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O mês era Maio, de 2007. Nessa época eu estava fazendo intercâmbio de estudante na Espanha. Uns amigos brasileiros convidaram a nossa guesthouse para irmos para o Marrocos, com direito a expedição no Deserto do Saara!

 

Marrocos? Mas isso é na África!

 

Pois é, o Marrocos fica no norte da África e faz “fronteira” com a Espanha através do Estreito de Gibraltar. É um destino comum para os europeus, principalmente para os espanhóis. Fazendo as simulações de viagem, descobrimos que, além de ser uma viagem super exótica, iríamos gastar bem pouco. Decidimos ir.

 

Só tínhamos um problema: nosso visto de estudante nos dava direito a somente UMA entrada em território espanhol. Viajar pela Zona do Euro não era problema, mas ir para a África? Na hora de voltar estaríamos entrando pela SEGUNDA vez na Espanha. E aí?

 

Decidimos ir até a extranjería de nossa cidade nos assegurar que nada daria errado.

 

“Señor, nos gustaría un permiso de regreso a España. Nos vamos a Marruecos por una semana!”

 

Em um primeiro momento o funcionário público (iguais aos do Brasil) disse que era só preenchermos um formulário de Permissão de Regresso e esperar o ok.

 

Preenchemos todo o formulário com os dados principais e chegamos numa encruzilhada:

 

Assinale com um X o Motivo da viagem:

 

[ ] Doença ou óbito em Família

 

[ ] Negócios

 

[ ] Estudos

 

 

 

Ei, mas cadê a lacuna Turismo?

 

Daí fomos novamente consultar o tal funcionário. E ele disse:

 

Ah, então vocês vão a turismo? Ihhhh, ai complica. Deixa em branco que eu já sei qual é o caso de vocês. Em 2 dias sai o resultado.

 

Bom, estávamos confiantes, mas mesmo assim ainda estávamos meio receosos. As passagens já estavam compradas, caso não fôssemos mais iríamos perder uns 55 euros. Mas o problema não era perder o dinheiro, o problema era perder essa viagem fantástica.

 

Antes do segundo dia, recebemos uma ligação contundente:

 

La extranjería de La Coruña les informa que el permiso de regreso fuera negado. Les aconsejamos que no les van a Marruecos, con posibilidad de deportación.

 

Caralho, aquilo caiu como um balde de água fria. Estávamos super animados já!

 

Eu não iria arriscar ser deportado. Meus pais me matariam!

 

Foda-se. Decidimos ir.

 

É muito bom ter 22 anos e ainda ser um pouco inconsequente.

 

---

 

Saímos de La Coruña a noite, rumo a Madri. Éramos um grupo de uns 12 brasileiros, 1 alemão, 1 húngaro e 1 checa.

 

Chegamos em Madri bem cedo e fomos direto para o aerporto. Lá fizemos check in na nossa amada easyjet e embarcamos rumo às Maravilhas de Marrocos.

 

Só tínhamos uma certeza: chegar lá nós chegaríamos. Agora voltar de lá para a Espanha era uma incógnita. Decidimos não pensar nisso durante toda a viagem.

 

Obs: Relato com fotos em http://digoabordo.blogspot.com/2010/10/marrocos-uma-expedicao-por-terras.html

 

[Continua]

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Nosso vôo saia de Madri com destino a Casablanca. É a mesma Casablanca do filme de Hollywood, de 1942, quando serviu de cenário ao tórrido romance de Hunphey Bogart e Ingrid Bergman durante a Segunda Guerra Mundial. Mas, curiosamente, nenhuma cena foi gravada em território marroquino.

 

 

 

A maior parte das cidades turísticas marroquinas curiosamente são definidas por uma cor básica de suas construções: Marrakech é a cidade vermelha, Meknés, a verde;Fez é amarela. Rabat, a cidade branca do litoral atlântico, é a capital do país. E Casablanca? Dããã!

 

Em Casablanca, as construções também são quase todas brancas. Óbvio, mas poucos sabem que o nome da cidade é realmente literal. A primeira casa construída após o terremoto de 1755 que destruiu a cidade era branca. E foram os mercadores espanhóis que batizaram a cidade.

