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Da foz do Velho Chico até Maceió.. a pé!


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COSTA DOS CORAIS: DA FOZ DO VELHO CHICO ATE MACEIÓ

Com jeitão de Caribe e águas verde-claro, a Costa dos Corais compreende o litoral sul alagoano cujas areias são acompanhadas por longa faixa de recifes. Repleto de praias desertas e selvagens, intermináveis coqueirais, rústicos vilarejos, insolitas falésias, travessias de rios e mangues, a pernada dos seus quase 100km - partindo da foz do grandioso Rio São Francisco e subindo ate Maceió - é otima proposta pra andarilhos desejosos de desvendar este rústico roteiro por um litoral desconhecido e desconcertantemente belo. E com muito, muito sol.

 

1 BUSAO, 3 LOTACOES, 1 BALSA E 10KM A PÉ

Decididamente, chegar à foz do Velho Chico é demorado. Cheguei na rodô de Aracaju ao meio-dia e fui me informando como fazer p/ chegar em Piaçabuçu, única referencia proxima q tinha p/ chegar na famosa foz. Pelas infos teria q fazer uma sucessão de baldeações p/ alcançar meu destino. Meia hr depois tava dentro de uma lotação c/ destino a Neópolis, viagem tediosa feita sob fina garoa, ceu cinzento e lorotas inconvenientes de um bêbado sentado atrás de mim. No entanto, era agradável constatar a paisagem cada vez + verdejante a medida q nos aproximávamos do litoral, em contraste dos tons ocres e sem-vida da aridez do sertão percorrido dias atrás. Neópolis é uma mirrada cidade localizada numa planicie às margens sergipanas do S. Francisco (e a 30km da foz) e lá cheguei as 14:30. Agora tinha q passar pro lado alagoano, e como "quem tem boca vai a Roma" logo soube q isso era possível atraves de balsas freqüentes q paravam em "pontos" ao longo do rio. Me encaminhei a um deles e logo cruzava as águas calmas e mansas do largo Chico, salpicado do colorido de pequenas embarcações de velas quadradas, q iam e vinham do extenso e viçoso manguezal q acompanha o rio de ambos lados.

Aportei em Penedo (AL) as 15hrs e pasmei c/ a beleza barroca das igrejas e do casario colonial das proximidades da pracinha central. Conhecida como a "Ouro Preto do Nordeste", é a maior cidade da região e foi uma das maiores aglomerações humanas na época colonial. Perto do cais parte uma infinidade de lotações p/ qq lugar, e 15:30 tomei uma em direção ao porto de Piaçabuçu. A viagem de 20km sentido litoral é feita atraves de uma APA muito bonita, cuja paisagem alterna mata ciliar, mangue e restinga. Cheguei meia hr após em Piaçabuçu, de onde parte td tipo de barco p/ foz, sejam agencias ou particulares. A cidadezinha vive em função do porto e é cercada de coqueirais, ilhotas e canais. Como não ia de barco ($$) ate a foz , o jeito foi tomar outra van p/ badalada Praia do Peba, relativamente "próxima". Não deu 5min de van e desci no asfalto, tomando uma "estrada de chão" q me levaria ao vilarejo pesqueiro de Potengi, e dali seguiria p/ foz. A pernada solitária começou as 16:30 em meio a um vasto e interminável coqueiral. Quase 10km depois notei a vila poucos minutos adiante, mas como o dia já findava resolvi acampar à beira da estrada, num precário campo de futebol em terreno arenoso cercado de baixos coqueiros, as 17:30. Preparei minha janta e dormi logo depois, pois queria começar a caminhar cedo o dia sgte p/ aproveitar o frescor matinal. À noite soprou uma brisa suave e o firmamento se coalhou de estrelas, q eram ofuscadas pela bela lua cheia q iluminou tênuamente a paisagem ao redor. Acordei diversas ocasiões apenas por conta de uma inoportuna tosse, fruto de alguma friagem dos dias anteriores.

