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598de4122f7b8_Huayhuash_16092014_1151_lagunaSiula.jpg.2d3641c88cdbc0d5de7014f572d92308.jpgA Zona Reservada Cordillera de Huayhuash fica a 400 km ao norte de Lima, capital do Peru.


Fomos em setembro de 2014 e uma característica marcante deste circuito é que em toda nossa travessia ficamos em uma altitude média de 4100 metros, chegando ao máximo de 5041 metros.


Quanto mais alto, menos oxigênio tem o ar e acima de 3 mil metros uma pessoa pode passar mal, caso não tenha se acostumado com o novo ambiente. Para evitar os males da altitude, é necessário se submeter a um processo conhecido como aclimatação. Nós nos aclimatamos fazendo alguns trekkings perto da cidade de Huaraz em altitudes de até 5000 metros e voltávamos para dormir na cidade a 3000 metros. Fizemos no total 3 trilhas e em uma delas eu passei muito mal. Mas isso faz com que seu corpo se acostume mais rápido a esse novo ambiente. Me recuperei e fiz Huayhuash sem nenhum problema. Infelizmente Ramon e nosso amigo Wagner não puderam dizer o mesmo...


No Peru também se encontra a La Rinconada, que é considerada a cidade mais alta do mundo a 5.100 metros de altitude. O topo mais alto do mundo é o Everest com 8.848 metros de altitude, em uma região onde os tibetanos vivem em altitudes médias de 4.500 metros. Estudos mostram que os tibetanos tem artérias e capilares mais largos para levar o oxigênio aos órgãos e músculos, e assim, evitar os males de altitudes.



Como chegamos


De Lima pegamos um ônibus até Huaraz, e em Huaraz contratamos mulas e cavalos para carregar nossa babagem e um operador de mulas, chamado de arrieiro.


A maioria dos turistas, além do arrieiro e mulas, também contratam guia, barracas, cozinha com cozinheiro, comida e ajudantes. Tipo all inclusive. Nós optamos ir com nosso GPS e levar nossas barracas, quer dizer, colocar nossas barracas em cima das mulas para elas levarem. Por segurança contratamos um cavalo, caso fosse necessário, por alguma emergência, sairmos da Cordilheira com agilidade.


Fomos eu, Ramon e mais dois amigos: Wagner e Ricardo. Compramos comida para nós quatro e para o arrieiro; e levamos 3 barracas: 1 para eu e Ramon, 1 para Wagner e Ricardo e 1 para o arrieiro dormir junto com a comida.



Dia 1: Huaraz - Matacancha


Chegamos no final do dia e acampamos no meio da 'multidão' em Matacancha. Haviam vários grupos acampando para iniciar a travessia no dia seguinte. Combinamos de encontrar o operador de mulas (arrieiro), que nunca vimos antes, naquele lugar lotado de turistas. De algum modo ele nos encontrou. Provavelmente éramos as únicas barracas sem a supervisão de um guia.



Dia 2: Matacancha - paso Cacananpunta - laguna Mitucocha


O primeiro dia foi bem chuvoso e tivemos que começar a andar embaixo de chuva.

Foram cerca de 5 horas de caminhada por onde passamos pelo paso Cacananpunta (4693 metros de altitude) até chegarmos na laguna Mitucocha.


A trilha em si não é uma caminhada difícil, mas devido à altitude e falta de oxigênio no ar, tudo fica mais lento. Aliás, apesar das altas altitudes, nós não fizemos nenhum cume de montanha, os lugares mais altos deste circuito são chamados de 'pasos', que nada mais são que passagens no meio da trilha.


Esse foi um dia nublado e chuvoso. E mais um dia dentro da barraca esperando a chuva passar.



Dia 3: laguna Mitucocha - passo Carhuac - laguna Carhuacocha


Acordamos com o céu limpo e felizmente deu para tirar uma foto da bela paisagem do acampamento, com vista para as montanhas Jirishanca, Yerupaja e Yerupaja Chico.


Neste dia passamos pelo paso Carhuac (4631 de altitude), também conhecido como Yanapunta. Se o tempo estiver bom, é possível ver as montanhas Yerupaja e Siula.


Dormimos ao lado da laguna Carhuacocha, onde o arrieiro pescou um peixe para comermos. Não sei se tem algo haver, mas o Ramon e Wagner começaram a passar mal nos dias seguintes. Eu comi pouco peixe e fiquei bem.