 

A primeira impressão no aeroporto é fascinante. Aqueles tetos altíssimos, todos ricamente decorados em seus mínimos detalhes. Lá trocamos nossos euros por Dirhams Marroquinos. Na época a taxa era 1 x 11. Estávamos praticamente RICOS!

 

 

 

Quando você sai do aeroporto, já se depara com um pequeno caos. Um mar de motoristas com seus carros velhos começam a te gritar: “Bonjour? Hello? Hola?!”

 

 

 

Depois de uns 15 minutos de negociação, pegamos um dos que eles chamam “grand táxis” que nos levaram até o centro, um pouco distante. Sente o naipe do carro:

 

 

 

As cidades antigas de Marrocos são baseadas no seguinte trinômio: Medina, Mesquita e Souk.

 

Medina: “centro da cidade”, protegida por grandes muralhas de pedras.

 

Mesquita: templo religioso.

 

Souk: mercado, que normalmente funciona dentro das medinas.

 

Lá caminhamos um pouco pelas ruas da cidade, ainda fora da medina, a procura de um hostel pra dormir. Achamos um bem baratinho, que, se não me engano, pagamos uns 5 euros cada um. Em Casablanca ficaríamos apenas um dia, no dia seguinte partiríamos para Marrakech.

 

 

 

Depois de nos acomodar, eu, Livia, Carol e Dietram, um legítimo alemão, fomos conhecer a medina. Provamos alguns quitutes bem gostosos (que obviamente não me lembro o nome), andamos pelas ruelas e depois fomos conhecer a mesquita.

 

 

 

A Mesquita Hassan II (árabe: مسجد الحسن الثاني) é o mais alto templo do mundo (os lasers emitidos do minarete de 200 m de altura podem ser vistos de vários quilómetros), e o segundo maior, depois da mesquita de Meca. Pode receber até 100.000 fiéis.

 

 

 

O custo aproximado da mesquita foi de 5494 milhões de dirhams (cerca de 504,85 milhões de euros). A sua localização (junto ao mar) deve-se a Hassan II se ter inspirado no seguinte versículo do Corão: "O trono de Deus encontrava-se sobre a água". Conta com as últimas tecnologias como resistência sísmica, teto que se abre automaticamente, soalho aquecido e portas eléctricas. É das poucas mesquitas do mundo muçulmano que permite a visita a turistas não muçulmanos. A visita pode ser realizada somente fora dos momentos de orações, e está proibida a entrada na Sala de Orações.

 

Porém, ai começa o problema. Vocês leram bem? Vou repetir: A visita pode ser realizada somente fora dos momentos de orações, e está proibida a entrada na Sala de Orações.

 

Quando chegamos na porta de entrada para a Sala de Orações, nosso amigo alemão, Dietram, tentou entrar. Ele falava algumas palavras muçulmanas, mas seus olhos azul turquesa e sua pele alva não negavam sua origem. Entrada negada.

 

 

 

As meninas que estava conosco nem tentaram, pois aquela sala de orações era exclusiva dos homens. Mesmo se elas fossem homens, nem tentariam.

 

O próximo a tentar seria eu. Máquina escondida embaixo do casaco, cheguei na porta e fui logo tirando meu sapato, regra básica para entrar no espaço. O guardinha acenou positivamente com a cabeça pra mim e eu entrei. Eu acabava de ser confundido com um muçulmano. Algumas pessoas, normalmente brasileiras, falavam que eu tinha traços árabes. Mas um muçulmano legítimo, guardinha de mesquita, me deixar passar foi a constatação: realmente tenho alguma origem árabe. Vai saber.

 

Os primeiros segundos lá dentro foram de euforia, não é qualquer um que poderia presenciar um momento daqueles. Mas logo depois comecei a suar frio. E se eu for pego? O que vai acontecer? Você, pelo preconceito que infelizmente nos foi “imposto”, logo pensa que os muçulmanos são pessoas ruins e capazes das piores chacinas e atrocidades. Era uma mistura de adrenalina com cagaço mesmo. Não entrava nem alfinete. Medo, muito medo. Me escondi atrás de uma das grandes pilastras de mármore que sustentam o templo. Realmente aquilo lá dentro era lindo. Cada detalhe que você não acredita. Nos trabalhos de construção estiveram envolvidas cerca de 2500 pessoas e 10000 artesãos marroquinos, que trabalharam com mármore, granito, madeira, mosaicos, estuque e outros materiais para elaborar os tetos, pavimentos, colunas, etc.