 

FOZ DO VELHO CHICO, PEBA E FELIZ DESERTO

Como aqui amanhece cedo, as 5hrs levantei ao som dos motores de barcos no porto proximo. Tomo rapidamente café e deixo minha cargueira engolir td p/ dar inicio à pernada do dia. 10min e estou em Potengi, vila mirrada as margens de um dos vários braços e canais do Velho Chico. Encho meu cantil e um tiozinho de bike q vendia pão me abastece c/ de "lanche", pois aqui não havia mercado. Segui pela estrada de terra, atravessei o vilarejo e logo andava pela areia acompanhando o rio pela esquerda em meio a uma fazenda de coqueiros.

Assim q o sol comeca a estender seus raios c/ + força, a caminhada na areia fofa torna-se + cansativa. Logo, a estrada torna-se um trilho q contorna uma alta mata de restinga pelo areal, onde o cheiro agridoce de caju aponta pro chão forrado do delicioso fruto, q acabam complementando meu café. As 6:30 entro numa área de dunas (sul), em direção ao povoado de Pixaim e da foz do Velho Chico. Felizmente aqui é + fácil andar; compactas, as dunas amareladas contrastam belamente c/ o mar verde do coqueiral pelo qual andara ate entao. Caminhando por suaves ondulações sem maiores dificuldades, vejo alguns cavalos e bodes pastando nas escassas regiões planas onde há algum capim, mas me chama a atenção a distancia do mar, q dista ainda meia hr dali (leste). O mesmo tempo gastei p/ alcançar Pixaim, um ex-quilombo composto por um punhado de pitorescas casas de taipa e palha espalhadas no meio das dunas. Coletar infos c/ Seu Aladim, q tem jeitão de ser o patriarca dali e me diz q água doce obtem de pequenas cacimbas cavadas na areia s/ nenhum tipo de tratamento, em meio a frondosos cajueiros. A presença de poucos coqueiros, algumas lagoas e vegetação rasteira dao ao vilarejo um aspecto de legitimo oasis.

A caminhada prossegue (sul) atraves de um ultimo lance de dunas e logo nivela num chão de areia dura e plana por um tempao. Finalmente, as 8:20 alcanço o isolado e deserto Pontal da Barra, local onde o "mar do sertão" encontra o Atlântico! E do outro lado, Sergipe! Um pequeno farol e um punhado de coqueiros rompe a horizontalidade do local, onde a dificuldade de acesso justifica a ausência de qq alma viva a não ser no rio, onde alguns pescadores singram as águas em busca de xareus, dourados e albacoras, ao longe.

Após descansar, dou meia-volta efetivamente começando a travessia, seguindo pela larga, ampla e consistente faixa de areia desta enorme praia deserta sentido norte. A maré baixa permite caminhar perfeitamente neste q é extremo sul da Praia do Peba, de quase 20km de extensão. Como sua largura é de quase 2km, a paisagem à esquerda é de pura duna. O tempo passa e o sol comeca a bater forte, mesmo c/ suave brisa soprando do mar. Tenho muito q andar e nenhuma alma viva à vista! No caminho, quero-queros e carcaças de tartarugas. Faltando quase 5km, um tiozinho aparece do nada num trator(!?) levando pescadores ao Peba me oferece carona. Como isso é raro, não recuso, claro!

Chegando no Pontal do Peba a paisagem muda totalmente: gente tanto na praia como nas inúmeras piscinas naturais formadas pela barreira de recifes na orla, alem de muitas embarcações balançando num mar verde claro de sonho! O sol e calor das 11hrs me obriga a uma pausa na sombra de um bar, onde a tentação de estacionar ali é gde. Mas apenas me limitei abastecer de água (e beber um copo de vinho oferecido por um gentil pescador) e continuei pela orla, deixando a muvuca pra trás e outra vez me encontrar pernando solitário numa gde enseada, desta vez acompanhado por uma vasta lavoura de cocos à esquerda e uma extensa faixa de corais pela direita.

6km depois e c/ sol escaldante, alcanço as 13hrs a Praia de Feliz Deserto, q faz jus ao nome pois o único sinal de civilização é um quiosque do lado de uma estradinha precaria q segue coqueiral adentro. Logico q fiz uma pausa demorada, bebericando uma cerveja e curtindo o visu. Me supreendeu o fato q apenas meia-duzia de pessoas estarem naquele verdadeiro paraíso a beira-mar! Aproveitei e usei o chuveiro dali p/ tomar meu banho diário antes de partir, quase as 14:30hrs.

