia - Martins de Sá -> Pouso da Cajaíba -> Parati : Carpe Diem...[/t3]

 

Bastava olhar para a Praia de Martins de Sá para saber que se o dia anterior foi o purgatório, hoje era dia de aproveitar o paraíso. E outra vez agradecíamos mentalmente a Vivi (apesar da subida desumana) a sugerir o roteiro contrário: a praia era praticamente nossa naquela manhã, cercada pela serra toda recoberta de mata. Reencontramos a família do Alexis acampados lá, e conhecemos mais dois rapazes (que eu nao lembro o nome!), que se empolgaram com o Rafael, conversando sobre escalada.

 

O trecho de caminhada de hoje era o mais curto e mais leve tambem. Mesmo com o cansaço acumulado no corpo, havia tempo para nos dar aquilo que nao conseguimos curtir mais nos dias anteriores. Curtimos a praia até as cerca de 10h, arrumamos nossas coisas, e uma hora depois já seguíamos sob o sol escaldante pela trilha desprotegida. Eu retomei o posto de tartaruga, o sol estava acabando comigo. Depois de cerca de 30min de trilha, encontramos o primeiro ponto de água e eu consegui refrescar o rosto, seguindo bem melhor. Cerca de 1h depois, a Praia do Pouso de descortinava a nossas vistas, lá do topo do morro onde estávamos. A vista era sensacional, dava para avistar as usinas Angra I e II e o Pico do Frade. Seguimos descendo, empolgados, por mais uma descida deslisante. Mais 20min e estavamos no final da nossa pernada - mas não no final da trip! Pouso de Cajaíba era só o início da nossa comemoração.

 

Acertamos com o Pedro ( 24 -9913 7071 / 12 - 7812 2098 / nextel: 85#205) nosso barco com destino a Parati por volta das 16h, enquanto o Tião, outro pescador da vila nos entretia com seu papo. As vezes era impossivel entender o que ele dizia: na praia do Pouso, os moradores falam muito rápido, parece até outra língua. Enquanto esperávamos o barco, bebemoramos a nossa trip com diversas rodadas de caipirinha e uma deliciosa e mais que bem servida porçao de peixe. Encontramos ainda com uma turma que estava lá em excursão, organizada pelo Peruca, aqui do Fórum. Reencontramos Alexis e seus pais, que planejavam ficar mais um dia por lá.

 

As vezes o universo parece conspirar para esticar a trip... quando já era quase 15h30 e aguardávamos nosso barqueiro voltar da Praia Grande de Cajaíba, o vento resolveu açoitar o mar, tornando a travessia para Parati impraticável, segundo os pescadores que estavam lá. O Pedro retornou, e junto com o Tião, afirmavam que não era seguro partir com aquele tempo, mas que era vento trazendo chuva, logo passaria e o mar acalmaria de novo. Fazer o que? Só nos restava esperar, e porque não esperar apreciando mais uma rodada de caipirinhas? ( A turma que estava na excursão se arriscou a ir, num outro barco. Soubemos depois que passaram alguns momentos de panico a bordo, com o barco quase virando, sacudido pelas ondas).

 

Analisamos a possibilidade de ficar mais um dia ali na praia do Pouso, mas a Katia e o Rafael precisavam retornar, e sem o restante para rachar o barco, sairia muito mais caro que o combinado. A chuva desabou por algunss instantes e logo passou. Conforme a previsao dos pescadores, o mar se acalmou depois disso, e mais de 18h, embarcávamos, dizendo adeus a Praia do Pouso, ao conversador Tião e "au revoir" ao Alexis e seus pais.

 

A travessia de barco até Parati levou quase 2h30. E foram duas horas absurdamente divertidas, onde tivemos que assistir a Katita enchendo o saco do Pedro até que ele deixou que ela navegasse o barco por alguns momentos rs. Ganhamos até uma pratada de macarrão, feita para a tripulação do barco. Chegamos em Parati por volta das 20h30 e fomos procurar algum lugar para comer, ainda com aquela vaga sensação de que poderíamos dar uma esticada da trip. Acabamos de preencher aquele vazio existencial deixado pela fome no restaurante Panela de Ferro, onde pagamos R$ 8,00 pelo PF bem preparado. Fábio, Vivi e eu resolvemos ficar em Parati até o dia seguinte. Rafa e Kátia retornaram para casa e lá fomos nós, agora com o pretenso motorista liberado, bebemorar ainda mais nossa trip.

 

[t3]4º Dia - Parati - SP : Esticando a trip heheh[/t3]

 

Encontramos hospedagem num dos Hostel da Praia do Pontal, em Parati, onde pagamos R$19,00 num quarto coletivo com banheiro - que por acaso, só tinha nós três. Dormimos feito pedras, acordando quase 10h da manhã, na mais digna ressaca moral. Tomamos nosso café e fomos para a Rodoviária, pegar o ônibus para Laranjeiras (linha 1040, praticamente de hora em hora sai um) e resgatar o carro do Fábio.

 

Aproveitamos que estávamos por lá e nos metemos a conhecer a praia de Laranjeiras, que acabou sendo nossa decepção do dia. A praia é linda, e a trilha que leva a ela (cerca de 20min, começa junto a primeira portaria do Condomínio Laranjeiras - é preciso se identificar para entrar na trilha...) é bastante agradavel - e estava uma lama só, e a gente de chinelo hahaha. O que causou a decepção é que a praia é praticamente particular, com a orla tomada pelas mansões (no padrão de "mansão de novela global")do condomínio a beira mar. Até o jardineiro de uma das casas olhou feio para nós hehehe Esse tipo de construção naquela área deveria ser bastante questionável,já que está dentro da APA Caiaçuru, que se estende desde Trindade até a Baia de Parati... mas o que se pode fazer? Os ricaços sempre conseguem estragar pedacinhos da natureza que deveriam ser intocáveis...