 

 

 

 

 

Foi o tempo de eu fazer um vídeo, desligar a câmera e “meter o pé”. Ainda tinha que sair de lá. E meu medo era o guardinha “estranhar” que eu estava saindo depois de menos de 2 minutos lá dentro. A minha sorte é que quanto eu sai, o guardinha já era outro. Ufa.

 

Saí de lá com ar de vitorioso e depois ainda fiquei conversando com esse outro guardinha. Uma conversa meio monosilábica, pois ele só falava árabe, e arranhava algumas palavras no frânces. Mas deu para perceber que NÃO, muçulmano não é sinônimo de terrorista. O cara era só sorrisos.

 

 

 

Depois dessa aventura, fomos jantar no Sqala. O Restaurante funciona em um antigo forte, e é todo decorado com tendências mouras. O lugar é requintado e você se sente em um dos contos de Ali Babá, com direito a violinos e tudo. E o melhor: comida deliciosa e incrivelmente BARATA! Comi uma lula grelhada com legumes salteados e depois bebi um chá de menta para ajudar na digestão. Chá em Marrocos é que nem café. A conta da mesa inteira deu 580 dirhams, cerca de 52 euros! Estávamos em 6, o que daria menos de 10 euros para cada um!

 

 

 

De lá, já tarde da noite, voltamos pro hostel para dormir. No dia seguinte bem cedinho embarcaríamos de trem rumo a Marrakech.

 

Quando coloquei a cabeça no travesseiro, só deu tempo de lembrar de uma coisa: posso não voltar pra Espanha. Apaguei.

 

Obs: Relato com fotos em http://digoabordo.blogspot.com/2010/10/marrocos-casablanca.html

 

[Continua]

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“Esse papo já tá qualquer coisa

Você já tá pra lá de Marrakech…”

 

Acordamos bem cedo e pegamos um trem que nos levaria até Marrakech. Aqueles trens bem locais mesmo, que transportam basicamente a população marroquina. Viagem tranquila, de umas 3 horas.

 

Marrakech também tem a sua medina e, na praça central da cidade, a Jemaa El-Fna é onde as coisas acontecem.

 

Uma sensação de cores, cheiros e sabores por todo o lado. Com seus encantadores de cobra, barraquinhas de suco de laranja e sua deliciosa tâmara, esta praça é o “agito” de Marrakech. Ouro, prata, couro, artesanato, roupa. Lá você encontra de tudo.

 

Num dos restaurantes da praça, almoçamos o tão famoso e temperado Tajine. De tanto açafrão que é usado, tudo fica meio amarelado e com um aspecto meio “estranho”. Normalmente você não distingue o que está comendo: batata, cenoura, xuxu, frango?? Sem falar que normalmente a comida é cozida e servida em pratos de barro, também chamados de tajine, parecidos com aqueles que são deixados em esquinas com um frango e farofa dentro e vela em volta. Abaixo o preconceito religioso, mas me parece estranho comer ali. Eu confesso que não gostei muito.

 

A tarde fizemos um passeio de charrete pela cidade e podemos conhecer um pouco mais dos costumes marroquinos. A pobreza e o tráfico de drogas também fazem parte do cenário. Em várias ruelas por onde passávamos aparecia gente oferecendo haxixe pra gente. Dentro das charretes, as crianças nos viam como sultões e vinham sempre pedir dinheiro. Mal sabem eles que éramos somente estudantes que vendiam o almoço para pagar a janta na Europa e, que se bobear, nem para a Europa voltariam. Ih, é verdade, lembrei do meu “pequeno problema” (leia o primeiro capítulo).