Dia 4: laguna Carhauacocha - 3 lagunas - paso Siula - acampamento Huayhuash


Esse foi um dia bem cansativo, andamos cerca de 15 km em 9 horas. Mas sempre nos esforçávamos para tirar uma foto quando víamos uma bela paisagem, como a magnífica paisagem das 3 lagunas: Gangrajanca, Siulacocha e Quesillococha.


Nesse dia passamos no paso Siula (4843 metros de altitude), e foi onde chegamos mais perto da montanha Siula Grande, onde Joe Simpson e Simon Yates foram protagonistas de quase uma tragédia fatal narrada no excelente filme Touching the voide. Depois de conquistarem o cume, Joe Simpson quebrou sua perna no Siula Grande, e Simon tentou ajudá-lo na descida. Mas durante uma tempestade, Joe acabou caindo de um penhasco. Seu companheiro de escalada não o encontrou e achou que ele tinha morrido, então continuou tristemente sua descida sozinho. Mas o mais inacreditável aconteceu, Joe com a perna quebrada sobreviveu à queda e conseguiu descer o Siula Grande por 2 dias, sem água e comida, se rastejando no solo irregular e em um lugar inóspito a baixa temperatura. E em uma mistura de sorte e azar, Simpson conseguiu chegar no acampamento, onde seu colega Simon ainda estava. Simon quase foi embora no dia anterior, mas ele decidiu ficar mais um dia.


Vimos o Siula de longe, imaginando alguém dado como morto, sozinho com a perna quebrada nessa montanha coberta de neve e gelo...



Dia 5: acampamento Huayhuash - Portachuelo pass - termas Atuscancha


Acordamos embaixo de neve, e para nós brasileiros é só festa. Teve até boneco de neve.


As trilhas da cordilhera de Huayhuash são as trilhas mais cagadas que já pisei. Tem vários animais fazendo o trabalho: cachorro, mulas, cavalos, coelhos, vicunas, vacas, pássaros... Se souber reconhecer as fezes de uma mula, você jamais irá se perder nesse circuito...


Como a gente andava mais devagar e sempre tinha alguém na nossa frente, a neve facilitou reconhecermos a trilha toda pisada. E seguimos para o paso Portachuelo (4790 metros de altitude) e depois para as águas termais.


Nesse dia chegamos em um dos melhores lugares dessa trilha. Onde foi possível tomar banho!


Haviam 3 banheiras coletivas. A primeira era tipo um ofurô, redondo e com a água mais quente. Fomos os últimos a chegar, então a água deste ofurô estava, digamos, pouco translúcida. Todo mundo passa na primeira banheira, se ensaboa e como já tinha passado muita gente, o sabão ficou por lá. Mas depois de 5 dias sem tomar banho, foi uma delícia!!! A água é quase pelando, por volta de 40ºC, e no lado de fora estava por volta de 5ºC.


Depois da primeira banheira, vamos para uma segunda banheira, que já é bem maior, e é quase uma piscina, com a temperatura um pouco mais amena, onde tiramos o sabão. E depois vamos para terceira piscina com uma temperatura perfeita. E lá todos ficamos curtindo, e tomando um refrigerante.


O Ramon estava bem mal nesse dia, chegou na barraca com calafrios. Mas quando viu as piscinas no lado de fora saindo fumacinha... criou coragem, saiu da barraca e foi dar um ti-bum.


Essa noite foi a última noite que nossos amigos Wagner e Ricardo ficaram conosco. O Wagner também não estava bem devido à altitude e o Ricardo estava com o pé um pouco machucado, então eles decidiram pegar uma rota de fuga. Levaram o cavalo, que acabou sendo útil, e algumas mulas com eles e partiram rumo à civilização.



Dia 6: termas Atuscancha - paso Cuyoc - vale Huanacpatay 


Subimos na maior altitude da caminhada: 5041 metros, no Paso Cuyoc. Este passo fica entre as montanhas Kuyuq e Pumarinri.


Depois do paso descemos no vale Huanacpatay e chegamos em um acampamento, que foi todo nosso nessa noite.



Dia 7: vale Huanacpatay - paso Santo Antonio


Hoje foi um dia tranquilo. Ficamos acampados no mesmo lugar e fomos até o Paso Santo Antonio (5017 metros de altitude) e voltamos.


No paso é possível ver as montanhas Carnicero, Jurao, Siula Grande e Yerupaja.


Foi o dia com a segunda maior altitude alcançada: 5017 metros.