 

Com o carro de volta e sem nenhuma vontade de voltar pra casa, ainda esticamos até São Sebastiao para econtrar o tio do Fábio e bater uma pratada com ele num restaurante em Caraguá, encerrando a trip por puro cansaço mesmo só na noite da segunda-feira...

 

[t3]O que dizer, afinal?[/t3]

 

Dessa turma? Difícil dizer qualquer coisa, talvez apenas que foi uma pena que os outros não estivessem com a gente nessa trip. E que o Rafa já é nosso aspirante a 07 hahaha

 

A Ponta da Joatinga é um lugar que beira o mágico. Caminhar pela Mata Atlantica preservada dá uma sensação exuberante, uma experiencia única de total contato com a natureza e isolamento da civilização - e ainda tem o bônus das praias maravilhosas e o contato com as as pessoas nas comunidades de pescadores. Aproveitamos pouco das muitas praias que ainda tem na região da Joatinga, mas isso é apenas uma desculpa pra fazer essa travessia de novo, já que tem material para diversas explorações.

 

São Pedro pode ter sabotado a temporada de montanha esse ano, mas as "pernadas de verão" estão aí , para o nosso deleite. E essa é simplesmente imperdível!

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  • Membros de Honra

Bom dia.

 

Belo relato. Parabéns.

 

Fiz a travessia no "apagar das luzes" de 2008. O mais estranho de tudo, foi acabar a trilha e chegar em praias com tanta gente. Durante a travessia, em diversas tinhamos somente eu e minha companheira de viagem.

 

Apenas uma correção. A subida do morro do Cairuçú é como um sino. A altimetria é praticamente idêntica. Fiz a trilha com GPS, o arquivo está disponível no sub-fórum de GPS aqui do Mochileiro. Dá para ver mais precisamente....

 

Abração

Editado por Visitante
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  • Membros

kkkk, Cris, o relato está F A N T A S T I C O !!!!!!!

Vc lembrou de cada detalhe, coisas que até passaram despercebidas em minha memória...kkk

Que delicia ler o relato, e relembrar de cada etapa, e da cia de vcs.

A trip foi s e n s a c i o n a l !!!

Adorei. Adorei. Adorei.

 

Agora até lembrei de algumas coisas:

 

*Ao amanhecer em ponta negra, a criançada curiosa nos observava passar, e quando as cumprimentamos elas disseram: Bonjour....kkkkk

Eita criançada ...kkk

 

*No barco de volta pra Paraty além de macarrão rolou churrasco, e um isopor lotado de brejas...aff...Adorei a tripulação...kkk

 

*Ao esperar esse mesmo barco em pouso da cajaiba não degustamos apenas uma ou duas caipirinhas, a gente tava com sede mesmo, kkk, foram 13 caipirinhas, algumas brejas, uma rodada de truco e uma de bilhar, em menos de 3 horas....kkkkk...a ponto do Fábio entrar no barco cantarolando: E se a canoa não virar olê olê olá...kkkk

 

*Quando vc acordou em Ponta Negra, a gente não queria acordar, e vc ficou arrancando as penas do pato, só pra ele ficar gritando na nossa orelha...kkk, é a única explicação pra aquele bicho tão escandaloso...kkkk

 

Bjus Cris, o relato está 10!!!!

Parabens !!!

 

e que venham as próximas.

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  • Membros de Honra
*Ao esperar esse mesmo barco em pouso da cajaiba não degustamos apenas uma ou duas caipirinhas, a gente tava com sede mesmo, kkk, foram 13 caipirinhas, algumas brejas, uma rodada de truco e uma de bilhar, em menos de 3 horas....kkkkk...a ponto do Fábio entrar no barco cantarolando: E se a canoa não virar olê olê olá...kkkk

 

Tai.... eu faço o relato e ela, o delato

::lol4::::lol4::::lol4::

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  • Membros

Cris!!! show de relato e obrigado por quebrar essa, como combinado era para eu escrever esse. Mas essa semana foi complicada para mim no escritório e aliada a prova no curso de espanhol deixou minha semana mais curta kkkk

 

Outra vantagem que acho de se fazer essa trilha no caminho que fizemos, além de tudo que você muito bem citou, é que pegamos a subida monstro depois da praia de ponta negra logo no começo da pernada. Ou seja, quando nossos corpos ainda estão zerados, no sentido contrário, apesar da subida ser menos ingreme, para quem não tem um mínimo de preparo chegará ali cansado e poderá ter problemas...

 

Minhas impressões desta travessia... dificuldade de navegação 0. Trilha toda bem demarcada e como muito bem exposto pela Cris e as bifurcações na maioria das vezes dará em alguma praia. Visualmente essa trilha é muito linda, praias desertas e limpidas... Certamente farei novamente... mas no esquema suvivor mesmo kkk rede e vara de pescar rsrs igual ao carinha que estava na praia de Martins de Sá kkk

 

Quanto a degustação de caipirinhas kkk como vc foi humilde Cris kkkk nós não degustamos, nós literalmente sugamos kkk 13 caipirinhas em pouco mais que 3 horas kkkk Bom demais kkkk

 

E falar de você é chover no molhado kkkk beijos

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  • 2 meses depois...
  • 3 semanas depois...
  • Membros

Obrigado pelo relato! vou faze-la após o carnaval e será muito útil, vou usar os roteiros que achei pelo forum e no google para me guiar...

gostaria de saber se é preciso pedir autorização para algum orgão responsável, reserva florestal e etc para fazer essa travessia? ou é o contrario, devo ir na miúda? eheheheh

 

obrigado

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