 

Mas de volta a praça, já a noite, vimos surgirem inúmeros “restaurantes a céu aberto”. Uma fumaçaiada danada, parecia até aquelas festas bregas de quinze anos da década de 90. Mas enfim, numa dessas barraquinhas eu me aventurei a provar o tal do Hassane, um caracol bem do melequento. A primeira sensação até é gostosa, mas depois fica um gosto meio estranho na boca. Mas valeu a experiência.

 

De lá fomos a uma agência de turismo para fechar o pacote para conhecer o deserto do Saara. Ir ao Marrocos e não fazer nenhuma expedição ao deserto é como ir a Paris e não visitar a Torre Eiffel. Depois de muita negociação com o Shakira, dono da agência, fechamos o passeio de 2 dias ao Deserto pela bagatela de 45 euros por pessoa!

 

Ah, já ia me esquecendo, no Marrocos você é obrigado a regatear preço. É quase uma afronta você não barganhar. É praticamente um jogo de mercadores. Um dos vendedores inclusive me ofereceu 12 camelos em troca da minha ex-namorada que viajava comigo. Hoje eu me arrependo, podia ter ficado rico! (Brincandeirinha…)

 

Depois voltamos para a praça, onde compramos nossos apetrechos para a peregrinação no Deserto: água e um kufu.

 

Kufu? É, pode ser chamado também de shemagh, keffiyeh, pashmina, desert scarf ou turban. Nada mais que um lenço para nos proteger do vento e da areia.

 

Fomos dormir cedo, pois no dia seguinte partiríamos rumo ao Deserto antes de amanhecer!

 

Obs: Relato com fotos em http://digoabordo.blogspot.com/2010/10/marrocos-marrakech.html

 

[Continua]

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Partimos ainda de madrugada em direção ao Deserto do Saara. A viagem é feita em uma van e o caminho é longo. Por ser uma viagem bem cansativa, o motorista volta e meia parava. Algumas vezes parávamos em lugares “turísticos”.

Mas em outras…

 

Depois de algumas paradas comecei a desconfiar que estávamos servindo de “laranjas” para algo ilícito. A cada parada, o motorista fazia umas ligações, tirava um envelope do porta-luvas e entregava a algum cidadão um tanto quanto estranho. Eu tinha certeza que era droga. Comecei a investigar as ligações do cara, tentando entender o que ele falava. Mas era árabe né? Aí complicou. Éramos um bom disfarce para ele: um grupo de turistas a caminho do Deserto. Se a polícia nos parasse, ele ainda podia colocar a culpa em mim. Isso mesmo: eu estava no carona e ele podia dizer que a droga era minha. Fudeu. Pedi a todos os santos que ninguém nos parasse.

 

Mesmo com medo da situação, tentei aproveitar o passeio. Para chegar ao deserto tínhamos que cruzar a Cordilheira do Atlas Marroquino. As paisagens eram fascinantes, bem diferente de tudo que vi na vida.

 

No caminho paramos em alguns povoados e já de cara pudemos ser apresentados ao Povo Berbere.

 

Os berberes eram povos nômades do Deserto do Saara. Este povo enfrentava as tempestades de areia e a falta de água, para atravessar com suas caravanas este território, fazendo comércio. Ainda hoje existem povoados berberes.

 

Depois de quase 10 horas na Van chegamos a Zagora, a última cidade antes do Deserto. Lá pegaríamos nossos camelos e nos meteríamos deserto a dentro. Quando fechamos a negociação do passeio, fomos avisados que andaríamos de 1 a 2 horas de camelo. Achamos muito pouco, queríamos andar um dia inteiro!

 

Subir no camelo era um momento bastante esperado por todos nós. Quando minha ex-namorada vai subir no camelo, cheia de medo, ele resolve levantar antes que ela se acomode. Daí ficou ela lá, pendurada no camelo, quase caindo, e eu filmando e rindo. Muito.

 

AH, lembra que ofereceram 12 camelos por ela? Então, um camelo pode valer cerca de 2.000 euros, o que me renderia cerca de 24.000 euros, mais de 50.000 Reais.