Novamente numa praia deserta, andei apenas 1:30hr sob forte sol e algum vento. Tinha ainda um bocado p/ próxima vila, Miai de Cima, mas parei definitivamente a meio-caminho, as 16hrs. A maré estava alta e agora espremia a faixa de areia nos coqueirais perfilados. Larguei minhas coisas no interior de um quiosque de palha abandonado e la descansei o resto da tarde. Montei a barraca no interior do mesmo assim q escureceu, jantei e adormeci rapidamente ao som da arrebentacao do mar bem ao lado.

 

MIAIS, PONTAL DO CORURIPE E LAGOA DO PAU

Acordei por volta das 5hrs e me surpreendi com a qtdade de carangueijos q havia em volta da barraca. Tomo um rápido café e começo a caminhar meia hr depois pela estreita faixa de areia garantida pela maré alta. Estou na enorme enseada deserta da Praia do Toco, onde sou acompanhado permanentemente por um coqueiral quase encostado no mar, e o destaque é a carcaça de um velho navio naufragado à beira-mar, relembrando q a bela barreira de corais pode ser uma armadilha traiçoeira.

As 7hrs chego na pacata vila de Miai de Baixo, e 1hr depois, em Miai de Cima. Ambas passariam imperceptíveis em meio ao coqueiral não fossem alguns poucos e simplorios quiosques a beira-mar, onde alguns pescadores começam a estender suas redes em busca de alimento. E após breve descanso caminho novamente por uma gde enseada deserta, cortada por alguns pequenos córregos de água cristalina q morrem no mar. 9hrs alcanço um dos vários braços do enorme Rio Coruripe, q sinuosamente despeja suas águas calmas no mar após singrar uma bela área de manguezal. Como não havia barqueiro, largo a mochila na areia p/ testar a profundidade e felizmente a água bate acima da cintura, embora a correnteza estivesse relativamente forte. C/ a mochila na cabeça, atravesso com certa dificuldade o dito cujo, quase afundando de vez nos bancos de areia. Do outro lado, ando por curto trecho de praia, atravesso por trilha um pequeno manguezal seco - forrado de mini-carangueijos - e logo cruzo outra vez outro pequeno braço do rio anterior, desta vez sem nenhuma dificuldade, c/ água no joelho.

Agora me encontro na pacata vila de Barreiras, onde poucas casas sob onipresentes coqueirais dividem espaço nas áreas alagadiças de mangue, rente o rio. O local é mto bonito justamente pela junção de vários ecossistemas num pto só! Daqui caminho em direção à praia e à beira do gde (e largo) Rio Coruripe propriamente dito. Testo sua profundidade mas este infelizmente não dá pra ser atravessado c/ mochila na cabeça, somente a nado. Não havia barqueiro e fiquei um tempão matutando no q faria: esperava baixar a maré ou contornava o rio pelo asfalto? Felizmente, apareceram uns garotos caicaras num barquinho a motor q gentilmente me levaram à outra margem. Reparei q eram bastante supersticiosos pq não paravam de comentar das assombrações dali, tais como lobisomens e mula-sem-cabeça, e pasmaram qdo lhes contei q acampava ao relento p/ td noite. "Oxxeee, vc é louco! Outro dia pai meu viu umas 'bolas de fogo' flutuando perto daqui", disse um deles. Entao ta, ne?

Após curto trecho de areia, 11hrs me encontro no Pontal do Coruripe, onde um belo farol marca o fim daquela enorme enseada. Repleto de piscinas de água verde-clara represadas pela barreira de corais, muitos barcos e jangadas balançando ao compasso do mar, havia tb alguma muvuca. Quiosques a beira-mar anunciam repetidamente a "Festa de Bom Jesus dos Navegantes", um tipo de procissão anual. Com o sol fritando miolos, encosto num bar p/ relaxar, e apesar das bebidas + consumidas serem a Pitu em lata (cana c/ limão) e rum Montilla, mando ver 2 cervas geladas: a 1ª foi no gargalo num piscar de olhos e a outra foi degustada lentamente, acompanhadas de uma porção de carne-de-sol, embora ficasse tentado em experimentar uma tal de "igarassuma assada na casca do coco". O alto volume tocava forró estridente, mas o pior foi ter paciência c/ a gurizada, q não parava de me perguntar se eu "ia pular de para-quedas" de algum local. Aproveitei, claro, de + uma chuveirada e de me abastecer de água.