Dia 8: vale Huanacpatay - vila Huayllapa - Huatiac


Nesse dia descemos o vale e passamos perto no vilarejo Huayllapa.


Seria possível descer até o povoado Huayllapa, mas decidimos dormir no meio do caminho no acampamento Huatiac, entre Huayllapa e o paso Tapush.


Foi um dia bem cansativo, pois percorremos o equivalente a quase uma meia maratona.



Dia 9: Huatiac, paso Tapush punta, acampamento Gashcapampa, Angocancha


Todos os dias o arrieiro desmontava nossas barracas, ia na frente com as mulas carregando nossas coisas e quando chegávamos no acampamento, as barracas já estavam montadas. Apesar de parecer um luxo, fomos no modo econômico, a maioria dos turistas contratam uma agência com arrieiro, mulas, cavalos, cozinheiro, comida e barracas. Chegavam no acampamento, descansavam na barraca enquanto aguardavam o cozinheiro preparar a refeição. Nós tivemos que cozinhar para nós e para o arrieiro.


Seguimos até Tapush Punta (4788 metros de altitude), onde pode-se observar uma parte da Cordilheira Blanca. Passamos pelo acampamento Gashcapampa e seguimos até Angocancha para acamparmos.



Dia 22: Angocancha, paso Yaucha, Llaucha, Laguna Jahuacocha


Nesse dia passamos pelo paso Yaucha (4848 metros de altitude) e seguimos para a laguna Jahuacocha para acamparmos, onde a silhueta de Yerupajá domina a paisagem.


O dia de caminhada foi o mais rápido de todos, andamos por 3,5 horas.



Dia 11: laguna Jahuacocha - pampa Llámac - povoado Llámac - Huaraz


Esse foi o último dia e teríamos que pegar um ônibus em LLámac.


Como andamos muito devagar, o arrieiro nos orientou para iniciarmos a trilha antes do nascer do Sol, com lanternas na cabeça, assim não corríamos risco de perder o ônibus. Foi uma longa descida com leve desnível na maior parte do tempo e se intensificando no final.


Conhecendo nosso ritmo e com medo de perder o ônibus, não perdemos o foco e fizemos 15 km em 5 horas, chegando ao ponto de ônibus com certa folga.



Resumo circuito Huayhuash

 

  • Cidades próximas: Huaraz (138 km) e Lima (3756km)
    Início: Matacancha
    Fim: Llámac
    Distância total: 109 km
    Duração: 10 dias
    Pontos de água: nos acampamentos e durante o percurso
    Elevação acumulada: subimos 6.433 metros e descemos 7.345 metros
    Altitude máxima: 5.041 metros
    Dificuldade: com o acúmulo de 10 dias caminhando em altas altitudes, consideramos o circuito pesado. Mas para quem não sentir o efeito da altitude, a trilha fica bem mais fácil.

 


Quer mais?


Para ver mapa, distâncias, tempo e altitudes de cada dia, assim como fotos, acesse os detalhes em: http://https://mochilaosabatico.com/2017/07/23/huayhuash/

 

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  • 3 meses depois...
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Paula, adorei seu post. Difícil encontrar pessoas falando de Huaraz. Vou pro Peru ano que vem e pretendo ficar alguns dias lá. Como estou indo sozinha, dei preferencia aos passeios bate e volta. Queria muito fazer o trekking Santa Cruz, mas como vou fazer a trilha Salkantay antes, estou com medo de ficar muito cansada. Tem alguma indicação por lá? Pode ser de hostel, alguma agência,... Estou pesquisando bastante pq é minha primeira viagem sozinha.

Desde já agradeço

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  • 1 mês depois...
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Em 11/6/2017 em 22:04, LianaPinheiro disse:

Paula, adorei seu post. Difícil encontrar pessoas falando de Huaraz. Vou pro Peru ano que vem e pretendo ficar alguns dias lá. Como estou indo sozinha, dei preferencia aos passeios bate e volta. Queria muito fazer o trekking Santa Cruz, mas como vou fazer a trilha Salkantay antes, estou com medo de ficar muito cansada. Tem alguma indicação por lá? Pode ser de hostel, alguma agência,... Estou pesquisando bastante pq é minha primeira viagem sozinha.

Desde já agradeço

Oi @Liana Pinheiro
Eu vou pra Huaraz daqui 20 dias, eu orcei com várias agências, vou te passar a mais em conta que encontrei. 
Se precisar saber de alguma coisa pode me procurar futuramente. 

 

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