 

Utilidade Pública: saiba quantos camelos pode valer sua namorada clicando AQUI. Caso você anime de ir para o Marrocos já vai sabendo quanto você vai perder. Ou quanto você vai ganhar, dependendo dos seus escrúpulos. Pensei: Pq eu não vendi, meu Deus? Escrevi: Mas eu jamais faria isso.

 

Mal começamos a “caminhar” com os camelos fui sentindo meu saco ficar dormente e fiquei com a sensação que meu pinto ia gangrenar. Putz, 2 horas de camelo? Por mim aqueles 5 minutos bastaram! Pensei em descer e ir andando, mas, já anoitecendo, começamos a ouvir barulhos estranhos de animais (leia-se cobras!). Preferi perder o pinto.

 

Depois de 2 horas chegamos na tenda onde iríamos jantar e dormir. Descer do camelo foi uma das melhores sensações da minha vida. Fiquei andando com a perna meio arcada durante algum tempo, mas logo passou. Mas eu ainda não tinha me tocado que teria que voltar, e de camelo!

 

O menu foi Tajine, pra variar! E dessa vez naqueles pratos do post anterior. Aff!

 

Depois de comermos, os berberes se juntaram a todos nós e começaram a tocar e cantar pra gente! Uma música e um batuque que até hoje não sairam da minha cabeça. Foi um momento irado.

 

Depois disso fomos pra fora da tenda, já sem medo das cobras e escorpiões que poderiam aparecer. Afinal, uma picada de cobra justificaria aquele céu inexplicável. O que era aquilo? Estrelas pra todo lado! Contamos mais de 30 estrelas cadentes em pouco mais de 15 minutos!

 

P.s: Apontei pra várias estrelas e nunca nasceu nenhuma ruga no meu dedo!

 

Depois, bem cansados, fomos para as nossas tendas “tentar dormir”. No dia seguinte acordaríamos novamente de madrugada. Não queríamos perder o nascer do sol no deserto.

 

A tenda era aconchegante, mas com um pequeno detalhe: não haviam camas! Teríamos que dormir em colchonetes, bem perto da areia por onde passavam nossos amiguinhos cobras e escorpiões!

 

O êxtase do céu estrelado tinha passado e o medo voltado. Coloquei minha cabeça no travesseiro mas mal conseguia fechar o olho. Demorei muito para dormir.

 

Obs: Relato com fotos, links e vídeos em http://digoabordo.blogspot.com/2010/10/marrocos-deserto-do-saara.html

 

[Continua]

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Ter a sensação de acordar em plenas areias do Deserto do Saara é realmente inesquecível.

 

E sem nenhuma picada nem de cobra nem de escorpião é melhor ainda! Para os que acharam que eu exagerei, dá uma olhada na foto lá no meu blog (link no final do relato).

 

O deserto de dia é ainda mais bonito do que o deserto de noite, mesmo com todo aquele céu estrelado. Ver ali, na sua frente, aquelas dunas todas marcadas pelo vento é sensacional.

 

Tomamos café da manhã (dessa vez sem Tajine!!) e depois tivemos uns minutos para aproveitar aquele lugar. Não foi muito tempo, mas pudemos eternizar este momento em algumas muitas fotografias e “roubar” um pouquinho daquela areia.

 

Depois montamos novamente em nossos camelos e zarpamos de volta a Zagora, para de lá pegarmos a van que nos levaria a Marrakech.

 

Não sei se minhas pernas ainda estavam meio adormecidas da noite anterior, mas a volta em cima do camelo não foi tão traumática e dolorosa quanto a vinda. A paisagem ajudou bastante também a anestesiar o incômodo.

 

Praticamente as duas horas de “viagem” foram embaladas por aquela marchinha de carnaval:

 

“Allah-la-ô, ô ô ô ô ô ô

Mas que calor, ô ô ô ô ô ô

Atravessamos o deserto do Saara

O Sol estava quente e queimou a nossa cara

Allah-la-ô, ô ô ô ô ô ô

Mas que calor, ô ô ô ô ô ô...”