Minha teimosia fez c/ q retomasse a pernada as 13:30, agora c/ uma nebulosidade clara ocluindo o forte sol. Muvuca p/ trás, novamente me vejo na solidão dos 5km sgtes de areia ate a Lagoa do Pau, vila menor presenteada c/ linda praia de areias claras q contrasta c/ a água verde-turqueza e o ceu azul-calcinha! No mar, jovens caiçaras surfam enqto busco proteção do sol, q volta com força total novamente! Bebo um suco (quente) improvisado e continuo a pernada mesmo assim, mas não por muito tempo. Na extensa enseada sgte, as 15:30, o cansaço e calor me obrigam a breve descanso à sombra de um dos zilhoes de coqueiros. Tomei mto cuidado, já q acidentes de cocos despencando em cacholas incautas são comuns. No entanto, ali era um convite à preguiça pq o descanso se estendeu pelo resto da tarde, e montei acampamento no meio do coqueiral deserto. Li, descansei, comi algo e presenciei o sumiço do Baixios de Dom Rodriques, q é o conjunto de corais q na maré seca aflora do mar verde. E nenhuma alma a vista. Escureceu e resolvi me entocar na barraca, pq o sono não tardou a vir naquelas circunstancias. Acordei varias vezes em função do queimado q tava, já me sentindo um legitimo pimentao. No entanto, acordar e apreciar a bela lua cheia la fora não era tao ruim assim, pois bastava encostar a cachola na horizontal outra vez q tornava a dormir..

 

PITUBA, POXIM, BARRA DO JEQUIÁ E LAGOA AZEDA

Domingo levantei assim q clareou, isto é, 5hrs. Parti logo depois, sob o frescor da brisa e maresia matinal. Diferentemente dos dias anteriores, a pernada exigiu + disposição e vigor por conta da praia estreita, de areia fofa e levemente inclinada, onde tive impressão q os carangueijos pareciam caçoar do meu rosto suado. Mesmo assim, cabei chegando no final de 2 enseadas desertas, as 6:30, num local conhecido por Praia de Pituba. Aqui os coqueirais dividiam espaço c/ mata + densa, mandacarus solitários e gramados bem cuidados, porem não havia quiosque algum. Estava na Fazenda Pituba, e uma placa reforçava q tb era uma APA pertencente à Tereza Lira (ex-Collor). Noutras, um resort camuflado. No pontal havia apenas uma pequena casa onde coletei água e infos, q davam conta q haveria 2 rios a cruzar logo adiante, o Poxim e o Jequiá. No meio, a bela Praia de Duas Barras. Em pouco tempo me encontro às margens do belo Rio Poxim, q atravessa a areia após serpentear um exuberante manguezal. Tentei de todas as maneiras cruza-lo, porem a maré estava alta e alguns trechos exigiam braçadas p/ alcançar o outro lado. E o pior: não havia barqueiro algum. E agora, Jose? Frustrado, resolvi contorna-lo pelo asfalto pq não esperaria ate meio-dia a maré baixar e a probabilidade de aparecer barco naquela praia deserta era remota.

Voltei p/ casa onde coletara água e tomei "estrada de chão" q me levou ao asfalto da AL-101 meia hr após. Dali foi so subir 5km, passando pelo povoado de Poxim, rente a estrada. As 8:30 cheguei na entrada p/ Barra do Jequiá, pequeno povoado as margens do rio homônimo, e q cultiva o tradicional habito da tv comunitária prostrada na pca central. Me abasteci de rango p/ na seqüência me ver novamente praia. A foz do Jequiá é maravilhosa, pois o rio faz uma curva logo antes de despejar suas águas escuras no mar verde, criando uma barra de águas mansas, verdadeira piscina emoldurada por areias brancas de um lado e um extenso e verde manguezal pelo outro! Porem, havia uma placa informando q a correnteza da foz era perigosa, ou seja, cruza-la na raça, sem chance. Contudo, há uma pequena balsa q leva os turistas q visitam (pelo dia) à outra margem, onde funciona o complexo ecologico "Dunas do Marapê", q de dunas não tem nada mas tira proveito do cenário paradisíaco. Havia q pagar R$30 apenas pra pisar no local, mas expliquei q não ficaria ali e seguiria adiante, daí me liberaram. Abusei e ainda pedi água, pois meu estoque tava acabando.

Pé-na-areia outra vez, as 10hrs, e logo me vi numa enorme praia deserta por um tempão. Rusticos toldos improvisados de folha de palmeira quebravam a retidão da areia, e indicava q fossem esporadicamente usados por pescadores errantes. E o sol pegando forte. Subitamente, a paisagem tranqüila de coqueirais deu lugar à imponência de enormes muralhas de mosaicos coloridos, as falésias! A caminhada aqui foi tranqüila: areia compacta no estreito espaço entre os paredões, corais e mar. Minha solidão foi brevemente interrompida pelo encontro c/ um quarteto sergipano fazendo o mesmo percurso meu, porem sentido contrario. Trocamos infos e logo seguimos nossos respectivos rumos. É bom saber q não sou o único doido q andarilha sob sol escaldante!

Meio-dia estou em Lagoa Azeda, mirrado povoado enfiado numa enorme falha entre as falésias. O nome vem da água salubra q se extrai dos poços, mas é + um povoado descaracterizado pelo agora fácil acesso. Particularmente, achei meio feinho. No entanto, foi la q encostei o esqueleto num dos poucos (e simples) "restaurantes" rente o mar, e mandei ver um pf c/ sururu acompanhado de 2 brejas q deviam estar furadas pq evaporaram como passe de mágica. Fiquei um tempão ali, apreciando o belo visu do mar daquele tórrido horario.

Retomei a pernada 14:45 acompanhando as enormes falésias. No alto, canaviais, e abaixo, areia branca. Formas inusitadas como castelos e templos coloridos - cinza, lilás, e tons acobreados - esculpidos pelo vento davam as mesmas aspecto lunar, reforçado ainda mais pela solidão. Contudo, marcas de pneu não tardaram em aparecer e, mais adiante, havia um pálio(!?) atolado numa pequena barra de rio, onde alguns pescadores tentam ajudar seus desesperados ocupantes. Atravesso o rio sem saber se a maré depois engoliu ou não o veiculo. E outra vez estou só, p/ logo depois descansar aos pés de um paredão rubro-cinza, as 16hrs. Chega por hj. Felizmente havia uma falha adentrando na falésia, c/ local plano otimo p/ pernoite. O resto do dia foi de puro relaxo na horizontal, onde tratei de bolhas nos pés. Tava sem apetite devido à exaustão e deitei assim q o sol se foi. A noite fora agradavelmente quente e dispensou saco de dormir. Dormi ao som da arrebentação do mar e da brisa soprando no corredor formado pela falésia.

 

PRAIA DO GUNGA, DO FRANCÊS E, ENFIM, MACEIÓ

A expectativa de concluir a travessia fez c/ q acordasse + cedo, beliscasse umas bolachas saboreando um mirrado café frio, e arrumasse já minhas coisas la pelas 5hrs. A alvorada tingindo o horizonte gradativamente de tons rubro-alaranjados e a suave e fresca brisa matinal são motivo mais q suficiente (e inspirador) p/ render na pernada. O q não contava era q a partir dali a maré alta deixava apenas uma estreita faixa de areia fofa e inclinada espremida contra as falésias, o q exigiu muita disposição e fôlego ate o fim daquela enorme enseada. E p/ me distrair nem mesmo conversar c/ meu ego ajudou a esquecer essa penúria, ate pq meu interlocutor tava sem assunto e muito chato.