 

Cantar essa música realmente atravessando o deserto do Saara fazia todo sentido. Mas confesso que exageramos! Mal acabávamos de cantar, alguma outra pessoa já recomeçava! Tentei lembrar de alguma outra música que falasse do Deserto, mas não lembrei. Entrei no clima e puxei de novo:

 

“Allah-la-ô, ô ô ô ô ô ô

Mas que calor, ô ô ô ô ô …”

 

Ao chegar em Zagora, fomos a uma loja de tapetes (onde obviamente o motorista ganharia uma boa comissão). O vendedor tinha maior cara de 171, mas até que nos recebeu bem. Mando nos servir chá, pra variar um pouquinho.

 

No caminho de volta, já dentro da van, pudemos conhecer um estúdio de cinema onde foram rodados alguns filmes hollywoodianos. O estúdio fica em Ourzazate e se chama Atlas Film Studios. Lá foram gravadas cenas de A Múmia, O Gladiador, Cleópatra…dentro inúmeros outros! Parece um pouco abandonado, mas vale o passeio!

 

As 10 horas de volta na van foram bem cansativas, pois a ansiedade de chegar no deserto havia acabado e as curvas das montanhas do Altas estavam me enjoando. Eu não via a hora de chegarmos de volta a Marrakech. Mas não só por isso…

 

Vocês repararam que em nenhum momento eu citei a palavra banho? Faz o seguinte: dá um “localizar (Ctrl + F)” nesta palavra e repare que ela só aparece agora. É isso mesmo, estávamos já a quase 36 horas sem banho. Não porque queríamos, óbvio. Mas no deserto não tem essa “infra-estrutura”. Mal tínhamos água para lavar as mãos e ir ao banheiro. Faz parte né? Vai dizer que você por muito menos nunca ficou 36 horas sem banho? Pára!

 

Já a noite, finalmente de volta a Marrakech, descobrimos que a Lívia, uma das nossas companheiras de viagem, esqueceu a carteira dela na van. Na mesma hora ligamos pro Shakira, o tal dono da agência e ele fez de tudo para encontrar o motorista. Achávamos que seria quase impossível que “aquele motorista que era um traficante de drogas” fosse ter a bondade de devolver a carteira. E teve. Será mesmo que naquele envelope tinha droga? Deixa pra lá, melhor tomar um bom banho e ainda aproveitar o finalzinho do dia por lá.

 

Nosso vôo de volta sairia de Casablanca no dia seguinte. Pensar nesse vôo Marrocos x Espanha me fazia suar frio. [Quem não sabe porque, leia o primeiro capítulo!]

 

Obs: Relato com fotos em http://digoabordo.blogspot.com/2010/10/marrocos-ainda-no-deserto-do-saara-e.html

 

[Continua]

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Saímos do hotel por volta das 4 da manhã. Já depois de uns 5 minutos de caminhada, uma das nossas amigas, a Helena, lembra que esqueceu no hotel uma bolsa com souvenirs.

 

Ela decide voltar para buscar, sozinha. Enquanto isso continuamos andando, um pouco mais devagar.

 

Ela entra no hotel, pega a bolsa rapidamente e sai.

 

Vocês já devem ter ouvido por ai que é perigoso para as mulheres ocidentais andarem em certos países árabes sozinhas? Podem acreditar.

 

No que ela sai do hotel, um grupo de uns 3 a 4 homens, vindos de direções diferentes, começam a andar atrás dela, falando coisas que ela não entendeu. Eles tinham uma aparência estranha.

 

Ela repara e aperta o passo. Eles apertam também.

 

Desesperada, ela corre. Eles correm também.

 

Até que, por um instinto de sobrevivência, ela grita.

 

E eles desistem.

 

Moral da História: um grito histérico de uma mulher pode valer mais que uma 38 carregada.

 

Brincadeiras a parte, tomem cuidado! Ela enfim encontra com a gente e nos conta o que aconteceu. Todos, sem exceção, apertam o passo. Sou homem, mas não sou bobo.

 

De Marrakech, pegamos novamente o trem para Casablanca, de onde sairia o nosso vôo com destino a Madrid.

 

A partir de agora, todos os momentos inesquecíveis que vivi no Marrocos foram apagados da minha mente. O medo de ser deportado para o Brasil me fazia esquecer qualquer outra coisa. A voz da mulher da extranjería espanhola ressoava nos meus ouvidos:

 

La extranjería de La Coruña les informa que el permiso de regreso fuera negado. Les aconsejamos que no se van a Marruecos, con posibilidad de deportación.

 

Caraca, parece que naquele momento a ficha tinha caído. Será que valeria a pena trocar meus estudos na Espanha por uma viagem ao Marrocos? Agora já era tarde.

 

Pegamos nosso vôo e, exaustos dos 5 dias de aventura, apagamos.

 

Acordei, já quase pousando em Madrid, assustado. Chegou a hora!

 

Mal descemos do avião, viramos à esquerda e demos de cara com a tão temida Imigração. Porra, não deu tempo nem de armar nenhum plano super elaborado ou ensaiar um discurso. Como éramos um grupo grande de brasileiros e a maioria deles tinha direito a múltiplas entradas, combinamos que os que não tínham, incluindo EU, ficariam atrás da fila. Nossa simples tática era então fazer com que os funcionários vissem primeiro o passaporte dos nossos amigos e, quando vissem os nossos, não se atentassem para o detalhe dos números de entrada no país. Eu, como sou um bom cavalheiro, fiquei por último. (Cavalheirismo porra nenhuma, se desse merda preferia que não começasse comigo!)

 

Todos a minha frente passaram sem nenhum problema, os caras da imigração mal olharam os passaportes. Quando fui chamado, já caminhei com ar de vitorioso. Mas comigo foi diferente, pra variar.

 

(Sobe a música de suspense no fundo)

 

-Senhor, o que pretende fazer na Espanha?

 

-Eu sou estudante na Espanha, já moro aqui há 3 meses.

 

-Mas o senhor é marroquinho? Muçulmano, não é?

 

-Não! Sou Brasileiro, não viu meu passaporte?

 

Neste momento o cara ficou olhando para a foto do passaporte e para mim.

 

Passaporte. Eu.

 

Passaporte. Eu.

 

Ele não estava certo do que eu havia acabado de falar, e tinha uma cara de quem não estava pra brincadeira. Ficou mais de 10 minutos digitando e consultando a tela do computador dele. Acho que estava tentando ter a certeza que aquele passaporte não era falso e que eu realmente era brasileiro. Mais uma vez fui confundido com um árabe. Eu não sabia o que fazer, suava mais que um porco (porco sua?).

 

-Pode passar!

 

Ufa, nunca um som de um carimbo me fez tão feliz na minha vida.

 

Madrid – Entrada – 21 de Maio de 2007

 

Meus amigos já estavam desesperados do outro lado do saguão, achando que eu tinha sido “pego” e já estava sendo levado para o voo com destino ao Brasil. Até que eu apareço…

 

(Desce a música de suspense e sobe “We are the Champions”, que é usada em toda festa de formatura. Eu disse toda).

 

Fui recebido com honras, glórias e fogos de artifício pelos meus amigos.

 

Ei, pera aí. Você acha que a aventura acabou aqui? Nada disso.

 

(Sobe a música de suspense, de novo!)

 

Por questões ecônômicas, nosso vôo para La Coruña só saia no dia seguinte. E para nossa grata surpresa descobrimos que estávamos COMPLETAMENTE SEM DINHEIRO. Nessa de acharmos que estávamos ricos no Marrocos, torramos a porra toda sem perceber. Só sei que no final das contas, não tínhamos dinheiro nem para sair do aeroporto. Troquei 15 reais que eu achei perdidos na minha mochila por menos de 5 euros, o que me garantiu um sanduíche de queijo e presunto e meia coca-cola. Foi a minha única refeição do dia. E pelo aeroporto ficamos.

 

A noite chegou, fizemos nossas “camas” e dormimos por lá mesmo, para no dia seguinte bem cedinho voltarmos para nossa cidade.

 

E no final, salvaram-se todos. E o que ficou? Uma experiência que levarei comigo para sempre.

 

(Sobem os créditos)

 

Obs: Relato com fotos em http://digoabordo.blogspot.com/2010/10/marrocos-volta-para-espanha.html

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