Por volta das 6:30 as falésias dão lugar novamente a uma extensa lavoura de coco, cravada na areia fofa e q quase invade o mar. Só meia hr após, e com o rosto e costas encharcados de suor , é q alcanço o fim da enseada, já avistando daquele pontal sinais de civilização em maior escala. Estou na belissima Praia do Gunga, onde parece ter havido uma gde festa em fcao de um palco montado, porem sem sinais de ninguém à vista a não ser alguns funcionários recém-chegando nos poucos quiosques espalhados pelo coqueiral. Diante de mim, a enorme e maravilhosa Lagoa do Roteiro me separa das praias sgtes, a Barra de São Miguel e a Praia do Francês, daqui visivelmente habitadas e q fazem parte do kit básico da Embratur, parecendo + c/ Ciudad del Leste ou Aparecida (cheio de estacionamento de bus) do q c/ os plácidos paraísos percorridos ate entao. A Lagoa do Roteiro, por sua vez, impressiona pelo tamanho e é la q desemboca o Rio São Miguel, antigo acesso ao Gunga por barco. Na verdade, naqueles dias eu passara por muitas lagoas sem saber, so q elas distavam alguns kms do litoral: Lagoa do Pau, Lagoa Poxim, Lagoa Jequiá, por exemplo. E vizinhas de Maceió, as enormes Lagoas Mundaú e Manguaba. Agora sei a razão do nome do estado, Alagoas.

Enfim, e agora, como sair dali? Após libertar meus pés do tênis e pousa-los num merecido chinelao, coletei infos e decidi ficar descansando enqto aguardava um barco q traria gente do outro lado da lagoa, embora pudesse andar + 1 hr ate o asfalto e de lá tomar condução ate Maceió. Mas como tava pregado fiquei ali, curtindo aquela manha e comendo um delicioso mocotó na sombra fresca, alem de tomar um bom banho. A medida q amanhecia, aumentava o ritmo da praia. Quem não trabalhava nos quiosques ou estava pescando na região de mangue c/ jereré (tipo de rede em forma de funil), ou lavando roupas na lagoa ou fazendo artesanato c/ palha de ouricuri (palmeira comum dali) p/ vender.

As 9hrs cruzo as águas mansas da lagoa e num piscar de olhos me vejo na pacata Barra de São Miguel, onde, historicamente, foi onde os indios caetés comeram o bispo Sardinha. Me dirijo p/ pracinha principal e aguardo uma lotação p/ Maceió, reabasteço numa padoca e procuro me informar, lendo as manchetes dos jornais numa banca. "Taxista bate bronha e vai parar no xilindró", estampa a Tribuna Popular. Péssima ideia, pois começo a dar risada forçando doloridamente meus lábios detonados pelo sol. Finalmente, as 9:30 pego a lotação c/ mochileiras norueguesas (c/ quem rachei o táxi p/ rodoviária, já no centro, posteriormente), numa tediosa viagem q demorou quase "uma hora de relógio" e apenas me brinda com o retorno à civilização na paisagem do entorno, sem nenhum atrativo a não ser a presença em massa da Petrobrás e de uma curiosa praça Rosane Collor..Cheguei na capital alagoana as 11hrs.

 

FINALIZANDO

É verdade q a abertura da rodovia AL-101, q percorre paralelamente o trecho da travessia, trouxe mudanças à regiao. Mas não muitas; boa parte dele ainda se mantem de difícil acesso e resiste bravamente as investidas imobiliarias. Ali o tempo ainda não desfigurou as paisagens primitivas nem a tranqüilidade da vida nas praias, q continuam deslumbrantes como nos tempos das invasões franco-holandesas. E assim a vida segue mansa e descompassada nesta região encantadora de Alagoas, o Estado das Lagoas.

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  • 9 meses depois...
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[t3]Algo é preciso ser dito aqui.[/t3]

A Pessoa que escreveu esta matéria, é muito mais do que um viajante.

 

Ele é um escritor/Poeta!

 

Meu amigo... Te aplaudo em pé. Pela riqueza de detalhes e pela aventura.

 

Sem medo te compararia à grandes escritores como Daniel Defoe.

 

Se algum dia você resolver escrever um livro - e espero que faça - me avise. Quero ser o primeiro à adquirir este best-seller.

 

parabéns!

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  • 6 anos depois...

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